sábado, 27 de fevereiro de 2021

Baladeva Vidyabhusana, o Vedantista Gaudiya

Baladeva Vidyabhusana, o Vedantista Gaudiya

5 R (artigo - Sucess¦o Discipular e Mestre Espiritual) Baladeva Vidyabhusana, o Vedantista Gaudiya - dia 8 (5303) (bg)

Dayananda Dasa e Nandarani Devi Dasi

A história do surgimento do Govinda-bhasya, o comentário ao Vedanta-sutra dos seguidores de Sri Chaitanya.

Suas vozes nasceram juntamente com o Sol. Era cedo pela manhã em uma escola de uma vila indiana. Os garotos encontravam-se sentados em impecáveis fileiras atrás de manuscritos de folha de palmeira. Enquanto cantavam suas regras gramaticais, lições de retórica e aforismos lógicos a fim de memorizá-los, cada garoto cantava alto o suficiente para ouvir sua voz sobre a voz do garoto ao lado, o que resultava em um confuso misturar de vozes estridentes.

Esta escola, na qual estudou Baladeva no começo do século XVIII, muito se assemelhava a escolas rurais que existiram na Índia por milhares de anos. O sistema perdurou porque era efetivo, produzindo eruditos brilhantes e disciplinados, e Baladeva estava entre os melhores deles.

Antes de ir para a escola, Baladeva, o filho de um mercador, viveu por muitos anos próximo à cidade Remuna, Orissa. De lá, foi estudar com o grupo de panditas na escola mencionada, que se situa idilicamente às margens do rio Chilkahrada. Os viçosos campos e florestas oriás providenciavam fartamente frutas, legumes e grãos para uma dieta completa e variada. Os garotos estudavam muito, brincavam muito e cresciam confiantes, saudáveis e com boa discriminação.

Quando os estudos de Baladeva na escola chegaram ao fim, ele não quis retornar para casa e trabalhar no mercado de seu pai. Ele queria ser um estudioso – não um estudioso ordinário, mas um verdadeiro acharya, alguém que pode ensinar sabedoria divina. Um pandita precisa dominar lógica, filosofia, medicina ou cosmologia, mas um acharya precisa saber as escrituras que transmitem a sabedoria mais profunda. Baladeva decidiu estudar filosofia e teologia. Ele se tornaria um vedantista, uma autoridade nos milenares livros védicos de conhecimento. Ele não conseguia pensar em nenhuma outra maneira mais grandiosa pela qual poderia beneficiar a si mesmo ou os demais.

Em busca de um preceptor, Baladeva saiu em peregrinação pelos tirthas, locais sagrados, onde se encontrou com monges e eruditos. Em Mysore (atual Karnataka), sudoeste da Índia, chegou a um eremitério de homens santos que também se chamavam tirthas, seguidores do santo e estudioso Ananda Tirtha (1197-1273 d.C.),  conhecido no passado como Madhvacharya. No monastério, ou matha, Baladeva estudou o Vedanta e dominou as artes do debate e da retórica. Esses talentos ser-lhe-iam de grande utilidade em um desafio que ele teria de enfrentar no futuro, quando ainda muito jovem.

O desafio com que Baladeva se depararia é de suma importância na história do vaishnavismo gaudiya, a escola espiritual à qual a ISKCON, o moderno movimento Hare Krishna, pertence.

Os Gaudiyas em Vrindavana

À época de Baladeva, os vaishnavas gaudiyas, ou seguidores do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, estavam bem estabelecidos em Vrindavana, a cidade da Índia setentrional onde o Senhor Krishna atuara Seus passatempos infantis cerca de cinco mil anos atrás. A vida naquela região, entretanto, era frequentemente insegura. Por milhares de anos, o distrito de Vrindavana-Mathura foi periodicamente invadido e saqueado. Contudo, a despeito dessas calamidades, Mathura sempre floresceu como um centro de comércio e cultura. Toda religião antiga do norte da Índia considerava Mathura uma cidade importante.

Em 1512, o Senhor Chaitanya chegou a Mathura. Ele viu que os locais onde Krishna havia desfrutado de Seus passatempos estavam então obscurecidos, em virtude do que passou dois meses localizando e identificando-os. Desejoso de reconstruir Vrindavana e rededicá-la a Krishna, enviou Rupa Gosvami e Sanatana Gosvami, dois de Seus principais discípulos, para a cidade sagrada.

Rupa Gosvami e Sanatana Gosvami desempenharam com sucesso a missão do Senhor Chaitanya em Vrindavana. Eles não apenas reconstruíram os locais sagrados da vida de Krishna, mas também escreveram livros que apresentavam a doutrina do Senhor Chaitanya de uma maneira apropriada tanto para estudiosos quanto para leigos. Srila Jiva Gosvami, sobrinho e discípulo deles, continuou a obra. Ele supervisionou a construção de templos magníficos para a adoração a Krishna, escreveu exaustivos tratados filosóficos sobre a filosofia da consciência de Krishna e distribuiu os manuscritos religiosos dos Gosvamis de Vrindavana ao longo do mundo vaishnava. Em grande parte devido aos esforços de Jiva Gosvami, os vaishnavas gaudiyas foram exitosos no estabelecimento de Vrindavana como o principal local do vaishnavismo no norte da Índia.

Vrindavana sempre foi uma terra sagrada de peregrinação, mas, sob o patronato gaudiya, vicejou como um poderoso centro religioso por 150 anos. Templos e gurus gaudiyas eram dominantes em Vrindavana, mesmo na época da chegada de Baladeva no começo do século XVIII.

Govinda Deixa Vrindavana

Infelizmente, a pacífica liderança dos gaudiyas não pôde prosseguir. Em 1669, o soberano mongol Aurangzeb decretou que os templos e esculturas, ou Deidades, hindus deveriam ser destruídos. As Deidades, sacerdotes e peregrinos estavam em perigo, e os fiéis devotos de Krishna pararam de visitar Vrindavana. Muitos daqueles que tiveram coragem de expressar sua fé foram açoitados ou mortos.

Subsequentemente, os sacerdotes vaishnavas apelaram às dinastias hindus do Rajastão por proteção para si mesmos e para as suas Deidades. A proteção foi concedida, e gradualmente as Deidades migraram para o leste, de modo a estabelecerem-Se em Mewar e em Amber, a antiga capital Jaipur. Todavia, sem Deidades, brahmanas e peregrinos, Vrindavana-Mathura perdeu muito de sua glória.

Uma das principais Deidades de Vrindavana era Govinda, uma imagem de mármore negro de sessenta centímetros de Krishna em Seu aspecto original como um vaqueirinho. Srila Rupa Gosvami O encontrou enquanto escavava os locais sagrados de Vrindavana. Posteriormente, informados de que o exército de Aurangzeb buscaria destruir o esplêndido templo de sete andares de Govinda, os sacerdotes secretamente mudaram a Deidade para o Radha-kunda, um lago sagrado amplamente conhecido como um dos locais mais sagrados no distrito de Mathura.

Transcorrido um ano no Radha-kunda, os sacerdotes transferiram seu refúgio divino para Kaman, uma cidade fortificada no distrito de Mathura, onde um complexo apropriado poderia ser construído para Govinda. Por mais de trinta anos, Ele e duas outras Deidades, Gopinatha e Madana-mohana, permaneceram em Kaman. A maior parte dos peregrinos, no entanto, evitava os regentes mongóis e um clã de pessoas locais chamadas jats, as quais se ergueram contra os mongóis.

Os reis rajputs de Amber viram-se no pivô do conflito entre os mongóis e as guerrilhas jats. Os reis aliaram-se aos mongóis contra os jats, mas patrocinavam as Deidades de Vrindavana, as quais os mongóis queriam destruir.

Ram Singh, o rei de Amber, ordenara em 1671 que Govinda fosse transferido para Kaman, que estava então sob a jurisdição de Amber e Jaipur, embora se situasse no distrito de Mathura. É dito que a transferência fora intencionada como temporária: as Deidades retornariam a Vrindavana quando a agitação política se amainasse. Govinda, todavia, não retornou a Vrindavana. Após trinta e três anos em Kaman, Ele fez outra viagem, desta vez para Amber.

Pouco tempo após o falecimento de Ram Singh, seu filho, Visnu Singh, acompanhou-o para a vida pós morte. Agora, sentou-se no trono de Amber um rei infante, um precoce rei de onze anos de nome Jai Singh, que havia sido condecorado na corte mongol em Agra com a idade de sete anos. Sob o reinado de Jai Singh, Govinda foi transferido em 1707 para a vila chamada Govinda-pura, imediatamente fora de Amber.

O Desafio dos Ramanandis

O novo lar de Govinda tinha pouco em comum com a floresta de Vrindavana, onde vivera formidavelmente. Em Vrindavana, um local sagrado vaishnava, Govinda era irrivalizavelmente o Senhor Supremo. Seu sacerdote, que vinha na linha direta de Rupa Gosvami, o reconhecido líder dos vaishnavas em Vrindavana, desfrutava de irrivalizada autoridade no concernente a questões sobre a filosofia e a prática de bhakti, o serviço devocional a Krishna.

Em Amber, contudo, nem todos os vaishnavas adoravam Krishna. Durante o reino de Prithviraj Singh (1503-1527), um devoto do Senhor Ramachandra chamado Payahari Krishnadasa havia se instalado em Galta, um vale próximo à atual cidade de Jaipur. Payahari foi um discípulo-neto de Ramananda, o reformador do século XIV da sampradaya (linhagem) vaishnava do sul da Índia de Ramanuja. Payahari adorava Sita-Rama, não Radha-Krishna.

Payahari havia se instalado em uma caverna no vale Galta. Ele converteu a rainha Balan Balai ao vaishnavismo ramanandi, e ela, por sua vez, convenceu seu esposo santo, o rei Prithviraj, a patrocinar o estabelecimento de um monastério ramanandi em Galta. Depois disso, Galta tornou-se a sede setentrional da seita Ramanuja.

Por seis gerações, os mahantas (líderes dos templos) ramanandis gozaram de uma privilegiada posição no reino Amber. Porém, com a chegada de Govinda em Amber e Sua popularidade com a família real, a hegemonia ramanandi viu-se ameaçada.

Para Jai Singh, a chegada de Govinda foi especialmente significativa. Apesar da presença de muitas seitas hindus em seu reino, apesar de suas próprias obrigações reais de manter sacrifícios ritualísticos védicos e purânicos e apesar da inquestionável autoridade dos sacerdotes ramanandis, Jai Singh era, acima de tudo, devoto de Govinda. A chegada de Govinda ao seu reino foi um ponto alto em sua busca espiritual pessoal.

Os sacerdotes ramanandis logo se deram conta de que, caso Govinda Se tornasse a Deidade favorita do rei, os sacerdotes gaudiyas assumiriam a autoridade religiosa em Amber. O que seria da ascendência dos ramanandis?

Os ramanandis aproximaram-se então de Jai Singh com uma queixa contra os gaudiyas. Eles questionaram a linhagem gaudiya. Na Índia, muito se preza o parentesco. Caso um indivíduo não possa provar sua legitimidade natal, ele talvez seja rejeitado como um bastardo. O mesmo padrão social se aplica a organizações religiosas. Se um grupo religioso não pode provar sua descendência a partir de uma das tradições reconhecidas, tal grupo corre o risco de ser rejeitado como ilegítimo.

