terça-feira, 31 de maio de 2011

Down Under - Men At Work



Enviado por  em 18/07/2008
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Teoria do Conhecimento



O que é Teoria do Conhecimento?

Roderick Chisholm

A reflexão sobre a natureza do nosso conhecimento dá origem a uma série de desconcertantes problemas filosóficos, que constituem o assunto da teoria do conhecimento, ou Epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como deveriam ser resolvidos ou, no caso de tal não ser possível, abandonados. Descrevendo os temas dos sete capítulos que se seguem , poderemos dar a entender, de modo geral, a natureza desses problemas.
1 ) Qual é a distinção entre conhecimento e opinião verdadeira? Se um homem teve um palpite acertado ("Eu diria que é o sete de ouros"), mas não sabe realmente; e outro homem sabe, mas não diz, e não precisa adivinhar; o que é que o segundo homem tem (se assim podemos dizer) que falta ao primeiro? Pode-se dizer, é claro, que o segundo homem tem a prova evidente e que o primeiro não a tem, ou que algo é evidente para um que não é para o outro. Mas o que é prova evidente e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se temos ou não prova?
Essas perguntas têm suas análogas tanto na Filosofia Moral como na Lógica. O que significa um ato estar certo e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se um certo ato está certo ou não? O que significa uma inferência ser válida e como decidiremos, num determinado caso, se uma dada inferência é ou não válida?
2 ) A nossa prova para algumas coisas, ao que parece, consiste no fato de termos provas para outras coisas. "A minha prova de que ele cumprirá sua promessa é o fato dele ter dito que cumpriria a sua promessa. E a minha prova de que ele disse que cumpriria a sua promessa é o fato de que. . ." Devemos dizer de tudo aquilo para o que temos prova que a nossa prova consiste no fato de termos prova para alguma outra coisa? Se tentarmos formular, socraticamente, a nossa justificação para qualquer pretensão particular de conhecimento ("A minha justificação para pensar que sei que A é o fato de que B" ) e se formos inexoráveis em nossa investigação ("e a minha justificação para pensar que sei que B é o fato de que C"), chegaremos, mais cedo ou mais tarde, a uma espécie de fim de linha ("mas a minha justificação para pensar que sei que N é simplesmente o f ato de que N" ) . Um exemplo de N poderá ser o fato de que me parece recordar que já estive aqui antes ou o fato de que alguma coisa, agora, me parece azul.
Esse tipo de interrupção pode ser descrito de duas maneiras bastante diferentes. Poderíamos dizer: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me parece recordar ter aqui estado antes) que são evidentes para mim e que o são de tal forma que a minha prova de evidência para essas coisas não consiste no fato de haver certas outras coisas que são evidentes para mim". Ou poderíamos dizer, alternativamente: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me parece recordar ter aqui estado antes) das quais não se pode dizer que sejam evidentes, em si mesmas, mas que se parecem com o que se pode considerar evidente, na medida em que funcionam como prova evidente para certas outras coisas." Essas duas formulações apenas pareceriam diferentes verbalmente. Se adotarmos a primeira, poderemos afirmar que algumas coisas são diretamente evidentes.
3 ) As coisas que ordinariamente dizemos que conhecemos não são coisas, portanto, "diretamente evidentes". Mas, ao justificarmos a pretensão de conhecimento de qualquer uma dessas coisas particulares, podemos ser levados de novo, da maneira descrita, às várias coisas que são diretamente evidentes. Deveríamos dizer, portanto, que o conjunto daquilo que conhecemos, em qualquer momento dado, é uma espécie de "estrutura", que tem seu "fundamento" no que acontece ser diretamente evidente, nesse momento? Se dissermos isso, deveremos estar então preparados para explicar de que maneira esse fundamento serve de apoio ao resto da estrutura. Mas essa questão é difícil de responder, visto que o apoio dado pelo fundamento não seria dedutivo nem indutivo. Por outras palavras, não é o gênero de apoio que as premissas de um argumento dedutivo dão à sua conclusão, nem é o gênero de apoio que as premissas de um argumento indutivo dão à sua conclusão. Pois
, se tomarmos como nossas premissas o conjunto do que é diretamente evidente em determinado momento, não podemos formular um bom argumento dedutivo, nem um bom argumento indutivo, em que qualquer das coisas que ordinariamente dizemos que conhecemos apareçam como uma conclusão. Portanto, talvez se dê o caso de, além das "regras de dedução" e das "regras de indução", existirem também certas "regras de evidência" básicas. 0 lógico dedutivo tenta formular o primeiro tipo de regras; o lógico indutivo, o segundo; e o epistemologista procura formular as regras do terceiro tipo.
4) Pode-se perguntar: "0 que é que sabemos? Qual é a extensão do nosso conhecimento?" Poder-se-á também perguntar: "Como decidir, em qualquer caso particular, se sabemos ou não? Quais são os critérios de conhecimento, se porventura existem?" 0 "problema do critério" resulta do fato de que, se não tivermos resposta para o segundo par de perguntas, não disporemos, nesse caso, aparentemente, de um procedimento razoável para encontrar resposta para o primeiro; e, se não tivermos resposta para o primeiro par de perguntas, não teremos então, aparentemente, um processo razoável de encontrar a resposta do segundo. 0 problema poderá ser formulado mais especificamente para diferentes matérias - por exemplo, o nosso conhecimento (se houver) de "coisas externas", "outros espíritos", "certo e errado", as "verdades da Teologia". Muitos filósofos, aparentemente sem razão suficiente, abordam algumas dessas versões mais específicas do problema do critério segundo um ponto de vista, ao passo que outros as encaram de um ponto de vista muito diferente.
5) 0 nosso conhecimento (se houver) do que por vezes denominamos as "verdades da razão" - as verdades da Lógica e da Matemática e o que se expressa por "Uma superfície que é toda vermelha também não é verde" - dota-nos com um exemplo particularmente instrutivo do problema de critério. Alguns filósofos acreditam que qualquer teoria satisfatória do conhecimento deve ser adequada ao fato de que algumas das verdades da razão, tal como tradicionalmente são concebidas, não estão entre as coisas que conhecemos. Outros, ainda, procuram simplificar o problema afirmando que as chamadas "verdades da razão" só pertencem realmente, de algum modo , , a maneira como as pessoas pensam ou a maneira como empregam sua linguagem. Mas, uma vez que essas sugestões sejam equacionadas com precisão, logo perdem toda e qualquer plausibilidade que aparentemente tenham tido, no começo.
6) Outros problemas da teoria do conhecimento poderiam designar-se, apropriadamente, por "metafísicos". Abrangem certas questões sobre as maneiras como as coisas nos parecem. As aparências que as coisas apresentam para nós quando, digamos, as percebemos, parecem ser subjetivas na medida em que dependem, para a sua existência e natureza, do estado do cérebro. Este simples fato levou os filósofos, talvez com excessiva facilidade, a estabelecerem algumas conclusões extremas. Alguns afirmaram que as aparências das coisas externas devem ser duplicatas internas dessas coisas - que, quando um homem percebe um cão, uma tênue réplica do cão é produzida dentro da cabeça do homem. Outros disseram que as coisas externas devem ser bastante distintas do que ordinariamente aceitamos que elas sejam - que as rosas não podem ser vermelhas quando ninguém está olhando para elas. Ainda outros afirmaram que as coisas físicas devem-se compor, de algum modo, de aparências; e houve também quem dissesse que «s aparências devem ser compostas, de algum modo, de coisas físicas. 0 problema levou até alguns filósofos a indagarem se existirão coisas físicas e outros, mais recentemente, a indagarem se existirão aparências.
7 ) 0 "problema da verdade" poderá parecer um dos mais simples da teoria do conhecimento. Se dissermos a respeito de um homem, `'Ele acredita que Sócrates é mortal", e depois acrescentarmos, "E o que é mais, sua crença é verdadeira", então o que acrescentamos não é, certamente, mais do que isto: Sócrates é mortal. E "Sócrates é mortal" diz-nos tanto quanto "é verdade que Sócrates é mortal". Mas que aconteceria se disséssemos, a respeito de um homem, que algumas de suas crenças são verdadeiras, sem especificarmos que crenças? Que propriedade, nesse caso, estaríamos atribuindo à sua crença?
Suponha-se que dizemos: "0 que ele está dizendo agora é verdade", quando acontece que o que ele está dizendo agora é o que nós estamos agora dizendo que é falso, seja o que for. Nesse caso, estaremos dizendo algo que é verdadeiro ou dizendo algo que é falso?
Finalmente, qual é a relação entre as condições da verdade e os critérios de evidência? Somos boas provas, presumivelmente, para acreditar que existem nove planetas. Essa prova consiste em vários outros fatos que conhecemos a respeito de Astronomia, mas não inclui, em si, o fato de que existem nove planetas. Pareceria logicamente possível, portanto, que um homem tivesse boas provas para uma crença que, não obstante, é uma crença que é falsa. Significará isso que o fato de existirem nove planetas, se porventura for um fato, é realmente algo que não pode ser evidente? Deveríamos dizer, portanto, que ninguém sabe, realmente, se existem nove planetas? Ou deveríamos dizer que, embora seja possível saber que existem nove planetas. não é possível saber que sabemos existirem nove planetas? Ou as provas de que dispomos para acreditar que existem nove planetas garantem, de algum modo, que a crença é verdadeira e garantem, portanto, que há nove planetas?
Tais questões, e problemas como esses, constituem o assunto da teoria do conhecimento. Um certo número deles, como o leitor já sentirá, é simplesmente o resultado de confusão; e, uma vez exposta a confusão, os problemas desaparecem. Mas outros, como este livro pretende mostrar, são um tanto mais difíceis de tratar.
In Chisholm, R. M. (1966): Teoria do Conhecimento, Rio de Janeiro: Zahar, pgs. 11-15.


