sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Que é Sociologia: Resenha do livro.



INTRODUÇÃO
O autor Carlos Benedito Martins em seu livro O Que é Sociologia procura demonstrar de forma geral e objetiva o contexto histórico no qual se fez possível o surgimento, a formação e o desenvolvimento da sociologia.
Procura em linhas gerais demonstrar que a sociologia, como ciência tensa e contraditória, sempre deu margem para diversas interpretações. Para algumas pessoas ela é uma poderosa arma a serviço da classe dominante , para outros serve de embasamento teórico para os movimentos revolucionários , como , por exemplo , o marxismo.
O livro procura tratar a sociologia como sendo resultado da compreensão de situações sociais novas provocadas pela sociedade capitalista. Porém adverte que a sociologia sempre foi algo maior que reflexões e teorias acerca da sociedade moderna. Esta ciência sempre teve aspirações e intenções práticas , desejando interferir nos rumos de nossa civilização.
A sociedade capitalista e os discrepantes interesses econômicos e políticos que a constituem sempre foram inspiração na formação do pensamento sociológico.
Portanto o autor procura discutir e analisar , até que ponto a sociologia se compromete nos embates de tal sociedade e em que medida seus conceitos e teorias são responsáveis em manter ou alterar as relações de poder e dominação existentes na sociedade.

O SURGIMENTO
A sociologia pode ser entendida como uma manifestação do pensamento moderno. O mundo social, que até então não havia sido incorporado a ciência, passa com a evolução do pensamento científico ser enfocado e estudado pela sociologia.
O surgimento de tal ciência se dá em um contexto histórico específico, que coincide com esfacelamento das bases da sociedade feudal e com o estabelecimento de uma nova ordem social , ou seja , a consolidação da sociedade capitalista. Nesse contexto , vários pensadores se empenham em compreender e analisar as novas situações vigentes em tal sociedade.
O século XVIII foi referencia para a história do pensamento social e para o surgimento da sociologia.
Este século foi testemunha de uma dupla revolução, a industrial e a francesa, que consistem na instalação da sociedade capitalista. As revoluções constituem dois lados de um mesmo processo e possibilitam o surgimento da sociologia, embora, essa palavra só venha ser usada um século depois, em 1930.
A revolução industrial representou a vitória da indústria capitalista que converteu grandes massas humanas em simples trabalhadores desprovidos de quaisquer privilégios.
Foram introduzidas novas formas de organizar as atividades sociais, houve um generalizado trauma sobre milhões de seres humanos que tiveram suas formas habituais de vida. Como exemplos das mudanças ocorridas, o autor sita a desaparição de pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, etc.
O surgimento do proletariado foi sem dúvida um dos fatos de maior importância, principalmente o papel histórico que ele desempenharia na sociedade capitalista.
A sociedade se tornara em “problema” em “objeto” a ser investigado. Devido a profundidades das transformações a sociedade se colocara num plano de análise. Os pensadores ingleses que testemunharam estas mudanças não eram especificamente sociólogos, eram antes de tudo homens liberais conservadores e socialistas.
Tal fato significa que os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos,entre indivíduos que participavam e se envolviam profundamente com os problemas da sociedade.Podem ser citados como tais pensadores Owen (1771-1858) Willian Thompson (1775-1833), Jeremy Bentham (1748-1832).
A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial. É a formação de uma estrutura social muito específica – a sociedade capitalista – que impulsiona uma reflexão sobre a sociedade, sobre suas transformações, suas crises, seus antagonismos de classe.
O surgimento da sociologia como se pode perceber, prende-se em parte aos abalos provocados pela revolução industrial, pelas novas condições de existência por ela criada.
Quanto à revolução francesa de 1789 , seu objetivo não era simplesmente o de mudar a estrutura do Estado, mas abolir radicalmente as convenções e instituições tradicionais. Promoveu profundas inovações na política , na economia, na cultura , rompeu com costumes e hábitos arraigados na sociedade.
Durkheim, um dos fundadores da sociologia, afirmou certa vez que a partir do momento em que “a tempestade revolucionária passou, constituiu-se como que por encanto a noção de ciência social”. Durkheim,ao discutir a formação da sociologia na França do século XIX, refere-se a Saint-Simon. Depois o próprio Durkheim diz que essa ciência surge com interesses práticos e não como que por encanto “como antes afirmara”.
A recente ciência tinha como tarefa intelectual repensar o problema de ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade.
Para Comte, um dos fundadores da sociologia, esta deveria orientar-se no sentido de conhecer e estabelecer aquilo que ele denominava, as leis imutáveis da vida social, abstendo-se de qualquer discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, a questão da igualdade, da justiça, da liberdade.
A oficialização da sociologia foi em grande parte , mérito do positivismo, e assim constituída , procurará construir uma teoria intelectual do novo regime. Esta sociologia de inspiração positivista, procurará construir uma teoria social separada não apenas da filosofia negativa, mas também da economia política como base para o conhecimento da realidade social. Separando a filosofia e a economia política, isolando-as do estudo da sociedade, esta sociologia procura criar um objeto autônomo, “o social”, postulando uma independência dos fenômenos sociais em face dos econômicos.
A sociedade positivista não colocará em questão os fundamentos da sociedade capitalista e nem será nela que o proletariado encontrará a sua expressão teórica e a orientação para suas lutas práticas.
É no pensamento socialista que mais tarde o proletariado buscará embasamento e respaldo para por em prática suas lutas na sociedade de classes. A partir desse momento a sociologia vincula-se ao socialismo e a nova teoria crítica da sociedade passa a estar ao lado dos interesses da classe trabalhadora.
A sociologia sempre foi mais que uma mera tentativa de reflexão sobre a moderna sociedade. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um desejo de interferir no rumo desta civilização, tanto para manter, como para alterar os fundamentos da sociedade que a impulsionaram e a tornaram possível.

