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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Arte-Educação para quê? (Razões para ensinar arte) Selma Moura · São Paulo, SP




A educação é uma das ações que definem nossa humanidade: o ser humano transcende seu status animal pois vai além dos instintos: compreende, reelabora, reflete, cria e recria, critica, aprende, ensina. A busca do homem através da história é sempre uma busca de compreender e transformar a realidade.
Já foi dito que uma característica distintiva do ser humano é a necessidade do supérfluo. O que ultrapassa os limites das necessidades básicas essenciais à sobrevivência e coloca-se no campo da atribuição de sentido é o que nos torna humanos. A admiração diante de um por do sol, a necessidade de deixar uma marca que dure além do efêmero tempo de nossa existência, o incômodo diante da desorganização e a valorização de uma certa ordem individual, o espanto diante do inusitado, a apreciação da beleza, a reflexão sobre o que é diferente e nos provoca... todos os seres humanos vivenciam essas situações ao longo de suas vidas, pois são constituídos de dimensões físicas, cognitivas, emocionais, sociais, éticas e estéticas.
Essa característica pluridimensional do ser humano por si só já seria válida para justificar a importância da arte na educação, já que sua ausência não favoreceria um desenvolvimento integral da pessoa, um dos principais objetivos da educação. Mas além desse fator há outros que valem a pena serem lembrados.
A arte é cultura. É fruto de sujeitos que expressam sua visão de mundo, visão esta que está atrelada a concepções, princípios, espaços, tempos, vivências. O contato com a arte de diversos períodos históricos e de outros lugares e regiões amplia a visão de mundo, enriquece o repertório estético, favorece a criação de vínculos com realidades diversas e assim propicia uma cultura de tolerância, de valorização da diversidade, de respeito mútuo, podendo contribuir para uma cultura de paz. O conhecimento da arte produzida em sua própria cultura permite ao sujeito conhecer-se a si mesmo, percebendo-se como ser histórico que mantém conexões com o passado, que é capaz de intervir modificando o futuro, que toma consciência de suas concepções e idéias, podendo escolher criticamente seus princípios, superar preconceitos e agir socialmente para transformar a sociedade da qual faz parte.
Além das já referidas justificativas ontológicas e culturais para a importância da arte na educação, cabe falar da dimensão simbólica da arte, de seu poder expressivo de representar idéias através de linguagens particulares, como a literatura, a dança, a música, o teatro, a arquitetura, a fotografia, o desenho, a pintura, entre outras formas expressivas que a arte assume em nosso dia-a-dia.
Essas formas são linguagens criadas pela humanidade para expressar a realidade percebida, sentida ou imaginada, e como linguagens que são, têm suas próprias estruturas simbólicas que envolvem elementos tais como espaço, forma, luz e sombra em artes visuais, timbre, ritmo, altura e intensidade em música, entre outros elementos inerentes a outras linguagens da arte. Ora, o conhecimento dessas estruturas simbólicas não é evidente aos alunos, nem se constrói espontaneamente através da livre expressão, mas precisam ser ensinados. O ensino das linguagens da arte cabe também à escola, embora não apenas a ela.
Um outro argumento em defesa da arte na educação passa pela sua importância ao desenvolvimento cognitivo dos aprendizes, pois o conhecimento em arte amplia as possibilidades de compreensão do mundo e colabora para um melhor entendimento dos conteúdos relacionados a outras áreas do conhecimento, tais como matemática, línguas, história e geografia. Um exemplo mais evidente é a melhor compreensão da história, de seus determinantes e desdobramentos através do conhecimento da história da arte e das idéias sobre as quais os movimentos artísticos se desenvolveram. Não existe dicotomia entre arte e ciência, entre pensar e sentir, entre criar e sistematizar, e a fragmentação do conhecimento é uma falácia que tem estado presente na educação, devendo ser superada, pois o ser humano é íntegro e total.
Diante de tal importância que a arte assume na educação, pode-se fazer uma revisão crítica do que a escola tem alcançado em termos de ensino da arte.
Temos conseguido valorizar nos alunos sua expressividade e potencial criativo? Temos sabido perceber, compreender e avaliar suas idéias sobre as linguagens artísticas? Temos desenvolvido nosso próprio percurso em artes de tal modo que conheçamos os conteúdos, os objetivos e os métodos para ensinar cada uma das linguagens artísticas? Temos tido suficiente bagagem teórico-conceitual para identificar o momento que cada educando vivencia em sua construção de conhecimento sobre a arte e fazer intervenções que lhe permitam avançar? Temos sabido incentivar a formação cultural de nossos educandos e ajudá-los a perceberem-se como sujeitos de cultura?
Creio que estamos vivenciando um momento histórico de grande importância na educação como um todo e na arte-educação especificamente: o desafio de superar concepções tecnicistas e utilitaristas, mas também de ir além do “deixar fazer” e da livre expressão apenas, para reconhecer que a arte tem características próprias que devem ser melhor conhecidas pelos educadores, que tem objetivos próprios e seus próprios métodos. Será que nós tivemos, em nossa educação, acesso à arte? E que acesso foi esse? Estamos reconstruindo o ensino da arte, não com base no que aprendemos na escola, mas no conhecimento que estamos a construir agora.
Nós, como educadores, precisamos aprender mais para ensinar melhor. Cada um de nós deverá ser um construtor de conhecimentos e um semeador de idéias e práticas que, esperamos, darão frutos no futuro.