A imagem de uma ilha funciona perfeitamente para exemplificar o nível de conhecimento da humanidade. Esse pequeno pedaço de terra é cercado pelo vasto oceano do desconhecimento. Temos apenas frágeis balsas para explorá-lo, por isso, existem tantas lacunas em tudo o que sabemos. Em outras palavras, por mais espetaculares que sejam os resultados alcançados pelas ciências, o que se conhece é muito pouco em comparação com tudo o que nos falta saber.
Esse livro trata exatamente dessa busca. A teoria do conhecimento (ou epistemologia) aborda não somente a natureza e as fontes de conhecimento, mas, sobretudo, as formas de validá-lo ¿ seu maior desafio. Com linguagem simples e didática, o leitor vai explorar ao longo das páginas os tipos de saber, como estudá-lo e buscá-lo, as contradições entre aparência e realidade, a dificuldade em definir a verdade por trás de todos os fatos, entre outros temas. 










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Cosme e Damião Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


São Cosme e São Damião, os santos gêmeos, morreram em cerca de 300 d.C. Sua festa é celebrada em 27 de setembro. Somente a igreja Católica comemora no dia 26 de setembro pois, segundo o calendário católico, o dia 27 de setembro é o dia de São Vicente de Paulo.

Índice

 


Biografia

Há relatos que atestam serem originários da Arábia, de uma família nobre de pais cristãos, no século III. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio.
Estudaram medicina na Síria e depois foram praticá-la em Egéia. Diziam "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder".
Exerciam a medicina na Síria, em Egéia e na Ásia Menor, sem receber qualquer pagamento. Por isso, eram chamados de anargiros, ou seja, inimigos do dinheiro.
Cosme e Damião foram martirizados na Síria, porém é desconhecida a forma exata como morreram. Perseguidos por Diocleciano, foram trucidados e muitos fiéis transportaram seus corpos para Roma.
Foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV (526-30), na Basílica no Fórum de Roma com as iniciais SS - Cosme e Damião.


Versões de suas mortes

Há várias versões para suas mortes, mas nenhuma comprovada por documentos históricos. Uma das fontes relata que eram dois irmãos, bons e caridosos, que realizavam milagres e por isso teriam sido amarrados e jogados em um despenhadeiro sob a acusação de feitiçaria e de serem inimigos dos deuses romanos.
Segundo outra versão, na primeira tentativa de matá-los, foram afogados, mas salvos por anjos. Na segunda, foram queimados, mas o fogo não lhes causou dano algum. Apedrejados na terceira vez, as pedras voltaram para trás, sem atingi-los. Por fim, morreram degolados.
Lendas : Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximos a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a orumilá que o levasse para perto do irmão. Sensibilizado pelo pedido, orumilá resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.

[editar]Sincretismos

[editar]Semelhanças com a Mitologia Grega

Na mitologia grega, há muito se cultuava esses santos, havendo registros, desde o século V, quando esse culto já estava estabilizado noMediterrâneo, de cultos que relatam a existência, em seus cultos, de um óleo santo, atribuído a Cosme e Damião, e que tinha o poder de curar doenças e dar filhos às mulheres estéreis.
Alguns grupos concentram seus esforços para demonstrar que Cosme e Damião não existiram de fato, que eram apenas a versão cristã da lenda dos filhos gêmeos de ZeusCastor e Pólux. Esta versão é combatida por aqueles que acreditam na real existência dos irmãos, embora a superstição que o povo tem muitas vezes faça supor que haja uma adaptação do costume pagão.