A FORMAÇÃO
No final do século passado o matemático francês Henri Poicaré referiu-se à sociologia como sendo uma ciência de muitos métodos e poucos resultados. Ao que parece , nos dias de hoje poucas pessoas colocam em dúvida os resultados alcançados pela sociologia.
A divisão causada pelos antagonismos de classe provocam o desentendimento, comum por parte dos sociólogos quanto a sua ciência. A existência de interesses opostos na sociedade capitalista penetrou e invadiu a formação da sociologia. Diversos entendimentos sobre o objeto deu origem a diferentes tradições sociológicas.
O autor deixa bem claro que não se deve esquecer que a sociologia surgiu num momento de grande expansão do capitalismo.
Uma das tradições sociológicas que se comprometeu com a defesa da ordem instalada pelo capitalismo, encontrou no pensamento conservador uma rica fonte de inspiração para formular seus principais conceitos explicativos da realidade.
O ponto de partida dos conservadores foi o impacto da Revolução Francesa que julgavam ser um castigo divino à humanidade. Não cansavam de responsabilizar os iluministas e suas idéias como um dos elementos desencadeadores da revolução de 1789.
A revolução de 1789, era na visão dos “profetas do passado”, o último elo dos acontecimentos nefastos iniciados com o Renascimento, a Reforma Protestante e a Era da Razão.
Ao fazer a crítica da modernidade, inaugurada por acontecimentos como a economia industrial, o urbanismo e a Revolução Francesa , os conservadores estavam tecendo uma nova teoria sobre a sociedade , cujas intenções centravam-se no estudo de instituições sociais como a família, a religião, o grupo social e a contribuição delas para a manutenção da ordem social.
Alguns teóricos positivistas como Saint-Simon , Auguste Comte e Emile Durkheim, foram em grande parte influenciados pelas idéias conservadoras “escola retrógrada”.
Estes autores vão se preocupar em rever uma série de idéias dos conservadores, procurando dar a elas uma nova roupagem , para que pudessem defender os propósitos e interesses da classe dominante capitalista.
Encontramos nos trabalhos de Saint-Simon (1760-1825) , como reconheceu Engels os primeiros pensamentos socialistas, que seria germe de futuras idéias do socialismo.
Por outro lado ele é tido como um dos precursores do positivismo . Durkheim afirmava e o considerava o iniciador do positivismo e o verdadeiro pai da sociologia, e não Comte, que geralmente tem merecido tal destaque. Durkheim o considerava o “mais eloqüente dos profetas da burguesia”.
A ciência para ele poderia desempenhar a mesma função de conservação social que a religião tivera no período feudal. A ciência da sociedade era vital para o estabelecimento da nova ordem social. Várias de suas idéias foram retomadas por Auguste Comte (1798-1857).
Os principais estudos de Comte são acerca do estado de “anarquia” e de “desordem” de sua época histórica . A verdadeira sociologia (disciplina auxiliar da ciência), no seu entender , deveria proceder diante da realidade de forma “positiva”.
Em seus trabalhos , sociologia e positivismo aparecem intimamente ligados, uma vez que a criação desta ciência marcaria o triunfo final do positivismo no pensamento humano. O advento da sociologia representava para Comte o coroamento da evolução do conhecimento científico , constituído em várias do saber.
A “física social” ou seja, a sociologia deveria utilizar em suas investigações os mesmos procedimentos das ciências naturais, tais como a observação, a experimentação, a comparação.
O positivismo procurou oferecer uma orientação geral para a formação da sociologia ao estabelecer que ela deveria basicamente proceder em suas pesquisas com o mesmo estado de espírito que dirigia a astronomia ou a física, rumo as suas descobertas. A sociologia deveria tal como as demais ciências , dedicar-se à busca dos acontecimentos constantes e repetitivos da natureza.
Comte considerava como um dos pontos altos de sua sociologia a reconciliação entre “ordem” e “progresso”, pregando a necessidade mútua destes dois elementos para a nova sociedade. Também para Durkheim (1858-1917) a questão da ordem social seria uma preocupação constante.
Durkheim estabeleceu o objetivo de estudo da sociologia e indicou o seu método de investigação. É através dele que a sociologia penetrou a universidade , conferindo a esta disciplina o reconhecimento acadêmico.
Sua obra foi elaborada num período de constantes crises econômicas, que causaram desemprego e miséria entre os trabalhadores,ocasionando o aguçamento das lutas de classes, com os operários passando a utilizar a greve como instrumento de luta e fundando os sindicatos. Não obstante esta situação de conflito, o início do século XX foi de grande progresso científico e econômico.
Durkheim acreditava que a raíz dos problemas de seu tempo não era de natureza econômica , assim como pensavam os socialistas , mas sim uma certa fragilidade da moral da época em orientar adequadamente o comportamento dos indivíduos. Tinha uma visão bastante otimista sobre o nascimento da sociedade industrial e via a divisão do trabalho como uma relação de cooperação e solidariedade entre os homens.
Para Durkheim a anomia era uma demonstração contundente de que a sociedade encontrava-se socialmente debilitada , doente. As freqüentes ondas de suicídios na nascente sociedade industrial foram analisadas por ele como um bom indício de que a sociedade encontrava-se incapaz de exercer controle sobre o comportamento de seus membros.
A sociologia deveria tornar-se uma disciplina independente , pois existia um conjunto de fenômenos na realidade que se distinguia daqueles estudados por outras ciências, não confundindo seu objeto, com a Biologia ou a Psicologia. A sociologia deveria se ocupar , de acordo com ele , com os fatos sociais que se apresentam aos indivíduos como exteriores e coercitivos. O que ele desejava salientar com isso é que um indivíduo, ao nascer , já encontra pronta e constituída a sociedade. Assim , o direito , os costumes , as crenças religiosas , o sistema financeiro foram criados não por ele , mas pelas gerações passadas , sendo transmitidos às novas gerações através do processo de educação.
A função da sociologia era de detectar e buscar soluções para os “problemas sociais”, restaurando a “normalidade social” a “saúde” da sociedade e a manutenção da estrutura social.
Sendo a preocupação básica do positivismo foi a manutenção e preservação da ordem capitalista , é o pensamento socialista que procurará realizar uma crítica radical a esse tipo histórico de sociedade , colocando em evidência os seus antagonismos e contradições.
O aparecimento do proletariado como sendo parte integrante de uma classe revolucionária na sociedade , cria condições para o surgimento de uma nova teoria crítica da sociedade.
A formação teórica do socialismo marxista é composta por uma complexa operação intelectual , na qual são assimiladas de maneira crítica as três principais correntes do pensamento europeu do século passado , ou seja , o socialismo , a dialética e a economia política.
O socialismo pré-marxista também denominado “socialismo utópico” , constituía portanto uma clara reação à nova realidade implantada pelo capitalismo, principalmente quanto às relações de exploração. Marx e Engels , ao tomarem contato , com a literatura socialista da época , assinalaram as brilhantes idéias de seus antecessores . No entanto , não deixaram de elaborar algumas críticas a esse socialismo , a fim de dar-lhes maior consistência teórica e efetividade prática.
Esse tipo de socialismo possuía relação com o estágio de relação com o desenvolvimento do capitalismo da época , uma vez que as contradições entre burguesia e proletariado não estavam amadurecidos , era um socialismo apocalíptico.
Os “utópicos” atuavam como representantes dos interesses da humanidade , não reconhecendo em nenhuma classe social o instrumento para a concretização de suas idéias. Era necessária uma análise histórica da sociedade capitalista esclarecendo suas leis de funcionamento e destacando os agentes capazes de transforma-la.
Ao tomarem contato com a dialética hegeliana , eles ressaltam o seu caráter revolucionário , uma vez que o método de análise de Hegel sugeria que tudo o que existia , devido às suas contradições , tendia a extinguir-se . A crítica que eles faziam à dialética hegeliana se dirigia ao seu caráter idealista . O idealismo hegeliano postulava que o pensamento ou o espírito criava a realidade. Para ele , as idéias possuíam independência diante de objetos da realidade , acreditando que os fenômenos existentes eram projeções do pensamento.
A teoria social que surgiu da inspiração marxista não se limitou a ligar política , filosofia e economia. Ela deu um passo a mais , ao estabelecer uma ligação entre teoria e prática, ciência e interesse de classe. O problema na verdade não era para ele uma simples questão teórica , distante da realidade , uma vez que é no terreno da prática que se deve demonstrar a verdade da teoria. O conhecimento da realidade social deve se converter em um instrumento político , capaz de orientar os grupos e as classes sociais para a transformação da sociedade.
Sem dúvida , foi o socialismo , principalmente o marxista , que despertou a vocação crítica da sociologia , unindo explicação e alteração da sociedade e ligando-a aos movimentos de transformação da ordem existente.
Ao contrário do positivismo , que procurou elaborar uma ciência social supostamente “neutra” e “imparcial” , Marx e vários de seus seguidores deixaram claro a íntima relação entre o conhecimento por eles produzido e os interesses da classe revolucionária existente na sociedade capitalista , o proletariado. Observava Marx , a este respeito , que assim como os economistas clássicos eram os porta-vozes dos interesses da burguesia , os socialistas e os comunistas constituíam, por sua vez os representantes da classe operária. Ao contrário da sociologia positivista , que via na crescente divisão do trabalho na sociedade moderna uma fonte de solidariedade entre os homens , Marx a apontava como uma das formas pelas quais se realizavam as relações de exploração , antagonismo e alienação.
Contrariamente à sociologia positivista , que concebia a sociedade como um fenômeno “mais importante” que os indivíduos que a integram , submetendo e dominando a sociedade , nessa perspectiva era concebida como obra e atividade do próprio homem. São os indivíduos que vivendo e trabalhando , a modificam.
Mas acrescentavam , os indivíduos não a modificavam a seu bel-prazer , mas a partir de certas condições históricas existentes.
A sociologia encontrou na teoria social elaborada por Marx e Engels um rico legado de temas para posteriores pesquisas. Forneceram uma importante contribuição para a análise da ideologia, para a compreensão das relações entre as classes sociais , para o entendimento da natureza e das funções do Estado ,para a questão da alienação. De considerável valor , deve ser destacado o legado que deixaram às ciências sócias , ou seja , a aplicação do materialismo dialético ao estudo dos fenômenos sociais.
A sociologia encontrou também , nessa vertente de pensamento , inspiração para se tornar um empreendimento crítico e militante , desmistificador da civilização burguesa , e também um compromisso com a construção de uma ordem social na qual fossem eliminadas as relações de exploração entre as classes.
Max Weber foi o responsável a conferir a sociologia à reputação científica (1864-1920). Estabeleceu uma clara distinção entre o conhecimento científico ,fruto de cuidadosa investigação , e os julgamentos de valor sobre a realidade.
A busca de uma neutralidade científica levou Weber a estabelecer uma rigorosa fronteira entre o cientista , homem do saber , das análises frias e penetrantes , o político , o homem de ação e de decisão comprometida com as questões práticas da vida. O que a ciência tem a oferecer a esse homem de ação, segundo Weber , é um entendimento claro de sua conduta , das motivações e das conseqüências de seus atos . no entanto , julgava ser o cientista também um cidadão , e poderia ele assumir posições apaixonadas em face dos problemas econômicos e políticos , mas jamais deveria defendê-los a partir de sua atividade profissional.
A idéia de uma ciência social neutra seria um argumento útil e fascinante para aqueles que viviam e iriam viver da sociologia como profissão.
A formação da sociologia desenvolvida por Weber é influenciada enormemente pelo contexto intelectual alemão de sua época. Incorporou em seus trabalhos algumas idéias de Kant , como a de que todo ser humano é dotado de capacidade e vontade para assumir uma posição consciente diante do mundo. Compartilhava com Nietzche uma visão pessimista e melancólica dos tempos modernos. Com Sombart possuía a preocupação de desvendar as origens do capitalismo. Em Heidelberg , em cuja universidade foi catedrático entre os anos de 1906 e 1910 , entrou em contato com Troeltsch , estudioso da religião , que já havia evidenciado a ligação entre a teologia calvinista e a moral capitalista.
Weber recebia forte influência do pensamento marxista , mas para ele não possuía fundamento admitir o princípio de que a economia dominasse as demais esferas da realidade social.
A sociologia por ele desenvolvida considerava o indivíduo e a sua ação como ponto chave da investigação. Com isso , ele queria salientar que o verdadeiro ponto de partida da sociologia era a compreensão da ação dos indivíduos e não a análise das “instituições sociais” ou dos “grupos sociais” , tão enfatizadas pelo pensamento conservador.
Rejeitava a proposta do positivismo de transferir para a sociologia a metodologia de investigação utilizada pelas ciências naturais. Não havia , para ele , fundamento para esta proposta , uma vez que o sociólogo não trabalha sobre uma matéria inerte , como os cientistas naturais.
A obra de Weber representou uma inegável contribuição à pesquisa sociológica , abrangendo os mais variados temas , como o direito , a economia , a história , a religião , a política , a arte e a música. Seus trabalhos sobre a burocracia tornaram-no um dos grandes analistas desse fenômeno. Foi um dos precursores da pesquisa empírica na sociologia , efetuando investigações sobre os trabalhadores rurais alemães.
A análise da religião ocupou lugar central nas preocupações e nos trabalhos de Weber. Ao estudar os fenômenos da vida religiosa , desejava compreender a sua influência sobre a conduta econômica dos indivíduos. Com esse propósito , realizou investigações sobre as grandes religiões da Índia , da China , etc. O seu trabalho “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, publicado em 1905 , ficaria particularmente famoso nessa área de estudo.
Tinha ele a intenção de examinar as implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos indivíduos , procurando avaliar a contribuição da ética protestante, especialmente a calvinista , na promoção do moderno sistema econômico.

O DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento desta ciência tem como pano de fundo a existência de uma burguesia que se distanciara de seu projeto de igualdade e fraternidade , e que , crescentemente , se comportava no plano político de forma menos liberal e mais conservadora, utilizando os seus aparatos repressivos e ideológicos para assegurar a sua dominação.
A profunda crise em que mergulhou a civilização capitalista em nosso tempo não poderia deixar de provocar sensíveis repercussões no pensamento sociológico contemporâneo.
As ciências sociais , de modo geral , passaram a ser utilizadas para produzir um conhecimento útil e necessário à dominação vigente.
A antropologia , a ciência econômica , a ciência política e também a sociologia em boa medida passaram a ser empregadas como técnica de manutenção das relações dominantes.
O sociólogo de nosso tempo passou a desenvolver o seu trabalho , via de regra , em complexas organizações privadas ou estatais que financiam suas atividades e estabelecem os objetivos e as finalidades da produção do conhecimento sociológico.
Torno-se para o sociólogo extremamente difícil , produzir um conhecimento que possua uma autonomia crítica e uma criatividade intelectual.
Algumas tendências críticas da sociologia , principalmente as que receberam a influência do pensamento socialista , continuaram a orientar os objetivos e as pesquisas de diversos sociólogos.
Na verdade , a absorção do sociólogo moderno na luta pela manutenção das relações de dominação foi o que acarretou a burocratização e a domesticação do seu trabalho. Tal fato é um acontecimento recente , que pode ser datado a partir da Segunda Guerra Mundial.
Durante esse período , vários estudiosos buscaram formular e classificar os diferentes tipos de relações sociais que ocorrem em todas as sociedades , independente do tempo e lugar. Tais estudiosos como Pareto , Von Wiese e Roos proporcionaram a elaboração de vários conceitos fundamentais da sociologia.
As investigações de campo , realizadas nos E.U.A depois da Primeira Guerra Mundial , desenvolvidos principalmente pela Universidade de Chicago , possibilitaram grande avanço no levantamento de dados empíricos. Durante a década de 30 , a história da sociologia americana se confunde com as atividades de pesquisa realizadas pelo Departamento de Sociologia daquela Universidade.
Os sociólogos de Chicago concentraram-se no estudo dos novos estilos de vida que surgem na corrida de uma urbanização.
Um trabalho que ficou muito conhecido na sociologia, “The Polish Peasent in Europe and América” , foi elaborado por um dos pesquisadores desta “Escola de Chicago” , William Thomas , com a co-autoria de Znaniecki.
Juntamente com Thomas , o pesquisador Robert Park foi outra peça fundamental no desenvolvimento da pesquisa de campo na sociologia. Foram responsáveis também pela formação de uma atuante geração de sociólogos.
Embora as três primeiras décadas desse século tenham sido um período de grande progresso par a afirmação e sistematização da sociologia , possuíam algumas limitações. As pesquisas realizadas segundo a orientação durkheimiana , sem dúvida ricas em material empírico e teoricamente sugestivas , relegaram decididamente a segundo plano as classes sociais como elemento explicativo dos fenômenos sociais.
O desenvolvimento da sociologia na segunda metade do nosso século foi profundamente afetado pela eclosão das duas guerras mundiais. Tal fato não poderia deixar de quebrar a continuidade dos trabalhos que vinham sendo efetuados , interrompendo drasticamente o intercâmbio de conhecimentos entre as nações
A implantação de regimes totalitários em alguns países europeus , gerou intolerância para com a liberdade de investigação , e levou à perseguição de intelectuais e cientistas.
A emigração de um número considerável de pesquisadores para a Inglaterra e Estados Unidos representou um duro golpe na consolidação da sociologia em alguns países europeus.
O amadurecimento das forças econômicas e militares por parte dos Estados Unidos, e a derrota e destruição de seus rivais na guerra , possibilitaram sua emergência como grande potência do mundo capitalista.
A sociologia , a partir dos anos cinqüenta , seria arrastada e envolvida na luta pela contenção da expansão do socialismo , pela neutralização dos movimentos de libertação das nações subjugadas pelas potências imperialistas e pela manutenção da dependência econômica e financeira destes países em face dos centros metropolitanos.
Durante a grande Depressão , a sociologia americana procurou fundamentar teoricamente uma posição antimarxista. Um grupo de professores e pesquisadores de Harvard , entrou em contato com a sociologia acadêmica européia , pois considerava que vários pensadores europeus haviam formulado uma convincente defesa contra o marxismo , fenômeno que os sociólogos europeus conheciam de perto.
O desenvolvimento empírico que a sociologia americana experimentou teve na “Escola de Chicago” um marco de referência a esse respeito. Os estudo de campo que vários sociólogos realizaram segundo a orientação empirista , constituíram em boa medida um conjunto de fatos isolados, destituídos de visão histórica.
O capítulo anterior mostrou como Weber , Marx , Durckheim , e outros buscaram trabalhar as questões que possuíam uma significação histórica , enfocando ,por exemplo , a formação do capitalismo. Os novos estudiosos empíricos , abandonaram essa disposição de trabalhar com problemas históricos que possibilitassem uma compreensão da totalidade da vida social , concentrando-se em aspectos irrelevantes.
É nesse contexto que surge a figura do sociólogo profissional , adotando uma atitude científica “neutra” e “objetiva”. A profissionalização da sociologia , orientada para legitimar os interesses dominantes , constituiu campo fértil para uma classe média intelectualizada ascender socialmente.
O método de investigação funcionalista , que durante os últimos trinta anos dominou uma parte considerável do pensamento teórico na sociologia em diversos países, constituía uma outra dimensão importante na guinada desta disciplina rumo a posturas conservadoras.
As diferentes matizes do método funcionalista preservaram essa preocupação com a elucidação das condições de funcionamento e de continuidade dos sistemas sociais.
Por mais que os sociólogos procurem corrigir os excessos do funcionalismo e defende-lo das persistentes acusações de ser ele uma ideologia conservadora , os trabalhos orientados por esta abordagem ao que tudo indica , jamais colocaram em questão a validade da ordem estabelecida , tomando implicitamente uma posição francamente favorável à sua preservação e aperfeiçoamento.
Vários sociólogos têm manifestado uma posição de crítica e questionamento à produção de uma sociologia comprometida com a preservação da ordem , em nível de suas técnicas e métodos de investigação , ou em nível da prática profissional.
Ao lado de uma sociologia que trabalhou a serviço do poder , não se pode deixar de mencionar as importantes contribuições deixadas por uma sociologia orientada por uma perspectiva crítica. Em boa medida , esta sociologia tem permitido compreender a sociedade capitalista atual , suas políticas de dominação e seus processos históricos que buscam alterar a sua ordem existente.
A sociologia encontrou sua vocação crítica na tradição do pensamento socialista , que tem analisado a sociedade capitalista como sendo um acontecimento histórico transitório e passageiro.
Vários teóricos do marxismo contemporâneo , sem negar a importância dos fatores econômicos na explicação da vida social , procuraram investigar com maiores detalhes o papel das ideologias na manutenção da dominação burguesa.
Nos vários países que formaram a periferia do sistema capitalista , produz-se uma sociologia questionadora da ordem , principalmente da dominação imperialista a que estes povos estão submetidos. Algum questionamento mais severo tem partido dos sociólogos da periferia do sistema capitalista , inconformados com a situação histórica de seus povos e com os rumo que a sociologia tomou em diversas sociedades.
A função do sociólogo de nossos dias deve ser a de libertar a sociologia das amarras do poder burguês e torna-la um instrumento de transformação social.