Jai Singh escreveu ao mahanta do templo de Gopinatha, Shyamcharan Sharma, solicitando-lhe que esclarecesse a questão explicando a linhagem dos devotos gaudiyas. Shyamcharan respondeu com uma carta em sânscrito, citando várias escrituras e outras autoridades. Ele explicou que a linhagem gaudiya tivera início com o Senhor Chaitanya, que era o Senhor Supremo. Uma linhagem espiritual originária de Deus é, afinal, irrefutável.

Previsivelmente, os ramanandis não ficaram satisfeitos. Eles disseram: “Há apenas quatro sampradayas, não cinco. Os estudiosos estabeleceram isso com base no Padma Purana”.

É neste ponto que a nossa história nos leva de volta a Baladeva.

A Formação de Baladeva

Antes de os ramanandis queixarem-se em Amber, o jovem Baladeva, vivendo em Mysore, recebera instrução no Vedanta-sutra com os seguidores do grande vedantista Madhvacharya.

A palavra vedanta consiste em duas palavras: veda, “conhecimento”; e anta, “fim”. Desta maneira, vedanta é a culminação do conhecimento védico. Os Vedas são os mais antigos dos escritos sânscritos tradicionais compilados por Srila Vyasadeva. Vyasadeva posteriormente compôs o Vedanta-sutra, que contém em formato conciso a essência das Upanisads (os hinos filosóficos dos Vedas). Porque o Vedanta-sutra é escrito em aforismos, é necessário um comentário para compreendê-lo. O mais antigo e mais famoso comentário ainda existente é o comentário de Shankaracharya (788-820 d.C.).

Shankara foi monista; ele acreditava na unidade última entre o jiva (o ser vivo) e Deus, e ele interpretou o Vedanta-sutra de acordo. Após Shankara, quatro vaishnavas instruídos apresentaram-se no curso de muitas centenas de anos para escreverem comentários ao Vedanta-sutra. Esses vaishnavas escreveram de forma a estabelecer a dualidade entre o jiva e Deus e, deste modo, refutar o ensinamento monista de Shankara.

Esses quatro preceptores vaishnavas – Sri Ramanujacharya, Sri Nimbarka, Sri Madhvacharya e Sri Vishnusvami – estabeleceram as quatro sampradayas vaishnavas reconhecidas. Subsequentes líderes religiosos vaishnavas pertenciam a uma dessas sampradayas e eram, destarte, considerados legítimos. Ramananda alegou que sua linhagem era oriunda de Ramanuja.

Relembramos mais uma vez que Baladeva, em Mysore, havia permanecido no matha da sampradaya de Madhva e estudado o comentário Vedanta-sutra de Madhva.

Ele havia desfrutado de sua educação, mas ele desfrutava ainda mais da aplicação de seu aprendizado. Ele divertia-se em debates; nenhum desafiador era bom demais para ele. E ele estava sempre ávido pela oportunidade de esclarecer outros. Agora, após se tornar um palestrante e debatedor perito, Baladeva deixou Mysore e partiu com destino a Puri, na Orissa, onde novamente passou a residir em um matha Madhva.

Em Puri, Baladeva encontrou-se com Radhadamodara Dasa, um brahmana de Kanyakubja (atual Kanpur), no centro da Índia setentrional. Radhadamodara era discípulo-neto de Rasikananda, um pregador do século XVII que estabeleceu o movimento gaudiya ao longo da Orissa. Radhadamodara, um erudito na filosofia gaudiya, explicou a Baladeva a posição do Senhor Chaitanya, apoiando seus pontos com citações do Mahabharata e do Srimad-Bhagavatam.

Radhadamodara disse: “Sri Krishna Chaitanya é o próprio Senhor Supremo. Ele veio a fim de inundar o mundo com krishna-prema, amor por Krishna. Sri Chaitanya não estava interessado no estudo de muitos comentários ao Vedanta-sutra, pois Ele considerava o Srimad-Bhagavatam, escrito pelo mesmo autor – Vyasa – como sendo o comentário natural. Assim, a partir do Bhagavata e por meio de Seu próprio exemplo, Ele ensinou que devemos servir o Senhor Supremo, Krishna, e absorvermo-nos na audição sobre Ele e na glorificação a Ele. O próprio Sri Chaitanya estava sempre absorto em krishna-prema. Ele, desta forma, não viu necessidade alguma de escrever algum livro”.

Radhadamodara aconselhou Baladeva a estudar o Bhagavata-sandarbha, de Srila Jiva Gosvami. Por dias, Radhadamodara e Baladeva se reuniram e discutiram a obra de Jiva. Baladeva notou que Jiva não era significativamente diferente de Madhva. Com efeito, as filosofias de Jiva e Madhva concordavam nos pontos mais essenciais. Ainda assim, o tratado de Jiva desenvolvia a filosofia vaishnava de uma maneira elegante e lógica que impressionou Baladeva profundamente.

Agora convencido de que a perspectiva gaudiya era verdadeira, Baladeva pediu a Radhadamodara que o iniciasse no sampradaya gaudiya. Baladeva, no entanto, já era um vaishnava iniciado, devido a que Radhadamodara não realizou uma iniciação formal, mas uma cerimônia na qual Baladeva concordou em aceitar e servir Sri Chaitanya Mahaprabhu como o Senhor Supremo. Assim, Baladeva tornou-se membro do sampradaya gaudiya.

Dominando a Filosofia Gaudiya

Baladeva então decidiu viajar para Vrindavana, o centro espiritual da seita gaudiya. Primeiramente, entretanto, ele foi a Navadvipa, onde se encontrou com os vaishnavas de lá e com eles discutiu filosofia. Todos eles disseram-lhe que estudasse com Visvanatha Chakravarti Thakura em Vrindavana. Porque Baladeva ficou muito ávido por encontrar-se com Visvanatha, ele permaneceu apenas um curto período de tempo em Navadvipa antes de dar início à viagem de quase mil e trezentos quilômetros que faria a pé até Vrindavana.

Ao chegar em Vrindavana, Baladeva logo encontrou-se com Visvanatha Cakravarti, apresentou-se e explicou sua trajetória e a história de seu encontro com Radhadamodara em Puri. Visvanatha ficou agradado com o fato de Baladeva ter-lhe buscado para estudar o Srimad-Bhagavatam e sugeriu um dia apropriado para começarem seus estudos. Ele também decidiu que Baladeva deveria estudar os rasa-shastras, obras de devoção avançada, com outro estudioso: Pitambara Dasa.

O apetite de Baladeva foi aguçado lendo o Bhagavata-sandarbha de Jiva Gosvami em Puri. Com Pitambara, Baladeva aprendeu o significado esotérico da filosofia bhagavata, como apresentado nos rasa-shastras. Ele então estudou o Chaitanya-charitamrita, a biografia do Senhor Chaitanya composta por Krishnadasa Kaviraja Gosvami. O Chaitanya-charitamrita é uma obra avançada, destinada àqueles que estudaram completamente as outras escrituras vaishnavas. Completando seu estudo dessa obra culminante, Baladeva qualificou-se para um futuro brilhante como um estudioso gaudiya.

Enquanto isso, em Ambes, os ramanandis continuavam promovendo sua guerra ideológica contra os gaudiyas. Os ramanandis não aceitaram a resposta que os mahantas gaudiyas haviam dado ao rei Jai Singh – de que Sri Chaitanya Mahaprabhu era o próprio Senhor Supremo e que Seu sampradaya situava-se, por conseguinte, acima de qualquer dúvida. Os ramanandis insistiram no princípio de sampradaya chatvarah, “existem apenas quatro sampradayas”, indicando, naturalmente, que os gaudiyas se constituíam de uma quinta e desautorizada linhagem.

Jai Singh preparou-se para o confronto religioso que ele sabia ser inevitável. Ele reuniu e estudou os escritos da seita gaudiya e os comparou aos escritos de outras sampradayas vaishnavas. Ele estudou o Bhagavata Purana e seus comentários de Sridhara Svami, Sanatana Gosvami e Jiva Gosvami. Ele entregou-se ao estudo do Vedanta-sutra e de seus comentários compostos por Shankara, Ramanuja, Madhva, Vallabha e Nimbarka. Ele também examinou as obras de Sanatana Gosvami, Rupa Gosvami, Gopala Bhatta Gosvami, Jiva Gosvami e Krishnadasa Kaviraja Gosvami, os principais teólogos da escola gaudiya. E ele leu o Gita-govinda, de Jayadeva, a poesia que frequentemente evocou expressões de amor extático em Chaitanya Mahaprabhu.

Jai Singh queria conciliar as diferenças entre as principais seitas do vaishnavismo. Ele acreditava que essas diferenças não tinham base filosófica, logo porfiar continuamente não seria de nenhuma utilidade real. Tendo completado sua pesquisa, ele compôs uma tese intitulada Brahma-bodhiniadvogando a unidade dos vaishnavas.

A atração do rei por Krishna havia sido despertada durante sua primeira visita a Vrindavana, como uma criança de sete anos de idade. Ele fora convidado a ir para lá por seu pai, o comandante militar do distrito, o qual havia sido encarregado de proteger as caravanas entre Agra e Mathura. A partir dessa pouca idade, Jai Singh passou a considerar-se devoto de Krishna. Agora, seu estudo dos escritos dos Gosvamis de Vrindavana cristalizou seus sentimentos. Sua devoção a Radha e Krishna, porém, seria testada pelos ramanandis.

“Os gaudiyas não devem adorar Radha e Krishna juntos”, os ramanandis disseram-lhe. “Radha e Krishna não são casados. Não há precedentes dEles sendo adorados juntos! Sita e Rama ficam juntos, e Lakshmi e Narayana, porque são casados. Radha e Krishna, contudo, não são casados”.

Agora os ramanandis estavam incrementando a contenda. Eles não apenas criticaram a linhagem gaudiya, mas também apontaram uma falha no método gaudiya de adoração. Os ramanandis exigiram que Radha fosse removida do altar principal e colocada em outra sala, para ser adorada separadamente.

Jai Singh enviou sua palavra aos mahantas (autoridades religiosas) dos templos gaudiyas. “Vocês têm de preparar uma resposta às críticas verbalizadas pelos ramanandis do vale Galta. Sou simpático à filosofia e à prática de vocês, mas sua resposta deve ser adequada para silenciar os panditas ramanandis, ou então serei forçado a separar Radha de Krishna”.

Os mahantas dos quatro principais templos gaudiyas de Amber enviaram sua resposta por escrito. Eles explicaram que Rupa, Sanatana e Jiva Gosvamis compartilhavam da mesma opinião acerca de Radha e Krishna: Eles podiam ser adorados ou como casados (svakiya-rasa) ou como solteiros (parakiya-rasa), dado que ambos esses passatempos (lila) são eternos. A adoração de Krishna em qualquer lila é adequada para o estabelecimento da relação eterna de um devoto com o Supremo.