Indicações de Leitura:

Derdyk, Edith. Formas de Pensar o Desenho: O desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo, Scipione, 1989.
Iavelberg, Rosa. Para gostar de Aprender Arte: Sala de Aula e Formação de Professores. Porto Alegre, Artmed, 2003.
Iavelberg, Rosa. O desenho Cultivado na Criança: Prática e Formação de Professores. São paulo, Zouk, 2006
Nicolau, Marieta Lúcia Machado e Marina Célia Moraes Dias (orgs). Oficinas de Sonho e Realidade na Formação do Educador da Infância. Campinas, Papirus, 2003.



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terça-feira, 12 de março de 2013




 




NATURALISMO PEDAGÓGICO NO EMÍLIO DE ROUSSEAU



Profa. Dra. Janete de Aguirre Bervique
Docente do Curso de Psicologia FASU / ACEG – Garça, SP 

RESUMO

            O objetivo básico deste estudo é mostrar como Jean-Jacques ROUSSEAU (séc. XVIII) constrói sua teoria naturalista de educação, tendo em vista o processo de desenvolvimento da criança e do adolescente, incluindo três estágios, em consonância com o papel da Natureza em oposição à sociedade, nesse paradigma educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Natureza, sociedade, criança e adolescente, estágios, educação.

       
ABSTRACT

            The main objective of this study is to show how Jean-Jacques ROUSSEAU (18th century) builds his naturalist theory of education, considering the development process of the child and the adolescent including three stages and giving legitimacy to the role of the Nature against the society in this educacional paradigm.
KEY-WORDS: Nature, society, child and adolescent, stages, education.


