quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Como reciclar papel em casa

GAYA PRODUÇÕES / Ecologia / Como fazer papel reciclado em casa
Como reciclar papel em casa

Reciclar materiais é sinonimo de ajuda a natureza. Com a reciclagem de papeis por exemplo evitamos que muitas arvores sejam cortadas desnecessáriamente.
Agora que tal participar dessa iniciativa, aprendendo na prática como isso acontece?
Então mão na massa para fazer o seu própio papel reciclado
.

Material necessário :

Sobras de papel (papel de seda, papel crepom, sulfite, jornal, papel de embrulhar pão, filtro de papel usado, etc.)
Água
Balde
Liquidificador
Peneira Plástica (plana)
Bacia Plástica (suficiente grande para caber a peneira dentro)
Panos de prato
Jornal
Esponja
Xícara


1-) Rasgue o papel em pedacinhos pequenos e jogue num balde com água. Encha aproximadamente 3/4 do liquidificador com água e acrescente 1 xícara do papel picado do balde. Bata até o papel desmanchar por completo. Você deverá obter uma pasta com consistencia parecida com a de iogurte.
*Para dar um toque especial ao seu papel, acrescente a pasta já batida pedacinhos de linha colorida, folhinhas secas, etc. Use a imaginação
2-)Despeje a mistura na bacia e repita a operação até enche-la. Mergulhe a peneira dentro da bacia e retire-a coberta de massa. Espere alguns segundos para escorrer a água.
3-)Ponha a peneira com a massa em cima do pano de prato, numa surpeficie plana.Coloque mais ou menos 4 camadas de jornal sobre a peneira e com uma esponja, pressione o jornal contra a massa até retirar todo o excesso de água.
Depois, vire a peneira com o jornal para baixo. Dê algumas batidinhas para soltar a massa da peneira. Coloque a massa para secar e repita a operação para fazer mais folhas de papel.
Com a massa ainda umida, retire cuidadosamente o jornal e espere até o dia seguinte para que a massa esteja completamente seca. Pronto! aquele papel usado que ia virar lixo, transformou-se numa folha novinha para ser usada outra vez. E o melhor de tudo: foi você quem fez.
E aqui você tem algumas idéias
do que pode fazer com um papel reciclado:
Cartões super bonitos,
convites para o seu aniversário,
bloquinhos de anotações
e tudo o que você imaginar.

Retirado de uma embalagem de Kellogg's - projetos ecológicos.


Fonte: http://www.geocities.com/gaya_prod/papel_.html

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Semiótica: uma suave introdução


Semiótica: uma suave introdução

Eufrasio Prates

Was ist das e prak serv?
Origens da Semiótica
A Disputa do Século
Conceitos básicos de uma semiótica pós-estruturalista
Triadomania
O Signo peirceano e as tricotomias
Dez classes trilegais, tchê: as combinações tricotômicas
Manual de Instruções?
Bibliografia


A pretensão de apresentar a Semiótica em poucas linhas pode ter resultado em reprováveis simplificações. Um campo de conhecimento tão amplo e complexo exige certamente um espaço-tempo maior que o presente, motivo pelo qual este alerta introdutório faz-se necessário. Isto posto, nada mais adequado que procurar partir de questões centrais, indispensáveis para delinear um mapa hipertextual que permita uma orientação de novos navegantes pelos mares da assim definida ciência dos signos ou processos de significação.

Was ist das e prak serv?

Segundo Winfried Nöth (1995:19)"a semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura". A investigação semiótica abrange virtualmente todas as áreas do conhecimento envolvidas com as linguagens ou sistemas de significação, tais como a lingüística (linguagem verbal), a matemática (linguagem dos números), a biologia (linguagem da vida), o direito (linguagem das leis), as artes (linguagem estética) etc. Para Lúcia Santaella, ela "é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis" (1983:15).

Sua principal utilidade é possibilitar a descrição e análise da dimensão representativa (estruturação sígnica) de objetos, processos ou fenômenos em categorias ou classes organizadas. Como ela faz isso? De formas tão diversas que, neste momento, vale a pena um rápido passeio pelas ...


Origens da Semiótica

Muito antes que o termo "semiótica" fosse utilizado, já encontramos investigações a respeito dos signos. Tais origens se confundem com as da própria filosofia: Platão já se preocupou em definir o signo em seus diálogos sobre a linguagem. No séc. XVII, John Locke "postulou uma ‘doutrina dos signos’ com o nome de Semeiotiké" e, em 1764, Johann H. Lambert escreveu "um tratado específico intitulado Semiotik" (Nöth, 1995:20). O termo deriva etimologicamente do grego semeîon (signo) e sema (sinal), tendo originado diversos termos tais como semeiotica, semeiologia, sematologia, semologia etc. No entanto, só em 1964 é que Thomas Sebeok publicou uma coletânea chamada Approaches to semiotics, dando à palavra a forma plural que, no inglês, caracteriza a denominação de uma ciência.

Tal preocupação etimológica visa, além de elucidar o processo diacrônico sofrido pelo termo, abrir espaço para discutir duas grandes correntes do Século XX no campo do estudo dos signos: a semiologia e a semiótica. Embora ao final dos anos 60 tenha sido adotada a palavra "semiótica como termo geral do território de investigações nas tradições da semiologia e da semiótica geral" (Nöth, 1995:26), ainda hoje encontramos inclinações determinadas pelo que podemos chamar de ...


A Disputa do Século

Em paralelo com o desenvolvimento da "corrente semiótica" – inspirada na obra de Charles Sanders Peirce (1839-1914) – nasce no esteio do Curso de Lingüística Geral (1916) de Ferdinand de Saussure a semiologia como ciência geral dos signos. Para ser mais preciso, surgirão realmente duas correntes de estudos semióticos cuja preocupação com o signo é inferior à dos textos propriamente ditos e das estruturas menores dos signos verbais (semas, sememas, lexemas etc.): são elas a Semiótica Narrativa do Discurso (francesa) e a Semiótica da Cultura (russa). O que essas linhagens apresentam em comum são o enraizamento lingüístico e o caráter diádico de suas categorizações e classificações.

A semiótica peirceana apóia-se, como o semeîon platônico e o aristotélico, num esquema triádico, ao passo que a semiologia pós-saussureana vê o signo de forma dual. A posição da ciência do signo no conjunto com as demais ciências é outra divergência entre as duas correntes: a semiótica surge como uma "filosofia científica da linguagem" (Santaella, idem, 28) enquanto a semiologia é proposta inicialmente por Saussure como um ramo da psicologia social – a englobar a própria lingüística como um de seus ramos (Nöth, 1996:19)–, para a seguir sofrer uma tentativa de inversão quando Barthes sugere que a semiologia é que deveria ser um ramo da lingüística (Barthes, 1988:13).