CONCLUSÃO
O livro O que é sociologia traz para os interessados em tal assunto , preciosas informações onde o leitor poderá encontrar de maneira clara , reflexões sobre o papel da sociologia como ciência dos fenômenos sociais.
O autor , consegue de forma genérica e envolvente elucidar que a sociologia , mais do que elaborar reflexões sobre a sociedade moderna , procura de forma prática interferir nas decisões políticas e sociais.
Demonstra em suas considerações que os clássicos da sociologia , independente de suas filiações ideológicas , procuram explicar as grandes transformações pelas quais a sociedade européia passou durante determinado período da história , principalmente pela formação e desenvolvimento do capitalismo.
A conclusão a que chega Carlos Benedito Martins , é que a função do sociólogo de nossos dias é libertar sua ciência do aprisionamento imposto pela burguesia , e transformar a sociologia em um instrumento de transformação social. O sociólogo deve estar ao lado dos interesses daqueles que estão expropriados cultural e materialmente , procurando junto a eles construir uma sociedade mais igualitária e justa.

BIBLIOGRAFIA
MARTINS,Carlos Benedito.O que é sociologia.São Paulo:editora brasiliense.34ª edição.1993
Autor: Antonio Alves da Fonseca Filho

fonte http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/posts/resenha-livro-que-sociologia/

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Resumo-O que é Sociologia


SOCIOLOGIA - RESUMO


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TERRORISMO NO BRASIL




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Teorias sobre a formação do estado




ORIGEM DO ESTADO
Numerosas e variadas teorias tentam explicar a origem do Estado, e todas elas contradizem nas suas premissas e nas suas conclusões. O problema é dos mais difíceis, porquanto a ciência não dispõe de elementos seguros para reconstituir a história e os meios de vida das primeiras associações humanas. Basta ter em vista que o homem apareceu na face da terra há cem mil anos, pelo menos, enquanto os mais antigos elementos históricos de que dispomos remontam apenas a seis mil anos
Assim é que todas as teorias são baseadas em meras hipóteses. A verdade, sem embargo dos subsídios que nos fornecem as ciências particulares, permanece em volta nas brumas da era pré-histórica. Escassos são os informes que temos, por exemplo, da formação do Estado egípcio que é um dos mais antigos. Nem mesmo o bramanismo nos esclarece com dados objetivos os pródomos do Estado hindu.
Com esta nota preliminar fica a advertência de que as teorias sobre a origem do Estado, que resumimos, são resultantes de raciocínios hipotéticos.
teorias da origem familiar; teorias de origem patrimonial; e, teorias da força.
Nestas teorias o problema da origem do Estado é equacionado sob o ponto de vista histórico-sociológico.


