segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fato social

 Fato social

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Objeto central da sociologia de Émile Durkheim, um fato social é qualquer forma de indução sobre os indivíduos que é tida como uma coisa exterior a eles, tendo uma existência independente e estabelecida em toda a sociedade, que é considerada então como caracterizada pelo conjunto de fatos sociais estabelecidos.
Também se define o fato social como uma norma coletiva com independência e poder de coerção sobre o indivíduo.

 Sociologia clássica

Segundo Emile Durkheim, os Fatos Sociais constituem o objeto de estudo da Sociologia pois decorrem da vida em sociedade.O sociólogo francês defende que estes têm três características:
  • Coercitividade - característica relacionada com a força dos padrões culturais do grupo que os indivíduos integram. Estes padrões culturais são fortes de tal maneira que obrigam os indivíduos a cumpri-los.
  • Exterioridade - esta característica transmite o fato desses padrões de cultura serem "exteriores aos indivíduos", ou seja ao fato de virem do exterior e de serem independentes das suas consciências.
  • Generalidade - os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela sociedade, por exemplo.
Para Émile Durkheim, fatos sociais são "coisas". São maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. São fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de agir, costumes, etc.
É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior.”; ou ainda, “que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais.” Ou ainda:Todas as maneiras de ser, fazer, pensar, agir e sentir desde que compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando o que é certo ou errado, permitido ou proibido.
Existem também as correntes sociais, como as grandes manifestações de entusiasmos, indignação, piedade, etc. Chegam a cada um de nós do exterior e não têm sua origem em nenhuma consciência particular. Têm grande poder de coação e são suscetíveis de nos arrastar, mesmo contra a vontade. Se um indivíduo experimentar opor-se a uma destas manifestações coletivas, os sentimentos que nega voltar-se-ão contra ele. Estamos então a ser vítimas de uma ilusão que nos faz acreditar termos sido nós quem elaborou aquilo que se nos impôs do exterior. Percebemos então que fomos sua presa, mais do que seus criadores.
Analisando os fatos sociais chega-se à conclusão de que toda a educação dada às crianças consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente. Segundo Herbert Spencer, uma educação racional deveria deixar a criança agir com toda a liberdade. Mas essa teoria pedagógica nunca foi praticada por nenhum povo conhecido, não passa então de um desejo pessoal. A educação tem justamente o objetivo de criar o ser social.
Não é a generalidade que serve para caracterizar os fenômenos sociológicos. Um pensamento comum a todos ou um movimento por todos os indivíduos não são por isso fatos sociais. Isso são só suas encarnações individuais.
Há certas correntes de opinião que nos levam ao casamento, ao suicídio ou a uma taxa de natalidade mais ou menos forte; estes são, evidentemente, fatos sociais. Somente as estatísticas podem nos fornecer meios de isolar os fatos sociais dos casos individuais. Por exemplo, a alta taxa de suicídio no Japão; não são só fatos individuais e particulares que os levam a suicidar. Toda cultura e a educação deste país exerce grande diferença no pensamento do indivíduo na hora de se suicidar. O mesmo caso particular de frustração do indivíduo, em outra sociedade, poderia não o levar ao suicídio. Esse é um fato social, além de psicológico.
O efeito de coação externa de um fato social é fácil de constatar quando se traduz por uma reação direta da sociedade, como é o caso do direito, das crenças, dos usos e até das modas.
Não podemos escolher a forma das nossas casas tal como não podemos escolher a forma do nosso vestuário sem sofrer algum tipo de coação externa. Os nossos gostos são quase obrigatórios visto que as vias de comunicação determinam de forma imperiosa os costumes, trocas, etc. Isso portanto também é um fato social, visto que é geral.
Contrariando Auguste Comte, não há um progresso, uma evolução da humanidade, o que existe são sociedades particulares que nascem, se desenvolvem e morrem, independentemente umas das outras. Se, além disso, se considera que as sociedades mais recentes continuam as que precederam, então cada tipo superior poderá ser considerado como a simples repetição do tipo imediatamente inferior. Um povo que substitui um outro não é apenas um prolongamento deste último com alguns caracteres novos; é diferente, constitui uma individualidade nova.
Spencer não aceita este conceito, como proposição afirma que “uma sociedade só existe a partir do momento em que à justaposição se junta uma cooperação.” “Há uma cooperação espontânea que se efetua sem premeditação quando se tenta atingir fins de interesse privado; e há uma cooperação conscientemente instituída que supõe fins de interesse público nitidamente reconhecidos.” Às primeiras Spencer dá o nome de sociedades industriais e, às segundas, o de sociedades militares. Para Spencer a sociedade não passa de realização de uma idéia, neste caso a idéia de cooperação.

 Método dos Fatos Sociais

Devemos considerar os fatos sociais como “coisas”.
Nota: Para Durkheim, "coisa" é algo Sui generes, ou seja, é dotado de uma lógica própria.
  1. Precisamos limpar toda a mente de prenoções antes de analisarmos fatos sociais. Essas “noções vulgares” desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas e que nós confundimos com as verdadeiras coisas. As prenoções são capazes de dominar o espírito e substituir a realidade. Esquecidas as prenoções devemos analisar os fatos sociais cientificamente.
  2. O sociólogo deve definir aquilo que irá tratar, para que todos saibam, incluindo ele próprio, o que está em causa. É necessário que exprima os fenômenos não em função de uma idéia concebida pelo espírito, mas sim das suas propriedades concretas. As únicas características a que podemos recorrer são as imediatamente visíveis. Tomar sempre para objeto de investigação um grupo de fenômenos previamente definidos por certas características exteriores que lhes sejam comuns, e incluir na mesma investigação todos os que correspondam a esta definição. Por isso todo fato social é coercitivo, exterior e geral.
O casamento é um exemplo de fato social o qual nos deparamos a todo momento em nossa sociedade. Todo o círculo de parentes e amigos que o cercam de forma direta ou indireta impõe que o cidadão deve se casar e constituir uma família. Até quando a situação tem como principal finalidade a descontração, gozação e coisas do gênero, o fato social mostra suas características, no exemplo abaixo podemos ver nitidamente algumas delas. Ex: "e você já se casou...", quem nunca se deparou com uma pergunta desta ao rever um grande amigo, ou numa reunião com seus familiares que não os via há muito tempo? Apesar de ser dotado de um poder coercitivo, aceitamos o mesmo de bom grado.