Semioticistas e semiologistas entabulam uma disputa que leva cada lado a criar suas próprias definições para os termos semiótica e semiologia. Para os primeiros – majoritariamente de origem anglo-saxônica – a semiologia é tida como a ciência dos signos especificamente criados pelos homens, menos abrangente, portanto, que a semiótica. Para os semiologistas – geralmente oriundos de países românicos – "a semiótica é um sistema de signos com estruturas hierárquicas análogas à linguagem – tal como uma língua, um código de trânsito, arte, música ou literatura – ao passo que semiologia é a teoria geral, a metalíngua (...), que trata dos aspectos semióticos comuns a todos os sistemas semióticos" (Nöth, 1995:25-26).

A importância deste debate situa-se em explicitar ao leitor nossa opção pela semiótica pós-estruturalista, de inspiração peirceana, de Umberto Eco e Thomas Sebeok. As características que melhor diferenciam a corrente peirceana das demais é sua preocupação central com o signo, seu conceito triádico de signo (e não diádico, como as outras), sua fenomenologia supra-lingüística e a dinamicidade radical do processo semiósico.

Falemos, portanto e finalmente, dos ...


Conceitos básicos de uma semiótica pós-estruturalista

Para iniciar uma possível resposta à nossa questão pendente – apenas lembrando: como a semiótica pode ser útil para analisar os signos – impõe-se agora um maior detalhamento dos seus conceitos fundantes na obra de Peirce, suporte básico da semiótica pós-estruturalista.

Para este pensador, um signo é "algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém" (Peirce, 1972:94, grifo nosso). Essa perspectiva triádica se multiplica profusamente na obra peirceana, motivo pelo qual pode ser fruto de uma...


Triadomania

A eleição das "trindades" como suportes classificatórios e categorizadores, é óbvio, antecede em milênios a obra peirceana, bastando lembrar Platão ou o catolicismo. Seja uma obsessão sua ou não (como ele mesmo admite), devemos nos lembrar que toda teoria procura reduzir, em maior ou menor grau, a multiplicidade e complexidade universais em um todo ordenado, que faça sentido. Neste sentido, a filosofia peirceana vai entender a realidade de forma pansemiótica – isto é, tudo como semioticamente analisável – e classificável fenomenologicamente segundo três categorias:

  • primeiridade – categoria do "desprevenido", da primeira impressão ou sentimento (feeling) que recebemos das coisas;
  • secundidade – categoria do relacionamento direto, do embate (struggle) de um fenômeno de primeiridade com outro, englobando a experiência analogística e
  • terceiridade – categoria de inter-relação de triplo termo; interconexão de dois fenômenos em direção a uma síntese, lei, regularidade, convenção, continuidade etc.

As qualidades puras, imediatamente sentidas, são típicas da primeiridade. As relações diádicas, analítico-comparativas, são exemplos de secundidade. As palavras, por se remeterem a algo para alguém, são fenômenos de terceiridade. Para que passemos agora da filosofia à semiótica, detalhemos melhor ...


O Signo peirceano e as tricotomias

O signo – que nesse universo vai do desenho infantil até o mais rigoroso tratado de lógica, incluindo o homem que os produz como um signo também – é concebido como uma tríade formada pelo representamen – aquilo que funciona como signo para quem o percebe –, pelo objeto – aquilo que é referido pelo signo – e pelo interpretante – o efeito do signo naquele (ou naquilo, podendo-se aí incluir os seres ou dispositivos comunicativos inumanos como os computadores) que o interpreta. Vale lembrar com Merrell (1998:49) que não devemos pressupor que o signo e seu objeto "são sempre entidades concretas - espaço-temporais - ou até objetos físicos. Peirce sempre cuidava para evitar esse erro". Em muitos casos podemos experimentar a concretude de signos, objetos e representamina embora em outros eles careçam de qualquer materialidade. Exemplo disso pode ser o signo "Pégasus", escrito nessa página. Embora ele esteja materialmente representado aqui, dele derivará na mente do leitor (com certeza quase absoluta) um signo mental de "cavalo alado" cujas partes e objeto referido carecem de concretude. Ainda assim, é inegável que no exemplo dado algo representou alguma coisa para alguém, o que atende plenamente à definição de signo. Passemos então a uma melhor definição das partes que o compõem:

O representamen é o sustentáculo de um signo ou aquilo que funciona como signo, remetendo a algo para um interpretante. É através dele que o signo se remete por alguma causa (seja a semelhança, indicação ou convenção) a um objeto.

Este objeto exterior ao signo, chamado de objeto dinâmico, é "espelhado" no interior do signo, "imagem" esta que se denomina objeto imediato.

Se encontramos duas facetas para o objeto (o objeto dinâmico e o imediato), para o interpretante (que muita gente confunde com um indivíduo, quando na verdade trata-se mais do resultado interpretativo em si mesmo) vamos encontrar três. A capacidade de um signo produzir algo numa mente qualquer, isto é, seu total potencial sígnico, é o interpretante imediato. Para que se dê um processo de semiose é necessário que esse potencial se realize, sempre parcial e singularmente, na mente de alguém ou de um dispositivo interpretativo, ou seja que se realize um interpretante dinâmico. Quando esse interpretante dinâmico atinge a terceiridade, isto é, quando engendra uma interpretação simbólica, caracteriza-se um novo signo "de caráter lógico [...] que Peirce chama de interpretante em si" (Santaella, 1983:82). Embora a composição de um signo não seja linearizável, propomos o esquema abaixo para facilitar a sua compreensão:

REPRESENTAMEN

suporte ou fundamento (material ou mental) do signo

OBJETO IMEDIATO

objeto dentro do signo ("especular")

OBJETO DINÂMICO

objeto fora do signo (referido)

INTERPRETANTE IMEDIATO

potencial de interpretações

INTERPRETANTE DINÂMICO

singularização do interpretante

INTERPRETANTE EM SI

novo signo (representamen) na mente

O processo de apreensão de um signo é chamado de semiose. Ela envolve um movimento espiralado, na medida em que toda apreensão sígnica pode tornar-se o reinício de uma nova semiose.

Para melhor compreender os tipos de signo segundo suas características referenciais e fenomenológicas, Peirce desenvolveu classes ou categorias, organizadas em tricotomias (taxonomias tríadicas).