TEORIA DA ORIGEM FAMILIAR

Esta teoria, de todas a mais antiga, apoia-se na derivação da humanidade de um casal originário. Portanto, é de fundo religioso.
Compreende duas correntes principais: a) Teoria Patriarcal; e, b) Teoria Matriarcal.
TEORIA PATRIARCAL - Sustenta a teoria que o Estado deriva de um núcleo familiar, cuja autoridade suprema pertenceria ao ascendente varão mais velho (patriarca). O Estado seriam, assim, uma ampliação da família patriarcal. Grécia e Roma tiveram essa origem, segundo a tradição. O Estado de Israel (exemplo típico) originou-se da família de Jacob, conforme relato bíblico.
Conta esta teoria com tríplice autoridade da Bíblia, de Aristóteles e do Direito Romano.
Seus divulgadores foram Sumner Maine, Westermack e Starke.
Na Inglaterra deu-lhe notável vulgarização Robert Filmer, que defendeu o absolutismo de Carlo I perante o parlamento.
Os pregoeiros da teoria patriarcal encontram na organização do Estado os elementos básicos da família antiga: unidade do poder, direito de primogenitura, inalienabilidade do domínio territorial, etc. Seus argumentos, porém, se ajustam às monarquias, especialmente às antigas monarquias centralizadas, nas quais o monarca representava, efetivamente, a autoridade do pater familias.
É ponto quase pacífico, em sociologia, a origem familiar dos primeiros agrupamentos humanos. Entretanto, se esta teoria explica de maneira aceitável a gênese da sociedade, certo é que não encontra a mesma aceitação quando procura explicar a origem do Estado como organização política. Como observa La Bigne de Villeneuve, uma família fecunda pode ser o ponto de partida de um Estado - e disso dá muitos exemplos históricos. Mas, em regra, o estado se forma pela reunião de várias famílias. Os primitivos Estados gregos foram grupos de clans. Estes grupos formavam as gens; um grupo de gens formava a frataria; um grupo de fratias formava a tribu; e esta se constituía em Estado-Cidade (polis). O Estado-Cidade evoluiu para o Estado nacional ou plurinacional.
TEORIA MATRIARCAL - Dentre as diversas correntes teóricas da origem familiar do estado e em oposição formal ao patriarcalismo, destaca-se a teoria matriarcal ou matriarcalística.
Bachofen foi o principal defensor desta teoria, seguido por Morgan, Grose, Kholer e Durkheim.
A primeira organização familiar teria sido baseada na autoridade da mãe. De uma primitiva convivência em estado de completa promiscuidade, teria surgida a família matrilínea, naturalmente, por razões de natureza filosófica - mater semper certa. Assim, como era geralmente incerta a paternidade, teria sido a mãe a dirigente e autoridade suprema das primitivas famílias, de maneira que, o clan matronímico, sendo que a mais antiga forma de organização familiar, seria o “fundamento” da sociedade civil.
O matriarcado, que não deve ser confundido com a “ginecocracia” ou hegemonia política da mulher, precedeu realmente o patriarcado, na evolução social. Entretanto, é a família patriarcal a que exerceu crescente influência, em todas as fases da evolução histórica dos povos.
TEORIA DA ORIGEM PATRIMONIAL - Essa teoria tem suas raízes, segundo alguns autores da filosofia de Platão, que admitiu, no Livro II de sua República, originar-se o Estado da união das profissões econômicas.
Também Cícero explica o Estado como uma organização destinada a proteger a propriedade e regulamentar as relações de ordem patrimonial.
Decorre desta teoria, de certo modo, a afirmação de que o direito de propriedade é um direito natural, anterior ao Estado.
O Estado feudal, da Idade Média, ajustava-se perfeitamente a esta concepção: era uma organização essencialmente de ordem patrimonial. Entretanto, como instituição anômala, não pode fornecer elementos seguros à determinação das leis sociológicas.
Haller, que foi o principal corifeu da teoria patrimonial, afirmava que a posse da terra gerou o poder público e deu origem à organizaçào estatal.
Modernamente esta teoria foi acolhida pelo socialismo, doutrina política que considera o fator econômico como determinante dos fenômenos sociais.
TEORIA DA FORÇA - Também chamada “da origem violenta do Estado”, afirma que a organização política resultou do poder de dominação dos mais fortes sobre os mais fracos. Dizia Bodim que “o que dá origem ao Estado é a violência dos mais fortes”.
Gumplowicz e Oppenheimer desenvolveram amplos estudos a respeito das primitivas organizações sociais, concluindo que foram elas resultantes das lutas travadas entre os indivíduos, sendo o poder público uma instituição que surgiu com a finalidade de regulamentar a dominação dos vencedores e a submissão dos vencidos. Franz Oppenheimer, médico, filósofo e professor de ciência política em Frankfurt, escreveu textualmente: “o Estado é inteiramente, quanto `a sua origem, e quase inteiramente quanto à sua natureza, durante os primeiros tempos de sua existência, uma organização social imposta por um grupo vencedor a um grupo vencido, destinada a manter esse domínio internamente e proteger-se contra ataques exteriores”.
Thomas Hobbes discípulo de Bacon, foi o principal sistematizador desta doutrina, no começo dos tempos modernos. Afirma este autor que os homens, no estado de natureza, eram inimigos uns dos outros e viviam em guerra permanente. E como toda guerra termina com a vitória dos mais fortes, o Estado surgiu como resultado dessa vitória, sendo uma organização do grupo dominante para manter o domínio sobre os vencidos.
Note-se que Hobbes distinguiu duas categorias de Estados: real e racional. O Estado que se forma por imposição da força é o Estado real, enquanto que o Estado racional provém da razão, segundo a fórmula contratualista.
Esta teoria da força, disse Jellinek, “apoia-se aparentemente nos fatos históricos: no processo da formação originária dos Estados quase sempre houve luta; a guerra foi, em geral, o princípio criador dos povos. Ademais, essa doutrina parece encontrar confirmação no fato incontestável de que todo Estado representa, por sua natureza, uma organização de forma e dominação.
Entretanto, como afirma Lima Queiroz, o conceito de força como origem de autoridade, é insuficiente para dar a justificação a base da legitimidade e a explicação jurídica dos fenômenos que constituem o Estado.
Ressalta à evidência que, sem força protetora e atuante, muitas sociedades não teriam podido organizar-se em Estado. Todos os poderes, inicialmente, foram protetores. Para refrear a tirania das inclinações individuais e conter as pretensões opostas, recorreu-se, a princípio, à criação de um poder coercitivo, religioso, patriarcal ou guerreiro. E tal poder teria sido o primeiro esboço do Estado.
Segundo um entendimento mais racional, porém, a força que dá origem ao Estado não poderia ser a força bruta, por si só, sem outra finalidade que não fosse a dominação, mas sim, a força que promove a unidade, estabelece o direito e realiza a justiça. Neste sentido é magnifica a lição de Fustel de Coulanges: as gerações modernas, em suas idéias sobre a formação dos governos, são levados a crer, ora que eles são resultantes exclusivamente da força e da violência, ora que são uma criação da razão. É um duplo erro: a origem das instituições sociais não deve ser procurada tão alto nem tão baixo. A força bruta não poderia estabelecê-las; as regras da razão são impotentes para criá-las. Entre a violência e as vãs utopias, na região média em que o homem se move e vive, encontram-se os interesses. São eles que fazem as instituições e que decidem sobre a maneira pela qual uma comunidade se organiza politicamente.