 Ver também 

Coerção 

Coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça.
A mais óbvia forma de motivação de pessoas ou equipes é a coerção, onde evitar a dor ou outras consequências negativas tem um efeito imediato sob suas vítimas.
Juridicamente, é o "direito de usar a força" por parte do Estado. A grande maioria das pessoas usa incorretamente o termo coação como sinônimo de coerção. Este, substantivo feminino, deriva do verbo coagir. Aquele, também substantivo, deriva do verbo coar.
Quando tal coerção é permanente, é considerada escravidão. Embora a coerção seja considerada moralmente repreensível em muitas filosofias, ela é largamente praticada em prisioneiros ou na forma de convocação militar. Críticos do capitalismo moderno acusam que sem redes de proteção social, a “escravidão salarial” é inevitável. Já os liberais veem os impostos como uma coerção estatal.
Em gerenciamento de equipes, a coerção é considerada o pior tipo de comportamento. Envolve convencer outros participantes a agir usando ameaças ativas ou passivas. "Lembrar" um subordinado que executar uma determinada tarefa de maneira específica vai refletir na avaliação de performance é uma tática de coerção muito comum.
A pressão da coerção é acumulativa. Com o tempo, a coerção mina a autoridade da liderança, estimula a rebeldia, a falta de lealdade e a fuga de talentos. Se usada frequentemente, pode perder seu efeito intimidador, gerando comportamentos profissionalmente "suicidas" por parte de suas vítimas: isso ocorre quando a própria coerção passa a ser menos suportável do que as consequências da ameaça utilizada.

 Ver também

 Obtida de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Fato_social"




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domingo, 13 de junho de 2010

CRIANÇAS SUPERDOTADAS- MITOS -


 

CRIANÇAS SUPERDOTADAS
- MITOS -

Vitória, ES
1998

ABAHSD

·       fundada em 19/11/1991.
·       entidade da sociedade civil.
·       sem fins lucrativos.
·       congrega pessoas interessadas em questões de inteligências, criatividade e superdotação.
·       tem como objetivos fundamentais:
-         sensibilizar para a importância de se criar condições favoráveis ao desenvolvimento e aproveitamento do talento, da inteligência e da criatividade;
-         contribuir para a formação e aperfeiçoamento de recursos humanos destinados à pesquisa, à identificação e ao atendimento de superdotados.
  
Apresentação

A Associação Brasileira para Altas Habilidades / Superdotados (ABAHSD) sempre se preocupou com a falta de compreensão e o excesso de negligência que a sociedade reserva aos portadores de altas habilidades. Muitos são os mitos que foram criados a seu respeito e poucas são as propostas concretas para favorecer o seu desenvolvimento.

A professora Dora Cortat Simonetti, Mestre em Educação, com tese na área de Educação para Alunos Talentosos em Ciências, elaborou a presente publicação, com o objetivo primordial de desmitificar os paradigmas que se criaram em torno do portador de altas habilidades.

A ABAHSD espera que, com estas informações esteja colaborando com pais, professores e comunidade em geral, para que se passe a ver o superdotado, como um indivíduo que necessita de tanto estímulo e orientação, quando qualquer outro cidadão.

Nenhum país pode se dar ao luxo de ignorar os talentos que neles existem.

ABAHSD
A DIRETORIA



MODELO TRIÁTICO DA SUPERDOTAÇÃO
Destaca um conjunto de três traços marcantes, individuais. Posteriormente, neste modelo foram incluídos três marcos sociais: a família, a escola e os companheiros.



         Esta é a concepção proposta por Renzulli (1978, 1984, 1994), a partir de estudos com pessoas criativas e produtivas. Os superdotados, segundo ele, seriam aqueles que estivessem na intersecção dos três círculos. Os que apresentam componentes de dois círculos seriam muito inteligentes e, se de apenas um, seriam talentosos. Ex.: uma habilidade acima da média, como talento matemático. Os gênios não são tratados nesta concepção. Altamente criativos são capazes de romper modelos.

         Atribuir-se a Guy H. Wipple a criação do termo superdotado, como uma denominação das crianças com uma capacidade superior a normal (Enciclopédia de Educação Monroe, 1920)

         A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) utiliza este termo.


O que é um MITO?

·       Uma narrativa com utilização de elementos simbólicos e sobrenaturais para explicar o mundo, a natureza, o sentido de viver (acepção original).
·       Uma leitura imaginária do mundo e do que nele acontece.
·       Uma forma de propor, onde a imaginação tem amplos direitos.
·       Uma base para o trabalho posterior da razão.


ð    A leitura especializada, o convívio social, familiar e escolar são as bases deste nosso trabalho.
" É ótimo aluno e tem sempre as melhores notas."
        
O bom rendimento acadêmico pode ou não acontecer. Ser um aluno "nota dez" nem sempre é indicador de superdotação.

         O que dados empíricos indicam é uma freqüência relativamente alta do desempenho inferior, aquém do potencial deste aluno.

         Por que? Dentre os fatores responsáveis para que isto ocorra estão:

-         as características da escola atual, voltada enfaticamente para a informação pela informação;
-         a falta de estímulo do professor em desenvolver o potencial criativo (ele foi capacitado para trabalhar o pensamento convergente, ou seja, aquele que se volta para uma única resposta);
-         a tendência em igualar tarefas e conteúdos, massificando o ensino;
-         a pouca sensibilidade para atender o aluno que se destaca por suas idéias e habilidades, ás vezes considerando "inoportuno";



ð    É importante aceitá-lo como ele é: curioso, perguntador, etc. não deixá-lo desocupado e, muito estímulo são meios para que fique integrado e não "atrapalhe".



"Quociente Intelectual alto é uma características das crianças superdotadas."



         A pesquisadora Erika Landau, fundadora do Instituto de jovens para Promoção das Artes e da Ciência, em Telaviv, o qual atende os alunos em PROGRAMAS DE ENRIQUECIMENTO, fez uma pesquisa com crianças problemáticas, de baixo nível intelectual. Verificou, depois de um ano de trabalho com elas, que o Q.I. da maioria tinha aumentado cerca de 30%.