Relação com as religiões afro-brasileiras

O dia de São Cosme e Damião é celebrado também pelo CandombléBatuqueXangô do NordesteXambá e pelos centros de Umbandaonde são associados aos ibejis, gêmeos amigos das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces e guloseimas. O nome Cosme significa "o enfeitado" e Damião, "o popular".
Estas religiões os celebram no dia 27 de setembro, enfeitando seus templos com bandeirolas e alegres desenhos, tendo-se o costume, principalmente no Rio de Janeiro, de dar às crianças que lotam as ruas em busca dos agrados doces e brinquedos.

Ver também

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

O que muda na mulher após a menopausa?

Saúde feminina-1
O que muda na mulher após a menopausa? - 16/05/2011 15h35min

A menopausa é um estágio da vida da mulher que causa mudanças no organismo, por conta da diminuição de hormônios. No entanto, a maioria das mulheres não sabem porque estas mudanças acontecem e quais as consequências para o corpo. Para esclarecer os mitos e verdades sobre a menopausa, Patrícia Rizzo recebe nos estúdios da Jovem Pan Online Marcelo Garcia, pesquisador do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

Saúde feminina-2
Meditação auxilia no tratamento da insônia na menopausa - 16/05/2011 15h33min

Por causa da diminuição de hormônios no organismo feminino, que acontece na menopausa, muitas mulheres acabam desenvolvendo distúrbios do sono. As famosas insônias incomodam muitas mulheres, mas esse problema tem tratamento. Um deles é a meditação, que, segundo estudos, ajuda na resolução deste problema. Para falar desta forma de tratamento, Patrícia Rizzo recebe nos estúdios da Jovem Pan Online Marcelo Garcia, pesquisador do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

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Quais práticas podem amenizar os sintomas da menopausa? - 16/05/2011 15h32min

Além da insônia, outros sintomas geram muito incomodo nas mulheres que estão na menopausa. No entanto, da mesma forma que há tratamento para a insônia neste período da vida da mulher, existem práticas que amenizam os outros sintomas da menopausa. Para explicar que práticas são essas, Patrícia Rizzo recebe nos estúdios da Jovem Pan Online Marcelo Garcia, pesquisador do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

http://jovempan.uol.com.br/videos/o-que-muda-na-mulher-aps-a-menopausa-56890,1,0

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Antes de começar a meditar


Antes de começar a meditar


Por Swami Ashokananda *

* Swami Ashokananda: (1893-1969) foi, durante os últimos trinta e oito anos de sua vida, o diretor da Vedanta Society of Northern California. Nascido e educado no que agora é Bangladesh, foi mestre de escola por pouco tempo, durante o qual se esforçou por colocar em prática os princípios de Swami Vivekananda de servir a Deus no homem, na comunidade de sapateiros. Uniu-se à Ordem Ramakrishna em1920 e prestou serviços principalmente como editor de sua revista Prabuddha Bharata, tendo se distinguido por seus editoriais, antes de ser destinado a San Francisco. Ali reavivou o monastério, fundou um convento e começou o que agora são as Sociedades Vedanta de Berkeley e Sacramento.



Eu creio que através da meditação, que é o ininterrupto fluxo de um mesmo pensamento em Deus, pode-se alcançar facilmente o Altíssimo. E é a mente que eventualmente sucumbe ante um pensamento a que é sujeita sem interrupção por um tempo prolongado. Se continuarmos infundindo na mente certo tipo de consciência - qualquer que seja a condição da mente em um princípio, espiritual ou não, cheia de amor para Deus ou com desejos intranqüilos – com o transcurso do tempo a mudança desejada se operará.



Sri Ramakrishna teve grande insistência quanto a isso. Para mim levou muito tempo assimilar um de seus ensinamentos sobre o tema, mas quando compreendi, e espero realmente tê-lo feito, encontrei nele uma grande esperança e segurança. Ele costumava dizer que a mente é como um tecido novo que toma a cor da tinta na qual foi mergulhada. A princípio, pensei que ele queria dizer que a mente deve tornar-se absolutamente pura antes de ser mergulhada no pensamento de Deus etomar sua cor. Não via nada de particularmente alentador nisto, porque o grande problema de quase todos os aspirantes espirituais é precisamente alcançar a pureza da mente. Tal purificação equivale a três quartas partes da batalha, pois quando isso acontece, a realização espiritual vem espontaneamente. Certamente, à medida que refletia sobre o exemplo de Sri Ramakrishna, comecei a compreende-lo de outro modo. Ao comparar a mente com um tecido novo, ele falava da mente comum, a mente que está tão atolada de pensamentos e sentimentos mundanos e contraditórios, e que é tão adversa ao pensamento de Deus. Não era a mente purificada a que ele assemelhava ao tecido novo, mas a mente em qualquer condição em que pudesse se encontrar. Vi que queria dizer que mesmo essa mente comum, se fosse mergulhada no pensamento de Deus, tomaria a cor espiritual.



Eis aqui uma verdade psicológica, maravilhosamente alentadora e de grande ajuda, mas com freqüência esquecida pelos aspirantes espirituais. Em certa ocasião um homem veio ante Sri Ramakrishna e lhe disse: “Eu não posso controlar minha mente; não sei como”. O Mestre, assombrado, disse: “Por que não pratica abhyasa-yoga?”. O trazer a mente novamente de vez em quando ao pensamento de Deus, isso é o que abhyasa-yoga significa. Esta prática é particularmente exaltada no Bhagavad Gita. Importa muito que a mente ande errante, no princípio, se de novo pode direciona-la a Ele? Se pudéssemos nos lembrar disso, venceríamos a metade da batalha, mas desgraçadamente, com freqüência não o fazemos e logo pensamos em outras coisas e esquecemos por completo a busca espiritual. Sendo este o caso, poderíamos discutir proveitosamente certos pontos relativos aos meios de autocontrole e meditação.



