sábado, 18 de setembro de 2021

Advento de Vamana Deva hoje dia 17/09/2021

Advento de Vamana Deva

Advento do Senhor Vamana Deva.

Vamana Deva é o mestre de todas as artes, incluindo a arte da resolução de conflitos. Ele é o amoroso pai de todos, e toda ação Sua beneficia todos os Seus filhos. A história do Senhor Vamana demonstra como o Senhor satisfez dois grupos rivais e encerrou a guerra cósmica entre os demônios e os semideuses.
Também aprendemos com este passatempo que a mais grandiosa compaixão do Senhor é privar Seu devoto de todas as defesas materiais a fim de que o devoto possa se render a Ele por completo. O Senhor faz isso de modo a ampliar a confiança amorosa que os devotos dedicam Ele, livrando-os da dependência de seus poderes mundanos oscilantes.

O Virtuoso Rei Prahlada

A história do Senhor Vamana é uma sequência à história do Senhor Nrisimha. Resumidamente, o Senhor Nrisimha adveio para proteger Seu devoto Prahlada Maharaja, que era aterrorizado por seu pai ateísta, Hiranyakashipu. Depois que Sri Nrisimhadeva matara (e liberara) o tirano ateísta, Prahlada Maharaja foi coroado imperador dos demônios, os inimigos dos semideuses. Os semideuses (líderes administrativos do universo), então, reaveram sua soberania do paraíso, que estivera sob o controle de Hiranyakashipu.

Depois que Nrisimhadeva restabeleceu a ordem, como o conflito novamente se deu entre os demônios e os semideuses? Agora que o rei santo e benquerente da paz Prahlada reinava sobre os demônios, como poderia haver guerras?

Prahlada Maharaja era tão defensor da paz e santo que demonstrou sua ausência de egoísmo importando-se mais com seu povo do que com sua própria família. Quando o filho de Prahlada, Virochana, quis casar-se com uma moça desejada por um jovem brahmana, Prahlada instruiu a Virochana que renunciasse seu desejo pessoal. Prahlada, desta maneira, mostrou que o rei e sua família devem sempre servir o povo e jamais usar de força ou poder contra eles a fim de realizar seus desejos pessoais. (Mahabharata, Udyoga Parva 35)

Com semelhante rei adorável no trono, os demônios estavam pacíficos. Porém, depois que Prahlada renunciou ao trono e transmitiu-o a seu filho, Virochana, o ódio entre os semideuses e os demônios renasceu.

Eis a história por trás da renúncia de Prahlada ao trono.

Certa vez, enquanto Prahlada ainda reinava, um sábio que se banhava em um rio sagrado foi mordido por uma serpente, que enroscou suas pernas e puxou-o para baixo d’água. Por causa de sua sincera fé na proteção do Senhor Vishnu, o sábio em nada se afetou. A cobra puxou-o para baixo e levou-o até o reino subterrâneo dos demônios, onde Prahlada honrou-o. Durante esse encontro, o sábio inspirou Prahlada a visitar lugares de peregrinação.

Em uma visita a uma floresta sagrada, Prahlada viu um pinheiro atravessado por flechas. Sua seiva parecia lágrimas de angústia. Próximo à árvore, estavam sentados dois ascetas. Irritado com a visão das flechas deles na árvore inocente, Prahlada os atacou. Os ascetas, todavia, facilmente o derrotaram na batalha. Ele, então, orou ao Senhor Vishnu, que lhe disse que somente poderia vencer os dois ascetas mediante devoção. Os ascetas eram, na verdade, Nara-Narayana Rishis, encarnações de Vishnu. De maneira a pedir-lhes perdão por ter lutado contra eles, Prahlada renunciou seu reino e retirou-se a fim de realizar penitências. Depois desse incidente, Prahlada serviu apenas de conselheiro a seus sucessores. (Vamana Purana 7-8)

Virochana, Filho de Prahlada

Virochana tornou-se o próximo imperador dos demônios. Presenteado com uma deslumbrante coroa dourada, uma bênção do deus Sol, tornou-se arrogante e ofensivo aos semideuses. Virochana recebeu a bendição de que não poderia ser morto enquanto usasse a coroa. (Ganesha Purana 2.29) Cientes disso, os semideuses conspiraram contra ele. Disfarçados de sábios, foram até ele e perguntaram se poderia fazer-lhes caridade, diante do que o generoso Virochana jurou que lhes daria o que quer que desejassem. Eles, então, pediram por sua coroa. Embora Virochana naquele momento reconhecesse a trama dos semideuses, ele, fiel à sua palavra, entregou-lhes sua coroa bem como sua vida. (Srimad-Bhagavatam 8.19.14)

Bali Conquista o Céu

Enraivecido pela intriga dos semideuses, Bali, filho de Virochana, tornou-se inimigo jurado dos semideuses, os cruéis assassinos de seu pai. Certa vez, quando Indra, o rei dos semideuses, arrogantemente rejeitou uma guirlanda oferecida por um sábio, esse sábio amaldiçoou os deuses. Como resultado dessa imprecação, Bali facilmente venceu os semideuses em batalha e ganhou o reino do paraíso.

Os semideuses estavam em desvantagem: Os demônios estavam destemidos em relação à morte visto que seu preceptor Shukracharya podia revivê-los com um mantra secreto. Expulsos de suas moradas, os semideuses se renderam ao Senhor Vishnu, que lhes disse para baterem o oceano de leite em uma trégua com os demônios. A batedura permitiria a recuperação das joias que haviam caído no oceano das mãos de Bali enquanto ele transportava o tesouro dos deuses para sua capital. A batedura também extrairia a ambrosia, que podia imortalizar os semideuses. (Vishnu Purana 1.9, Matsya Purana 250-251)

A batedura primeiro produziu veneno, então coisas valiosas como gemas, joias, animais, deuses e deusas. Finalmente, o pote de ambrosia veio à superficíe. O Senhor Vishnu, disfarçado de um mulher que era a corporificação da beleza sensual, enganou os demônios e entregou toda a ambrosia aos semideuses. Com o poder do néctar da imortalidade, os semideuses repeliram o ataque dos demônios, que queriam tomar o néctar para si. Os demônios, então, recorreram a artifícios ilusórios, desorientando os semideuses.

