sábado, 21 de março de 2015

TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO Eliza Alves Landin

Sumário
Transtornos globais do desenvolvimento: um estudo caracterizado


INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu da intenção de se compreender melhor os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), que formam um conjunto de síndromes definidas por alterações no comportamento e mais especificamente, desenvolver e ressaltar um estudo aprofundado para a caracterização do Transtorno do Austismo, Síndrome de Rett, Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento sem Especificação.
Para isto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, levando em conta a opinião e o estudo de vários autores dessa mesma área, que pretenderam realizar outras pesquisas com o mesmo propósito desta, tais como, Schwartzman, Ramos, Silva e vários outros.
Com exceção da síndrome de Rett, os Transtornos Globais do Desenvolvimento ocorrem quatro vezes mais em meninos do que em meninas e se caracterizam por comprometimentos qualitativos na interação social, na comunicação, na manifestação de interesses restritos e repetitivos e muitas vezes, relacionam-se a graves comprometimentos da fala.
Tais Transtornos se relacionam diretamente com o comprometimento do desenvolvimento, o que causa vários déficits, tais como, nas habilidades de comunicação verbal ou não verbal e nas relações sociais e interativas.

REFERENCIAL TEÓRICO
Os Transtornos Globais do Desenvolvimento se caracterizam por prejuízos severos e invasivos em diversas áreas que envolvem o conhecimento, como as habilidades de interação social e de comunicação e também comportamentos e interesses estereotipados (SILVA; HERRERA; VITTO, 2007).
Barbosa e Cunha (2012) consideram que, o Transtorno Global do Desenvolvimento atinge cinco categorias, sendo elas, Transtorno Autista, Sindrome de Rett, Transtorno de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento sem Especificação.

1 TRANSTORNO AUTISMO
Entre estes Transtornos encontra-se o Autismo, que está relacionado ao neurodesenvolvimento e apresenta comprometimento, basicamente, em três áreas especificas do desenvolvimento, que são déficit de habilidades sociais, déficit de habilidades comunicativas, tanto na forma verbal quanto na forma não verbal e comportamento restrito, repetitivo e estereotipado (SILVA; MULIK, 2009).
Para Arruda (2007), o Autismo pode ser considerado um comprometimento cognitivo na capacidade de metarrepresentação, que é necessária à criança para atribuir estados mentais a si mesma e aos outros e para o desenvolvimento de habilidades sociais e simbólicas.
Já Klin (2007) afirma que, o autismo se refere a uma família de distúrbios da socialização, que possuem impactos que variam em múltiplas áreas do desenvolvimento, desde o estabelecimento da subjetividade, das relações sociais e pessoais, da linguagem até o aprendizado e das capacidades adaptativas.
Ramos (2012) acredita que, os autistas possuem desajustes em estabelecer contato afetivo, e consequentemente, social e esta seria a principal causa de todos os demais distúrbios apresentados por estas crianças, incluindo os vários níveis de retardo mental, apresentados por um e extrema inteligência vivenciadas por outros, o que possibilita a capacidade de desenvolvimento e aprendizagem.
Para que uma criança seja diagnosticada com o Transtorno do Autismo deve apresentar pelo menos seis de uma lista de doze sintomas, entre eles, pelo menos dois sintomas devem estar relacionados à interação social e pelo menos um, na área de comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados e a avaliação deve ser feita por uma equipe interdisciplinar, que possua neuropediatra, psicólogo, fonoaudiólogo e outros, para que usem como componentes a entrevista inicial com os pais ou responsáveis, a história familiar, social e médica da criança e considerem seu desenvolvimento durante a infância (SILVA; MULIK, 2009).
Trata-se de um Transtorno do Desenvolvimento bem complexo, onde a tentativa de melhor compreendê-lo requer uma análise em diferentes níveis, tais como, no nível comportamental em relação à cognição, à neurobiologia, genética e interações e quando os sintomas autísticos são considerados mais severos e estão associados a alguma condição médica, os ganhos desenvolvimentais e funcionais são bem menos perceptíveis, contudo, não deixam de ser significativos e progressivos, por isto, é altamente recomendável que se faça intervenções intensivas e individualizadas, com profissionais capacitados para este tipo de tratamento (KLIN, 2007).
A incidência de casos de autismo tem aumentado significativamente durante as últimas duas décadas, chegando a atingir entre quarenta e sessenta de dez mil pessoas, e isto se deve parcialmente, as recentes ampliações de critérios de diagnósticos, que permitem que, um maior número de casos, com perfis de desenvolvimento mais variado, seja incluído dentro das possibilidades dos sintomas do Transtorno de Autismo (SILVA; MULIK, 2009).
É importante considerar que todas as descrições de crianças autistas incluem alguma alteração significativa na linguagem, principalmente no aspecto funcional, o que sugere que, a questão da comunicação dessas crianças representa seu mais importante distúrbio (SILVA; HERRERA; VITTO, 2007).
Por compor-se de um conjunto de síndromes definidas por alterações no comportamento, comprometimento na interação, manifestações repetitivas, muitas vezes, os autistas emitem a falsa idéia de que são totalmente alheios, porém, ao contrário disto, os autistas percebem o mundo de maneira diferente da maioria das pessoas, e geralmente, estão presentes e são extremamente sensíveis, apesar das dificuldades de se comunicarem (MACIEL; FILHO, 2009).
Há casos em que, o autismo pode coexistir em indivíduos que possuem outros transtornos, tais como, Síndrome de Down, paralisia cerebral, Síndrome de Tourette, deficiências visuais e auditivas e em outras situações, crianças com autismo podem apresentar problemas de comportamentos, muitas vezes, severos, que incluem hiperatividade, dificuldade de prender a atenção ou atenção superseletiva, impulsividade e até mesmo comportamentos agressivos, autodestrutivos e perturbadores (SLVA; MULIK, 2009).
Ainda está muito longe de se possuir agentes que possam alterar eficazmente os sintomas relacionados ao autismo, como o déficit de interação social e de comunicação, contudo, todas as possíveis abordagens podem ser extremamente úteis para a compreensão das características deste transtorno e para as possibilidades destes indivíduos afetados se beneficiarem mais dos tratamentos reconhecidos e baseados em evidencias e intervenções (KLIN, 2007).
Apesar das causas ainda serem indeterminadas, o autista pode ter, até certo ponto, uma vida independente, desenvolver-se, comunicar-se fazer muitas coisas, sendo a principal delas, acreditar que possuem potencial para aprender e ser feliz, chegando, muitas vezes, a se formar, ter vida profissional e construir família, negando incisivamente, os prognósticos que generalizam e rotulam crianças autistas a nenhum futuro (MACIEL; FILHO, 2009).