A primeira tricotomia organiza os signos segundo as características do próprio signo, isto é, do representamen. O representamen foi dividido nas categorias de quali-signo, sin-signo e legi-signo. O quali-signo é uma qualidade sígnica, imediata, tal como a impressão causada por uma cor. É, na verdade, um pré-signo ou uma ante-materialidade sígnica de um signo. Tal qualidade apresentada num concreto qualquer, isto é singularizada ou individualizada, é já um sin-signo. Um sin-signo, por sua vez, pode gerar uma idéia universalizada – uma convenção substitutiva do conjunto que a singularidade representa – sendo assim um legi-signo.

Da relação entre o representamen e o objeto advém a segunda e mais importante tricotomia, no entender de Peirce: ícone, índice e símbolo. O ícone, de forma semelhante ao quali-signo, representa apenas uma parte da semiose na qual o representamen evidencia um ou mais aspectos qualitativos do objeto. Os retratos ilustram bem essa categoria. A iconicidade de um signo funda-se no que Nöth chama de "homologias estruturais", isto é, na semelhança entre representamen e objeto.

Se há uma relação direta entre estas duas partes do signo sem no entanto tratar-se de similaridade, falamos já da categoria dos índices. Uma nuvem escura pode significar chuva, embora sejam muito diferentes uma da outra. As relações orgânicas de causalidade são típicas dessa categoria, onde o representamen indica (para) o objeto. Outra característica dos índices é sua singularidade, o que na linguagem seria exemplificado pelos nomes próprios.

O nome de um objeto qualquer – "cadeira" por exemplo – refere-se não só a uma cadeira em particular ("esta cadeira", por exemplo, seria um índice) mas a uma idéia geral de "objeto composto de um assento sustentado a uma determinada distância do solo através de um ou mais pés e um encosto fixado angularmente em relação ao assento". Por este motivo, transcende a secundidade indiciática em direção à categoria simbólica. Os símbolos são arbitrários, no sentido de que são socialmente convencionados e mutáveis (cadeira no Brasil, chair na Inglaterra e chaise na França), mas não absolutamente acidentais ou arbitrárias – haja vista as homologias já descobertas entre as mais diversas línguas do planeta e a impossibilidade de alteração individual desses signos. Os tipos, generalidades e idéias são signos simbólicos pois não se restringem à singularidade. Ao contrário, abrem-se à multiplicidade e universalidade por seu alto grau de abstração. É claro que cada repetição da palavra cadeira neste texto apresenta-se singularmente. No entanto, Peirce denomina cada singularização de um símbolo como réplica do tipo original.

Analisemos, a título de exemplo dessas duas primeiras tricotomias, algumas características do signo abaixo:

cruz.jpg (14020 bytes)

Quanto à primeira tricotomia: este, como todo e qualquer outro signo, é qualissígnico na medida em que apresenta cores e formas a serem percebidas como algo (representamen). A imagem produzida pelos pixels de luz de seu monitor (ou da tinta no papel, no caso de versão impressa) é sinsígnica enquanto exemplar único (no seu computador ou papel). Se esse representamen for capaz de significar não apenas uma imagem específica de cruzes em cemitérios, mas todas as cruzes de qualquer cemitério, torna-se então um legi-signo. Como se pode ver, um signo pode acumular categorias dependendo da forma como ocorre o processo de semiose.

Quanto à segunda: essa foto representa uma cruz num cemitério por semelhança. A palavra "cruz", por exemplo, não se assemelha em nada ao objeto representado na foto. Já a foto, certamente, é um ícone por essa relação de similaridade entre representamen e objeto. Por outro lado, essa é uma imagem escaneada de uma foto que foi revelada de um filme batido no cemitério de Carinhanha-BA (uma das cidades mais importantes da região de Carinhanha-BA). Ainda que de forma mediata, há uma relação física (indicial) entre o objeto e o representamen (já que uma série de fótons foram refletidos pelo objeto representado no filme (negativo), que sofreu o processo físico de revelação e ampliação (positivo) que, por sua vez, foi escaneado também por meios físicos até se tornar essa imagem que você vê). A imagem, assim, indica a existência material de um cemitério em Carinhanha-BA (como você já deve estar desconfiando, eu nasci em Carinhanha). Além de índice, essa imagem da cruz pode significar uma característica da religião do morto: trata-se de um suposto cristão. A cruz da foto pode representar para alguém a própria doutrina cristã, tornando-se nesse caso específico um símbolo, isto é, uma representação abstrata, convencional, de algo. De novo encontramos a riqueza combinatória e interpretativa das categorias peirceanas.

A mais complexa e racional categorização dos signos – a terceira tricotomia – refere-se à relação entre representamen e interpretante, donde emergem o rema, o dicente e o argumento. A categoria remática engloba o que na lógica formal se chama de termo, isto é, um enunciado impassível de averiguação de verdade, descritivo como um nome ou palavra. A palavra "cruz", isolada e fora de qualquer contexto, é certamente um rema.

Caso faça parte de uma assertiva qualquer, classifica-se como dicente (ou dicissigno). Ao contrário do rema, o dicente parece pedir confirmação de veracidade: "essa cruz representada na foto está colocada sobre o túmulo do meu avô", "meu carro é azul-vandyke" ou "o nosso salário está alto demais". O dicente, enquanto secundidade e dialogicidade, é altamente informativo – ainda que exija averiguação, na medida em que não fornece os motivos pelos quais afirma algo.

Se fornecesse, já não seria dicente, mas argumento. Enunciados encadeados de forma a evidenciar a condição de verdade de uma conclusão, ou seja, discursos de caráter persuasivo ou silogismos formais, são exemplos de argumentos. Por exemplo: "a cruz da foto acima está colocada sobre o túmulo do meu avô porque a probabilidade de haverem escrito o seu nome, Sebastião dos Santos Farias, sobre um túmulo errado é deveras reduzida, especialmente considerando-se que o índice de mortalidade em Carinhanha dificilmente ultrapassa o de um morto por dia (já que a cidade conta com menos de 5000 habitantes) e, além disso, no dia do enterro de meu avô ninguém mais foi enterrado, excluindo-se assim a possibilidade de troca ou engano de túmulo". Esse foi um argumento (dedutivo e, devo confessar, pouco elegante quando comparado aos exemplos de Aristóteles ou Peirce).

