sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A unidade transcendente das religiões é um conceito-chave da Filosofia Perene.


unidade transcendente das religiões é um conceito-chave da Filosofia Perene.
Formulado por Frithjof Schuon1 na obra de mesmo nome (1948), no qual o autor sustenta, em síntese, que a unidade das grandes religiões mundiais (CristianismoIslãBudismoHinduísmoTaoísmo) deve ser buscada no plano metafísico, espiritual e transcendente. Dado que no plano dos dogmas, ritos e moralidades as religiões inevitavelmente se opõem, pois as formas são diversas, mas a essência transcendente é convergente.
A edição em português mais recente de A Unidade Transcendente das Religiões, traduzida a partir da última edição francesa, de 1979, foi lançada em São Paulo, em 2011, pela editora do IRGET (Instituto René Guénon de Estudos Tradicionais). A primeira edição em português foi publicada pela editora Martins, em São Paulo, em 1952. O original francês foi publicado em Paris, em 1948.
O conceito de unidade transcendente aponta para o fato de que, no coração de cada religião, há um cerne de verdade—sobre Deus, o homem, a oração e a moralidade—que é idêntico.
As diversas religiões mundiais são de fato diferentes –- e esta é precisamente a razão de ser. É o cerne essencial que é idêntico, não a forma exterior. De acordo com Frithjof Schuon, todas as grandes religiões são reveladas por Deus, e é por causa disso que cada qual fala em termos absolutos. Se não o fizesse, não seria uma religião, nem poderia oferecer os meios de salvação.2
O conceito subjacente e por assim dizer implícito da "unidade transcendente" pode ser encontrado na antiga Grécia, particularmente em Platão e, mais tarde, nos neoplatónicos. No Cristianismo, Mestre Eckhart (no Catolicismo) e São Gregório Palamas (no Cristianismo oriental) apontaram para a mesma idéia, a qual é também encontrada no Islã, sobretudo na vertente mística, o Sufismo. Segundo este teoria todas as religiões possuiriam, além de uma dimensão exterior ou exotérica, legal ou convencional, uma dimensão esotérica ou interior, que é simultaneamente universal e que se abre para as outras formulações desta mesma verdade. E é justamente tal universalidade que o conceito de Schuon almeja abarcar.3

Referências

Ver também




Frithjof Schuon (Basiléia18 de junho de 1907 — Bloomington5 de maio de 1998) foi um mestre espiritual, metafísico, filósofo das religiões, poeta e pintor, principal porta-voz da Filosofia Perene, juntamente com René Guénon.
Nascido na Suíça alemã, Frithjof Schuon se estabeleceu em Paris na juventude, onde exerceu seu ofício de desenhista têxtil. De perfil filosófico e espiritual, absorveu jovem ainda as obras de Platão e do Vedanta indiano, interessando-se ao mesmo tempo pela sabedoria mística e esotérica das grandes religiões mundiais, especialmente pelo Cristianismo,Islã e Budismo.
Leitor do metafísico francês René Guénon, ele viajou ao Cairo em 1938 e em 1939 para conhecê-lo pessoalmente. No Magrebe, buscou o conhecimento espiritual dos mestres sufis, tendo contatado especialmente a tariqa (confraria mística) do celebre mestre SufiAhmad al-Alawi.
Após a Segunda Grande Guerra, Schuon, então residente em Lausanne, empreendeu diversas viagens internacionais, com o objetivo de contatar autoridades espirituais das diversas tradições e recolher material para seus livros. Visitou a Índia, o Egito, o Marrocos, Grécia, Espanha e as planícies da América do Norte, para travar contato direto com o patrimônio espiritual dos índios. Sua Via espiritual, centrada na "religio perennis", difundiu-se ao longo das últimas décadas pela Europa, América do Norte, América do Sul e Ásia.
Frithjof Schuon faleceu em 5 de maio de 1998 em Bloomington, Indiana, EUA, para onde havia emigrado em 1980.


