sábado, 16 de maio de 2015

Preensão do lápis,Coordenação visomotora e espacial,lateralidade e direcionalidade para Escrita


Preensão do lápis,Coordenação visomotora e espacial,lateralidade e direcionalidade para Escrita


Para que a criança adquira os mecanismos da escrita, além da necessidade de saber orientar-se no espaço(motricidade ampla), deve ter consciência de seus membro(esquema corporal e imagem corporal), da mobilização dos membros,independentemente, o braço em relação ao ombro, a mão em relação ao braço e ter a capacidade de individualizar os dedos (motricidade fina) para pegar o lápis ou a caneta e riscar, traçar,escrever, desenhar o que quiser.

Existem exercícios para minimizar essas dificuldades ou se necessário uma avaliação com profissional especializado Terapia Ocupacional.

O professor precisa iniciar com aqueles que visam exercitar os grandes músculos e,posteriormente, trabalhar com os pequenos músculos, seja na educação infantil,seja no ensino fundamental.

Preensão do lápis 

Dificuldades de preensão do lápis tornou mais evidente nos anos primários com o aumento da demanda da escrita, no entanto,algumas crianças podem desenvolver mais cedo pré-escola e outras podem apresentar um certa dificuldade motricidade fina.As crianças geralmente começam a se desenvolver aderência em torno da idade de dois anos.

ESCALA DE PREENSÃO DE LÁPIS E GIZ DE CERA EM ORDEM DESENVOLVIMENTO

1-PREENSÃO PRIMITIVA

Preensão Palmar supinada(o traçado é feito com movimentação de braço)em torno uma ano a uma ano e meio

Preensão com os dedos extendidos pronada(traçado é feito com movimentação de braço)o braço não fica apoiado na mesa.em torno uma ano e meio a dois anos

2-PREENSÃO DE TRANSIÇÃO

Preensão quatro dedos(movimentos de punho e dedos)e o antebraço apoia na mesa.em torno dois anos a três anos

3-PREENSÃO MADURA

Preensão tripé dinâmica(movimentos localizados 3 dedos(dedo médio,polegar e indicador)O antebraço fica apoiado na mesa.em torno três a quatro anos.


Alguns problemas podem ser observados pelos os professores ou profissionais da área da Terapia Ocupacional.
Lembre-se, preensão do lápis é um elemento importante para escrita.

Dificuldades de escrita pode causar baixa auto-estima,baixa motivação para o trabalho de classe e de casa, e frustração.Os problemas de escrita incluem:

-Lentidão de movimentos na realização de tarefas de escrita
-Pouca graduação na força na escrita Ex:quebra a ponta do lápis
-Pobre espaçamento e organização por escrito
-dificuldade no sentido correto da escrita e números
-Dor nos dedos, punho e antebraço
-Postura sentada inadequada para escrita
-rigidez no traçado –o aluno pressiona demasiado o lápis contra o papel;
-relaxamento gráfico –o aluno pressiona debilmente o lápis contra o papel;
-impulsividade e instabilidade no traçado(o aluno demonstra descontrole no gesto gráfico; o traçado é impulsivo com a escrita irregular e instável)
-lentidão no traçado –o aluno demonstra um traçado lento,tornando um grande esforço de aplicação e controle.
-Dificuldades relativas ao espaçamento
(o aluno deixa espaço irregular(pequeno ou grande demais)entre letras,palavras; não respeita margens.
-Dificuldades relativas à uniformidade
(o aluno escreve com letras grandes demais ou pequenas demais ou mistura ambas;mostra desproporção entre maiúsculas e minúsculas e entre as hastes;
-Dificuldades relativas à forma das letras,aos ligamentos e à inclinação –
o aluno apresenta deformação no traçado das letras
.

Quando encaminhar para Terapia Ocupacional?
Nosso trabalho na área da Terapia Ocupacional avalia a criança em relação as dificuldades de tonicidade, movimentos de ombro, braço, punho e dedos ,movimentação pinça fina, habilidade manipulação ,destreza manual ,preensão lápis, uso da tesoura, contole postural, lateralidade, praxia viso-motora e praxia viso-espacial para a formação de uma escrita correta e fluente.

1- Distúrbios na coordenação visomotora
A coordenação visomotora está presente sempre que um movimento dos membros superiores ou inferiores ou de todo o corpo responde a um estímulo visual de forma adequada.

Ao traçar uma linha, por exemplo,a criança, ao mesmo tempo que segue,com os olhos, a ação de riscar, deve terem mira o alvo a atingir. Isso implica sempre ter atenção a algo imediatamente posterior à ação que está realizando no instante presente.

A criança com problemas de coordenação visomotora não consegue, por exemplo, traçar linhas com trajetórias predeterminadas,pois, apesar de todo o esforço,a mão não obedece ao trajeto previamente estabelecido.

Esses problemas repercutem negativamente nas aprendizagens, uma vez que para aprender e fixar a grafia é indispensável que a criança tenha conveniente coordenação olho/mão, da qual depende a destreza manual.Os esforços para focalização visual distraem a sua atenção e ela perde a continuidade do traçado das letras e suas associações.

2-Deficiência na organização espacial e temporal
Quando falamos em organização espacial e temporal nos referimos à orientação e à estrutura do espaço e do tempo:é o conhecimento e o domínio de direita/esquerda, frente/atrás/lado, alto/baixo, antes/depois/durante, ontem/hoje/amanhã, etc., que a criança deve ter desenvolvido para construir seu sistema de escrita. A criança com problemas de orientação e estruturação espacial, normalmente,apresenta dificuldades ao escrever,invertendo letras, combinações silábicas,sob o ponto de vista de localização,o que denota uma insuficiência da análise perceptiva dos diferentes elementos do grafismo. Ela não consegue,também, escrever obedecendo ao sentido correto de execução das letras, nem orientar-se no plano da folha, apresentando má utilização do papel e/ou escrevendo fora da linha. É natural, ainda,que encontre dificuldade na leitura e na compreensão de sentido de um texto, como decorrência da desorganização espacial e temporal.