         Assim, o Q.I. é uma função variável,. Segundo ela, para que os dados colhidos tenham algum valor deve-se levar em conta o contexto social e étnico das crianças. É preciso comparar seus resultados com a opinião de professores e o desempenho escolar da criança.

         Diversos estudos (Willerman e Friedler, 1975) confirmados por pesquisas (Lewis e Michalson, 1983) mostram que não se pode identificar a superdotação de crianças sob a base das pontuações gerais do Quociente Intelectual.

"São estranhas, pequenas, franzinas e usam óculos com lentes grossas."

         É uma idéia errônea que felizmente vai ficando no passado. Na verdade, a criança superdotada é diferente, mas diferente em certos aspectos.

         Tem se desenvolvido um variado número de listas de características para identificá-las. A observação nos indica que nem toda criança apresenta ou manifesta todos os atributos listados em investigações diversas.

         Sem dúvida, é significativo, sobretudo para os familiares e a escola, estar conscientes de que esta é uma das maneiras de se identificar a superdotação. Mas, o importante é não usar uma lista como tabela de pontos. São indicadores e assim devem ser analisados.

         Por sua vez, parece correto o estereótipo de que o superdotado usa óculos (com ou sem lentes grossas) com maior probabilidade que as outras crianças - (Projeto de Investigação Gulbenkian sobre Crianças Superdotadas, 1979).


"São hiperativas e possuem cérebro com mais neurônios."


         Não procede. Às vezes, realmente não param, agitam-se em busca de mais saber, demonstram muita energia, mas não têm as características clínicas de hiperatividade.

         Os estudos clínicos de cérebros doados, como o de Einstein, mostram que a quantidade de células nervosas é a mesma. Apontam no sentido de que possam existir maior número de conexão, mais interação entre elas.
         Estes circuitos nervosos diferenciados podem ser responsáveis por alguns traços que os superdotados apresentam, em relação à crianças de sua mesma faixa etária, como por exemplo:

·       amadurecimento no modo de ser;
·       habilidade para perceber a relação entre fatos;
·       flexibilidade de idéias;
·       versatilidade de interesses;
·       imaginação fértil;
·       curiosidade com qualidade e inesgotável;
·       rapidez na percepção do mundo e de seu meio;
·       memória acentuada;
·       senso humor;


"Não necessitam ajuda, pois já que são tão talentosos podem conduzir-se sozinhos, sem precisar estímulos."


Não procede. No bebê. Os hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, ainda não se especializaram. Isso significa que as conexões entre os cem bilhões de células nervosas não se desenvolveram por completo.

Ao longo da primeira infância cada um dos neurônio se ligará a milhares de outros numa rede de cerca de cem trilhões de conexões.

Para que essa trama precisa e delicada se estabeleça o cérebro necessita de DESAFIOS.

Assim acontece também com os superdotados. As oportunidades educacionais para estas crianças devem caracterizar-se pela riqueza de incentivos que as levem, inclusive, a identificar suas próprias potencialidades.

Devem caracterizar-se também pelo conhecimento de que ela têm dificuldades que podem ocorrer na adaptação escolar, na relação de aula/ professor/ colegas, no ajustamento social.

"Dizer a uma criança que ela é talentosa, muito inteligente, superdotada, faz com que fique vaidosa e se sinta superior às demais."

Depende de como se faça. Maslow, um psicólogo da linha humanista, coloca que o reconhecimento social é uma necessidade do ser humano. Assim, estas crianças precisam saber sobre suas potencialidades e seus familiares orientados no sentido de ajudá-las, e frear o exibicionismo.
Facilmente perceberam que também têm limitações. O importante é que após identificadas, não fiquem abandonadas. Respeitá-las, incentivá-las para que se desenvolvam no seu jeito, e não como desejam que elas sejam.
Elas não querem ser vistas como diferentes. Para identificá-las é importante uma observação sistemática e persistente, tanto de comportamento como de desempenhos.
Verificar a intensidade, freqüência e consistência de suas peculiaridades, bem como seu histórico familiar, sem a preocupação de rotular. Como toda criança, querem AMOR e COMPREENSÃO.


"Um programa educacional para superdotados é algo sofisticado, caro e especializado."


Não é assim. A educação destas crianças é a mesma das outras. Elas são, acima de tudo, pessoas. O compromisso de educador é o mesmo que ele tem com outra criança.

É importante para a criança superdotada ou talentosa sentir que é atendida como uma pessoa e não como "alguém diferente". Para a sua sensibilidade acentuada isto faz muita diferença.

O que elas precisam são de oportunidades como qualquer aluno. Não resta dúvida que estas oportunidades devem estar no nível de suas aptidões, de seus talentos. Não em escolas especiais, mas através de ENRIQUECIMENTO, quer seja na própria sala de aula, grupos em sala de recursos, estudos independentes, através de visitas, demonstrações, palestras, aceleração e diversas outras modalidades

Igualdade de oportunidades não quer dizer oportunidades iguais.

A educação Inclusiva é, sem dúvida, um grande desafio. Significa repensar direitos de cidadania, aprimorar o processo ensino-aprendizagem, reestruturar os sistemas de ensino filosófica e administrativamente, capacitar profissionais.

"O professor de alunos superdotados necessita também ter altas habilidades."

Não necessariamente. Entretanto, a sensibilidade e a afetividade são componentes essenciais para conviver com estas crianças. É preciso que ele goste de desafios, para poder desafiar; que saiba como desenvolver o pensamento criativo para criar situações estimuladoras. Para tanto, necessita conhecimentos e oportunidades de formação.

Respeitar seu aluno como pessoa é fundamental. Orientá-lo como descobrir seu talento e mostrar-lha que também tem fraquezas. Ajudá-lo a conviver com seus pontos fracos e fortes, paara que se sinta mais seguro e, com certeza, feliz.

Segundo James Jallagher, um estudioso nesta área,

"a educação dos superdotados é fascinante porque leva a refletir sobre o envolvimento da sociedade e da cultura como desenvolvimento das potencialidades do ser humano."

         É, sem dúvida, necessário disposição para aceitar este desafio, onde se incluem o interesse e a motivação,  a perseverança, dentre outros traços.

"É sempre o melhor em tudo que faz. É ótimo da perfeição."
        
O fato de ser destaque numa área não significa necessariamente que será em todas. Por isso, é difícil traçar um papel único e perfeito da criança superdotada, como se fosse um modelo. É um grupo bastante heterogêneo a nível de traços, características e habilidades.

