quinta-feira, 11 de julho de 2019

EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem



O processo diagnóstico consta por uma série de passos por cujo meio se realiza o reconhecimento das dificuldades, o prognóstico e as indicações.
Entre estes processos destacamos a E.O.C.A. – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem, elaborada pelo professor argentino Jorge Visca, cujo objetivo é de estudar as manifestações cognitivo­-afetivas da conduta do entrevistado em situação de aprendizagem. Permite ainda se obter uma visão conjugada e uma hipótese diretriz do interjogo dos aspectos cognitivos e afetivos da aprendizagem, bem como os pontos de alerta que deve  ser verificada para constatação ou não das hipóteses levantadas.
A EOCA é utilizada como ponto de partida em todo processo de investigação diagnóstica das dificuldades de aprendizagem.
Este instrumento consiste em uma entrevista estruturada que põe em evidência o aprendizado e conta como reativos quaisquer material, dependendo da idade do educando e da queixa. Na idade escolar podem ser: folhas pautadas, lápis de escrever, borracha, lápis colorido, giz de cera, papéis variados, revistas, tesoura, cola, livros de acordo com a idade do entrevistado, apontador, canetas, canetas hidrocor, folhas sulfite, régua, etc.
Os objetos são deixados sobre uma mesa, organizados de tal forma que o entrevistado precise abrir as caixas de lápis, o estojo, apontar o lápis preto sem ponta, procurar o que deseja observar todo material para decidir o que vai utilizar.
  1. CONSIGNAS E INTERVENÇÕES
As consignas e intervenções possibilitam observar:
  • a possibilidade de mudança de conduta;
  • a desorganização ou reorganização do sujeito;
  • as justificativas verbais ou pré­verbais;
  • a aceitação ou a recusa do outro (assimilação, acomodação, introjeção, projeção).
Tipos de consignas e intervenções: De abertura
“Gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram e o que você aprendeu. Esse material é para que você utilize como desejar, pode escolher e usar o que quiser”. Para mudança de atividade:
  • Consigna aberta: “Gostaria que você me mostrasse o que quisesse com esses materiais”.
  • Consigna Fechada: “Gostaria que você me mostrasse outra coisa que não seja…”, ou “Gostaria que você me mostrasse algo diferente do que já me mostrou”.
  • Consigna Direta: “Gostaria que me mostrasse algo de… (matemática, escrita, leitura)”.
  • Consigna Múltipla: “Você pode ler, escrever, pintar, recortar desenhar, etc?”.
  • Consignas para Pesquisa: “Para que serve isto, o que você fez que horas são, que cor você está utilizando?”
As respostas geralmente após a consigna de abertura são:
  1. Sujeito começa a fazer algo (desenha, pinta, recorta, etc)
  2. Pede que lhe indique o que precisa fazer, ao que se responde: “o que você quiser”.
  3. Fica totalmente paralisado sem poder reagir. Mesmo diante do modelo múltiplo não realiza nada.
Qualquer uma das respostas já são dados significativos para a avaliação.
Quando o entrevistado  apresenta  alguma  produção,  é aconselhável que se incida sobre ela, perguntando, argumentando, investigando, apresentando um problema, pedindo que relate o que leu, escreveu ou desenhou. Observa-­se o grau de mobilidade e de modificabilidade do entrevistado.
1.2.      Fatores de observação durante a EOCA
Através da observação do tema, da dinâmica e do produto, pode se observar o sintoma e as causas históricas coexistentes (ansiedade, defesa, funções, nível de pensamento utilizado, grau de exigência, aquisições automáticas, aspectos da lateralidade, organização, ritmo de trabalho, interesses, etc).