3-Problemas de lateralidade e direcionalidade
Sabemos que os distúrbios de motricidade manifestam-se, principalmente,por meio dos gestos imprecisos,dos movimentos desordenados, da postura inadequada, da lentidão excessiva,etc. Entre as crianças com dificuldades motoras, muitas podem apresentar problemas relativos à lateralidade e que podem provocar ou ser provocados por perturbações do esquema corporal, pela má organização do espaço em relação ao próprio corpo.As perturbações da lateralidade podem apresentar-se de várias maneiras:

• lateralidade indefinida –caracteriza-se pela não-definição da dominância, em especial, da mão direita ou esquerda. Nesse caso, a criança vive uma permanente incerteza quanto ao uso das mãos, tornando-se, por isso,confusa e pouco eficiente no desempenho das atividades motoras. Uma dominância não claramente definida pode ser, também, causa de certas dificuldades,como, por exemplo, inversão de letras na leitura e/ou na escrita, confusão de letras de grafismos (traçados)parecidos, mas com orientação espacial diferente.O que conhecemos como escrita espelhada também pode ser decorrência da lateralidade indefinida.

• sinistrismo ou canhotismo – é a dominância do uso da mão esquerda.A eficiência da mão esquerda, nas crianças canhotas é inferior à da mãodireita nas destras, tanto pela velocidade quanto pela precisão, em geral. Podemosobservar que essas crianças,bem como as destras, podem apresentar,muitas vezes, problemas de orientação e estruturação espacial que tendem a acentuar-se com a idade, durante um certo período de seu desenvolvimento.Na verdade, um canhoto pode escrever com a mesma destreza e facilidadede um destro. Porém, para chegar aos mesmos resultados, a criança canhota deve percorrer uma série diferente de movimentos e de ajustamentos motores. Sua tendência natural e espontânea,no plano horizontal, é escrever da direita para a esquerda. É, pois,tarefa do professor auxiliá-la e incentivá-la para que ela possa,com a maior brevidade, encontrar seus padrões motores;

• lateralidade cruzada – caracteriza-se pela dominância da mão direita em conexão com o olho esquerdo, por exemplo, ou da mão esquerda com o olho direito. Esse tipo de lateralidade heterogênea – olho/mão – tem sido pesquisado por muitos estudiosos do tema, que, apesar dos esforços, têm chegado a conclusões divergentes.Vários autores levantam a hipótese de que a lateralidade cruzada poderia ser,em certos casos, causa de desequilíbrios motores e outras perturbações,que dificultariam o aprendizado e o desenvolvimento da leitura e da escrita. Há diferentes pesquisas sobre o assunto e não há conclusões definitivas a respeito.

• sinistrismo ou canhotismo contrariado – a dominância da mão esquerda contraposta ao uso forçado e imposto da mão direita pode comprometer a eficiência motora da criança, na orientação em relação ao próprio corpo e na estruturação espacial. Alguns autores admitem que, em determinados casos, a gagueira, por exemplo,seja conseqüência de sinistrismo contrariado e, no caso, aconselham que a criança volte a usar a mão dominante.


A letra cursiva exige maior esforço mental e físico da criança porque apresenta complexidade de movimentos.De preferência, o professor deve procurar realizar um atendimento individualizado,atento às dificuldades que poderão surgir, incentivando todos os alunos,para que se evitem sérios problemas posteriormente.

Com base nestas informações, o professor poderá fazer um diagnóstico das possíveis dificuldades de seus alunos, fazendo o registro de suas observações e encaminhar para uma avaliação com um profissional da área da Terapia Ocupacional Infantil.


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Grafismo Infantil - Estágios do desenho segundo Lowenfeld e Luquet



Grafismo Infantil - Estágios do desenho segundo Lowenfeld e Luquet

Em nossa rotina na Educação Infantil trabalhar com desenhos não é novidade, alguma vez, com certeza já estudamos sobre isso. Porém é sempre importante voltarmos ao assunto para que possamos refletir se estamos ou não propiciando às crianças oportunidades de se expressarem e de criarem, respeitando-as em sua maneira específica de agir e pensar sobre o mundo.
O ato de desenhar não se trata apenas de um gesto mecânico ao acaso, cada movimento tem um significado simbólico, dessa forma o desenho infantil é alvo de vários estudos e de diversas áreas do conhecimento.
O desenho é para a criança um modo muito significativo e prazeroso de expressão e de representação e que transita entre o real e o imaginário. Desenhar e rabiscar são formas de comunicação e expressão desde os primórdios da humanidade, mas para a criança nem sempre o importante é atribuir significados aos seus rabiscos, pois quando descobre as propriedades do giz, do lápis e da tinta os explora e diverte-se com as novas descobertas, quando rabisca está desenvolvendo sua criatividade e ampliando sua capacidade de expressar-se. Com o passar do tempo, esses rabiscos e desenhos passam a ser feitos intencionalmente e a criança começa a usar o desenho para comunicar seus pensamentos, desejos, emoções, exteriorizar seus sentimentos e brincar com a realidade, seu desenho ganha simbologia e significação potencializando sua capacidade de criar. O primeiro desenho simbólico em sua maioria é o da figura humana.
Através do desenho as crianças brincam, experimentam ideias, emoções e pensamentos, representam o mundo a partir das relações que estabelecem com o outro e com o meio em que vivem.
As etapas e os estágios do desenho infantil definidos e estudados por Lowenfeld nos ajuda a compreender e observar o desenvolvimento da criança, embora ele mesmo afirma que não é fácil perceber a transição dessas etapas, além de não ocorrerem na mesma fase e da mesma maneira para todas as crianças.
Segundo ele, a primeira etapa é o " Estágio das Garatujas" que acontece por volta dos dois anos de idade. Nessa fase a criança rabisca sem intenção e sem controle de forma desordenada e que aos poucos vai percebendo seus movimentos e controlando e organizando mais seus traçados. Explora e experimenta os movimentos de seu corpo e o espaço.


Marcos - 4 anos
Estágio das Garatujas


Marcos - 4 anos
Estágio das Garatujas



A segunda etapa é o " Estágio Pré-Esquemático", inicia por volta dos quatro anos de idade até os sete aproximadamente. A criança adquire consciência da forma e começa a fazer tentativas de representar o real de maneira desordenada e desproporcional.


André Luiz - 4 anos
Estágio Pré-Esquemático


Alexia - 4 anos
Estágio Pré-Esquemático



A terceira etapa é o " Estágio Esquemático" e em sua maioria inicia-se aos sete anos e pode ir até os nove anos de idade. Nele a criança já desenvolveu o conceito de forma e seus desenhos são representativos, descritivos e organizados. É possível percebê-los dispostos em linha reta.


