domingo, 7 de abril de 2013

O estatuto da imagem em Jung



O estatuto da imagem em Jung


 Carlos Bernardi

             A imagem possui uma importância central para Jung, importância esta que se revela na fórmula que caracteriza o psiquismo: psique=imagem.
            Através dessa equação Jung quer enfatizar que os conteúdos psíquicos, sua expressão, são sempre imagéticas, maneiras de se mostrar ou de se apresentar.
            Surge aqui um problema. Imagem é muitas vezes entendida a partir de uma perspectiva visual e reprodutora, mas Jung é claro ao afirmar que seu entendimento da imagem vem do campo lingüístico. Por isso escreve, que por imagem:
      não entendo o retrato psíquico do objeto exterior, mas uma representação imediata, oriunda da linguagem poética, ou seja, a imagem da fantasia que se relaciona indiretamente com a percepção do objeto externo. Esta imagem depende mais da atividade inconsciente da fantasia... (Jung, Tipos Psicológicos, pág. 417)
            Portanto, se Jung equaciona psique com imagem e imagem com expressão poética, podemos falar, eliminando um dos termos destas equações que psique=expressão poética.            A expressão do psiquismo não é da ordem conceitual, mas de uma ordem tropológica, ou seja, são metáforas e metonímias, não havendo uma identidade entre imagem interna e referente externo.
            Desde suas pesquisas sobre os complexos, estruturas autônomas de armazenamento de informações no psiquismo, Jung já mencionava estes dois tropos, embora com nomes diversos. As imagens eram registradas no psiquismo através de dois tipos de associação: por contigüidade e por semelhança. Estas correspondem, exatamente, às características das denominações tradicionais, metonímia e metáfora, respectivamente. Repito, a imagem psíquica, registrada no psiquismo, não se identifica ou não se confunde com o referente externo. Esta forma de entender a imagem psíquica acompanha Jung desde suas pesquisas com as associações de palavras, realizadas sob a direção de Eugen Bleuler, desde 1905. Foi através dessas pesquisas que Jung descobriu a existência dos complexos psíquicos de tonalidade afetiva, comprovação experimental da existência do inconsciente. Esta descoberta, vale a pena recordar, juntamente com a adesão da Escola de Zürich, foi fundamental para o reconhecimento das idéias de Freud.
            Já no campo lingüístico, Maurice Blanchot pensa a imagem de maneira semelhante.
               A imagem, segundo a análise comum, está depois do objeto: ela é a sua continuação; vemos, depois imaginamos. Depois do objeto viria a imagem. “Depois” significa que cumpre, em primeiro lugar, que a coisa se distancie para deixar-se recapturar. Mas esse distanciamento não é a simples mudança de lugar de um móvel que, continuaria, entretanto, sendo o mesmo. O distanciamento está aqui no âmago da coisa. a coisa estava aí, que nós apreenderíamos no movimento vivo de uma ação compreensiva e, tornada imagem, ei-la instantaneamente convertida no inapreensível, inatual, impassível, não a mesma coisa distanciada mas essa coisa como distanciamento, a coisa presente em sua ausência, a apreensível porque inapreensível, aparecendo na qualidade de desaparecida, o retorno do que não volta, o coração estranho do longínquo como vida e coração único da coisa. (Blanchot, O Espaço Literário, pág. 257)
            Imagem é, portanto, distanciamento. Se sonho, digamos, com um gato, com o gato da minha tia, por exemplo, este gato não será pura e simplesmente a reprodução fiel daquele gato, mas será o gato-da-minha-tia adulterado, transformado tropologicamente, na medida em que é trazido para um outro contexto. Poderia formular estas questões: O que estará fazendo o gato-da-minha-tia aqui? Onde é aqui? Qual a relação (poética) entre o gato-da-minha-tia e aqui? Conseqüentemente, já não sei de que gato se trata. Esta forma de pensar a imagem psíquica caminha lado a lado com as teorizações de Gaston Bachelard sobre a imagem poética e seu "órgão", a imaginação.
               Pretende-se sempre que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ora, ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens. Se não há mudança de imagem, união inesperada das imagens, não há ação imaginante. Se uma imagem presente não faz pensar numa imagem ausente, se uma imagem ocasional não determina uma prodigalidade de imagens aberrantes, uma explosão de imagens, não há imaginação. Há percepção, lembrança de uma percepção, memória familiar, hábito das cores e das formas. (Bachelard, O Ar e os Sonhos, pág. 1)
            A imagem, prossegue Bachelard, é de uma novidade radical. Quando surge estamos vendo-a pela primeira vez, abrindo, em suas palavras, "um porvir da linguagem". Além do mais, graças à sua mobilidade, outro traço apontado por Bachelard, seu sentido estará sempre se modificando. A forma definitiva é a destruição do "princípio imaginário". Em outras palavras: "No reino da imaginação, a toda imanência se junta uma transcendência" (Bachelard, A Terra e os Devaneios do Repouso, pág. 6).
            Isto é, o sentido da imagem não é o mesmo de sua manifestação imanente. É transcendental, está para além do valor de uso ou sentido literal da expressão verbal que constitui a imagem. Esta novidade que nos fala Bachelard é igualmente reconhecida por Jung. Por este motivo quando Jung fala de método, este só pode ser o método dialético, um método que é, na verdade, um abrir mão de todos os métodos. Duas são as fontes que tornam este método necessário no processo de análise, vale dizer, no processo de leitura das narrativas apresentadas pelo paciente.
1. A individualidade do paciente é desconhecida, por isso não se pode fazer afirmações genéricas sobre seus pronunciamentos;
2. Existem múltiplas possibilidades interpretativas dos conteúdos psíquicos, por este motivo, também não se podem fazer afirmações genéricas sobre seus pronunciamentos.
            Tomando a dialética no sentido de arte da conversação, Jung destaca que os sentidos das imagens só surgem a partir de uma troca entre os participantes do diálogo. O que o psiquismo nos apresenta são, portanto, símbolos, que remetem incessantemente a uma esfera de desconhecimento, nunca transformado em certeza. A prática junguiana nunca apontaria, num primeiro instante, para um dicionário de símbolos qualquer, independente de sua "completude", mas partiria sempre dessa postura de desconhecimento total. É da ordem de uma aproximação, mas não de uma decifração. A imagem sempre nos devora. Ela sempre nos desordena.
      O símbolo é sempre um desafio à nossa reflexão e compreensão.
            Em tipos psicológicos acrescenta:
      Um símbolo perde, por assim dizer, sua força mágica, ou, se quisermos, sua força redentora, logo que foi reconhecida, logo que for conhecida uma solucionabilidade. Por isso, um símbolo ativo tem que ter uma constituição inexpugnável. (Jung, Tipos Psicológicos, pág. 229)
            Quando reduzimos o desconhecido ao conhecido, isto parece paradoxal, diminuímos a potência do símbolo, seu poder redentor ou seu poder de redimir, como diz Jung, pois, neste caso, não estaremos mais sendo por ele provocados. Mas, o que é provocar? Jacques Derrida sugere uma resposta, ou várias (Derrida, Without Alibi, pág. XVI). É sair à frente, expor-se, desafiar, ousar, enfrentar ou confrontar. Isto tudo sem demora e sem álibi. Aqui estou, podemos dizer para o símbolo, pronto para ouvir não só o que ele tem a me dizer, mas, igualmente, aquilo que não consigo ouvir. Mesmo assim, estou aqui. Se conhecermos tudo que um símbolo tem a dizer ele não é ou não é mais um símbolo, mas um signo ou um sinal. Chegamos, assim, àquilo que pode ser entendido, aproximadamente, como a definição junguiana de símbolo.
      O símbolo, no entanto, pressupõe sempre que a expressão escolhida seja a melhor designação ou fórmula possível de um fato relativamente desconhecido, mas cuja existência é conhecida e postulada. (Jung, Tipos Psicológicos, pág. 444)
