Sayana ou Padma Jejum de Ekadasi 16
Yudhishthira Maharaja disse: “Ó Keshava,
qual o nome do Ekadashi que ocorre durante a quinzena clara do mês
de Ashadha (jun/jul)? Qual é a Deidade adorável para esse dia
auspicioso, e qual o processo de observá-lo?”.
O Senhor Sri Krishna respondeu: ”Ó
zelador deste planeta terreno, de bom grado contar-te-ei uma maravilhosa
história que o Senhor Brahma certa vez narrou a seu filho Naradaji”.
Certo dia Narada perguntou a seu
pai: “Qual o nome do Ekadashi que vem durante a parte clara do mês
de Ashadha? Por gentileza conta-me como posso observar este Ekadashi e
assim agradar o Senhor Supremo, Vishnu.”.
O Senhor Brahma respondeu: ”Ó grande
orador, ó melhor de todos sábios, ó mais puro devoto do Senhor Vishnu,
tua pergunta é excelente”. Não há nada melhor que Ekadashi, o dia do
Senhor Hari, neste ou em qualquer outro mundo. Ele nulifica até mesmo os
piores pecados se observado corretamente. Por esta razão vou contar-te
sobre Ashadha-sukla Ekadashi.
Jejuar neste Ekadashi nos purifica
de todos os pecados e realiza todos nossos desejos. Portanto, quem quer
que deixe de obserar este sagrado dia de jejum é um bom candidato a
entrar no inferno. Ashadha-sukla Ekadashi também é famoso
como Padma Ekadashi. Só para agradar a Hrshikesha, o senhor dos
sentidos, deve-se jejuar neste dia. Ouça cuidadosamente, ó Narada,
enquanto relato para ti uma história maravilhosa das escrituras sobre
este Ekadashi. Apenas por ouvir este relato já se destroem todos
os tipos de pecados, junto com todos os obstáculos na senda da perfeição
espiritual.
Ó filho, certa vez havia um rei santo na
dinastia solar cujo nome era Mandhata. Porque sempre defendia a
verdade, foi nomeado imperador. Cuidava de seus súditos como se fossem
seus próprios filhos. Devido a sua piedade e grande religiosidade, não
havia pestilência, seca, ou doença de qualquer tipo em seu reino. Todos
seus súditos não só estavam livres de todos tipos de perturbações mas
também eram muito ricos. O tesouro do próprio rei estava livre de
dinheiro ganho por meios não-recomendados, e assim ele governou
felizmente por muitos anos.
Certa vez, entretanto, devido a algum
pecado em seu reino, houve seca durante três anos. Os súditos viram-se
atormentados pela fome. A falta de grãos alimentícios tornava impossível
para eles realizarem os sacrifícios védicos, oferecer oblações a seus
antepassados e semideuses, realizarem adoração ritualística, ou até
mesmo estudar as literaturas védicas. Finalmente, todos vieram diante do
amado rei numa grande assembleia e disseram: “Ó rei, sempre tratas de
nosso bem-estar, portanto humildemente imploramos vossa assistência
agora. Todo mundo e tudo neste mundo precisa de água. Sem água, quase
tudo se torna inútil ou morto. Os Vedas chamam a água de nara,
e porque a Suprema Personalidade de Deus dorme sobre a água, Seu nome
é Narayana. Deus faz Sua própria morada na água e ali faz Seu descanso.
(1) Na Sua forma como as nuvens, o Senhor Supremo está presente pelo
céu afora e derrama a chuva, da qual crescem os grãos que mantém toda
entidade viva.
Ó rei, a severa seca causou uma falta de
valiosos grãos; assim estamos sofrendo, e a população está
diminuindo. Ó melhor governante da terra, por favor, encontre alguma
solução para este problema e traga-nos uma vez mais a paz e
prosperidade.”
O rei respondeu: “Falais a verdade, pois
os grãos são como Brahman, a Verdade Absoluta, que vive dentro dos
grãos e assim sustenta todos os seres. De fato, é por causa dos grãos
que o mundo inteiro vive. Agora, porque está havendo uma terrível seca
no nosso reino? As escrituras sagradas discutem este assunto mui
profundamente. Se um rei é irreligioso, tanto ele como seus súditos
sofrem. Meditei na causa de nosso problema durante muito tempo, mas após
examinar meu caráter passado e atual, honestamente posso dizer que não
encontro pecado. Ainda assim, para o bem de todos vós súditos, tentarei
remediar a situação.”.
Pensando assim, o Rei Mandhata reuniu
seu exército e séquito, prestou suas reverências a Mim, e depois entrou
na floresta. Vagou por aqui e por ali, buscando grandes sábios em seus ashramas e indagando sobre como resolver a crise em seu reino. Afinal encontrou o ashrama de
um de Meus outros filhos, Angira Muni, cuja refulgência iluminava
todas direçöes. Sentado em seu eremitério, Angira parecia um segundo
Brahma. O rei Mandhata estava muito feliz por ver esse exaltado sábio,
cujos sentidos estavam completamente sob controle.
