INTRODUÇÃO
O estágio supervisionado em Educação Infantil, proposto pela matriz curricular do curso de Pedagogia, mais precisamente no sexto período, propõe aos graduandos do referido curso, uma experiência que evidencia o papel do pedagogo diante do primeiro nível da educação básica. O ponto mais relevante desse estágio refere-se à observação e principalmente o desejo de realizar na instituição conveniada, um projeto de intervenção que estabelecesse vínculos significativos entre a teoria e a prática escolar.
Inicialmente foi realizada a observação geral da instituição para que os estagiários tivessem conhecimento total dos ambientes disponíveis. Foram realizadas ainda entrevistas com o corpo docente e também a caracterização da turma específica de crianças que seriam contempladas com o projeto. Essas etapas foram de extrema importância para então compreender a dinâmica e o cotidiano da instituição, estabelecendo assim, a elaboração de um projeto que viabilizasse totalmente a prática pedagógica, bem como a aprendizagem das crianças.
A etapa seguinte consistiu na elaboração de um projeto de intervenção no intuito de estimular, de maneira concomitante, a produção de artes visuais a partir do imaginário da criança. Durante a observação da turma, foi percebido que a prática pedagógica voltada para o desenvolvimento da linguagem artística estava aliada à reprodução simplesmente. Assim, houve a proposta de inovação quanto ao uso desta linguagem, enfatizando os valores artísticos e individuais de cada criança.
A turma contemplada com o projeto era composta de 17 (dezessete) crianças, compreendendo a idade de cinco anos, não havia crianças especiais, porém cinco delas eram acompanhadas semanalmente pela psicopedagoga da própria instituição pelo fato de demonstrarem dificuldades na aprendizagem. Apenas uma professora era a responsável pela turma. Sua ação pedagógica correspondia ao planejamento semanal das atividades propostas para as crianças. As linguagens eram então trabalhadas de maneira interdisciplinar.
A elaboração do projeto de intervenção associou-se às práticas educativas, demandas da instituição como um todo e também o desejo dos estagiários em promover ações satisfatórias à aprendizagem das crianças. Nesse sentido, o projeto teve o objetivo de possibilitar às crianças do jardim II, produções artísticas através da imaginação fazendo uso do ateliê mágico como espaço ideal para as produções. Como as crianças demonstravam gostar muito da sala de artes, porque naquele ambiente havia muitos brinquedos (bonecas, ursos de pelúcia, carrinhos, bola, entre outros) e materiais para desenvolver a linguagem artística (pinceis, lápis de cor, tinta guache, papel), houve a preocupação de revitalizar esta sala para que as crianças pudessem ter ainda mais, momentos prazerosos, com materiais concretos e/ou carregados de muita imaginação.
As sessões eram iniciadas sempre com rodas de conversa no intuito de compartilhar os conhecimentos prévios das crianças, em seguida havia a apresentação de uma literatura infantil associada à linguagem em questão, dinâmicas de grupo e ao final as crianças realizavam produções artísticas com reflexão e fruição.
A LINGUAGEM ARTÍSTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A linguagem artística na educação infantil desenvolve nas crianças, significativas capacidades que serão essenciais para a formação de um caráter sensível e reflexivo. Uma vez oportunizada esta linguagem, "Ainda é uma realidade, numa grande parcela das escolas em geral, a pequena importância que é dada ás atividades artísticas." (NICOLAU, 2003, p. 144) as crianças serão conduzidas a realizar, por exemplo, agrupamentos de cores, formas, utilidade.
A exploração do objeto e a definição do seu uso permitem relacionar a maneira própria de produção da arte, levando em consideração principalmente as interações que ocorrem nesses momentos de escolha. Promover um trabalho de artes visuais deve-se pensar inicialmente em promover ludicidade, apreciação e principalmente muita diversão.
Observar um desenho feito por uma criança torna-se tarefa um tanto difícil quando o mesmo não está totalmente expresso conforme é estabelecido pelos estereótipos, mas ao perguntar para a criança de que se trata tal produção, a mesma, sem duvida, irá definir passo a passo cada detalhe de sua obra, isso é o que realmente se torna significativo diante do processo de ensino-aprendizagem especialmente na educação infantil.
