O DIVÓRCIO E SEUS EFEITOS
SOBRE O COMPORTAMENTO DA CRIANÇA
Ana Cristina de Sousa
Freires
Sumário
O objetivo deste trabalho
foi pesquisar sobre possíveis consequências emocionais e físicas em crianças
com histórico de divórcio na família. Utilizou-se o método de Revisão
Literatura científica. O divórcio é uma questão difícil para toda a família e
afeta diretamente os filhos, podendo ou não gerar problemas emocionais e
físicos. Conclui-se que o comportamento da criança após o divórcio depende de
como ocorreu a separação e se houve acompanhamento e apoio a mesma.
Palavras-chave: Divórcio,
Comportamento, Criança.
INTRODUÇÃO
Os conflitos conjugais são
diretamente associados ao comportamento dos filhos. Os efeitos negativos são
muitos, principalmente quando ocorre o divórcio, onde cada criança se adapta de
maneira única, mostrando através de suas ações a não aceitação do ocorrido
(NUNES-COSTA, 2009).
Juras (2011) explica que o
divórcio não apenas traz fatores negativos para os filhos como também para os
pais, que tem dificuldade de observar a realidade dos filhos e de se relacionar
com os mesmos transmitindo a eles insegurança, estresse, desconfiança e medo da
aproximação o que afeta diretamente o desenvolvimento da criança.
Observa-se que há grandes
diferenças entre crianças de pais casados e crianças de pais separados quanto
ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social, pois quando a família é
estável as crianças crescem com maior afetividade parental, proximidade
emocional e menos situações estressantes (RAPOSO, 2011)
Estudos revelam que os pais
que apresentam maior frequência de conflitos, tem filhos que se tornam mais
agressivos verbalmente, que não conseguem resolver os próprios problemas e com
maior índice de problemas físicos e cognitivos (MOSMANN, 2011).
Apesar de a separação ser um
marco na vida da criança, pois rompe com todo o conhecimento do que é a
família, ela nem sempre é um marco negativo pois se a criança for ensinada a
lidar com a crise há um desenvolvimento psicológico construtivo (EYMANN, 2009).
Com a alta dos divórcios, o
professor encontra com frequência alunos cujos pais são separados ou enfrentam
crises conjugais. O maior problema a ser enfrentado é o comportamento variado
da criança que pode-se apresentar revoltosa, agressiva ou quieta, solitária e
melancólica pela ausência de ambos os pais (BRITO, 2007).
A falta dos pais na vida
diária dos filhos por falta de tempo ou interesse na educação dos mesmos faz
com que estes busquem o cuidado de terceiros para desempenhar esse papel e a
escola é a principal escolha (LEVY; JONATHAN, 2010).
Segundo Levy e Jonathan
(2010) o ambiente, como um todo, em que a criança é criada, deve ser adaptado
da forma que esta se sinta protegida e estabeleça o sentimento de confiança
para que assim tenha o crescimento e desenvolvimento físico e psíquico
necessário se tornando um ente sociável.
Compreendendo a relevância e
o grande crescimento que há dos divórcios e conflitos conjugais achou-se
necessária uma revisão bibliográfica sobre o assunto com o objetivo de acrescentar
conhecimento para saber lidar com as crianças que trazem tais conflitos para o
ambiente escolar.
TÓPICOS
Comportamento da Criança
Após a Separação dos Pais
O comportamento da criança é
afetado quando esta passa por mudanças. A separação dos pais é uma situação de
mudança, pois resulta em estresse e conflitos na qualidade de vida da família
em geral. Após lidos diversos artigos podemos pontuar algumas mudanças no
comportamento das crianças que vivenciam o divórcio dos pais, sendo essas:
baixa-autoestima, estresse, personalidade agressiva ou depressiva o que resulta
no baixo rendimento escolar e dificuldades de relacionamento (BENETTI, 2006).
É importante atentar que
cada indivíduo tem sua maneira de lidar com a situação do divórcio e que tudo
depende da forma que ocorre os fatos, se a criança presencia atitudes de
agressividade e vive em um ambiente estressante durante a separação é provável
que esta tenha este comportamento também (EYMANN, 2009).