            Sei que existe, mas não sei o que é. Vejo, mas não posso apreender, ou seja, por as mãos, agarrar, pegar, possuir e conquistar. O símbolo, como disse mais acima, só permite uma aproximação, o único meio de buscarmos um estado de paz, como pensa Emmanuel Levinas. Para tanto devemos reconhecer que o símbolo é algo precário diante dos poderes de auto-afirmação e autonomia do ego mesmo quando este é perturbado pela heteronomia do sintoma. Sabemos que o sintoma, na definição de Freud, constitui uma formação de compromisso, vale dizer, um acordo mudo entre a autonomia do ego e a heteronomia do outro. A estranheza desse outro é absorvida na mesmidade do ego. Sabemos, ao mesmo tempo, que este acordo-como-sintoma é uma chance do outro poder ser ouvido. Por isso, para Levinas, a paz, entendida  como proximidade com o vizinho, ocorre no momento em que o ego desperta (ou entra em um estado de insônia) para a compreensão da precariedade do outro e se sente responsável por ele, colocando em questão sua "própria identidade, sua ilimitada liberdade e seu poder" (Levinas, Peace and Proximity, pág. 167).
            Podemos, agora, compreender por que o símbolo, em geral, não é um símbolo por si mesmo, mas é o produto desse despertar, dessa insônia, de uma atitude da consciência observadora, como sustenta Jung, uma atitude que "considera o fato dado não apenas como tal, mas como a expressão de algo desconhecido" (Jung, Tipos Psicológicos, pág. 445). O símbolo deve ser mantido como enigma, algo que nunca será desvendado ou solucionado, que nunca será petrificado em significação. Seu entendimento será sempre um talvez.
            Pela presença deste elemento desconhecido, o símbolo verdadeiro, que Jung denomina de símbolo vivo, não pode ser criado intencionalmente pelo homem, por sua consciência, mas é sempre um acontecimento, um evento cujo sentido não está presente, mas que se doa ou exige ser lido e compreendido em sua radical alteridade. Eles desejam que a consciência simplesmente os deixe acontecer, na atitude que Emanuel Levinas chama de passividade diante do rosto do outro. Este rosto, o rosto do símbolo, que me constrange eticamente a oferecer uma resposta. Minha responsabilidade consiste precisamente nisso: oferecer respostas a seu constante desafio.
            O símbolo deseja que eu o vivencie de maneira imediata, ou seja, entre ele e eu há uma relação aberta e é esta abertura que garantirá a liberdade das minhas respostas. Caso aconteça o contrário, vale dizer, se entre eu e o símbolo imperar uma relação mediada, já não terei a mencionada liberdade, mas serei obrigado a adotar os sentidos ou significados que se intrometeram em nome de um código social ou uma instituição qualquer.
            O símbolo, se ainda fizer sentido usar esta palavra, passa a possuir um valor histórico e tradicional. Seu mistério se foi, assim como, sua novidade. Não há mais por vir. Só código, regra, lei. Tudo isso suficiente para satisfazer necessidades genéricas, mas incapaz de dar conta de situações individuais.
            O símbolo possui a função de compensação, tanto individual quanto coletiva, de estados de conflito, estabelecendo um campo intermediário onde todas as partes envolvidas no conflito terão sua chance de apresentarem seus discursos. Desde Freud o conflito que dará origem ao sintoma, é um conflito inconsciente, onde as partes nele envolvidas não têm chance de mostrarem seu rosto. A luta decorrente deste conflito pode gerar uma paralisia, que Derrida entende como o aspecto negativo de uma aporia ou contradição lógica. Mas é justamente esta aporia, esta possibilidade do impossível, o jogo, que é a condição da marcha, da decisão, do acolhimento do outro que não podia se manifestar, mas que estava próximo à nossa porta. O símbolo, ou o símbolo mediador, é justamente a tentativa de sair da paralisia e por a aporia em movimento.
               Se a expressão inconsciente permanecer intacta, formará a matéria-prima não para um processo de resolução mas de construção, e ela se tornará o objeto comum da tese e da antítese. Tornar-se-á um conteúdo novo que dominará toda a atitude, acabará com a divisão e obrigará a força dos opostos a entrar em canal comum. E assim acaba a suspensão da vida, ela pode continuar fluindo com novas forças e novos objetivos. (Jung, Tipos Psicológicos, pág. 449)
            Esta função de mediação Jung denominou função transcendente. Este transcendente, Jung adverte, não deve ser entendido no sentido metafísico, mas no sentido que é o símbolo que facilita a transição, a transcendência, de um estado de separação entre as posições consciente e inconsciente. Esta separação é produto da atitude unilateral da consciência, que não suporta confrontar e ser confrontada por outros pontos de vista, não externos, mas igualmente "internos". Através da função transcendente nada é excluído, "tudo toma parte na discussão" (Jung, A Função Transcendente, pág. 91), acrescenta Jung.
            A resistência que ela obviamente provoca faz com que, no processo de análise, seja o analista aquele que tomará esta função em sua pessoa, através da vivência transferencial. Com isso, se transforma no símbolo daquele que aceita o diálogo com os símbolos, o símbolo daquele que aceita o polilóquio, dizendo aqui estou para o inconsciente, e pronunciando um sim hospitaleiro aos seus conteúdos.
            Mas como pronunciar este sim com sinceridade, ou, com que grau de profundidade este sim é pronunciado? Isso é uma questão de atitude, que é dependente de uma transformação radical do ego, onde este se coloca na posição de “personagem” em meio a outras personagens respeitando-as e, passivamente, no sentido que Levinas dá a este termo, se apresenta diante do Outro para ouvir seu Dizer, sabendo que este outro pertence a uma outra realidade, a realidade psíquica. Esta realidade é, contudo, tão real quanto a outra; sua alteridade tão alteridade quando à do outro. Como crer nisso, repetindo a questão. Jorge Luiz Borges nos ofereceu uma resposta.
               Dijo Coleridge que la fe poética es una voluntaria suspensión de la incredulidad. Si asistimos a una representación de teatro sabemos que en el escenario hay hombres disfrazados que repiten las palabras de Shakespeare, de Ibsen o de Pirandello que les han puesto en la boca. Pero nosotros aceptamos que esos hombres no so disfrazados; que este hombre disfrazado que monologa lentamente en las antesalas de la venganza es realmente el príncipe de Dinamarca, Hamlet; nos abandonamos. En el cinematógrafo es aún más curioso el procedimiento, porque estamos viendo no ya al disfrazado sino fotografías de disfrazados y sin embargo creemos en ellos mientras dura la proyección. (Borges, Siete Noches, pág. 17). 
            Um outro poeta romântico expressa o mesmo pensamento. Trata-se de John Keats que se preocupava com a habilidade de se trabalhar com a imaginação sem a necessidade de se buscar fatos ou razões. Chamou isso de "capacidade negativa" (Avens, Imaginação é Realidade, pág. 2). Esta capacidade negativa ou a fé poética de Coleridge são, por si mesmas, atos de literatura, na medida em que a reação do eu em relação às personagens depende dele assumir um "como se" elas fossem reais. Só assim sofrerá o impacto pleno da "presença" da personagem como o outro.
            Essa atitude, no entender de Jung, requer um movimento de sacralidade diante das imagens. É justamente isso que ele chama de religião. Para entendermos esse movimento é preciso lembrar que Jung trabalha com uma etimologia específica de religião, aquela desenvolvida por Cícero que afirma que religião vem de religere, a observação atenta e cuidadosa de algo. Enquanto considerar a imagem, no caso a personagem, como apenas um produto da imaginação não há como existir esta fé psicológica ou esta capacidade negativa. Deve ocorrer, por parte do ego uma atitude de sacralidade para com as produções do inconsciente, como se tivessem sido enviados por Deus, entendendo Deus como a expressão máxima da alteridade do outro, o absolutamente outro. De qualquer modo, não estamos lidando com realidades metafísicas ou discussões teológicas, mesmo que isto seja sentido como uma perda. Por isso, concordamos inteiramente com Jorge Luis Borges quando afirma:
      E em nossa não tão bela mitologia, falamos do "eu subliminar", do "subconsciente". Claro, essas palavras são bastante toscas quando comparadas às musas ou ao Espírito Santo. Seja como for, temos de nos haver com a mitologia de nosso tempo. Pois as palavras significam essencialmente a mesma coisa. (BORGES, Esse Ofício do Verso, pág. 18)
            Se o símbolo é a melhor tentativa de se formular algo desconhecido, o que dele podemos pensar é sempre da ordem de uma aproximação, nunca de um esgotamento. À tradução completa em algo conhecido Jung chamou de signo, que podemos dizer que é a morte do desconhecido, a morte do Outro: sua radical estranheza é reduzida ao meu total conhecimento de seu sentido, dando vazão ao nosso sonho de estabilidade. 