Como lógico, Peirce se preocupa em classificar os argumentos e verificar sua condição de verdade. Ao lado das já conhecidas dedução e indução, identifica uma terceira operação lógica criativa (ainda que arriscada) chamada abdução. Se a dedução parte do geral para o particular e a indução percorre o caminho oposto, a abdução – também chamada, algumas vezes, de hipótese – afirma um caso a partir de uma regra e de um resultado. Assim temos:

"Dedução

  • Regra: todos os feijões deste pacote são brancos.
  • Caso: estes feijões são deste pacote.

    \ resultado: estes feijões são brancos.

    Indução

  • Caso: estes feijões são deste pacote.
  • Resultado: estes feijões são brancos.

    \ regra: todos os feijões deste pacote são brancos.

    Hipótese

  • Regra: todos os feijões deste pacote são brancos.
  • Resultado: estes feijões são brancos.

    \ caso: estes feijões são deste pacote." (Peirce, 1972, 149-150)

    Os argumentos dedutivos exigem um alto grau de informação, e portanto de esforço, para chegarem a pouco mais do que tautologias. E mesmo para esse pouco, estão já a fazer uso da indução. O alto grau de risco da indução, por sua vez, pede ao pesquisador criativo que o leve mais longe, que produza através da abdução, novas possibilidades de conhecimento, especialmente através de um resgate do uso de nossa capacidade intuitiva. Especialmente quando se trata de seu uso nas ciências ditas "humanas". A preocupação obsessiva com o método pode levar, como é bastante comum, a abordagens quantitativistas inadequadas para determinados "objetos" de pesquisa. De nossa parte, alertamos para o fato de que as propostas classificatórias semióticas exigem-nos o cotejo contextual, já que nenhum signo tem existência per si ou a priori, mas sempre relativamente a tal contexto.

    Frente à complexidade de cada uma das tricotomias até aqui estudadas e tendo em vista um processo inverso de remontagem pós-esquartejante, Peirce propõe que do seu entrecruzamento combinatório resultariam não 27 (3 x 3 x 3 tricotomias), nem 45 (as 27 com os argumentos multiplicados por 3), mas 10 classes possíveis de existência de signos (Peirce, 1972:110). Estas combinações excluem, por insuficiência lógica/ontológica, categorias como quali-signos não icônicos, sin-signos simbólicos etc. São elas as ...


    Dez classes trilegais, tchê: as combinações tricotômicas

    Ainda que não tenhamos certeza de que os gaúchos tenham se inspirado em Peirce ao cunhar esta gíria, consideramos trilegais essas classes por permitirem que, ao olharmos para um determinado objeto de investigação, consigamos verificar como ele se compõe e articula. Uma inocente home-page internetiana pode esconder, por trás de fontes iconicamente curvilíneas, uma apologia a símbolos ciber-sensuais subliminares para o olho não conscientemente semiótico. Esse exemplo pode ser aprofundado através do conhecimento e aplicação da classificação combinatória dos três componentes básicos do signo, como segue (Nöth, 1995:93-94):

    1. Quali-signo icônico remático: "é uma qualidade que é um signo". Ex.: sensação do vermelho.
    2. Sin-signo icônico remático: "é um objeto particular e real que, pelas suas próprias qualidade, evoca a idéia de um outro objeto". Ex.: diagrama dos circuitos numa máquina particular.
    3. Sin-signo indicial remático: "dirige a atenção a um objeto determinado pela sua própria presença" Ex.: grito de dor.
    4. Sin-signo indicial dicente: além de ser diretamente afetado por seu objeto, "é capaz de dar informações sobre esse objeto". Ex.: cata-vento.
    5. Legi-signo icônico remático: "ícone interpretado como lei". Ex.: diagrama num manual.
    6. Legi-signo indicial remático: "lei geral ‘que requer que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu objeto, de tal modo que simplesmente atraia a atenção para esse objeto’"(Peirce). Ex.: pronome demonstrativo.
    7. Legi-signo indicial dicente: "lei geral afetada por um objeto real, de tal modo que forneça informação definida a respeito desse objeto". Ex.: placa de trânsito.
    8. Legi-signo simbólico remático: "signo convencional que ainda não tem o caráter de uma proposição". Ex.: dicionário.
    9. Legi-signo simbólico dicente: "combina símbolos remáticos em uma proposição, sendo, portanto, qualquer proposição completa". Ex.: qualquer proposição completa.
    10. Legi-signo simbólico argumento: "signo do discurso racional". Ex.: silogismo.
    quali-signo ícone rema
    sin-signo índice dicente
    legi-signo símbolo argumento

    É importante contextualizar todas essas classes e categorias no universo lógico peirceano, diverso do formalista aristotélico e do positivista-mecanicista. Ainda que para todos a lógica seja "a ciência formal das condições de verdade das representações", em Peirce enfatiza-se a limitação científica do tratamento do que deve ser e não do que é. Por este motivo, a semiótica não se confunde com uma ontologia, sendo melhor definida como ciência que estuda o real semiótico, isto é, o mundo das representações ou da linguagem. Mas, se como já sugerimos anteriormente, a ciência dos signos é uma ferramenta de grande utilidade, será que ela é disponibilizada com um ...


    Manual de Instruções?

    Por ter nascido num berço pragmaticista, muitos esperam que a semiótica venha com um manual de aplicação – e, de quebra, garantia de um ano após a aquisição – o que de fato não ocorre. As "ferramentas" da ciência dos signos se mostram úteis nos mais diversos campos de investigação justamente por sua abertura e amplitude. Mais do que descrever em quais classes ou categorias se inscrevem os signos, a semiótica permite a compreensão do jogo complexo de relações que se estabelecem numa semiose ou num sistema delas. Ao ordenar esse conjunto de relações, podemos antever o seu significado e aplicabilidade no mundo da(s) linguagem(ns). É nesse processo que os dados da realidade podem ganhar o status de informação, conhecimento e, em alguns casos, sabedoria.

    O máximo que podemos fazer, neste sentido, é sugerir a leitura das análises apresentadas n’O Signo de Três, organizadas por Umberto Eco e Thomas Sebeok, no capítulo IV do Panorama da Semiótica de Winfried Nöth, no Conceito de Texto de Umberto Eco e em minha análise semiótica do filme "Couraçado Potemkin" (www.geocities.com/Eureka/8979/potemkin.htm). Os "surfistas da Internet" que me perdoem, mas daqui por diante abre-se o caminho para, abandonando a prancha até aqui utilizada, o mergulho dos interessados por essa poderosa ciência de compreensão do real semiótico.

    E está, para o que nos propomos, de bom tamanho!