Estes três níveis de observação são indicadores do 1º sistema de hipóteses:

  1. Temática
Consiste em tudo que o sujeito diz, o que terá, como toda conduta humana, um aspecto manifesto e outro latente;
Dinâmica
           consiste em tudo que o sujeito faz e não é estritamente verbal: gestos, tom de voz, postura corporal, etc. a forma de sentar ou de pegar o lápis podem ser mais reveladoras que os comentários e até mesmo que o produto.
Produto
           é o que o sujeito deixa gravado no papel, na dobradura, na colagem, etc. incluindo a seqüência em que foram feitos.
Dimensão afetiva
 Alguns indicadores:
  • Alterações no campo geográfico e o de consciência (distração, inadequação da postura, fugas, etc).
  • Aparecimento de condutas defensivas (medos, resistência à tarefas, à mudanças, à ordens, etc).
  • Ordem e escolha dos materiais.
  • Aparecimento de condutas reativas (choro, ansiedade, etc).
Dimensão cognitiva
Alguns indicadores:
  • Leitura dos objetos e situação Utilização adequada dos objetos;
  • Estratégias utilizadas na produção de tarefas Organização;
  • Planejamento da atividade (antecipação) Nível de pensamento utilizado.
  1. POSTURA DO EXAMINADOR
  • Deve ser um mero observador da conduta do avaliado;
  • Participando com intervenções somente quando achar necessário.
  • Utilizar­se de vários tipos de consignas para maior riqueza das observações.
  • Colocar limites quando achar necessário.
  • Quando o avaliado apresenta dificuldades para entrar na tarefa, deverá utilizar consigna múltipla para facilitar a decisão do avaliado.
  • Caso o avaliado permaneça sem iniciativa, devemos lembrar também que esta também é uma postura a ser analisada, é uma forma de agir frente a situações novas, deve ser avaliada em seus vários fatores.
  • Se necessário, pode ser feitas mais de uma entrevista de EOCA.
  1. FORMA DE REGISTRO
Papel pautado dividido em duas colunas, sendo a da esquerda maior, pois servirá para as anotações do que ocorrerá na entrevista e a coluna da direita para anotações das hipóteses levantadas. Deve-­se anotar tudo que ocorrer, postura, ações, palavras, frases, etc.
  1. LEVANTAMENTO DAS HIPÓTESES
As hipóteses serão levantadas de acordo com as observações feitas durante a entrevista. Levando­-se em conta as três linhas de pesquisa que serão realizadas: cognitiva, afetiva e orgânico ­funcionais. Quando as hipóteses nos levarem a uma área específica (ex: psicologia, fonoaudiologia, neurologia, etc), deve-­se pedir a avaliação de um profissional competente, sempre que possível.
PRINCIPAIS OBSTÁCULOS DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
  1. Obstáculos Funcionais
  • Assimilação
  • Lentidão
  • Domínio especial
  • Motor
  • Elaboração mental
  • Etc
  1. Obstáculos Epistemofílicos (emocionais)
  • Estado confusional
  • Perseveração
  • Exigência
  • Conduta evitativa
  • Mecanismos defensivos
  • Etc
  1. Obstáculos Epistêmicos (Cognitivos)
  • Desempenho
  • Antecipação
  • Insensibilidade – não percebe determinados conflitos
  • Não possui mecanismo de integração. Ex: colocam­se vários fósforos de tamanhos iguais alinhados com outros fósforos de tamanho menor. Junta­se até as duas linhas atingirem o mesmo comprimento e pergunta­se se os fósforos são iguais. O sujeito não percebe que só o comprimento final é o mesmo, mas que os fósforos são diferentes.
  • Assimilação, acomodação
  • Nível cognitivo
  • Etc
Observações gerais
  1. Cada nível de estrutura cognitiva corresponde a uma leitura da realidade e um nível de evolução afetiva para estabelecer um vínculo com o objeto.
  2. Cognitivo – Operações lógicas que regulam os intercâmbios com o meio externo, com a lógica correspondente ao estágio cognitivo a que percebe o sujeito.
  3. Diante de determinada situação, o sujeito passará pelos momentos de indiscriminação, objetiva parcial e total, em movimentos de ir e vir. Quando atinge o patamar, pode passar para outro no mesmo movimento.
Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – EOCA
Nome:                                                                                                              Idade:
Data:        /     /                                          Horário
Observador:


AnotaçõesHipóteses
Observações:

Outros Modelos:

PsiquEasy
https://blog.psiqueasy.com.br/2017/09/13/e-o-c-a-entrevista-operativa-centrada-na-aprendizagem/

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Supervisor de Educação, formação, requisitos e regulamentações.