Os demônios se refugiaram no Senhor Vishnu, que, sem esforço, frustrou o ilusionismo dos demônios. Com o Senhor do seu lado, os semideuses mataram Bali. Aproveitando o desmotivado exército demoníaco, os semideuses começaram massacrá-los sem clemência. Então, Narada Muni, o sábio entre os semideuses, apareceu e proibiu-os de continuarem o morticínio, aconselhando que retornassem a seu reino celeste. Disse aos demônios, então, que levassem seu imperador morto, Bali, até Shukracharya, que reviveu todos os demônios mortos cujos membros estavam intactos.

Quando Bali foi revivido, ele, sob a orientação de Shukracharya, realizou um sacrifício para a conquista do universo. Obteve, assim, um arco invencível, uma armadura impenetrável, duas aljavas de flechas inesgotáveis e uma quadriga de ouro puxada por cavalos de primeira qualidade e com uma bandeira esplêndida. Seu avô deu-lhe uma guirlanda sempre fresca, e seu professor mimoseou-o com um búzio da vitória. Depois de receber esses presentes e bênçãos, Bali disparou para capital de Indra e atacou com todas as suas forças. Indra e os demais semideuses esconderam-se. Abençoado por seu professor, Bali dominou novamente o céu. Seguindo o bom conselho de seu avô Prahlada, Bali reinou virtuosamente. (Vamana Purana 74-75)

Vamanadeva Aparece

Aditi, a mãe dos semideuses, lamentou-se ao ver seus filhos vagueando sem casa. Seu esposo, Kashyapa, aconselhou que ela se mantivesse calma tanto na perda quanto no ganho, mas não pôde acalmá-la. Ele, então, recomendou que ela realizasse um voto de doze dias para satisfazer o Senhor Krishna. Contento com o voto dela, o Senhor prometeu aparecer como seu filho. Em transe, Kashyapa viu o Senhor. Ele, então, emprenhou sua esposa, e o Senhor entrou em seu ventre.

O Senhor Vamana, cuja tez é azul, apareceu neste mundo adornado por seda dourada e portando em Suas quatro mãos um búzio, um disco, uma maça e um lótus. Seu aparecimento trouxe júbilo para toda a criação.

Ele, então, transformou-se em um jovem anão brahmana, e, na cerimônia de comemoração de Seu nascimento, todos os semideuses e sábios deram-Lhe presentes. O deus Sol entoou mantras védicos, o sacerdote dos semideuses decorou Seu peito com o cordão sagrado, e Kashyapa Muni colocou um cinto de palha ao redor de Sua cintura. A Mãe Terra e a mãe dEle providenciaram-lhe uma pele de veado e uma tanga. A Lua, o rei das florestas, ofereceu-Lhe o bordão de um celibatário, e os céus deram-Lhe uma sombrinha. Brahma o mimoseou com um pote d’água, os sete sábios presentearam-nO com grama sagrada, e a deusa da aprendizagem deu-Lhe contas de oração. O tesoureiro dos semideuses levou para Ele uma cuia de pedinte, ao passo que Bhagavati, a esposa do Senhor Shiva, deu-Lhe Suas primeiras esmolas.

Vamanadeva Begs from Bali

Sri Vamanadeva realizou sacrifícios para estabelecer o exemplo apropriado para todos os sábios. Quando ouviu que o rei Bali estava ocupado em sacrifício sob a guia de Shukracharya, Ele foi ver Bali, afundando a superfície do globo a cada passo.

Quando Vamanadeva aproximou-se de Bali, o fogo sacrificial estava quase extinto, e os demônios não puderam receber sua cota do sacrifício, senão que os hinos emanando da boca dos sábios conferiram poder aos semideuses ao invés de conferir aos demônios. (Nrisimha Purana 45.10-13) Todos os sábios no sacrifício ficaram atônitos vendo a refulgência que emanava de Vamanadeva. Eles pensaram que o Sol ou a encarnação do Fogo estava se aproximando, em virtude do que todos eles ofereceram respeitos a Ele. Bali Maharaja, cordialmente convidando-O a Se sentar, lavou Seus pés de lótus. O grande rei, então, colocou sobre sua cabeça a água sagrada santificada pelo toque dos pés de lótus do Senhor, assim como o Senhor Shiva carrega em seu cabelo o sagrado Ganges. Maharaja Bali, em seguida, perguntou ao Senhor como poderia servi-lO.

Depois de louvar a dinastia Bali como gloriosa e infalível em seus votos de caridade e cavalheirismo, Vamana solicitou-lhe três passos de terra. Bali Maharaja motejou Sua decisão chamando-a de imatura e insistiu que Ele pedisse por algo mais substancial. Vamanadeva respondeu que a ganância jamais pode ser saciada; ela fará o possuidor correr em busca de mais.

Com efeito, Vamanadeva estava instruindo Bali Maharaja que seu reinado sobre o céu estava apenas satisfazendo sua ganância e seu egoísmo e atormentando os semideuses. Como o guerreiro supremo, o Senhor poderia facilmente ter reavido os céus para os semideuses aniquilando o orgulho de Bali em uma batalha, mas Ele veio como um garoto sábio para instruir Seu devoto Bali Maharaja sobre a importância de se abandonar o apego excessivo a posses. O Senhor instruiu Bali dizendo-lhe que é importante que o indivíduo fique satisfeito com o que quer que venha naturalmente até ele peda vontade da Providência em vez de ansiar pela propriedade alheia.

Bali, então, concordou em dar ao Senhor os três passos de terra. Quando ele estava prestes a confirmar sua promessa com água, Shukracharya, reconhecendo que Vamana era não outro senão o Senhor Vishnu, tentou dissuadir Bali de cumprir sua promessa. Bali mantinha Shukracharya, que não queria que seu rico benfeitor perdesse toda a sua riqueza. Ele informou a Bali que o garoto diante dele era, na verdade, o Supremo Senhor Vishnu, que havia vindo até ele de forma a recobrar toda a opulência dos semideuses.