Alexia- 4 anos
Estágio Esquemático

Catherine - 4 anos
Estágio Esquemático
O " Estágio do Realismo", quarta e última etapa, inicia aos nove anos e se estende até os doze. Nele o desenho tem maior representação com o real embora ainda exista bastante simbologia. A autocrítica em seus desenho é bem maior.
Luquet foi um dos primeiros a estudar o grafismo infantil, para ele o desenho é a representação do modelo interno do objeto que a criança vê. Ele dividiu o desenho em quatro etapas.
A primeira denominou de " Realismo Fortuito" que se incia por volta dos dois anos de idade e se divide em duas fases: desenho involuntário e desenho voluntário. No primeiro a criança desenha linhas sem intenção ou significado, o faz pelo prazer do movimento e do que vê no papel. No segundo, a criança desenha sem intenção, mas enxerga em seus traçados semelhanças com objetos conhecidos, depois surge a intenção de desenhar mas a interpretação dos seus desenhos podem variar.

Miguel - 2 anos
Realismo Fortuito involuntário

Miguel - 2 anos e sete meses
Realismo Fortuito voluntário
"Vou desenhar uma minhoca e uma pedra"
A segunda etapa é chamada de " Realismo Falhado" ou " Incapacidade Sintética". Nela a criança desenha objetos sem ter relação entre eles, ou seja, os desenhos são independentes. Ela pode exagerar ou omitir partes. Essa falta de coordenação é percebida também em suas ações e pensamentos. Esse estágio começa por volta dos quatro anos e pode ir até os dez ou doze anos.



Bianca- 4 anos
Realismo Falhado

Felipe- 4 anos
Realismo Falhado
Exagero no desenho

Camily- 4 anos
Realismo Falhado
Omissão de partes no desenho
A terceira etapa é chamada de "Realismo Intelectual", e quando a criança representa objetos pelo seu conhecimento intelectual, ela reproduz objetos que vê e também os que estão ausentes. Dá transparência à alguns objetos desenhando o que está dentro do corpo ou de uma casa, por exemplo. Usam legendas e nessa etapa também conseguem representar distâncias, profundidade e posições organizando os objetos no espaço usando uma base de referência.


Maria Eduarda- 5 anos
Realismo Intelectual


Camilly- 4 anos
Realismo Intelectual
Transparência no desenho


Fabio- 5 anos
Realismo Intelectual
A quarta etapa é o " Realismo Visual" , nela a criança desenha e representa o que vê.
Vários pesquisadores estudaram, classificaram e analisaram o desenho infantil, entretanto não diferenciaram muito de Luquet e Lowenfeld, as fases e os estágios definidos não devem ser vistos de maneira rígida, devemos levar em conta as especificidades de cada criança e suas experiências vividas. Essas definições do desenho servem para que possamos compreendê-las e entender seu desenvolvimento, ou seja, esses estudos nos mostram que as crianças têm sua maneira própria de se expressar, de pensar, de registrar seus desejos, emoções, pensamentos. Cabe a nós educadores portanto, entendê-las e respeitá-las propiciando a elas oportunidades de expressão, criação e experimentação.


Referência Bibliográfica


LOWENFELD, V.; BRITAIN, W. L. Desenvolvimento da Capacidade Criadora.São Paulo: Mestre Jou. 1977.

LUQUET, G. H. O Desenho Infantil. Porto: Editora do Minho, 1969.

PERONDI, D. Processo de alfabetização e desenvolvimento do grafismo infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2001

MOGNOL, L. T.; PILLOTO, S. S. D.; SILVA, M. K.,Grafismo Infantil: linguagem do desenho. UNIVILLE. 2004

fonte: http://rodadeinfancia.blogspot.com.br/2013/07/grafismo-infantil-estagios-do-desenho.html

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

O QUE É PSICOPEDAGOGIA? Prof. João Beauclair



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O QUE É PSICOPEDAGOGIA?
 
O QUE É PSICOPEDAGOGIA?

Prof. João Beauclair


Vivenciar Psicopedagogia é um estado de ser e estar sempre em formação, projetação e em processo de criação.

O que é psicopedagogia? De leigos a estudantes de psicopedagogia, muitos ainda questionam sobre a função do psicopedagogo nos diversos âmbitos: educação, saúde, ação social, clínica e institucional.

Para entender o que é Psicopedagogia, acredito ser importante ir além da simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e da Pedagogia, que ocorre com bastante freqüência no senso comum, isto porque, em sua própria denominação Psicopedagogia aparece “suas partes constitutivas – psicologia + pedagogia – e que oferece uma definição reducionista a seu respeito”, como nos ensina Julia Eugenia Gonçalves .

         Na realidade, a Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes Ciências Humanas  com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar,  interessa a Psicopedagogia compreender como ocorre os processos de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais com a Psicologia, a Psicanálise, a  Filosofia, a  Psicologia Transpessoal, a Pedagogia, a Neurologia, entre outros.



Por que a Psicopedagogia não tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a?

Vivenciar  Psicopedagogia é um estado de ser  e estar sempre em formação, projetação e em processo de criação. Criação de sentidos para nossa própria trajetória enquanto aprendentes e ensinantes, enquanto seres viventes na complexa gama de relações que estabelecemos com o nosso tempo e espaço humano. Todas as nossas ações e produções, por serem humanas, estão sempre em processo de permanente abertura, colocadas num prisma próprio para novas interpretações e busca de significados e  sentidos, situadas num movimento incessante de desconstrução e de re-construção. Dizendo isso de uma outra forma, posso afirmar que, no nosso tempo de reconfiguração de paradigmas, os conceitos estão constantemente sendo revistos e ganhando novos significados; com a Psicopedagogia não podia ser diferente, visto que o pensar reflexivo sobre esta área do conhecimento se constitui uma das importantes tarefas a ser desempenhada por quem lhe tem como campo de ação, profissionalidade, dedicação e estudo. Mas será que realmente  a Psicopedagogia não tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a? Ou isto é um mito que precisa ser reconsiderado?



Qual o papel do psicopedagogo nas áreas possíveis de atuação?