Obrigado pela visita, volte sempre.Publicado em 10 de jul de 2019

#DURecorder
Este é meu vídeo gravado com DU Recorder. É fácil gravar sua tela e fazer transmissão ao vivo. Link de download:
Android: https://goo.gl/s9D6Mf
iOS: https://goo.gl/nXnxyN
https://chat.whatsapp.com/BGVkmF7Lu3T...
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.
Texto compilado
(Vide Decreto nº 3.860, de 2001)
(Vide Lei nº 10.870, de 2004)
(Vide Adin 3324-7, de 2005)
(Vide Lei nº 12.061, de 2009)
Regulamento
Estabelece as diretrizes e
bases da educação
nacional
Art. 64. A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e
orientação educacional para a educação básica, será
feita em cursos de graduação em pedagogia ou em
nível de pós-graduação, a critério da instituição de
ensino, garantida, nesta formação, a base comum
nacional.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/...
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.
Texto compilado
(Vide Decreto nº 3.860, de 2001)
(Vide Lei nº 10.870, de 2004)
(Vide Adin 3324-7, de 2005)
(Vide Lei nº 12.061, de 2009)
Regulamento
Estabelece as diretrizes e
bases da educação
nacional
Art. 64. A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e
orientação educacional para a educação básica, será
feita em cursos de graduação em pedagogia ou em
nível de pós-graduação, a critério da instituição de
ensino, garantida, nesta formação, a base comum
nacional.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/...

terça-feira, 2 de julho de 2019

Por que deixamos de escrever? E por que devemos voltar a escrever? Por RODRIGO GURGEL 1 fevereiro, 2018


Por que deixamos de escrever? E por que devemos voltar a escrever?

Por que deixamos de escrever? Por que deixamos de escrever se, todos os dias, arrastamos nossas ideias através do ócio, às vezes perfurando com elas o cilindro frio que nos separa da realidade? Avançamos sempre sem escrever, apesar do desejo sincero de colocar no papel o que pensamos, não necessariamente um poema ou uma história. Seria fácil definir esse comportamento como um tipo de inércia, mas tal solução esconderia o que se encontra no substrato do problema: a insegurança, a incerteza que temos em relação ao valor dos nossos pensamentos.
É compreensível que seja assim. Não fomos educados para dialogar com nós mesmos, no silêncio, na solidão. E não fomos educados para, dispostos ao diálogo interior, vencer a timidez ou a resistência daquela parte do nosso eu que duvida de nós mesmos. Mas como saber se o que tenho a dizer possui alguma relevância? Por que minha opinião seria importante numa época em que todos consideram suas opiniões não só importantes, mas imprescindíveis?
Aqui reside a melhor aventura: não temos respostas para essas perguntas. Mas a solução é tão simples quanto complexa.
Por que deixamos de escrever?
Samuel Pepys
Complexa porque superar hesitações exige um encontro diário com nosso eu — um exercício de autoconhecimento, uma visita a cômodos mofados, onde nem sempre descobrimos coisas agradáveis ou alegres. Além disso, nossa verdadeira opinião, o que realmente pensamos a respeito de tudo, incluindo os mínimos eventos do cotidiano, nem sempre se revela na primeira frase. Muitas vezes, quanto mais avançamos em nossas reflexões, mais descobrimos que nossa conclusão, nossas certezas são exatamente opostas àquelas que imaginávamos ter. Trinta linhas depois do primeiro argumento, do primeiro juízo, não somos mais aquela pessoa, a investigação sincera do nosso eu, da nossa vontade, nos conduziu a uma conclusão inesperada e, no entanto, mais verdadeira.
Simples por um motivo que corremos sempre o risco de esquecer: se não temos respostas para as perguntas acima, então a melhor resposta é escrever. Escrever sem esperar o julgamento dos nossos contemporâneos — escrever porque temos necessidade de escrever. Escrever porque esse ato é uma continuidade do nosso ser, da mesma forma que respiramos, estendemos a mão para apertar o botão do micro-ondas e damos o primeiro passo assim que levantamos da cama.