2 SÍNDROME DE RETT
Para Pazeto et. al. (2013), a Síndrome de Rett é um dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, caracterizado por alterações nas relações sociais de reciprocidade, na comunicação e nas atividades restritas e repetitivas e é uma das maiores causas de deficiência múltipla severa em crianças do sexo feminino, levando os critérios clínicos a constituírem base para o diagnóstico e a avaliação genética, que deve ser realizada em crianças cujo tais critérios clínicos sejam preenchidos, uma vez que, o diagnóstico precoce é fundamental.
Trata-se de uma síndrome relativamente rara, que afeta basicamente meninas e abrange as pessoas que apresentam alterações qualitativas de interações sociais e comunicativas, e deterioração neuromotora (DRAGO, 2011).
A grande maioria dos casos de Síndrome de Rett é feita de casos isolados dentro de uma família, com exceção de irmãs gêmeas, uma vez que, costuma-se considerar tal síndrome como uma desordem dominante ligada ao cromossomo X, em que cada caso representa uma mutação, com letalidade no sexo masculino (SCHWARTMAN, 2003).
É fundamental que se faça o diagnóstico precoce, ou seja, ainda antes que apareçam os sintomas clássicos da síndrome, e para isto, faz-se necessário uma análise do DNA, com a finalidade de verificar algum tipo de mutação, porém, a síndrome evolui em estágios chamados de estagnação precoce, rapidamente destrutivo, pseudo-estacionário e deteriorização motora tardia (PAZETO et. al, 2013).
Apesar de alguns critérios levarem em conta que crianças com Sìndrome de Rett apresentarem desenvolvimento normal durante seus primeiros anos de vida, algumas evidencias sugerem que, existem sinais sutis de algum tipo de anormalidade, como retardo motor discreto, presença de hipotonia muscular e prejuízos graves na fala (MERCADANTE; GAAG; SCHWARTMAN, 2006).
Dependendo da fase em que se encontra a Síndrome de Rett, várias são as condições que deverão ser levadas em conta para o diagnóstico, tais como patologia fixa, como paralisia cerebral, encefalopatia, Síndrome de Angelman, autismo infantil e várias outras doenças metabólicas (SCHWARTZMAN, 2003).
Em complemento disto, Pazeto et. al. (2013) afirmam que, quase sempre a fala está comprometida e pode também estar totalmente nula, chegando a deixar algumas crianças mudas e há déficit generalizado no desenvolvimento motor da criança, além do aumento do tônus muscular, rigidez, espacidade e aumento no tamanho dos pés e das mãos.
O desenvolvimento de atividades que envolvem a ludicidade pode ser um bom caminho para se trabalhar com crianças que possuem Síndrome de Rett, principalmente no que diz respeito à inclusão ao ambiente escolar, uma vez que, quantas mais ferramentas forem oferecidas a esses indivíduos, mais chances eles terão de adquirir conhecimentos humanos ou até mesmo se apropriarem de conhecimentos que facilitarão sua vida.
Nos últimos anos evidenciou-se a probabilidade de uma vida mais longa a todos os indivíduos que possuem Síndrome de Rett, contando que haja intervenções corretas e positivas, com uma boa alimentação e com cuidados médicos (PAZETO et. al, 2013).
Não há faixa etária especifica para iniciar a estimulação de crianças com Síndrome de Rett, o quanto antes for iniciado melhor, mas é importante salientar que, nunca é tarde para iniciar este trabalho, assim como nunca é cedo para estimular estas crianças, pois elas devem ser acompanhadas durante todo o seu desenvolvimento.

3 SÍNDROME DE ASPERGER
A Síndrome de Asperger é o nome dado a um determinado grupo de problemas que algumas crianças e adultos apresentam quando vão se comunicar e se apresenta como uma desordem neurobiológica, com desvios e anormalidades intensas (TEIXEIRA, 2005).
Para Orrú (2010), o Transtorno de Asperger provoca severas dificuldades na interação social, onde os problemas que envolvem esta área podem chegar a ser tão profundos, a ponto de prejudicar o desenvolvimento da criança.
Crianças com Síndrome de Asperger não fazem bom contato visual com os pais, não respondem quando são chamados pelo nome, demonstram pouco interessem em outras pessoas, tem atraso no desenvolvimento da linguagem, fazem movimentos incomuns, tais como, andar na ponta dos pés e outros (MARTINS; SILVA; MAINARDES, 2010).
Estes indivíduos podem apresentar elevadas habilidades cognitivas e é comum possuírem vocabulário bem elaborado, apesar de estarem incapacitados para aplicá-lo no contexto social em que vivem (TEIXEIRA, 2005).
O trabalho com indivíduos que possuem Síndrome de Asperger deve contemplar necessariamente, a relação criteriosa entre mediação pedagógica, cotidiano, formação de conceitos, para possibilitar as experiências sociais cotidianas, e desta forma, para que o indivíduo possa ser visto como alguém possuidor de diferentes capacidades e potencialidades, que devem ser encorajadas, transformando-se em base sólida para o desenvolvimento das funções superiores (ORRÚ, 2010).
Teixeira (2005) afirma que, quando algumas crianças com Síndrome de Asperger entram para escola, ou até mesmo antes, podem apresentar interesses obsessivos por uma determinada área, como matemática, ciências, leitura, chegando a serem hiperléxicos em idade precoce e têm necessidade de aprender tudo quanto for possível sobre o objeto.
Martins, Silva e Mainardes (2010) acreditam que, o diagnóstico da Síndrome de Asperger não é fácil, principalmente na primeira infância, pois pode ser confundida com hiperatividade, esquizofrenia ou até mesmo Transtorno de Déficit de Atenção. Aquele deve ser feito, sempre e somente, por um profissional especialista e ocorre de maneira lenta, o que causa muita angústia nos pais, que diante do comportamento incomum do filho, esperam ansiosamente uma resposta imediata, porém, somente dez por cento de indivíduos com tal síndrome alcançam a vida adulta, com independência social e profissional.
Barbosa e cunha (2012) complementam Martins, Silva e Mainardes (2010) afirmando que, o processo diagnóstico deve ser feito por um profissional que tenha condições de avaliar o indivíduo como um todo e deve possuir condições teóricas e empíricas para interpretar e avaliar o comportamento desse indivíduo.
Formas adequadas de tratamento e atendimento profissional podem colaborar muito, pois a interação com outras pessoas e a mediação da aprendizagem são imprescindíveis para o desenvolvimento, em todas as áreas da criança com Síndrome de Asperger, enfatizando suas potencialidades, para que, desta forma, possa oferecer sua colaboração à sociedade em que está inserida (ORRÚ, 2010).

4 TRANTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA
O Transtorno Desintegrativo da Infância foi descrito pela primeira vez por Heller, em 1908, sendo denominado de dementia infantis, porém, posteriormente, observou-se que esta definição não correspondia, uma vez que as características de perda de memória e habilidades executivas não eram proeminentes e nem havia, como ainda não há, causa orgânica de prejuízo (SIQUEIRA, 2013).
Segundo Mercadante, Gaag e Schwartzman (2006), o Transtorno Desintegrativo da Infância é extremamente raro e envolve diagnóstico diferenciado e outros transtornos, tais como, metabólico, condição neurológica e da linguagem.
Para Barbosa e Cunha (2012), o Transtorno Desintegrativo da Infância é caracterizado como uma desaceleração do processo de desenvolvimento, tendo a criança um desenvolvimento normal até os dois anos de idade e a partir desta idade, apresenta significativas perdas das habilidades psicomotoras e cognitivas, ocorrendo a possível estagnação no processo de desenvolvimento.
Acentua-se pela diminuição da socialização e da linguagem, que duram pequenos períodos, que são posteriormente acompanhados pelo aparecimento de hiperatividade e estereotípicas com comprometimento intelectual (JUNIOR, 2012)
No Transtorno Desintegrativo da Infância, deriva-se primeiramente, o aspecto receptivo da linguagem e não somente da expressiva alteração de compreensão ou de percepção da realidade, que podem ocasionar atrasos significativos de linguagem, como a linguagem fragmentada (HERRERA, 2005).
É introduzido na classificação psiquiátrica e categorizado como Transtorno Global do Desenvolvimento em função da perda das habilidades sociais e comunicativas e não há deterioração continuada, ou seja, após a regressão inicial, chega-se a um nível estável, mas com grande impacto durante toda a vida (SIQUEIRA, 2013).
Não existe tratamento específico para o Transtorno Desintegrativo da Infância e para o diagnóstico, exige-se uma abordagem multidisciplinar e os pais precisam de psicoeducação focada nesta área (MERCADANTE; GAAG; Schwartzman, 2006).
As alterações dos aspectos narrativos podem se justificar pelo fato de que, para narrar algo a criança deve ser capaz de adotar papeis que se referem a um processo cognitivo, onde há possibilidade de se colocar no lugar de uma outra pessoa, sendo esta uma das grandes dificuldades do portador do Transtorno Desintegrativo, o que causa narrativas fragmentadas destituídas de sentido e coerência.