ARISTÓTELES

Para Aristóteles o Estado é encarado como um instituição natural, necessária, decorrente da própria natureza humana. É resultante dos movimentos naturais de coordenação e harmonia. Sua finalidade primeira seria a segurança da vida social, a regulamentação da convivência entre os homens, e em seguida, a promoção do bem estar coletivo.
Afirma Aristótels que o Estado deve bastar-se a si mesmo, isto é, deve ser auto-suficiente. Observe-se que nessa idéia de autarquia encontram muitos autores a gênese da soberania nacional e ensinou que, nas manifestações populares, a expressão qualitativa deve ser levada em conta juntamente com a expressão quantitativa.


JUSTIFICAÇÃO DO ESTADO

O poder do governo sempre precisou de crenças ou doutrinas que o justificassem, tanto para legitimar o comando quanto para legitimar a obediência.
A princípio, o poder do governo em nome e sob a influência dos Deuses, contanto assim, com uma justificação natural, aceitável pela simples crença religiosa. Mas, havia necessidade de uma firma justificação doutrinária do poder que foi se tornando cada vez mais imperiosa, até apresentar-se como problema crucial da ciência política.
Segundo o Prof. Pedro Calmon, as teorias que procuram justificar o Estado tem o mesmo valor especulativo daquelas que explicam o direito na sua gênese. Refletem o pensamento político dominante nas diversas fases da evolução humana e procuram explicar a derivação do Estado: a) sobrenatural (estado divino); b) da Lei ou da razão (Estado humano); e c) da história ou da evolução (Estado Social).
Essas diversas doutrinas assinalam a marcha da evolução estatal no tempo da antigüidade remota à atualidade, ou seja, a partir do Estado fundado no direito divino, entendido como expressão sobrenatural da vontade de Deus, ao Estado moderno, entendido como expressão concreto do vontade coletiva.
A justificação doutrinárias do poder é um dos mais difíceis na teoria política, porque produz conflitos ideológicos que acabam sempre por solapar os alicerces da paz universal.
As atribuições mais antigas quanto ao poder do Estado são as chamadas teorias teológico-religiosos, que se dividem em: direito sobrenatural e direito dividido providencial.
Outra justificação do Estado é quanto as teorias racionalistas, que justificam o Estado como sendo de origem convencional, como produto da razão humana. Elas partem de um estudo das comunidades primitivas, em estado de natureza e através de uma concepção metafísica do direito natural, chegando a conclusão de que a sociedade civil nasceu de uma acordo utilitário e consciente entre os indivíduos.
Essas teorias foram corporificadas e ganharam maior evidência com a Reforma religiosa, fazendo côro com a filosofia de Descartes, delineada em Discursos sobre o método, filosofia esta que ensinou o raciocínio sistemático que conduz a dúvida completa, e a partir daí, o racionalismo religioso passou a orientar as ciências do Direito e do Estado.
As teorias racionalistas de justificação do Estado, partindo de uma pressuposto a respeito do homem primitivo em estado de natureza, entrosam-se com os princípios de direito natural.


HUGO GROTIUS

Holandês (1583 -1647), foi precursos da doutrina do direito natural e, de certo modo, do racionalismo na ciência do Estado. Em sua famosa obra De jure Belli et Pacis, esboçou a divisão dicotômica do Direito em positivo e natural: acima do direito positivo, contingente, variável, estabelecido pela vontade, dos homens existe um direito natural, imutável, absoluto, independente do tempo e do espaço decorrente da própria natureza humana, alheio e superior à vontade do soberano.
Hugo Grotius conceituou o Estado como “uma sociedade perfeita de homens livres que tem por finalidade a regulamentação do direito e a consecução do bem-estar coletivo”.
KANT, HOBBES, PUFFENDORF, THOMAZIUS, LEIBNITZ, WOLF, ROUSSEAU, BLACKSTONE e outros gênios luminosos do séc. XVII, desenvolveram essa doutrina dando-lhe magno esplendor.
Emanuel Kant, o grande filósofo de Koenigsberg, doutrinou o seguinte: O homem reconhece que é a causa necessária e livre das suas ações (razão pura) e que deve obedecer a uma regra de comportamento preexistente, ditada pela razão prática (imperativo categórico). O direito tem por fim garantir a liberdade, e por fundamento, um conceito geral, inato, inseparável do homem, fornecido a priori pela razão prática, sob a forma de um preceito absoluto: “conduze-te de modo tal que a tua liberdade possa coexistir com a liberdade de todos e de cada um”.
Conclui Kant que ao saírem do estado de natureza para o de associação, submeteram-se os homens a uma limitação externa, livre e publicamente acordada, surgindo, assim, a autoridade civil, o Estado.


TOMAZ HOBBES

O mais reputado dentre os escritores do séc. XVIII, foi o primeiro sistematizador do contratualismo como teoria justificativa do Estado. É havido também como teórico do absolutismo, embora não o tenha pregado à maneira de Filmer e Bossuet, com fundamento no direito divino. Seu absolutismo é racional e sua concepção do Estado tende a conformar-se com a natureza humana.
Para justificar o poder absoluto, Hobbes parte da descrição do estado de natureza: o homem não é naturalmente sociável como pretende a doutrina aristotélica. No estado de natureza o homem era inimigo feroz dos seus semelhantes. Cada um devia se defender contra a violência dos outros. Cada homem era um lobo para os outros homens. Por todos os lados havia a guerra mútua, a luta de cada um contra todos.
Cada homem alimenta em si a ambição do poder, a tendência para o domínio sobre os outros homem, que só cessa com a morte. Só triunfam a força e a astúcia. E para saírem desse estado caótico, todos indivíduos teriam cedido os seus direitos a um homem ou a uma assembléia de homens, que personifica a coletividade e que assume o encargo de conter o estado de guerra mútua. A fórmula se resumiria no seguinte: - Autorizo e transfiro a este homem ou assembléia de homens o meu direito de governar-me a mim mesmo, com a condição de que vós outros transfirais também a ele o vosso direito, e autorizeis todos os seus atos nas mesmas condições como o faço.
Embora teórico do absolutismo e partidário do regime monárquico, Hobbes, admitindo a alienação dos direitos individuais em favor de uma assembléia de homens, não afastou das suas cogitações a forma republicana.
Hobbes distinguiu, em O Leviatã, duas categorias de Estado: o Estado real, formado historicamente e baseado sobre as relações da força, e o Estado racional deduzido da razão. Esse título foi escolhido para mostrar a onipotência que o governo devia possuir. O Leviatã é aquele peixe monstruoso de que fala a Bíblia, o qual, sendo o maior de todos os peixes, impedia os mais fortes de engolirem os menores. O Estado (Leviatã) é o deus onipotente e mortal.


BENEDITO SPINOZA

Em sua obra principal - Tractatus Thologicus Politicus defendeu as mesmas idéias de Hobbes, embora com conclusões diferentes: a razão ensina ao homem que a sociedade é útil, que a paz é preferível à guerra e que o amor deve prevalecer o ódio. Os indivíduos cedem os seus direitos ao Estado para que este lhes assegure a paz e a justiça. Falhando nestes objetivos, o Estado deve ser dissolvido, formando-se outro. O indivíduo não transfere ao Estado a sua liberdade de pensar, por isso que, o governo há de harmonizar-se com os ideais que ditaram a sua formação.