Shukracharya também alertou Bali de que ele sofreria no inferno por ser incapaz de cumprir a promessa feita ao Senhor Vamana, uma vez que o Senhor Vamana cobriria todo o reino de Bali (o universo) com dois passos, não deixando nenhum espaço para um terceiro passo. Bali ainda não proferira a sagrada sílaba Om, em razão do que, disse Shukracharya, sua promessa poderia ser revogada.

Bali, contudo, não estava disposto a voltar em sua palavra. Ele sabia que a Mãe Terra não consegue suportar o peso de uma pessoa desonesta. Agora que o próprio Senhor havia chegado à sua porta, como ele poderia ir contra Sua vontade suprema? Embora não seguir as ordens do guru normalmente seja considerado um ato ofensivo, Bali rejeitou o conselho de seu guru porque o mesmo contradizia o princípio fundamental de satisfazer o Senhor.

No que dizia respeito ao inferno, Bali Maharaja disse: “Não temo o inferno, pobreza, um oceano de aflição, queda de minha posição ou mesmo a morte tanto quanto temo enganar um brahmana”.

Ele citou o exemplo das grandes almas que sacrificaram suas vidas para outros. Por fim, a morte leva tudo embora; por que, então, permanecer apegado às posses pessoais?

Bali continuou: “Muitos reis obtiveram fama imortal por meio de seus atos heroicos, mas eles raramente obtêm a fortuna de servir a um santo. E minha fortuna extrapola todo limite, pois o esposo da deusa da fortuna veio como um santo para mendigar de mim. Meu querido professor, tu adoras Vishnu, e agora que Ele apareceu diante de mim, tenho que cumprir Sua instrução, muito embora Ele possa ter vindo como um inimigo. Uma vez que Ele agora é um garoto brahmana, não lutarei com Ele, embora Ele talvez me prenda ou me mate”. (Srimad-Bhagavatam 8.20.12)

Ouvindo isso, Shukracharya condenou seu discípulo desobediante a perder toda a sua riqueza.

Mesmo depois de amaldiçoado, Bali ofereceu água a Vamanadeva, solidificando, deste modo, sua promessa. Shukracharya tentou intervir, mas não conseguiu fazê-lo. [Veja a seção extra ao fim “A Reforma de Shukracharya”].

Embora como um anão, o Senhor Se expandiu em Sua forma cósmica, revelando todo o universo. Com Seu primeiro passo, Ele cobriu todos os planetas inferiores até a Terra, e, com Seu segundo passo, alcançou o topo do universo. A unha de Seu pé perfurou as coberturas universais, e a água do Oceano Causal (na qual incontáveis universos boiam) entrou naquele universo, lavou os pés de lótus do Senhor e desceu para o nosso universo como o Ganges celestial. (Srimad-Bhagavatam 5.17.1)

O devoto e poeta do século XII, Jayadeva Gosvami, escreve:

“Ó Keshava, ó Senhor do universo, ó Senhor Hari, que assumiu a forma de um brahmana anão, todas as glórias a Vós. Ó maravilhoso anão, por Vossos passos maciços, enganastes o rei Bali, e, pela água do Ganges que emanou das unhas de Vossos pés de lótus, salvastes todos os seres vivos dentro deste mundo”.

A água do Ganges também contém a água do pote do Senhor Brahma, com a qual ele banhou e adorou o pé de lótus do Senhor quando este alcançou o sistema planetário superior. (Srimad-Bhagavatam 8.21.4)

Vamanadeva, então, revelou-Se novamente como um jovem sábio, e todos os semideuses adoraram-nO. Os demônios, por outro lado, precipitaram-se sobre o Senhor, mas foram mortos por Seus poderosos associados. Bali Maharaja ordenou a seus soldados que desistissem do conflito, proclamando que o supremo fator tempo não estava agora a favor deles. Ninguém pode se opor à vontade do Senhor Supremo, ele declarou.

Os soldados demônios retornaram para suas residências nos planetas inferiores. Garuda, a ave transportadora do Senhor Vishnu, então, prendeu Bali Maharaja com cordas de cobra, e o Senhor censurou Bali por não ter sido capaz de oferecer três passos de terra. Devido a isso, teria de viver no inferno.

O Senhor privou Bali de tudo o que ele tinha, exceto seu livre-arbítrio. Deus pode tirar tudo de nós, mas jamais nos tira o nosso livre-arbítrio – sempre temos a escolha de nos rendermos a Ele ou não.

Para cumprir sua promessa, Bali, então, rendeu-se aos pés de lótus do Senhor e pediu a Ele que desse o terceiro passo sobre sua cabeça. Por causa desse ato, Bali é famoso como o exemplo de completa rendição ao Senhor.

Com efeito, Bali considerou que o que o Senhor fez por ele foi mais misericordioso do que feito a Indra. Indra certamente reaveria sua opulência e seu reino, mas, por ter sido liberto do falso prestígio, Bali obtivera o serviço devocional puro ao Senhor.

Quando Vamanadeva aparecera no ventre de Aditi, Prahlada alertara Bali de que o Senhor logo derrotaria os demônios e devolveria o paraíso aos semideuses.

Bali desafiara com arrogância: “Quem é esse Vishnu comparado a meus guerreiros demônios?”.

Ao ouvir a declaração vaidosa de seu neto, Prahlada o repreendeu: “Como podes falar assim? Amaldiçoo-te a perder tua prestigiosa posição, pois insultaste meu adorável Senhor Vishnu”.

Dando-se conta de seu erro, Bali, à ocasião, pediu perdão por seu orgulho. Embora a maldição não houvesse sido recolhida, Prahlada garantiu a Bali que o próprio Senhor o protegeria. (Vamana Purana 77) Agora, Prahlada Maharaja honrava a ação corretiva do Senhor Vamana como benéfica a Bali, que se tornara arrogante devido à opulência material.

No Srimad-Bhagavatam (10.88.8-9), o próprio Senhor proclama: “Se Eu favoreço alguém especialmente, Eu pouco a pouco privo-o de sua riqueza. Então, os parentes e amigos de tal homem empobrecido abandonam-no. Deste modo, ele vive uma aflição após a outra. Quando ele se frustra em suas tentativas de conseguir dinheiro e, em vez disso, faz amizade com Meus devotos, confiro-lhe Minha misericórdia especial”.