Os ramanandis rejeitaram esses argumentos. Lutando por seu poder religioso e político, eles novamente buscaram por Jai Singh.

Como Radha e Krishna não eram casados, os ramanandis queixaram-se, adorá-lOs juntos era mostrar condescendência com a relação questionável dEles. Os ramanandis também criticaram os gaudiyas por adorarem Krishna sem antes adorarem Narayana.

A fim de apaziguar os ramanandis, Jai Singh disse-lhes que solicitaria aos gaudiyas que deixassem a Deidade de Radharani em uma sala separada. Ele também lhes pediria que explicassem sua transgressão da etiqueta vaishnava ao negligenciarem a adoração a Narayana, e solicitaria que provassem sua conexão com a sampradaya de Madhva.

Visvanatha Encarrega Baladeva

Visvanatha Cakravarti, um estudioso de grande renome, viveu em Vrindavana nessa época. Visvanatha nasceu em 1646, em uma vila bengali chamada Saidabad, onde passou os primeiros anos de sua vida. Assim como outros jovens aspirantes à vida renunciada, Visvanatha teve problemas com sua família, a qual lhe prometeu em casamento ainda jovem de modo a prendê-lo na vida doméstica. Como um jovem casado, Visvanatha estudou extensivamente e, enquanto vivia com sua família em Saidabad, escreveu brilhantes comentários a escrituras vaishnavas.

Durante sua vida em Saidabad, Visvanatha recebeu iniciação de Radharamana Cakravarti e estudou o Srimad-Bhagavatam e outras escrituras vaishnavas com o pai de Radharamana, Krishnacharan Chakravarti. Radharamana era distanciado por três gerações do principal preceptor de sua linha, Narottama Dasa Thakura.

Por fim, Visvanatha deixou sua família e partiu para Vrindavana, onde viveu no Radha-kunda. Ele aceitou formalmente as vestes de um renunciante e passou então a ser conhecido como Harivallabha. Ele continuou a escrever e a pregar e, por fim, tornou-se o líder da comunidade gaudiya em Vrindavana.

Quando ocorreu o evento de Govinda mudar-Se para o Rajastão em 1707, Visvanatha tinha mais de sessenta anos. O idoso erudito acompanhou interessado os desenvolvimentos em Amber. O que se daria com Govinda e Seus sacerdotes naquele ambiente pluralístico, no vórtice das forças opostas da devoção do jovem rei, do antagonismo dos ramanandis e da presença ameaçadora de muitíssimas seitas?

Visvanatha regularmente comunicava-se com os mahantas dos templos vaishnavas em Amber. Conquanto ele houvesse esperado por problemas com os ramanandis, o litígio demorou alguns anos antes de intimidar os sacerdotes gaudiyas ou afetar a adoração à Deidade. Agora, ele sabia, eles já se desesperavam diante do crescente antagonismo dos ramanandis.

Visvanatha buscou por Baladeva. “Precisamos refutar os pontos dos ramanandis”, Visvanatha disse ao seu favorito. “Não será fácil, mas podemos derrotá-los”.

Baladeva enfureceu-se com a presunção das críticas dos ramanandis. “Por que devemos estabelecer a legitimidade de nossa linhagem?”, ele exigiu. “O Senhor Supremo, Sri Krishna, apareceu como o Senhor Chaitanya a fim de estabelecer a verdadeira religião para esta era de desavenças. Quando o próprio Deus origina uma tradição religiosa, quem ousaria questionar a legitimidade da mesma?”.

“Os ramanandis questionam”, Visvanatha respondeu, “e eles fundamentam sua crítica na declaração do Padma Purana de que, nesta era, há quatro sampradayas, ou linhas de sucessão discipular. O Purana diz o seguinte: sri-brahma-rudra-sanaka vaishnava-ksiti-pavanah, chatvaras te kalau bhavya hy utkale purushottama. O significado é que os quatro sampradayas vaishnavas – Sri, Brahma, Rudra e Kumara – purificam a Terra”.

“Sim”, respondeu Baladeva, “eu conheço o verso. E os ramanandis dizem que as palavras utkale purushottama significam que esses quatro sampradayas têm seus monastérios na Orissa, em Purushottama-kshetra, a cidade de Jagannatha Puri”.

“Porém, o verdadeiro significado”, prosseguiu Baladeva, “é que o Senhor Supremo, Purushottama, é a quintessência dessas quatro sampradayas. E, quando Ele aparece em Kali-yuga, Ele vive em Jagannatha Puri, como Sri Chaitanya Mahaprabhu. Desta maneira, a linhagem gaudiya não é uma quinta sampradaya, mas a essência das quatro”.

Visvanatha e Baladeva passaram a noite discutindo os outros pontos de contenda dos ramanandis em relação ao movimento do Senhor Chaitanya. Eles desenvolveram a estratégia por meio da qual derrotariam os ramanandis.

Visvanatha enviou Baladeva com Krishnadeva Sarvabhauma a Amber. A chegada de Baladeva lá foi inesperada. Ele era novo na comunidade gaudiya, desconhecido mesmo entre os mahantas gaudiyas de Amber. E ele era jovem. Ninguém, nem mesmo de sua própria tradição, suspeitava que um gigante filosófico vivia dentro da despretensiosa forma daquele santo gaudiya de Vrindavana. Baladeva encontrou dificuldades para obter uma audiência com o rei. E, quando finalmente o conseguiu, os ramanandis na corte estavam prontos para ele.

“Majestade”, Baladeva disse ao rei. “Estou aqui de modo a dar cabo das dúvidas atinentes ao sampradaya gaudiya e seus métodos de adoração”.

“Vossa alteza”, um pandita ramanandi tomou rapidamente a palavra, “solicitamos autorização para nos dirigirmos diretamente a ele!”.

Jai Singh voltou-se a Baladeva. “Vocês podem falar”, o rei disse, confiante de que, se Krishna era de fato o Senhor Supremo, Krishna providenciaria Sua própria defesa.

Os ramanandis deram início com um ataque o qual eles acreditavam que certamente garantiria sua autoridade.

“O problema”, eles disseram a Baladeva, “é que você não pertence a um sampradaya apropriado. Nós, portanto, não podemos aceitar a literatura escrita pelos seus panditas”.

“Eu sou da sampradaya de Madhva”, Baladeva declarou confiante.

“Fui iniciado em Mysore por um tirtha da ordem Madhva. Todavia, Radhadamodara Gosvami e Visvanatha Cakravarti do sampradaya gaudiya também são meus gurus. Eles me ensinaram a filosofia bhagavata”.

Os ramanandis ficaram surpresos. A iniciação Madhva de Baladeva significava que eles teriam de aceitá-lo como um sannyasi e um pandita qualificado de uma linhagem autorizada. Eles tinham a esperança, contudo, de que sua pouca idade poderia indicar alguma carência de perícia. Eles se recompuseram. “Você talvez seja do sampradaya de Madhva, mas os outros gaudiyas não o são!”.

Baladeva reteve sua dignidade e apresentou uma evidência-chave. “Este é o Gaura-ganoddesa-dipika, escrito por Kavi Karnapura há mais de cem anos. Este manuscrito detalha a nossa linhagem oriunda de Madhva”. Baladeva apresentou o manuscrito para inspeção.

Os ramanandis novamente redarguiram: “Se os gaudiyas clamam descenderem de Madhva, então vocês devem basear seus argumentos no comentário de Madhva ao Brahma-sutra. Sabemos que os gaudiyas não têm nenhum comentário próprio”.

Baladeva pensou por um momento. Os gaudiyas jamais haviam escrito um comentário ao Vedanta-sutra porque aceitavam o Srimad-Bhagavatam como o comentário natural. Vyasa é o autor de ambas as obras, e o Senhor Chaitanya ensinou que, quando o autor comenta sua própria obra, sua opinião é a melhor.

Baladeva sabia que os ramanandis rejeitariam esse argumento. Ele também sabia, entretanto, que, caso utilizasse o comentário de Madhva, ele teria dificuldades, dado que o comentário de Madhva não justificaria o estilo de adoração praticado pelos gaudiyas. Baladeva, por conseguinte, decidiu que precisaria escrever pessoalmente um comentário gaudiya. Esse comentário deveria ser baseado no comentário de Madhva, mas poderia ter algumas diferenças admissíveis. “Mostrarei a vocês o nosso comentário”, Baladeva disse. “Por favor, permitam que eu o traga”.

“Perfeitamente, solicite então o envio do mesmo”, consentiu o porta-voz ramanandi.

“Isso não será possível”, respondeu Baladeva. “Precisarei de alguns dias para escrevê-lo”.

Os ramanandis ficaram atônitos. Seria Baladeva capaz de produzir um comentário dentro de poucos dias? Que audácia! Contudo, caso Baladeva pudesse realmente produzi-lo, a posição dos ramanandis poderia ser ameaçada. Será que deveriam conceder-lhe o tempo por ele solicitado?

Antes que pudessem dizer algo, o rei Jai Singh se interpôs. “Sim, o tempo está concedido. Prepare o seu comentário e notifique-nos quando ele estiver pronto. Você precisa saber que, a não ser que apresente um comentário apropriado, aceitaremos as críticas dos ramanandis como válidas. Eu, porém, não atenderei nenhuma exigência deles até que você tenha tido a oportunidade de apresentar seu comentário e seus argumentos”.

Govindaji Inspira Baladeva

Baladeva deixou a assembleia, seguido por Krishnadeva Sarvabhauma. Baladeva viu-se um títere nas mãos do Senhor. Ele havia falado destemidamente na assembleia, mas iria o Divino Titereiro guiar sua escrita?

Baladeva partiu para Govindapura. Colocando-se diante de Govinda, ele ajoelhou-se e orou. “Ó Govinda, Vosso devoto Visvanatha enviou-me aqui a fim de defender tanto Vós como Vossos devotos, mas não sou capaz de fazê-lo! Sou simplesmente uma alma caída em ignorância. Caso queirais, podeis dotar-me de poder para escrever um comentário ao Vedanta-sutra que Vos glorifique. Caso queirais, escreverei as verdades que aprendi com Vossos devotos e com Vossa escritura. E tenho fé de que, mediante a misericórdia que Vós podeis conceder, essas verdades se mostrarão absolutamente lógicas”.

Baladeva então começou a escrever. Fazendo raras pausas para descansar, ele escrevia e orava e então escrevia novamente. Dias se passaram, e noites, mas ele não parou. Alguns historiadores dizem que ele escreveu ao longo de um mês. Outros dizem que ele precisou de apenas sete dias.

Em todo caso, Baladeva logo retornou de Govindapura. Com o evento de sua chegada, intensa expectativa se fez presente em todos. Jai Singh, esperando ver os gaudiyas vindicados, estava especialmente ansioso por ler o comentário. Os ramanandis, por outro lado, aguardavam o comentário com certo temor, esperando que pudessem derrotá-lo prontamente.

Baladeva entrou na corte do debate convocado em Galta. Ele ficou de um lado com os mahantas gaudiyas. Diante deles, estavam os panditas ramanandis. O rei Jai Singh presidia o evento, e uma audiência de nobres e estudiosos formava a plateia.

Com a permissão do rei, Baladeva colocou-se de pé.