Qual é a condição adequada da mente para a meditação? É conhecida por todos vocês, creio, como quietude. Esta não é uma calma forçada, mas uma calma resultante da cessação da maioria dos desejos ardentes. As coisas que perturbam a mente, surjam de dentro, surjam de fora, estão vinculadas com nossos desejos secretos básicos. Sempre estamos tratando de realizar certos fins. Embora nos esforcemos desesperadamente, com freqüência fracassamos e o fracasso exaspera a mente. Mesmo quando o triunfo seja já nosso, nos apresentam resultados estranhos. Devido a que os objetos de nossos desejos às vezes nos iludem enquanto os estamos desfrutando, nos sentimos desiludidos e enganados, e quando não somos assim frustrados, nos apegamos aos objetos de desfrute, em cujo caso, posto que o desfrute não pode intensificar-se continuamente, vem a saciedade. Todas as reações mantêm a mente constantemente inquieta, ora de modo prazeroso, ora de modo desagradável. Assim nos damos conta de que os pensamentos que impedem a nossa mente de permanecer na presença de Deus estão unidos com os objetos de nossos desejos, e que somente quando conseguimos nos desfazer de nossos desejos predominantes, a mente se torna comparativamente tranqüila.



Chamamos este estado de calma relativa, o começo de pratyahara (retiro da mente), uma condição na qual a mente, embora às vezes inquieta está, em outras ocasiões, tranqüila – inquieta quando estabelece contato com os objetos de desejo, mas de outra maneira bastante tranqüila. Este é um estado muito favorável. Se descobrir que sua mente se mantém naturalmente quieta quando você não está em contato com coisas perturbadoras, que você gosta de estar só e que tem uma sensação de serenidade, então reconhece tal condição como a mais desejável. Nesta condição deveria se esforçar o melhor que pudesse em praticar meditação. Não deveria descuidar dela nunca. A mente é uma entidade muito mutável. Não pense que uma condição que tenha desejado continuará existindo simplesmente pelo fato de que a alcançou uma vez. Algo pode surgir de dentro e vir de fora para distrai-lo, e às vezes poderá tomar sua mente por cinco anos ou até dez para aquietar-se novamente, do mesmo modo que o mar leva alguns dias para recuperar a calma depois de uma tormenta.



Não quero dizer que nunca estaremos absolutamente seguros. É indubitável que há uma condição mental em que não se necessite abrigar temor algum, mas esse é um estado muito elevado. Quando uma pessoa alcança esse estado concentrado é que queimou as pontes que deixou para trás: alcançou uma condição em que as coisas deste mundo já não podem atrai-lo. Sua mente já não voltará jamais ao mundo que deixou para trás. Está segura.



Suponhamos que alcançamos esse estado em que a mente, embora às vezes inquieta está, em outras ocasiões, tranqüila. Que devemos fazer, então, se quisermos ter bom êxito na meditação?



1. A princípio temos que fazer um propósito firme de sermos muito regulares em nossa prática. Sempre corremos para atender a nossas necessidades corporais urgentes, sem se importar com o que estiver acontecendo. Deveríamos ser igualmente fiéis com a prática da meditação. A meditação deveria ser tão essencial a nossa vida como o é o respirar. Em meu país, quando uma pessoa está muito ocupada, costuma dizer: “Não tenho tempo nem para respirar”. Com certeza, respira. E assim deveria ser com a meditação. Mesmo quando, a princípio, o desejo de pratica-la possa parecer artificial, diga-se, dite: “Tenho que meditar”.



Sri Ramakrishna elogiava, freqüentemente, os muçulmanos por sua pontualidade na oração. Onde quer que um muçulmano se encontre, quando chega a hora da oração suspende tudo, lava as mãos e o rosto e logo, estendendo seu tapete na margem do caminho, ora pelo menos durante quinze minutos. Nunca deixa de fazer isto. Não há justificativa alguma para que alguém diga que não tem tempo para meditar. Ocasião extraordinária poderia surgir pela qual, com efeito, alguém não tivesse tempo, mas dizer: “Estou muito ocupado para lhe dedicar tempo”, ou “estou tão cansado ao entardecer que me é impossível meditar” é mera evasão. Nada impede, a quem assim raciocina, que dedique um pouco de sua energia ao entardecer. Mas ele se desgasta todo durante o dia fazendo outras coisas, às vezes realmente danosas, e quando chega o entardecer, dá-se uma falsa justificativa para não meditar. Pergunte-lhe sobre isso e dirá: “Preciso dormir mais. Estou cansado. Quando me levanto, tenho que ir depressa ao escritório. A que horas o faço?”.



Há uma canção que se refere a um homem que, depois de passar toda sua vida tolamente, no fim se deu conta de seu erro e disse: “Tive tempo para tudo o mais, oh Senhor, mas não tive tempo para pensar no Senhor!”. Se fixem nesta peculiaridade da mente humana: há tempo e lugar para tudo o mais em nossa vida, mas não temos sequer quinze minutos diariamente para a meditação! Se vocês me disserem que não têm nem tempo, nem a energia, pensam que vou acreditar em vocês? Eu lhes direi que estão se enganando. Onde há vontade, há um caminho. Se estiverem resolvidos a isso, sempre poderão encontrar tempo para meditar.



Aqui gostaria de fazer uma sugestão, pois sei que o desencorajamento faz sua aparição com muita facilidade. Às vezes, na meditação, a mente se comporta maravilhosamente: acalma-se e se concentra em seguida e vocês se sentem animados. Mas se em outras ocasiões se porta mal, se recusa, se nega a aquietar-se e se mantém intranqüila com toda a espécie de pensamentos, então poderão se ver tentados a dizer: “De nada me serve meditar; por mais que eu queira, não alcanço nada”. Quero lhes dizer isto: a menos que tenham nascido com uma mente de qualidades maravilhosas e em um estado muito avançado de desenvolvimento espiritual estarão propensos, como qualquer outro homem que tenha querido percorrer o caminho, a estas flutuações da consciência. Não permitam que isso os desanime e não pensem que são ineptos para meditar, somente porque sua mente não é suficientemente espiritual. Alguns perguntam: “Como posso aproximar-me de Deus com este estado inferior de minha mente?”. Se vocês sentirem frio, seguramente não diriam: “tenho frio, deixem que me aqueça antes de aproxima-me do fogo”. Em troca, afirmariam, sem dúvida: “tenho frio, me aproximarei do fogo a fim de me aquecer”. Por outro lado, se vocês crêem que carecem de espiritualidade, então esse é o melhor dos momentos para pensar em Deus.