Pepys, Hofmannsthal e Leopardi

Imaginem se, a cada linha, o escritor fizesse o julgamento implacável não do seu texto, mas das suas motivações para escrever, dos seus temas. O que aconteceria? Com absoluta certeza, a história da literatura universal, incluindo os diários, cartas e autobiografias, ficaria reduzida a um pobre volume.
Se Samuel Pepys tivesse se deixado dominar pela incerteza em relação ao valor das suas simples atividades cotidianas, não teríamos seu diário, uma fonte inigualável para entender o período da Restauração Inglesa, escrita num tom franco, que nos confirma, a cada página, que nenhuma vida se esgota na mesmice — e quem pensa o contrário precisa rever, com urgência, sua concepção de humanidade. Uma década na vida de Pepys, o tempo que dura seu diário, é a prova de que nossas inseguranças — em relação à importância de nossas opiniões e de nossos escritos — podem ser irrelevantes. E quase sempre são.
Dedicar-se, de antemão, a um gênero literário específico também pode ser motivo de estagnação. Podemos começar a romper nosso angustiado ócio mantendo um caderno em que anotamos uma miscelânea de observações, compilando notas de leitura, comentários diversos, notícias inesperadas ou decepcionantes, insights a respeito de tudo que possa merecer nossa atenção. Um memorando não só das nossas opiniões pessoais, mas do que nossa época despreza ou alardeia — um retrato, em breves notas, a respeito de tudo o que nos parece insano, curioso, empolgante, inaceitável. Um zibaldone como o de alguns comerciantes venezianos do século XIV, em que é possível encontrar de fórmulas medicinais a canções, de uma relação de impostos pagos a breves comentários sobre poetas. Ou trechos, de nossas leituras, que gostaríamos de usar no futuro — algo semelhante aos commonplace books que John Milton, Francis Bacon ou W. H. Auden mantinham.
Por que deixamos de escrever?
Giacomo Leopardi
Hugo von Hofmannsthal escreveu, nesse estilo, seu Livro dos Amigos, conjunto de brevíssimos textos, a maior parte de sua autoria, que se assemelha a uma coletânea de aforismos. Giacomo Leopardielevou esse modelo ao seu próprio Zibaldone, um “laboratório poético e filosófico”, como o definiu Marco Lucchesi. Se Leopardi tivesse sido dominado pela dúvida a respeito da relevância de seus pensamentos, se permanecesse paralisado pela indecisão, não teríamos essa coleção de impressões pessoais — e muito do que o pensamento ocidental ainda promete à nossa sensibilidade, à nossa inteligência, estaria perdido. Leopardi, aliás, não se deixou submeter nem mesmo pelo Mal de Pott, que o condenou, desde a juventude, a dores e inúmeras formas de degradação.
A vida inteira cabe em nossas anotações — e estas, jamais saberemos o quanto, podem garantir conhecimento e inspiração às gerações futuras. Não devemos ter medo de nossa opinião — e, muito menos, de sermos prolíficos. Com algum esforço, conseguimos enxergar centenas de pormenores que passam despercebidos à maioria das pessoas — e dez anos escrevendo notas num ônibus sujo e enferrujado, que somos obrigados a tomar para ir ao emprego, podem se converter num relatório perturbador da vida urbana, um recurso para historiadores e antropólogos se perguntarem por que houve uma época na qual os homens aceitavam passivamente gastar horas de sua vida no desconforto.
Tudo merece nossa atenção. Tudo merece ser preservado pela escrita. Não há nenhum traço da experiência humana que deva ser esquecido. Se nosso cotidiano pode nos oferecer milhares de pequenas epifanias, se a vida está sempre nos surpreendendo, imaginem o que podem fazer por nós os escritos daqueles que não só viveram, mas guardaram suas impressões para o futuro.