“Este comentário”, ele disse mostrando sua obra, “baseia-se no comentário de Madhva, mas há importantes referências. Caso seja examinado, constatar-se-á que ele defende a filosofia gaudiya, ensinada pelo Senhor Chaitanya”.

Um pandita ramanandi caminhou até Baladeva e pegou o comentário.

“Quem é o autor desta obra?”, ele perguntou.

Baladeva respondeu: “O nome do comentário é Govinda-bhasya. Govinda inspirou essa obra. Eu forneci os significados diretos dos sutras de acordo com o desejo de Sri Chaitanya Mahaprabhu. E meus comentários são baseados nos ensinamentos dos meus gurus”.

Os eruditos membros do contingente ramanandi examinaram a primeira porção do bhasya de sorte a determinar se o mesmo era como declarado por Baladeva.

Um porta-voz admitiu: “A influência de Madhva é certamente demonstrável neste comentário, mas devemos examinar algumas das diferenças”.

Baladeva então abordou cada uma das objeções dos ramanandis à adoração gaudiya.

“Eu esclareço cada aspecto da prática gaudiya no capítulo terceiro”, ele disse. “Uma vez que suas críticas referem-se ao nosso estilo de adoração, vocês deveriam consultar o capítulo terceiro a fim de verem como Vyasa, o autor do Vedanta-sutra, permite a nossa adoração. Vocês objetam a nossa adoração de Radha com Govinda por meio do argumento artificial de que Eles não são casados. Nos versos de número quarenta a quarenta e dois, apresento a verdadeira posição de Radha em relação a Krishna. Radha é a energia interna de Krishna e jamais é separada dEle. Sua relação pode ser parakiya ou svakiya, mas isso não afeta a eternidade de Sua união. A separação de Radha e Govinda efetuada por vocês é artificial e, portanto, ofensiva ao Senhor, o qual nutre profunda afeição por Sua energia feminina”.

“Vocês criticaram a nossa predileção por adorar apenas Krishna, negligenciando a adoração a Narayana, Visnu”, continuou, “o que, vocês dizem, é compulsório a todos os vaishnavas. Abordo esse ponto em meus comentários ao verso quarenta e três. Segundo o Vedanta-sutra, Narayana pode ser adorado em qualquer uma de Suas formas, inclusive Krishna. Nenhuma injunção escritural proíbe a adoração de Govinda em exclusão a Narayana”.

Baladeva prosseguiu discursando enquanto os ramanandis permaneciam parados e indefesos. Ele falou eloquente e exaustivamente. Uma refutação dos ramanandis em momento algum se desenvolveu.

Ao fim da apresentação de Baladeva, o rei Jai Singh aguardou, ponderando acerca das evidências. O silêncio dos ramanandis confirmou sua opinião pessoal.

Ele apresentou sua decisão em uma afirmativa breve, mas conclusiva: “A evidência advogando a favor da legitimidade gaudiya é incontestável. De agora em diante, os gaudiyas serão reconhecidos e respeitados como uma seita religiosa autorizada. Ordeno a reunião de Radha com Govinda”.

Os mahantas gaudiyas em Ambes, finalmente livres das condenações dos ramanandis, celebraram o evento construindo um templo da vitória sobre a colina a contemplar do alto o vale Galta. A Deidade do templo foi apropriadamente chamada de Vijaya Gopala, “o vitorioso Gopala”.

Aos Pés de Govinda

Baladeva retornou para Vrindavana, onde assumiu a liderança da comunidade gaudiya. Ele continuou a escrever. Fiel a Jiva Gosvami e devotado ao Senhor Chaitanya, ele produziu comentários às dez principais Upanisads e a nove obras dos Gosvamis de Vrindavana. Ele também escreveu obras originais sobre gramática, drama, prosódia e poesia. Ele permaneceu a inquestionável autoridade em teologia vaishnava até sua morte.

Com a vitória de Baladeva sobre os ramanandis, Jai Singh ficou satisfeito. Ele havia encontrado a síntese das religiões vaishnavas. E Radha havia sido reunida a Govinda no altar, como é na eternidade. Jai Singh dedicou-se a Govinda e viveu uma vida longa e produtiva como rei e estudioso.

Em 1714, Jai Singh mudou Govinda para os jardins Jai Nivasa e O instalou em um jardim doméstico, onde foi adorado por vinte e um anos. Em 1735, o rei construiu um templo para Govinda dentro do complexo do palácio em Jaipur. Jai Singh posteriormente instalou Govinda como o rei de Jaipur e aceitou para si a posição de ministro. Desde então, seu brasão real lê: sri govinda-deva charana savai jai singh sharana: “O Senhor Govinda, em cujos pés Jai Singh se refugia”.

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Referências

Jiva Gosvami Tattvasandarbha, Stuart Mark Elkman (O comentário de Elkman inclui os comentários de Bhaktivinoda Thakura sobre Baladeva Vidyabhusana), Motilal Benarsidass, 1986.

Sri Sri gaudiya Vaishnava Abhidana, Sri Haridas Das, Haribol Kutir, Sri Dhama Navadvipa, 1955.

History and Culture of the Indian People, Vol. VII, R. C. Majumdar e outros, Bharatiya Vidya Bhavan, Bombaim, 1974.

Mathura, A District Memoir, Frederick S. Growse, Oudh Government Press, Allahabad, 1883.

Literary Heritage of the Rulers of Amber and Jaipura, Gopal Narayana Bahura, City Palace Museum, Jaipura, 1976.

Jaipur City, A. K. Roy (editora e data desconhecidos).

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Nārada-bhakti-sūtra: Os Segredos do Amor Transcendental

Nārada-bhakti-sūtra: Os Segredos do Amor Transcendental

25 I (obra completa - teologia) Narada-bhakti-sutra (ilustrado, bg) (4101)

Nesta obra rara, deparamo-nos com uma apresentação concisa, porém espiritualmente poderosa, da rendição amorosa ao Senhor Kṛṣṇa. Os aforismos têm grande impacto sobre o leitor e são relevantes para praticantes de bhakti-yoga em todos os estágios da prática.

Capítulo 1: O Valor da Devoção

VERSO 1

athāto bhaktiṁ vyākhyāsyāmaḥ

atha — agora; ataḥ — portanto; bhaktim — o serviço devocional; vyākhyāsyāmaḥ — tentaremos explicar.

Agora, portanto, tentarei explicar o processo do serviço devocional.

VERSO 2

sā tv asmin parama-prema-rūpā

 — ele; tu — e; asmin — por Ele (o Senhor Supremo); parama — o mais elevado; prema — amor puro; rūpā — tem por forma.

O serviço devocional manifesta-se como o mais elevado e puro amor a Deus.

VERSO 3

amṛta-svarūpā ca

amṛta — imortalidade; svarūpā — tendo como sua essência; ca — e.

Esse amor puro por Deus é eterno.

VERSO 4

yal labdhvā pumān siddho bhavaty amṛto bhavati tṛpto bhavati

yat — o que; labdhvā — uma vez alcançado; pumān — a pessoa; siddhaḥ — perfeita; bhavati — torna-se; amṛtaḥ — imortal; bhavati — torna-se; tṛptaḥ — pacífica; bhavati — torna-se.

Uma vez que tenha alcançado esse estágio de serviço devocional transcendental em amor puro por Deus, a pessoa se torna perfeita, imortal e pacífica.

VERSO 5

yat prāpya na kiñcid vāñchati na śocati na dveṣṭi na ramate notsāhī bhavati

yat — o que; prāpya — uma vez obtido; na kiñcit — nada; vāñchati — anseia por; na śocati — nem se lamenta; na dveṣṭi — não odeia; na ramate — não regozija; na — não; utsāhī — materialmente entusiástica; bhavati — torna-se.

Uma pessoa ocupada em semelhante serviço devocional puro não deseja algo para a gratificação sensorial, nem lamenta por alguma perda, nem odeia algo, nem desfruta de algo para si, tampouco encontra entusiasmo em atividades materiais.

VERSO 6

yaj jñātvā matto bhavati stabdho bhavaty ātmārāmo bhavati

yat — o que; jñātvā — uma vez compreendido; mattaḥ — intoxicado; bhavati — torna-se; stabdhaḥ — atordoado (em êxtase); bhavati — torna-se; ātma-ārāmaḥ — autossatisfeito (em decorrência de estar ocupado no serviço ao Senhor); bhavati — torna-se.

Aquele que compreende perfeitamente o processo do serviço devocional em amor ao Supremo se intoxica com sua execução. Algumas vezes, ele fica atordoado em êxtase e, destarte, desfruta de seu próprio eu, estando ocupado a serviço do Eu Supremo.

VERSO 7

sā na kāmayamānā nirodha-rūpatvāt

 — esse serviço devocional em amor puro por Deus; na — não; kāmayamānā — como luxúria ordinária; nirodha — renúncia; rūpatvāt — por ter como sua forma.

Não há questão de luxúria na execução do serviço devocional puro, pois, em tal serviço, todas as atividades materiais são renunciadas.

VERSO 8

nirodhas tu loka-veda-vyāpāra-nyāsaḥ

nirodhaḥ — renúncia; tu — ademais; loka — dos costumes sociais; veda — e das escrituras reveladas; vyāpāra — às ocupações; nyāsa — renúncia.

Tal renúncia no serviço devocional significa abandonar toda sorte de costumes sociais e rituais religiosos regidos pela injunção védica.

*Os versos de 1 a 8 são traduções de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

VERSO 9

tasminn ananyatā tad-virodhiṣūdāsīnatā ca

tasmin — a Ele; ananyatā — dedicação exclusiva; tat — a Ele; virodhiṣu — a tudo o que se oponha; udāsīnatā — indiferença; ca — e.

Renúncia também significa dedicar-se exclusivamente ao Senhor e ser indiferente a tudo o que se oponha ao Seu serviço.

VERSO 10

anyāśrayāṇāṁ tyāgo ‘nanyatā

anya — outros; āśrayāṇām — de refúgios; tyāgaḥ — a rejeição; an-anyatā — exclusividade.

Dedicação exclusiva ao Senhor significa rejeitar todos os outros refúgios.

VERSO 11

loka-vedeṣu tad-anukūlācaraṇaṁ tad-virodhiṣūdāsīnatā

loka — na sociedade e nos assuntos políticos; vedeṣu — e nos rituais védicos; tat — disso; anukūla — do que é favorável; ācaraṇam — execução; tat — a isso; virodhiṣu — ao que se opõe; udāsīnatā — indiferença.

Indiferença ao que se oponha ao serviço devocional significa aceitar apenas aquelas atividades dos costumes sociais e das injunções védicas que sejam favoráveis ao serviço devocional.

VERSO 12

bhavatu niścaya-dārḍhyād ūrdhvaṁ śāstra-rakṣaṇam

bhavatu — deve haver; niścaya — na certeza; dārḍhyāt — a firme determinação; ūrdhvam — após; śāstra — das escrituras; rakṣaṇam — o cumprimento.

O indivíduo deve continuar seguindo as injunções escriturais mesmo após ter-se fixado com determinação na certeza de que o serviço devocional é o único caminho para o logramento da perfeição da vida.

