Desafios do
mundo contemporâneo: a educação num mundo de
comunicação
Nelson Pretto
Estive em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, no mes de julho de
1998. Na UNIJUI, mais de uma vêz tenho estado junto em várias
oportunidades. Tudo por conta de contatos, básicamente feitos
via a rede mundial Internet. Como não acreditamos que estas
tecnologias afastam as pessoas, destes contatos temos articulados
inumeros projetos em comum, vários deles com a presença
física, seja no Rio grande do Sul, seja na Bahia. Coisas do
mundo contemporâneo. Um mundo em veloz transformação.
Estamos chegando ao ano 2000. O ano do bug do milênio,
onde as máquinas não vão dsabe se estamos na frente ou no
passado. A humanidade vive um momento especial. O processo
histórico do desenvolvimento da ciência e da tecnologia
universalizou o homem moderno, criando condições objetivas para
que ele seja, ao mesmo tempo, universal e tribal (não-local
e local). O filósofo italiano Gianni Vattimo, em seu
livro A sociedade Transparente, já dizia que apesar de
todos os esforços de concentração das grandes corporações
transnacionais "vivemos o mundo da comunicação
generalizada, da sociedade do mass media, com uma
multiplicação de valores locais". Esta
multiplicação de valores locais impõe-nos pensar de forma
diferenciada sobre o conceito de história, uma história
unitária, com um sentido privilegiado. Ainda de acordo com
Vattimo, o fim desta concepção unitária de história, da
história com H maísculo, está ligado a impossibilidade de se
ver o passado com um único conjunto de imagens. Para
Vattimo "existem imagens do passado propostas de pontos de
vistas diversos" e "é ilusório pensar que exista um
ponto de vista supremo, globalizante, capaz de unificar todos os
outros (como seria A História, que engloba a História da Arte,
da Literatura, da Guerra, da sexualidade etc.)."
Estas transformações e desafios que estamos vivendo estão
intimamente relacionadas com o desenvolvimento das novas
tecnologias da comunicação e informação que, mais
recentemente, ganham incremento a partir do movimento de
aproximação entre as diversas indústrias (de equipamentos,
eletrônica, informática, telefone, cabos, satélites,
entretenimento e comunicação). Este movimento, que é a
condição objetiva para o aperfeiçoamento destas tecnologias,
faz com que, potencialmente, aumentem as possibilidades de
comunicação entre as pessoas. No entanto, como em todo momento
de transição, ainda convivem, neste mesmo tempo, valores deste
mundo em transformação com os valores antigos,
vinculados aos velhos paradigmas da sociedade moderna. A
concentração do capital na esfera do sistema mundial de
comunicações é um destes elementos da modernidade ainda
presente no momento atual. Esta concentração, que se dá em
direção à constituição de impérios de comunicação, gera
uma centralização na produção das imagens, das notícias e da
informação. O caso brasileiro, que vie um momento especial em
função da existência de uma grande concentração da
propriedade dos meios junto ao fato de que grande parte do
Congresso nacional ser proprietário de emissoras de Rádio e
televisão o que permite por exemplo, grande concentração na
propriedade das emissoras por poucos e poderosos.
Matéria de Elvira Lobato, publicada pelo jornal Folha de São
Paulo de 12.6.94, intitulada Oito grupos dominam as TVs no
Brasil, mostrava claramente o quanto nem mesmo a legislaçao
em vigor à época era respeitada.Isto por que "a
legislação proíbe a concentração de mercado, estabelecendo
que nenhuma entidade ou pessoa pode ter participação em mais de
dez emissoras de TV em todo o país, das quais cinco, no máximo,
devem ser VHF (identificadas pelos canais até o número
13)." As famílias que dominam a mídia barasileira sãop d
enomes bem conhecidos de todos: Roberto Marinho (Rede Globo),
Sirotsky (Rede RBS), Saad (Bandeirantes), Abravanel (SBT, grupo
Silvio Santos) e Câmara (do grupo Anhanguera, da Região
Centro-Oeste).