Mesmo a esposa de Bali Maharaja aceitou sua prisão como apropriada, dado que ele reivindicara posse da propriedade do Senhor, o proprietário original e controlador de tudo.

O Reinado Subterrâneo de Bali

O Senhor Brahma, então, solicitou a Vamanadeva que libertasse Bali, que havia entregado todas as suas posses ao Senhor, incluindo seu próprio corpo. Vamanadeva aceitou o pedido de Brahma, estando muito contente com a integridade de Bali, que permanecera intacta apesar de seu guru tê-lo amaldiçoado, ele ter perdido seu reino, ter sido derrotado e detido, e seus amigos e parentes terem-no rejeitado. O Senhor Vamana abençoou Maharaja Bali a obter o posto de Indra em algum milênio futuro. Até então, ele reinaria um planeta subterrâneo projetado pelo arquiteto dos deuses para ser cem vezes mais resplandescente do que o paraíso. (Srimad-Bhagavatam 8.22.32-33) O próprio Senhor Vamana guardava o reino de Bali.

Bali e Prahlada louvaram o Senhor com profunda afeição. Notaram que mesmo os semideuses jamais haviam obtido a misericórdia imotivada que Ele mostrara aos demônios. O Senhor, então, devolveu todas as terras que Ele havia pegado de Bali Maharaja a seus donos originais: Indra e os semideuses.

Indra e Bali: Ambos os Devotos Satisfeitos

O Senhor frequentemente age de maneiras imprevisivelmente maravilhosas, mas Seus passatempos sempre estabelecem o verdadeiro dharma para o benefício de todos. Vamanadeva tomar de Bali o paraíso e devolvê-lo aos semideuses foi algo que beneficiou tanto Indra quanto Bali. Ambos obtiveram seus reinos, mas também algo de valor muito maior: profunda confiança e profundo amor por Vamanadeva, que realizou o papel duplo de irmão mais novo de Indra e de protetor de Bali.

Este passatempo também glorifica a determinação resoluta de Bali Maharaja de cumprir seu voto sob qualquer circunstância. Bali Maharaja é uma das doze grandes personalidades (mahajanas) reverenciadas por sua devoção exclusiva ao Senhor mesmo nas situações mais aterradoras.

(extra)

A Reforma de Shukracharya

Quando, para selar seu juramento, Bali estava prestes a derramar água nas mãos de Vamanadeva, Shukracharya reduziu o tamanho de seu corpo, entrou no recipiente e bloqueou o furo pelo qual a água correria. Como se fosse remover a pequena obstrução, Vamanadeva inseriu uma palha dentro do buraco e acertou o olho de Shukracharya, que experimentou grande dor e recuou. A água, então, fluiu livremente para as mãos de lótus do Senhor Vamana. (Nrisimha Purana 45.34-37).

A fim de mostrar arrependimento por seu erro, Shukracharya realizou austeridades ficando de pé às margens do rio Ganges com seus braços erguidos e com sua mente concentrada no Senhor Vamana. Ele recitou orações em honra ao Senhor, que apareceu na cena e perguntou por que orações Lhe haviam sido dirigidas. Shukracharya implorou o perdão do Senhor por haver tentando dissuadir Bali de seguir a vontade do Senhor. O Senhor, então, tocou Seu búzio no olho ferido de Shukracharya, curando-o instantaneamente. Shukracharya, deste modo, foi perdoado por sua ofensa. (Nrisimha Purana 55.1-20)

Depois que Bali foi nomeado governante do planeta Sutala, Vamanadeva perguntou a Shukracharya por que ele havia amaldiçoado Bali, seu discípulo. Qual fora a falha de Bali? Shukracharya admitiu que, porque Bali havia satisfeito o Yajña Purusha, o principal e original beneficiário de todos os sacrifícios, o caráter de Bali era de fato imaculado. Qualquer um que sinceramente deseje agradar o Senhor Supremo deve ser considerado puro, mesmo se houver falhas em sua adoração. Simplesmente por cantar o nome do Senhor, tudo se torna auspicioso. Depois de assim dizer, Shukracharya aceitou completamente o desejo do Senhor de devolver os céus aos semideuses. (Srimad-Bhagavatam 8.23.14-18)
O Senhor Vamana Soluciona o Conflito Universal por Aja Govinda Dasa Fonte: https://voltaaosupremo.com

 


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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Hoje é dia do sagrado jejum de Sri Ekadasi. Dia 16/09/2021. Vamana Ekadasi. Lendo a História. Podcast conservador sobre: política , filosofia, arte, cultura, educação, pedagogia , religião





História do Parsva Ekadasi

Maharaja Yudhisthira perguntou ao Senhor Sri Krishna:
– Qual é o nome do Ekadasi que ocorre durante o quarto-crescente do mês Bhadrapada (agosto/setembro)? Qual é a Deidade adorável deste Ekadasi, e qual é o mérito que a pessoa alcança por observá-lo? Bondosamente revele tudo isto para mim.

O Senhor Supremo Sri Krishna respondeu:
– Ó Yudhisthira, este Ekadasi chama-se Vamana Ekadasi, e ele concede tanto um grande mérito quanto a liberação última do enredamento material. Portanto, devido ao fato de que ele remove todas as reações pecaminosas da pessoa, ele também é chamado de Jayanti Ekadasi. Simplesmente ouvir as suas glórias livra a pessoa de todos os seus maus feitos passados. Tão auspicioso é este jejum que observá-lo concede o mesmo mérito daquele obtido pela execução de um Asvamedha-yagna. Não há melhor Ekadasi do que este, porque ele concede a liberação tão facilmente. Assim, se alguém deseja realmente libertar-se do mundo material, ele deve jejuar no Vamana Ekadasi.
“Enquanto observa este jejum santo, o vaishnava deve amavelmente adorar o Senhor Supremo em Sua forma de Vamanadeva, a encarnação como um anão, cujos olhos são como pétalas de lótus. Por assim fazê-lo, ele adora todas as outras Deidades também, incluindo Brahma, Vishnu e Shiva, e na hora da morte ele indubitavelmente vai à morada do Senhor Hari. Em todos os três mundos não há jejum mais importante a ser observado. A razão de esse Ekadasi ser tão auspicioso é que ele comemora o dia em que o Senhor Vishnu, dormindo, muda para Seu outro lado. Assim, este dia de jejum também é conhecido como Parivartini Ekadasi.”