Carlos Bernardi
bernardi@rubedo.psc.br


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Caminho do Meio (Madhyama Pratipad, em sânscrito) BHUDA


O CAMINHO DO MEIO



Rogério Malaquias
Boa Esperança de Cima, 1992

Caminho do Meio (Madhyama Pratipad, em sânscrito) é uma tradicional expressão budista que procura, de um modo sucinto, apontar o rumo àqueles que se propõem a dar seus primeiros passos em direção à sabedoria ou, pelo menos, ao alívio de seus conflitos.
É uma das imagens que brotam espontaneamente na alma sempre que ela é atormentada pelo Conflito dos Opostos, vale dizer, conflito de desejos ou necessidades que aparecem como absolutamente excludentes. É uma metáfora, uma das imagens recorrentes em todas as épocas e culturas sob as mais diversas formas e denominações, pois que representa um poderoso determinante da alma humana: o arquétipo da União (Conjunctio) especificamente a União de Opostos (Conjunctio Oppositorum, como diziam os alquimistas, em latim), a mais radical das uniões.
Digo a mais radical porque os opostos não se justapõem ou se mesclam simplesmente, como bananas num cacho ou tintas numa palheta de pintor, nem se deixam reduzir um ao outro por submissão violenta ou a golpes de raciocínios bem intencionados. Os opostos são o que são: opostos. Mas quando somos pegos pelo calor do embate que eles travam em nossa alma, imediatamente o arquétipo de União é ativado (tenhamos ou não consciência dele) lançando-nos à estranha aventura de reconciliar o irreconciliável. Tal aventura é inescapável pois que significa, se não a cura, ao menos alívio para um intenso sofrimento.



O arquétipo ativado traz esperança de calma, ordem no caos, inspira nobres ideais, mostra agora um pouco de felicidade ou a promete para um futuro próximo, alimenta utopias, fascina, alenta, convida a alma a não desesperar-se, encoraja-a a prosseguir entre as dificuldades. No entanto, ele também se manifesta por dúvidas, inseguranças, culpas, remorsos, depressões, ansiedades, estresses, e que tais.
E, também, por uma estranha teimosia que parece realimentar o processo de sofrimento. Mas não. É aquela aventura, também estranha, que exige as teimosias, obsessões, persistências, certezas, paranóias, manias, indiferenças, preconceitos, e outras coisas mais, para que nos mantenhamos no caminho e não percamos o rumo.
Assim, talvez, possamos perceber algum sentido em meio a tanto sofrimento e... talvez, vislumbrar o alívio.

As margens de um caminho não são opostas por si mesmas, tornam-se opostas em função do ponto de vista do caminhante. O lado direito e o esquerdo são os do caminhante, não os do caminho. Vale dizer, os da alma do caminhante, que facilmente projeta neles suas tensões em conflito. E é bom que o faça, pois a metáfora do caminho traz consigo diagnósticos e esperanças de transformação.
Senão, vejamos: o lado direito e o esquerdo fazem às vezes de lados bom e mau, certo e errado, reto e torto, claro e escuro, consciente e inconsciente, esposa e amante, etc. No caminho se vai para frente ou para trás, se progride ou regride, há futuro e passado, se tem rumo ou se está perdido, ele está impedido ou desimpedido, os obstáculos são fáceis de serem transpostos ou muito difíceis, ele é perigoso ou nem tanto, se estamos só ou acompanhados, se nos ajudam ou não, se aguardamos a próxima curva, a próxima vila, ou se voltamos já. E será ainda possível o retorno? E a bifurcação? E a decisão numa encruzilhada? Muitas estórias... Espelhos onde a alma se reflita, se veja, reflita e se retoque.
Os opostos só existem na alma. Quando os lados direito e esquerdo de um caminho voltarem a ser apenas os lados direito e esquerdo de um caminho, então o caminhante estará em paz. E o arquétipo de União terá cumprido o seu desígnio.