Sou crítico literário — e professor de literatura e escrita criativa. Escrevi dois livros: Esquecidos & Superestimados e Muita retórica — Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha). Neles, faço uma revisão crítica dos principais prosadores da literatura brasileira. Minha Oficina de Escrita Criativa, com turmas semestrais, acontece em São Paulo (SP). Publico resenhas e ensaios no Jornal Rascunho e na Folha de S. Paulo.


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O paradoxo de Tocqueville

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Mídia Sem Máscara
Alexis de Tocqueville (1805-1859): a democracia não sobrevive sem uma boa política económica e uma ética de serviço público.
Alexis de Toqueville, para além de brilhante pensador político e teórico da democracia, foi um homem de viagens. Um viajante que sabia comparar e retirar lições das realidades (sociais, antropológicas) que entretanto descobria. O notável escritor francês observava as instituições políticas e os homens, analisando os costumes e o ethos dominante em cada sociedade. Nada escapava ao seu olhar arguto. Tocqueville, à semelhança de Montesquieu ou de Alain Peyrefitte, é um mestre da Filosofia Social.
Há uns anos atrás, numa conferência em Lisboa, que reuniu aliás nomes sonantes da Europa e dos Estados Unidos, tive a felicidade de receber, das mãos de um dos oradores[i], filósofo político da mais fina estampa, uma prenda inolvidável: um exemplar de um estudo elaborado por Tocqueville em 1835, praticamente desconhecido em Cabo Verde. Tratava-se do "Ensaio sobre a pobreza", uma comunicação lida na Academia de Cherbourg após uma curta viagem à Inglaterra. A actualidade desse documento é, todavia, impressionante!
Tocqueville, comparando a situação social de Portugal e Espanha com a da Inglaterra do séc. XIX, notou algo extraordinário: o número de indigentes era superior neste último país, o mais rico da Europa naqueles dias, mercê dos progressos resultantes da Revolução Industrial. O "paradoxo" era curioso. E intrigante. A nação mais rica tinha o maior número de indigentes (les misérables, diria Victor Hugo). Como era possível?! Havia causas conjunturais. O conflito entre Henrique VIII e o papado era uma delas. Levou ao encerramento de conventos em toda a Inglaterra, agudizando, deste modo, o fenómeno da carestia e, em geral, da miséria. Já não se podia contar com a filantrópica acção da Igreja romana e das suas instituições de caridade.
Durante a era de Elisabete I (1533-1606), foi criado um programa público de assistência aos indigentes, com a promulgação subsequente das famosas Poor Laws. Tocqueville estudou cuidadosamente os registos das "paróquias" (municípios) e leu os relatórios oficiais sobre a pobreza. Descobriu um princípio fulcral, hoje retomado por estudiosos como Amartya Sen e Thomas Sowell: a relatividade da pobreza. A sua descrição do fenómeno, no Mémoire sur le paupérisme, é de uma subtileza contagiante:
"Basta cruzar o interior da Inglaterra para pensar que fomos transportados a um Éden da civilização moderna - estradas magnificamente conservadas, casas novas e limpas, gado bem alimentado a pastar em campos ricos, agricultores fortes e saudáveis, com uma quantidade de riqueza mais espantosa do que em qualquer país do mundo - e, para suprir as necessidades mais mundanas, existe um padrão de vida mais refinado e gracioso do que em qualquer outro lugar. Há uma preocupação constante com o bem-estar e com o lazer, uma impressão de prosperidade geral que parece fazer parte do próprio ar que lá respiramos. A cada passo dado em território inglês, encontra-se algo capaz de fazer o coração do turista ficar exultante. Agora, observemos com mais atenção as vilas: examinemos os registos das paróquias, e iremos descobrir, com indescritível espanto, que um sexto dos habitantes deste reino florescente vive às custas da caridade pública.