Métodos arcaicos de ensino infelizmente ainda se fazem presentes nas ações de muitos educadores que indiferentemente, definem todas as ações, formas, cores, limitando assim, a criação/recriação da arte infantil e porque não dizer da própria cultura/identidade?
As crianças em contado com a arte expressam muitas sensações é o que explica (FERREIRA, 2009, p 30 - 31):
As oficinas de construção para as crianças são espaços lúdicos na perspectiva de um fazer criativo. Envolvem a construção de objetos úteis, lúdicos e estéticos (brinquedos, construções e assemblages). Nesta ação as crianças transformam materiais certamente, mas também ideias, sentimentos, significados simbólicos das brincadeiras.
Entendemos assim que, a criança, em oficinas que exploram a capacidade de criação da própria arte, é capaz de expressar seus pensamentos atraídos pela ludicidade e a linguagem artística em si. Por isso, a arte deve transferir a ideia de satisfação e descobertas da própria imaginação. "O corpo se põe em movimento ao tempo que a imaginação também o faz." (p. 52).
A linguagem artística deve acompanhar cada processo de aprendizagem das crianças. Os momentos destinados às produções dessa linguagem evidenciam nas crianças, a capacidade de imaginar e criar, não num mundo limitado de cores e formas, mas, permitir que as crianças explorem o que for disponibilizado e sejam capazes de ampliar os conhecimentos de mundo, meio social e cultura. (ANTÔNIO E GONÇALVES, 2007).
O projeto viabilizou para a comunidade escolar, a valorização do fazer da criança como processo que auxilia a aprendizagem, dando-lhes um olhar mais apreciador para as produções da arte. (Ostrower, 1996, p. 134) afirma ainda que:
(...) o processo de criar significa um processo vivencial que abrange uma ampliação da consciência; tanto enriquece espiritualmente o individuo que cria como também o individuo que recebe a criação e a recria para si.
Os educadores da referida instituição puderam dar continuidade na medida em que entenderam a proposta do projeto e desde então desejaram explorar as capacidades artísticas das crianças, propiciando variabilidade de expressão e espontaneidade das ações que fazem parte do processo.
O "Ateliê Mágico" é o lugar ideal para desvendar os segredos da imaginação (GIANNOTTI, 2008, p.141): ..."Um ateliê que se coloca a serviço da nutrição da imaginação e encontra o seu papel principal na abertura de espaço para a liberdade expressiva." Assim, entende-se que o ateliê deve alimentar os processos naturais de expressão artística das crianças, o planejamento referente a linguagem deve estar aberto às inovações para conduzir a satisfação das crianças diante de suas produções.
A arte, assim, é a linguagem que revela a natureza dos sujeitos, suas emoções, suas intenções e principalmente a capacidade de estabelecer o contato com o mundo da imaginação.
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO "LINGUAGEM ARTÍSTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PROPOSTA PARA PROMOVER ARTE A PARTIR DO IMAGINÁRO DA CRIANÇA"
O Projeto "Linguagem artística na educação infantil: proposta para promover arte a partir do imaginário da criança" foi desenvolvido no estágio em Educação Infantil. As sessões ocorriam duas vezes por semana (nos dias de quarta e quinta-feira), nos meses de setembro, outubro e novembro de 2010, totalizando 18 (dezoito) encontros: 3 (três) sessões para a observação, 2 (duas) para a revitalização da sala de artes Ateliê Mágico e 13 (treze) para atividades educativas com a turma contemplada.
O objetivo central do projeto foi possibilitar às crianças produções artísticas através da imaginação fazendo uso do ateliê mágico como espaço ideal para as produções. As ações específicas corresponderam a Revitalizar a sala de artes Ateliê Mágico, promoção da produção artística das crianças a partir da imaginação e a avaliar do grau de satisfação das crianças diante de suas produções.