Caminho do Meio é uma expressão que sugere evitar os caminhos extremos, cuidado, consideração aos dois lados da questão, atenção. Isso lembra os gregos.
Os gregos antigos ensinavam a temperança, a prudência, o bom senso, a moderação, a modéstia como um estado de espírito calmo e são (Sophrosyne). Esta era uma virtude que se contrapunha à Hybris que significava o contrário: desmedida, excesso, orgulho, insolência, impetuosidade, desenfreio, ultraje, insulto, desespero... violência! Nada em excesso, recomendavam seus mestres, contando maravilhosas estórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos.

Observa-se um benefício simples e ancestral da arte de unir opostos (é uma arte!) contemplando, por exemplo, a tensão de um arco retesado prestes a lançar a sua flecha (criada pela aproximação das duas extremidades “opostas” da haste de madeira unidas por um cordel) e a perícia do atirador em acertar o seu alvo (nem para cima demais ou para baixo, nem demais para a direita ou a esquerda).
Outro exemplo ainda mais simples e mais ancestral ainda: o homem, a mulher, e seus filhos.
Observemos também os cuidados de afinação das cordas de um instrumento musical: não podem ser frouxas ou tensas demais. Esta foi exatamente a imagem que Buda usou ao tentar mostrar aos seus cinco ex-companheiros de rígido ascetismo que o corpo (e a mente) não deve ser agradado ou desagradado em excesso. É preciso encontrar o Caminho do Meio.


.O caminho budista por excelência (Marga). Uma visão tântrica.

O caminho do Meio é conhecido na tradição budista como a Quarta Nobre Verdade, vejamos rapidamente as outras três:
A Primeira -- duhkha aryasatya (nobre verdade sobre a dor) -- anuncia que todos os seres vivos sofrem. Sofrem quando nascem, sofrem quando envelhecem, sofrem quando adoecem, sofrem quando morrem. Sofrem quando não se unem àqueles que amam ou se unem àqueles que odeiam, e sofrem quando deles se separam. Sofrem quando não conseguem realizar os seus desejos. Sofremos, metidos todos que estamos numa realidade que se transforma incessantemente. Insatisfação sem fim. A impossibilidade do descanso garantido. Só a insegurança não passa: o meu mundo não permanece, o meu corpo não permanece, eu mesmo não permaneço.

A Segunda – duhkha samudaya aryasatya (nobre verdade sobre a origem da dor) -- denuncia o desejo, a sede (trishna) de existir, de viver, sede de prazer, sede de poder, como a causa de todo o sofrimento. Desejamos a permanência do nosso mundo, do nosso corpo e de nós mesmos. Desejamos não só a permanência como ampliá-la, protegê-la. Estamos apegados a umas tantas coisas que temos por essenciais ou agradáveis que lutamos todo o tempo para que elas não se vão. Mas elas se vão. Mais cedo ou mais tarde, e não se deixam conservar. O desejo se reproduz, vai de um a outro, e nos lança numa interminável corrente de dor: desejo de ser isto e de não ser aquilo, desejo de prazer e de não sofrer, de permanecer, não morrer. O desejo é a fonte de toda a ilusão, que por sua vez reforça o desejo, num ciclo vicioso infernal. O desejo alimenta a noção ilusória de um “eu” permanente e substancial que é “quem” sofre. É o suporte da dor, e a ela dá continuidade.
O desejo se acende e arde nas duas paixões que se opõem: o amor e o ódio, e se alucina com a própria ilusão que produz! -- O amor, desejo ardente de união (raga), representado no imaginário budista por um galo, ou uma pomba -- O ódio, desejo ardente de repulsão (dvesha), representado por uma serpente. -- A ilusão, desejo ardente de não saber (avidya), ignorância, indiferença, preguiça, indiferenciação, inconsciência, indiscriminação, loucura, confusão (moha), representada por um porco, é o desejo de dissipação, que de tão dissipado já, pode nem mais aparecer como desejo. Atração, Repulsão e Indiferença – dois caminhos opostos e um pseudo caminho do meio -- são os chamados Três Venenos, Os Três Males.
A sede de existir, de viver, que começa e continua em ilusão, engano e dor, recomeça incessantemente a sua sina através dos sucessivos ciclos de renascimentos.

A Terceira – duhkha nirodha aryasatya (nobre verdade sobre a cessação da dor) -- prenuncia a libertação do sofrimento, o alívio da dor: se não nos apegarmos ao mundo, ao corpo e a nós mesmos, então não sofreremos jamais! Extinguindo o desejo faremos cessar a dor. Extinção do desejo, do apego, da sede de existir, do “eu”, do ciclo de renascimentos, da ilusão, enfim. Quando a chama se extingue, quando se foi o último alento, quando já não houver mais o sopro, ex- (nir) soprado, (vana) -- apagado de um sopro -- expirado (nirvana) estará o prazo da chama, do pavio, da vela. Extinguiu-se o incenso. Não há mais ações (karma) que exijam ter continuidade ou desejo de as ter.
Elimine-se a causa que desaparecerá o efeito. Lógico e simples, não é mesmo? Lógico e simples demais... Na prática, porém, muito provavelmente porque não somos Budas, seja talvez impossível andarmos assim tão desapegados pela existência a ponto de não sofrermos nem ao menos um tiquinho. Mas também não precisamos e nem devemos nos exigir tanto, pois seria um excesso, e paradoxalmente estaríamos alimentando um desejo, ficaríamos apegados a uma mera idéia, mesmo que ela seja uma idéia tão nobre. A vida concreta e cotidiana é, muitas vezes, mais generosa que a mente abstrata dos filósofos e sacerdotes em sua demanda das coisas absolutas. Se conseguirmos sofrer bem menos e esse sofrimento não nos afastar do caminho, já está muito bom.


 Resumindo:





Primeira Nobre Verdade – Todos os seres sofrem.
Segunda Nobre Verdade – A causa do sofrimento é o desejo
Terceira Nobre Verdade – A cessação do desejo faz cessar o sofrimento.
Quarta Nobre Verdade – O Caminho do Meio faz cessar o desejo.