       INTRODUÇÃO

               O século XVIII teve como um de seus pontos marcantes o aparecimento do Naturalismo Pedagógico, concepção educativa que vê na natureza o fim e o método de ensino; a  natureza é, pois, considerada como realidade suprema, da qual emanam toda a lei e toda a ciência. O líder desse movimento foi ROUSSEAU (1), que propôs a fé na natureza, em substituição à lei da razão.
              O século anterior fora dominado pelo racionalismo, pelo intelectualismo, pela idéia desenvolvida no Renascimento de que a educação consiste no domínio de livros e de formas. Esse sentido formalista dominará, também, a religião e a moral, mas toda essa erudição não conseguira melhorar o homem, moralmente.
              ROUSSEAU, que fora amigo de DIDEROT, CONDILLAC e D’ALEMBERT (enciclopedista), partilhando de seus ideais e aspirações, rompeu com eles ao perceber, de repente, que o progresso das ciências e das artes contribuíra para corromper os costumes, que a faculdade de raciocínio dos intelectuais era cínica e egoísta e que não era possível basear a virtude apenas na razão. Voltou-se, como antes fizera DESCARTES, contra todas as formas de opressão:  a educação formalista, que abrangia o ensino intelectual; a família que se assentava no interesse e não no amor; e a civilização que provocava a decadência da moral, tornando os homens fingidos e maus (2). ROUSSEAU achava que esse estado de vida era “não natural”, isto é, considerava a civilização como “um erro colossal e a sociedade a fonte de todo o mal” (3); entretanto, acreditava que nem tudo estava perdido, porque o homem, sendo capaz de perfeição, através de educação adequada à sua natureza, poderia reformar a sociedade.
              A mentalidade da época estava obsecada por um amor exagerado à natureza. Havia já alguns anos que as descobertas no campo científico e as viagens de descobrimento conduziam os homens a uma nova concepção de si mesmos, da vida e da natureza, e a se interessarem pelo “homem natural”; isto é, o homem em sua vida originária, pura, não contaminado pelos artificialismos da civilização.
              ROUSSEAU, levado pelo sentimento e pela simpatia pelo povo, revoltou-se contra a lei da razão, que impunha limitações ao aperfeiçoamento humano, e propôs o “novo evangelho da fé na natureza, no homem do povo e na capacidade do homem de realizar sue próprio bem na vida” (4); seu objetivo era a reabilitação do gênero humano, que só seria possível através da educação. E para expor a educação desejável à consecução desse elevado objetivo, escreveu Emílio, que, segundo suas próprias palavras, é “um tratado filosófico sobre o princípio de que o homem é naturalmente bom e é dedicado à procura da maneira pela qual se possa impedir que se torne mau” (5).
              O livro consta de cinco partes e narra a vida de Emílio do nascimento ao casamento, apresentando uma grande riqueza de detalhes e aspectos. O presente estudo ater-se-á ao esquema pedagógico proposto pelo autor, norteado pelo seu lema “Volvamos à Natureza”.
 

        O IDEAL DA EDUCAÇÃO ROUSSEANIANA E AS FASES DA EDUCAÇÃO
             
             Em primeiro lugar, é preciso distinguir três sentidos na palavra natureza, segundo ROUSSEAU, “Há a natureza física exterior; a natureza do homem e ou natureza enquanto compreendida como essência” (6). É a natureza, nos três sentidos, a responsável pela redenção do homem e salvação da sociedade. Para ROUSSEAU, a natureza é, também, a vida originária pura, livre dos convencionalismos, em que o homem se apresenta como é, apenas com suas qualidades inatas, e que a educação antiga, estritamente formalista, deturpava quando procurava desenvolver.