Não permitam que sua mente os desvie. A mente pode engana-los de muitas diferentes maneiras: às vezes tentará diretamente e de novo os desviará mesmo em nome da religião. Essa resistência para meditar porque não são “o suficientemente espirituais” é um truque que a mente joga a vocês. Qualquer que seja sua condição mental, mesmo se sua mente está cheia de pensamentos baixos, tratem de pensar em Deus. Supostamente poderiam ser incapazes de pensar ou meditar nEle como vocês desejam, mas não importa, sigam querendo. Um cavalo bravo coiceia, corcoveia e trata de tirar o cavaleiro, mas se este consegue se manter firme na montaria, o cavalo se aquieta, reconhecendo que encontrou seu amo. A mente se comporta da mesma maneira. Tratará de desaloja-lo, mas ao descobrir que não pode se safar de você, se tornará sua escrava. Esse é o segredo da mente, por isso não se preocupem com sua condição atual. Proponha-se a domina-la, pois esta determinação, que implica concentração, já é em si mesmo uma vitória.



2. Em seguida, devem ter uma hora fixa para a meditação. Em minha opinião, uma pessoa deveria meditar não menos que duas vezes ao dia. Se não puderem faze-lo assim, meditem pelo menos uma vez, seja pela manhã ou à noite. Na Índia pensamos que há quatro horas auspiciosas para a meditação: cedo pela manhã – pelo menos uma hora antes do amanhecer, quando está escuro – é uma hora muito boa. Depois falaremos mais sobre isto. A segunda hora auspiciosa é ao meio-dia. Não sei se alguma janela fica fechada em uma cidade, mas indubitavelmente nas aldeias, especialmente em um país tropical, todo fica silencioso nesta hora e a natureza parece ter-se detido. Faz tanto calor que até os pássaros ficam silenciosos e se escondem entre as folhas das árvores. As pessoas ficam quietas – freqüentemente descansam há essa hora – e há um período de calma bem definido; pelo menos eu costumava senti-lo em meu país, onde muitos utilizavam o meio-dia para a meditação e o culto religioso.



A terceira hora auspiciosa para a meditação é cedo à noite. Neste país (Inglaterra), desgraçadamente, é difícil meditar a essa hora, pois geralmente está destinada para a ceia. Certamente o anoitecer é uma das melhores horas para meditar. Se lhes for possível, vocês podem praticar a meditação pouco antes da ceia, mas não é aconselhável meditar imediatamente depois de cear, pois a digestão pode ser interrompida e a saúde afetada.



A quarta hora é a meia-noite. Nesta parte do mundo não há muita tranqüilidade nem sequer às doze horas, mas creio que alguém encontra certa quietude. Onde seja um lugar regularmente tranqüilo, a meia-noite é maravilhosamente adequada para a meditação. Com efeito, muitos pensam que a meia-noite é a melhor de todas as horas para esse propósito.



A meditação matutina tem uma determinada vantagem sobre a vespertina, porque ao despertar, a mente está quieta depois do descanso da noite. Todas as impressões do dia anterior estão apagadas, como se depois de aulas anteriores alguém tivesse vindo e apagado completamente o quadro-negro. Logo, também, a natureza está tranqüila cedo pela manhã e a cidade não despertou, nem se colocou em movimento. Por conseqüência, fica mais fácil aquietar a mente. Existe outra vantagem: ao meditar antes que o dia desponte dá um ímpeto e uma direção espiritual à mente. Mesmo quando ela tenda a perder algo de sua força espiritual e seu entusiasmo, na medida em que o dia avança, estes permanecerão durante muitas horas e os sustentarão através da maior parte do dia.



Deveria mencionar aqui que alguns acham que sua meditação tem mais êxito à noite que pela manhã. Há alguns que “despertam” gradualmente na medida em que o dia avança. Pela manhã se sentem, no entanto meio sonolentos, mas até o entardecer estão despertos totalmente, com sua mente clara e aguda, comportando-se maravilhosamente. Essas pessoas encontram mais êxito, sem dúvida, na meditação vespertina ou noturna.



Se não puderem aproveitar nenhuma destas horas, que são especialmente adequadas para a meditação, deveriam, então, escolher a mais conveniente para vocês e fazer todo o esforço para mantê-la. A observância de horas regulares é muito importante, porque a mente funciona de acordo com o hábito. Se lhe faz pensar e sentir de certa forma em uma hora fixa durante muitos dias, de modo consecutivo, então, espontaneamente pensará e sentirá da mesma maneira quando essa hora chegar. Se meditarmos em Deus em uma hora específica, sempre que essa hora se aproximar, sem nenhum esforço de nossa parte, nossa mente se encherá da consciência de Deus. Esta é uma vantagem nada desprezível que se deriva da regularidade da prática.



3. Assim como se deve ter horas regulares de meditação, assim também deve se ter um lugar fixo no qual meditar. Aqui entra a grande vantagem dos templos e igrejas, uma vez que esses lugares são utilizados para pensar em Deus. O mesmo ar neles se carrega de sua presença e de uma sensação de pureza. As pessoas se sentem elevadas em somente transpor o umbral destes lugares consagrados.



Uma atmosfera similar a de um templo ou uma igreja pode ser criado em um simples canto da alcova pessoal. Em qualquer parte onde um pensamento intenso é sustentado sem interrupção, o lugar se carrega com a qualidade do mesmo. Provavelmente isto se deve a que a atmosfera e o ambiente material estão conectados com o corpo, o qual vibra de acordo com o corpo, o qual vibra de acordo com os pensamentos da mente. Se nossos pensamentos são puros, nossos corpos igualmente alcançam uma pureza que pode chamar-se vibração espiritual e, naturalmente, com essa mudança no corpo, a atmosfera exterior também muda. Dessa maneira o lugar fixo onde você medita se carregará de energia; estará tão permeado de uma qualidade espiritual, que sua mente se encherá com o pensamento de meditação quando chegar a este lugar. Se aquietará como por um toque mágico e estará consciente de uma presença palpável. Que grande vantagem! Você pode, na verdade, produzir este aparente milagre mediante a prática de manter aparte um lugar determinado, consagrado aos pensamentos de Deus.



4. Quando medimos a força dos sutis inimigos que se agarram a nossa mente – as paixões, os impulsos, as cobiças e os desejos – estes recursos que lhes recomendo parecem oferecer uma proteção muito fraca. Admito isto. Quando expresso “se agarram”, quero dizer que até os melhores dentre nós não escapam de sua influência. Se diz que ninguém fica totalmente liberado disto até que efetivamente tenha tocado os pés do Senhor.