Sabendo que, na verdade, a Psicopedagogia é  um campo de atuação que, ao atuar de forma preventiva e terapêutica, posiciona-se para o compreender os processos do desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias áreas e estratégias pedagógicas objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos (possíveis dificuldades e transtornos) , o papel essencial do psicopedagogo é o de ser mediador em todo esse movimento. Se for além da simples junção dos  conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia, o psicopedagogo pode atuar em diferentes campos de ação, situando-se tanto na Saúde como na Educação, já que seu fazer visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana, que, afinal, ocorrem em todos os espaços e tempos sociais.



O modelo argentino da psicopedagogia no trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas é institucionalizado. No Brasil apesar de se falar muito no trabalho multidisciplinar, pouco se vê desta atuação. Você acredita que somente com a regulamentação da profissão isto se  tornará uma realidade?

Talvez o trabalho multidisciplinar institucionalizado ainda não seja prática  comum nem mesmo em outros países, com raras exceções, evidentemente. O paradigma cartesiano-positivista ainda é o grande entrave a ser superado para que se possa pensar em um outro modo de fazer ciência e cuidar das pessoas. É necessário um processo longo, a ser vivenciado ainda por um bom tempo como desafio a ser superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas também teve sua trajetória de luta, como em muitos momentos nos apontaram Jorge Visca e  Alícia Fernandéz. Realmente em nosso país, esta atuação ainda é restrita de fato. E um ponto essencial para tal é a regulamentação da profissão: esta questão é primordial para o avançar da profissionalidade do psicopedagogo. A meu ver, é um processo muito rico a ser vivido por todos nós psicopedagogos.



Ao falarmos de transdisciplinaridade na Psicopedagogia, pressupomos que a prática e o olhar psicopedagógico objetivem: aceitar um novo paradigma; ter preparação teórica adequada; possuir conhecimento prático suficiente; estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente; ser aberto e criativo; conhecer as novas tecnologias; atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a diversidade discente. Em sua experiência acadêmica, isto é ensinado nos cursos de psicopedagogia?

Se não é ensinado, pelo menos vivenciado enquanto perspectiva, caminho a ser trilhado não resta a menor dúvida. Compreendo que o psicopedagogo é um pesquisador permanente, um sujeito que, a cada movimento, ação e conduta enquanto profissional, busca alternativas para os dilemas, tensões, limites que lhe surgem, vislumbrando sempre novas possibilidades.  E tudo é processo, movimento. Precisamos acreditar, cada vez mais, no ensinamento de nossa mestra Ivani Fazenda, que nos diz da importância da espera, da humildade, do conduzir-se com harmonia e perseverança em tudo o que se refere a mudanças de paradigmas. O cuidado maior, a meu ver, deve ser efetivamente, com a proliferação dos cursos de Psicopedagogia pelo Brasil sem as devidas orientações. A ABPp esforça-se, de modo contundente, em mostrar o quanto é necessário ter preparação teórica adequada e possuir conhecimento prático suficiente, além de sugerir caminhos para a organização curricular de cursos de especialização em Psicopedagogia. Na minha vivência, enquanto docente da área em diferentes cursos de formação em Psicopedagogia no país, observo o esforço imenso em fazer o melhor, pois afinal estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente, ser aberto e criativo, conhecer as novas tecnologias, atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a diversidade discente são desafios imensos, para uma vida inteira. O essencial,  acredito, é o desejar fazer o melhor possível e neste desejar, realizar.



Em julho próximo, no Fórum da ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia, você estará lançando o primeiro livro da Coleção “Olhar Psicopedagógico”, da Editora WAK, do Rio de Janeiro, com o tema “Psicopedagogia: trabalhando competências, criando Habilidades”. Por quê a escolha deste tema?

A Coleção Olhar Psicopedagógico é uma aposta na continuidade da produção acadêmica e no surgimento e divulgação de novos autores em Psicopedagogia no Brasil. Em São Paulo, no  ano passado, ao participar como conferencista convidado e docente de um curso  sobre a construção do olhar do Psicopedagogo no II Congresso Latino Americano de Psicopedagogia promovido pela ABPP, numa conversa informal, Alícia Fernandez me falou sobre como o Brasil, por sua diversidade e criatividade, pode e tem contribuído para a avançar do campo psicopedagógico. A escolha do tema talvez esteja vinculada a isso: nos meus processos de autoria de pensamento, também posso contribuir para o debate, posso elaborar outras possibilidades, evidenciar outros aspectos à reflexão. Ter competências e habilidades em nossos fazeres cotidianos, tanto nos espaços clínicos e/ou institucionais é questão primordial para nossa própria vivência e sobrevivência enquanto formadores e profissionais em Psicopedagogia.



Qual a importância em se debater este tema e quais são as competências e habilidades do psicopedagogo?

A importância em se debater este tema reside, a meu ver, na busca mesma do reconhecimento e da importância da atuação do psicopedagogo em nosso tempo presente.  O que está construído neste meu livro é um referencial, uma matriz de competências, vinculadas a habilidades básicas para o seu desenvolvimento. Aqui não me cabe, por questões de espaço e  lugar, ampliar e desenvolver todas elas, mas a primeira destas competências está voltada para a necessidade do psicopedagogo estabelecer elos de conexão com as principais articulações e correntes teóricas contemporâneas, propondo-se a busca permanente da teoria na construção de suas práticas profissionais, principalmente no que concerne aos pressupostos da transdisciplinaridade e da complexidade. E a última está vinculada ao vivenciar, efetivamente, em sua vida pessoal cotidiana a máxima de ser um eterno aprendiz, exercendo nesta vivência senso crítico, humildade, serenidade, escuta, espera, olhar atento, intuição e novas formas de compreensão da complexidade inerente aos diferentes aspectos da  realidade. Para cada competência – elas são sete, há uma proposta de três habilidades básicas, ou seja, no livro há uma matriz de competências com as habilidades básicas para cada uma delas. O continuar deste meu trabalho agora está na elaboração de estratégias facilitadoras deste movimento. Meu desejo é contribuir para o debate e abrir outras possibilidades de interlocução.  



Estamos sabendo que outros livros virão, poderia nos adiantar quais serão os temas?