VERSO 13

anyathā pātitya-śaṅkayā

anyathā — caso contrário; pātitya — de queda; śaṅkayā — possibilidade.

Caso contrário, existe grande possibilidade de queda.

VERSO 14

loke ‘pi tāvad eva bhojanādi-vyāpāras tv ā-śarīra-dhāraṇāvadhi

loke — em comportamento social; api — também; tāvat — enquanto; eva — com efeito; bhojana — alimentação; ādi — e assim por diante; vyāpāraḥ — a atividade; tu — e; ā-śarīra-dhāraṇā-avadhi — enquanto o corpo durar.

Pois, enquanto o corpo durar, a pessoa certamente precisa ocupar-se o mínimo necessário em atividades sociais e políticas, bem como em necessidades básicas, como a alimentação.

Capítulo 2: Definindo Bhakti

VERSO 15

tal-lakṣaṇāni vācyante nānā-mata-bhedāt

tat — disso (o serviço devocional); lakṣaṇāni — as características; vācyante — serão anunciadas; nānā — várias; mata — teorias; bhedāt — de acordo com diferentes.

Agora, as características do serviço devocional serão descritas de acordo com a opinião de várias autoridades.

VERSO 16

pūjādiṣv anurāga iti pārāśaryaḥ

pūjā-ādiṣu — por adorar e assim por diante; anurāgaḥ — afeição; iti — assim considera; pārāśaryaḥ — o filho de Parāśara (Vyāsadeva).

Śrīla Vyāsadeva, o filho de Parāśara Muni, diz que bhakti é o afeiçoado apego por adorar o Senhor de várias maneiras.

VERSO 17

kathādiṣv iti gargaḥ

kathā-ādiṣu — por narrações e assim por diante; iti — afirma deste modo; garga — Garga Muni.

Garga Muni afirma que bhakti é apreço por narrações acerca do Senhor, pelas palavras proferidas pelo Senhor e assim por diante.

VERSO 18

ātma-raty-avirodheneti śāṇḍilyaḥ

ātma — em relação à Superalma; rati — ao prazer; avirodhena — pela liberdade das obstruções; iti — assim declara; śāṇḍilyaḥ — Śāṇḍilya.

Śāṇḍilya declara que bhakti resulta de o sujeito remover todas as obstruções para obter prazer no Eu Supremo.

VERSO 19

nāradas tu tad-arpitākhilācāratā tad-vismaraṇe parama-vyākulateti

nāradaḥ — Nārada; tu — entretanto; tat — a Ele; arpita — oferecer; akhila — todas; ācāratā — as atividades; tat — dEle; vismaraṇe — esquecer-se; parama — a suprema; vyākulatā — aflição; iti — deste modo.

Nārada, entretanto, afirma que bhakti consiste em oferecer todos os atos ao Senhor Supremo e em considerar o esquecimento do Senhor como a pior aflição.

VERSO 20

asty evam evam

asti — são acertadas; evam evam — todas essas descrições.

Todas essas descrições descrevem corretamente bhakti.

VERSO 21

yathā vraja-gopikānām

yathā — como; vraja — de Vraja; gopikānām — as pastoras de vacas.

As pastoras de vacas de Vraja exemplificam a bhakti pura.

VERSO 22

tatrāpi na māhātmya-jñāna-vismṛty-apavādaḥ

tatra — nesse caso; api — nem mesmo; na — não há; māhātmya — da grandeza; jñāna — da ciência; vismṛti — ao esquecimento; apavādaḥ — crítica.

No caso das gopīs, ninguém pode criticá-las por se esquecerem da grandeza do Senhor.

VERSO 23

tad-vihīnaṁ jārāṇām iva

tat — disso (da consciência da grandeza do Senhor); vihīnam — destituída; jārāṇām — os casos ilícitos entre amantes; iva — como.

Por outro lado, a exibição de devoção sem conhecimento da grandeza de Deus não é melhor do que os casos ilícitos entre amantes.

VERSO 24

nāsty eva tasmiṁs tat-sukha-sukhitvam

na — não há; eva — com efeito; tasmin — nisso; tat — Sua; sukha — na felicidade; sukhitvam — o encontro de felicidade.

Em semelhante devoção falsa, o indivíduo não encontra prazer exclusivamente no prazer do Senhor.

VERSO 25

sā tu karma-jñāna-yogebhyo ‘py adhikatarā

 — isso; tu — no entanto; karma — ao trabalho fruitivo; jñāna — ao conhecimento especulativo; yogebhyaḥ — e à meditação mística; api — deveras; adhikatarā — superior.

O serviço devocional puro, no entanto, é deveras superior ao trabalho fruitivo, à especulação filosófica e à meditação mística.

VERSO 26

phala-rūpatvāt

phala — do fruto; rūpatvāt — por ser a forma.

Afinal, bhakti é o fruto de todo empenho.

VERSO 27

īśvarasyāpy abhimāni-dveṣitvād dainya-priyatvāc ca

īśvarasya — do Senhor Supremo; api — também; abhimāni — àqueles que são orgulhosos; dveṣitvāt — por ser avesso; dainya — à humildade; priyatvāt — por ser afeito; ca — e.

Importante adicionar, o Senhor é avesso ao orgulho e Se apraz com a humildade.

VERSO 28

tasyā jñānam eva sādhanam ity eke

tasyāḥ — disso (bhakti); jñānam — conhecimento; eva — apenas; sādhanam — o meio; iti — dizem assim; eke — alguns.

Alguns dizem que o conhecimento é o meio para o desenvolvimento da devoção.

VERSO 29

anyonyāśrayatvam ity eke

anyonya — mútua; āśrayatvam — dependência; iti — consideram assim; eke — outros.

Outros consideram bhakti e conhecimento como sendo interdependentes.

VERSO 30

svayaṁ phala-rūpeti brahma-kumāraḥ

svayam — seu próprio; phala-rūpā — manifesta-se como o fruto; iti — assim diz; brahma-kumāraḥ — o filho de Brahmā (Nārada).

Contudo, Nārada, o filho de Brahmā, diz que bhakti é seu próprio fruto.

VERSO 31-32

rāja-gṛha-bhojanādiṣu tathaiva dṛṣṭatvāt
na tena rāja-paritoṣaḥ kṣuc-chāntir vā

rāja — régia; gṛha — em uma residência; bhojana—em uma refeição; ādiṣu — e assim por diante; tathā eva — como; dṛṣṭatvāt — por ver; na — não; tena — mediante isso; rāja — do rei; paritoṣaḥ — a satisfação; kṣut — da fome; śāntiḥ — a saciação;  — ou.

Isto é ilustrado pelos exemplos de um palácio régio, uma refeição e assim por diante. Um rei não fica realmente satisfeito simplesmente por ver um palácio, tampouco alguém pode aplacar sua fome simplesmente olhando para uma refeição.

VERSO 33

asmāt saiva grāhyā mumukṣubhiḥ

asmāt — por conseguinte;  — isso; eva — apenas; grāhyā — deve ser aceito; mumukṣubhiḥ — por pessoas que desejam a liberação.

Portanto, aqueles que buscam pela liberação devem adotar exclusivamente o serviço devocional.

Capítulo 3: Os Meios de Obtenção

VERSO 34

tasyāḥ sādhanāni gāyanty ācāryāḥ

tasyāḥ — disso; sādhanāni — os meios para desenvolvimento; gāyanti — descrevem; ācāryāḥ — os grandes instrutores.

As grandes autoridades descrevem os métodos para a obtenção do serviço devocional.

VERSO 35

tat tu viṣaya-tyāgāt saṅga-tyāgāc ca

tat — isso; tu — e; viṣaya — da gratificação dos sentidos; tyāgāt — através da rejeição; saṅga — de companhias mundanas; tyāgāt — através da rejeição; ca — e.

Obtém-se bhakti abandonando a gratificação sensorial e as companhias mundanas.

VERSO 36

avyāvṛtta-bhajanāt

 avyāvṛtta — ininterrupta; bhajanāt — pela adoração.

Obtém-se bhakti adorando o Senhor incessantemente.

VERSO 37

loke ‘pi bhagavad-guṇa-śravaṇa-kīrtanāt

loke — no mundo; api — mesmo; bhagavat — do Senhor Supremo; guṇa — sobre as qualidades; śravaṇa — ouvindo; kīrtanāt — e cantando.

Obtém-se bhakti ouvindo e cantando sobre as qualidades especiais do Senhor Supremo, mesmo enquanto ocupado nas atividades ordinárias deste mundo.

VERSO 38

mukhyatas tu mahat-kṛpayaiva bhagavat-kṛpā-leśād vā

mukhyataḥ — primariamente; tu — todavia; mahat — das grandes almas; kṛpayā — pela misericórdia; eva — com efeito; bhagavat — do Senhor Supremo; kṛpā — da misericórdia; leśāt — por um traço;  — ou.

Primariamente, todavia, desenvolve-se bhakti pela misericórdia das grandes almas, ou por uma pequena gota da misericórdia do Senhor.

VERSO 39

mahat-saṅgas tu durlabho ‘gamyo ‘moghaś ca

mahat — das grandes almas; saṅgaḥ — a companhia; tu — porém; durlabhaḥ — difícil de obter; agamyaḥ — difícil de compreender; amoghaḥ — infalível; ca — também.

A companhia de grandes almas é algo raramente obtido, difícil de entender e infalível.

VERSO 40

labhyate ‘pi tat-kṛpayaiva

labhyate — obtém-se; api — contudo; tat — dEle (do Senhor Supremo); kṛpayā — pela misericórdia; eva — unicamente.

A companhia de grandes almas pode ser obtida – mas unicamente pela misericórdia do Senhor.

VERSO 41

tasmiṁs taj-jane bhedābhāvāt

tasmin — entre Ele; tat — a Ele; jane — e aqueles associados; bheda — de diferença; abhāvāt — devido à ausência.

[Pode-se obter bhakti quer pela companhia dos devotos puros do Senhor, quer diretamente pela misericórdia do Senhor porque] o Senhor e Seus devotos puros não são diferentes um do outro.

VERSO 42

tad eva sādhyatāṁ tad eva sādhyatām

tat — por isso; eva — somente; sādhyatām — esforcemo-nos; tat — por isso; eva — somente; sādhyatām — esforcemo-nos.

Esforcemo-nos e esforcemo-nos somente por conseguir a companhia dos devotos puros.

VERSO 43

duḥsaṅgaṁ sarvathaiva tyājyaḥ

duḥsaṅgam — de companhias degradantes; sarvathā — toda sorte; eva — em definitivo; tyājyaḥ — deve-se abandonar.

Em definitivo, deve-se abandonar toda sorte de companhia degradante.

VERSO 44

kāma-krodha-moha-smṛti-bhraṁśa-buddhi-nāśa-sarva-nāśa-kāraṇatvāt

kāma — de luxúria; krodha — de ira; moha — de confusão; smṛti-bhraṁśa — esquecimento; buddhi-nāśa — perda da determinação; sarva-nāśa — e perda de tudo; kāraṇatvāt — porque são a causa.