              Para expor sua doutrina de salvação da sociedade e redenção do homem, ROUSSEAU precisava de um discípulo e, então, idealiza Emílio, um menino rico, sadio, robusto, órfão (ou entregue pelos pais a um preceptor, porque eles só poderiam educar o filho dentro da ordem vigente, justamente o que se queria evitar), de inteligência comum e que, bem orientado por Jean-Jacques, iria promover a reforma da sociedade. ROUSSEAU orientou a educação de Emílio no sentido de fazê-lo, antes de tudo, um homem.
“Na ordem natural, sendo os homens todos iguais, sua vocação comum é o estado de homem; e quem quer que seja bem educado para esse, não pode desempenhar-se mal dos que com esse se relacionam. Que se destine meu aluno à carreira militar, à eclesiástica ou a advocacia, pouco me importa. Antes da vocação dos pais, a natureza chama-o para a vida humana. Viver é o ofício que lhe quero ensinar. Saindo das minhas mãos, ele não será, concordo, nem magistrado, nem soldado, nem padre, será primeiramente um homem” (7).
“Homens, sejais humanos, é o vosso primeiro dever” (8).
              Esse estado ideal não poderá ser atingido, entretanto, se Emílio ficar exposto às más influências da sociedade corrupta, pois, vivendo no meio do vício, não haverá possibilidade de seu coração conservar-se puro. Impossível levá-lo da bondade natural à prática da virtude, se ficar exposto à maldade adquirida pelos homens no contacto com a coletividade injusta, dominada pelo intelectualismo, pela política e pela moral convencionais. Além disso, não há liberdade verdadeira na sociedade; ela SÓ existe na natureza (9).
“O homem civil nasce, vive e morre na escravidão; ao nascer, envolvem-no em um cueiro, ao morrer, encerram-no em um caixão; enquanto conserva sua figura humana está acorrentado a nossas instituições” (10).
              Para evitar o cercear da liberdade humana, que anula qualquer tentativa de desenvolvimento harmonioso do homem, pois faz com se desintegrem e degenerem suas tendências primitivamente boas, faz-se necessário separar o discípulo da sociedade e fazer da natureza sua única educadora e mestra. Recomenda a vida em contacto com a natureza, pois, observando a vida dos animais, livre e natural, concluiu que se fosse dada ao homem a oportunidade de uma vida mais conforme a natureza, estaria, do mesmo modo que os animais, livre de muitos males.
              Segundo a doutrina rousseauniana, há três fontes de educação: a natureza, os homens e as coisas. A educação da natureza consiste no desenvolvimento interno das faculdades e dos órgãos -- a educação vem de dentro para fora; a educação dos homens consiste em ensinar o uso desse desenvolvimento; e a educação das coisas é o ganho da própria experiência sobre os objetos que afetam cada indivíduo. As três educações são necessárias para levar à perfeição; mas, como a educação dos homens depende de nós, a das coisas depende em parte e a da natureza é independente, o preceptor tem a obrigação de orientar as duas primeiras para esta última (11). Observa-se que há nessa concepção de educação geral uma profunda diferença da educação da época, cujo objetivo era amoldar a criança, sem qualquer consideração pela sua natureza e sem lhe deixar o mínimo de liberdade.
              ROUSSEAU considera impossível formar o homem e o cidadão ao mesmo tempo, porque as instituições formais da sociedade são incompatíveis com a natureza e o cidadão é um indivíduo artificial. Por isso, Emílio será educado para ser homem e não cidadão, para viver na humanidade e não nesta ou naquela sociedade. Ou, em outras palavras, Emílio será um homem natural preparado para viver em estado social (12). Depois de ser educado de maneira correta pela natureza, Emílio será levado a viver em sociedade, para receber dela o que lhe faltar e para agir no sentido de restaurá-la.
              Essa educação será feita por etapas, obedecendo ao desenvolvimento natural de Emílio, pois, a natureza não dá saltos, mas procede degrau por degrau.