Maharaja Yudhisthira então perguntou ao Senhor:
– Ó Janardana, por favor, esclareça a minha dúvida. Como é que o Senhor Supremo dorme e então vira sobre o Seu lado? Ó Senhor, quando Você está dormindo, o que acontece com todas as outras entidades vivas? Por favor, também me diga como Você prendeu o rei dos demônios, Bali Maharaja, e também como alguém pode satisfazer os brahmanas. Como a pessoa deve observar o voto de Caturmasya? Bondosamente seja misericordioso comigo e responda estas perguntas.

A Suprema Personalidade de Deus respondeu:
– “Ó Yudhisthira, leão entre os homens, Eu narrarei com alegria para você um evento histórico que, simplesmente por ser ouvido, erradica todas as reações pecaminosas da pessoa”.

“Em tetra-yuga viveu um rei chamado Bali. Embora nascido em dinastia demoníaca, ele era muito devotado a Mim. Ele cantava muitos hinos védicos para Mim e executou um ritual Homa simplesmente para Minha satisfação. Ele respeitava os brahmanas duas vezes nascidos e ocupava-os na execução de sacrifícios diários. Entretanto, esta grande alma teve uma desavença com Indra e eventualmente venceu-o na batalha. Bali tomou todo o seu reino celestial, que Eu dei pessoalmente a Indra. Portanto, Indra e todos os outros semideuses, junto com muitos grandes sábios, aproximaram-se de Mim e queixaram-se de Bali Maharaja. Curvando suas cabeças ao chão e oferecendo orações sagradas dos vedas, eles Me adoraram junto com o mestre espiritual deles, Brihaspati. Assim, Eu concordei em aparecer para o benefício deles como o anão Vamanadeva, minha quinta encarnação”.

O rei Yudhisthira perguntou:
– Ó Senhor, como foi possível para Você com um corpo de anão vencer um demônio tão poderoso? Por favor, explique isto claramente, porque sou Seu devoto fiel.

O Senhor Supremo Sri Krishna respondeu:
– Embora fosse um anão, Eu era um brahmana e aproximei-Me de Bali Maharaja para pedir caridade em forma de terras. Eu disse:
– Ó Bali, por favor, dê- Me simplesmente três passos de terra em caridade. Para Mim tal pedaço pequeno de terra será tão bom quanto os três mundos.

“Bali concordou em satisfazer meu pedido sem mais considerações. Mas assim que ele Me deu a terra, Meu corpo começou a expandir-se em uma gigantesca forma transcendental. Eu cobri toda a terra com Meu pé, toda Bhurvaloka com Minhas coxas, o céu Svarga com Minha cintura, Maha-loka com Meu estômago, Jana-loka com Meu peito, Tapa-loka com Meu pescoço e Satya-loka com Minha cabeça e face. Eu cobri toda a criação material. Realmente, todos os planetas do universo, incluindo o sol e a lua, foram abrangidos pela Minha forma gigantesca”.
“Vendo este meu passatempo surpreendente todos os semideuses, incluindo Indra e Sesa, o rei das serpentes, começaram a cantar hinos Védicos e a oferecer orações para Mim”. Então peguei Bali pelas mãos e disse a ele.

– “Ó impecável, Eu cobri toda a terra com um passo e todos os planetas com o segundo passo. Agora, onde Eu irei pôr Meu pé para medir o terceiro passo de terra que você Me prometeu”?
Após ouvir isto, Bali Maharaja curvou-se e ofereceu-Me a sua cabeça.

Ó Yudhisthira, Eu coloquei o Meu pé em sua cabeça e mandei-o para Patala-loka. Vendo assim ele humilhado, Eu fiquei muito satisfeito e disse a Bali que dali em diante Eu iria residir permanentemente em seu palácio. Depois disso, no Parivartini Ekadasi, o qual ocorre durante o quarto-crescente do mês Bhadra, Bali, o filho de Viricana, instalou a forma de Minha Deidade em sua residência.

– “Ó rei, continuou o Senhor Sri Krishna, até o Haribodhini Ekadasi, o qual ocorre no Quarto-crescente do mês Kartika, Eu continuo dormindo no oceano de leite. O mérito que alguém acumula durante este período é particularmente poderoso. A pessoa, portanto deve observar o Parivartini Ekadasi cuidadosamente. Realmente, ele é especialmente purificador e, assim, limpa a pessoa de todas as reações pecaminosas. Neste dia, o devoto fiel deve adorar o Senhor Trivikrama, Vamanadeva, o qual é o supremo pai, porque neste dia Eu me viro para dormir do outro lado”.
Se possível neste dia alguém deve dar a uma pessoa qualificada algum iogurte misturado com arroz inflado, bem como alguma prata, e então permanecer desperto por toda a noite. Esta simples observância libertará a pessoa do condicionamento material. Aquele que observar este sagrado Parivartini Ekadasi da forma que Eu descrevi irá certamente obter todos os tipos de felicidade neste mundo e o reino de Deus depois daqui. Aquele que simplesmente ouve esta narração com devoção irá para a morada dos semideuses e brilhará ali como a própria lua, tão poderosa é a observação deste Ekadasi. De fato, esta observação é tão poderosa quanto a execução de mil Asvamedha-yagna.

* Assim acaba a narração das glórias do Parivartini Ekadasi, ou Vamana Ekadasi, também chamado de Parsva Ekadasi do Brahma-vaivarta Purana.

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Desafios Da Profissão Docente. O Que Ninguém Fala Pra Vc (made with Spreaker).