         Na relação da família e da escola com ela é freqüente a expectativa e a exigência. Espera-se muito desta criança. São equívocos que precisam ser consideradas: não pressionar, não exigir. Excesso de pressão pode levar ao desinteresse, à fadiga, à desmotivação, à rejeição do próprio talento.

         Provavelmente com o propósito de chamar a atenção sobre a ampla variedade de capacidades, o MEC ficou com o seguinte conceito de superdotação, proposto pela oficina de Educação dos Estados Unidos:

         "serão considerados superdotados, educandos que apresentem notável desempenho e/ou elevada potencialidade, nos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo, capacidade de liderança, talento especial para artes, capacidade psicomotora".

"São de classes sociais mais favorecidas economicamente."

         Não é verdade. Podem ser encontras em todas as classes sociais, independentes de cor e raça. O que preocupa é que crianças superdotadas que são carentes economicamente perdem, por desigualdade de condições, a oportunidade de participação social.

         Perdem duplamente!

         As crianças não começam sua vida com uma etiqueta de "superdotação". As oportunidades de mostrar seu talento dependem muito das pessoas que convivem com elas, sobretudo familiares e professores.

         Crianças de baixa renda têm menos oportunidades, até em sua escolarização normal. Preocupa a possibilidade de, não tendo seu talento reconhecido, estimulado, desenvolvido, elas não desenvolvam seu potencial e ele se perca, às vezes de forma irreversível.

         Situações como estas estimulam a trabalhar em uma educação para superdotados/talentosos.

"Sempre apresentam sinais de precocidade: ler muito cedo, andar ou falar bem novos, tocar um instrumento musical com perfeição em tenra idade, etc."


         Necessariamente, não. Pode ou não acontecer. É preciso que haja constância das aptidões, ao longo do tempo, não apenas em faz da infância. Há registros de casos de precocidade do aparecimento de habilidades que permaneceram apesar de obstáculos e frustrações. Outros, não.

         Como crianças estão em processo de desenvolvimento, muitas vezes, mesmo precoces, não efetivam todo o seu potencial. Daí serem considerados portadores de altas habilidades e "não ainda superdotados".

         O fato é que não se deve estereotipar. Influem fatores ambientais: genéticos e a interligação entre ambos. Existem portadores de deficiência que podem também ter superdotação. Não são poucos os exemplos de cegos, ou surdos ou paraplégicos talentosos ou superdotados. São paradigmas, formas de pensar, que necessitem ser revistas.

         A premissa básica é que cada criança tem potencialidades e nosso compromisso é trabalhar para que se desenvolvam.

O desenvolvimento social e emocional dos superdotados estão no mesmo nível que seu desenvolvimento intelectual e acadêmico."


         Se desejarmos ajudar uma criança superdotada não podemos esquecer que elas não crescem da mesma maneira em todas as dimensões da personalidade. Uma Criança pode ter a idade cronológica de 07 anos, mas intelectual ter 11 e apenas 04 em seu lado emocional. Por isso, comparam crianças entre si não é aconselhável.

         Elas possuem especiais vulnerabilidades que podem provocar conflitos em suas vidas. Estes desnível é difícil para quem convive com elas porque em momentos têm independência de raciocínio, usam linguagem precisa, fazem projetos difíceis, em outros apresentam-se como criancinha frágeis e dependentes.

         Estes aspectos não podem ser esquecidos, sobretudo nas decisões de aceleração escolar. O "equilíbrio" entre as diferentes idades - cronológica, emocional e social -, se esquecido, pode conduzir à desarmonia bio-psico-social.

         Caminhar junto com elas, dialogar, ajudá-las na construção de sua identidade pessoal é o papel daqueles que convivem com estas crianças.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

ABAHSD. Anais do X Seminário Nacional de Superdotação, 1994.
________. Oportunidades educacionais para alunos portadores de altas habilidades, 1996.
ALENCAR, Eunice Soriano. Psicologia e Educação do Superdotado, São Paulo, EPU, 1986.
BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial, Série Diretrizes, 9, 1995.
_______________________________________. Diretrizes para o atendimento Educacional aos Alunos Portadores de Altas Habilidades/Superdotação e Talentos, Série Diretrizes, 10, 1995.
FREEMAN (org.). Los niños superdotados, Aspectos pedagógicos e psicológicos, Madrid: Ed. Santillama S.A. 1985.
LANDAU, Erika. A coragem de ser superdotado, São Paulo: CEREC, 1990.
METTRAU, Marsyl Bukkool. Nos Bastidores da Inteligência, MERJ, 1996.
NOVAES, Maria Helena. Educação para superdotados e talentosos, in A educação dos Superdotados, São Paulo: SE / CENP, 1998.
SIMONETTI, Dora Cortat. Técnicas de projetos: uma estratégia de ensino dirigida às necessidades potenciais dos educandos , in O Ensino de Ciências e Matemática na América Latina, Campinas: Papirus, 1984.

 http://www.fcee.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=31
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sábado, 12 de junho de 2010

HIPERATIVIDADE X SUPERDOTADO

 
HIPERATIVIDADE X SUPERDOTADO

A hiperatividade pode mascarar superdotados. Segundo Julián de Zubiría, diretor do Instituto Alberto Merani da Colômbia, "pais e professores devem estar atentos a crianças com vocabulário muito rico, construções gramaticais brilhantes e capacidade para a música", tudo isso revela muitas vezes uma superdotação intelectual.

O especialista espanhol Juan A. Alonso afirma que em muitas ocasiões crianças sofrem fortes crises de adaptação e experimentam fracassos escolares porque ninguém foi capaz de perceber que essas dificuldades eram causadas por seu talento e capacidade acima da média, por isso ele afirma que há uma necessidade de testes habituais que possam detectar alunos superdotados. E mais, se o aluno com capacidades especiais não é detectado a tempo, essas características podem se anular.

Embora os testes de quociente intelectual criem inconvenientes, até o momento é a ferramenta mais válida para descobrir crianças superdotadas. Cerca de 85% das crianças e adolescentes superdotados apresentam um quociente entre 130 e 145, são estes os que têm mais dificuldades para se integrar em um ambiente que os discrimina. Acima de 145 pontos, os alunos costumam ter uma maior maturidade emocional, de modo que não apresentam problemas de sociabilidade.