Mas, se voltarmos à Espanha ou até mesmo a Portugal, teremos uma visão totalmente diferente. Veremos em cada canto uma população ignorante e rude, mal alimentada, mal vestida e vivendo no meio de uma zona rural cultivada pela metade e em habitações miseráveis. Em Portugal, no entanto, o número de indigentes é insignificante. M. de Villeneuve estima que este reino contém um indigente para cada vinte e cinco habitantes. Antes disso, o famoso geógrafo Balbi nos deu a estimativa de um indigente para cada noventa e oito habitantes".
O contraste, como se vê, era significativo. Na França, o mesmo fenómeno se repetia: os departamentos mais ricos tinham uma parcela maior da população dependente da caridade pública.
Os críticos da globalização e, em geral, do liberalismoeconómico teriam, aqui, uma poderosa confirmação do seu velho estribilho: "os ricos ficando mais ricos e os pobres cada vez mais pobres". O problema, como bem assinalou Mário Guerreiro, um estudioso brasileiro, é que a estratificação socialem Portugal, no período abarcado pelo estudo de Tocqueville, era semelhante à dos países socialistas totalitários (ex-União Soviética, Cuba, Coreia do Norte, etc.). O número de indigentes era insignificante, mas a imensa maioria da população vivia numa pobreza sufocante. Não se nota(va)m muitos contrastes, porque todos eram/são igualmente pobres, exceptuando os privilegiados da Nomenklatura estatal.
Nos países ocidentais mais ricos, as elites exigiram a intervenção do Estado para "corrigir" os supostos males do mercado livre. Houve um crescimento desmesurado do chamado "Estado de bem-estar", mas os resultados não foram particularmente agradáveis. Os países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega) são apontados como "modelos" a seguir, por terem conciliado, dizem alguns, o mercado com a solidariedade. Eis o famoso Estado "com rosto humano"...
Este argumento é interessante, mas absolutamente falso.
Os países nórdicos ficaram ricos por causa da liberdade económica e não por causa da intervenção estatal. O Estado "inchou", é certo, nos meados do séc. XX, mas foi obrigado a reformar as suas estruturas (processo de privatização, que abrangeu até os serviços de saúde), porque já não havia dinheiro para alimentar um exército crescente de dependentesda segurança social. O "Estado-providência", como observara alguém, achou-se, afinal, imprevidente e demagogo. O "modelo escandinavo", tão elogiado pelos apóstolos[ii] da justiça social, simplesmente não existe. É apenas um mito. Nonsense upon stilts.
Veja-se o grau da liberdade económica vigente na Finlândia ou na Suécia (basta consultar os relatórios da Heritage Foundation).
No próximo artigo, iremos discutir algumas ideias de Tocqueville, constantes do tal "Ensaio" (Mémoire sur le paupérisme). Algumas são insights fabulosos, mas há também pontos fracos que merecem ser realçados. Tocqueville não compreendeu, por exemplo, a importância do industrialismopara a democracia e para a resolução possível do problema da pobreza.
____________________
Notas:
[i] Refiro-me ao ilustre pensador e diplomata brasileiro, José Osvaldo de Meira Penna.
[ii] Ver a nota confusa de Mário Soares, ex-Presidente de Portugal, acerca do "modelo" político escandinavo, neste link:http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1457643&ampseccao=M%E1rio Soares&amptag=Opini%E3o

Na visão paradisíaca (leia-se: romântica!) do dr. Soares, a social-democracia consiste, "Fundamentalmente, em pôr acento tónico na dignidade do trabalho, na justiça social (pleno emprego, serviços de saúde gratuitos, pensões sociais, educação para todos, etc.), na luta contra o desemprego e o trabalho precário, na redução das desigualdades sociais, na erradicação da pobreza e na regulamentação do mercado de trabalho (feita pelos Estados nacionais e, na Europa, imposta pela União). Na globalização, que terá de ser igualmente regulada, por princípios éticos e valores, no âmbito e por intervenção das Nações Unidas".

E continua, repetindo o argumentário de Al Gore quanto ao "aquecimento" global!"

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G20 Coppolla pede para Bolsonaro passar vergonha




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Hoje é dia do desaparecimento sagrado de Shri Narahari Sarkar Thakura dia 26/11/2024 terça-feira.

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