JOHN LOCKE

Desenvolveu o contratualismo em bases liberais, opondo-se ao absolutismo de Hobbes. Foi Locke o vanguardeiro do liberalismo na Inglaterra. Em sua obra Ensaio sobre o Governo Civil (1690) em que faz a justificação doutrinária da revolução Inglesa de 1688, desenvolve os seguintes princípios: o homem não delegou ao Estado senão poderes de regulamentação das relações externas na vida social, pois reservou para si uma parte de direitos que são indelegáveis. As liberdades fundamentais, o direito à vida, como todos os direito inerentes à personalidade humana, são anteriores e superiores ao Estado.
Locke encara o governo como troca de serviços: os súditos obedecem e são protegidos; a autoridade dirige e promove justiça; o contrato é utilitário e sua moral é o bem comum.
No tocante a propriedade privada, afirma Locke que ela tem sua base no direito natural: O Estado não cria a propriedade, mas reconhece e protege.
Pregou Locke a liberdade religiosa, sem dependência do Estado, embora tivesse recusado tolerância para com os ateus e combatido os católicos porque estes não toleravam outras religiões.
Locke foi ainda o precursor da teoria dos três poderes fundamentais, desenvolvida posteriormente Montesquieu.


JEAN JACQUES ROUSSEAU

Foi a figura mais proeminente a corrente contratualista. Dentre todos os teóricos do voluntarismo, destacou-se pela amplitude da formação dos Estados - Discurso sobre as causas da desigualdade entre os homens e contrato social - tiveram a mais ampla divulgação em todos os tempos, sendo recebidos como evangelhos revolucionários da Europa e da América, no séc. XVIII.
No seu Discurso desenvolve Rousseau a parte crítica, e no Contrato social a parte dogmática. Este último, que representa, na expressão de bergson, “a mais poderosa influência que jamais se exercem sobre o espírito humano”, continua sendo objeto de discussões entre os mais altos representantes do pensamento político universal, quer pelos seus erros que a evolução do mundo trouxe à tona, quer pelo seu conteúdo respeitável de verdades imperecíveis.
Rousseau afirmou que o Estado é convencional. Resulta da vontade geral que é uma soma da vontade manifestada pela maioria dos indivíduos. A nação (povo organizado) é superior ao rei. Não há direito divino da coroa, mas sim, direito legal docorrente da soberania nacional. O governo é instituído para promover o bem comum, e só é suportável enquanto justo. Não correspondendo ele com os anseios populares que determinam a sua organização, o povo tem direito de substituí-lo, refazendo o contrato...
No seu ponto de partida, a filosofia de Rousseau é diametralmente oposta à de Hobbes e Spinoza. Segundo a concepção destes, o estado natural primitivo era de guerra mútua. Para Rousseau o estado de natureza era de felicidade perfeita: o homem, em estado de natureza, é sadio, ágil e robusto, encontra facilmente o pouco que precisa. Os únicos bens que conhece são alimentos, a mulher e o repouso, e os males que teme são a dor e a fome (Discours sur I’origine de l’inefalité parmi les hommes).
Entretanto, para sua felicidade, a princípio, e para a sua desgraça, mas tarde, o homem adquiriu duas virtudes que o extremam dos outros animais: a faculdade de aquiescer ou resistir e a faculdade de aperfeiçoar-se. Sem essas capacidades a humanidade teria ficado eternamente em sua condição primitiva, e assim, desenvolveram a inteligência, a linguagem e todas as outras faculdades em potencial.
Os que acumulavam maiores posses passaram a dominar e submeter os mais pobres. A prosperidade individual tornou os homens avaros, licenciosos e perversos. Nesse período, que foi de transição do estado de natureza para a sociedade civil, os homens trataram de reunir suas forças, armando um poder supremo que a todos defenderia, mantendo o estado de coisas existente. Ao se associarem, tinham a necessidade de salvaguardar a liberdade, que é própria do homem, e que, segundo o direito natural, é inalienável. O problema social consistia, assim em encontrar uma forma de associação capaz de proporcionar os meios de defesa e proteção, com toda a força comum, às pessoas e aos seus bens, formando assim, o contrato social.
O contrato social de Rousseau, embora inspirado em idéias democráticas, tem muito do absolutismo de Hobbes, pois infundiu nas novas democracias uma noção antitética de soberania que veio abrir caminho para o Estado totalitário.
O prof. Ataliba Nogueira entendeu que a teoria de Rousseau reduziu o homem à condição de escravo da coletividade, justificando toda espécie de opressão. A maior vulnerabilidade do contratualismo está no seu profundo conteúdo metafísico e deontológico. Sem dúvida, a falência do Estado liberal e individualista, que não pôde dar solução aos problema desconcertantes manifestados pela evolução social a partir da segunda metade do séc. XIX, trouxe à tona muito erros dessa teoria.


EDMUNDO BURKE

Opondo-se ao artificialismo da teoria contratualista, surgiu no cenário político a escola história, afirmando que o Estado não é uma organização convencional, não é uma instituição jurídica, mas é um produto de um desenvolvimento natural de uma determinação da comunidade estabelecida em determinado território.
O Estado é um fato social e uma realidade histórica, não uma manifestação formal de vontades apuradas num dado momento, ele reflete a alma popular, o espírito da raça.
Apoia-se esta escola de ensinamentos de Aristóteles: o homem é um ser eminentemente político; sua tendência natural é para a vida em sociedade, para realização das superiores formas associativas. A família é a célula primária do Estado; a associação familiar constitui o grupo político menor; a associação destes grupos constitui o grupo maior que é o Estado.
Savigny e Gustavo Hugo, na Alemanha, adotaram e desenvolveram amplamente esta concepção realista do Estado como fato social, especialmente no campo de direito privado, mesmo porque, segundo observa Pedro Calmon, a doutrina histórica servia a duas idéias profundamente germânicas: o espírito da raça e a tendência a uma progresso ilimitado.
Adam Muller, Ihering e Bluntschli foram outros corifeus desta mesma doutrina.
Edmundo Burke foi o principal expoente da escola clássica. Condenou corajosamente certos princípios da revolução francesa, notadamente “a noção dos direitos do homem na sua abstração e seu absoluto” e a “impessoalidade das instituições”.
A doutrina de Burke teve grande repercussão mundial. Sua obra alcançou onde edições em um ano, foi considerado como o “catecismo da reação contra-revolucionária”.

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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Lei de Godwin e a banalização do nazismo



Existe um conceito conhecido como "Lei de Godwin", o qual diz que "à medida que cresce uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou nazismo aproxima-se de um (100%)". A idéia foi elaborada em 1990 por Mike Godwin, um advogado americano que observou um certo comportamento padronizado na rede, o qual acabava por desenvolver um círculo vicioso em que discussões sobre política e religião, principalmente, caíam sempre no mesmo lugar-comum das comparações com o nazismo (ou com Adolf Hitler, em si) e fascismo.

Eu ousaria dizer que esse tipo de lógica se estenderia mesmo para as discussões fora do âmbito virtual, já que a rede é uma extensão de nós mesmos (seguindo a lógica Understanding Media de McLuhan). Portanto, é bem provável que os debatedores que chegassem à essa conclusão num fórum ou numa lista de discussão também o fariam se frente-a-frente com outros interlocutores.