Porém, para todos os jovens superdotados o principal problema é encontrar "amigos iguais" para desenvolver suas capacidades emocionais, razão pela qual muitos são favoráveis à formação de grupos especiais integrados por essas crianças.

Especialistas afirmam que a situação das crianças superdotadas é complicada quando chegam à adolescência, porque nessa fase da vida em que há uma necessidade de ser aceito em um grupo, muitos deles sacrificam seus dotes e igualam seu comportamento para poderem se misturar.

Sendo assim, de acordo com nossas pesquisas, concluímos que seja possível uma pessoa com altas habilidades também ser hiperativa, ou vice-versa, mas isso não quer dizer que a falta de estímulos para o desenvolvimento de uma habilidade possa gerar a hiperatividade.

 


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sexta-feira, 11 de junho de 2010

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE A AUTO-ESTIMA



CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE A AUTO-ESTIMA

Cláudio Garcia Capitão
Theoretical considerations about self-steem

ResumoEste artigo objetiva, por meio de algumas incursões teóricas, resgatar a importância do conceito de auto-estima. Em fins do século passado o respectivo conceito foi banalizado pelos manuais de auto-ajuda, cujas formulações não possuem qualquer correlação com a nossa ciência, a psicologia, esta sim, digna  herdeira da tradição do espírito empreendedor da humanidade.
Palavras - chave: Auto-estima; Ciência; Psicologia.
AbstractThis article aims at, through some theoretical incursions, to rescue the importance of the self-esteem concept. In the end of last Century the respective concept was vulgarized by the manual of solemnity-help, whose formulations don’t possess any correlate with our science, the psychology, an heiress of the tradition of the humanity’s enterprising spirit.
Keywords: Self-esteem; Science; Psychology.
IntroduçãoAtualmente observamos, seja em conversas com amigos, através de jornais, de revistas e, especialmente, em nosso cotidiano hospitalar, serem muitas as considerações sobre a auto-estima. O paciente X está com a auto-estima rebaixada e isso faz com que ele sinta as coisas de forma negativa. O paciente Y melhorou sua auto-estima e isso fez com que ele respondesse de forma adequada ao tratamento.
A auto-estima passou a ser um conceito, na verdade, quase que um diagnóstico, independente. Deixou de ser um sinal, um sintoma ligado a tantos outros, resultado de uma condição psíquica, ou indicação significativa de expressão para um determinado diagnóstico.
A auto-estima é um conceito abrangente, uma vez que abarca múltiplos aspectos da personalidade. Pode influenciar o estado de ânimo de uma pessoa e ser influenciada por este, indicar como a pessoa se avalia e  como é avaliada pelos outros. O tema, em todas as áreas, tornou-se moderno e atual; não podemos deixá-lo de lado, sem uma reflexão séria das suas múltiplas nuances. 
A auto-estima é freqüentemente relacionada ao bem-estar físico e mental de uma pessoa, na grande maioria das vezes, reflete-se nas suas condições físicas, à aparência e em muitas evidências comportamentais. Se a tomarmos como uma representação, a auto-estima pode ser considerada como a expressão da relação unívoca entre a mente e o corpo, o que significaria uma unidade dividida apenas sob o ponto de vista semântico. Considerar tal relação, especialmente quando pretendemos tratar da auto-estima, torna-se uma necessidade urgente, especialmente para aqueles que trabalham em instituição hospitalar, onde o corpo, alvo das precipitações da alma, é que sofre em carne e osso o sofrimento de uma pessoa.
A Procura do ConceitoConceitualmente (Dorsch, 2001) a auto-estima, self steem, self regard pode ser considerada como o sentimento de poder, de satisfação e de valor estável que uma pessoa possui de si mesma.
O rebaixamento da auto-estima se expressa por sentimentos de desvalia, de vergonha, de inadequação e, por assim dizer, por uma sensação constante de inferioridade.
A Psicologia, em quase todas as suas concepções teóricas,  mostra a existência de uma relação importante entre o corpo e a mente e o conceito de auto-estima, sem referir-se diretamente a ela.
Krech e Crutchifield (1976) tratam das emoções ligadas à auto-estima, especialmente as produzidas pelos sentimentos de êxito, fracasso, culpa e remorso. Tais emoções seriam determinantes essenciais intimamente ligadas à percepção que um indivíduo tem de seu próprio comportamento, ou de seu comportamento em relação a outros padrões. Afirmam ser evidente que tais emoções aparecem gradualmente na criança, no transcorrer de seu  desenvolvimento, porém, não estabelecem quando a criança estaria pronta  para vivenciá-las.
O êxito e o fracasso são concebidos por padrões internos de realização e não pelos exclusivamente sociais, externos. Estes últimos, ressalvam, exercem uma grande influência no estabelecimento dos padrões internos e, em vista disso, as pessoas chegariam, até certo ponto, a organizar e ajustar seus próprios padrões numa relação significativa com os de outras. Como resultado dessa relação, o indivíduo formaria certa consciência dos juízos que se fazem a seu respeito.
Os sentimentos de êxito e de fracasso seriam então propiciados pela sensação de se ter atingido ou não uma meta desejada, e a partir dessa condição, verificar-se-ia a ebulição de emoções profundas de orgulho ou de vergonha. As emoções ligadas à culpa, por seu turno, surgiriam da percepção de uma transgressão moral, pela prática de determinados atos. Tais emoções  são relativizadas pela vivência individual, já que os padrões morais de realização, apesar de serem universalizantes para os participantes de uma mesma cultura, gozam de uma margem de elasticidade individual.
Allport (1966) contratriando alguns pontos de vistas de Krech e Crutchfield, coloca que uma criança de dois anos, a partir da frustração do impulso de exploração característico desta faixa etária, pode sentir um choque em sua auto-estima, resultado de um sentido agudo e consciente de si mesma, o que denota um eu já bem formado.
No seu rastreamento de como o eu se desenvolve nas diversas faixas etárias o autor aponta que, na idade de quatro a seis ou sete anos, em nossa cultura, a auto-estima adquire um traço competitivo.
Dando continuidade às suas formulações sobre a auto-estima, esse importante teórico da psicologia da personalidade acrescenta que muito de nossa vida social está centralizada na auto-estima. Para ele, envergonhar um homem é abalar sua auto-estima e o ressentimento seria uma maneira impulsiva de afirmação da auto-estima ofendida. O orgulho e amor próprio constituem-se então sinônimos para a auto-estima
Para Freud (1976) a instância psíquica denominada ego é a parte do aparelho mental que está em contato com a realidade externa e tem como finalidade garantir a segurança e o equilíbrio do funcionamento mental. O ego seria uma parte do id modificada pela ação direta do mundo exterior através do sistema perceptivo-consciente. Por esta razão, ele seria em primeiro lugar, um ego corporal, uma projeção mental da superfície corporal, uma espécie de correlação intrínseca entre o nosso corpo e a representação que temos dele na nossa mente.
Desde cedo o ego se utiliza de estratagemas para sentir-se forte e valorizado, ambicionando ganhar o controle sobre o id. Colocando-se como objeto de amor em relação ao id, como representante de objetos anteriormente diretamente investidos, transforma uma escolha objetal erótica em libido narcísica.
Para vislumbrar como era concebida a auto-estima por Freud, faz-se necessário deter-se um pouco nas suas posições. Em o Ego e o Id (1923) ele reestrutura o aparelho mental, sem abandonar seu conceito principal, o complexo de Édipo. Estipula que o resultado mais amplo da fase sexual dominada pelo complexo de Édipo pode ser a formação de um precipitado, consistindo de duas espécies de identificações, unidas entre si. Essa modificação do ego confronta os seus outros conteúdos, como um ideal do ego ou superego. O ideal de ego ou superego, nessa nova concepção de aparelho psíquico, responderia a tudo que seria esperado da natureza mais elevada do homem. Com tais formulações teóricas, Freud enriquece a complicada trama em que se vê envolta a auto-estima, ficando esta na dependência das relações internas entre as instâncias psíquicas.