Como coordenador da coleção, discuto com o Pedro, nosso editor da WAK, sobre os temas que acreditamos ser de fundamental importância atualmente no campo da Psicopedagogia no Brasil. O próximo volume, que dependendo de todo um processo que estamos vivendo agora, poderá também ser lançado no Fórum da ABPp em julho e contém artigos de diferentes autores que atuam em distintos estados brasileiros. É um volume intitulado Psicopedagogia: espaço de ação, construção de saberes, onde teremos artigos de Ieda Boechat, José Artur Bastos, Julia Eugenia Gonçalves, Dulce Consuelo, Elizabeth Borges, Adriana Schimidt e um texto de minha autoria com temas vinculados ao aprofundamento psicopedagógico. O terceiro volume, sobre Psicopedagogia Institucional e ainda sem título definido também já está sendo organizado, com artigos de Maria Irene Maluf, Simaia Sampaio, Geni Lima, Maria Taís de Melo, Márcia Siqueira de Andrade,  Julia Eugenia Gonçalves e um outro artigo meu onde relato sobre uma experiência de formação em Psicopedagogia Institucional vivenciada recentemente. O quarto volume, ainda sem autores efetivamente confirmados, ainda está em elaboração e em processo de seleção de artigos e tratará sobre o tema “dificuldades” em aprendizagem e as possibilidades de intervenção do psicopedagogo. É um trabalho muito gratificante e nossa contribuição pretende ser a melhor possível, afinal, é uma maneira de estarmos auxiliando no reconhecimento de nossa própria área de formação e atuação, que tanto nos estimula a irmos adiante em nossa trajetória enquanto aprendente e ensinantes.



Você participa de grupos de discussão através da Internet? Como tem sido sua experiência?

Este pergunta é muito interessante. Sempre brinco em minhas palestras, cursos, conferências e oficinas que eu divido a minha trajetória enquanto aprendenteensinante  em dois momentos distintos: em a.C. e d.C. , ou seja, antes e depois do computador em minha vida, pois tal tecnologia me permitiu e ainda me permite ampliar perspectivas de aprendizagem e o que considero fascinante: as possibilidades de aproximação que temos com os que atuam e se interessam pelos temas que estudamos e dedicamos nossas pesquisas e leituras. Meu encontro com a Psicopedagogia se deu desta forma, através de um desses encontros: Julia Eugenia Gonçalves, atualmente presidente da Fundação Aprender, em Varginha, Minas Gerais, é moderadora de um grupo de discussão que eu participo faz anos e nossos intercâmbios sempre foram excelentes. Recentemente fui convidado pela Dr. Márcia Siqueira de Andrade, do Instituto de Psicopedagogia da UNISA, a participar de um outro grupo, o ILAPp, e novos intercâmbios estão sendo feitos, novas aproximações e contatos estão surgindo, inclusive com a possibilidade de termos, desta forma, novas idéias para outros volumes da Coleção Olhar Psicopedagógico e outros projetos em comum: é o que eu chamo sempre de aprendizagem colaborativa.  Também modero duas listas de discussão no yahoogrupos, onde troco e-mails com alunos, colegas de trabalho, divulgo eventos em educação, temas interessantes em Psicopedagogia, bibliografias, lançamentos de livros, indicação de sites, fóruns, congressos, enfim, estimulo outras pessoas a participarem desta rede fundamental ao nosso ser e estar no mundo, ampliando sempre nossos movimentos e exercendo nossas competências  e sensibilidades solidárias, como nos ensina Hugo Assmann e Jung Mo Sung. Isto sem falar no meu próprio site, www.profjoaoabeauclair.kit.net , onde divulgo minhas ações de consultoria e oficinas de formação em educação e psicopedagogia.



Faz-se Psicopedagogia nesta mídia interativa?

A Internet é efetivamente uma mídia interativa fabulosa e essencial ao nosso tempo presente. Talvez não possa afirmar definitivamente que se faz Psicopedagogia com esta mídia interativa de forma direta, mas que com certeza é  ferramenta de importância ímpar para  o seu desenvolvimento, isso é inegável. Mas, infelizmente, ainda há, por incrível que pareça resistência em relação ao seu uso com este objetivo. Mas, não tenhamos pressa, afinal, como nos ensina o poeta espanhol Antonio Machado, “caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.”  Adelante!





Leia sinopse do livro "PSICOPEDAGOGIA - TRABALHANDO COMPETÊNCIAS, CRIANDO HABILIDADES" Autor:JOÃO BEAUCLAIR; Editora: WAK EDITORA entrando no endereço: http://www.psicopedagogia.com.br/lancamento/lancamento.shtml


Publicado originalmente no site www.psicopedagogia.com.br em 29/6/2004 16:57:00

Joao Beauclair
Enviado por Joao Beauclair em 24/09/2006
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Você deve citar a autoria de João Beauclair www.p


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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Parem de confundir educação com ensino. Eduquem-se. Assistam aos vídeos de Bruno Garschagen (exclusivo) e José Monir Nasser sobre a vida intelectual no Brasil




08/04/2014
 às 22:04 \ Cultura

Parem de confundir educação com ensino. Eduquem-se. Assistam aos vídeos de Bruno Garschagen (exclusivo) e José Monir Nasser sobre a vida intelectual no Brasil

Bruno Fashion Mondays Foto oficial 1Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa e Universidade de Oxford (visiting student) e formado em Direito, o professor, podcaster e escritor capixaba Bruno Garschagen falou sobre as dificuldades e oportunidades relacionadas à vida intelectual no Brasil, em edição de 7 de abril do Fashion Mondays, uma série de palestras realizadas às segundas-feiras no São Conrado Fashion Mall, no Rio de Janeiro, com curadoria de Alexandre Borges, que entrou no fim para mediar as perguntas da plateia.
Bruno e Alexandre são agora meus colegas de editora Record – e seus livros, assim como o meu, estão previstos para 2015. Estive presente no Fashion Mall e filmei pelo celular a metade final da excelente palestra de Bruno, que compartilho aqui, com exclusividade. Assistam.