Ao contrário da nossa compulsão de viver, de ser, de ter, do nosso medo e pânico a respeito da morte, o budismo propõe a extinção, não a teme, almeja-a. Mas essa extinção não é, simplesmente, a morte do corpo, que é uma das formas materiais (rupa) e que é muito fácil de acontecer, mas também a morte da alma, como podemos entender a palavra sânscrita para nome (naman), o que, para os budistas, é muito mais difícil de acontecer. s significa o conjunto das cinco sensações (vedana), provenientes dos cinco órgãos voltados para fora, ou instrumentos do exterior (bahir-karana) – olho, nariz, ouvido, língua, pele; as representações mentais dessas sensações, ou percepções (samjna); as conscientizações dessas percepções (vijnana); e a assim chamada mente, considerada um sexto órgão de conscientização, voltado para dentro, ou instrumento do interior (antar-karanam), formada pela atenção seletiva ou “intelecto” (manas), a atividade do ego (ahankara), o discernimento (buddhi). Em suma, características que configuram o que conhecemos por psique, alma.
A extinção do conjunto de nomes-e-formas (namarupa), a unidade psicossomática, alma-e-corpo, se dá ao longo de um caminho que pode durar muitas vidas, tantas quantas forem necessárias até que o não-saber (avidya), a ignorância, a escuridão, o sono, o sonho, a ilusão, cesse e ceda lugar à sabedoria (vidya), deixe surgir a iluminação (boddhi) .
Caminhar pelo Meio é, pois, a arte de ir-se eliminando apegos pela vida a fora, e vida a dentro. É procurar não sofrer e não fazer sofrer. É procurar não estar enlaçado a uma coisa nem a seu oposto. É escorrer, fluir como água entre uma margem e a outra. Mesmo que as águas fluam com excessiva rapidez e esbarranquem as margens que a contêm, observe, sofra, mas tenha calma, não se desespere, espere, não há pressa.

Atenção para uma importantíssima diferença:
Caminho do Meio não é o mesmo que caminho medíocre.
Não é cinzento, sombrio ou morno. Ele cheira e fede. Vão nele as Marias-sem-as-outras.
Não é atalho para hipócritas, nem o refúgio de ambíguos. Estes, e os confusos, perdem-se nele logo à vista da primeira encruzilhada.
Passar entre dois extremos não é o mesmo que evitar os extremos. As águas de um rio não evitam as suas margens, ao contrário, apoiam-se nelas! Um trem não evita os trilhos que lhe dão o rumo.
Pelo Caminho do Meio sobe-se às mais altas montanhas e se desce aos vales mais profundos. Por ele se vai ao céu e ao inferno.
É a coluna central, flexível como a da serpente, que se comunica com todas os aspectos da tragédia humana.
É o fio da meada.
Nele, há calor e frio. Macho e fêmea. Há fraqueza e força. Espírito e matéria. Tudo e nada. Há vida e há morte.
Nele, somos tolos e sábios, inteiramente luz e inteiramente treva. Não há meio-a-meio, é isto tudo e mais tudo aquilo. É inteiro e completo como a natureza é.
O Caminho do Meio tem os extremos.
O caminho medíocre teme os extremos.
Não há como confundi-los: a virtude da temperança inclui temperos, temperaturas, não é insensível nem insípida, é plena de sabores, comporta mil saberes. Provar, conhecer o sabor, é saber. Saborear é o ofício do sábio.

Uma outra distinção merece ser feita:
Caminho do Meio não é o mesmo que meio do caminho.
Ele não nos leva a lugar algum. Na verdade, não é um caminho por onde se passe para chegar a um outro lugar mais distante, é um caminho onde se chega. Estar nele, caminhando, é já ter chegado.
Estamos sempre no meio do caminho quando estamos sempre evitando alguma situação e ansiando por alguma outra. Um lugar lá atrás, um outro mais lá na frente. Sempre alguma coisa no passado e sempre alguma outra no futuro. Assim, estamos sempre no meio...

Observem, agora, esta passagem sutil: ESTAMOS SEMPRE NO MEIO.
Perceber que sempre estamos no meio do caminho, que sempre estivemos e estaremos sempre, é entrar no Caminho do Meio. Um caminho que, se podemos dizer conduza a algum lugar, conduz a ele próprio. Algo assim como caminhar tranqüilo na intimidade da própria casa.
Um caminho o mais reto possível que nos leve o mais rapidamente possível a algum lugar distante e exótico, para fora ou para dentro de nós, e ainda para mais além dos nossos mesquinhos problemas e insatisfações, não é o Caminho do Meio, embora seja exatamente assim que uma quantidade enorme de budófilos (os apegados ao Buda) o compreenda.
Qualquer caminho leva a todos os outros caminhos, o que vale dizer que levam todos a si mesmos, a diferença está no jeito com que se caminha.
O viajante estará perdido se tentar encontrar algo diferente de si mesmo, já que na verdade, é só o que ele encontra constantemente.
Um budista senta-se à sombra de uma árvore e descansa. Descansa de si mesmo, em si mesmo. Ao reiniciar sua caminhada caminhará sentado, sabendo que por mais longe ele chegue, por mais que ande, estará sempre ali, chegado. Tornará sempre a si mesmo, àquele mesmo descanso, à sombra mesma daquela árvore.
Ora, um caminho que nos traz de volta sempre ao mesmo ponto, certamente não é um caminho reto, mas de natureza curva, circular.
Caminhar em círculos, eternamente, sem chegar a parte alguma, parece coisa de louco, ou pelo menos de alguém completamente perdido. E é mesmo. Mas é isso o que fazemos normalmente, sem o saber, agarrando-nos a objetivos provisórios aos quais conferimos valor perene: uma profissão, um cargo público, um casamento, um filho, uma conta no banco, uma religião, um amor, um ideal político... Nos enganamos assim, e sofremos muito quando o que parecia eterno se esvai impiedosamente diante dos nossos olhos incrédulos.
Quando sabemos disso, quando sentimos seu gosto, seu estranho sabor, então já não é mais possível crer em metas ilusórias tendo-as por verdadeiras. Imediatamente já não estamos mais na periferia de nós mesmos, mas chegados a uma espécie de Centro surgido inesperadamente do nada (ou do tudo) que nós somos.
Caminho do Meio é o caminho do Centro.
Nele encontram-se todos os extremos. Nele todos os extremos se apoiam. Dele jorram todas as diferenças. Aqui já não há (ou ainda não há) a terrível luta entre os opostos. Estes, no Centro, de alguma forma, se ajeitam por si mesmos.
Um bicho acuado entre dois monstrengos pode, no máximo, escapar com alguma habilidade, fazer algum tipo de malabarismo, algum equilibrismo, ser hábil, esperto -- o que é bom -- mas não propriamente um sábio, um Desperto (Buddha). Não escapará de si mesmo, e tornará a encontrar os monstrengos, até cansar ( e descansar) no Centro...