Filosofia Perene é um termo geralmente usado como sinônimo de Sanatana Dharma (sânscrito para “Verdade perene ou eterna”).
O filósofo alemão Gottfried Leibniz o utilizou para designar a filosofia comum e eterna subjacente às grandes religiões mundiais, em particular as místicas ou esoterismos. O termo foi cunhado na época do Renascimento por Agostinho Steuco, bibliotecário doVaticano no século XVI, no livro De Perenni Philosophia libri X, de 1540.
Santo Agostinho (354-430) de certa forma se referiu à sabedoria perene quando escreveu: “Aquilo que hoje é chamado de religião cristã já existia entre os antigos e nunca cessou de existir desde as origens do gênero humano, até o tempo em que o próprio Cristo veio e os homens começaram a chamar de cristã a verdadeira religião que já existia anteriormente.” (De Vera Religione: X, 19)
O conceito é o princípio fundamental da “Escola Perenialista” (ou Tradicionalista), formalizada nos escritos dos metafísicos Frithjof Schuon (1907-1998) e René Guénon (1886-1951). A ideia central da Filosofia Perene é que a Verdade metafísica fundamental é una, universal e perene, e que as diferentes religiões constituem distintas linguagens que expressam esta Verdade única.
A Filosofia Perene reconhece o fato de que os sistemas de PitágorasPlatãoAristóteles e Plotino indubitavelmente expõem as mesmas verdades que estão no coração do Cristianismo. Subsequentemente, o significado do termo foi ampliado para englobar as metafísicas e as místicas das grandes religiões mundiais, especialmente CristianismoIslãBudismo e Hinduísmo.
Um dos conceitos fundamentais da Escola Perenialista é o da "unidade transcendente das religiões" – título do primeiro livro de Frithjof Schuon publicado no Brasil. Ele afirma que, no coração de cada religião, há um cerne de verdade (sobre Deus, o homem, a oração e a moralidade) que é idêntico. As diversas religiões mundiais são, de fato, diferentes – e esta é precisamente sua razão de ser. É o cerne essencial que é idêntico, não a forma exterior. Todas as grandes religiões mundiais foram reveladas por Deus, e é por causa disso que cada qual fala em termos absolutos. Se não o fizesse, não seria uma religião, nem poderia oferecer os meios de salvação.
Mais recentemente, o termo foi popularizado pelo autor britânico Aldous Huxley, no livro de 1945, The Perennial Philosophy.

Livros em Português

Entre os livros da Filosofia Perene publicados em Português, incluem-se:
    • A Crise do Mundo Moderno (Lisboa, 1977)
    • O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos (Lisboa, 1989)
    • Os Símbolos da Ciência Sagrada (São Paulo, 1989)
    • A Grande Tríade (São Paulo, 1983)
    • O Rei do Mundo (Lisboa, 1982)
    • O esoterismo de Dante (Lisboa, 1995) ISBN 9789726994930
    • A Filosofia Perene: uma interpretação dos grandes místicos do Oriente e do Ocidente ( Ed. Globo, 2010)
    • Ocultismo e Religião: em Freud, Jung e Mircea Eliade (São Paulo, 2011). Em co-autoria com Harry OldmeadowISBN 978-85-348-0336-6
    • Homens de um livro só: o Fundamentalismo no Islã, no Cristianismo e no pensamento moderno (Rio de Janeiro, 2008) ISBN 978-85-7701-283-1
    • A Inteligência da Fé: Cristianismo, Islã, Judaísmo (Rio de Janeiro, 2006)
    • Mística Islâmica: convergência com a espiritualidade cristã (Petrópolis, 2001) ISBN 85-326-2357-3
    • Iniciação ao Islã e Sufismo (Rio de Janeiro, 2000)

Ver também[editar]





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Deus Imanente e Transcendente

Deus Imanente e Transcendente


Deus Imanente e Transcendente

Introdução

Você já deve ter ouvido esta frase “Deus é Imanente e Transcendente”, porém você sabe o que isto quer dizer? Então aprendaseus significados e Saiba diferenciar os atributos do Senhor.

Deus é Imanente

A palavra imanente significa permanente inseparável do sujeito que não desaparece. Em relação a Deus o que isto que dizer? Deus é imanente porque se manifesta na criação. Ele se intervém na criação e se relaciona com ela.

Deus é Transcendente
            A palavra Transcendente significa aquele que se ocupa das questões mais elevadas, superior que está acima das idéias e conhecimentos ordinários. Em relação a Deus o que isto quer dizer? Deus é Transcendente porque está acima da Criação, Deus como transcendente é Soberano, Soberania Significa poder supremo, autoridade. Deus como soberano faz o que quer na hora que quer, e não deve explicação a ninguém.