O rei imediatamente desmontou de seu
cavalo e ofereceu suas respeitosas reverências aos pés de lótus
de Angira Rishi. Então o rei juntou suas palmas e orou por
suas bênçãos. Aquela pessoa santa reciprocou abençoando o rei com mantras sagrados, depois lhe perguntou sobre o bem-estar dos sete membros de seu reino. (2)
Após contar ao sábio como iam os sete
membros de seu reino, o rei Mandhata perguntou sobre a felicidade do
próprio sábio. Então Angira Rishi perguntou ao rei porque empreendera
tão difícil jornada na floresta, e o rei contou-lhe sobre a aflição que
seu reino estava passando. O rei disse: “Ó grande sábio, estou
governando e mantendo meu reino enquanto sigo as injunções védicas, e
assim não sei qual o motivo da seca. Para resolver este mistério,
aproximei-me de ti para tua ajuda. Por favor, ajuda-me a aliviar o
sofrimento de meus súditos.”.
Angira Rishi disse para o rei: “A
presente era, Satya-yuga, é a melhor de todas as eras, pois nessa era
o Dharma se apoia nas quatro pernas. (3) Nesta era todos respeitam brahmanas como os membros mais elevados da sociedade. Também, todos cumprem com seus deveres ocupacionais, e apenas brahmanas duas-vezes nascidos podem realizar austeridades védicas e penitências. Embora isto seja o padrão, ó leão entre os reis, há um shudra que
ilegalmente realiza os ritos da austeridade e penitência em teu
reino. É por isso que não há chuva no teu país. Por isso deves castigar
este trabalhador com a morte, pois por assim fazer removerás a
contaminação e restituirás a paz aos teus súditos.”
O rei replicou: “Como posso matar um realizador de austeridades sem ofensa? Por favor, dá-me alguma solução espiritual.”.
O grande sábio Angira disse: “Ó rei,
deves observar um jejum no Ekadashi que ocorre durante a quinzena clara
do mês de Ashadha. Este dia auspicioso se chama Padma Ekadashi, e por
sua influência abundantes chuvas certamente retornarão a teu
reino. Este Ekadashi confere a perfeição tanto aos fiéis observadores,
como remove todo tipo de maus elementos, e destrói todos obstáculos na
senda da perfeição. Ó rei, tu, teus parentes e teus súditos devem todos
observar este sagrado jejum de Ekadashi. Então tudo em vosso reino irá
indubitavelmente retornar ao normal.”
Ao ouvir estas palavras, o rei ofereceu
suas reverências e depois retornou a seu palácio. Quando
chegou Padma Ekadashi, o rei Mandhata reuniu todos os brahmanas, kshatriyas, vaishyas e shudras em
seu reino e instruiu-os a observarem estritamente este importante dia
de jejum. Depois que o haviam observado, caiu às chuvas, assim como o
sábio havia predito, e no devido tempo houve colheitas fartas e uma rica
safra de grãos. Pela misericórdia do Senhor Supremo Hrishikesha, o
senhor de todos os sentidos, todos súditos do rei Mandhata se tornaram
extremamente felizes e prósperos.
“Portanto, ó Narada, todos devem
observar este jejum de Ekadashi mui estritamente, pois confere toda
sorte de felicidade, bem como a liberação final, ao devoto fiel.”
O Senhor Sri Krishna concluiu: “Meu
querido Yudhishthira, Padma Ekadashi é tão poderoso que se pode
simplesmente ler ou ouvir suas glórias e ficar completamente sem
pecado. Ó Pandava, quem deseja agradar-Me deve observar estritamente
este Ekadashi, que também é conhecido como Deva-shayaniEkadashi. (1) Ó
leão entre os reis, quem quer que queira liberação deve regularmente
jejuar neste Ekadashi, que também é o dia em que o jejum
de Chaturmasyaprincipia.”.
Assim termina a narrativa das glórias de Ashadha-sukla Ekadasi, ou Padma Ekadasi, do Bhavishya-uttara Purana.
Notas:
(1) Dizem que três coisas não podem
existir sem água: pérolas, seres humanos, e farinha. A qualidade
essencial de uma pérola é seu brilho, e isso é devido à água. A essência
de um homem é seu sêmen, cujo principal componente é água. E sem água,
não se pode transformar farinha em massa para depois cozinhar e
comer. Às vezes a água é chamada de jala narayana, o Senhor Supremo na forma da água.
(2) Os sete membros do domínio de um rei são o próprio rei, seus ministros, seu tesouro, suas forças armadas, seus aliados, os brahmanas, os sacrifícios realizados em seu reino, e as necessidades de seus súditos.
(3) As quatro pernas do Dharma são veracidade, austeridade, misericórdia e limpeza.
(4) Deva-shayani ou Vishnu-shayani,
indica o dia em que o Senhor Vishnu vai dormir com todos semideuses. É
dito que depois desse dia não se deve realizar quaisquer novas
cerimônias até Devotthani Ekadashi, que ocorre durante o mês
de Kartika (out/nov), porque os semideuses, estando adormecidos, não
podem ser convidados para a arena sacrificial e porque o sol está
viajando no curso meridional.
Bhavishya-uttara Purana.
fonte: https://iskconbahia.com.br/historia-do-sayana-ekadasi-23072018/
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