E já que ele falou da diferença entre educação e ensino, vamos a ela também.
Fashion Mondays Bruno Alexandre Pim Foto OficialEnquanto nas escolas brasileiras Walesca Popozuda vira uma “grande pensadora contemporânea” em questão de prova de filosofia do Centro de Ensino Médio 3 de Taguatinga, no Distrito Federal, e o professor de geografia do oitavo ano revela à turma do filho de Fernanda Torres no Rio de Janeiro que a palavra lucro vem de outra, logro, que quer dizer roubo, de modo que se um pipoqueiro emprega alguém ele se apropria do esforço alheio, o que é reprovável, nada melhor que ouvir um dos grandes mestres que o Brasil já teve, José Monir Nasser (morto aos 56 anos em março de 2013), colocar as coisas nos seus devidos lugares. Transcrevo este seu vídeo fundamental, com parte de sua palestra na ocasião do lançamento da edição brasileira do “Trivium“, da irmã Miriam Joseph (1898-1982), do qual ele escreveu oprefácio. Voltarei ao assunto em breve.


É um assunto tão importante, tão grande, tão extraordinariamente urgente que eu me sinto assim cumprindo uma espécie de obrigação pública ao fazê-lo. Quando você fica pensando como foi que nós esquecemos a educação, como é que nós a perdemos, e aí ficamos elegendo essas bobagens como educação… Quer dizer, esse conjunto de ideários modernos que se chama de educação é um pouco dessa autoilusão.
Quem foi compreender onde é que foi parar a educação foi o padre Ivan Illich (1926-2002). O que o padre Ivan Illich faz, na verdade, é propor o seguinte: “Para com esse negócio de escola. Escola nenhuma. A única coisa que interessa é que aqueles que querem aprender alguma coisa se encontrem com aqueles que querem ensinar alguma coisa. E isso que nós chamamos aí de educação não é educação de jeito nenhum, é alguma coisa próxima do conceito de Ensino.”
Então o que o padre faz, logo de cara, é destruir essa falsa equação entre educação e Ensino, como se essas coisas não tivessem nenhuma ligação uma com a outra. E de fato, se você prestar atenção, se você não destrói essa ligação, você não entende nada mesmo desse assunto. A pré-condição para entender o que está acontecendo e o que pode acontecer nos assuntos educacionais é nós destruirmos essa pseudoequação chamada Ensino = Educação.
Continua o padre Ivan Illich dizendo que isso que se chama de Ensino não tem nada a ver com educação porque ele é basicamente uma metodologia de distribuição de posições sociais. Não se imagina de fato que alguém vai aprender alguma coisa. É apenas um método pelo qual você distribui entre as pessoas privilégios que podem depois servir para fins de todos os tipos, mas sobretudo profissionais.
E agora vocês imaginam então a situação de alguém que está lidando com o departamento de pessoal de uma firma grande: ascensorista, por exemplo. Se você não estabelecer uma enorme quantidade de obstáculos de qualificação, você irá ter uma lista de pessoas para analisar o currículo que vai demorar uns cinco anos para você chegar no último. Então o que acontece? Essa turma de RH vai lá e põe assim no jornal: para ser ascensorista, tem que ter o segundo grau completo. Daqui a pouquinho tem que ter curso de administração de empresas, porque o único objetivo disso é reduzir a quantidade de pessoas candidatas àquele determinado curso [cargo].
Essencialmente é isso que nós temos que resolver com o Ensino moderno. O Ensino moderno é apenas um meio de você separar as pessoas com perspectivas diferentes de capacidade de obter emprego. E é por isso que todo debate de qualidade de Ensino é um debate vazio, porque no fundo, no fundo, esse assunto não tem nada a ver com educação, é apenas um assunto de “promoção social”, digamos assim entre aspas. Essa é a tese do padre Ivan Illich, de que nós nos enganamos profundamente ao imaginar o que tem aí no assunto Ensino.
E quando eu chamo de Ensino são esses rituais de natureza governamental, porque, mesmo quando é privado, obedece aos rituais estabelecidos pelo governo federal, ou o governo estadual, o governo municipal, enfim, o que for… Esse conjunto de rituais não tem nada a ver com educar alguém. Essa é a realidade que a gente precisa entender.
Então, por exemplo: há todo ano um debate sobre se deve ou não, como é que se diz?, aprovar automaticamente os alunos. A turma que acha que tem que aprovar automaticamente é composta fundamentalmente dos cínicos, que acham que é isso mesmo que eu estou descrevendo, e acham: “Ah, já que é uma coisa mesmo de faz-de-conta, qual é o problema de aprovar automaticamente então os alunos?” E o pessoal que acha que não deve aprovar automaticamente são os otimistas que acham que isso tem a ver com educação e ainda imaginam que possa haver alguma educação no sistema de Ensino. Eles só têm interesse em preencher papelzinho e lista de presença e isso e aquilo outro, então ele permite que um professor qualquer dê a aula que bem entender…
Olha, faz 20 anos que eu fui professor de tudo quanto é jeito: fui professor de inglês do segundo grau, fui professor de economia, sou professor de pós-graduação, faço tudo quanto é coisa. Nunca na minha história de professor apareceu alguém para discutir a aula que eu estava dando.
Mas o problema desses indivíduos é que eles precisam saber alguma coisa antes de ensinar aos outros e, se eles vieram do mundo do Ensino, provavelmente vieram já contaminados com os defeitos do próprio Ensino. O que nós temos aí é um caso perdido. O Ensino é completamente irrecuperável. Para conseguir um sujeito que saiba alguma coisa para dar aula é um investimento terrivelmente grande e só se pode fazer com uma pequena parcela dos professores e também a de fato uma pequena parcela de alunos que gostariam de empreendê-lo. Mas, fora isso, o resto se contenta com esse mise-en-scene, com essa espécie de farsa geral chamada Ensino, e que é mais ou menos…
A escola pública no Brasil, por exemplo, é um negócio que só existe para contestar a tese de que não existe nada, de que não existe mais. Há boas escolas aqui e acolá, mas a média é muito terrível. Você imagina que, depois de 8 anos, em que nós raptamos as crianças 5 horas por dia, durante 8 anos, gastamos um quarto do orçamento com isso, até por lei…
Todo mundo é burro? Ninguém sabe ler? Não parece a vocês haver alguma coisa terrivelmente errada nisso? A eficiência de um negócio desse é altamente ridícula. Nós não sabemos o que estamos fazendo. Mas a nossa rebelião vai até o ponto em que a gente entende que se trata simplesmente de Ensino, e não se trata de educação. E educação não pode existir nesta base em que ocorre o tal do Ensino brasileiro.
Pois se a gente não entende essa diferença de educação e Ensino, também nós não entendemos o que o Trivium quer nos mostrar. Porque o Trivium é de fato um instrumento de educação. Não só o Trivium, como o Quadrivium, aquilo que se chama de 7 Artes Liberais. A própria expressão 7 Artes Liberais quer nos dizer que – a parte liberal do título – quer nos dizer que há uma liberdade intrínseca nesse assunto, ou seja, esses conhecimentos que o Trivium e o Quadrivium permitem que nós tenhamos são conhecimentos livres, você os obtêm SE você bem entender.
E essa é a primeira condição para que haja alguma educação. A educação tem de ser necessariamente voluntária. Não pode ser de modo nenhum forçada por nenhuma espécie de método e é por isso que eu sempre digo para todo mundo que eu sou o professor mais feliz que se possa conceber, porque eu tenho 600 alunos voluntários. E é muito pouca gente capaz de ter a mesma quantidade de alunos voluntários.
Os meus alunos vêm todos porque querem. E isso é a garantia de que eu tenho realmente a possibilidade de educar alguém, porque eu estou de certo modo protegido por essa vontade, esse desejo, que é o que não existe no mundo do Ensino, porque o mundo do Ensino precisa fazer o ritual da presença. E o ritual da presença é esse ritual de que nós conhecemos os resultados aí.
Em suma:
Parem de confundir educação com ensino. Eduquem-se.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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fonte; http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/04/08/parem-de-confundir-educacao-com-ensino-eduquem-se-assistam-aos-videos-de-bruno-garschagen-exclusivo-e-jose-monir-nasser-sobre-a-vida-intelectual-no-brasil/
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terça-feira, 5 de maio de 2015