    Bibliografia

    1. BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo, Cultrix, 1988.
    2. ECO, Umberto e SEBEOK, Thomas (org.). O Signo de Três. São Paulo, Perspectiva, 1991.
    3. ECO, Umberto. Conceito de Texto.
    4. MERRELL, Floyd. Introducción a la Semiótica de C. S. Peirce. Maracaibo-Venezuela, Universidad del Zulia, 1998.
    5. NÖTH, Winfried. A Semiótica no Século XX. São Paulo, Annablume, 1996.
    6. NÖTH, Winfried. Panorama da Semiótica: De Platão a Peirce. São Paulo, Annablume, 1995.
    7. PEIRCE, Charles S. Semiótica e Filosofia. São Paulo, Cultrix, 1972.
    8. PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 1987.
    9. SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São Paulo, Brasiliense, 1983.
    10. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo, Cultrix, 1988.

    Do Autor

    O Prof. Eufrasio Prates é Compositor Musical pela FAAM-SP-Faculdade de Artes Alcântara Machado e Mestre em Comunicação pela UnB, autor do livro "Passeio-relâmpago pelas idéias estéticas ocidentais" e ministra as disciplinas de "Teorias de Comunicação" e "Estética e Indústria Cultural" no IESB-Instituto de Educação Superior de Brasília. É também Diretor-Administrativo da ABSB-Associação Brasileira de Comunicação e Semiótica e Vice-Coordenador do NTC-Brasília-Centro de Estudos e Pesquisas em Novas Tecnologias, Comunicação e Cultura.
    e-mail: eufrasioprates@usa.net



    Trechos deste artigo podem ser citados, desde que mencionada a fonte.


    Fonte: http://www.geocities.com/Eureka/8979/semiotic.htm

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    Isso é uma questão de semântica


    Semântica (ou sematologia, ou ainda semasiologia) é o estudo do significado dos vocábulos, quer no momento atual, quer através do tempo e também do espaço. Divide-se em estática e histórica; a primeira diz respeito a determinada fase de uma língua (os dicionários são trabalhos de semântica estática, pois dão o significado das palavras de uma língua num dado momento); a segunda - e esta é a que constitui propriamente a semântica - procura ver a evolução do significado das palavras, as suas transformações de sentido. A semântica pode ainda ser etiológica, quando estuda as causas dos fenômenos semânticos, como pode ser ainda geral ou particular, conforme abranja várias línguas, geralmente aparentadas, ou uma só.

    Fonte: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070928121005AAdGCS1

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    CORPO E MEMÓRIA TRAUMÁTICA


    CORPO E MEMÓRIA TRAUMÁTICA

    Eliana Schueler Reis (1)

    Texto apresentado no I Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e VII Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, Rio, 2004.

    O traumático refere-se ao exógeno, àquilo que vindo de fora atinge o sujeito de forma inesperada e desarma suas defesas. Do ponto de vista do psiquismo, o fora é a própria experiência da dor, enquanto o que não pode ser recalcado, e em relação ao qual só é possível a defesa pela clivagem narcísica. O corpo, como lugar da experiência sensível, sendo atravessado por uma vivência excessiva que não encontra eco no mundo psíquico, atua como elemento exógeno e traumático para o eu. Dito de outro modo, a memória do trauma fixada nas marcas deixadas por essas “percepções insensíveis” atua pela repetição e não por formações substitutivas, fora, portanto, do registro de inscrições psíquicas relativas ao recalque e aos sistemas mnêmicos. Esse trabalho apresenta como hipótese que a memória traumática se inscreve como signos de percepção (Freud; 1950 [1892-99]) ou impressões sensíveis. Ou seja, não circula por nenhuma rede associativa, permanecendo numa dimensão fragmentada e se fazendo presente por manifestações corporais da ordem da repetição e da desintricação pulsional. Essa dimensão de fragmentação pressupõe a ação desagregadora da pulsão de morte agindo no interior do eu que caracteriza o masoquismo original, erógeno fazendo com que os mais diversos modos de auto-erotismo permaneçam atuando de forma autônoma, criando espaços de mise-em-act no corpo e não de mise-en-scène psíquica. Isso nos convida a pensar como se constróem relações terapêuticas nessa dimensão de fragmentação e nesse registro de sensibilidade.

    Em relação ao trauma, seguindo o pensamento de Ferenczi, podemos assumir duas posições: por um lado, considerar que toda experiência com o mundo implica numa desordem e em uma exigência de trabalho psíquico no sentido de fazer novas ligações; por outro lado, se este contato com o fora for de tal ordem excessivo, esse trabalho de ligação fica impedido e então o que resta é a repetição traumática de algo que não chegou a fazer sentido.

    Discutir o tema do trauma psíquico implica em colocar em questão o recalcamento como forma predominante de organização de defesas na neurose. Ferenczi assinala que a vivência traumática leva o sujeito à comoção psíquica, que atuaria como um estado psicótico passageiro no qual se rompe a continuidade dos processos subjetivos pelos quais o sujeito se reconhece. Enquanto no recalcamento perde-se a memória de um primeiro tempo, que será significado como sintoma em um segundo tempo sobrecarregado de sentido; na clivagem traumática, os dois momentos não se dão em continuidade, são o mesmo, um não empresta sentido ao outro, porque ambos escapam ao sentido (Reis, 2004, 70).

    A clivagem não é resultante de um conflito entre dois modos de satisfação, é uma medida de defesa contra a ameaça de destruição física e psíquica. A ameaça percebida, nesse caso, é de aniquilamento e não de castração, considerando o que esta significa em sua dimensão de renúncia pulsional, de restrição e mesmo de punição. O recurso à clivagem implica em uma ruptura na superfície do eu, trazendo a mobilização e imobilização de intensas forças de defesa, cujo objetivo é manter separados aspectos do eu, memórias de vivências, enfim, conteúdos psíquicos carregados de um excesso de excitação não passível de derivação. Colocando a questão em termos pulsionais, a clivagem envolve uma desintrincação pulsional já que resulta em uma ação fragmentadora, não se desdobrando em ligações nem em derivações associativas. Manifesta-se então, como repetição inexorável, pois não há uma situação de conflito psíquico ligado à censura e todas as possibilidades de soluções de compromisso.