 Educação Natural até aos 12 anos
            
               Para que a educação de Emílio se processe de modo adequado, ele terá um preceptor, preferentemente jovem, sábio, desinteressado pela riqueza, alegre e livre de compromissos, porque deverá acompanhar seu  discípulo até a idade de 25 anos, sem abandoná-lo jamais: morar juntos, dormir e comer juntos, passear e aprender lado a lado, a fim de se criarem laços afetivos entre ambos, pois a afeição é condição indispensável para haver educação verdadeira, justamente o contrário do que se dava na época.
              A tarefa do preceptor, entretanto, até que Emílio complete 12 anos, não será a de ensinar, mas de deixar que a natureza siga livremente seu curso; esta encarregar-se-á de proporcionar o desenvolvimento de suas potencialidades e de suas inclinações naturais, obedecendo a etapas que ela mesma determina. Nessa fase, a educação vem da natureza e o mestre limitar-se-á a estar atento para afastar obstáculos do caminho de Emílio e proporcionar condições favoráveis ao seu desenvolvimento espontâneo. Em resumo, em vez de dar preceitos, conduzirá Emílio no sentido de que os descubra por si, naturalmente, sem se valer da autoridade de mestre. Ainda, o preceptor não deve contrariar o discípulo; se ele quiser praticar um ato prejudicial, o preceptor deve esperar que ele seja castigado pela própria ação indesejável, pelas conseqüências desagradáveis que dela resultem, ou pela natureza (13).
              ROUSSEAU propõe que a primeira educação seja negativa, porque nessa fase da vida muito perigosa, em que as experiências marcam o homem para sempre, é preciso “saber perder tempo para ganhá-lo” (14). A educação negativa, que se prolongará até os 12 anos, consiste em não ensinar a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro (15). O autor sustenta a tese de que a virtude não precisa ser ensinada muito cedo, pois a criança é naturalmente boa, como afirma na oração inicial de sua obra: “Tudo é certo em saindo das mãos do Autor das coisas...” (16). E em outra parte: “Não existe perversidade original no coração humano” (17).
              Deve-se entender a concepção rousseauniana de educação negativa, não como uma ociosidade perniciosa, mas como o aproveitamento das ocasiões e do tempo para evitar que os vícios se implantem na criança, que ela adquira maus hábitos, ou conceitos e noções falsas. ROUSSEAU recomenda, ainda, que não se deve dar-lhe instrução nenhuma, pois ela não possuí razão para entende-la; deve-se, sim, proporcionar ocasiôes para que ela se desenvolva, naturalmente, exercitando sua vontade e dando condições físicas ao corpo, para que ele obedeça mais tarde, o comando da vontade.
             A razão só aparecerá depois dos 12 anos e a “natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens” (18), pois “a infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir, que lhe são próprias” (19). Com isso, ROUSSEAU que dizer que a criança deve ser educada segundo sua idade, seus interesses e necessidades, em oposição ao que se praticava então, eis que a educação obedecia a programas e critérios fixos, completamente alheios às exigências próprias da infância (20). E essa, certamente, não é a fase em que ela deva receber lições verbais, nem ensinamentos morais, pois,lhe falta o uso da razão.
“...as mentiras da criança são todas obras de seus mestres, e querer ensinar-lhes a verdade não passa de ensinar-lhes a mentir” (21).
“Nós que damos a nossos alunos somente lições práticas e que preferimos que sejam bons a que sejam sábios, não exigimos deles a verdade de medo que a disfarcem, e nada lhes fazemos prometer que sejam tentados a não cumprir” (22).
        Pergunta-se, então: de que maneira Emílio será educado? Através do exemplo, à semelhança das tribos selvagens, das primeiras civilizações, do mundo clássico e da vida familiar de hoje. ROUSSEAU intuiu, claramente, a importância do exemplo e da participação no processo educativo (23).
              Em resumo, nessa fase da vida, o preceptor cuidará de que seu discípulo fortaleça o corpo através de exercícios, hábitos higiênicos e treine a acuidade sensorial pelo contacto íntimo com as forças e fenômenos da natureza, antes de querer que a criança pense; ela não conhecerá os livros e só aprenderá a ler se tiver vontade; sua aprendizagem será resultado de sua própria experiência.
“Suas idéias são limitadas mas nítidas, ele nada sabe de cor, mas sabe muito por experiências; se lê menos bem que outra criança em nossos livros, lê melhor no da natureza” (24).
              Aos 12 anos, começa o despertar da razão e esse fato imprime um novo sentido à educação de Emílio.

Educação dos 12 anos aos 15 anos
       
              A esta faixa etária ROUSSEAU denominou “Idade da Razão”, por ser o julgamento racional o seu traço característico. Através dele, a criança passa da “fase do mero sentimento animal para os mais altos sentimentos e faculdades da alma. Desses sentimentos surge a vida humana superior” (25).
              É neste período que se inicia a verdadeira educação; agora, o preceptor deve interferir na natureza levando o aluno a trabalhar, a instruir-se, a educar-se, mas sempre por si mesmo, nunca obedecendo à autoridade dos outros; em caso contrário, estará fazendo uso da razão dos outros e não da sua própria razão (36).
              Emílio dedicar-se-á a adquirir conhecimentos que, aliás, são poucos; aprenderá o que é útil, motivado pela sua curiosidade e pelos seus interesses naturais.
              Isso não significa que, agora, Emílio poderá ler livros; o Robinson Crusoe, de Daniel DEFOE, será sua única leitura; a natureza continuará a ser a fonte de todo o conhecimento. A Geografia, a Astronomia, as Ciências Físicas, a Agricultura, as Artes e os Ofícios serão aprendidos, diretamente, da natureza, porque o propósito de ROUSSEAU,
“... não é dar-lhe a ciência e sim ensinar-lhe a adquirí-la se necessário, e fazer com que a estime exatamente pelo que vale e levá-lo a amar a verdade acima de tudo” (27).
                Emílio não será um jovem instruído, mas capaz de instrução, porque terá, em primeiro lugar, o espírito bem formado; só terá conhecimento físico, isto é, aquele que pode ser observado concretamente, sem ser substituído pelos símbolos ou sinais; não aprenderá História, Metafísica, Moral, Gramática, nem tampouco entenderá sobre relações sociais. Só lhe interessam, por enquanto, as relações entre os homens e as coisas.               Ao fim deste período de educação, Emílio é capaz de julgamento porque tem idéias, e está apto a aprender as relações sociais e morais entre os homens.