O que é neuropsicologia?




O termo neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez em 1913 em uma conferência proferida por Sir William Osler, nos Estados Unidos. Apareceu ainda como um subtítulo na obra de 1949 de Donald Hebb chamada “The Organization of Behavior: A Neuropsychological Theory.” (KRISTENSEN, ALMEIDA e GOMES, 2001).

O conceito de Neuropsicologia para Luria (1981) é a ciência cujo objetivo específico é a investigação do papel dos sistemas cerebrais individuais nas formas complexas da atividade mental. E para Lezak (apud AMBRÓZIO, RIECHI 2005, p.3) “Ciência dedicada a estudar a expressão comportamental das disfunções cerebrais.”
Segundo Malloy-Diniz (2010) A neuropsicológica preocupa-se com a complexa organização cerebral e suas relações com o comportamento e a cognição, tanto em quadros de doença como no desenvolvimento normal, e é definida como a ciência aplicada que estuda a expressão comportamental das disfunções cerebrais.
O neuropsicólogo tem por objetivo principal correlacionar as alterações observadas no comportamento do paciente com as possíveis áreas cerebrais envolvidas, realizando, essencialmente um trabalho de investigação clinica que utiliza testes e exercícios neuropsicológicos. (Malloy-Diniz, 2010)
Segundo Luria (1981) existem três tipos de interação entre o cérebro e o processo mental necessário para o desenvolvimento da atividade mental : A unidade de atenção, a unidade de codificação e processamento, e por fim, a unidade de planificação.
A avaliação neuropsicológica é uma estratégia investigativa destinada a identificar, obter e proporcionar dados e informações sobre o funcionamento mental dos sujeitos. Malloy-Diniz (2010) considera como demanda da avaliação neuropsicológica:
“1. a quantificação e a qualificação detalhadas de alterações das funções cognitivas, buscando diagnóstico ou detecção precoce de sintomas, tanto em clínica quanto em pesquisa; 2. A avaliação e a reavaliação para acompanhamento dos tratamentos cirúrgicos, medicamentosos e de reabilitação; 3. A avaliação direcionada para o tratamento, visando principalmente à programação de reabilitação neuropsicológica; 4. A avaliação voltada para os aspectos legais, gerando informações e documentos sobre as condições ocupacionais ou incapacidades mentais de pessoas que sofreram algum insulto cerebral ou doença, afetando o sistema nervoso central. (Malloy-Diniz, 2010, p. 51)
Segundo Alcantâra e Ferreira (2010) a atuação do neuropsicólogo clínico na avaliação neuropsicológica é um método de investigações da atenção, percepção, memória, linguagem e raciocínio (funções cognitivas) e do comportamento, utiliza de técnicas de entrevista e exames quantitativos e qualititativos. Sendo na abordadagem quantitativa baseado em normas, análises e estudos de validade, com o método de comparação e padrões para determinar as diferenças entre o pré e pos tratamento a partir de escalas, média e desvio padrão. Já na abordagem qualitativa é um complemento da avalição, contribuiu para os dados que não observaveis através de testes padronizados, para confirmar ou questionar os dados quantitativos.
Malloy-Diniz (2008) ressalta que as principais razões para se solicitar uma avaliação neuropsicológica são:
1. Auxílio diagnóstico: as questões diagnósticas geralmente buscam saber qual seria o problema do paciente e como ele se apresenta. Isso implica que seja feito um diagnóstico diferencial entre quadros que têm manifestações muito semelhantes ou passíveis de serem confundidas.
2. Prognóstico: com o diagnóstico feito, deseja-se estabelecer o curso da evolução e o impacto que a desordem terá à longo prazo. Este tipo de previsão tem a ver com a própria patologia ou condição de base da doença ou transtorno (quando há lesão, com o lugar, o tamanho e lado no qual se encontra e, nesse caso, devem ser considerados os efeitos à distância que elas provocam).
3. Orientação para o tratamento: ao estabelecer a relação entre o comportamento e o substrato cerebral ou a patologia, a avaliação neuropsicológica não só delimita áreas de disfunção, mas também estabelece as hierarquias e a dinâmica das desordens em estudo. Tal delineamento pode contribuir para a escolha ou para mudanças nos tratamentos medicamentosos ou outros.
4. Auxílio para planejamento da reabilitação: a avaliação neuropsicológica estabelece quais são as forças e as fraquezas cognitivas, provendo assim uma espécie de mapa para orientar quais funções devem ser reforçadas ou substituídas por outras.
5. Seleção de pacientes para técnicas especiais: a análise detalhada de funções permite separar subgrupos de pacientes de mesma patologia, possibilitando uma triagem específica de pacientes para um procedimento ou tratamento medicamentoso.
6. Perícia: auxiliar a tomada de decisão que os profissionais da área do direito precisam fazer em uma determinada questão legal.
Fachel & Camey considera-se que, devido os fatores diversos que interferem no processo de avaliação, o diagnóstico elaborado apenas em dados quantitativos facilmente incide em erro. Por isso a importância da interdisciplinaridade das neurociências bem como do uso de instrumentos variados pelo neuropsicólogo. (apud Alcantâra; Ferreira 2000, pág.3)
Em 2004 o Conselho Federal de Psicologia reconheceu a Neuropsicologia como especialidade da Psicologia (Resolução CFP Nº 002/2004), com isso algumas diretrizes sobre a Neuropsicologia foram escritas pela primeira vez de forma reconhecida por um órgão regulador do Psicólogo Brasileiro.