5 TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO SEM ESPECÍFICAÇOES
O Transtorno Global do Desenvolvimento sem Especificação surge no final dos anos sessenta, derivado especialmente dos trabalhos de M. Rutter e D. Cohen e causa variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora, mudanças de humor, sem causa aparente e acessos de agressividade (SIQUEIRA, 2013).
Este Transtorno não possui regras específicas, ou seja, alguém pode ser diagnosticado se preencher critérios no que diz respeito ao domínio social, na comunicação e no comportamento (MERCADANTE; GAAG, SCHWARTMAN, 2006).
O ambiente escolar para uma criança com Transtorno Global do Desenvolvimento deve ser um local social, com regras já pré-estabelecidas, possíveis interações sociais e é imprescindível que, o processo de ensino aprendizagem deste aluno esteja voltado para a comunicação, devido às grandes dificuldades existentes neste aspecto, para estes alunos (BARBOSA; CUNHA, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das informações discutidas nesta pesquisa, espera-se ter contribuído para o esclarecimento de, pelo menos, alguns aspectos centrais acerca dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, principalmente no que diz respeito ao Transtorno Autista, Síndrome de Rett, Síndrome de Asperger, o Transtorno Desintegrativo da infância e o Transtorno do Desenvolvimento sem Especificação, apesar desta ainda não ter avançado o suficiente para se determinar fatores e processos específicos que estejam definitivamente envolvidos nos referidos Transtornos, porém, espera-se que já se tenha avançado bastante em termos de informações que dão suporte à implementação de práticas diagnósticas adequadas e de boa qualidade.
A intensa participação dos profissionais envolvidos, reafirmando-se sempre que é possível superar as barreiras de comunicação, e principalmente, excluir-se os rótulos que condenam as crianças autistas a viver sem um futuro progressor é extremamente importante e significativo para o bem estar do indivíduo.
É fundamental que o diagnóstico de todos os Transtornos Globais do Desenvolvimento aconteça de forma precoce e que se considere todos os aspectos clínicos na constituição deste, para desta forma, criar ações que possam garantir o direito do sujeito com tais Síndrome e Transtornos a uma educação/inclusão que reconheça a sua singularidade, a possibilidade da sua autonomia, livre de preconceitos que possam impedir o seu desenvolvimento.
No desenvolvimento desta pesquisa, encontrou-se dificuldades para localizar artigos e outros materiais que poderiam dar suporte bibliográfico no que diz respeito ao estudo do Transtorno Desintegrativo da Infância e no Transtorno Global do Desenvolvimento sem Especificação.
A possível causa desta escassez de material para tais Transtornos pode ser pelo fato destes serem mais raros que os demais transtornos tratados, e por esta exata razão, esta pesquisa limitou-se em apenas, brevemente, caracterizar os referidos.
Acredita-se que, o mundo pode ser transformado quando se conseguir olhar para o próximo não somente como um indivíduo, mas também como um ser humano, que possui um complexo conjunto de características biológicas, psicológicas e claro, sociais, que podem aprender a se comunicar, interagir-se, tornar-se autônomos e serem felizes.

Bibliografia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Andrea Gomide; CLÁUDIA, Cunha. Práticas Educacionais Inclusivas: Transtornos Globais do Desenvolvimento. Revista Para Educação Inclusiva. Uberlandia, 2012.
DRAGO, Rogério. Inclusão na educação infantil. Rio de Janeiro: WAK, 2011.
JUNIOR, Francisco B. Assumpção. Diagnóstico Diferencial dos Transtornos Abrangentes do Desenvolvimento. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012.
KLIN, Marcos T. Mercadante Ami. Autismo e Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. Scielo, 2007.
MACIEL, Mariene Martins; FILHO, Argemiro de Paula Garcia. Atendimento Educacional Especializado Autismo: Uma Abordagem Tamanho Família. Scielo, Salvador, 2009.
MARQUES, Carla Fernandes Ferreira Costa; ARRUDA, Sérgio Luiz Saboya. Autismo Infantil e Vínculo Terapêutico. Universidade Estadual de Campinas Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Campinas, 2007.
MARTINS, Márcio Antônio Giansante; SILVA, Yara Cristina Romano; MAINARDES; Sandra Cristina Catelan. Uma Visão Sobre a Síndrome de Asperger. Programa de Iniciação Científica do Cesumar. Maringá, 2010.
MERCADANTE, Marcos T; GAAG, Rutger J Van Der; SCHWARTMAN, José S. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento não-autistico: Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtornos Invasis do Desenvolvimento sem Outra Especificação. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, 2006.
ORRÚ, Silvia Ester. Síndrome de Asperger: Aspectos Científicos e Culturais. Revista Ibero-americana de Educação. São Paulo, v. 7, n. 53, 2010.
PAZETO, Talita de Cassia Batista et al. Síndrome de Rett: Artigo de Revisão. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento.São Paulo, v.13, n.2, 2013.
RAMOS, Fernanda do Vale Corrêa. Alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento: Da categoria Psiquiátrica à Particularidade do caso a caso nos Processos de Inclusão. Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2012.
SCHWARTZMAN, João Salomão. Síndrome de Rett. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, v. 25, n. 2, 2004.
SILVA, Michele; MULIK, James A. Diagnosticando o Transtorno Autista: Aspectos Fundamentais e Considerações Práticas. Universidade de Brasília. Brasília, 2009.
SILVA, Rubem Abraão da; HERRERA, Simone Aparecida Lopes; VITTO, Luciana Paula Maximino de. Distúrbios de Linguagem como Parte de um Transtorno Global do Desenvolvimento: Descrição de um processo Terapêutico Fonoaudiológico. Revista Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo, v. 12, n. 14, 2007.
SIQUEIRA, Adriana Ponzo. TGB – Transtorno Global do Desenvolvimento. Avante Educação à Distância. Belo Horizonte, 2013
TEIXEIRA, Paulo. Síndrome de Asperger. Universidade Lusíada de Porto. Portugal, 2005.
WALTER, Camargo Junior. Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Brasília, 2005.
Publicado em 24/02/2015 12:39:00
Currículo(s) do(s) autor(es)
Eliza Alves Landin - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional Centro Universitário UniEvangélica Anápolis
fonte ; http://www.psicopedagogia.com.br/new1_artigo.asp?entrID=1803#.VQ3UD2ewKhU


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sexta-feira, 20 de março de 2015

A Importância da Geometria nas Séries Iniciais



Os estudos iniciais sobre geometria abordam situações relacionadas à forma, dimensão e direção. O objetivo de ensinar geometria aos alunos do 1º ao 5º ano está ligado ao sentido de localização, reconhecimento de figuras, manipulação de formas geométricas, representação espacial e estabelecimento de propriedades. Uma base consolidada objetiva uma maior facilidade nos conteúdos do 6º ao 9º ano. Por isso, os profissionais das séries iniciais devem trabalhar de forma estruturada. O grande problema desse ramo da matemática se divide em dois: a sensação de que o conhecimento seja intuitivo e que as informações fazem parte do cotidiano do aluno. Não devemos encarar dessa forma, pois alguns alunos precisam ser monitorados, pois não conseguem criar uma relação entre a geometria e o mundo ao seu redor.

Analisando pelo lado construtivista, o aluno estabelece seu espaço na medida em que o pensamento cognitivo seja colocado em ação. Dessa forma, os alunos que possuem um maior grau de habilidade se destacam, relacionando a geometria a outros contextos. É com base nesse caso que a escola deve acionar mecanismos, a fim de fornecer o conhecimento de forma gradual, atendendo a todos os alunos de forma igualitária.

O professor deve aproveitar os diferentes pontos de vista e opinião dos alunos, criando um ambiente de discussão de ideias, debates e formulação de novas definições. Trabalhos assim valorizam o aluno, pois ao utilizar conceitos particulares nas aulas, sua autoestima é valorizada. Alguns conteúdos possuem afinidade com a geometria, como os mapas, as figuras, os sólidos, as planificações entre outros.

Com o auxílio dos mapas, o aluno utiliza de formas bidimensionais no estudo de situações tridimensionais. O sentido de localização é colocado em prática e termos como latitude, longitude e altitude são relacionados às coordenadas geográficas de países, estados e cidades. Essa seria uma boa oportunidade para a formação de uma parceria com o professor de Geografia, colocando em prática a interdisciplinaridade entre as ciências exatas e humanas.

As figuras e os sólidos são primordiais para o sucesso do aluno nas séries seguintes. Podemos relacionar novamente as formas bidimensionais e tridimensionais através da planificação dos objetos. Todo sólido pode ser apresentado na forma de figura plana, denominada planificação, que possui como característica principal demonstrar o número de vértices, arestas e faces do sólido. Com isso a aluno está apto a classificar e nomear as figuras espaciais existentes e discutir os procedimentos a serem adotados na resolução de problemas. A esse conjunto de conteúdos, que devem ser abordados desde as séries iniciais, estão associados os conceitos geométricos pertencentes ao Ensino Médio.