Companhias mundanas promovem em nós o desejo de autogratificação, ira, confusão quanto ao que deve ser feito e ao que não deve ser feito, esquecimento dos benefícios de seguirmos as instruções escriturais, a perda da determinação em seguir tais instruções e, deste modo, acarretam completa calamidade em nossas vidas.

VERSO 45

taraṅgitā apīme saṅgāt samudrāyanti

taraṅgitāḥ — formando ondas; api — com efeito; ime — esses; saṅgāt — das más companhias; samudrāyanti — criam um oceano.

Surgindo das más companhias como ondas, esses efeitos maléficos se combinam em um grande oceano de miséria.

VERSO 46

kas tarati kas tarati māyāṁ yaḥ saṅgaṁ tyajati yo mahānubhāvaṁ sevate nirmamo bhavati

kaḥ — quem; tarati — transpõe; kaḥ — quem; tarati — transpõe; māyām — toda ilusão; yaḥ — aquele que; saṅgam — más companhias; tyajati — abandona; yaḥ — aquele que; mahā-anubhāvam — os sábios; sevate — serve; nirmamaḥ — livre de egoísmo; bhavati — torna-se.

Quem é capaz de transpor toda ilusão? Quem é semelhante indivíduo? Aquele que abandona as más companhias, serve os sábios e assume uma postura de vida abnegada.

VERSO 47

yo vivikta-sthānaṁ sevate yo loka-bandham unmūlayati nistraiguṇyo bhavati yo yoga-kṣemaṁ tyajati

yaḥ — aquele que; vivikta — recluso; sthānam — fica em um local; sevate — serve; yaḥ — aquele que; loka — à sociedade mundana; bandham — o apego; unmūlayati — desarraiga; nistrai-guṇyaḥ — livre da influência dos três modos da natureza material; bhavati — torna-se; yaḥ — aquele que; yoga — desejo de obter; kṣemam — e segurança; tyajati — renuncia.

Pode superar a ilusão aquele que é reservado, corta pela raiz seu apego pela sociedade mundana, livra-se da influência dos três modos da natureza e renuncia o desejo por ganho material e segurança.

VERSO 48

yaḥ karma-phalaṁ karmāṇi sanyasyati tato nirdvandvo bhavati

yaḥ — aquele que; karma-phalam — os frutos do trabalho material; karmāṇi — suas atividades materiais; sanyasati — renuncia; tataḥ — assim; nirdvandvaḥ — inafetado pelas dualidades; bhavati — torna-se.

Pode superar a ilusão aquele que renuncia os deveres materiais e os resultados decorrentes dos mesmos, transcendendo, deste modo, as dualidades.

VERSO 49

yo vedān api sanyasyati kevalam avicchinnānurāgaṁ labhate

yaḥ — aquele que; vedān — os Vedasapi — até mesmo; sanyasyati — renuncia; kevalam — exclusiva; avicchinna — ininterrupta; anurāgam — atração amorosa; labhate — logra.

Aquela pessoa que renuncia até mesmo os Vedas logra atração exclusiva e ininterrupta por Deus.

VERSO 50

sa tarati sa tarati lokāṁs tārayati

saḥ — semelhante pessoa; tarati — transpõe; saḥ — semelhante pessoa; tarati — transpõe; lokān — as pessoas deste mundo; tārayati — faz com que transponham.

Semelhante pessoa certamente se liberta, e também liberta o restante do mundo.

Capítulo 4: Devoção Pura e Mista

VERSO 51

anirvacanīyaṁ prema-svarūpam

anirvacanīyam — indescritível; prema — do amor por Deus em seu estado maduro; svarūpam — a identidade essencial.

A verdadeira natureza do amor puro por Deus é indescritível.

VERSO 52

mūkāsvādana-vat

mūkā — de um mudo; āsvādana — a descrição do sabor; vat — como.

[Tentar descrever a experiência do amor puro por Deus] é como um mudo esforçar-se na tentativa de descrever o que saboreia.

VERSO 53

prakāśyate kvāpi pātre

prakāśyate — é revelado; kva api — de tempos em tempos; pātre — àqueles que são aptos a receber.

Não obstante, de tempos em tempos, o amor puro por Deus é revelado àqueles que são aptos a receber tal revelação.

VERSO 54

guṇa-rahitaṁ kāmanā-rahitaṁ pratikṣaṇa-vardhamānam avicchinnaṁ sūkṣma-taram anubhava-rūpam

guṇa — de qualidades materiais; rahitam — destituída; kāmanā — de desejos materiais; rahitam — destituída; prati-kṣaṇa — a todo instante; vardhamānam — crescente; avicchinnam — ininterrupto; sūkṣma-taram — mais sutil; anubhava — consciência; rūpam — como sua forma.

O amor puro por Deus se manifesta como a mais sutil consciência, destituída de qualidades materiais e desejos materiais, e tal amor, além de ininterrupto, cresce a todo instante.

VERSO 55

tat prāpya tad evāvalokayati tad eva śṛṇoti tad eva bhāṣayati tad eva cintayati

tat — isso; prāpya — uma vez que tenha auferido; tat — Deus; eva — apenas; avalokayati — vê; tat — Deus; eva — apenas; śṛṇoti — ouve sobre; tat — Deus; eva — apenas; bhāṣayati — fala sobre; tat — Deus; eva — apenas; cintayati — pensa em.

Uma vez que tenha auferido amor puro por Deus, o sujeito vê apenas Deus, ouve apenas sobre Deus, fala apenas sobre Deus e pensa apenas em Deus.

VERSO 56

gauṇī tridhā guṇa-bhedād ārtādi-bhedād vā

gauṇī — secundário; misturado com os modos materiais; tridhā — tríplices; guṇa — dos modos materiais; bhedāt — pela diferenciação; ārta — daquele que está aflito; ādi — e assim por diante; bhedāt — pela diferenciação;  — ou.

O serviço devocional secundário é de três espécies, de acordo com qual modo da natureza material predomina, ou de acordo com a motivação material – aflição e assim por diante – que conduziu o indivíduo a buscar por bhakti.

VERSO 57

uttarasmād uttarasmāt pūrva-pūrvo śreyāya bhavati

uttarasmāt uttarasmāt — do que cada seguinte; pūrva-pūrvaḥ — cada anterior; śreyāya bhavati — é considerado melhor.

Cada estágio anterior deve ser considerado melhor do que aquele que o sucede.

VERSO 58

anyasmāt saulabhyaṁ bhaktau

anyasmāt — do que mediante qualquer outro processo; saulabhyam — sucesso de fácil obtenção; bhaktau — mediante o serviço devocional.

É mais fácil alcançar o sucesso mediante o serviço devocional do que mediante qualquer outro processo.

VERSO 59

pramāṇāntarasyānapekṣatvāt svayaṁ pramāṇatvāt

pramāṇa — meios de conhecimento válido; antarasya — de outros; an-apekṣatvāt — por não depender; svayam — por si mesmo; pramāṇatvāt — por ser uma autoridade válida.

A razão para o serviço devocional ser o mais fácil de todos os processos espirituais é o fato de ele não depender de nenhuma outra autoridade para sua validação, porquanto ele é o padrão de autoridade.

VERSO 60

śānti-rūpāt paramānanda-rūpāc ca

śānti — a paz; rūpāt — corporifica; paramaānanda — o êxtase supremo; rūpāt — corporifica; ca — e.

Além disso, bhakti corporifica a paz e o êxtase supremo.

VERSO 61

loka-hānau cintā na kāryā niveditātma-loka-vedatvāt

loka — do mundo; hānau — em relação a perdas; cintā — preocupar-se; na kāryā — não se deve; nivedita — por ter rendido; ātma — seus; loka — afazeres mundanos; vedatvāt — e deveres védicos.

Após confiar ao Senhor todos os seus deveres mundanos e védicos, não é necessário se preocupar em relação a perdas materiais.

VERSO 62

na tatsiddhau loka-vyāvahāro heyaḥ kintu phala-tyāgas tat-sādhanaṁ ca kāryam eva

na — não; tat — disso (o serviço devocional); siddhau — na adoção; loka — ordinários; vyāvahāraḥ — afazeres; heyaḥ — deve abandonar; kintu — senão; phala — dos resultados; tyāgaḥ — o abandono; tat — disso (o serviço devocional); sādhanaṁ — conforme tenta progredir; ca — e; kāryam — deve ser feito; eva — certamente.

Mesmo após ter adotado o serviço devocional, o indivíduo não deve abandonar suas responsabilidades neste mundo, senão que deve continuar entregando os frutos de seu trabalho ao Senhor. E conforme tenta alcançar o estágio de devoção pura, certamente o indivíduo deve continuar executando os deveres prescritos.

VERSO 63

strī-dhana-nāstika-caritraṁ na śravaṇīyam

strī — referentes a sexo; dhana — referentes a dinheiro; nāstika — sem Deus; caritraṁ — descrições; na — não; śravaṇīyam — se deve ouvir.

Não se deve sentir prazer na audição de assuntos referentes a sexo, dinheiro e ateísmo.

VERSO 64

abhimāna-dambhādikaṁ tyājyam

abhimāna — vaidade; dambha — mentira; ādikam — e assim por diante; tyājyam — devem ser abandonados.

Vaidade, hipocrisia e posturas similares devem ser abandonadas.

VERSO 65

tad arpitākhilācāraḥ san kāma-krodhābhimānādikaṁ tasminn eva karaṇīyam

tat — a Ele; arpita — dedicando; akhila — todas; ācāraḥ — as ações; san — sentindo; kāma — desejos; krodha — raiva; abhimāna — orgulho; ādikam — e assim por diante; tasmin — em relação a Ele; eva — unicamente; karaṇīyam — a pessoa deve sentir.

Dedicando todas as atividades ao Senhor, a pessoa deve sentir desejo, raiva e orgulho unicamente em relação a Ele.

VERSO 66

tri-rūpa-bhaṅga-pūrvakaṁ nitya-dāsya-nitya-kāntā-bhajanātmakaṁ prema kāryaṁ premaiva kāryam

tri-rūpa — dos três modos da natureza material (as qualidades da bondade, da paixão e da ignorância); bhaṅga — rompendo; pūrvakam — já mencionados; nitya — perpétua; dāsya — postura de servo; nitya — perpétua; kāntā — como uma amante; bhajana — serviço; ātmakam — consistindo em; prema — amor puro; kāryam — deve-se manifestar; prema — amor puro; eva — unicamente; kāryam — deve-se manifestar.

Após romper a já mencionada cobertura dos três modos da natureza, deve-se agir somente em amor puro por Deus, permanecendo eternamente na disposição de um servo em relação ao seu mestre ou na disposição de uma amante em relação ao seu amado.

VERSO 67

bhaktā ekāntino mukhyāḥ

bhaktāḥ — devotos; ekāntinaḥ — unicamente; mukhyāḥ — principais.

Entre os devotos do Senhor, os mais grandiosos são aqueles que se dedicam a Ele unicamente como Seus servos íntimos.

VERSO 68

kaṇṭhāvarodha-romāśrubhiḥ parasparaṁ lapamānāḥ pāvayanti kulāni pṛthivīṁ ca

kaṇṭha — com a voz na garganta; avarodha — embargada; roma — com pelos arrepiados; aśrubhiḥ — e com lágrimas; parasparam — entre si; lapamānāḥ — conversando; pāvayanti — purificam; kulāni — suas comunidades; pṛthivīm — a Terra; ca — e.