Assim como no inverno o jardim fica limpo de ervas e ramos secos, mas com a primeira chuva da primavera as diminutas sementes que ficaram na terra brotam para cobri-la de verde, assim também muitos pensamentos, impressões e desejos sutis jazem ocultos em nossa mente, esperando brotar a primeira oportunidade. Portanto, temos que ser muito cuidadosos. Sabemos que todos estes impulsos errôneos estão em nossa mente e que facilmente cobririam toda nossa consciência, se não os restringíssemos. Nosso problema é manter uma grande parte de nossa mente – e por graus, uma parte cada vez maior – livre do predomínio dos impulsos e desejos errôneos, de maneira tal que a mente assim liberada, possa pensar em Deus.



Enquanto isso, que deveríamos fazer para vencer nossos desejos e impulsos adversos? Às vezes sucumbem ante um ataque direto, mas um ataque pelo flanco é geralmente melhor. Lutar de modo direto contra um estado da mente para domina-la pode causar mais mal do que bem, pois com isso, às vezes a mente se enreda mais e mais. O procedimento mais sábio e eficaz é não se permitir abrigar o pensamento sobre a condição mental que se quer erradicar. Lembrem este fato psicológico: quanto mais pensarem em uma determinada condição mental, mais a fortalecerão.



Há um conto sobre um monge que costumava sentar-se sob uma árvore, à margem do caminho, para orar e meditar. Uma mulher de má reputação passava freqüentemente por ali e ele lhe dizia: “Você deveria abandonar sua má vida e tratar de ser boa. Se não o fizer, coisas terríveis lhe acontecerão depois da morte”. Cada vez que o monge via a mulher, a molestava de forma semelhante. Com o passar do tempo, ambos morreram e os mensageiros da morte vieram reclamar seus espíritos. Diz-se que um mensageiro luminoso traz uma carruagem dourada para levar a pessoa boa ao céu, enquanto que um mensageiro obscuro é o que vem quando morre uma pessoa má. Aconteceu que o mensageiro obscuro veio pelo monge e o mensageiro celestial pela mulher.



O monge ficou assombrado. “Creio que há um erro”, manifestou. “Não – respondeu o mensageiro – não há nenhum erro. Tudo está correto”. “Mas como pode ser?”, perguntou o monge. O mensageiro respondeu gravemente: “Mesmo quando parecia que você meditava, estava sempre pensando na mulher e suas más ações. Não estava sua mente ocupando-se continuamente do mal? Mas a mulher pedia ajuda a Deus, dizendo: ‘Senhor, sou fraca: salve-me!’. Sua mente não se ocupava mais de Deus do que a sua?”. O monge não pode dar nenhuma resposta.



Neste caso é uma ilustração extrema, mas contém uma profunda verdade psicológica. Assinala um fato fundamental a respeito da ação mental, um fato do qual podem servir-se bem em sua luta pela conquista de vocês mesmos. Quando permitimos à mente ocupar-se de alguma qualidade indesejável, certamente cria-se uma nova impressão que é muitas vezes mais forte que a original. O continuar reconhecendo esta qualidade somente a fará mais e mais forte, até que, talvez, se torne um complexo.



Não estou dizendo que não devam restringir sua mente, que a deixem desejar sem controle ou, como se diz, permitir-lhe ser “natural”. Nem tampouco quero dizer que devam ignorar suas fraquezas. Mas, na verdade, às vezes é mais seguro não trabalhar diretamente com estas. A melhor estratégia é adestrar a mente para que se mantenha em um novo nível. Primeiro, desvie-a do pensamento da fraqueza para algum tema agradável; logo elevem-na gradualmente a uma consciência superior. Este método de auto-restrição não reprime a mente, mas melhor, a tira de associações perigosas, admitindo pensamentos desejáveis, ao invés dos indesejáveis.



Se na atualidade vocês têm uma falha séria que pareça quase impossível erradicar, devem ter-lhe dado força e apoio ao pensar nela e ao cair nela. Tirem-lhe esse apoio e a falha se enfraquecerá e, finalmente, morrerá por falta de alimento. Não digo que isto seja fácil de fazer, mas com a prática vocês podem formar o hábito e é uma maneira segura de alcançar o progresso espiritual. Depois de negar sustento aos seus pensamentos indesejáveis durante algum tempo, provavelmente descobrirão que enquanto alguns deles sucumbem, outros permanecem. Não se preocupem demais. Os deixem ficar, enquanto não ganharem força. Mantenha-os encurralados e eventualmente eles também morrerão.



5. As más companhias são uma das mais potentes causas de conflitos e perturbações mentais. Estaria muito bem misturar-nos com toda espécie de gente se pudéssemos permanecer não afetados em sua companhia, mas isto raramente acontece. Não sei se alguém pode faze-lo. As relações e associações apropriadas são, por conseguinte, muito importantes na vida espiritual. Se vocês participam da companhia de pessoas impuras e estão em freqüente contato com coisas erradas, não serão capazes de manter sob controle os pensamentos que estão tratando de restringir; estes crescerão e, finalmente, dominarão por completo sua mente.



6. Uma certa quantidade de ascetismo é absolutamente necessária para o progresso espiritual. Alguns de vocês, nada ansiosos por meditar, poderiam dizer: “Deixaremos isto para a vida seguinte”, ou “o faremos dentro de uns anos”. Muitos pensam que a juventude é o tempo de gozar a vida e que está bem praticar a religião quando tenha começado a envelhecer. Em outras palavras, quando o mundo se tenha azedado, então irão à igreja mostrando uma cara larga e acreditando que, com isso, já tem religião. Isso não é, nem pode ser religião.



Que é o que levamos a Deus, nesse caso? Um corpo e uma mente gastos, com cicatrizes por todos os lados. Acreditam vocês que agradam a Ele? Não costumamos levar ao seu altar frutas carcomidas por vermes, ou flores murchas, mas oferendas em perfeito estado. Da mesma maneira, deveríamos entregar-lhe o melhor de nós. A oferenda de uma mente fresca e pura é o que mais o satisfaz. Quem pensa que a religião é exclusivamente para os velhos, comete um profundo erro. Os jovens, especialmente, deveriam tratar de ser espirituais, pois a vida religiosa começa cedo e as práticas espirituais que mencionei, se empreendem enquanto a mente está fresca e pura. Então, ao manter uma vigilância estreita sobre a mente, esta pode conservar-se intacta. Sob nenhuma circunstância deveríamos permitir à mente que seja afetada pelo mundo. A juventude é a época propícia para se pôr a trabalhar nisso.



Sri Ramakrishna disse, uma vez, a um jovem estudante universitário: “Quando um homem faz um ladrilho, coloca sua marca da fábrica enquanto está fresco. Depois, quando o ladrilho é sacado ao sol e cozido no forno, a marca se torna permanente. Da mesma maneira, se puder fixar em sua mente, enquanto está fresca, a marca de Deus, esta nunca poderá se apagar, mas, afortunadamente, permanecerá para sempre”.



