Tema:A importância dos contos de fada na educação infantil
Maria Conceição Bacelar
Levando-se em consideração a grande importância nas dimensões, social, afetiva, histórica e pedagógica dos contos de fadas, faz-se necessário pesquisar como esses textos têm sido trabalhados, se a ideologia implícita nessas narrativas está sendo discutida com as crianças, em que medida os contos de fadas podem contribuir para as produções textuais infantis, em fim, qual a verdadeira intenção pedagógica da utilização dessa literatura infantil junto às crianças pequenas.
Os contos de fadas ensinam pouco sobre as condições de vida na moderna sociedade de massa; eles foram inventados muito antes que ela existisse. Daí surge a necessidade de um estudo aprofundado sobre a importância dos mesmos na educação infantil, visto que através deles podem-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres humanos e as soluções corretas para as situações difíceis do que com qualquer outro tipo de estória, dentro de uma compreensão infantil.
A criança deve receber ajuda para dar sentido ao seu turbilhão de sentimentos. Ela encontra este significado nos contos de fadas. Daí sua relevância social.
Todos nós em algum momento de nossas infâncias, já vivemos sob os encantos dos contos de fadas. Porém observa-se em nossa sociedade um crescente processo de banalização desses históricos. Sob o império de Walt Disney e outros, os contos, herança cultural da humanidade, têm sido deturpados, perdendo suas características originais. Nesse sentido surgiu o nosso interesse pela realização dessa pesquisa, aprofundando os conhecimentos quanto da importância dos contos de fadas, para assim recuperar e ressignificar o uso dos contos de fadas na educação infantil. Uma vez que trabalhamos um projeto de pesquisa e estágio na Educação Infantil abordando o tema.
Bruno Bettelhein (¹) (1980) um dos maiores psicólogos infantis coloca que os contos de fadas são de fundamental importância, pois enquanto diverte a criança a esclarece sobre se e favorece o desenvolvimento da sua personalidade. Oferece significados em todos os níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nem um livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança.
Nesse contexto é fundamental que o professor seja conhecedor da importância dos contos de fadas no desenvolvimento da criança para assim fazer uso pedagógico dos mesmos na educação infantil.
Investigar o uso dos contos de fadas na educação infantil engloba uma série de questões complexas. Os contos de fadas são pouco utilizados na instituição escolar e, quando são, devem servir como modelo de uma tarefa escolar. Não é contar ou não uma história de fadas o que importa, mas a forma como isto é feito e a sua finalidade em uma instituição escolar. Percebe-se que o que está em jogo no desenvolvimento dessa atividade é uma concepção de infância que permeia o discurso pedagógico. A infância institucionalizada deve moldar-se a um padrão cientificamente determinado. A emoção, a fantasia e a criatividade tanto dos alunos como dos professores devem ser normatizados e encaixados em um modelo idealizado do que se determinou como cultura e sociedade.
Transformados em tarefas escolares os contos de fadas perdem sua função lúdica e estética e impedem que as emoções sejam vivenciadas. Ao mesmo tempo, acredita-se que impulsos mais primitivos podem ser aprisionados e impedidos de se manifestarem. O que amedronta os professores quando deixam que a fantasia e emoção fluam livremente? Parece que o medo maior é de que os impulsos mais primitivos surjam e não possam ser controlados. Impulsos que eles aprendem duramente a controlar e que correm o risco de serem revividos.
Para dominar desejos insatisfeitos, os contos de fadas, desde suas origens, representam importantes formas de expressão. Como representações psíquicas, encerram os dramas pertencentes aos homens e, em uma linguagem poética, transformam nossos desejos, tornando-os aceitáveis à nossa consciência. De forma artística, os contos de fadas simbolizam fantasias infantis universais. Exercem uma importante fusão no desenvolvimento infantil e auxiliam a criança a conhecer o mundo e a se reconhecer. Os contos de fadas sempre tiveram a função de distrair e instruir, podendo ser um valioso instrumento auxiliar na educação da criança. Ao mesmo tempo em que aliviam pressões inconscientes, constroem um sistema metafórico e simbólico, podendo ser considerado um rico instrumento pedagógico.
A revolução industrial, deflagrada no século XVIII, se associa tanto o crescimento político quanto ao financeiro das cidades, com decadência paulatina do poder rural e do feudalismo remanescente desde a Idade Média. A urbanização por seu turno e faz de modo desigual, refletindo as diferenças sociais: do lado de fora localiza-se o proletariado, constituído inicialmente pelas pessoas que haviam se mudado do campo para a cidade: no coração do perímetro urbano, a burguesia, que financia, com os capitais excedentes da exploração das riquezas minerais das colônias americanas ou do comércio marítimo, as novas plantas industriais que se instalam e a tecnologia necessária ao seu florescimento.