Segundo o CFP existem 3 campos de atuações que são fundamentais na profissão do Neuropsicólogo:
1. Diagnóstico – Através do uso de instrumentos (testes, baterias, escalas) padronizados para avaliação das funções cognitivas, o Neuropsicólogo irá pesquisar o desempenho de habilidades como atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação, visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas. Esse diagnóstico tem por objetivo poder coletar os dados clínicos para auxiliar na compreensão da extensão das perdas e explorar os pontos intactos que cada patologia provoca no sistema nervoso central de cada paciente. A partir desta avaliação Neuropsicológica é possível estabelecer tipos de intervenção, de reabilitação particular e específica para indivíduos e/ou grupos de pacientes com disfunções adquiras ou não, genéticas ou não, primariamente Neurológicas ou secundariamente a outros distúrbios (Psiquiátricos).
2. Tratamento (Reabilitação) – Com o diagnóstico em mãos é possível realizar as intervenções necessárias junto aos pacientes, para que possam melhorar, compensar, contornar ou adaptar-se às dificuldades. Essas intervenções podem ser no âmbito do funcionamento cognitivo, ou seja, no trabalho direto com as funções cognitivas (memória, linguagem, atenção, etc.) ou com um trabalho muito mais ecológico, no ambiente de convivência do paciente, junto de seus familiares, para que atuem como co-participantes do processo reabilitatório; junto a equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e profissionais, promovendo a cooperação na inserção ou re-inserção de tais indivíduos na comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar quando as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes ou de longo prazo.
3. Pesquisa – A pesquisa em Neuropsicologia envolve o estudo de diversas áreas, como o estudo das cognições, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Para tais pesquisas o uso de testes Neuropsicológicos é um recurso utilizado, para assim ter um parâmetro do desempenho do paciente nas determinadas funções que estão sendo pesquisadas. Atualmente o uso de drogas específicas, para estimulação ou inibição de determinadas funções, tem sido usadas com freqüência para observar o comportamento e o funcionamento cognitivo dos sujeitos em dadas situações. Outra técnica que muito tem contribuído nas Neurociências e com grande especificidade na Neuropsicologia é o uso de neuroimagem funcional por Ressonância Magnética (fMRI) e tomografia funcional por emissão de pósitrons (PET-CT) que permitem mapear determinadas áreas relacionadas a atividades específicas, como por exemplo recordação de listas de palavras durante o exame. Portanto, fica claro que a Neuropsicologia é um campo de trabalho e de pesquisa emergente, tanto para a Psicologia, quanto para as Neurociências, avançando e contribuindo de forma única para a compreensão do modo como pensamos e agimos no mundo.
Os testes como instrumentos de avaliação, informam o desempenho do sujeito somente no exato momento da sua aplicação. Diante disso, o neuropsicólogo deve considerar que, se a avaliação envolve etapas variadas e é realizada em diferentes momentos, é imprescindível atentar para as mudanças qualitativas do indivíduo, tais como o uso de fármacos, a realização de tratamento psicológico e/ou fonoaudiológico e qualquer tipo de acontecimento desestruturante durante a semana vigente. (WINOGRAD; JESUS; UEHARA, 2012)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMBRÓZIO, C.; RIECHI, T.; BRITES M.; JAMUS, D.; PETRI, C.; ROSA, T; FAJARDO, D. Neuropsicologia teoria e prática. Disponível em: < http://www.proec.ufpr.br/enec2005/download/pdf/SA%DADE/PDF%20SAUDE/45%20-%20NEUROPSICOLOGIA%20TEORIA%20E%20PR%C1TICA%20-%20rev.pdf>. Acesso em: 21 de out de 2012.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução 02/2004. Disponível em: < http://www.crp.org.br/legislacao/resolucoes/federais/2004/resolucao2004_2.pdf>. Acesso em: 20 de out de 2012.
LURIA, A.R. Fundamentos de Neuropsicologia. (1981). São Paulo: EDUSP.
KRISTENSEN, C.H.; ALMEIDA, R.M.M.; GOMES, W.B. (2001). Desenvolvimento Histórico e Fundamentos Metodológicos da Neuropsicologia Cognitiva. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14(2), p. 259-274.
MALLOY-DINIZ , L.F. [et al.]. Avaliação neuropsicológica – Porto Alegre: Artmed. 2010. 432p.
PONTES, Livia Maria Martins; HUBNER, Maria Martha Costa. A reabilitação neuropsicológica sob a ótica da psicologia comportamental. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, v. 35, n. 1, 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832008000100002&lng=en&nrm=iso>. acesso em 24 Out. 2012
VENTURA, Dora Fix. Um Retrato da Área de Neurociência e Comportamento no Brasil Psicologia. Universidade de São Paulo: Teoria e Pesquisa 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 123-129
ALCANTARA, Joseane; FERREIRA, Sandra de Fática Barboza. CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA PARA O DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR DE QUADROS SINDRÔMICOS: ESTUDO DE CASO. 2010.
Winograd, Monah;Jesus, Milena Vasconcelos Martins de; Uehara, Emmy. Aspectos qualitativos na prática da avaliação neuropsicológica.Ciências & Cognição 2012; Vol 17 (2): 002-013


fonte; https://www.psicologiamsn.com/2013/05/o-que-e-neuropsicologia.html

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