Pratiquem o ascetismo – quanto mais, melhor – e isto não significa fazer cara azeda, como se tivessem mordido uma maçã ácida. A prática do ascetismo deveria proporcionar um prazer similar ao de montar um cavalo brioso. Obtenham a inteireza para controlar as forças de seu corpo e sua mente e não ser dominado por elas. Este ascetismo é necessário, pois sem ele a meditação é impossível.



7. Todas as coisas que lhes expus até agora são preliminares. Deveriam ser praticadas a cada dia de nossas vidas e não simplesmente no começo de nossa busca espiritual. Aquele que os pratica corretamente pode, à vontade, retirar sua mente completamente, porque alcançou um controle enorme sobre ela. Mas enquanto não se estabelecerem plenamente nestas práticas, muitos de vocês descobrirão que, na meditação, a mente leva algum tempo para alcançar o estado de quietude. A este fato devia se prestar cuidadosa atenção. Se vocês andam de um lado para outro, fazendo e pensando muitas coisas antes da meditação, que êxito podem esperar?



Durante algum tempo antes da meditação vocês deveriam estar tranqüilos e sentir que não têm relação alguma com o mundo, que não têm nada que ver com ele. Estou de acordo que, como esposos, esposas, mães, pais, filhos e assim sucessivamente, vocês precisam atender ao cumprimento de seus muitos deveres e que há mil coisas que exigem sua atenção. Certamente, ao aproximar-se de Deus, sabem vocês o que deveriam fazer? Ir ante Ele, como se o mundo nunca tivesse existido; como se não houvesse nenhum marido, esposa, pais, amigos, pátria; nada em absoluto. Esta seria a atitude correta na hora da meditação.



Aproximem-se da meditação com uma sensação de eternidade. Quem tem melhor resultado na meditação? Quem, na hora de pratica-la, pode se sentir absolutamente desligado. Vocês compreendem o que isso significa? Imaginem o que é a eternidade. Está mais além do tempo e, conseqüentemente, mais além de todo fenômeno; é uma condição – se assim podemos chamá-la – em que nenhuma destas coisas relativas existem. Quando decidem pensar no Senhor eterno executam, prontamente, um esforço por ir mais além de toda relação. Deveriam dizer: “Não tenho corpo, não tenho mente. Tempo e espaço desapareceram. O universo inteiro se desvaneceu. Unicamente Deus é”. Somente então a mente terá essa percepção sutil que a capacitará para sentir a graciosa presença de Deus. Por isso, antes de entrar no lugar de meditação, vocês têm que deixar fora tudo o que é relativo.



Em nossos monastérios, os monges que são muito estritos não permitem aos visitantes falar de suas esposas, esposos ou filhos, nem de coisas mundanas, por mais importantes que pareçam ser. Não é que desaprovem que uma pessoa cumpra com seu dever, mas que eles sabem que a mente, para ser espiritual, tem que participar do caráter do eterno. Seguramente deve existir algum tempo durante o dia em que vocês se sintam absolutamente desligados, porque ser assim é sua natureza verdadeira. Embora na aparência estejam relacionados com as pessoas, vocês sabem que estas relações são transitórias. A natureza verdadeira de vocês é o desligamento e é nesta condição de não-relação com o mundo que devem iniciar a meditação.



8. Chegando às condições que especifiquei, pode ser alcançado um progresso espiritual verdadeiro e apreciável. Mas aqui devo lhes dizer que todas as práticas espirituais, incluindo a meditação, dependem de uma coisa: um grande desejo pela verdade. Vocês possuem esse desejo? Poderão dizer: “Eu não o sinto. De que me serve, então , a meditação?”. O apetite da mente por Deus pode ser estimulado deliberadamente. Quando, por qualquer meio, se faz com que a mente deseje a Ele, o sentimento não é menos real que se tivesse vindo espontaneamente. Se vocês esperam que o tempo lhes traga um desejo natural, poderá nunca chegar. Posto que este desejo é essencial, acreditem vocês. No começo sua mente flutuará. Mas não se desanimem por estas atitudes instáveis da mente e, sobretudo, não se deixem vencer.



Suponham que vocês são um jovem em quem outro jovem da vizinhança quer surrar. Não tem nenhum direito de faze-lo e vocês sabem que ele é, na realidade, um covarde. Qual é o curso apropriado a seguir? Se submeterão ao abusivo valentão, pensando que vocês são de natureza fraca e que lutar com ele é inútil? Não, mas deliberadamente farão surgir o sentimento de hombridade dentro de vocês. Dirão: “Recuso-me a permitir que este sujeito abuse de mim”. Na outra vez em que se confrontarem com ele, esse sentimento poderá declinar um pouco, mas mesmo assim muitos conseguirão olhar o fanfarrão nos olhos e eventualmente serão suficientemente valentes como para desafia-lo. Se encherão de virilidade e dirão: “Esta é minha natureza verdadeira. Sou realmente forte!”.



Estamos atuando de maneira similar a cada momento. Ao adquirir uma habilidade e obter conhecimento na escola ou colégio, conseguimos bom êxito por meio do esforço repetido. A princípio, o que estamos tratando de adquirir não nos é nada natural, mas uma vez dominado, então parece uma parte essencial de nós. Isto é mais certo mesmo na vida espiritual e nós temos que nos esforçar. No princípio tudo parece difícil e assim dizemos: “Qual é, na realidade, minha natureza? Talvez simplesmente eu não seja nada religioso. Talvez não esteja destinado a ser espiritual”. Confesso que houve momentos em que eu também pensei o mesmo. Cheguei a considerar certa obstrução como demasiado grande para mim e uma impossibilidade de vence-la. Então me lembro que eu não era, na realidade, o corpo e a mente, mas o espírito. Que a realização de meu ser espiritual era meu destino. Eu bem sabia que se não vencesse a obstrução, então somente estava propondo a tarefa para o futuro. Por que não atuar de imediato e acabar com isso? Posso dizer, com sinceridade, que minha boa fortuna consistiu em aferrar-me a este pensamento. Certamente, às vezes, me sentia tentado a claudicar, mas logo pensava: “Não posso escapar de meu destino espiritual. Portanto, melhor fazer agora!”.