    As vivências traumáticas que ocasionam o recurso à clivagem subsistem somente como registro de impressões sensíveis (Reis, 2004), cujo caráter de inexorabilidade se deve ao fato de ser sempre presente, não havendo abertura para evocar um passado, pois mesmo que existam lembranças elas não possuem a qualidade das “lembranças encobridoras” compostas, no dizer de Freud, de elementos heterogêneos entre os resíduos das recordações infantis, indicando e ocultando experiências e desejos surgidos posteriormente. (Freud, 1899)

    Nesse sentido, podemos considerar que as vivências traumáticas permanecem como um estrato de memória análogo aos signos de percepção, totalmente não suscetíveis de se tornarem conscientes, pois seu caráter inconsciente não é resultado do recalcamento, e, devido a isso, quando se manifestam à consciência sem ter passado pelas sucessivas retranscrições e redistribuições de carga, têm o efeito de um choque traumático.[1] Certas vivências que, pelo seu caráter excessivo, foram isoladas umas das outras pelo mecanismo de clivagem, estão, portanto, impedidas de se inscreverem em uma ordem de sentido e virem a integrar o cabedal de experiências do indivíduo.

    Consideramos que o mecanismo da clivagem não cria divisões tópicas, e sim faz com que eu se divida em partes não comunicantes, em que diferentes vivências encontram-se desvinculados em registros afetivos isolados. Segundo uma imagem de Ferenczi, “a pessoa divide-se num ser psíquico de puro saber que observa os eventos a partir de fora e num corpo totalmente insensível.” (Ferenczi, 1932, 142). O sentir desprovido de sentido não pode se expressar a não ser por alterações orgânicas, sensações, gestos e atos repetitivos. Por outro lado, o puro saber não tem colorido nem sentido afetivo permanecendo numa esfera de abstração e de esvaziamento do eu.

    Para Ferenczi, a clivagem é a defesa contra traumas muito precoces e constantes. Baseando-se em observações clínicas nas quais constata, em alguns pacientes, uma tendência ao adoecimento, ou uma hiper-sensibilidade às excitações, sustenta que criança mal acolhida ao nascer torna-se presa fácil da força desagregadora e destrutiva da pulsão de morte. É preciso o investimento do ambiente para fortalecer o processo de introjeção que agrega ao eu as qualidades percebidas na experiência da criança em seu mundo. Segundo o autor, “o bebê ainda se encontra muito mais perto do não-ser individual, do qual não foi afastado pela experiência da vida” (Ferenczi, 1929). E faz questão de frisar que a criança mal-acolhida não é necessariamente a criança não desejada. Ela pode ter sido desejada e, ao nascer, não corresponder às fantasias maternas ou paternas de realização narcísica, o que provoca um desinvestimento da própria existência da criança enquanto sujeito.

    Podemos supor que um ambiente não acolhedor não oferece condições suficientes à introjeção de experiências de prazer que compõe o processo de alargamento dos interesses do eu. Nesse caso, a pulsão de morte, auxiliada pela excitação sexual auto-erótica da qual se torna um componente, ficaria libidinalmente atada no corpo sob a forma do masoquismo original, erógeno, atuando no sentido da fragmentação e da disjunção do eu (Freud, 1924). Com esse movimento, fixa-se um trilhamento das vivências de dor e terror da criança não acolhida em sua estranheza em relação ao mundo dos adultos. Nesse sentido, podemos pensar que a dificuldade em realizar introjeções e ligações psíquicas que sustentem o sentimento de continuidade do eu, pode ter como conseqüência a manifestação dessa tendência desagregadora e destrutiva em certos modos de adoecer corporal, assim como em descargas corporais repetitivas (como nos tiques) ou em um agir compulsivo. Ou seja, as vivências traumáticas precoces opõem-se ao estabelecimento de ligações e não adquirem condições de significação e de construção de estratos mnêmicos, passando a se repetir como a memória corporal da tendência à desorganização originária da pulsão de morte.

    O que seria uma memória do corpo senão a atualização das marcas e das sensações dispersas de vivências auto-eróticas, atualização que remete a uma dimensão pré-individual em que o eu ainda não oferece a sustentação narcísica para a dinâmica pulsional? A parcialidade auto-erótica sustenta a autonomia de um gozo parcial em que o circuito pulsional se faz primordialmente de modo autoplástico. Em outros palavras, as satisfações parciais se dão por meio de alterações no próprio corpo, tornando-o território privilegiado para o jogo de intrincações e desintricações pulsionais.

    Essas alterações corporais, no entanto, não são da ordem de uma conversão histérica, já que não dizem respeito a um desejo recalcado, e sim à repetição das marcas traumáticas que permaneceram registradas como signos de percepção, pois são o registro de experiências vividas num tempo em que as palavras ainda não fazem parte do arsenal psíquico da criança. Proponho, assim considerar que a clivagem resultante do trauma precoce cria fixações no masoquismo erógeno, em que a libido narcísica atua ligada à pulsão de morte criando formas de satisfação auto-eróticas através da destruição do próprio corpo. Ferenczi refere-se a ocasiões em que um doença orgânica, ou um traumatismo físico (que atinge uma parte do corpo) provocam uma concentração da energia libidinal no órgão ou na parte do corpo afetados, catalisando investimentos narcísicos e objetais que muitas vezes eclodem como sintomas psíquicos, em especial como episódios depressivos (Ferenczi; 1917; 1921).

    Os afetos e suas vicissitudes

    Para levar adiante a argumentação e introduzir a questão dos afetos nesse campo subjetivo parcializado, vou me valer da noção de Senso de Eu Emergente, definida por Daniel Stern como sendo a primeira dimensão subjetiva em que a o mundo é apreendido através de percepções das variações de intensidades afetivas que dão densidade a nossos gestos e expressões, as quais denomina afetos de vitalidade (Stern, 1987). Os afetos de vitalidade não são sentimentos, mas o que dá a tonalidade à expressão dos sentimentos. Podemos apreendê-los melhor utilizando termos dinâmicos como “explosivo”, “lento”, “iniciando”, “acelerando” (Idem). Segundo Stern, a emergência da relação do bebê com o mundo depende de uma certa constância nas variações dessas intensidades no atos das pessoas que cuidam dele em suas primeiras semanas de vida. A percepção dessas variações e de suas constâncias cria as condições de sintonia afetiva e de sentimento de continuidade, aspectos fundamentais para que a criança tenha uma experiência de acolhimento. Rupturas muito intensas, ausência de sintonia ou sintonia excessiva, tais como são descritas pelo autor, teriam o efeito traumático, que aproximamos do que foi sinalizado por Ferenczi sobre a tendência ao adoecimento e à expressão do sofrimento pelo corpo, percebida em certos pacientes cuja história revela o não acolhimento ao nascer (Ferenczi; 1929).