Alguns anos antes, em 1914, levantando problemas que iriam  configurar a sua nova tópica, na terceira parte de seu artigo sobre o narcisismo, Freud (1976) refere-se diretamente a auto-estima, considera-a proporcional ao tamanho do ego, onde uma instância psíquica especial  teria a função providenciar  para que a satisfação narcísica do ideal do ego fosse assegurada, vigiando constantemente o ego atual e medindo-o por esse ideal. Discute a auto-estima tanto em pessoas normais como nas neuróticas, e, especialmente a relação da auto-estima com os investimentos objetais. Assinala que quando o investimento libidinal é correspondido, a pessoa teria sua auto-estima reassegurada, caso contrário, sua auto-estima seria rebaixada, pois iria sentir-se vazia, desvalorizada, por não ter seu amor correspondido.
Na continuidade de suas considerações sobre o movimento da libido, em Luto e Melancolia (1917) Freud procura estabelecer uma relação entre o luto e a melancolia, justificando-se  por considerar ambos os quadros psicológicos bastante parecidos. O luto é considerado como uma reação normal a uma perda consciente, desaconselhando, por sinal, qualquer intervenção psicoterapêutica, uma vez que, quando a pessoa se desliga dos investimentos no ente perdido, o processo chega ao seu término.
Na melancolia Freud apontou,  entre suas características, uma depressão profunda, a perda de interesse pelas coisas da vida, uma redução drástica na capacidade de amar, o empobrecimento de toda atividade física e o rebaixamento dos sentimentos de auto-estima até a um ponto de intensa auto-reprovação, de auto-injúria, chegando até a um desejo delirante de punição. Salientou Freud que tal rebaixamento da auto-estima não é encontrado no luto, sendo, pois, uma condição exclusiva da melancolia. Tal fato se dá como conseqüência do movimento da libido, anteriormente ligada ao objeto perdido, mas que, por um processo semelhante, porém mais intenso do que o recalcamento, perde sua mobilidade e, ao invés de investir em outros objetos, é transformado em identificação com o objeto perdido. O que se observa, então, é que as auto-injúrias e outros auto-ataques são na realidade dirigidos ao objeto, que desaba sobre o ego como uma sombra.
Além dessas considerações, salientou Freud que uma das particularidades encontradas na melancolia era a sua tendência para transformar-se em mania. Neste processo o ego se recobra da perda objetal e, por um acúmulo de investimentos no objeto-eu, tornando-se, então, livre, o que possibilita a regressão ao estado narcísico. Ou seja, o aumento da auto-estima estaria ligado a uma grandeza repentina e desproporcional do ego, que deixando a instância crítica de lado, torna-se  onipotente, tudo fica fácil e possível. É como se as mãos abertas, tentassem agarrar a água; mais precisamente, passa a existir aí um ego inflado, que tenta ir além das suas reais possibilidades, em uma auto-estima grandiloqüente.
Freud levantou a hipótese de que tanto a melancolia quanto a mania estariam possivelmente na dependência de condições físico-químicas, ainda desconhecidas, restringindo-se a analisar apenas os casos que haviam sido positivamente influenciados pelo processo psicanalítico, que por isso, deveriam ter como etiologia, fatores psicogênicos, como os que acabamos de assinalar.
Tentando contrariar a hipótese de Freud quanto ao movimento da libido de uma pessoa apaixonada, onde o objeto idealizado ganharia importância, pois a pessoa amada seria de longe a mais importante, Chasseguet-Smirgel (apud Kenberg, 1995) assinala que a projeção do ideal do ego na pessoa amada não reduz a auto-estima, mas a aumenta, porque as aspirações do ideal de ego são então realizadas. O amor retribuído aumenta a auto-estima como parte da gratificação de estar apaixonado e de ser amado.
Esta aparente contradição no que toca à auto-estima e ao movimento  da libido não é de fato muito relevante. Ela só ganha importância quando tomada como referência por um dos principais teóricos da psicanálise, pois, também para Freud, quando existe o retorno dos investimentos no objeto amado, o narcisismo secundário, restaura-se a confiança do eu, tornando-o feliz, por ser amado.
Para Jung (1982), o eu seria constituído por duas bases apenas aparentemente diversas, uma somática e outra psíquica. A somática seria conhecida pelas sensações de natureza endossomáticas que transpusessem o limiar da consciência, enquanto que parte  desse tipo de estímulo se processaria de modo inconsciente. O eu estaria apoiado no campo global da consciência, subordinado ao si-mesmo, ou seja, a personalidade global não pode ser captada em sua totalidade. 
Descreve ainda Jung oito tipos psicológicos, resultantes da combinação das funções de adaptação: sensação, sentimento, pensamento, intuição e os dois movimentos básicos da energia psíquica, a introversão e a extroversão. Na dependência da vivência da função inferior, entre outros aspectos, estaria a vida de um indivíduo fadada a ser cheia de êxitos ou de estados depressivos, impedidores da realização das potencialidades da personalidade. O amplo resultado do processo de individuação seria numa combinação das quatro funções, que possibilitaria uma concepção equilibrada e boa do mundo.
Encontramos também em Reich (1975) a formulação de que o caráter é constituído pelas atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações, incluindo seus valores conscientes, estilo de comportamento, atitudes físicas, tais como postura, aparência, hábitos e movimentação do corpo. Este autor faz referência ao caráter genital e ao caráter neurótico, sendo o primeiro regido pelo princípio da auto-regulagem, sem as inibições dos princípios morais, podendo abandonar-se livremente  ao fluxo da energia biológica, descarregando adequadamente a excitação sexual reprimida por meio de movimentos corporais agradáveis, ou seja, um indivíduo autoconfiante, que, apesar de Reich não referir-se ao termo, tem uma auto-estima elevada, é consciente e conhecedor do mundo que o rodeia.
Perls (1977), por sua vez, salienta que a pessoa deve ser vista como um todo, de maneira holística, não havendo nos seres humanos diferenças entre a atividade física, aquilo que se passa na esfera do corpo, e a atividade mental, pois nossos corpos seriam manifestações diretas de quem somos. Concebe o homem como parte da natureza, um evento biológico, assim como a sociedade. Apesar de não referir-se à auto-estima de uma forma direta, postula que “cada noção abstrata é um processo, tanto quanto a visualização de um objeto. Atividade deliberada, autocontrole, consciência, são funções sociais e ao mesmo tempo, biológicas. A reintegração só pode ter sucesso se toda atividade humana, tanto deliberada quanto espontânea, pensamentos e instintos for considerada e tratada como um processo biológico”(p.79).
Existe margem para  se pensar, através de seus pressupostos gerais, particularmente a noção de linguagem de figura e fundo do organismos, que a neurose e a redução da auto-estima são resultados de situações inacabadas, onde a gesltalt não teria se completado. Caso tal linguagem fosse escutada, a pessoa passaria a agir de acordo com um meio confiável de orientação, restaurando o equilíbrio da personalidade e arquitentando o caminho para um desenvolvimento produtivo, onde as idéias de aceitação e rejeição estariam ligadas ao  padrão de orientação, à necessidade de ser aceito e ao medo de ser rejeitado pelo mundo.
Em Skinner (apud Ferster, Culberstson & Perrot Boren) o papel do corpo estaria exclusivamente em dados observáveis e teria importância fundamental, pois as pessoas expressam comportamentos, praticam ações corporais que revelam seus sentimentos, sua maneira de ser.