Leitura do trecho inicial (1-10) do livro "O fenômeno socialista", de Igor Shafarevich, trad. livre.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Indicação de leitura de leitura #48 Curso de Pedagogia no Brasil – história e formação com pedagogos Autora: Giseli Barreto da Cruz

Curso de pedagogia no Brasil: história e formação com pedagogos primordiais

Viviane Lovatti Ferreira


RESENHAS

Curso de pedagogia no Brasil: história e formação com pedagogos primordiais

Viviane Lovatti Ferreira

Pós-Doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. vlovatti@usp.br

GISELI BARRETO DA CRUZ. RIO DE JANEIRO: WAK EDITORA, 2011, 218 p

O livro é fruto da pesquisa de doutorado da autora, que aborda a história do curso de Pedagogia no Brasil, basicamente por meio da análise dos depoimentos de Pedagogos brasileiros e da legislação oficial que regulamentou o curso durante sua trajetória. A questão central foi saber como se posicionavam aqueles pedagogos que foram testemunhas dos tempos iniciais de implantação do curso no país. A pesquisa esteve voltada para os depoimentos dos que obtiveram formação em Pedagogia desde 1939 - ano de criação e implantação do curso - até 1969 - quando foi homologado o parecer 252/69, que imprimiu mudanças significativas na composição curricular do curso. A autora trabalhou com os depoimentos de 17 pedagogos formados nas décadas de 1940, 1950 e 1960, sendo 9 formados em instituições públicas e 8, em instituições privadas do país.

A escolha dos sujeitos foi fundamental para definir a composição de um grupo representativo que vivenciou a fase inicial do curso. Tais pedagogos foram definidos pela autora como "primordiais", pela dupla condição apresentada: por terem vivenciado a fase de implantação do curso como alunos de graduação em Pedagogia, e por terem se consolidado na área de educação como formadores e pesquisadores, mantendo-se atuantes e influentes desde então1. Apenas um dos entrevistados não possui graduação em Pedagogia, mas seu depoimento não poderia deixar de compor o quadro pretendido para a pesquisa pelo fato de ter vivido de perto os anos iniciais de formação do curso como integrante do corpo docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo - FFCL/USP.

A autora destaca que a maioria dos entrevistados exerceu, em algum momento de sua trajetória profissional, funções referentes ao ofício de pedagogo, tais como: inspetor de ensino na esfera federal; técnico de planejamento; curriculista no contexto dos sistemas estadual e federal; diretor, coordenador pedagógico ou orientador educacional.

Com base na questão central da pesquisa, o roteiro para a realização das entrevistas semiestruturadas seguiu alguns eixos de análise: trajetória de formação e atuação; trajetória de estudante no curso de Pedagogia; trajetória de pedagogo, de formador e de pesquisador; e posições defendidas sobre a Pedagogia, a fim de discutir a natureza dos conhecimentos e sua materialização no curso. O referencial teórico adotado foi diverso e plural, "tal como é diversa e plural a Pedagogia" (p. 26).

O livro é apresentado em quatro capítulos. No capítulo 1, "O curso de Pedagogia no Brasil: uma revisão histórica", a autora apresentou alguns traços da trajetória do curso de Pedagogia no país a fim de situar historicamente a discussão, porém a autora esclarece que não se propõe a fazer uma pesquisa histórica acerca da formação docente. Para isso, ela faz uma discussão sobre quatro marcos legais que regulamentaram a trajetória do curso de Pedagogia.

O primeiro marco data de 1939, quando o governo federal promulgou o decreto-lei n. 1.190/39, criando o curso de Pedagogia ao organizar a Faculdade Nacional de Filosofia - FNFi. Os anos de 1930 foram marcados por importantes iniciativas no campo educacional, dentre elas o trabalho desenvolvido pelos institutos de educação, tendo como base as experiências escolanovistas. A autora aborda o papel dos institutos de educação para justificar que a Pedagogia já fazia parte do contexto universitário antes mesmo de constituir um curso. Ao ser criado, o curso visava à formação de bacharéis em Pedagogia para ocuparem os cargos técnicos em educação, fato que representou, conforme sua opinião, uma distorção da própria concepção da FFCL, uma vez que sua função seria a de formar "um núcleo de pesquisas não profissionais, voltado especificamente para a formação cultural e específica, por meio dos estudos históricos, filosóficos e sociológicos, principalmente" (p. 36). Quando licenciado, o pedagogo poderia lecionar nas escolas normais, instituições responsáveis pela formação de professores primários. Dessa forma, os cursos de Pedagogia passaram a ser objeto de disputa - para a formação do professor primário - e de crítica - devido à sua natureza e função.

O segundo marco data de 1962, com a aprovação do parecer CFE 251/62, estabelecendo novo currículo mínimo e nova duração para o curso. Apesar da reformulação, o curso manteve a dualidade bacharelado versus licenciatura.

O terceiro marco data de 1969, com a aprovação do parecer CFE 252/69, que veio acompanhado da resolução CFE n. 2/1969, novamente instituindo um currículo mínimo e outra duração para o curso. A partir de então, o curso de Pedagogia foi fracionado em habilitações técnicas, formando especialistas voltados aos trabalhos de planejamento, supervisão, administração e orientação educacional. Tais habilitações passaram a definir o perfil profissional do pedagogo. A Didática tornou-se disciplina obrigatória, sendo, antes, um curso realizado à parte para se obter a licença para o magistério. A Reforma Universitária de 1968 (lei n. 5.540/68) trouxe mudança significativa para o curso de Pedagogia, que deixou de fazer parte da Faculdade de Filosofia para integrar a Faculdade de Educação, instituída pela reforma. Essa fragmentação do trabalho pedagógico gerou inúmeras críticas desde os anos de 1970, desencadeando um movimento de reformulação dos cursos de Pedagogia nos anos de 1980, com o amparo da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação - Anfope. Esta obteve o aval do Conselho Federal de Educação - CFE -, que passou a aceitar propostas alternativas ao disposto no terceiro marco legal. Com isso, "muitas instituições, progressivamente, foram incorporando novas habilitações ao Curso de Pedagogia, voltadas essencialmente para a docência" (p. 50).