    Uma das questões colocadas aos terapeutas que lidam quotidianamente com pacientes portadores de doenças orgânicas de origem não específicas, ou que apresentam tendência ao adoecimento, assim como com doentes que sofrem as conseqüências psíquicas de suas doenças orgânicas, refere-se à dimensão traumática que traz uma sobrecarga à própria doença. Dimensão que ativa os funcionamentos auto-eróticos e narcísicos e que exige a inclusão do corpo que sofre na relação transferencial. Consequentemente, isto nos leva a considerar o manejo dessa transferência, na medida que está carregada da tendência à desintrincação presente na vivência da dor.

    “No atendimento a esses pacientes, o trabalho do psicanalista não poderia se resumir à posição do intérprete na escuta flutuante do discurso. Precisa se estender a uma “sensibilidade flutuante”, a um “olhar flutuante” (Reis, 2002). Olhar, que no dizer de José Gil, não se limita a ver, interroga e espera respostas, escruta, penetra e desposa as coisas e os seus movimentos”(Gil, 1996, 48). Assim como um ouvido que se deixa atravessar pelas variações de tom e de ritmo da fala e não se limita a ouvir uma palavra que se repete monotonamente. O analista entraria num plano perceptivo sensível aos descompassos entre o conteúdo do que se diz e a forma como se diz, deixando-se atravessar pelas intensidades que vem do outro, sintonizando-se com as expressões de vitalidade, com os ritmos, a tonalidade da voz, as atmosferas que se criam a cada momento”(Reis, 2003, 201). Esta abertura no plano sensível implica em uma disponibilidade para uma certa dissolução do eu, entendido como instância organizadora e coesa, que atua como proteção contra invasões vindas de fora. Ou seja, que o analista ou terapeuta se disponibilize a ser afetado pela vitalidade da presença deste outro na intensidade do seu sofrimento e de sua dor.

    A noção de “sentir com” (Einfühlung), definida por Ferenczi, ou a proposta de Winnicott sobre o “uso do objeto”, introduzem elementos inovadores no manejo transferencial que podem nos ser úteis nessa discussão. O sentir com pressupõe um analista que se abre para o devir-outro, que não é identificar-se com o outro alienando-se, mas poder acompanhar as variações de intensidades afetivas dos afetos de vitalidade e deixar-se sensibilizar por elas. Monique Schneider acrescenta, seguindo Ferenczi, que o analista frente ao trauma, é convocado a ser crédulo pois o fato traumático não tem consistência como representação psíquica não podendo ser interpretado e remetido a outra cena (Schneider, 1992). Schneider e Ferenczi afirmam que o paciente precisa do analista como testemunha e como mediador. Precisa do tato do analista. Mais ainda, é preciso que o analista se engaje num jogo em que os lugares eventualmente são trocados. Desse modo, o analisando pode se ver fora, e ver de fora a experiência traumática.

    Trata-se da repetição do trauma na experiência analítica. É importante frisar que não se trata aqui da aproximação da fantasia ou outras formações, e sim de um acontecimento que se repete sempre igual como memória traumática (seja qual for a forma assumida: sonhos, sintomas, corpo, gestos, angústias inomináveis). Memória que, para se tornar accessível como significação e suscetível de transformações, precisa vir a se repetir num "como se". Como diz Ferenczi, “a tarefa da análise é chamar a alma para a vida a partir das cinzas resultantes da dissolução após sucessivas clivagens” (Ferenczi [1950 (1932), 119].

    Nesse momento entramos na dimensão do jogo, o analista atua enquanto objeto, fazendo parte da cena, designado algumas vezes por seu analisando como estando mais implicado na análise que ele próprio. Funcionando como um duplo, como um outro eu, pode então ser visto pelo analisando como a vítima fascinada pelo trauma. Desse modo, tem início um desdobramento de papéis, um desdobramento daquilo que por ocasião da clivagem dobrou-se sobre si mesmo e se ocultou. O analista se empresta ao seu paciente, não somente como ouvido, mas experimentando o impacto desse sofrimento em sua própria carne. Permitir-se ser atravessado realmente por sensações estranhas e que se tornam familiares por essa troca momentânea de lugar. Em vez da angústia, a ânsia.

    Chegando a Winnicott, pretendo aproximar essa concepção de manejo transferencial da noção de “uso do objeto” cuja principal implicação é que o objeto é real, tem materialidade e existe por conta própria. No entanto, o objeto a ser usado é parte de um paradoxo: ele existe para ser criado pelo bebê e tornar-se investido. A criação do objeto como exterioridade depende da destruição do objeto enquanto projeção subjetiva. Ou seja, a destruição é necessária para constituir a realidade, situando o objeto fora do self, e para isso, o objeto tem que sobreviver, no sentido de “não retaliar”(Winnicott; 1994). Se isto se dá numa situação de análise, o analista e o setting enfrentam o desafio de sobreviver ou não aos ataques do analisando, pois essa atividade destrutiva é a tentativa de situar o analista fora da área de controle onipotente, situá-lo no mundo. Para Winnicott se a análise não passar por essa experiência de destrutividade, o analista nunca será mais do que uma projeção de uma parte do self e nenhuma mudança poderá se processar (idem).

    A idéia de um processo analítico que inclui a experiência de ser continuamente destruído enquanto objeto da fantasia e de continuamente sobreviver enquanto objeto real, permite que a experiência terapêutica se dê num plano de afetação mútua. A transferência é um campo de forças que passa diretamente pelo corpo, pelas sensações, por pequenas percepções. Esse encontro se passa em um estado emergente em que a fragmentação auto-erótica se faz presente por uma sensibilidade atravessado pela dor, e a partir de dessa experiência compartilhada vir a integrar a dor como uma afirmação da existência e não como ameaça de aniquilamento.

    Bibliografia

    FERENCZI, S. – (1917) As patoneuroses, in Psicanálise II, SP, Ed. Martins Fontes.

    ______________(1921) Reflexões psicanalíticas sobre os tiques, Psicanálise III, SP, Ed. Martins Fontes, 1993.

    ______________(1929) “A criança mal acolhida e sua pulsão de morte” in Psicanálise IV, SP, Ed. Martins Fontes.

    ______________(1932) Diário clínico, SP, Martins Fontes, 1990.

    FREUD, S - Carta 52 in Fragmentos de la correspondencia com Fliess (1950 [1892-99]), Obras Completas, Buenos Aires, Ed. Amorrortu, 1988. vol. I, (211-322).

    GIL, J. (s.d.) Fernando Pessoa: a metafísica das sensações. Lisboa: Relógio d’Água.