A ação inicial do projeto correspondeu à revitalização da sala de artes Ateliê mágico e para atingir esse objetivo foi necessária a remoção de toda a mobília em seguida o ambiente foi totalmente reformado (tanto a parte interna quanto a externa da sala). O intuito foi garantir que as crianças explorassem o ambiente com melhores condições, pois foi percebido que a sala infelizmente não tinha manutenção.
A revitalização da sala de artes Ateliê Mágico foi um momento bastante satisfatório. Acreditamos que esta valiosa contribuição, tanto ao nosso projeto de intervenção, quanto para as crianças da referida instituição, sirva para que a linguagem artística seja vivenciada pelos educadores e crianças com muita fruição.
Após a etapa da revitalização da sala de artes, já na terceira sessão, foi explicado para a turma de crianças o que consistia o projeto: a arte pela imaginação. As crianças foram desde o inicio muito receptivas e demonstraram bastante interesse pela proposta que iria ser desenvolvida com a total participação delas. Através de uma roda de conversa, perguntamos as crianças o que era arte. As respostas dadas foram as mais diversificadas: "arte é cor"; "pincel"; "tinta"; "pintura". Neste momento realizamos uma dinâmica de apresentação.
Todas as crianças ficaram sentadas no chão em circulo. Explicamos a dinâmica e uma criança iniciou dizendo o seu nome e fazendo um gesto ao mesmo tempo (ex.: Amanda e batia palmas) a segunda criança imitou o que fez a primeira criança em seguida disse o seu nome e fazia outro gesto (ex.: Amanda + palmas; Leticia + abrir os braços) e assim sucessivamente. Todas as crianças estavam tão concentradas para memorizar os nomes dos coleguinhas, foi um momento onde houve a total participação.
Em seguida, fizemos a leitura de uma literatura infantil intitulada "Cores das cores" de Arthur Nestrovski. As crianças eram questionadas por nós para identificar as cores e as situações apresentadas na obra. De maneira bem recíproca, as crianças identificaram as cores fazendo relação com as frutas, comidas e imagens que já conheciam. Ao final, propomos a construção de um mosaico, explicamos como era feita a técnica. Utilizando lápis de cor e papel ofício as crianças escolheram as cores e produziram seu próprio mosaico.
Nos demais encontros, usávamos essencialmente a literatura infantil com temas voltados para as artes visuais, explorávamos as capacidades seletivas das cores que estavam disponíveis tanto com lápis de cor (madeira e cera), quanto com as tintas guache. Cada criança produzia a sua arte utilizando as cores que consideravam mais agradáveis, produziam com muita sensibilidade, imaginação e fruição. Nos momentos de finalização das sessões, conduzíamos as crianças para apreciar a obra de seus colegas, expondo o material no ateliê mágico.
Na nona sessão mostramos para as crianças através de figuras as cores quentes e cores frias. "As cores quentes são psicologicamente dinâmicas e estimulantes como a luz do sol e o fogo. Sugerem vitalidade, alegria, excitação e movimento. As cores frias são calmantes, tranquilizantes, suaves e estáticas, como o gelo e a distância." (Wundt). Após a explicação fizemos com as crianças um painel com as cores quentes e cores frias. Utilizamos papel 40kg, cartolina, revistas, tesourinha sem ponta, plaquinhas coloridas e cola.
No encontro seguinte, confeccionamos com as crianças um livrinho sem palavras utilizando as cores quentes e cores frias que foram apresentadas na sessão anterior. As crianças puderam pintar as páginas do livrinho com as cores que desejaram. Como cada cor representa uma situação (dia quente – amarelo; comida, corrida - vermelho; azul – o céu), conforme explicamos, todas as crianças puderam inventar histórias. No final, cada criança compartilhou de uma história (como livro sem palavras) que foi fruto autêntico da imaginação, os objetivos do projeto estavam sendo alcançados.
A partir de então, a ludicidade, a brincadeira de misturar cores, pintar com pincel e tinta guache, montar paineis com variabilidade de cores e desenhos próprios de cada uma passou a ser natural nas produções das crianças, ornamentamos ainda seus caderninhos de desenhos. Decoramos a capa utilizando material emborrachado (nomes das crianças com alfabeto móvel, bolas, flores, e muitas cores.)