No quarto marco, é abordada a resolução CNE n. 1, de 10/4/2006, que fixou diretrizes curriculares, inaugurando nova fase para o curso no que diz respeito à formação dos profissionais da educação. O pedagogo passa a assumir o perfil de um profissional capacitado para atuar no ensino, na organização e na gestão do trabalho pedagógico em diferentes contextos educacionais.

A partir do segundo capítulo, a autora se dedica essencialmente à analise dos depoimentos. No capítulo 2, "Trajetórias e memórias de pedagogos primordiais: os primordios do curso de Pedagogia no Brasil", enfatiza a forte relação parental entre o curso normal e o curso de Pedagogia. Em todos os depoimentos, há fortes indícios de que o curso de Pedagogia se firmou como uma continuidade natural do curso normal, uma vez que o trabalho desenvolvido na escola normal foi nele se consolidando, pois os professores que lecionavam nas escolas normais - não pedagogos, com formações diversas -vieram a compor os quadros docentes dos cursos de Pedagogia. Para a grande maioria dos entrevistados, o curso normal era o meio para se obter a formação docente, enquanto o curso de Pedagogia - além de formar professor para o curso ginasial e para a escola normal - não explorava suficientemente esse ofício. Isto é, o curso de Pedagogia, por fornecer uma sólida formação teórica, foi fundamental para o processo de formar o "pensador" da educação. Os depoimentos também apresentam: um curso de Pedagogia desvinculado da realidade escolar; uma ênfase na abrangência da Pedagogia, amparada por diferentes áreas disciplinares; a multiplicidade teórica do curso; a centralida- de nos estudos clássicos de educação; uma bibliografia predominantemente estrangeira, exigindo um domínio de diferentes línguas por parte dos alunos; a criação do hábito de estudos em grupo; curso tradicional, marcado exclusivamente pelo predomínio de aulas expositivas, trabalhos de interpretação de texto e provas de arguição oral; a forte presença da pesquisa no curso, tanto no sentido de impulsionar investigações científicas no país quanto a formação de pesquisadores.

No capítulo 3, "Trajetórias e memórias de pedagogos primordiais: relatos sobre o curso de Pedagogia no Brasil", a autora se refere ao ambiente altamente politizado que os estudantes do curso de Pedagogia frequentaram nos anos de 1960. Em muitos casos, esse clima teria sido mais determinante do que a cultura específica da sala de aula. Para grande parte dos entrevistados, o ambiente acadêmico, a cultura universitária e, principalmente, o movimento estudantil foram meios diferenciais na sua formação, sendo que grande parte deles frequentou o curso entre os anos de 1958 e 1968, década de forte efervescência política no país.

São posteriormente apresentados os diferenciais entre o curso de que esses sujeitos fizeram parte como estudantes e o curso em que atuaram como formadores. Segundo a autora, a perda da densidade teórica constituiu característica básica na visão desses pedagogos ao atuarem como formadores. Além disso, destacam-se também o papel secundarizado dos estudos clássicos em educação, a dificuldade de construção de sínteses e o baixo capital cultural dos alunos. Apenas uma entrevistada vê os anos de 1980 como um período frutífero devido, principalmente, ao surgimento de uma literatura predominantemente brasileira e de caráter progressista.

Em um terceiro momento, são discutidas as significativas mudanças que a Reforma Universitária de 1968 imprimiu ao sistema de ensino superior, principalmente com as implicações do terceiro marco (parecer CFE n. 252/69), que introduziu as habilitações técnicas no curso de Pedagogia, fracionando a formação do pedagogo em especializações. No tocante às habilitações, os entrevistados questionam o seu papel no currículo, embora admitam que tais habilitações buscaram imprimir no curso os possíveis papéis que um pedagogo deveria assumir. Ao mesmo tempo em que possibilitou outras frentes de atuação, o curso tornou-se disperso diante das diversas possibilidades formativas, demandando a produção de um corpus teórico que fundamentasse as habilitações.

Finalmente, a autora se dispõe a desvelar a visão dos entrevistados sobre as diretrizes curriculares de 2006 do curso de Pedagogia. Se ao longo de sua trajetória, o curso esteve afastado da escola primária, agora as relações com esta se estreitam. Ele passa a ser a instância responsável pela formação de professores, tendendo a assumir o perfil de um curso normal superior. A análise das entrevistas aponta três aspectos relevantes: o afastamento da teoria - diante da diversidade de temas propostos - gerando fragmentação do curso devido ao excesso de disciplinas; o não-lugar das habilitações, uma vez que a formação do pedagogo se volta para a docência, embora permaneça o ofício designado pelas habilitações; e a docência como base da formação do pedagogo. Os entrevistados consideram que a docência é necessária ao trabalho do pedagogo, mas não somente ela, expressando o receio de se secundarizar a própria Pedagogia. Nesse sentido, os pedagogos primordiais percebem nas diretrizes curriculares de 2006 um esvaziamento do que é próprio da Pedagogia.

No capítulo 4, "Concepções de pedagogos primordiais: a posição do curso de Pedagogia no contexto do campo acadêmico", a intenção é analisar como esse grupo de pedagogos situa o curso de Pedagogia no contexto do campo acadêmico e como entende a Pedagogia como área de conhecimento. Segundo a autora, situá-la como ciência da Educação ainda é um ponto muito questionável, uma vez que os entrevistados possuem posicionamentos diversos: para alguns, a Pedagogia é uma ciência; para outros, é algo insuficientemente definido; para outros ela precisa ser ciência para se tornar legítima.

Quanto ao contexto acadêmico, a autora entende que, apesar de a Pedagogia teorizar sobre a educação, as diferentes áreas das ciências humanas também contribuem para isso. Ela apresenta porém um diferencial em relação às demais áreas, que é o objetivo de formulação de diretrizes para a prática educativa.