O Caminho do Meio é representado no budismo por uma roda de carroça com oito raios e um centro vazio. Os oito raios, que se “opõem” entre si, representam os oito caminhos principais (é infinito o número de oposições possíveis) que ligam a periferia da roda ao seu centro. Por isso o Caminho do Meio é também chamado de O Nobre Caminho Óctuplo (aryastangamarga).
Imaginemos que estamos todos amarrados a uma enorme roda de carroça em movimento; que tentamos faze-la parar quando chegamos no alto, aliviados da dor, e sentindo prazer mesmo que saibamos que outros de nós, lá embaixo, no extremo oposto, estraçalham-se em sofrimentos e desejam com ardor que a roda se mova.
Imaginemos que essa roda não pára nunca e, em breve, voltará a nossa vez de suportarmos o alívio dos outros, e o peso dessa lei inexorável.
Se não tentamos nos enganar, e aos outros, veremos cruamente que é mesmo aí onde estamos metidos e daí não se sai fácil, não se sai falso.
Ser verdadeiro é muito difícil pois embora sendo esta uma grande virtude, o que ela expõe aos olhos da consciência costuma ser muito assustador, mormente aquela dança macabra que é o drama oculto no majestoso girar da Roda da Existência, Roda da Vida, ou Roda do Vir-a-Ser (Bhavachakra).

Encontrar um jeito de ser o que se é mesmo. Eis nossa tarefa! Ser autêntico da melhor forma possível. Estar no centro das próprias contradições, revelá-las, deixar que elas tramem alguma arte.
O que há de comum em cada um dos oito caminhos é exatamente a autenticidade. Na verdade, os oito caminhos são um só: ser próprio, não imitar, ser igual a si mesmo, autêntico. Não se trata de obedecer a um código de regras prefixadas em busca do comportamento perfeito.

A palavra sânscrita samiak e a sua equivalente páli samma significa algo como “completo em si mesmo” e pode ser traduzida nas línguas ocidentais por right, richt, proper, perfect, certo, direto, direito, reto, correto, pleno, perfeito, próprio, completo, inteiro, integral, puro, verdadeiro, autêntico, etc. Com exceção dos adjetivos reto, certo, direto, direito (right, richt) – que sintomaticamente revelam a compulsiva impaciência ocidental para tratar das questões da alma – os demais têm uma conotação mais próxima do sentido original, mais rotunda, mais cheia, plena de suas partes.
Eu prefiro autêntico, porque esta palavra, embora seja também muito mal usada e compreendida, pois parece justificar quaisquer ações, palavras ou pensamentos, é a que reclama mais atenção para o que se faça, fale ou pense. Portanto, exige mais responsabilidade. O que fazemos espontaneamente pode ser bom ou muito ruim para nós mesmos e para os outros. Depende do que se tem na alma.
A atenção dilui os impulsos nefastos e... concentra-se (junta suas partes no centro).
Se somos autênticos, por qualquer dos caminhos chega-se ao centro, e de lá a todos os outros, rapidamente.

Abaixo seguem os oito caminhos, em sânscrito, com a tradução que me parece a mais adequada e algumas outras possibilidades; entre aspas o sentido aproximado de algumas palavras sânscritas; e em itálico a tradução para o inglês.

1º- Compreensão autêntica (samyag drishti) – concepção, visão, view.
2º- Decisão autêntica (samyak samkalpa) – determinação, resolução, resolve.
3º- Fala autêntica (samyag vak) – “palavra”, discurso, linguagem, speech.
4º- Conduta autêntica (samyak karmanta) – “ações”, action.
5º- Sustento autêntico (samyak ajiva) – “enquanto se vive”, meio/modo de vida, trabalho, livelihood.
6º- Empenho autêntico (samyag vyayama) – aplicação, esforço, effort.
7º- Atenção autêntica (samyak smirti) – mindfulness.
8º- Contemplação autêntica (samyak samadhi) – “absorção”, fixação, meditação, concentration.

Compreender, decidir, falar, agir, sustentar-se, empenhar-se, prestar atenção (ouvir), contemplar. Autenticamente. Isto é, sem fingir.
Até mesmo o fingir pode ser autêntico, e quando o é, podemos nos perceber artistas.
Tais caminhos por serem autênticos, verdadeiramente não se opõem. Mas não só esses oito, mostrados desde o início pela tradição budista. Se autêntico, podemos acrescentar: caminhar, tomar chá, lutar, comer, plantar, cozinhar, enfeitar, vestir-se, fazer amor, conversar, cantar, dançar, pintar, sofrer, morrer... e tudo o mais.
Nada podemos fazer para sermos autênticos. Imagine uma girafa esforçando-se para ser girafa. Não há normas para o Caminho do Meio, nem mesmo esta. Com as normas podemos apenas criar um personagem qualquer, que possa até ser muito útil e interessante a nós mesmos ou aos outros, mas não seremos necessariamente autênticos.

Podemos tentar apenas não ser falsos.
Mergulhar em nossa mediocridade, profundamente, e chafurdamos nela até o limite do nojo. Podemos também, depois disso, sentarmo-nos sobre a pedra que há no meio do caminho e ali, então, descansar, talvez verdadeiramente.
O Caminho do Meio é um tesouro invisível. Surge à imaginação enquanto ainda não o encontramos, ou quando já o perdemos.
O medíocre meio do caminho tem a peculiaridade de ser bem visível, principalmente nos outros e aos outros.
Não sabemos tanto o que é a verdade quanto sabemos ser a mentira. Nos enganamos mais facilmente quando lidamos com a verdade, mesmo quando tentamos ser honestos. Nossas certezas costumam mostrar-se precárias com o passar do tempo. No entanto, sabemos quando mentimos.
É, pois, mais fácil (?) falar da mediocridade que da sabedoria, já que é possível vê-la. Por aí devemos começar. O Caminho do Meio virá por si mesmo, e por si mesmo irá embora se não soubermos andar por ele.

Por ser assim tão invisível, é também chamado o Não-Caminho.
Estamos acostumados a parar de caminhar apenas quando já chegamos, mas aqui trata-se justamente do oposto: chegamos quando paramos de caminhar!
Quem busca estará sempre no meio do caminho.
Quem encontra estará sempre no Caminho do Meio.
O próprio Caminho do Meio, portanto, não pode ser buscado jamais, apenas encontrado. Tudo o que se encontra nos remete a ele, mesmo as coisas mais desprezíveis.

O caminho que nos leva não entre os opostos, mas através deles; o caminho que nos leva não para longe dos extremos, mas para dentro deles, este é o Caminho do Meio.
No centro da Roda do Vir-a-Ser, no olho mesmo da confusão, aqui, bem no meio do caminho, alucinados pelo desejo, possuídos pela paixão, agarrados às coisas do mundo, sofridos, radicais, imperfeitos, pecadores ... há uma flor.
Há uma flor agora.
Há um belo e puro lótus, desses que crescem nos pântanos mais imundos.
Sobre ele senta-se em paz o Desperto.






malaquias@rubedo.psc.br



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Alexandre Garcia, critica manifestações contra o Dep. Marco Feliciano



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Alexandre Garcia, critica manifestações contra o Dep. Marco Feliciano



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notalatina: O Foro de São Paulo e a ingerência nas eleições pr...

notalatina: O Foro de São Paulo e a ingerência nas eleições pr...: O Foro de São Paulo e a ingerência nas eleições presidenciais latino-americanas Walter Pomar, Secretário Executivo do Foro de São Paul...