Paralelamente, o processo de privatização do sistema de
telefônia brasileros colocva a questão na ordem do dia da
sociedade como um todo. Isto proque, com s=um sistema
privatizado, se não tivermos uma legislaçao bastante forte na
defesa dos interesses daqueles que não tem recursos para apagar
pelo sistema, teremos um incremento considerável na parcela dos
excluídos desta sociedade de informação.
Para nós, da educação estas são quest~es fundamentais por
mais do simples tecnologias, o que estamos vendo é o de ma nova
razão, um nova forma de pensare viver, que começa a ser
gestada, baseada em um outro logos, não mais operativo,
mas que tem na globalidade e na integridade seus vetores mais
fundamentais.
As novas redes planetária de comunicação crescem de forma
quase que alucinante e, com isso, coloca-se em cheque todos os
valores de um sistema educacional ainda calcado em velhos paradigmas.
O sistema educacional precisa, portanto, assumir uma outra
postura.
Países como o Brasil, com tantos problemas sociais a serem
enfrentados, depara-se com este novo desafio: construir uma
escola que forme o jovem profissional que viverá um novo
milênio, impregnado de comunicação, num mercado de trabalho em
constante transformação.
Os jovens, que já vivem plenamente este mundo alucinado, uma
vez que convivem mais intimamente com computadores, televisão,
videogames, terminam trazendo para a escola este mundo impregnado
de imaginação, emoção, raciocínios rápidos e velozes,
introduzindo, portanto, estes nos novos elementos, mais presentes
e mais determinantes do seu universo cultural.
A escola, no entanto, ainda resiste a estas transformações
desconhecendo o universo dos jovens que a ela chegam.
Estabelece-se, entao, um verdadeiro confronto.
As dificuldades de uma compreensão mais integral do
significado deste momento histórico atinge, evidentemente, a
sociedade como um todo e a escola em particular. O que se busca
é considerá-la como parte integrante deste movimento mais
global de transformações e, para tal, uma nova postura torna-se
necessária. Muitos problemas precisam ser enfrentados para uma
empreitada deste porte. Incorporar a imaginação, a afetividade,
uma nova razão, não mais operativa e sim baseada na integridade
e na globalidade, encontra inúmeras resistências. Para Pierre
Babin, "é difícil admitir que o imaginário e a
afetividade possam, de alguma forma, influenciar a escola, a
empresa ou a organização social. Na mente dos homens que detêm
o poder cultural, qualquer expressão imaginária ou afetiva
está ligada ao prazer, à arte, à manipulação."
É difícil, portanto, imaginar que esta articulação entre o
mundo da comunicação e o mundo escolar se dê de forma fluida e
transparente. No entanto, a escola - e a educação como um todo
- não pode permanecer apenas contemplando o movimento de
transformação que está ocorrendo na sociedade como um todo.
Ela própria precisa ser repensada e integrar-se neste conjunto
de transformações.
Não se pode continuar a pensar que incorporar os novos
recursos da comunicação na educação seja uma garantia, pura e
simples, de que se está fazendo uma nova educação, uma nova
escola, para o futuro. Ao contrário, observamos que esta
incorporação vem ocorrendo, basicamente, numa perspectiva instrumental,
com uma pura e simples introdução de novos elementos - ditos
mais modernos - em velhas práticas educativas. O que
precisamos é de uma integração mais efetiva entre a educação
e a comunicação e isso só se dará se estes novos meios
estiverem presentes nas práticas educacionais como fundamento
desta nova educação. Aí sim, estes novos valores, ainda em
construção, serão presentes e integrantes desta nova escola,
agora com futuro. Assim, esta escola estaria presente e
seria participante da construção desta nova sociedade e não
permaneceria, ou como uma resistência a estes valores em
declínio ou, talvez o pior, como mera espectadora a-crítica dos
novos valores em ascensão.
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