Antes de dizer o que gostaria de ressaltar nesse tema, irei reproduzir a minha tradução do texto de Mike Godwin, de 1994, publicado no site da revista Wired, chamado "Meme, Counter-meme":


Era 1990 quando iniciei um projeto de engenharia memética. Decidi que o meme da comparação nazista tinha se espalhado em incontáveis grupos da Usenet, em muitas conferências no Well e em todos os BBS que eu frequentava. Participantes ou idéias sendo tidos como "similares aos nazistas" ou "ao estilo de Hitler" eram um evento recorrente e previsível. Era o tipo de coisa que fazia você pensar como debates sempre ocorreram sem um martelo retórico.
Nem todo mundo via a comparação aos nazistas como um "meme" - a maioria das pessoas na rede, assim como em qualquer outro lugar, nunca havia ouvido falar sobre "memes" ou "memética". Mas agora que nós estamos vivendo em uma crescente cultura da informação, é tempo para que isso mude. E é tempo para que os usuários da rede façam um esforço consciente em controlar o tipo de memes que eles criam ou circulam.
Um "meme", obviamente, é uma idéia que funciona de uma maneira muito parecida como um gene ou um vírus age no corpo. E uma idéia infecciosa (chame isso de "meme viral") pode saltar de uma mente para a outra, assim como muitos vírus saltam de um corpo para outro.
Quando um meme faz isso, ele pode cristalizar toda uma escola de pensamentos. Pegue o meme do "buraco negro", por exemplo. Assim como o físico Brandon Carter comentou no livro A Brief History of Time: A Reader's Companion, de Stephen Hawkings: "As coisas mudaram dramaticamente quando John Wheeler inventou o termo [buraco negro]... Todos o adotaram, e desde então, pessoas ao redor do mundo, em Moscou, na América, na Inglaterra e em todo lugar podiam saber que estavam falando da mesma coisa". Uma vez que o meme do "buraco negro" se tornou um lugar-comum, ele se transformou em uma fonte útil de metáforas para tudo, desde o analfabetismo ao deficit.
Em 1990, eu percebi algo similar acontecendo com o meme da comparação nazista. Obviamente, há temas óbvios nos quais essa comparação é recorrida. Em discussões sobre armas e sobre a Segunda Emenda, por exemplo, os defensores do controle de armas são periodicamente lembrados de que Hitler baniu o porte de armas pessoais. E os debates sobre controle de natalidade são frequentemente marcados pela insistência dos pró-vida, que dizem que aqueles que são a favor do aborto estão defendendo um assassinato em massa pior do que os nazistas fizeram nos campos de concentração. E em qualquer grupo de discussão no qual a censura é discutida, alguém inevitavelmente levanta o espectro da queima de livros cometida pelos nazistas.
Mas o meme da comparação nazista pululou em outros casos também - em discussões gerais sobre leis no misc.legal, por exemplo, ou na conferência EFF no Well. Libertários ferrenhos estavam prontos para rotular qualquer regulamentação governamental como um princípio nazista. Era uma trivialização que eu achei tão ilógica (Michael Dukakis como um nazista? Por favor!) quanto ofensiva (as milhares de vítimas dos campos de concentração não morreram para se tornar uma alegoria útil aos usuários da net.blowhard).
Então, eu resolvi conduzir um experimento - construir um contra-meme projetado para fazer os participantes das discussões verem como eles estavam agindo como vetores de um meme particularmente bobo e ofensivo... e talvez para reduzir a superficialidade das comparações nazistas.
Eu desensolvi a Lei de Godlaw das Analogias Nazistas: à medida que cresce uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou nazismo aproxima-se de um.
Implantei a Lei de Godwin em alguns grupos ou tópicos nos quais eu vi referências gratuitas ao nazismo. Logo, para minha surpresa, outras pessoas a estavam citando - o contra-meme estava reproduzindo por si mesmo! E ele se mutou como um meme, gerando correlatos como os seguintes:
- Correlato de Newman feito por Gordon, de acordo com a Lei de Godwin: o libertarianismo (pró, contra e lutas internas de facções) é o tópico de discussão primordial do net.news. Em qualquer momento no qual o debate se dirigir para qualquer outro lugar, ele deve eventualmente voltar ao seu motor inicial.
- Correlato de Morgan à Lei de Godwin: assim que uma comparação ocorrer, alguém irá começar um tópico de discussão sobre nazismo no alt.censorship.
- Correlato de Sircar: se as discussões da Usenet mencionam homossexualidade ou Heinlein, nazistas ou Hitler serão citados em três dias.
- Correlato de Van der Leun: conforme a conectividade global se desenvolve, a probabilidade de verdadeiros nazistas estarem na rede se aproxima de um.
- Paradoxo de Miller: conforme a rede evolui, o número de comparações nazistas não antecipadas pela citação da Lei de Godwin converge ao zero.
Em tempo, discussões são fomentadas nos grupos e para mostrar uma menor incidência do meme da comparação nazista. E o contra-meme se mutou de formas ainda mais úteis. (Assim como o autor de Cuckoo's Egg, Cliff Stoll, disse-me uma vez: "Lei de Godwin? Não é aquela lei que diz que uma vez que uma discussão chega à comparação com nazistas ou Hitler, sua utilidade está acabada?"). De acordo com meus padrões (admitidamente baixos), o experimento foi um sucesso.

Pois é, mas até hoje, 22 anos após a concepção da Lei de Godwin ou 18 anos após a publicação desse texto, ainda vemos uma proliferação de argumentos que convergem à comparação nazista (ou ao meme desta). Prefiro não citar ou linkar exemplos aqui, mas acredito que os leitores tenham vivenciado ou observado uma discussão que tomasse esse rumo - ainda mais em tempos atuais em que temas como a homossexualidade, o feminismo, o aborto, a eutanásia, os direitos dos ciclistas, o vegetarianismo, o dualismo entre partidos políticos ou ideologias de esquerda e direita etc continuam vivos e fortes, não é difícil encontrar qualquer artigo, tweet ou compartilhamento no Facebook e outras redes sociais que traga um parecer sobre estes ou outros temas do ponto de vista de algo feito pelos nazistas.

Enquanto o autor de tal manifestação pretende reforçar a gravidade de algo, emprestando o valor semântico e simbólico do nazismo e de seus crimes, ele acaba muitas vezes não conscientizando o público-alvo, mas banalizando a discussão ao nível do meme do YouTube com o filme A Queda - sobre o qual Mark Dery escreveu em “Endtime for Hitler: On the Downfall of the Downfall Parodies" (2010).

Por isso Godwin propôs um contra-meme para tentar parar essa trivialização desenfreada, pedindo para que as comparações fossem feitas de maneira mais consciente e menos preocupadas apenas com o valor de choque. Mas, infelizmente, o paradoxo de Miller, um dos correlatos que Godwin encontrou, segue mais forte: "conforme a rede evolui, o número de comparações nazistas não antecipadas pela citação da Lei de Godwin converge ao zero" - e a gravidade do evento Nazismo se perde na "nulidade" do riso, do desprezo ou da inutilidade (como disse Stoll a Godwin).


http://kunstistkrieg.blogspot.com.br/2012/03/lei-de-godwin-e-banalizacao-do-nazismo.html

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Hoje é do desaparecimento sagrado de Sri Charanga Takura dia 28/11/2024 quinta-feira.

Shri Saranga Murari Thakura costumava residir em Modadrumadwipa Mam-gachi, onde suas divindades de Shri Shri Radha-Gopinath ainda estão pres...