O perigo de se ter um Deus Imanente, mas não Transcendente

            Deus é imanente e é Transcendente, há pessoas que só querem Deus como imanente, ou seja, um Deus que se relaciona com a Criação, dando bênçãos e grandes vitorias. Em (2 Co 6.16), Paulo escreve que Deus Anda e habita com seu povo, isso demonstra relacionamento do Criador com a Criatura, sua Imanência.
            Porém os teólogos da prosperidade se esquecem que Deus também é Transcendeste, é soberano. Deus na sua soberania faz o que quer, em sua transcendência Deus está acima de tudo e de todos, e a criação está sujeita a sua vontade, não como ditadura, porque ele respeita o nosso livre-arbítrio, mas na sua vontade soberana, Deus como pai manda em nós que somos filhos e não nós nele, só podemos pedir e ele faz a sua vontade (Mt 6.10). Os teólogos da prosperidade não visam a Soberania de Deus, e determinam bênçãos e incentivam seus fieis a barganhar com Deus.
            Então o perigo de se ter Deus apenas como Imanente é porque, se descartarmos o querer soberano de Deus (Transcendência), seremos ignorantes e não vamos aceitar: a perca de um familiar, o "não" da porta de emprego, a doença inesperada, as percas de bens materiais etc. saiba de uma coisa Deus ele sabe o que faz, e pela sua onisciência ele age certo e só depois entenderemos o porque ele permitiu isto ou aquilo!

Não confunda todos os acontecimentos com o querer soberano de Deus

            Há certas coisas que acontecem na vida da gente não é porque Deus quer que ocorra, mas ele permite, pois como já falei, ele respeita o livre-arbítrio, ou seja, ele não se agrada na morte de um ímpio, ele não quer que um crente cometa pecados ou saia da presença dele, porém ele permite. Há pessoas vivendo em fracassos e sofrendo dizendo que foi o querer de Deus, não! Às vezes só é sua permissão, exemplo: uma pessoa fumante corre o risco de ter câncer no pulmão, se isto ocorre foi o querer soberano de Deus? Não! Mas a conseqüência do fumo foi à conseqüência dos pecados. Há crentes sofrendo conseqüências de pecados e dizem ser o querer soberano do Senhor. Cuidado saiba distinguir os acontecimentos da sua vida se são o querer soberano de Deus ou seu querer permissivo. Você sabe, pois tirando Deus só você conhece sua vida por completo.
            Às vezes o próprio homem é o causador de catástrofes e de desastres, como exemplo: caneletas entupidas quando chover vai ocorrer das águas entrarem nas casas das pessoas, casas construídas na beira dos rios quando vier à cheia a água vai entrar e destruir tudo pela frente. Então com isso entendemos que o Senhor é tão misericordioso que mesmo as pessoas dizendo que todas as desgraças que acontece ele é o causador, ele se compadece do ser humano e aí sim se intervém na criação dando livramentos, quantos testemunhos de livramentos de mortes não escutamos nessas cheias de rios, e em acontecimentos onde os homens foram causador como prédios mal construídos, terrorismo etc. Deus tem a vida na palma na sua mão e a vida sim esta no seu querer soberano só ele determina o dia de nossa morte (EC 3.1-2); (1 Samuel 2.6).  Porém o suicídio não é a vontade de Deus nem seu querer soberano, mas ele permite ninguém pode tirar sua própria vida quem isto faz já está condenado ao inferno.
            Aprenda isto todas as coisas estão debaixo do querer permissivo de Deus, mas nem todas as coisas estão debaixo do seu querer soberano. Amém.

Curiosidades em relação a Deus

 O nosso Deus é:

Onipresente: porque está presente em todos os lugares ao mesmo tempo.
Onisciente: Porque sabe de todas as coisas e sabe o pensamento de todos.
Onipotente: Só dele é o poder e a autoridade para reinar e fazer milagres, pois só ele existe e fora dele não existe outro.
Imutável: Deus não muda, ele não é tentado e a ninguém tenta, é o mesmo desde o principio e sempre será assim eternamente.      

                                                               Conclusão

            Não sejamos como os teólogos da prosperidade que se acha no direito de mandar em Deus, de ter o que quer na hora que quer com o pretexto de que o Senhor é imanente, desfrute do Deus Transcendente, agradeça como ele fez, ou está fazendo, é para seu bem, Sua soberania é inquestionável só confie nele, amém!