Conversando entre si com vozes embargadas, pelos arrepiados e lágrimas a cascatearem, os servos íntimos do Senhor purificam seus seguidores e também o mundo inteiro.

VERSO 69

tīrthī-kurvanti tīrthāni su-karmī-kurvanti karmāṇi sac-chāstrī-kurvanti śāstrāṇi

tīrthī — locais sagrados; kurvanti — tornam; tīrthāni — os locais sagrados; su-karmī — atividades auspiciosas; kurvanti — tornam; karmāṇi — a atuação; sat — reais; śāstrī — as escrituras; kurvanti — tornam; śāstrāṇi — as escrituras.

Tais servos tornam sagradas as terras sagradas, tornam auspiciosas as atividades auspiciosas e evidenciam as escrituras.

VERSO 70

tan-mayāḥ

tat — dEle; mayāḥ — são cheios.

Os servos íntimos do Senhor Supremo encontram-se sempre inteiramente absortos em amor por Ele.

VERSO 71 

modante pitaro nṛtyanti devatāḥ sa-nāthā ceyaṁ bhūr bhavati

modante — regozijam-se; pitaraḥ — os antepassados; nṛtyanti — dançam; devatāḥ — os semideuses; sa-nāthā — possuidora de bons mestres; ca — e; iyam — esta; bhūḥ — Terra; bhavati — torna-se.

Assim, os antepassados dos devotos puros se regozijam, os semideuses dançam, e o mundo se sente protegido por bons mestres.

VERSO 72

nāsti teṣu jāti-vidyā-rūpa-kula-dhana-kriyādi-bhedaḥ

na asti — inexistem; teṣu — entre eles; jāti — de classe; vidyā — educação; rūpa — beleza; kula — família; dhana — riqueza; kriyā — ocupação; ādi — e assim por diante; bhedaḥ — diferenças.

Inexistem distinções entre tais devotos puros em termos de classe social, educação, beleza corpórea, status familiar, riqueza, ocupação e assim por diante.

VERSO 73

yatas tadīyāḥ

yataḥ — devido a que; tadīyāḥ — pertencem a Ele.

[Os devotos puros não se diferenciam por questões externas, como as classes sociais,] devido a que pertencem ao Senhor.

Capítulo 5: Atingindo a Perfeição

VERSO 74

vādo nāvalambyaḥ

vādaḥ — a debates; na — não; avalambyaḥ — dar-se.

O indivíduo não deve se dar a debates argumentativos.

VERSO 75

bāhulyāvakāśatvād aniyatatvāc ca

bāhulya — em excesso; avakāśatvāt — por envolver oportunidades; aniyatatvāt — por não ser decisiva; ca — e.

Semelhante discussão conduz a excessivas complicações e nunca é decisiva.

VERSO 76

bhakti-śāstrāṇi mananīyāni tad-bodhaka-karmāṇi karaṇīyāni

bhakti — atinentes ao serviço devocional; śāstrāṇi — as escrituras; mananīyāni — devem ser respeitadas; tat — por elas; bodhaka — trazidas; karmāṇi — as atividades prescritas; karaṇīyāni — devem ser executadas.

A pessoa deve respeitar as escrituras reveladas atinentes ao serviço devocional e deve cumprir os deveres que elas prescrevem.

VERSO 77

sukha-duḥkhecchā-lābhādi-tyakte kāle pratīkṣamāṇe kṣaṇārdham api vyarthaṁ na neyam

sukha — felicidade; duḥkha — infelicidade; icchā — desejo; lābha — exploração; ādi — e assim por diante; tyakte — abandonar; kāle — o momento; pratīkṣamāṇe — aguardando; kṣaṇa — de um momento; ardham — a metade; api — nem mesmo; vyartham — caprichosamente; na neyam — não deve ser desperdiçado.

Pacientemente perseverando até o momento em que possa deixar de lado a felicidade material, a aflição, o desejo e o falso ganho, não se deve desperdiçar sequer uma fração de segundo.

VERSO 78

ahiṁsā-satya-śauca-dayāstikyādi-cāritryāṇi paripālanīyāni

ahiṁsā — de não-violência; satya — veracidade; śauca — limpeza; dayā — compaixão; āstikya — fé; ādi — e assim por diante; cāritryāṇi — as qualidades; paripālanīyāni — devem ser cultivadas.

Boas qualidades como não-violência, veracidade, limpeza, compaixão e fé devem ser cultivadas.

VERSO 79

sarvadā sarva-bhāvena niścintair bhagavān eva bhajanīyaḥ

sarvadā — sempre; sarva-bhāvena — com todos os sentimentos; niścintaiḥ — por aqueles que estão livres de dúvidas; bhagavān — o Senhor Supremo; eva — com efeito; bhajanīyaḥ — deve ser adorado.

Aqueles que se encontram livres de dúvidas devem adorar constantemente o Senhor Supremo de todo o seu coração.

VERSO 80

sa kīrtyamānaḥ śīghram evāvirbhavaty anubhāvayati bhaktān

saḥ — Ele; kīrtyamānaḥ — sendo glorificado; śīghram — rapidamente; eva — com efeito; avirbhavati — aparece; anubhāvayati — permite o conhecimento; bhaktān — aos devotos.

Quando é glorificado, o Senhor rapidamente Se revela aos Seus devotos e permite que estes O conheçam como Ele é.

VERSO 81

tri-satyasya bhaktir eva garīyasī bhaktir eva garīyasī

tri — de três maneiras (através de sua mente, de seu corpo e de suas palavras); satyasya — para quem é honesto; bhaktiḥ — o serviço devocional; eva — somente; garīyasī — mais precioso; bhaktiḥ — o serviço devocional; eva — somente; garīyasī — o mais precioso.

O serviço devocional é a posse mais preciosa de uma pessoa que honestamente utiliza sua mente, seu corpo e suas palavras.

VERSO 82

guṇa-māhātmyāsakti-rūpāsakti-pūjāsakti-smaraṇāsak ti-dāsyāsakti-sakhyāsakti-vātsalyāsakti-kāntāsakty-ā tma-nivedanāsakti-tan-mayāsakti-parama-virahāsakti-rūpai kadhāpy ekādaśadhā bhavati

guṇa — das qualidades (do Senhor); māhātmya — à grandeza; āsakti — apego; rūpa — à Sua beleza; āsakti — apego; pūjā — à adoração; āsakti — apego; smaraṇa — à lembrança; āsakti — apego; dāsya — ao serviço; āsakti — apego; sakhya — à amizade; āsakti — apego; vātsalya — à afinidade parental; āsakti — apego; kāntā — como um amante conjugal; āsakti — apego; ātma — do próprio eu; nivedana — à oferenda; āsakti — apego; tat-maya — a estar absorto em pensar nEle; āsakti — apego; parama — supremo; viraha — à saudade; āsakti — apego; rūpā — tendo como suas formas; ekadhā — em número de um; api — embora; ekādaśakhā — onze; bhavati — se torna.

Embora o serviço devocional seja um, ele se manifesta em onze formas de apego: apego às gloriosas qualidades do Senhor, à Sua beleza, à adoração a Ele, à lembrança dEle, a servi-lO, a ser Seu amigo, a cuidar dEle como cuida um pai ou uma mãe, a lidar com Ele como um amante, a render inteiramente o próprio eu a Ele, a absorver-se em pensar nEle, e a sentir saudades dEle. O último é o apego supremo.

VERSO 83

ity evaṁ vadanti jana-jalpa-nirbhayā eka-matāḥ kumāra-vyāsa-śuka-śāṇḍilya-garga-viṣṇu-kauṇḍilya-śeṣoddhavāruṇi-bali-hanūmad-vibhīṣaṇādayo bhakty-ācāryāḥ

iti — então; evam — desta maneira; vadanti — dizem; jana — das pessoas comuns; jalpa — da conversa mundana; nirbhayāḥ — sem medo; eka — de uma; matāḥ — opinião; kumāra-vyāsa-śuka-śāṇḍilya-garga-viṣṇu-kauṇḍilya-śeṣa-uddhava-aruṇi-bali-hanūmat-vibhīṣaṇa-ādayaḥ — os Kumāras, Vyāsa, Śuka, Śāṇḍilya, Garga, Viṣṇu, Kauṇḍilya, Śeṣa, Uddhava, Aruṇi, Bali, Hanumān, Vibhīṣaṇa e outros; bhakti — do serviço devocional; ācāryāḥ — as autoridades.

Assim dizem as autoridades do serviço devocional – os Kumāras, Vyāsa, Śuka, Śāṇḍilya, Garga, Viṣṇu, Kauṇḍilya, Śeṣa, Uddhava, Aruṇi, Bali, Hanumān, Vibhīṣaṇa e outros –, o que dizem sem medo das conversas mundanas das pessoas ordinárias e compartilhando entre si a mesma opinião.

VERSO 84

ya idaṁ nārada-proktaṁ śivānuśāsanaṁ viśvasiti śraddhate sa bhaktimān bhavati sa preṣṭhaṁ labhate sa preṣṭhaṁ labhata iti

yaḥ — quem; idam — este; nārada-proktam — falado por Nārada; śiva — auspicioso; anuśāsanam — instrução; viśvasiti — confia; śraddhate — é convencido por; saḥ — ele; bhakti-mān — possuidor de devoção; bhavati — torna-se; saḥ — ele; preṣṭham — o mais querido (o Senhor Supremo); labhate — alcança; saḥ — ele; preṣṭham — o mais querido; labhate — alcança; iti — assim.

Qualquer um que confie nestas instruções dadas por Nārada e sinta-se convencido por elas será abençoado com devoção e alcançará o mais querido Senhor. Sim, ele alcançará o mais querido Senhor.

Neste ponto, encerra-se a obra Narada-bhakti-sutra

Fonte: https://voltaaosupremo.com/artigos/obras-completas/narada-bhakti-sutra-os-segredos-do-amor-transcendental/

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Respondendo perguntas e fazendo alguns comentários gerais.

Hoje é dia do sagrado jejum de Sri Ekadasi Bhaimi ou Jaya Ekadasi dia 23/02/2021 Lendo a História . Podcast conservador sobre: política , filosofia, arte, cultura, educação, pedagogia , religião



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Hoje é dia do sagrado Sri Ekadasi Bhaimi ou Jaya Ekadasi, 23/02/2021 A história deste jejum



A História do Bhaimi Ekadashi

Extraído do livro Ekadashi, o dia do Senhor Hari, de S.S. Krishna Balarama Swami.

Maharaja Yudisthira disse: Ó Senhor dos senhores, Sri Krishna, todas as glórias a Você! Ó mestre do universo, unicamente Você é a causa do aparecimento dos quatros tipos de entidades vivas – Aquelas que nascem de ovos, aquelas que nascem da transpiração, aquelas que nascem de sementes e aquelas que nascem de embriões, – Somente Você é a causa básica de todos, e, portanto, Você é o criador, mantenedor e o destruidor. Meu Senhor, Você explicou tão bondosamente para mim o dia auspicioso do Sat Tila Ekadashi, o qual ocorre durante o quarto minguante do mês Magha (Janeiro/Fevereiro), agora, por favor, explique sobre o Ekadashi que ocorre durante o quarto crescente deste mês. Com que nome é conhecido? Qual o processo para observá-lo? Qual é a deidade que deve ser adorada neste dia sublime? O qual é muito querido para Você.