Educação dos 15 aos 20 anos

       Assim se conclui a obra de ROUSSEAU: o resultado é um Emílio perfeito, sadio, bom, virtuoso e instruído, pronto para viver entre seus semelhantes e para reformar a sociedade.
              Emílio é produto do trabalho conjugado da natureza e do preceptor. A natureza encarregou-se de formar o homem físico, o alicerce sólido e firme sobre o qual surgiria o homem moral, construído pelo mestre.
              Tratando da educação de Emílio e inspirando-se na natureza como educadora, ROUSSEAU formulou muitas idéias educacionais que contribuíram grandemente para a renovação pedagógica, muitas das quais válidas até hoje:
-          O paidocentrismo, isto é, a criança como centro do processo educativo; do seu conhecimento depende toda a educação. A criança deve ser vista como criança e não como um adulto em miniatura.
-          A educação é um processo natural e progressivo, que dura toda a vida, devendo respeitar as características próprias de cada fase do desenvolvimento humano.
-          A motivação é da máxima importância, eis que a moderna concepção de educação é a de que ela se processa de dentro para fora, sem imposições, tendo como ponto de partida os interesses e necessidades de cada fase da vida.
-          A aprendizagem deve ser, tanto quanto possível, resultado da experiência direta e do contacto com a natureza; os métodos devem ser ativos e intuitivos, propiciando oportunidades para que o educando aprenda por si, pela própria experiência.
-          A afeição entre educador e educando é condição da máxima importância para a eficiência da aprendizagem, pois diminuindo a distância entre ambos, facilita o diálogo.
-          A educação é fator determinante de reformas sociais, pois criando novas necessidades, exije que sejam criadas as condições para que elas sejam satisfeitas.
              Apesar de ROUSSEAU ter exagerado a importância da natureza como educadora, pois é impossível subtrair o homem do contacto social, não se pode deixar de reconhecer a validade de suas idéias inspiradas na mesma.
              Concluindo, pode-se dizer que  ROUSSEAU não conseguiu salvar o homem e reformar a sociedade de seu tempo; mas, salvou a criança dos séculos posteriores dos erros da educação antiga, abrindo-lhe perspectivas de ser educada de forma mais coerente e mais compatível com a sua natureza.
              Foi o grito de alerta de ROUSSEAU que despertou os educadores da letargia em que se encontravam, motivando-os a aperfeiçoarem as teorias e métodos educacionais, substituindo o empirismo pelo tratamento científico da educação.


      CONSIDERAÇÕES FINAIS

              Assim se conclui a obra de ROUSSEAU: o resultado é um Emílio perfeito, sadio, bom, virtuoso e instruído, pronto para viver entre seus semelhantes e para reformar a sociedade.
              Emílio é produto do trabalho conjugado da natureza e do preceptor. A natureza encarregou-se de formar o homem físico, o alicerce sólido e firme sobre o qual surgiria o homem moral, construído pelo mestre.
              Tratando da educação de Emílio e inspirando-se na natureza como educadora, ROUSSEAU formulou muitas idéias educacionais que contribuíram grandemente para a renovação pedagógica, muitas das quais válidas até hoje:
-          O paidocentrismo, isto é, a criança como centro do processo educativo; do seu conhecimento depende toda a educação. A criança deve ser vista como criança e não como um adulto em miniatura.
-          A educação é um processo natural e progressivo, que dura toda a vida, devendo respeitar as características próprias de cada fase do desenvolvimento humano.
-          A motivação é da máxima importância, eis que a moderna concepção de educação é a de que ela se processa de dentro para fora, sem imposições, tendo como ponto de partida os interesses e necessidades de cada fase da vida.
-          A aprendizagem deve ser, tanto quanto possível, resultado da experiência direta e do contacto com a natureza; os métodos devem ser ativos e intuitivos, propiciando oportunidades para que o educando aprenda por si, pela própria experiência.
-          A afeição entre educador e educando é condição da máxima importância para a eficiência da aprendizagem, pois diminuindo a distância entre ambos, facilita o diálogo.
-          A educação é fator determinante de reformas sociais, pois criando novas necessidades, exije que sejam criadas as condições para que elas sejam satisfeitas.
              Apesar de ROUSSEAU ter exagerado a importância da natureza como educadora, pois é impossível subtrair o homem do contacto social, não se pode deixar de reconhecer a validade de suas idéias inspiradas na mesma.
              Concluindo, pode-se dizer que  ROUSSEAU não conseguiu salvar o homem e reformar a sociedade de seu tempo; mas, salvou a criança dos séculos posteriores dos erros da educação antiga, abrindo-lhe perspectivas de ser educada de forma mais coerente e mais compatível com a sua natureza.
              Foi o grito de alerta de ROUSSEAU que despertou os educadores da letargia em que se encontravam, motivando-os a aperfeiçoarem as teorias e métodos educacionais, substituindo o empirismo pelo tratamento científico da educação.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E NOTAS DA AUTORA