A junção de toda a estrutura do Ensino Fundamental I e II, envolvendo os conceitos geométricos, será utilizada na Geometria Analítica, onde o aluno tomará conhecimento de que todas as formas possuem fundamentos e estruturação matemática. Por isso devemos incluir em nossos planos os temas relacionados ao ensino da geometria, com o objetivo de conscientizar o aluno de sua extrema importância curricular.
A proposta deve ir além da manipulação de sólidos e da observação de figuras, a fim de acabar de vez com a ruptura que existe entre a aprendizagem de representações planas e de sólidos tridimensionais, como se ambos não estivessem presentes simultaneamente na vida da criança.
Por Marcos Noé
Graduado em Matemática
Equipe Brasil Escola

fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-importancia-geometria-nas-series-iniciais.htm

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sexta-feira, 13 de março de 2015

A importância da mastigação


A importância da mastigação




 A mastigação é uma das funções mais importantes para o desenvolvimento craniofacial. Ela também é a fase inicial do processo digestivo. Para que a mastigação ocorra de forma harmoniosa, é necessária a coordenação de diversos ossos e músculos, para que o alimento possa ser triturado e preparado para ser engolido.
O processo de mastigação se inicia por volta dos 7 meses de idade, onde começam a nascer os primeiros dentinhos. Mesmo tendo somente os dentes da frente, a criança já exercita o ato de mastigar, mantendo contato entre as gengivas, o que estimula o crescimento dos dentes posteriores. Por volta dos 4 ou 5 anos de idade, a mastigação estará totalmente desenvolvida, pois houve tempo suficiente para amadurecer as estruturas responsáveis e para o nascimento da primeira dentição (de leite).
 O amadurecimento da mastigação ocorrerá por volta dos 12 anos de idade, ode os hormônios e o crescimento dos músculos irão interferir no crescimento da face e sistema mastigatório.

 É importante que a mastigação ocorra dos dois lados da boca, para que o crescimento facial seja harmonioso. Pessoas que mastigam mais de um lado do que do outro, podem impedir o desenvolvimento do lado não utilizado, além de desenvolver mais placas bacterianas, cáries ou lesões.
Dicas para um bom desenvolvimento da mastigação:
* Evite liquidificar ou passar os alimentos na peneira.
* Amasse com um garfo os alimentos, para que a criança possa se acostumar com as texturas.
* Conforme a criança vai crescendo e surgem mais dentes, aumente os pedaços amassados.
* Prefira as colheres de silicone, pois oferecem mais segurança caso o bebê venha a mordê-las, além de não esquentar como as de metal.
* Ofereça alimentos de texturas variadas: não fiquem só nos pães tipo “bisnaguinhas” ou carnes moídas. Desenvolva a mastigação de seu filho!
* É importante que a criança se acostume a comer as frutas picadas.
* Estimule seu filho a comer todos os tipos de alimento, assim sua mastigação será eficiente e vocês provavelmente não terão problemas de alimentação!

Abraço,
Taís Alves Batschauer
Fonoaudióloga

fonte: http://dicasdefono.blogspot.com.br/2013/09/a-importancia-da-mastigacao.html

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SUGESTÃO DE ANAMNESE PARA DISFLUÊNCIA/GAGUEIRA

SUGESTÃO DE ANAMNESE

SUGESTÃO DE ANAMNESE PARA DISFLUÊNCIA/GAGUEIRA

Data da avaliação: ............................................................................................................
Avaliador: .........................................................................................................................
Nome: ..............................................................................................................................
Data de nascimento:..........................................................................................................
Profissão: ..........................................................................................................................
Outras atividades: ..............................................................................................................

Descrição da fala:
1.      Qual sua percepção quando sua gagueira?
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2.      Quais situações sente mais dificuldade de falar?
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3.      Lembra da primeira vez que gaguejou?
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4.      Você repara a gagueira de alguma forma?
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5.      Sente-se constrangido ao falar em público?
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6.      A gagueira dificulta de alguma forma sua vida profissional e/ou social?
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7.      Como sua família e amigos reagem quanto ao seu problema?
........................................................................................................................................
8.      Como foi sua infância? Você gagueja? Teve algum trauma?
........................................................................................................................................
9.      Alguém na sua família também gagueja?
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10.  Outros comentários:
........................................................................................................................................



fonte: http://fonofluencia.blogspot.com.br/2013/09/sugestao-de-anamnese.html

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quarta-feira, 11 de março de 2015

As falhas, incoerências e falácias do arcabouço intelectual de Karl Marx por Eugen von Böhm-Bawerk,