Bibliografia

Bíblia de Estudo almeida
Dicionario online priberam
Revista de Escola Dominical A verdadeira Prosperidade A vida Cristã Abundante (CPAD)
Autor: Diogo Araújo da Silva
Acesse: www.Auxiliardiogoaraujo.blogspot.com 
              

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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Liberais-conservadores no Brasil


Muitos alegam que esta criatura nunca existiu em solo nacional, sendo apenas uma fracassada tentativa de tropicalizar o conservadorismo made in USA.
Sempre que me identifico como "liberal-conservador", recebo opiniões que variam entre a curiosidade ou a crítica. Destes últimos a pergunta mais frequente é o que haveria de bom no Brasil para "conservar".
Já escrevi alguns artigos tentando desvendar esta entidade, sendo o último "Conservadores ... No Brasil?", em 2008. De lá para cá, algumas percepções e principalmente, algumas leituras me proporcionaram uma visão com mais profundidade e perspectiva do que escrevi em 2008 e que gostaria de compartilhar com meus leitores.
Primeiro um resumo: o liberal-conservador é um ente político-cultural com os pés fincados na tradição (no Brasil seriam o respeito à uma hieraquia de valores que vão do cristianismo e a responsabilidade individual em oposição aos valores coletivistas, com especial ojeriza a processos revolucionários) e com a cabeça econômica voltada aos modelos liberais da Escola de Salamanca, Adam Smith a Mises e Hayek. Muitos alegam que esta criatura nunca existiu em solo nacional, sendo apenas uma fracassada tentativa de tropicalizar o conservadorismo made in USA.

Estes mesmos críticos "nacionalistas" não conseguem perceber que as teorias revolucionárias é que foram implantadas à força em solo nacional, não o conservadorismo e muito menos o liberalismo econômico.


Nos últimos meses li dois livros que ajudaram-me a refinar esta percepção. Com o primeiro, "1822" de Laurentino Gomes, percebi que os personagens que circundam os acontecimentos relativos à Independência do Brasil não tinham nada a dever aos tão admirados "pais fundadores" dos Estados Unidos, principalmente Dom Pedro I e o "patrono da Independência" José Bonifácio de Andrada e Silva; Com o segundo, "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" de Leandro Narloch, obtive uma comprovação de que o pensamento liberal-conservador é de fato a base da formação do Brasil, por isso mesmo é anterior a qualquer modelo revolucionário importado desde então, seja pela influência da Revolução Francesa seja os ideais comunistas e socialistas que a sucederam. No livro de Narloch há um capítulo chamado "Elogio à Monarquia"que abaixo reproduzo alguns trechos luminares.


Elogio à Monarquia (luisafonso):
"Entre 1822 e 1831, todos os ministros brasileiros que tinham educação superior haviam estudado em Portugal – 72% deles em Coimbra" (..) 
"O iluminismo propagado em Coimbra era mais comedido e cauteloso. Os estudantes liam Adam Smith, pai do liberalismo econômico, e Edmund Burke, o pai do conservadorismo britânico – os dois autores foram traduzidos para o português por José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Cairu foi o homem que aconselhou D. João VI, quando este chegou à Bahia, a abrir os portos às nações amigas." (..)
 
"O visconde de Uruguai, que foi deputado, senador, ministro e conselheiro de D. Pedro II, acreditava que era preciso “empregar todos os meios para salvar o país do espírito revolucionário, porque este produz a anarquia e a anarquia destrói, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar com a ordem”. (..)
 

"Criou-se assim um ambiente em que era deselegante e infantil pregar revoluções e reformas radicais. Havia um consenso, mesmo entre os políticos brasileiros de grupos inimigos, que mudanças, se necessárias, deveriam passar por um processo lento e gradual, sem sobressaltos e traumas, garantindo liberdades individuais. “Buscavam mudanças inovadoras, mas ao mesmo tempo queriam conservar o espírito das antigas estruturas econômico-sociais”, explica a historiadora Lúcia Barros Pereira das Neves no livro Corcundas e Constitucionais, outro clássico daquela época. No meio do caminho entre as reformas e a necessidade de manter a tradição, esses políticos são chamados hoje de liberais-conservadores." (..)"Desse ponto de vista, a monarquia teve para o século 19 o mesmo papel de ditadura militar no século 20: evitar que baixarias ideológicas instaurassem o caos entre os cidadãos."
Por este trecho percebe-se que o liberal-conservador sim é que é um perfil tradicional na política nacional, mas que foi embaçado pelos aventureiros, revolucionários que adentraram à história do país a partir da proclamação da República.