Como Lidar com o Divórcio na
Escola
Com o aumento do índice de
famílias cujo os pais são separados os professores devem se preparar para
receberem alunos com problemas emocionais e de comportamento, por isso é
necessário que estes profissionais tenham a consciência de que precisam ser
mais pacientes, compreensivos porém firmes sempre mostrando sua autoridade
(NUNES-COSTA, 2009)
É importante que esses
alunos sejam acompanhados com profissionais preparados como psicólogos,
psicopedagogos, para que não se coloquem como responsáveis pela separação dos
pais ou mudem seu comportamento de forma que o vá prejudicar como ser humano
sociável (BENETTI, 2006).
DISCUSSÃO
O divórcio no Brasil tem
crescido de forma assustadora, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), só em 2011 houve um aumento de 47,6% de
separações, cerca de 351 mil casamentos foram anulados (G1, 2012). É visível a
prevalência da dissolução do vínculo conjugal na atualidade, o que diversas
vezes não envolve apenas o casal como também os filhos.
Eymann et al (2009), após um
estudo realizado em um hospital com mães que levavam seus filhos para consultas
de rotina, comprovou que a separação afeta negativamente a qualidade de vida
das crianças, pois estas relataram a diminuição do tempo passado com os pais,
papel social limitado devido a baixa autoestima e aspectos emocionais e
comportamentais diferenciados daquelas que possuem pais casados.
Um dos grandes problemas que
abalam a saúde emocional da criança é a ausência de um dos progenitores, sendo
em sua maioria o pai, pois a mãe geralmente tem a guarda dos filhos, o que leva
a outro resultado relatado por Eymann et al (2009), os meninos são
psicossocialmente mais abalados do que as meninas.
Segundo Adário (2012), as
reações comportamentais variam com a idade da criança. Uma criança com idade
pré-escolar irá chorar mais, ficará mais sensível, voltará a repetir atos de
quando era menor como chupar o dedo e apresentará quadros de culpa, como se ela
mesma fosse a causa da separação. Já crianças em idade escolar procuram
atribuir a culpa a um dos pais, não querendo muitas vezes se encontrar com o
outro progenitor o que atribui mudança de comportamento afetando diretamente
seu comportamento na escola. Os adolescentes conseguem entender os fatos, mas
isso não os impede de apresentar problemas na escola e de comportamento rebelde
em casa.
O problema não é o divórcio
em si, mas sim os conflitos que o geraram e que podem continuar mesmo após o
término do casamento, essas desavenças tem diferentes níveis de intensidade,
frequência, conteúdo e resolução. Sabe-se que crianças expostas a situações de
conflitos estressantes tendem a ser ansiosas, estressadas, agressivas ou
depressivas (BENETTI, 2006).
Quanto ao desenvolvimento
físico da criança e possíveis problemas ocasionados pela separação dos pais,
não há comprovação de que estas não se desenvolvam adequadamente ou tenham
problemas de saúde com mais frequência que outras com pais casados. Porém os
conflitos familiares podem sim afetar a saúde, pois o estresse ou melancolia
gerado por brigas, agressões tanto físicas como verbais diminui
significativamente o sistema imunológico podendo assim gerar doenças
(NUNES-COSTA, 2009).
As situações de tensão nem
sempre ocorrem no contexto da separação conjugal, podendo até mesmo não
ocorrer, e nesses casos as crianças não apresentam problemas emocionais tão
graves como no caso de filhos que são expostos a situações de conflitos
intensos (BRITO, 2007).
Adário (2012) explica que
para evitar que as emoções negativas tenham grande impacto na criança é
necessário que haja cautela na forma que os pais comunicam o divórcio para os
filhos e na forma que eles se relacionam entre si e com os filhos após a separação.
Martins (2010) em uma
pesquisa realizada com 13 alunos de pais divorciados e 14 de famílias intactas
relatou que os problemas de atenção, comportamento delinquente e comportamento
agressivo são bem mais frequentes em crianças cujo os pais são separados, já
quanto aos problemas de pensamento, isolamento e a ansiedade e depressão não
houve grandes diferenças de números nos dois grupos.
Nunes-Costa (2009) aponta
que na escola o professor pode se deparar com alunos desmotivados, com
rendimento escolar menor que os demais, problemas de concentração e menor
responsabilidade, pois os pais se tornam menos envolvidos nas atividades
escolares dos filhos.
Levy e Jonathan (2010)
relatam que as consequências de um divórcio para uma criança vão depender dos
fatores que levaram a essa separação, se ela foi ou não exposta a conflitos
conjugais que envolveram agressões (verbais ou físicas), se há o acompanhamento
de ambos os pais no desenvolvimento e crescimento desta, se há um apoio
profissional (professor, psicólogo, orientador) e como ela se vê perante a
situação.