Marx-Fussnagel.jpgO principal trabalho teórico de Marx é sua grande obra em três volumes, sobre o capital. Os fundamentos de sua teoria da exploração estão expostos no primeiro destes volumes, o único a ser publicado em vida do autor em 1867.  O segundo, editado postumamente por Engels, em 1885, está em total harmonia com o primeiro, quanto ao conteúdo. Menos harmônico é sabidamente o terceiro volume, publicado novamente após um intervalo de vários anos, em 1894. Muitas pessoas, entre elas o autor destas linhas, acreditam que o conteúdo do terceiro volume seja incompatível com o do primeiro, e vice-versa. Mas, como o próprio Marx não admitiu isso e, ao contrário, também no terceiro volume exigiu que se considerassem totalmente válidas as doutrinas do primeiro, a crítica deve considerar as teses expostas nesse primeiro livro expressão da verdadeira e permanente opinião de Marx. Mas é igualmente válido — e necessário — abordar no momento adequado as doutrinas do terceiro volume, como ilustração e crítica.
A teoria de Marx sobre o valor
Marx parte do principio de que o valor de toda mercadoria depende unicamente da quantidade de trabalho empregada em sua produção.  Marx coloca este princípio no ápice de sua teoria, dedicando-lhe uma explicação extensa e fundamentada.
O campo de pesquisa que Marx se propõe a examinar para entender a origem do valor dos bens fica limitado originalmente às mercadorias, o que, para Marx, não significa todos os bens econômicos, mas apenas os produtos de trabalho criados para o mercado.  Ele começa com uma análise da mercadoria.  A mercadoria é, por um lado, uma coisa útil cujas qualidades satisfazem algum tipo de necessidade humana, um valor de uso; por outro, constitui o suporte material do valor de troca.  A análise passa agora para este último.  
O valor de troca aparece de imediato como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo se trocam com valores de uso de outro tipo, relação essa que muda constantemente, conforme tempo e lugar.
Portanto, parece ser algo casual. Mas nessa troca deveria haver algo de permanente, que Marx trata de pesquisar. E faz isso na sua conhecida maneira dialética:
Tomemos duas mercadorias, por exemplo, trigo e ferro. Seja qual for a sua relação de troca, pode-se representá-la sempre numa equação segundo a qual uma quantidade dada de trigo é igualada a uma quantidade de ferro, p. ex., um moio de trigo x quintais de ferro. O que significa essa equação? Que existe algo de comum, do mesmo tamanho, em duas coisas diferentes, ou seja, em um moio de trigo e x quintais de ferro. Portanto, as duas coisas se equiparam a uma terceira, que em si não é nem uma nem outra. Cada uma das duas, portanto, na medida em que tem valor de troca, deve ser reduzível a essa terceira.
Dialética do valor em Marx
Esse elemento comum não pode ser uma característica métrica, física, química, ou outra característica natural das mercadorias. Suas características corporais, aliás, só entram em consideração na medida em que as tornam úteis, e são, portanto, valores de uso. Mas, por outro lado, a relação de troca das mercadorias aparentemente se caracteriza por se abstrair dos valores de uso dessas mercadorias. Segundo ela, o valor de uso vale tanto quanto qualquer outro, desde que apareça na proporção adequada. Ou, como diz o velho Barbon: "... Um tipo de mercadoria é tão bom quanto outro, quando seu valor de troca for igual. Não existe distinção entre coisas do mesmo valor de troca.' Como valores de uso, as mercadorias são principalmente de qualidades diferentes, como valores de troca só podem ser de quantidades diferentes e, portanto, não contêm um átomo sequer de valor de uso.
Abstraindo o valor de uso das mercadorias, elas guardam ainda uma característica, a de serem produtos de trabalho. No entanto, também o produto de trabalho já se transformou em nossas mãos. Se abstrairmos o seu valor de uso, também estaremos abstraindo os elementos e formas corporais que o tornam valor de uso. Não se trata mais de mesa, ou casa, ou fio, ou outra coisa útil. Todas as suas características sensoriais estão apagadas. Ele também já não é o produto da marcenaria, ou da construção, ou da tecelagem, ou de qualquer trabalho produtivo. Com o caráter utilitário dos produtos de trabalho, desaparece o caráter utilitário dos trabalhos neles efetuados, e somem também as diversas formas concretas desses trabalhos. Eles já não se distinguem entre si [p.283]: reduziram-se todos ao mesmo trabalho humano, trabalho humano abstrato.
Consideremos agora o que restou dos produtos de trabalho. Nada resta deles senão aquela mesma objetualidade espectral, mera gelatina de trabalho humano indistinto, ou seja, o gasto de forças de trabalho humanas sem consideração pela forma desse dispêndio. Essas coisas apenas nos dizem que na sua produção se gastou força de trabalho humano, se acumulou trabalho humano. Como cristais dessa substancia social comum, eles são valores.
Assim se define e se determine o conceito de valor.  Segundo a teoria dialética, ele não é idêntico ao valor de troca, mas relaciona-se com ele de maneira íntima e inseparável: ele é uma espécie de destilado conceitual do valor de troca. Para usar as palavras do próprio Marx, ele é "a parte comum que aparece na relação de troca ou valor de troca das mercadorias".  O reverso é igualmente válido: "o valor de troca é a expressão necessária ou a manifestação do valor".
O "tempo de trabalho socialmente necessário" de Marx
Marx passa da determinação do conceito de valor para a exposição de sua medida e grandeza.  Como o trabalho é a substância do valor, consequentemente a grandeza do valor de todos os bens se mede pela quantidade de trabalho neles contido, ou seja, pelo tempo de trabalho.  Mas não aquele tempo de trabalho individual, que aquele indivíduos que produziu o bem casualmente precisou gastar, mas o "tempo de trabalho necessário para produzir um valor de uso, nas condições sociais normais de produção disponíveis, e com o grau de habilidade e intensidade do trabalho possíveis nessa sociedade".
Só a quantidade de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir um valor de uso é que determina o seu valor. A mercadoria isolada vale aqui como exemplo médio da sua espécie. Mercadorias contendo igual quantidade de trabalho, ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho, têm por isso o mesmo valor. O valor de uma mercadoria relaciona-se com o valor de outra mercadoria, da mesma forma que o tempo de trabalho necessário para a produção de uma delas se relaciona com o tempo de trabalho necessário para a produção da outra. Como valores, todas as mercadorias são apenas medidas de tempo de trabalho cristalizado.
A "lei do valor" de Marx
De tudo isso, deduz-se o conteúdo da grande "lei de valor", que é "imanente à troca de mercadorias" e que domina as condições de troca.  Essa lei significa — e só pode significar — que as mercadorias se trocam entre si segundo as condições de trabalho médio, socialmente necessário, incorporado nelas.  Há outras formas de expressão da mesma lei: nas palavras de Marx, as mercadorias "se trocam entre si conforme seus valores" ou "equivalente se troca com equivalente".
É verdade que, em casos isolados, segundo oscilações momentâneas de oferta e procura, também aparecem preços que estão acima ou abaixo do valor.  Só que essas "constantes oscilações dos preços de mercado (...) se compensam, se equilibram mutuamente e se reduzem ao preço médio, que é sua regra interna".  Porém, no longo prazo, "nas relações de troca casuais e sempre variáveis", "o tempo de trabalho socialmente necessário acaba sempre se impondo à força, como lei natural imperante".
Marx considera essa lei como sendo a "eterna lei de troca de mercadorias", como "racional", como "a lei natural do equilíbrio".  Os casos eventuais em que mercadorias são trocadas a preços que se desviam do seu valor são considerados "casuais" em relação à regra, e os próprios desvios devem ser vistos como "infração da lei de troca de mercadorias".
A "mais-valia" de Marx
Sobre essa base da teoria do valor, Marx ergue a segunda parte de sua doutrina, a sua famosa doutrina da mais-valia.  Ele examina a origem dos ganhos extraídos pelos capitalistas dos seus capitais.  Os capitalistas tomam determinada soma em dinheiro, transformam-na em mercadorias, e, por meio da venda, transformam as mercadorias em mais dinheiro — com ou sem um processo intermediário de produção.  De onde vem esse incremento, esse excedente da soma de dinheiro obtida em relação à soma originalmente aplicada, ou, como diz Marx, essa mais-valia"?
Marx começa limitando as condições do problema, na sua peculiar maneira de exclusão dialética.  Primeiro, ele explica que a mais-valia não pode vir do fato de que o capitalista, como comprador, compra as mercadorias regularmente abaixo do seu valor e, como vendedor, regularmente as vende acima do seu valor.  Portanto, o problema é o seguinte: "Nosso ( ... ) dono do dinheiro tem de comprar as mercadorias pelo seu valor, e vendê-las pelo seu valor, mas, mesmo assim, no fim do processo, tem de extrair delas um valor mais alto do que o que nelas aplicou. . .  Essas são as condições do problema. Hic Rhodus, hic salta!" [Aqui é Rodes, então salte aqui!" (N. do T.)]
Marx encontra a solução dizendo que existe uma mercadoria cujo valor de uso tem a singular faculdade de ser uma fonte de valor de troca.  Essa mercadoria é a 'capacidade de trabalho', ou seja, a força de trabalho.  Ela é posta à venda no mercado sob dupla condição: a primeira, de que o trabalhador seja pessoalmente livre — caso contrário não seria a força de trabalho o que ele estaria vendendo, mas ele próprio, sua pessoa, como escravo; e a segunda, de que o trabalhador seja destituído "de todas as coisas necessárias para a realização de sua força de trabalho", pois, se delas dispusesse, ele preferiria produzir por conta própria, pondo à venda seus produtos, em vez de sua força de trabalho.  
Pela negociação com essa mercadoria, o capitalista obtém a mais-valia. O processo se dá da seguinte forma:
O valor da mercadoria "força de trabalho" depende, como o de qualquer outra mercadoria, do tempo de trabalho necessário para sua produção, o que, nesse caso, significa que depende do tempo de trabalho necessário para produzir todos os alimentos que são indispensáveis à subsistência do trabalhador.  Se, por exemplo, para os alimentos necessários para um dia for preciso um tempo de trabalho de seis horas, e se esse tempo de trabalho corporificar três moedas de ouro, a força de trabalho de um dia poderia ser comprada por três moedas de ouro. Caso o capitalista tenha efetuado essa compra, o valor de uso da força de trabalho lhe pertence, e ele a concretiza fazendo o trabalhador trabalhar para ele.  Se o fizesse trabalhar apenas as horas diárias corporificadas na força de trabalho pelas quais ele teve de pagar quando comprou essa força de trabalho (seis horas), não existiria a mais-valia.
Ou seja, as seis horas de trabalho não podem atribuir ao produto em que elas se corporificam mais do que três moedas, uma vez que foi isso que o capitalista pagou como salário.  Contudo, os capitalistas não agem dessa maneira.  Mesmo que tenham comprado a força de trabalho por um preço que corresponde só a seis horas de trabalho, fazem o trabalhador trabalhar o dia todo.  Então, no produto criado durante esse dia, se corporificam mais horas de trabalho do que as que o capitalista pagou, o que faz o produto ter valor mais elevado do que o salário pago. A diferença é a "mais-valia", que fica para o capitalista.