De um certo modo, ao entrar na "República", abandonamos o modo político verdadeiramente republicano para nos dedicar a selvagens experiências mais ou menos revolucionárias, num processo crescente que teve, de tempos em tempos, apenas intervalos de redução em sua velocidade.

É hora, mais do que nunca, dos liberais-conservadores, voltarem ao seu lugar de direito na vida política nacional, lugar que foi lhes tirado ja há muito tempo.

Luís Afonso Assumpção é engenheiro mecânico e edita o blog Nadando Contra a Maré Vermelha –http://la3.blogspot.com.

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A Consolação da Filosofia - Boécio

A Consolação da Filosofia - Boécio


Um dos problemas de quem deseja se iniciar na filosofia é saber por onde começar. Se buscar um conselho na academia brasileira, provavelmente vai parar em algum livro de história da filosofia; pior, em um livro da Marilena Chauí. Não me levem a mal, existem excelentes livros de história da filosofia, como os de Giovani Reale, mas não são livros de filosofia. É o mesmo que começar a estudar qualquer ciência com a história daquela ciência; o normal é o contrário, depois que se toma gosto pela matemática é que alguns se interessam pela história da matemática.
Boethius_and_Philosophy
Boécio e a Filosofia - Mattia Pretti
O problema da história da filosofia é que longe de ter alguma idéia do que seja filosofia, você provavelmente vai terminar com uma relacão de autores e obras, pensamentos competamente díspares, métodos diversos e nenhuma unidade. No máximo estará adquirindo cultura filosófica e vai poder sair dizendo frases e pensamentos sem ter realmente idéia do que significam, como se articulam, nem para que servem . Vai ter a impressão que a filosofia é uma ciência totalmente abstrata sem aplicação prática, que os filósofos se equivalem e que trata-se de uma grande salada onde todo mundo fala sobre tudo. Foi como comecei e por isso sei bem onde tudo isso vai dar. Um filósofo autêntico, ou um bom professor de filosofia, vai lhe indicar algum livro realmente de filosofia, preferencialmente em linguagem clara e sem tecnicismo, mas que consiga captar sua unidade. Um desses livros é A Consolacão da FIlosofia, de Boécio.
Boécio foi um senador do século VI, nos finalmentes do Império Romano, que é injustamente condenado à morte e aguarda sua excecução em uma cela.  Confortado pela musa dos poetas, escreve suas lamentações e sofrimentos. É quando surge a Filosofia, sua enfermeira, que toma o lugar da musa e passa a conversar com ele, refletindo sobre os problemas da existência humana e seu propóstio. Dá-se então um maravilhoso diálogo entre uma alma atormentada pela injustiça da existência mundana, um de nós, com a Filosofia, que procura colocar este sofrimento em um contexto maior onde a aparente injustiça se encaixe em uma ordem que transcende nossa existência e que revela a perfeição da obra divina.
O livro I trata justamente das lamentações de Boécio e o início do diálogo com a filosofia. Como enfermeira da alma, ela mostra que o primeiro passo para a cura é entender e expressar a própria doença, o que Boécio faz com toda sua amargura. Ela o conforta ensinando que é a incapacidade do homem de conhecer a natureza de si mesmo e das coisas a seu redor que gera sua infelicidade; portanto é papel a filosofia fazê-lo conhecer a ordem em que vivemos e libertar o homem de sua ignorância.
O livro 2 trata do papel do destino, ou seja, das coisas que nos acontecem, boas ou ruins. A essência de sua atuação é a mudança e sempre estarão nos acontecendo ventos favoráveis e desfavoráveis, muitas vezes em aparente aleatoriedade. O sofrimento não vem das coisas em si, mas das nossas falsas espectativas e incapacidade de perceber que a busca da felicidade fora de nós mesmos é um erro. O homem precisa se conhecer e viver para sua integridade se quiser se libertar das coisas que acontecem com ele, ou seja, do domínio do destino. O destino na verdade é um instrumento divino para ajudar o homem no seu caminho de volta para Deus, fazendo-o vencer e superar seu próprio desconhecimento.
No livro 3, o tema é o propósito das coisas e especialmente do homem. Retomando um tema caro a Platão e Aristóteles, a filosofia argumenta que o destino final do homem é a felicidade verdadeira e não o que normalmente se considera como felicidade. Ela cita cinco falsas felicidades: riqueza, posição, poder, fama e prazer. Longe de ser um verdadeiro bem, são falsas realizações, que afastam o homem da felicidade justamente por se assemelhar a ela, mas devido à sua temporalidade, acabam levando-o apenas ao sofrimento e infelicidade. O fim de todas as coisas é o supremo bem, a combinação de todas as virtudes, ou seja, Deus.