Um grande desejo e uma grande fé são muito importantes na prática da meditação, pois sem um desejo intenso por Deus e fé nEle, a meditação se torna um esforço mediano e com resultados estéreis. Quando não se coloca interesse no que se está fazendo, se torna em uma mera formalidade e o esforço é abandonado logo.



Se vocês acreditam em um Deus pessoal, dirijam suas orações a Ele. Por “Deus pessoal” não quero dizer um Deus com corpo, mas Deus com consciência-de-si, que é nosso pai, mãe, amigo e senhor, que é o onipresente criador do universo. Ele nos escuta quando lhe oramos. Podemos nos aproximar dEle com toda a confiança, igual a quando as crianças se aproximam de seus pais. O crer em um Deus pessoal e ama-lo fará com que a meditação se torne muito fácil para vocês. Mantenham-se no pensamento dEle, cada vez mais. Façam obras para Ele. O bom êxito na vida espiritual consiste em concentrar tudo o pensamento, todo o sentimento, até a última gota de energia, em Deus.



9. Como o farão? Quando falarem, falem de Deus. Quando caminharem, vão a seu templo. Quando trabalharem manualmente, façam algo em seu servoço. Cada uma das funções do corpo e da mente, de algum modo, deve ser dirigido para Ele. Se têm que ir a um escritório em vez de a um templo, então façam de seu escritório o templo de Deus! Se seu trabalho é honrado, isto é factível. Se é desonesto, então mudem de trabalho. Se mudar significa enfrentar a fome, enfrentem-na!



Valor! É o que se necessita. Tenham sempre em mente isto: aquele que criou o mundo está por detrás dele e nunca nos deixará sofrer a fome. Se na realidade queremos a verdade e por isso estamos dispostos a descartar o errado e o falso, nunca perderemos nada por seguir a verdade. Em outras palavras, não é que as coisas acontecerão tal e como nós o desejamos, mas que acontecerão com o mínimo de sofrimento e um máximo de benefício.



Se seu trabalho é honrado vocês poderão, certamente, concebe-lo como um trabalho para Deus. Seja que se encontrem em um escritório ou que estejam desempenhando as tarefas do lar, seja qual for a natureza de seu trabalho, meditem em Deus. Ofereçam-lhe o que fizeram durante o dia, mesmo que aparentemente tenham feito ao seu patrão. Quem escreveu vinte cartas e levou a ele? Pois as levem, mas vocês fechem os olhos e ofereçam todas ao Senhor. Dessa maneira vocês darão um novo rumo a seus pensamentos. Sim, é uma maneira diferente de fazer as coisas. Poderá lhes parecer um pouco estranho, no princípio, mas façam-no de todos os modos. Pouco a pouco lhes será revelado um significado mais profundo e vocês verão que esta prática não é o que pensaram a princípio. Se tornará grandemente efetiva.



Deste modo, sempre que fizermos algo para os demais ou para nós mesmos, podemos pensar que o fazemos para o Senhor. Tudo na vida pode ser transformado, desta maneira, em atividade espiritual. Poderá fazer quem, consciente e deliberadamente, for capaz de fazer coisas diretamente para Deus. Quando afortunados são! Essa é a razão pela qual as pessoas celebram elaborados cultos religiosos. Por isso cultivam flores e as oferecem ante ao altar; por isso queimam incenso e acendem velas. Talvez vocês não gostem dessas práticas. Mas de que maneira vocês passariam as horas do dia? Não se dão conta de que o tempo e a energia são mal gastas em servir o pequeno eu? Não seria melhor oferecer a Ele o que vocês fazem? Deste sentimento proveio o ritualismo. É por este sentimento que os templos, onde as pessoas levam suas oferendas para oculto, foram construídos em todo o mundo.



Certamente não estou insistindo em que todos devam praticar o ritualismo. Cada qual fará seu culto de acordo com seu temperamento espiritual. Mas de alguma maneira terão que descobrir como trazer seus próprios pensamentos, emoções e ações para o serviço do Senhor. Quanto mais o fizerem, mais próximos estarão dEle. Então, quando se sentarem para meditar, tudo o mais será esquecido e somente Deus encherá seu coração.



10. Possivelmente vocês estão acostumados a se convencer da realidade das verdades espirituais por meio da razão. Mas contato que vocês não tenham experimentado estas verdades, permita-me lhes dizer que a maior bênção para vocês seria encontrar alguém que tivesse realizado. A prova das verdades espirituais não está na razão, na argumentação ou em qualquer outra espécie de demonstração exterior. Sua prova está na sincera convicção transmitida mediante as palavras de um homem que realizou o que expressa. Mesmo que outros possam diferir, acredito que esta é a única prova objetiva na que se pode confiar.



Se essa pessoa iluminada me dissesse: “Filho meu, você não é, na realidade, este corpo e essa mente: o espírito é sua verdadeira natureza, o imortal e eterno ser é seu verdadeiro ser. As coisas passageiras não lhe pertencem. Trate de penetrar na profundidade, trate de realizar seu verdadeiro ser”, eu me sentiria obrigado a aceitar suas palavras e a agir de acordo com elas. Ao ouvi-lo, algo em sua voz penetraria até o mais profundo de meu coração; eu não poderia resistir. Quanto eu desejaria que todos vocês pudessem encontrar alguém de cujos lábios saíssem palavras semelhantes! Então não seriam capazes de coloca-las em dúvida ou desdenha-las e a convicção sobre a verdadeira natureza de vocês e sobre a gloriosa meta aumentaria em seu interior. Talvez, por um tempo, o fracasso poderia lhes causar decepção, mas eventualmente vocês diriam: “Muito bem, tentarei de novo”. E obteriam a vitória.



Disse-lhes, agora, que é o que deveria se fazer como preparação para a meditação. Sua mente pode ser levada cada vez mais perto de Deus, ao tomar as diversas medidas que enumerei. Como conclusão, permitam-me realçar alguns pontos: desempenhem qualquer trabalho que lhes seja requerido, mas dirijam-no ao Senhor; então sua mente não será perturbada. Sejam desapegados. Identifiquem-se com a eternidade; então a meditação será muito fácil. Não permitam à sua mente que divague; de outra maneira, os pensamentos mundanos entrarão nela e a nublarão; isto nunca deve ser permitido. Antes de começar a meditar, pensem nas coisas que lhe sugeri.



Quando em sua mente não penetrar nenhuma coisa estranha, se tornará calma. Então, no templo de seu coração, começarão a ver a face radiante do Senhor. Ao meditar nela, a verão mais e mais bela e mergulhados em sua infinita beleza, esquecerão tudo o mais. Estarão, por fim, totalmente absortos n´Ele.

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