Tomemos um exemplo: suponhamos que um trabalhador possa tecer em seis horas cinco quilos de algodão em fio, com o valor de três moedas.  Suponhamos, também, que esse algodão tenha custado vinte horas de trabalho para ser produzido e que, por isso, tem um valor de dez moedas; suponhamos, ainda, que o capitalista tenha despendido, por meio de sua máquina de tecer utilizada para estas seis horas de tecelagem, o correspondente a quatro horas de trabalho, que representam um valor de duas moedas. Assim, o valor total dos meios de produção consumidos na tecelagem (algodão + máquina de tecer) equivalerá a doze moedas, correspondentes a vinte e quatro horas de trabalho.  Se acrescentarmos a isso as seis horas do trabalho de tecelagem, o tecido pronto será pois, no total, produto de trinta horas de trabalho, e terá, por isso, valor de quinze moedas.  Se o capitalista deixar o trabalhador trabalhar apenas seis horas por dia, a produção do fio vai custar-lhe 15 moedas: 10 pelo algodão, 2 pelo gasto dos instrumentos, 3 em salário.  Não existe mais-valia.
Muito diferente seriam as circunstâncias se este mesmo capitalista fizesse o trabalhador cumprir 12 horas diárias. Nestas 12 horas, o trabalhador processaria 10 quilos de algodão, nos quais já teriam sido corporificadas, anteriormente, 40 horas de trabalho, com um valor de 20 moedas.  Os instrumentos teriam consumido o produto de 8 horas de trabalho, no valor de 4 moedas, mas o trabalhador acrescentaria ao material bruto um dia de 12 horas de trabalho, ou seja, faria surgir um valor adicional de 6 moedas.  As despesas do capitalista — 20 moedas pelo algodão, 4 moedas pelo gasto dos instrumentos, e 3 pelo salário — somariam apenas 27 moedas.  Iria, então, sobrar uma "mais-valia" de 3 moedas.
Portanto, para Marx, a mais-valia é uma consequência do fato de o capitalista fazer o trabalhador trabalhar para ele sem pagamento durante uma parte do dia.  O dia de trabalho se divide, assim, em duas partes: na primeira, o "tempo de trabalho necessário", o trabalhador produz seu próprio sustento, ou o valor deste; por essa parte do trabalho, ele recebe o equivalente em forma de salário.  Durante a segunda parte, o "superávit em tempo de trabalho", ele é "explorado", e produz a "mais-valia", sem receber qualquer equivalente por ela.  
Portanto, o capital não é apenas controle sobre o trabalho, como diz Adam Smith.  É essencialmente controle sobre o trabalho não-pago.  Toda a mais-valia, seja qual for a forma em que vá se cristalizar mais tarde — lucro, juro, renda etc. — é, substancialmente, materialização de trabalho não pago.  O segredo da autovalorização do capital reside no controle que exerce sobre determinada quantidade de trabalho alheio não pago.
Marx escolheu um método de análise defeituoso
Alguém que busque uma verdadeira fundamentação da tese em questão poderá encontrá-la por meio de dois caminhos naturais: o empírico e o psicológico.  O primeiro caminho nos leva a simplesmente examinar as condições de troca entre mercadorias, procurando ver se nelas se espelha uma harmonia empírica entre valor de troca e gasto de trabalho.  O outro — com uma mistura de indução e dedução muito usada em nossa ciência — nos leva a analisar os motivos psicológicos que norteiam as pessoas nas trocas e na determinação de preços, ou em sua participação na produção.  Da natureza dessas condições de troca poderíamos tirar conclusões sobre o comportamento típico das pessoas.  Assim, descobriríamos, também, uma relação entre preços regularmente pedidos e aceitos, de um lado, e a quantidade de trabalho necessária para produzir mercadorias de outro.  Mas Marx não adotou nenhum desses dois métodos naturais de investigação.  É muito interessante constatar, em seu terceiro volume, que ele próprio sabia muito bem que nem a comprovação dos fatos nem a análise dos impulsos psicológicos que agem na "concorrência" teriam bom resultado para a comprovação de sua tese.
Marx opta por um terceiro caminho de comprovação, aliás, um caminho bastante singular para esse tipo de assunto: a prova puramente lógica, uma dedução dialética tirada da essência da troca.
Marx já havia encontrado no velho Aristóteles que "a troca não pode existir sem igualdade, e a igualdade não pode existir sem a comensurabilidade".  Marx adota esse pensamento.  Ele imagina a troca de duas mercadorias na forma de uma equação, deduz que nas duas coisas trocadas — portanto igualadas — tem de existir "algo comum da mesma grandeza", e conclui propondo-se a descobrir o que é essa coisa em comum, à qual as coisas equiparadas podem ser reduzidas como valores de troca.
Fatos que antecedem uma troca devem evidenciar antes desigualdade do que igualdade
Gostaria de intercalar aqui um comentário.  Mesmo a primeira pressuposição — a de que na troca de duas coisas existe uma "igualdade" das duas, igualdade essa que se manifesta, o que, afinal, não significa grande coisa — me parece um pensamento muito pouco moderno e também muito irrealista, ou, para ser bem claro, muito precário. Onde reinam igualdade e equilíbrio perfeitos não costuma surgir qualquer mudança em relação ao estado anterior.  Por isso, quando no caso da troca tudo termina com as mercadorias trocando de dono, é sinal de que esteve em jogo alguma desigualdade ou preponderância que forçou a alteração.
Exatamente como as novas ligações químicas que surgem a partir da aproximação entre elementos de corpos: muitas vezes o "parentesco" químico entre os elementos do corpo estranho aproximado não é forte, mas é mais forte do que o "parentesco" existente entre os elementos da composição anterior.  De fato, a moderna ciência econômica é unânime em dizer que a antiga visão escolástico-teológica da "equivalência" de valores que se trocam é incorreta.  Mas não darei maior importância a esse assunto, e volto-me agora ao exame crítico daquelas operações lógicas e metódicas através das quais o trabalho termina por surgir como aquela coisa em "comum" à qual as coisas equiparadas se poderiam reduzir.
Método intelectual errôneo de Marx
Para a sua busca desse algo em "comum" que caracteriza o valor de troca, Marx procede da seguinte maneira: coteja as várias características dos objetos equiparados na troca e, depois, pelo método de eliminação das diferenças, exclui todas as que não passam nessa prova, até restar, por fim, uma única característica, a de ser produto de trabalho.  Conclui, então, que seja esta a característica comum procurada.
É um procedimento estranho, mas não condenável.  É estranho que, em vez de testar a característica de modo positivo — o que teria levado a um dos dois métodos antes comentados, coisa que Marx evitava —, ele procure convencer-se, pelo processo negativo, de que a qualidade buscada é exatamente aquela, pois nenhuma outra é a que ele procura, e a que ele procura tem de existir.  Esse método pode levar à meta desejada quando é empregado com a necessária cautela e integridade, ou seja, quando se tem, escrupulosamente, o cuidado necessário para que entre realmente, nessa peneira lógica, tudo o que nela deve entrar para que depois não se cometa engano em relação a qualquer elemento que porventura fique excluído da peneira.
Mas como procede Marx?
Desde o começo, ele só coloca na peneira aquelas coisas trocáveis que têm a característica que ele finalmente deseja extrair como sendo a "característica em comum", deixando de fora todas as outras que não a têm.  Faz isso como alguém que, desejando ardentemente tirar da urna uma bola branca, por precaução coloca na urna apenas bolas brancas.  Ele limita o campo da sua busca da substância do valor de troca às "mercadorias".  Esse conceito, sem ser cuidadosamente definido, é tomado como mais limitado do que o de "bens" e se limita a produtos de trabalho, em oposição a bens naturais. Consequentemente, fica óbvio que, se a troca realmente significa uma equiparação que pressupõe a existência de algo "comum da mesma grandeza", esse "algo comum" deve ser procurado e encontrado em todas as espécies de bens trocáveis: não só nos produtos de trabalho, mas também nos dons da natureza, como terra, madeira no tronco, energia hidráulica, minas de carvão, pedreiras, jazidas de petróleo, águas minerais, minas de ouro etc.[1]
Excluir, na busca do algo "comum" que há na base do valor de troca, aqueles bens trocáveis que não sejam bens de trabalho é, nessas circunstâncias, um pecado mortal metodológico.  É como se um físico que quisesse pesquisar o motivo de todos os corpos terem uma característica comum, como o peso, por exemplo, selecionasse um só grupo de corpos, talvez o dos corpos transparentes, e, a seguir, cotejasse todas as características comuns aos corpos transparentes, terminando por demonstrar que nenhuma das características — a não ser a transparência — pode ser causa de peso, e proclamasse, por fim, que, portanto, a transparência tem de ser a causa do peso.
A exclusão dos dons da natureza (que certamente jamais teria ocorrido a Aristóteles, pai da ideia da equiparação na troca) não pode ser justificada, principalmente porque muitos dons naturais, como o solo, são dos mais importantes objetos de fortuna e comércio. Por outro lado, não se pode aceitar a afirmação de que, em relação aos dons naturais, os valores de troca são sempre casuais e arbitrários: não só existem preços eventuais para produtos de trabalho, como também, muitas vezes, os preços de bens naturais revelam relações nítidas com critérios ou motivos palpáveis.  É conhecido que o preço de compra de terras constitui um múltiplo da sua renda segundo a porcentagem de juro vigente.  É também certo que, se a madeira no tronco ou o carvão na mina obtêm um preço diferente, isso decorre da variação de localização ou de problemas de transporte e não do mero acaso.
Marx se exime de justificar expressamente o fato de haver excluído do exame anterior parte dos bens trocáveis. Como tantas vezes, também aqui sabe deslizar sobre partes espinhosas de seu raciocínio com uma escorregadia habilidade dialética: ele evita que seus leitores percebam que seu conceito de "mercadoria" é mais estreito do que o de "coisa trocável".  Para a futura limitação no exame das mercadorias, ele prepara com incrível habilidade um ponto de contato natural, através de uma frase comum, aparentemente inofensiva, posta no começo do seu livro: "A riqueza das sociedades em que reina a produção capitalista aparece como uma monstruosa coleção de mercadorias."  Essa afirmação é totalmente falsa se entendermos o termo "mercadoria" no sentido de produto de trabalho, que o próprio Marx lhe confere mais tarde.  Pois os bens da natureza, incluindo a terra, são parte importante e em nada diferente da riqueza nacional.  Mas o leitor desprevenido facilmente passa por essas inexatidões, porque não sabe que mais tarde Marx usará a expressão "mercadoria" num sentido muito mais restrito.
Aliás, esse sentido também não fica claro no que se segue a essa frase.  Ao contrário, nos primeiros parágrafos do primeiro capitulo fala-se alternadamente de "coisa", de "valor de uso", de "bem" e de "mercadoria", sem que seja traçada uma distinção nítida entre estes termos. "
A utilidade de uma coisa", escreve ele na p. 10, "faz dela um valor de uso". "A mercadoria. . . é um valor de uso ou bem". Na p. 11, lemos: "o valor de troca aparece... como relação quantitativa... na qual valores de uso de uma espécie se trocam por valorem de uso de outra."