No encerramento do projeto, as crianças puderam compartilhar de uma canção bastante ligada à temática: "Aquarela de Toquinho". Pedimos para que apreciassem a música e identificassem os objetos que estavam citados na canção e depois os desenhassem livremente. Ex. "numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo...". As crianças produziram sua arte ao som da música e em todo o tempo, comparavam com os colegas os objetos que haviam desenhado.
Na culminância do projeto fizemos a exposição na sala de atividades dos trabalhinhos produzidos ao longo das sessões. As crianças demonstraram muita satisfação durante a aplicação do projeto, pois, puderam utilizar materiais diversos para a produção da sua arte e principalmente fazer uso da imaginação. A professora da turma também percebeu um impacto positivo com o projeto pela possibilidade de trabalhar a linguagem artística, através do imaginário da criança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto foi realizado com o principal objetivo de favorecer as crianças da referida instituição, o aproveitamento mais significativo da sala de artes Ateliê Mágico e principalmente favorecer a uma das turmas do jardim II, do turno matutino, a produção de artes partindo da própria imaginação.
A proposta foi pensada a partir da observação de como era produzida a arte das crianças como um todo, pois, as atividades que expressavam a linguagem artística, eram mimeografadas, pintadas pelas crianças com as mesmas cores e utilizando apenas giz de cera.
A instituição demonstrou muita receptividade, para que nós estagiárias, pudéssemos realizar o nosso projeto de intervenção, isso sem dúvida foi um dos pontos mais significativos para o desenvolvimento e conclusão do projeto.
As sessões com as crianças nos ajudaram a ter um olhar bem direcionado ao trabalho pedagógico da Educação Infantil no que se refere à linguagem artística, nos fazendo lembrar (FERREIRA, 2009, p.30), quando afirma que "As oficinas de construção para as crianças são espaços lúdicos na perspectiva de um fazer criativo." E o nosso projeto pretendeu exatamente isso: a possibilidade de um fazer criativo pensado, concretizado e apreciado pela própria criança.
Reconhecemos ainda o quanto é importante desenvolver ações que explorem todas as linguagens, permitindo principalmente que as crianças realizem reflexões acerca das atividades propostas pelo professor. Evitar as "atividades prontas", como é o caso das pinturas observadas nas salas de atividades da instituição, que não oferecem espaço para as interpretações e que limitam as aprendizagens significativas das crianças.
O projeto teve um impacto bastante positivo, principalmente nas sessões finais quando as crianças, em contato com o livro sem palavras construído coletivamente, começaram a imaginar, criar, compartilhar histórias que refletiam as experiências do cotidiano, experiências que estavam guardadas e que gostariam de expressar naquele momento tão prazeroso para todos os envolvidos no projeto.
Enfim, consideramos que um projeto capaz de adentrar no mundo imaginário da criança, traz contribuições importantíssimas para a formação dos profissionais da Educação infantil, pois, o que está sendo expresso nas produções das crianças não são apenas riscos e rabiscos, mas há principalmente a expressão de suas ideias, seus desejos, seus pensamentos e sentimentos (FERREIRA, 2009).
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Paulo Nin. O espírito das coisas: um estudo sobre assemblage infantil.Dissertação de mestrado. São Paulo. FE/USP, 2009.
GIANNOTTI, Sirlene. Dar forma é formar-se: processos criativos na arte e na infância. Dissertação de mestrado. São Paulo, FE/USP, 2008
GONÇALVES, Cristiane Januário; ANTÔNIO, Débora Andrade. As múltiplas linguagens no cotidiano das crianças. Revista Zero a Seis, Florianópolis – UFSC, nº 16, jul/dez, 2007.
NICOLAU, Machado (org). Oficinas de sonho e realidade na formação do educador da infância, Campinas: Papirus, 2003. – (Coleção Papirus Educação)
OSTROWER, Fayga. Acasos e Criação artística. 2° ed. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
PEDAGOGA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
PÓS GRADUANDA EM PSICOPEGAGOGA PELA CEAP-UNOPAR
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