A burguesia se consolida como classe social apoiada num patrimônio que não mais se mede em hectares, mas em cifrões. E reivindica um poder político que conquista paulatinamente, procurando evitar confrontos diretos e sangrentos, como o que ocorre na França, em 1789, mas utilizando também essa solução, quando é o caso. Entretanto, é uma camada social pacifista, em princípio. Ou , por outra, procura tornar sua violência menos visível. Para isso, incentiva instituições que trabalham em seu favor, ajudando-a a atingir metas desejadas.
A primeira dessas instituições é a família, cuja consolidação depende, em alguns casos, da interferência do Estado absolutista que, interessado em fraturar a unidade do poder feudal, ainda atuante, estimula um modo de vida mais doméstico e menos participativo publicamente. Esse padrão vem a ser qualificado como moderno e ideal, elevando-se como modelo a ser imitado por todos.
A manutenção de um estereótipo, familiar, que se estabiliza através da divisão do trabalho entre seus membros (ao pai cabendo a sustentação econômica, e a mãe a gerência da vida doméstica privada), converte-se na finalidade existencial do indivíduo. Contudo para legitimá-la, ainda foi necessário promover, em primeiro lugar, o beneficiário, maior desse esforço conjunto: a criança. A preservação da infância impõe-se enquanto valor e meta de vida; porém, como sua efetivação somente pode se dá no espaço restrito, mas eficiente da família, esta canaliza em prestigio social até então inusitado.
A criança passa a ter um novo papel na sociedade, motivando o aparecimento de objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) e nos ramos da ciência (a psicologia infantil, a pedagogia ou pediatria) de que ela é destinatária. Todavia a função que lhe cabe desempenhar é apenas de natureza simbólica, pois se trata antes de assumir uma imagem perante a sociedade, a de alvo de atenção e interesse dos adultos, que se exercem uma atividade econômica ou comunitariamente produtiva, da qual adviesse alguma importância política e reivindicatória. Como decorrência, se a faixa etária equivalente à infância o individuo que atravessa recebe uma série de atributos que o promove coletivamente, são esses mesmos fatores que o qualificam de modo negativo, pois ressaltam, em primeiro lugar, virtudes como a fragilidade, a desproteção e a dependência.
A segunda instituição convocada a colaborar para a solidificação política e ideológica da burguesia é a escola. Tendo sendo facultativa, e mesmo dispensável até o século XVIII, a escolarização converte-se aos poucos na atividade compulsória das crianças, bem como a freqüência as salas de aula, seu destino natural.
Essa obrigatoriedade se justifica como uma lógica digna de volta: postulados e fragilidade e o despreparo dos pequenos, urgia equipá-los para o enfrentamento maduro do mundo. Como a família, a escola se qualifica como espaço de mediação entre as crianças e a sociedade, o que mostra a complementaridade entre essas instituições e a neutralização do conflito possível entre elas.
Entretanto, a escola incorpora ainda outros papéis, que contribuem para reforçar sua importância, tornando-a, a partir de então, imprescindível ao quadro da vida social. É que, por força de dispositivos legais, ela passa a ser obrigatória para crianças de todos os segmentos da sociedade, e não apenas para as da burguesia. Ajuda assim a enxugar do mercado um contingente respeitável de operários mirins, ocupantes, nas fábricas, dos lugares dos adultos, isto é, dos desempregados que na situação dos subversivos ou criminosos, agitavam a ordem social sob o controle dos grupos no poder.
Numa sociedade que cresce por meio da industrialização e se moderniza em decorrência de novos recursos tecnológicos disponíveis, a literatura infantil assume, desde o começo, a condição de mercadoria. No século XVIII, aperfeiçoa-se a tipologia e expande-se a produção de livros, facultando a proliferação dos gêneros literários que, com ela, se adequam a situação recente. Por outro lado, porque a literatura infantil trabalha sobre a língua escrita, ela depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem estas passadas pelo crivo da escola.
Os laços entre a literatura e a escola começam desde este ponto: a habilitação da criança para o consumo de obras impressas. Isto aciona um circuito que coloca a literatura, de um lado, como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo que se impõe aos poucos; e, de outro, como caudatária da ação da escola, a quem cabe promover e estimular como condição de viabilizar sua própria circulação.
Como podemos perceber, os primórdios da literatura infantil são marcados pela intenção de formar a criança, de ensinar comportamentos e atitudes e de sedimentar uma ideologia. Durante muito tempo, as obras infantis serviram principalmente a esse propósito e só aos poucos deixaram de lado o pedagogismo e o moralismo para conquistar seu status artístico.
A aproximação entre a instituição e o gênero não é fortuita. Sintoma disto é que os primeiros textos para crianças são escritos por pedagogos e professoras, com marcante intuito educativo. Fica evidenciado a estrita ligação da literatura infantil com a pedagogia, quando vemos, em toda a Europa, a importância que assumem os grandes educadores da época, na criação de uma literatura para crianças e jovens. Suas intenções eram fundamentalmente formativas e informativas, até enciclopédicas. Bons exemplos disso são as obras de Comenius, Basedow, Campe, Fénelon entre outros. E, até hoje, a literatura infantil permanece como uma colônia da pedagogia, o que lhe causa grandes prejuízos: não é aceita como arte, por ter uma finalidade pragmática; e a presença deste objeto didático faz com que ela participe de uma atividade comprometida com a dominação da criança.