Benetti (2006) afirma que o
acompanhamento de um profissional capacitado junto aos pais e os filhos pode
amenizar os efeitos dessa ruptura familiar, ajudando os pais a lidar com a nova
estrutura da família e mostrando à criança a sua importância independente do
estado conjugal dos pais.
Pesquisas comprovam que um
divórcio assistido não traz complicações emocionais e físicas marcantes para os
filhos, mas vai sim trazer alguma mudança de comportamento, pois uma separação
nunca é fácil, o que não significa que essa mudança de comportamento seja para
pior (LEVY; JONATHAN, 2010).
Durante e após o divórcio é
necessário que os pais procurem ajudar a criança, conversando com ela e ouvindo
o que a mesma tem a dizer, comunicando a escola da separação, evitando brigas e
conflitos na frente da criança, não mudando a rotina bruscamente, mantendo o
contato com ambos os pais, não recriminando o outro progenitor fazendo-a tomar
partido e evitar métodos de compensação para manter o equilíbrio entre afeto e
autoridade (ADÁRIO, 2012).
Os pais devem ter a
percepção de que o controle emocional da criança determina a experiência que
ela vai obter do conflito vivenciado, ou seja, se ela será capaz de controlar
seu emocional frente a esse conflito não se prejudicando posteriormente
(BENETTI, 2006).
Brito (2007) notou que
muitos dos pais divorciados não abordam o assunto da separação com os filhos
mesmo após anos do ocorrido e os filhos se encontram em uma situação de
incompreensão dos fatos e sentindo-se desprotegidos e por isso acabam não
aceitando facilmente a separação dos pais.
Outro problema encontrado
por Brito (2007) em sua pesquisa qualitativa foi que muitos dos filhos acabam
se tornando cuidadores dos pais, ocorrendo a inversão de papéis, onde o
progenitor que tem a sua guarda está tão emocionalmente abalado após o divórcio
que a criança/adolescente é que se torna responsável pelo pai, e esta não tem
em quem se apoiar.
O divórcio é uma situação
difícil para toda a família, os pais tem que enfrentar os seus problemas
adicionando ainda os dos filhos, o que acarreta uma sobrecarga de emoções
principalmente para o progenitor que fica com a guarda da criança e é nesse
momento que há a transferência do papel de cuidador para o educador (NUNES-COSTA,
2009).
O professor é uma figura de
grande valor no desenvolvimento da criança e por isso é necessário que ele
saiba lidar com a história do aluno e o auxilie quanto a questão da autoestima,
aceitação e vida em sociedade, estimulando a autoaceitação do aluno indiferente
a situação dos pais e o encaminhando se necessário a um especialista, como o
psicopedagogo.
É papel do psicopedagogo ser
um mediador entre os ensinos da pedagogia e psicologia, dando apoio a criança,
a família e a escola. A Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o
processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes e por isso se faz
tão necessária quando se fala de problemas como o divórcio (NASCIMENTO, 2013).
Quando a criança apresenta
dificuldades de aprendizagem relacionadas às questões emocionais, o
psicopedagogo pode atuar junto á família para remover os obstáculos que estão
entre a criança e seu conhecimento e também orientar aos pais a necessidade de
procurar, se necessário, outros profissionais das áreas psicológicas
(NASCIMENTO, 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão de literatura
feita neste trabalho comprovou que o divórcio é uma questão difícil para toda a
família e afeta diretamente os filhos, podendo ou não gerar problemas
emocionais e físicos nestes por serem expostos a conflitos conjugais, pela
ausência de um dos progenitores ou por não terem um acompanhamento profissional
que lhes auxilie na percepção dessa ruptura.
Destaca-se que a separação
em si não é o problema e sim como a criança visualiza essa ruptura familiar,
podendo se sentir um dos fatores que levaram ao divórcio.
Conclui-se que é necessário
acompanhamento profissional com a família que passa por tal situação onde os
pais percebam a importância da presença na vida dos filhos e como a relação
entre eles os afetam e para que as crianças possam se adaptar a uma nova vida
sem problemas que prejudiquem seu desenvolvimento emocional e cognitivo.
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Publicado em 11/08/2014
12:52:00
Currículo(s) do(s) autor(es)
Ana Cristina de Sousa
Freires - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Pedagoga e
Psicopedagoga, Centro Universitário Adventista de São Paulo- UNASP.
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