Note-se que aqui se considera primordialmente no fenômeno do valor de troca também a equação 'valor de uso = bem'.  E com a frase "examinemos a coisa mais de perto", naturalmente inadequada para anunciar o salto para outro terreno, mais estreito, de análise, Marx prossegue:  "Uma só mercadoria, um 'moio' de trigo, troca-se nas mais diversas proporções por outros artigos."  E ainda: "tomemos mais duas mercadorias" etc.  Aliás, nesse mesmo parágrafo ele volta até com a expressão "coisas", e logo num trecho muito importante, em que diz que "algo comum da mesma grandeza existe em duas coisas diferentes" (que são equiparadas na troca).
A falácia de Marx consiste em uma seleção tendenciosa de evidências
No entanto, na p. 12, Marx prossegue na sua busca do "algo comum" já agora apenas para o "valor de troca das mercadorias", sem chamar a atenção, com uma palavra que seja, para o fato de que isso estreitará o campo de pesquisa, direcionando-o para apenas uma parcela das coisas trocáveis. 
Logo na página seguinte (p. 13), ele abandona de novo essa limitação, e a conclusão, a que há pouco havia chegado para o campo mais restrito das mercadorias, passa a ser aplicada ao círculo mais amplo dos valores de uso dos bens. "Um valor de uso ou bem, portanto, só tem um valor, na medida em que o trabalho humano abstrato se materializa ou se objetiva nele!"
Se, no trecho decisivo, Marx não houvesse limitado sua pesquisa aos produtos de trabalho, mas tivesse também procurado o "algo comum" entre os bens naturais trocáveis, ficaria patente que o trabalho não pode ser o elemento comum.  Se Marx houvesse estabelecido essa limitação de maneira clara e expressa, tanto ele quanto seus leitores infalivelmente teriam tropeçado nesse grosseiro erro metodológico.  Teriam sorrido desse ingênuo artifício, através do qual se "destila", como característica comum, o fato de "ser produto de trabalho", pesquisando num campo do qual antes foram indevidamente retiradas outras coisas trocáveis que, embora comuns, não são "produto do trabalho".  
Só seria possível lançar mão deste artifício da maneira como o fez — ou seja, sub-repticiamente — com uma dialética ríspida, passando bem depressa pelo ponto espinhoso da questão.  Expresso minha admiração sincera pela habilidade com que Marx apresentou de maneira aceitável um processo tão errado, o que, sem dúvida, não o exime de ter sido inteiramente falso.
Continuemos.
Por meio do artifício acima descrito, Marx conseguiu colocar o trabalho no jogo.  Através da limitação artificial do campo de pesquisa, o trabalho se tomou a característica "comum".  No entanto, além dele, há outras características que deveriam ser levadas em conta, por serem comuns.  Como afastar essas concorrentes?
Marx faz isso por meio de dois raciocínios, ambos muito breves, e ambos contendo um gravíssimo erro de lógica
No primeiro, Marx exclui todas as "características geométricas, físicas, químicas ou quaisquer outras características naturais das mercadorias".  Isso porque "suas características físicas só serão levadas em conta na medida em que as tornam úteis, portanto as transformam em valores de uso.  Mas por outro lado, a relação de troca das mercadorias aparentemente se caracteriza pela abstração de seus valores de uso".  Pois "dentro dela (da relação de troca) um valor de uso cabe tanto quanto outro qualquer, desde que exista aí em proporção adequada".
O que diria Marx do argumento que segue?  Em um palco de ópera, três cantores, todos excelentes — um tenor, um baixo e um barítono —, recebem, cada um, um salário de 20.000 moedas por ano.  Se alguém perguntar qual é a circunstância comum que resulta na equiparação de seus salários, respondo que, quando se trata de salário, uma boa voz vale tanto quanto outra: uma boa voz de tenor vale tanto quanto uma boa voz de baixo, ou de barítono, o que importa é que a proporção seja adequada.  Assim, por poder ser, "aparentemente", afastada da questão salarial, a boa voz não pode ser a causa comum do salário alto.
É claro que tal argumentação é falsa.  É igualmente claro também que é incorreta a conclusão a que Marx chegou, e que foi por mim aqui transcrita.  As duas sofrem do mesmo erro.  Confundem a abstração de uma circunstância em geral com a abstração das modalidades específicas nas quais essa circunstância aparece.  Em nosso exemplo, o que é indiferente para a questão salarial é apenas a modalidade específica da boa voz, ou seja, se se trata de voz de tenor, baixo ou barítono.  Mas não a boa voz em si.
Da mesma forma, para a relação de troca das mercadorias, abstrai-se da modalidade específica sob a qual pode aparecer o valor de uso das mercadorias, quer sirvam para alimentação, quer sirvam para moradia ou para roupa. Mas não se pode abstrair do valor de uso em si.  Marx deveria ter deduzido que não se pode fazer abstração desse último, pelo fato de que não existe valor de troca onde não há valor de uso.  Fato que o próprio Marx é forçado a reconhecer repetidamente.[2]
Mas coisa pior acontece com o passo seguinte dessa cadeia de argumentação.  "Se abstrairmos do valor de uso das mercadorias", diz Marx textualmente, "resta-lhes só mais uma característica: a de serem produtos de trabalho".  Será mesmo?  Só mais uma característica?  Acaso bens com valor de troca não têm, por exemplo, outra característica comum, qual seja, a de serem raros em relação à sua oferta?  Ou de serem objetos de cobiça e de procura?  Ou de serem ou propriedade privada ou produtos da natureza?
E ninguém diz melhor nem mais claramente do que o próprio Marx que as mercadorias são produtos tanto da natureza quanto do trabalho: Marx afirma que "as mercadorias são combinação de dois elementos, matéria-prima e trabalho", e conclui dizendo que "o trabalho é o pai (da riqueza) e a terra é sua mãe".
Por que, pergunto eu, o princípio do valor não poderia estar em qualquer uma dessas características comuns, tendo de estar só na de ser produto de trabalho?  Acresce que, a favor dessa última hipótese, Marx não apresenta qualquer tipo de fundamentação positiva.  A única razão que apresenta é negativa, pois diz que o valor de uso, abstraído, não é princípio de valor de troca.  Mas essa argumentação negativa não se aplica, com igual força, a todas as outras características comuns, que Marx ignorou?
E há mais ainda!  Na mesma p. 12, em que Marx abstraiu da influência do valor de uso no valor de troca, argumentando que um valor de uso é tão importante quanto qualquer outro, desde que exista em proporção adequada, ele nos diz o seguinte sobre o produto de trabalho:
Mas também o produto de trabalho já se transformou em nossas mãos.  Se abstrairmos do seu valor de uso, abstrairemos também dos elementos materiais e das formas que o tornam valor de uso.  Ele já não será mesa, casa ou fio, ou outra coisa útil.  Todas as suas características sensoriais serão eliminadas.  Ele não será produto de trabalho em marcenaria, construção ou tecelagem, ou outro trabalho produtivo.  O caráter utilitário dos trabalhos corporificados nos produtos de trabalho desaparece se desaparecer o caráter utilitário destes produtos de trabalho, da mesma forma que desaparecem as diversas formas concretas desse trabalho: elas já não se distinguem; são reduzidas a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato.
Será que se pode dizer, de modo mais claro e explícito, que, para a relação de troca, não apenas um valor de uso, mas uma espécie de trabalho, ou produto de trabalho, "vale tanto quanto qualquer outro, desde que exista na proporção adequada"?  E que se pode aplicar ao trabalho exatamente o mesmo critério em relação ao qual Marx antes pronunciou seu veredito de exclusão contra o valor de uso?  Trabalho e valor de uso têm, ambos, um aspecto quantitativo e outro qualitativo.  Assim como o valor de uso é qualitativamente diverso em relação a mesa, casa ou fio, assim também são qualitativamente diferentes os trabalhos de marcenaria, de construção ou de tecelagem.  Por outro lado, trabalhos de diferentes tipos podem ser diferenciados em função de sua quantidade, enquanto é possível comparar valores de uso de diferentes tipos segundo a magnitude do valor de uso.  É absolutamente inconcebível que circunstâncias idênticas levem, ao mesmo tempo, à exclusão de alguns elementos e à aceitação de outros!
Se, por acaso, Marx houvesse alterado a sequência de sua pesquisa, teria excluído o trabalho com o mesmo raciocínio com que exclui o valor de uso.  Com o mesmo raciocínio com que premiou o trabalho, proclamaria, então, que o valor de uso, por ser a única característica que restou, é aquela característica comum tão procurada.  A partir daí poderia explicar o valor como uma "cristalização do valor de uso".
Creio que se pode afirmar, não em tom de piada, mas a sério, que nos dois parágrafos da p. 12 onde se abstrai, no primeiro, a influência do valor de uso e se demonstra, no segundo, que o trabalho é o "algo comum" que se buscava, esses dois elementos poderiam ser trocados entre si sem alterar a correção lógica externa.  E que, sem mudar a estrutura da sentença do primeiro parágrafo, se poderia substituir "valor de uso" por "trabalho e produtos de trabalho", e na estrutura da segunda colocar, em lugar de "trabalho", o "valor de uso"!
Assim é a lógica e o método com que Marx introduz em seu sistema o princípio fundamental de que o trabalho é a única base do valor.  Julgo totalmente impossível que essa ginástica dialética fosse a fonte e a real justificativa da convicção de Marx. Um pensador da sua categoria — e considero-o um pensador de primeiríssima ordem —, caso desejasse chegar a uma convicção própria, procurando com olhar imparcial a verdadeira relação das coisas, jamais teria partido por caminhos tão tortuosos e antinaturais.  Seria impossível que ele tivesse, por mero e infeliz acaso, caído em todos os erros lógicos e metodológicos acima descritos, obtendo, como resultado não conhecido nem desejado, essa tese do trabalho como única fonte de valor.
Creio que a situação real foi outra.  Não duvido de que Marx estivesse sinceramente convencido de sua tese. Mas os motivos de sua convicção não são aqueles que estão apresentados em seus sistemas.  Ele acreditava na sua tese como um fanático acredita num dogma.  Sem dúvida, foi dominado por ela por causa das mesmas impressões vagas, eventuais, não bem controladas pelo intelecto, que antes dele já tinham desencaminhadoAdam Smith e David Ricardo, e sob influência dessas mesmas autoridades.  E ele, certamente, jamais alimentou a menor dúvida quanto à correção dessa tese.  Seu princípio tinha, para ele próprio, a solidez de um axioma.  No entanto, ele teria de prová-lo aos leitores, o que não conseguiria fazer nem empiricamente nem segundo a psicologia que embasa a vida econômica.
Voltou-se, então, para essa especulação lógico-dialética que estava de acordo com sua orientação intelectual.  E trabalhou, e revolveu os pacientes concertos e premissas, com uma espécie de admirável destreza, até obter realmente o resultado que desejava e que já de antemão conhecia, na forma de uma conclusão externamente honesta.
Conforme vimos acima, Marx teve pleno sucesso nessa tentativa de fundamentar convincentemente sua tese, enveredando pelos caminhos da dialética. Mas será que teria obtido algum amparo se tivesse seguido aqueles caminhos específicos que evitou, ou seja, o empírico e o psicológico?