São estes fatos que tornam problemáticas as relações entre literatura e educação. De um lado, o vínculo de ordem prática prejudica a recepção de obras: o jovem não quer ser ensinado por meio da arte literária; e a crítica desprestigia globalmente a produção destinada aos pequenos, antecipando a intenção pedagógica, sem avaliar os casos específicos. De outro, a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um importante setor para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada. Revela-se imprescindível e vital um redimensionamento de tais relações de modo a transformá-las eventualmente no ponto de partida para um novo e saudável diálogo entre o livro e seu destinatário mirim.
Vulgarmente a expressão “literatura infantil” sugere de imediato a idéia de belos livros coloridos destinados a distração e o prazer das crianças em lê-los ou ouvir suas histórias contadas por alguém. Devido a essa função básica, até bem pouco tempo, a literatura infantil foi minimizada como criação literária e tratada pela cultura oficial como um gênero menor.
No final da antiga década de 60 a produção infantil brasileira começou a trilhar um novo caminho, ainda que a renovação só se concretizasse efetivamente na década seguinte. Aos anos 60 iniciaram de forma culturalmente promissora, mas a revolução militar acabou reprimindo os segmentos da sociedade que, de alguma maneira, criavam produtos culturais que pusessem em risco ou questionassem o regime totalitário implantado. Diante da repressão, inúmeros escritores, e especialmente os livros infantis, recorreram à linguagem figurada como forma de exprimir o que não era permitido. Surgiram daí obras de grande criatividade no uso de metáforas e símbolos. Algumas, no entanto, por caminhos diversos das propostas pedagógicas que povoaram o início da literatura infantil no Brasil, também serviram a um fim que não era o de oferecer um texto literariamente adequado a criança. Foram obras que cumpriram o papel de canal por onde as vozes adultas, tolhidas, expressaram os não ditos da sociedade de então.
A partir dos anos 70, com a reforma do ensino, que abriu as portas da escola a todas as camadas da população (pelo menos em tese), eliminando os exames seletivos, o livro passou a ser privilegiado, e a criança, a ser vista como um consumidor em potencial, o que impulsionou publicações de obras infantis. Junto a edições de qualidade gráfica e estética, que propiciaram uma reorganização, pela criança, de suas precepções do mundo e das próprias experiências existenciais, surgiram obras que não tinham compromisso com o leitor infantil; pecaram pelo pedagogismo, pela imbecilização da infância ou pela incapacidade de promover a identificação da criança com as propostas ali contidas.
Na década de 80, quando a abertura política já estava em andamento, a escolarização espalhou-se pelo país, e a cultura letrada atingiu um público maior, apoiado pelos meios de comunicação. Porém em vez de servir preferencialmente a emancipação (Bordine, 1998), virou produto de consumo e perdeu seu sentido crítico. Houve uma explosão de publicações, e a produção de livros infantis tornou-se mais especializada, com ênfase em temas modernos e, em alguns casos, as denúncias sociais. Dependente das oscilações de moda e gosto, a literatura infantil, como bem de consumo, viu-se presa à constante apresentação de novidades, o que muitas vezes, enfraqueceu sua qualidade.
Esse quadro de larga produção de textos infantis pela industria editorial mantém-se com toda a força nos dias de hoje, fazendo com que seja necessário um olhar atento sobre a qualidade estético - literário das obras. Ao lado de escritores preocupados com a lerda comercialização dos livros da criança, é possível encontrar autores que se propõem representar o universo da infância, produzir, enfim, textos que propiciem uma expansão dos horizontes e das expectativas do leitor-mirim.
Dessa forma, a literatura infantil, a exemplo de outras modalidades de arte, lida com a compreensão do real e pode conceder ao pequeno leitor a possibilidade de suas capacidades efetivas e intelectuais, desde que bem adaptados às condições da criança. Quando se compromete com as necessidades e os interesses de seu destinatário, o texto infantil transforma-se num meio de acesso à realidade e facilita a ordenação das experiências existenciais do sujeito.
Neste sentido, a presença de elementos mágicos e o recurso a fantasia tem sido procedimentos recorrentes na literatura infantil para conquistar o leitor. Assinalamos que tal uso remota aos contos de fadas encontra-se vivo nas mais variadas produções para a criança na atualidade. Mudaram leitores, hábitos e gostos, mas a fantasia continua sendo um ingrediente precioso na sedução ao leitor. Para compreendermos sua importância na literatura infantil, precisamos retomar seu papel no gênero que a consagrou: os contos de fadas.
fonte; http://projetodemonografia.blogspot.com.br/2009/05/apresentacao-de-projeto-de-monografia.html
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