O Senhor Sri Krishna respondeu: Ó Yudhisthira, Eu falarei com alegria para você, sobre o Ekadashi que ocorre durante o quarto crescente do mês Magha. Este Ekadashi destrói todos os tipos de reações pecaminosas, e influências demoníacas que afetam a alma espiritual. Ele também é conhecido como Jaya Ekadashi e a alma afortunada que observa o jejum nesse dia alivia-se do grande peso de existência fantasmagórica. Desta maneira, não há Ekadashi melhor do que este, pois ele concede a liberação do ciclo de nascimentos e mortes. Ele deve ser honrado muito cuidadosamente.

Assim, Eu lhe peço que Me ouça muito atentamente enquanto explico o maravilhoso episódio histórico relativo a este Ekadashi, o qual Eu já narrei anteriormente no Padma Purana, ó Pandava! Muito, muito tempo atrás nos planetas celestiais, o senhor Indra governava o seu reino mui tranquilamente e todos os semideuses, viviam ali muito felizes e contentes.

Na floresta Nandana, a qual estava belamente decorada com flores parijata, Indra bebia Ambrósia a vontade e desfrutava do serviço de cinquenta milhões de apsaras (donzelas celestiais), as quais dançavam para o seu bel prazer. Muitos gandhavas (cantores e músicos celestiais), liderados por Puspadanta, cantavam a doce voz além de comparação. Citrasena, o líder dos músicos de Indra, estava ali na companhia de sua esposa Malini, e de seu filho Malyavam. Uma apsara de nome Puspavati encantou muito Malyavam; realmente, as flechas afiadas de cupido (nota 1) perfuraram o âmago do seu coração.

O belo corpo e compleição, junto com os movimentos encantadores das sobrancelhas de Puspavati, cativaram Malyavam.
Ó rei, ouça enquanto descrevo a beleza esplêndida de Puspavati: Ela tinha braços graciosos e incomparáveis, os quais podiam abraçar um homem como um fino laço de seda; sua face assemelhava-se à lua cheia; seus olhos de lótus chegavam quase até as orelhas, as quais estavam adornadas com maravilhosos brincos; seu pescoço ornamentado era fino e assemelhava-se a um búzio. Sua cintura era muito esguia e da largura de um punho; seus quadris eram largos e suas coxas eram como troncos de bananeiras; seus aspectos naturalmente belos estavam complementados pelos magníficos ornamentos e roupas; seus seios eram arrebitados e olhar seus pés, era como contemplar lótus vermelhos recém-desabrochados. Vendo Puspavati em toda sua beleza celestial, Malyavam logo se apaixonou. Eles tinham vindo com outros músicos e dançarinos, para agradar o senhor Indra por meio do canto e da dança envolvente. Mas, devido a eles terem se enamorado um pelo outro, com o coração trespassado pelas flechas do cupido, a luxúria personificada, eles estavam completamente incapazes de cantar e dançar apropriadamente, perante o senhor e mestre dos reinos celestiais.

A pronúncia deles e o ritmo descompassado fizeram o senhor Indra compreender a causa dos erros de imediato. Ofendido pela execução musical desafinada, Indra ficou muito irado e gritou bem alto: Seus tolos inúteis! Vocês pretendem cantar para mim estando na letargia da paixão um pelo outro? Vocês me ridicularizaram! Eu amaldiçoo vocês dois a sofrerem a partir de agora como pisaca (duende do mal).

Como marido e mulher vão para as regiões terrestres e colham as reações de suas ofensas. Emudecidos por essas palavras ásperas, Malyavam e Puspavati logo ficaram tristes e caíram da bela floresta Nandana no reino celestial, para um pico dos Himalaia aqui no planeta terra. Imensuravelmente tristes e com suas inteligências celestiais vastamente diminuídas pelos efeitos da poderosa maldição de Indra, eles perderam todo senso de paladar e olfato e até mesmo o sentido do tato. Estava tão frio naquele deserto de neve e gelo nos Himalaia, que eles nem podiam desfrutar do alívio do sono. Perambulando desamparadamente de lá para cá e de cá para lá naquela altitude desagradável, Malyavam e Puspavati sofriam mais e mais a cada momento.

Embora eles estivessem abrigados em uma caverna, devido à nevasca incessante e ao frio seus dentes batiam sem parar, e seus cabelos estavam arrepiados devido ao medo e espanto. 

Nesta situação totalmente desesperadora, Malyavam disse para Puspavati: Que pecados abomináveis nós cometemos para ter que sofrer nesses corpos de pisaca e neste ambiente hostil e inabitável? Isto é absolutamente infernal! Embora o inferno seja muito feroz, o sofrimento que estamos passando aqui é ainda mais severo. Portanto fica bem claro que ninguém deve cometer qualquer pecado.
E então os amantes desamparados arrastaram-se progredindo na neve e gelo. Entretanto, devido à boa-fortuna deles, aconteceu de que aquele mesmo dia era o Jaya Ekadashi, o Ekadashi do quarto crescente do mês Magha. Devido à miséria por que passavam, eles negligenciaram de beber água, matar alguma caça e até mesmo de comer as frutas e folhas disponíveis naquela altitude, eles observaram inconscientemente o Ekadashi jejuando completamente de todo tipo de alimento e bebida. Absortos na miséria Malyavam e Puspavati desmaiaram sob uma árvore pipal, conhecida como figueira dos pagodes, e nem sequer tentaram se levantar.  O sol tinha se posto naquela mesma hora. A noite foi ainda mais fria do que o dia. Eles tremiam na gélida nevasca e seus dentes batiam em uníssono e quando ficaram entorpecidos, eles se abraçaram mutuamente para manterem-se aquecidos. Preso um pelo braço do outro, eles não puderam gozar do sono nem do sexo. Assim eles sofreram durante toda noite devido à poderosa maldição de Indra.

Mesmo assim, ó Yudhisthira, pelos méritos alcançados com o jejum que eles tinham observado por acaso no Bhaimi Ekadashi, e devido a que eles permaneceram despertos por toda noite, eles foram maravilhosamente abençoados.

Ouça por favor, o que aconteceu no dia seguinte; assim que amanheceu no Dvadasi, Malyavam e Puspavati tinham abandonado suas formas demoníacas e eram novamente belos seres celestiais, usando ornamentos brilhantes e roupas exóticas. Enquanto eles se olhavam mutuamente surpresos, um aeroplano celestial (vimana) chegou ao local. Um coro de habitantes celestiais cantava suas glórias, enquanto o casal subia na bela aeronave e seguiam diretamente para as regiões celestiais, saudados pelas boas vindas de todos. Rapidamente Malyavam e Puspavati chegaram a Amaravati, a capital do senhor Indra. Eles imediatamente se apresentaram a seu senhor e ofereceram a ele com alegria suas reverências.

O senhor Indra ficou atônito, ao ver que eles tinham sido restaurados a suas formas e status originais, tão logo após terem sido amaldiçoados a sofrer como demônios, muito, muito abaixo do reino celestial. Indra então perguntou a eles: Que feitos extraordinariamente meritórios vocês executaram para que pudessem abandonar seus corpos de pisara tão rapidamente após eu ter amaldiçoados vocês?

Malyavam respondeu: Ó senhor, foi pela misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Vasudeva, e também pela influência poderosa do Jaya Ekadashi, que fomos aliviados da nossa condição sofredora como pisaca. Esta é a verdade, ó mestre; porque nós executamos serviço devocional ao Senhor Vishnu, jejuando no Ekadashi, o dia mais querido para Ele, nós recuperamos alegremente nosso status anterior.

Indra disse: Porque vocês serviram ao Supremo Senhor Kesava, através de seguir o Ekadashi, vocês tornaram-se adoráveis até mesmo por mim e eu posso ver que agora, vocês estão completamente purificados do pecado. Quem quer que se ocupe em serviço devocional ao Senhor Sri Hari, ou ao senhor Shiva, torna-se digno de ser adorado até mesmo por mim. Quanto a isto não há dúvida. O senhor Indra então deu a Malyavam e a Puspavati, toda liberdade de desfrutarem um do outro e a movimentarem-se em seu planeta celestial.

Ó Yudhisthira, portanto deve-se observar estritamente o jejum do dia do Senhor Hari, especialmente no Bhaimi Ekadashi, o qual liberta a pessoa até mesmo do pecado de matar um brahmana duas vezes nascido. A grande alma que observa este jejum com toda fé e devoção, já deu todos os tipos de caridades; executou todos os tipos de sacrifícios e de peregrinação. Banhou-se em todos os lugares santos. Jejuar no Jaya Ekadashi qualifica a pessoa a residir em Vaikunta e gozar de felicidade sem fim por bilhões de yugas, de fato, para sempre. Ó grande rei, até mesmo aquele que ouve ou lê estas glórias do Bhaimi Ekadashi, alcança o mérito que é obtido pela execução de um sacrifício Agnistoma, durante o qual os hinos do Sama Veda são recitados.

Assim termina a narração das glórias do Magha sukla Ekadashi, Bhaimi Ekadashi, também conhecido como Jaya Ekadashi, do Bhavisya Uttara Purana.

Nota 1 – Kamadeva, a luxúria personificada, tem cinco nomes de acordo com o dicionário Amara kosa:


Nome 1 – Kandarpa ou cupido, no Bhagavad Gita (10.28) Sri Krishna diz: “Dentre as causas da procriação, Eu sou Kandarpa.” A palavra Kandaroa também significa “muito belo.” Kandarpa apareceu como um dos filhos de Krishna em Dvaraka chamado Pradyunma.

Nome  2  – Darpaka, aquele que pode prever o futuro – Este nome indica que cupido pode saber o que acontecerá e prevenir este acontecimento. Especificamente, ele tenta impedir a atividade espiritual pura, por controlar a mente de alguém o forçando a ocupar-se no gozo dos sentidos.

Nome 3 – Ananga, que não tem corpo físico. Certa vez, quando cupido perturbou a meditação do senhor Shiva, este poderoso semideus reduziu cupido a cinzas. Mesmo assim, Shiva deu ao cupido a benção de que ele poderia agir no mundo, mesmo sem um corpo físico.

Nome 4 – Kama, a luxúria personificada, no Bhagavad Gita (7.11). O Senhor Sri Krishna diz: “Eu sou a vida sexual que não é contrária aos princípios religiosos”.

Nome 5 – Panca Saralh, aquele que porta cinco tipos de flechas. As cinco flechas com as quais o cupido perfura a mente das entidades vivas são: o sabor. o tato; o som; o olfato e a visão. Estes são os cinco nomes de cupido, o qual encanta todas as entidades vivas e faz com que elas executem o que ele quer. Sem a misericórdia do Guru autêntico e de Krishna, a pessoa não pode resistir ao seu poder.

Fim



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