(1)   - Jean-Jacques ROUSSEAU (1712-1778) nasceu em Genebra. Espírito inquieto, passional, romântico, vagueou pela Itália, Inglaterra e França, onde morreu. Celebrizou-se como pensador, mas, durante sua vida de andanças, dedicou-se às mais diferentes atividades, até compositor de músicas e criado. Tornou-se conhecido com o ensaio Discurso Sobre as Ciências e as Artes; escreveu Nova Heloísa, romance epistolar; O Contrato Social, reflexões sobre a sociedade ideal, que serviu de inspiração à Revolução Francesa; Emílio, romance pedagógico, no qual apresenta os princípios da educação naturalista; Confissões e outras obras menores.
(2)   - ROSSEAU expressou sua tríplice revolta em três obras que formam uma trilogia, já referidas na nota 1: Júlia ou a Nova Heloísa, que apresenta a família perfeita, o matrimônio baseado no amor puro; O Contrato Social, que mostra a cidade ideal, fundada na justiça; e Emílio ou Da Educação, em que apresenta a verdadeira educação, baseada na natureza, que poderia reformar a sociedade.
(3)   – LARROYO, Francisco - História Geral da Pedagogia, v. II, trad. bras., São
         Paulo, Mestre Jou, 1970, p. 532.
(4)   – MONROE, Paul - História da Educação, trad. bras., 7. ed. São Paulo, Nacional, 
         1968, p. 252.
(5)   – Apud PIRES, Herculano - Livros que Abalaram o Mundo, 2. ed. São Paulo, 
         Cultrix, 1965, p. 132.
(6)   - BARROS, Roque Spencer Maciel de - Pesquisa e Planejamento, nº6, São
        Paulo, Centro Regional de Pesquisas Educacionais “Prof. Queirós Filho”, 
        1963, p. 49.
(7)   – ROUSSEAU, Jean-Jacques - Emílio ou da Educação, trad. bras., São Paulo,
                   Difusão Européia do Livro, 1968, p.15.
(8)   Idibid., p. 61.
(9)   - Nota-se que há uma orientação, nitidamente, individualista na doutrina de     
        ROUSSEAU.
(10)               - USSEAU, Jean-Jacques, op. cit., p. 17.
(11)               Id., ibid., p. 11.
(12)               - “Emílio não é um selvagem a ser lançado no deserto, é um selvagem feito
                   para viver na cidade”. Id., ibid., p. 227.
(13)               – Id., ibid ., p. 69.
(14)               Id., ibid., p. 79 e 142.
(15)               - Jean-Jacques ROUSSEAU, op. cit., p. 80 e 227.
(16)               Id.ib., p. 9.
(17)               Id.ib., p. 78.
(18)               Id.ib., p. 75.
(19)               Id.loc. cit.
(20)               Id., ibid., p. 91.
(21)               Id.loc. cit.
(22)               – PIRES, Herculano -  op. cit., p. 140.
(23)               Id.loc. cit.
(24)               - ROUSSEAU, Jean-Jacques - op. cit., p. 167.
(25)               – EBY, Frederick - História da Educação Moderna, trad. bras., Porto Alegre,
                            Globo, 1962, p. 305 e 306.
(26)               - ROUSSEAU, Jean-Jacques - op. cit., p. 230.
(27)               Id., loc. cit., p. 230.
(28)               Id.ibid., p. 262.


http://www.revista.inf.br/pedagogia04/pages/resenhas/estudo03.htm

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