O desenvolvimento da pós-graduação no Brasil também é fator de destaque nos depoimentos. Para os entrevistados, a pós-graduação contribuiu substancialmente para a construção da pesquisa em educação no Brasil, fazendo crescer o corpo teórico sobre a área educacional, porém tal fato não representou um avanço para o curso de Pedagogia. Boa parte dos entrevistados cursou pós-graduação no exterior, impulsionando a criação e o desenvolvimento dos programas de pós-graduação em educação por todo o país. As ideias pedagógicas alcançaram maior circularidade a partir dos anos de 1980, aumentando a produção acadêmico-científica por meio da pós-graduação. Se, por um lado, a pós-graduação favoreceu a formação qualificada de docentes para o curso de Pedagogia, por outro, os problemas da prática pedagógica não têm sido suficientemente explorados nas pesquisas, e a falta de continuidade nas investigações é apontada como um problema.

Ao concluir, a autora afirma que, apesar de a Pedagogia se apresentar fragilizada diante de outras áreas de conhecimento, ela é uma área que comunga dos saberes interdisciplinares, possuindo uma dimensão plural e assimétrica na relação entre a Filosofia e a ciência, e na relação teoria e prática.

Recomendo a leitura desta publicação, pois ela apresenta importante contribuição para a área educacional e, especialmente, para o campo da história da educação brasileira por contemplar a história do curso de Pedagogia no Brasil por meio dos depoimentos de pedagogos que vivenciaram os primórdios desse curso, seja pela vivência como alunos, seja pela fecunda contribuição de seus trabalhos, mantendo-se influentes e atuantes como formadores e pesquisadores na área educacional.

  • 1
    O grupo de pedagogos entrevistados é formado por 14 mulheres e 3 homens, sendo eles: Alda Junqueira Marin, Amélia Americano Domingues de Castro, Bernardete Angelina Gatti, Carmem Silvia Bissoli da Silva, Celestino Alves da Silva Júnior, Célia Frazão Soares Linhares, Eulina Fontoura de Carvalho, Ilma Passos Alencastro Veiga, Jorge Nagle, José Cerch Fusari, Leonor Maria Tanuri, Maria Amélia Santoro Franco, Maria Aparecida Forest Ferreira da Costa, Marlene Alves de Oliveira Carvalho, Selma Garrido Pimenta, Vera Maria Candau e Vera Maria Nigro de Souza Placco.

Curso de Pedagogia no Brasil – história e formação com pedagogos

R$60,00

ISBN 978-85-7854-150-7

Autora: Giseli Barreto da Cruz

Formato: 16x23cm

220 páginas

Ano de publicação: 1º edição – 2011

Resumo:

A partir do estudo de 17 entrevistas realizadas com pedagogos brasileiros, o leitor poderá encontrar no texto subsídios para revisitar a história do curso com base nos seus marcos legais; reconhecer aspectos característicos do início do curso e os diferenciais notados ao longo da sua trajetória, em função das mudanças históricas, políticas e sociais; e discutir a posição da Pedagogia no contexto do campo acadêmico. O livro se destina aos estudantes de Pedagogia, aos professores que atuam como formadores desse curso, aos pedagogos que trabalham em contextos escolares e não escolares, aos pesquisadores da área e a todos aqueles que se interessam pelo que a Pedagogia é e pelo papel do seu curso na formação do educador.



Descrição

Giseli Barreto da Cruz possui graduação em Pedagogia pela Universidade Santa Úrsula (1992), especialização em Supervisão, Orientação e Administração Escolar pela Universidade Federal Fluminense (1996), mestrado (2002) e doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2008). Realizou estágio pós doutoral (CNPq PDJ) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2011), sob a supervisão da professora Marli André. Atualmente é professora adjunta da Faculdade de Educação da UFRj, membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) e coordenadora do GEPED – Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática e Formação de Professores. Anteriormente, atuou na educação básica exercendo as funções de docente e de pedagoga em redes públicas de ensino. Reúne significativa experiência na área de Educação, como professora e pedagoga, atuando com organização do trabalho pedagógico, currículo, avaliação, pesquisa, formação e prática docente. Tem se dedicado a pesquisas sobre Pedagogia, Didática e Formação de Professores.

fonte https://www.scielo.br/j/cp/a/p3BzbbfqjHJF5gpyJbSmLMy/?lang=pt


 

Curso de Pedagogia no Brasil – história e formação com pedagogos



Sumário:

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1

O CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL: UMA REVISÃO HISTÓRICA

1.1 O primeiro marco legal do curso (1939)

1.2 O segundo marco legal do curso (1962)

1.3 O terceiro marco legal do curso (1969)

1.4 O quarto marco legal do curso (2006)

1.5 Embates no (per) curso do curso

CAPÍTULO 2

TRAJETÓRIAS E MEMÓRIAS DE PEDAGOGOS PRIMORDIAIS:

OS PRIMÓRDIOS DO CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL

2.1 Curso Normal e Curso de Pedagogia: uma relação parental

2.1.1 A normalização impressa pela Escola Normal

2.1.2 A força do Curso Normal no processo de se fazer professor e a força do Curso de Pedagogia no processo de se fazer pensador da educação

2.2 Diferentes filiações disciplinares: a força/fraqueza da Pedagogia?

2.2.1 A multiplicidade teórica

2.2.2 O afastamento da prática

2.2.3 A presença da pesquisa

2.2.4 O perfil dos professores

CAPÍTULO 3

TRAJETÓRIAS E MEMÓRIAS DE PEDAGOGOS PRIMORDIAIS:

RELATOS SOBRE O CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL

3.1 Diferenciais entre as décadas de 1940/1950 e 1960

3.2 Diferenciais entre o curso de formação e o curso de atuação como formador

3.3 Diferenciais impressos pelas alterações advindas dos marcos legais – as marcas de um marco…

3.4 Diferenciais impressos pelas diretrizes curriculares de 2006

CAPÍTULO 4

CONCEPÇÕES DE PEDAGOGOS PRIMORDIAIS: A POSIÇÃO DO

CURSO DE PEDAGOGIA NO CONTEXTO DO CAMPO ACADÊMICO

4.1 Pedagogia e Educação: uma relação indissociável

4.2 Pedagogia e cientificidade: uma conexão necessária?

4.1.1 Sobre a natureza do saber pedagógico

4.1.2 Sobre a cientificidade da Pedagogia

4.3 Curso de Pedagogia e Faculdade de Educação

4.4 O Curso de Pedagogia e a construção da pesquisa em educação no Brasil

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS



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