ANALFABETISMO FUNCIONAL ATINGE ENSINO SUPERIOR
Sílvia GusmãoDados do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), divulgados pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa, apontam que 38% dos universitários brasileiros são considerados analfabetos funcionais — ou seja, são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar e associar informações. Isso comprova que, apesar do aumento da escolarização da população, isso não se refletiu em maior preparo. Em outras palavras, a expansão do Ensino Superior com oferta de programas de incentivo não tem garantido ensino de qualidade.
Paralelamente a essa expansão, houve um boom no ingresso da população em instituições de Ensino Superior, tendo como força motriz a expectativa de melhorar a renda e de se chegar à estabilidade. De fato, pesquisas recentes comprovam que a educação teve papel essencial na queda da desigualdade social e no crescimento da classe média no País. Para estudiosos do tema, o que demarca fundamentalmente a classe social à qual o brasileiro pertence, até mais do que o poder aquisitivo, é a escolaridade. Estudos apontam também que 40% da redução da desigualdade no mercado de trabalho na década passada é resultado do avanço da escolaridade entre os mais pobres. Segundo o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), na mesma década, foi essa parcela da sociedade que, em termos proporcionais, obteve maior aumento na renda, resultando em uma mudança de classe econômica decorrente mais em função da melhoria da escolaridade do que por benefício de programas sociais.
Apesar desse avanço de classe econômica, os programas de incentivo que, através do financiamento público, permitem a ocupação de vagas em instituições privadas não têm garantido uma formação de qualidade, como mostram os dados do Inaf. Esse tipo de ação para expandir o Ensino Superior apenas estimulou a proliferação desordenada de faculdades muito mais compromissadas em seduzir alunos pela possibilidade de ascender socialmente através do diploma superior do que em proporcionar a eles uma boa preparação. Agora é possível perceber o resultado: a intensa mercantilização do Ensino Superior brasileiro e a qualificação majoritariamente insuficiente dos profissionais.
O ensino superior é de baixa qualidade no Brasil?
Olha eu aqui novamente escrevendo sobre educação.
A ideia desse texto surgiu de conversas com uma amiga virtual que pediu para não ter seu nome citado. Ela foi muito crítica e concordo em grande parte com ela.
Ela fala com conhecimento de causa, é pedagoga, pós-graduada em RH e estudante de psicologia. Atua como professora da rede estadual e municipal de ensino, ou seja, conhece a necessidade na prática. Já eu, para quem não sabe, sou administrador do controle acadêmico de uma Universidade Federal e apesar de não trabalhar diretamente com projetos pedagógicos, acabo me familiarizando um pouco com eles, afinal trabalho com mais de uma dezena de pedagogos responsáveis por eles.
O que escrevo abaixo é minha visão particular sobre a qualidade do ensino superior no Brasil.
Qualidade dos professores
Em termos curriculares os professores são bem qualificados. Possuem em geral mestrado e doutorado. Os problemas são três:
1) falta de habilidade didática. Saber é uma coisa, saber transmitir o que se sabe é outra coisa completamente diferente;
2) não gostar do ensino. Muitos professores não gostam de ensinar, gostam de pesquisar e ensinam por obrigação contratual. Tudo que é feito por obrigação tem qualidade duvidosa;
3) falta de visão da necessidade prática. A teoria na prática é sempre outra, o que é ensinado em sala de aula é muito diferente da encontrada no mercado de trabalho, ambos os mundos devem se aproximar.
Projetos pedagógicos
Quem define o conteúdo pedagógico de um curso, em geral, não trabalha na área; é apenas um teórico acadêmico. Conteúdos fundamentais são ignorados. A necessidade do mercado de trabalho é bem diferente do que é ensinado aos estudantes. Empresas deveriam ser consultadas para se conhecer o conhecimento que esperam de seus futuros profissionais.
Cursos técnicos têm formado melhores profissionais que universidades.
Grande número de escolas
O número de universidades e faculdades cresceu absurdamente nos últimos anos. Essas escolas têm que captar cada vez mais alunos para manterem suas estruturas através da mensalidade paga por eles. O problema é que a seleção dos alunos é para inglês ver. O vestibular existe apenas para cumprir as obrigações legais do MEC, na verdade quem presta passa.
O calouro não tem base nenhuma. Não aprendeu nada no ensino médio.
Com a progressão continuada ninguém repete o ano, e o cidadão recebe um diploma de ensino médio sem saber nada.
Aí ele começa o ensino superior e os professores tem que usar as aulas iniciais para revisar conteúdos que deveriam ter sidos aprendidos na fase anterior, faltando tempo para aprenderem o que foi proposto. E se o professor não revisar e quiser enfiar o conteúdo proposto guelá abaixo nos alunos ele irá reprovar 100% da sala. Aí, o diretor da universidade irá chamar o professor e falar algo do tipo: pega leve, caso contrário perderemos nossos alunos. O professor pensa: a escola perderá os alunos e eu meu emprego. Sendo assim, tudo é aliviado e mais uma vez os alunos terminam outra etapa, agora o ensino superior, sem base sólida alguma.
Ampliação de vagas nas Federais
Outro problema que vejo, este vejo de perto, é a grande ampliação através do REUNI no número de vagas em universidades federais. Com mais vagas a tendência é ficar mais fácil o acesso à universidade e a qualidade do ensino cair. Neste início os professores não aliviam e reprovam muita gente, mas até quando farão isso? Acredito que a tendência será o equilíbrio e consequentemente a redução da cobrança por parte dos professores para diminuir o volume de reprovações.
Os alunos
Os estudantes de hoje estão cada vez mais dependentes. Querem tudo nas mãos. Lembro-me que no meu tempo de ensino fundamental e médio tinha que ir a biblioteca, fazer mapa do Brasil em papel vegetal, ler livros durante o ano e apresentar seminários. Estudei em escola pública todos os anos.
Hoje os alunos não leem e não escrevem, usam a Internet para pesquisar CTRL C; CTRC V, não sabem se comunicar e dependem dos pais para tudo. Alunos de nível superior vão acompanhado dos pais e são eles que argumentam em favor do aluno. E quando pergunto: Quem é o aluno, o Sr. ou ele? ainda acham ruim.
Em resumo, muitos alunos são imaturos, mimados e não sabem resolver seus problemas sozinhos. Pior, não sabem conversar. Talvez via MSN?
Já escrevi muito, chega!
Ainda existem outros problemas, mas fico por aqui. Fique a vontade para discordar e criticar minhas ideias. Os comentários estão abertos e são bem-vindos.
Olavo de Carvalho
Aula do curso Introdução à Vida Intelectual
Setembro de 1987. Reproduzida sem alterações.
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