Seguindo esta linha de abordagem, Lewinsohn,  em meados de 1900 (apud Eber, Loosen & Nurcombe), assinala que um reforço positivo inadequado poderia levar a um ciclo indefinido e constante de baixa auto-estima e aumento do isolamento e desesperança.
Beck (1976), baseado em seu modelo cognitivo, observa que na depressão existe uma interpretação equivocada dos acontecimentos da vida, envolvendo negatividades do autoconceito, da interpretação da experiência e da perspectiva de futuro. Mais precisamente, pressupõe uma auto-estima rebaixada em praticamente todos os sentidos, resultado de uma interpretação errônea dos acontecimentos em que a pessoa se viu envolvida, determinando assim, sua resposta futura.
Na psiquiatria moderna (Ebert, Loosen & Nurcombe, 2002) encontramos a auto-estima correlacionada principalmente aos transtornos do humor, explicados, por seu lado, por múltiplos fatores etiológicos. As hipóteses biológicas apontam, entre fatores glandulares, os neurotransmissores, especialmente a norepinefrina, a serotonina e dopamina como responsáveis por tais transtornos, encontradas freqüentemente no transtorno depressivo maior, já que inúmeros antidepressivos agiriam aumentando as concentrações dos neurotransmissores nos locais dos receptores pós-sinápticos, inibindo a sua recaptação pela fenda sináptica. Como se nota, pelos mecanismos de ação dos antidepressivos nos transtornos do humor, a auto-estima poderia ser aumentada por uma ação neurofisiológica.
Nas Escalas utilizadas para avaliação de humor e transtornos afetivos (Gorenstein, Andrade & Zuardi, 1999), não encontramos curiosamente, em nenhuma delas, um item específico para a avaliação da auto-estima. Em quase todas, porém, nos deparamos com questões  a ela pertinentes, o que se deduz que a auto-estima é avaliada como uma categoria difusa,  indireta, no conjunto geral das Escalas.   
Somos levados a deduzir que o desenvolvimento de um sentimento de auto-estima adequado é considerado saudável; ele é necessário à vivência de experiências internas e externas que auxiliam a pessoa positivamente em sua auto-avaliação. Se, por exemplo, tivermos um descontentamento com a forma de nosso corpo, ou com nossos hábitos, estaremos, sem ter consciência de nossas ações, influenciando outros com a nossa atitude, favorecendo assim a criação de círculo vicioso, em que o não se gostar generaliza-se em sentimentos de rejeição. Ou seja, se a nossa auto-estima estiver para baixo, olharemos o mundo e as pessoas de forma negativa, e dessa forma pensaremos que estamos sendo olhados, em um exemplo claro do mecanismo de projeção.
Esse  fato nos leva a considerar que mesmo se tratando de uma auto-estima determinada por um desequilíbrio dos neurotransmissores, o mecanismo que veicula os sentimentos, os sentidos das ações e da ação psíquica geral, são estritamente psicológicos.
No Brasil, Herrmann (2001) não aborda especificamente a auto-estima, mas contextualizando uma análise social, tendo como instrumentos a Teoria dos Campos, procura percorrer os caminhos de como o brasileiro possui uma auto-representação, enquanto povo, que poderia ser qualificada de baixa estima. Para entendermos um pouco essa investigação realizada por Herrmann, seria interessante entrarmos e nos determos no seu conceito de representação.
As representações ao mesmo tempo em que fazem parte constituem o homem enquanto ser cultural. Imaginemos uma superfície com dois lados, um côncavo, voltado para dentro, representando a identidade e outro, convexo, voltado para fora, representando, por sua vez, a realidade. Elas possuem origem e finalidade e são mantidas por uma função psíquica pré-consciente, denominada Crença, que torna as representações tão concretas quanto os homens que as constroem e as defendem. Ambas as superfícies estariam em constante neoformação e seriam construídas com fins defensivos, um aparato especial que destaca o homem e o diferencia do real, do reino do contágio, isto é, do estado em que os limites eu-outro, sujeito-objeto fundem-se e todo sistema de referência de uma pessoa ou de uma coletividade se perde numa indiferenciação extrema.
O desejo seria assim a parte seqüestrada e diferenciada do real que, por ter sido destacada e apartada do mesmo, tenta a ele retornar e a ele se dirige, desenhando o sujeito, revestindo-o de múltiplas vestes, dando-lhe identidade, produzindo sentido. As falhas, portanto, nesse processo de formação da superfície representacional, poderiam propiciar ao sujeito estados confusionais, perdendo sua principal função, a de defesa do reino das coisas.
Quando a função defensiva das representações, isto é, a crença torna-se abalada, escapa o sentido de realidade que antes o sujeito possuía. A identidade, por seu lado, também fica estremecida, e  a sua correspondente noção de individualidade é posta em xeque, ameaçada.  O sujeito percebe o risco da indiferenciação, do mergulho no estrato humano de onde emergiu, esse estado  podemos hoje chamar de loucura.
Herrmann (2001) trata a fragilidade da crença denominando-a de fé, um esforço extra que é demandado por parte do indivíduo para tentar manter suas representações, tanto a identidade quanto a realidade. São, então, as superfícies representacionais que garantem a pessoa viver dentro de certa lógica, de certos parâmetros para se guiar na vida, mesmo quando as representações se restringem às linhas teóricas da psicologia ou às tendências políticas e outras tantas ramificações constituintes do universo humano: nações inteiras, credos, raças.
Não somos diferentes de outros seres humanos. Talvez sejamos, embora cada vez menos, um tanto que distintos em nossa superfície representacional. É o conjunto das nossas representações, que subscreve o desejo de um povo, que caracteriza sua realidade, que parece abalados em sua função especialmente a partir de fora, com interpretações do que não somos que nos propiciam sentimentos de desvalia, de sentimentos que poderiam enquadar-se na categoria  baixa estima. 
São muitos os fatores, imaginários ou reais, que afetam a auto-estima de uma pessoa, como podemos inferir a  partir das teorias psicológicas que relacionam aspéctos psicológicos, biológicos e sociais. Contudo, claro está que gozar de uma boa saúde, ter uma aparência que faça a pessoa sentir-se bem, podem contribuir de uma maneira decisiva para uma auto-avaliação mais alegre e positiva de si mesmo e, com isto, para um repertório ampliado de sentimentos de autoconfiança nos relacionamentos sociais, amorosos e na vida profissional.
As teorias psicológicas divergem entre si, com certeza, mas não deixam de ter uma qualidade de abstração, de hipótese do que se passa com o psiquismo.  Os psicólogos não precisam se sentir desconfortável com as descobertas da neurociência, pois os mecanismos que veiculam as doenças têm origem na alma humana, que não se deixa reduzir à interações fisiológicas ou simplesmente determinar pelas combinações de proteínas.
Situamo-nos em outro campo, que não é possível ser reduzido. O objeto da psicologia,  não importa qual a preferência teórica, situa-se num recorte do real diferente dos de outras ciências. Nossa epistemologia é produto de uma relação com objetos que se pauta por métodos, por caminhos bem particulares de investigação.
Para nossos pacientes não se desaconselha a procura de meios adequados, as psicoterapias, por exemplo, que possam auxiliar na auto-avaliação. Além de ser uma medida saudável, talvez seja esta a pedra de toque, um passo importante para também sentirem-se admirados e estimados pelas pessoas que estão à sua volta, modificando a forma como se concebem e como se relacionam com as propriedades que lhes são imanentes.
Afinal de contas, a sensação de sentimentos prazerosos de nós mesmos não pode ser algo delegado a um segundo plano, ou a uma ilusão apenas de superfície, já que só temos uma única vida e vivê-la bem e em sua plenitude é o que nos resta.