    _________(1996) A imagem nua e as pequenas percepções. Estética e metafenomenologia. Lisboa: Relógio d’Água.

    REIS, E. S. (2002) “Fenômenos transferenciais e potência de metamorfose”, in Transgressões, PLASTINO, C..A. (org.). Rio de Janeiro: Contra Capa.

    _________(2003) – Auto-erotismo; um vazio ativo na clínica contemporânea in Ágora: estudos em teoria psicanalítica vol. VI no. 2, julho/dezembro de 2003, Rio, Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia UFRJ, Ed. Conta Capa.

    _________(2004) – De corpos e afetos, transferências na clínica psicanalítica, Rio, Ed. Contra Capa.

    SCHNEIDER, M.(1992) – La part de l’ombre – approche d’um trauma féminin, Paris, Aubier.

    STERN, D. - (1987) O mundo interpessoal do bebê. Porto Alegre: Artes Médicas 1992.

    WINNICOTT, D. W.- Sobre o uso de um objeto, in Explorações Psicanalíticas, Porto Alegre: Artes Médicas 1994.


    (1) Psicanalista, membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos, Doutora em Saúde da Criança e da Mulher IFF/Fiocruz, autora de “De corpos e afetos – transferências e clínica psicanalítica”, Ed. Contra Capa, 2004.

    [1] Esse estrato mnêmico corresponde a um registro de vivências precoces, que não são passíveis de associações causais ou ainda de associações conceituais tais como uma qualidade do objeto(Freud, ).

    Fonte:http://br.geocities.com/materia_pensante/corpo_mem_traum_Schueler.html


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    Os nervos : os mensageiros do cérebro. (português de Portugal).


    Os nervos : os mensageiros do cérebro


    O Cérebro - Paineis 
     
     
    O cérebro coordena tudo o que fazemos: se tivermos medo corremos para nos afastar, porque as nossas pernas entram em movimento, a nossa pressão arterial sobe, o nosso ritmo cardíaco aumenta e os nossos pulmões consomem mais ar. O cérebro comunica com o corpo através de hormonas e do sistema nervoso. 
    Faça ginástica mental ao longo da vida 

    Perdemos células nervosas todos os dias. No entanto, temos células nervosas suficientes, centenas de milhares de milhões e o cérebro está continuamente a criar novos contactos entre as células nervosas. Um macaco que faça ginástica com o dedo indicador todos os dias durante dois meses duplicará a sua área cerebral do dedo indicador. Ao longo da vida, o cérebro desenvolve as áreas que mais utilizamos. Após uma hemorragia cerebral células novas podem, até determinado ponto, assumir o trabalho das células destruídas. 

    As células nervosas trabalham como uma equipa 

    As células nervosas não agem sozinhas. Algumas células nervosas mantêm-se no mesmo grupo enquanto que outras mudam à medida das necessidades. As células cerebrais estão constantemente a trabalhar. No entanto, a divisão do trabalho depende do que é importante num preciso momento. 

    As células nervosas são eléctricas 

    O cérebro e o corpo enviam sinais um para o outro através das células nervosas. O sinal nervoso é um impulso eléctrico que percorre uma fibra nervosa. Quando o impulso chega ao fim da fibra nervosa liberta componentes químicos. Estes componentes são apanhados pela próxima fibra nervosa que liberta um novo impulso eléctrico e assim por diante. 

    Epilepsia: quando todas as células nervosas disparam ao mesmo tempo 

    Os componentes do sinal químico podem impedir ou activar a próxima célula nervosa. Existe um equilíbrio entre os processos que determinam as actividades gerais do cérebro. O desequilíbrio pode provocar o disparo simultâneo de muitas células nervosas, o que é designado como um ataque epiléptico. 

    Ai! 

    Por vezes reagimos sem pensar. Afastamos a mão se nos queimamos e tentamos alcançar uma bola que vem a cair, o que designamos como acto reflexo. A dor do calor e a visão da bola só conseguem alcançar a nossa consciência após a nossa reacção. A parte debaixo da espinal medula lida com a reacção e só depois é que uma mensagem é enviada para o cérebro relativamente ao que aconteceu. 

    Fonte:http://www.pavconhecimento.pt/exposicoes/modulos/index.asp?accao=showexpo&id_exposicao=12

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    Algúns vídeos sobre educação.

    Alunos escrevem em carteira digital inédita em Serrana-SP

    Bate-papo UOL com Supernanny - 24/11/2008 19h47Íntegra do Bate-papo UOL com Cris Poli. Apresentadora conversa sobre a quinta temporada do programa SuperNanny do SBT. Desde 2006 no ar, a educadora já ajudou a resolver os problemas de aproximadamente 50 pais confusos com a educação de seus filhos.

    Convivência Escolar

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    terça-feira, 2 de dezembro de 2008

    Óleo usado pode virar sabão.


    Ciências

    Duva L. S. Brunelli*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

    Objetivos

    1) Ensinar noção de e reciclagem e sustentatibilidade do planeta, diminuindo a produção de lixo e reaproveitando ao máximo o produto antes de descartá-los.

    2) Reciclar óleo de cozinha usado, transformando-o em sabão.

    Materiais

    1) 5 litros de óleo comestível usado;

    2) 2 litros de água;

    3) 200 ml de amaciante de roupas;

    4) 1 Kg de soda cáustica em escama.

    Atividades

    1) Coloque a água - na temperatura ambiente - em um balde de plástico.

    2) Adicione, com cuidado, a soda cáustica. Mexa para auxiliar na dissolução, com um instrumento de plástico (um cano de PVC, por exemplo).

    3) Adicione o óleo levemente aquecido (50°C aproximadamente) e mexa por 40-50 minutos. Está ocorrendo uma reação química de saponificação.

    4) Adicione o amaciante. Mexa novamente.

    5) Mexa até formar uma mistura homogênea.

    6) Jogue a mistura em uma fôrma plástica e espere secar.

    7) Corte o sabão em barras.

    Comentários

  • A atividade deve ser realizada preferencialmente no laboratório da escola, se houver. Os materiais podem ser trazidos pelos alunos. As barras de sabão produzidas podem ser levadas para casa.
  • Usar luvas de borracha ao manipular os materiais.
  • Caixas de leite vazias e lavadas podem servir como fôrma.
  • *Duva L. S. Brunelli é químico formado pela Unicamp (SP).

    Fonte: http://educacao.uol.com.br/planos-aula/recilcagem-oleo-sabao.jhtm

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    A História do Mohini Ekadasi.

    A História do Mohini Ekadasi. Yudhishthira Maharaja disse: “Ó Janardana, qual é o nome do jejum [Ekadashi] que ocorre durante a quinzena cla...