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Caçadores de Mentes - Dublado (Filme Completo)


Em uma ilha remota o FBI desenvolve um programa de treinamento para sua divisão de perfis e resgates psicológicos chamada Caçadores de Mentes.Este programa é usado para rastrear serial killers,entretanto o treinamento apresenta problemas quando 7 jovens agentes descobrem que um deles é na verdade um serial killer que está decidido a matar os demais.

quando vi a capa e o trailer desse filme não botei fé achei que seria um filme clichê,exageradamente violento e sem pé nem cabeça tipo Jogos Mortais.

achei esse filme muito foda,recomendo com certeza.

quem gostou dá joinha,quem achou MUITO FODA além do joinha 
dá favorito.


Todo Mundo Quase Morto:http://www.youtube.com/watch?v=KxP_DB...

Prenda-me Se For Capaz:http://www.youtube.com/watch?v=BN4lS7...

O Dia do Terror:http://www.youtube.com/watch?v=Itxw8c... 

Gamer:http://www.youtube.com/watch?v=rY9rfp...

Dvd Jeito Moleque 5 Elementos:http://www.youtube.com/watch?v=yK5Piv...

Elenco

Eion Bailey - Bobby Whitman
Patricia Velasquez - Nicole Willis
Clifton Collins Jr - Vince Sherman
Will Kemp - Rafe Perry
Val Kilmer - Jake Harris
Jonny Lee Miller - Lucas Harper
Kathryn Morris - Sara Moore
Christian Slater - J.D. Reston

Dados da produção

Inicialmente Caçadores de Mentes seria lançado nos Estados Unidos pela 20th Century Fox, tendo seus direitos de distribuição posteriormente adquiridos pela Dimension Films.

Caçadores de Mentes inicialmente seria lançado nos cinemas norte-americanos em 2003, mas devido à boa recepção que teve em exibições teste teve seu lançamento adiado para o verão norte-americano de 2004.Entretanto o rompimento dos irmãos Weinstein com a Disney fez com que vários filmes da Miramax e da Dimension Films tivessem seu lançamento adiado, o que fez com que o filme apenas chegasse aos cinemas em maio de 2005.

Inicialmente seria Peter Howitt o diretor de Caçadores de Mentes.
Renny Harlin estava comprometido a dirigir O Som do Trovão, mas desistiu do filme para poder dirigir Caçadores de Mentes.

O diretor Renny Harlin conversou com vários agentes do FBI antes das filmagens, como forma de preparação.

Foram oferecidos personagens a Ryan Phillippe, Reese Whiterspoon, Christopher Walken, Martin Sheen e Gary Busey.

Inicialmente seria Gerard Butler o intérprete de Lucas Harper, mas ele desistiu do personagem para poder atuar em Linha do Tempo.

Como parte de sua preparação, LL Cool J perdeu 18 quilos e passou algum tempo com detetives do setor de homicídios da Filadélfia.

O personagem de Christian Slater chama-se J.D., o mesmo nome do personagem interpretado pelo ator em Atração Mortal.

Os dominós usados nos close-ups vistos no filme eram na verdade dez vezes maiores do que o tamanho normal das peças.

As filmagens foram inteiramente realizadas na Holanda.

Para maximizar o desconto em impostos e manter o orçamento o mais baixo possível, a pós-produção de Caçadores de Mentes foi realizada na Inglaterra.

David Julyan era o compositor original de Caçadores de Mentes, sendo substituído poucos dias antes da trilha sonora do filme ser gravada.

Paul Martin Smith foi contratado como editor de Caçadores de Mentes devido ao estúdio ter se impressionado com seu trabalho em Star Wars: Episódio 1 - A Ameaça-Fantasma (1999).

Vários finais foram rodados para Caçadores de Mentes, com o final exibido no filme sendo decidido após várias exibições-teste.

Lançado diretamente em vídeo no Brasil.

O orçamento de Caçadores de Mentes foi de 27 milhões de dólares.

Donte deste vídeo. http://www.youtube.com/user/luisidalgo2011?feature=watch


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sábado, 6 de abril de 2013

A PSICOLOGIA DA GESTALT: APLICABILIDADE ‘A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS




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Educação na América 2 (Estados Unidos)



Educação na América 2
Autor: Juacy da Silva 
Existem duas correntes de interpretação de qualquer realidade, uma pessimista e outra otimista. Geralmente os críticos do sistema tendem a apontar as falhas do mesmo e os que estão no poder, ao interpretar a realidade, tentam demonstrar que tudo está as mil maravilhas. Isto acontece em todos os países. A realidade, independente da sua interpretação, é algo real concreto. O que muda é o enfoque tendo como referência um quadro ideal, ou seja, como gostaríamos que as coisas estivessem. Os que interpretam a realidade como ótima, mesmo que o povo perceba que nem tudo esta como deveria ser, procuram analisá-la pelo prisma temporal, ou seja, como a mesma está na atualidade em comparação com o que existia há duas, três ou mais décadas. Já os que ostentam uma visão mais crítica tendem a comparar a realidade de um país em um contexto relacional, comparando-a com outros países ou regiões.

É neste contexto que podemos identificar as interpretações sobre a realidade econômica, social, política, militar e geoestratégica dos EUA. Existem pensadores e analistas, tanto nos EUA quanto em vários outros países, que enfatizam a "decadência" do império, a perda de hegemonia em vários setores e, em conseqüência, o surgimento de novas potências, a mudança do eixo da política mundial, pendendo para a região asiática e assim por diante.
Como soe acontecer, a educação é o eixo fundamental e estratégico para o desenvolvimento de qualquer país e assim também aconteceu e continua acontecendo nos EUA, por mais que os problemas e desafios possam dificultar a manutenção do status de superpotência que o país tem ostentado e continua ostentando na atualidade.
Para entender melhor a realidade educacional dos EUA, além da organização, do número de alunos matriculados, de professores, a articulação entre educação pública e particular e a gestão educacional, é fundamental também que saibamos quanto o país investe nesta área e de onde vêm tais recursos.

No ano escolar de 1999 o orçamento público (União, Estados e condados) destinado a educação pública foi de 374,8 bilhões de dólares, chegando a 608,8 bilhões em 2009. Além do aumento nominal e também real quando os valores são deflacionados, o gasto/investimento por aluno aumentou consideravelmente de 6.891 dólares por aluno/ano em 1999 para 10.506 dólares em 2009.