ConclusãoPode-se considerar, portanto,  que a auto-estima está relacionada a muitos fatores: psicológicos, biológicos e sociais. O fato de não termos uma avaliação positiva de nós mesmos, de não nos gostarmos leva e é resultado de uma auto-estima rebaixada. Se tomarmos providências para melhorar nossa auto-imagem, procurando estar em sintonia com os nossos ideais, poderemos influir decisivamente de maneira positiva na nossa concepção de mundo, em nossa auto-avaliação, em uma auto-estima adequada e necessária para os dias de hoje. Afinal, o narcisismo nem sempre é patológico, especialmente quando o corpo, possibilidade para todas as enfermidades, necessita de uma atitude que possa espelhar, mesmo através da dor, a força da pulsão de vida.
A auto-estima, um assunto de que muito se fala, mas sobre o qual atualmente pouco ou quase nada se escreve, parece ter sido relegada aos manuais de auto-ajuda que se difundiram espantosamente no final do século passado. A tentativa de resgatar o conceito de auto-estima, mesmo através de um pequeno ensaio pautado em uma breve revisão teórica, talvez possa ser um passo inicial para recuperarmos conceitos que foram açambarcados de nossa ciência, que a cada dia, como presenciamos muitas vezes em nossa vivência na instituição hospitalar, está indefesa e abalada, indiferenciada das concepções de manuais, muito mais próximos da banalidade e da popularidade imediata, que não podem ser, de modo algum, confundidas com as de uma ciência moderna que está sendo construída, como uma das valiosas conquistas do espírito empreendedor da humanidade. Desse legado, não podemos abrir mão.
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Publicado em 04/07/2010 14:08:00

Cláudio Garcia Capitão - Psicólogo, especialista em Psicologia Clínica e em Psicologia Hospitalar, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Doutor pela UNICAMP, com Pós-Doutorado em Psicologia Clínica Pela PUC-SP. É Professor dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco e Psicólogo do I.I.Emílio Ribas.



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