Leia também: A teoria marxista da exploração e a realidade

[1] Karl Knies objeta com muito acerto contra Marx: "Na exposição de Marx não há nenhum motivo pelo qual a equação 1 "moio" de trigo = x quintais de madeira produzida na floresta não permita uma segunda equação, também válida, que diga: 1 "moio" de trigo = w quintais de madeira virgem = y acres de terra virgem = z acres de terra cultivada com prados naturais." (Das Geld, Iª ed. p. 121;1 2ª ed p. 157).
[2] Por exemplo, na p. 15, final: "Por fim, nenhuma coisa pode ter valor sem ser objeto de uso. Se for inútil, o trabalho nela contido será inútil, não valerá como trabalho (sic!), e por isso não constituirá valor."
Já Karl Knies chamara atenção para o erro lógico do texto. Veja-se Das Geld, Berlim, 1873, p. 123 ss. (2ª ed. p. 160 ss). Estranhamente, Adler (Grundlagen der Karl Marxschen Kritik, Tübingen, 1887, p. 211 ss) entendeu mal meu argumento, quando me censura dizendo que "boas vozes" não são mercadorias no sentido marxista. Para mim, não se tratava de considerar "boas vozes" como bens econômicos, segundo a lei marxista de valor, mas sim de dar o exemplo de um silogismo que revela o mesmo erro de Marx. Eu poderia muito bem escolher outro exemplo, que não tivesse nenhuma relação com o terreno econômico. Por exemplo, poderia ter demonstrado que, segundo a lógica marxista, o "algo comum" está em haver colorido em sabe-Deus-o-quê, mas não em haver uma mistura de várias cores. Pois uma mistura de cores — por exemplo, branco, azul, amarelo, preto, violeta — vale para a qualificação "colorido" o mesmo que a mistura de verde, vermelho, laranja, azul etc., desde que as cores apareçam em proporção adequada. Portanto, vamo-nos abstrair, no momento, das cores e das misturas de cor!

Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) foi um economista austríaco da Universidade de Viena e ministro das finanças.  Desvendou a moderna teoria intertemporal das taxas de juros em sua obra Capital and Interest. Em seu segundo livro, The Positive Theory of Capital, ele continuou seus estudos sobre a acumulação e a influência do capital, argumentando que há um período médio de produção em todos os processos produtivos.  Sua ênfase na importância de se pensar claramente sobre taxas de juros e sua natureza intertemporal alterou para sempre a teoria econômica.  Böhm-Bawerk tornou-se famoso por ser o primeiro economista a refutar de forma completa e sistemática a teoria da mais-valia e da exploração capitalista.  Veja sua biografia.
fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1600
 



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