Como o sistema educacional é descentralizado e bastante autônomo tanto os orçamentos quanto os gastos/investimentos por aluno variam muito. Estados como NY, Massachusetts, D.C., Maryland e Virginia, por exemplo, em 2008 investiam entre 13,7 mil dólares por aluno/ano e 18,1 mil dólares, enquanto Nevada e Mississipi investiam praticamente a metade por aluno/ano entre 7,8 mil e 9,1 mil dólares. A participação do Governo Federal no orçamento do sistema publico de ensino tem sido em torno de 10,2%, dos Estados 45,6% e dos condados e cidades de 44,2%, confirmando o que escrevemos em artigo anterior. Aqui cabe um parêntese, a distribuição do bolo tributário nacional, aos governos locais cabem praticamente 40% de tudo o que é arrecadado, aos estados em torno de 30% e a União 30%. Tanto estados quanto governos locais têm uma grande autonomia em criar ou extinguir impostos e taxas e estabelecer seus percentuais, com uma ênfase muito grande em ter sempre uma carga tributaria reduzida. Os EUA têm uma das menores cargas tributárias entre os países desenvolvidos, algo em torno de 22% do PIB.

Tanto alunos quanto professores têm jornada em tempo integral, com raras excussões no ensino superior, onde alguns acumulam as funções de docência com atividade profissional na mesma área. A questão salarial também varia de estado para estado e também entre condados em um mesmo estado. Os contratos são anuais ou por um período mais longo, mas isto não impede que professores permaneçam vários anos ou décadas em um mesmo estabelecimento. Tanto a rede pública quanto a particular oferece alguns benefícios complementares como planos de saúde, aposentadorias especiais, estímulos a realização de cursos mais avançados, já que a grande maioria de professores, mesmo no nível fundamental e médio, possui mestrado ou doutorado.

O salário de um professor com alta qualificação e com 20 anos de atividade, por exemplo, no ensino fundamental e médio varia de 47 mil a 120 mil dólares anuais e no ensino superior entre 55 mil e 130 mil dólares por ano. No caso de docentes que dirigem projetos de pesquisa às vezes esses valores podem ser até 80 % maiores, o que explica em parte a alta produtividade científica em várias universidades americanas. A máxima neste meio de alta competitividade é "publish or perish" (produza ou morra).

Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, Ex-Diretor da ADUFMAT, Ex- Ouvidor Geral de Cuiaba, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias
Blog www.justicaesolidariedade.zip.net
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Líder desarmamentista da favela da rocinha premiado pela Viva Rio era traficante de armas




William de Oliveira, lider comunitario na favela da rocinha, considerado lider na luta pelo desarmamento premiado pela ONG Viva Rio, era traficante de armas.
Fotografia exibida no vídeo, mostra esse individuo sendo premiado pelo dr. Denis Misney da outra ONG desarmamentista Instituto Sou da Paz.

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Escola e Formação para a cidadania: qual o papel da Educação Física?




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Educação é obrigatória a partir dos 4 anos


Educação é obrigatória a partir dos 4 anos

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC

Entrou em vigor ontem a Lei Federal 12.796, que obriga pais ou responsáveis a matricular as crianças na escola a partir dos 4 anos. Estados e municípios têm o dever de garantir o atendimento da demanda, com prazo para se adequar até 2016.

Hoje, 1.422 crianças de 4 e 5 anos estão fora da escola por falta de vagas na região. Diadema é o município com o maior deficit para esta faixa etária, com fila de espera de 929 pequenos. Em São Bernardo, são 333, e em Ribeirão Pires,160. Santo André, São Caetano e Mauá afirmaram que atendem 100% dos interessados. Rio Grande da Serra não respondeu.
Conforme explica a presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, há expectativa de que aumente a demanda por vagas. Isso devido à obrigatoriedade de os pais matricularem os filhos e ao aumento da população. "É preciso pensar não só na criação de escolas como também de cargos na Educação. Será necessário contratar mais professores", destaca.
De acordo com Cleuza, o ingresso da criança mais cedo na escola traz benefícios a médio e longo prazos. "Vários estudos mostram que há melhor desempenho na vida acadêmica e no mercado de trabalho", justifica.
Na avaliação da coordenadora do curso de Pedagogia da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Maria Estela Graciani, a população não teve tempo de fazer discussão aprofundada sobre o tema antes da aprovação da lei. No entanto, a mudança atende à nova tendência de sociedade, na qual crianças estão adaptadas às novas tecnologias cada vez mais cedo.
Segundo Maria Estela, a sociedade moderna proporcionou uma "adultização precoce nas crianças" e a educação formal precisa acompanhar. "O atendimento especializado mais cedo ajuda desde o desenvolvimento motor, de criatividade, até da maturidade da criança", observa.
Nesta fase do aprendizado, o ensino deve atender exigências físicas das crianças e, por isso, ser feito de maneira lúdica, na visão da especialista. "Todas as atividades nesta etapa são encaradas como brincadeiras", esclarece Maria Estela.
Outras mudanças
A Lei 12.796 incorpora à LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) emenda constitucional aprovada em 2009, que tornou obrigatório ao governo oferecer Educação Básica e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada inclusive para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.
A nova lei ainda estabelece que a Educação Infantil - assim como os ensinos Fundamental e Médio - tenha carga horária mínima anual de 800 horas, distribuídas por no mínimo 200 dias letivos. O atendimento à criança deve ser, no mínimo, de quatro horas por dia para o turno parcial e de sete para o integral. Além disso, a pré-escola também deve fazer controle de presença dos alunos, exigindo a frequência mínima de 60% do total de horas.
A lei em vigor desde ontem também torna mais específico o atendimento que os governos devem prestar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Eles devem, preferencialmente, ser matriculados na rede regular de ensino, "independentemente do apoio às instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial."
O texto ainda explicita que o conteúdo exposto em sala de aula deve considerar e valorizar diversidade étnico-racial.
Pais podem ser responsabilizados por não buscarem vagas
O presidente da Comissão da Infância e Juventude da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo, Ariel de Castro Alves, explica que a nova legislação aponta o dever dos pais de matricular filhos a partir dos 4 anos na escola. "Caso não o façam, podem ser responsabilizados."
Se não houver vagas na rede, os municípios devem justificar por escrito o motivo e qual o prazo para que isso ocorra, incluindo a criança em lista de espera. "Como a Emenda Constitucional trata da implementação progressiva, é possível que as prefeituras sejam questionadas pelos conselhos tutelares e pelas promotorias da Infância e Juventude e terão que provar que estão ampliando as vagas e a rede de ensino", diz Alves.
Na visão do advogado, outras mudanças na legislação, como a garantia de acesso a pessoas com deficiência e o respeito à diversidade étnico-racial, também serão desafios para o poder público. (Camila Galvez)



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Putin, Olavo e o “Império do Fim” por Daniel Lopez

Ouça este conteúdo Temos a tendência de acreditar que a guerra é sempre algo a ser evitado. Mas, e se existisse um grupo que conquistasse fo...