“Acaso existe algum homem que possua uma felicidade tão perfeita que não se queixe de algo? A felicidade terrestre traz sempre consigo preocupações e, além de nunca ser completa, sempre tem um termo.”
O livro 4 trata da infelicidade do homem. A injustiça que observa e experimenta é ilusória e entendida desta forma apenas por sua incapacidade de ver o quadro completo da sua própria existência. Através da sedução dos prazeres efêmeros o homem passa da virtude ao vício em um processo destrutivo que ao invés de libertá-lo o conduz a prisão de sua existência material. Apenas a bondade é capaz de o guiar no caminho da verdadeira liberdade pois o livra do medo de tudo que possa acontecê-lo de ruim pois entende que ao homem de bem apenas acontece o que é melhor para ele, por pior que esta coisa pareça na hora. A bondade eleva o homem acima do nível da humanidade, enquanto a maldade o rebaixa ao nível dos animais. É pelo conhecimento da própria natureza que o homem se torna efetivamente humano, essa é sua essência. A natureza do homem, portanto, é ser bom. A sua incompreensão da justiça divina é consequência de sua incapacidade de contemplar a ordem divina; por isso não entende que a felicidade do mau consiste em ser punido e sempre que consegue o prazer que ambiciona termina mais infeliz do que era antes, mesmo que inicialmente aparente o contrário. Deus não deixa nada sem punição devida, da mesma maneira que sempre o bem será recompensado. 
Finalmente, o livro 5 trata de uma questão complicada que sempre angustiou o homem, a questão do livre arbítrio. Como se pode conciliar a imagem de um Deus que tudo controla e tudo sabe com a liberdade do homem? Como podemos ser livres se nossas ações são pré-determinadas? A filosofia argumenta com Boécio que a confusão do homem sobre essa questão deriva dos limites de sua razão, que não consegue atingir a inteligência divina. O processo de conhecimento do homem começa pelos sentidos, passa pela imaginacão até chegar no uso da razão e finalmente na inteligência. As duas primerias, o homem compartilha com os demais animais, a razão é sua exclusiva e a intelgência é divina. As superiores englobam as inferiores, mas as inferiores não garentem as superiores. O processo de passagem da razão para a inteligência é justamente a ascenção do homem em direção a Deus. A idéia do tempo, como sucessão de acontecimentos sobre uma espécie de linha, com passado, presente e futuro, é produto do limite de sua razão e de sua existência finita. Deus, que é infinito, e estå fora da escala do tempo, não está sujeito a esta sucessão, para Ele tudo é um eterno presente por isso experimenta no presente o que o homem já fez, está fazendo e o que fará. 
A consolação a filosofia é um livro de introdução à filosofia pois consegue captar a unidade da filosofia e transmiti-la com uma linguagem poética e compreensível. A filosofia é o uso da razão para compreender a ordem da existência e este conhecimento é fundamental para que o homem tenha a consolação para viver este mundo. Lendo este livro e meditanto sobre ele, o leitor vai se vacinar para toda mistificação que veio depois, principalmente na chamada filosofia moderna, que se perdeu em raciocínios abstratos, em círculos e sobre problemas criados pelos próprios pseudo-filósofos que pouco ou nada se conectam à realidade. Vai entender que muito do que vemos hoje como novidade já tinha sido refutado por Sócrates, Platão e Aristóteles há mais de dois mil anos e que o núcleo da filosofia está lá, embora muitos outros filósofos, como Boécio, tenham prosseguido nos trabalhos dos verdadeiros pais da filosofia e nos iluminado sobre o verdadeiro alcance do que estavam dizendo. Filosofia é o conhecimento, por via da razão, da ordem divina. O que não se encaixar nisso, é outra coisa, embora use o mesmo nome e até mesmo um título acadêmico. Quer estudar filosofia? Comece por A Consolação da Filosofia, livro inteiramente escrito na prisão, em que o autor busca no uso dar razão a luz sobre seu próprio sofrimento. Evitará perder muito tempo, entender um monte de coisa errada, ter um sacrifício danado para limpar a mente de tanta besteira, como eu tive que fazer. Agradeço ao falecido professor José Munir Nasser por ter nos deixado essa valiosa dica, que embora tarde, chegou em tempo para mim. 

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Conversas sobre Didática,