quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O DIVÓRCIO E SEUS EFEITOS SOBRE O COMPORTAMENTO DA CRIANÇA



O DIVÓRCIO E SEUS EFEITOS SOBRE O COMPORTAMENTO DA CRIANÇA

Ana Cristina de Sousa Freires

Sumário
O objetivo deste trabalho foi pesquisar sobre possíveis consequências emocionais e físicas em crianças com histórico de divórcio na família. Utilizou-se o método de Revisão Literatura científica. O divórcio é uma questão difícil para toda a família e afeta diretamente os filhos, podendo ou não gerar problemas emocionais e físicos. Conclui-se que o comportamento da criança após o divórcio depende de como ocorreu a separação e se houve acompanhamento e apoio a mesma.

Palavras-chave: Divórcio, Comportamento, Criança.

INTRODUÇÃO
Os conflitos conjugais são diretamente associados ao comportamento dos filhos. Os efeitos negativos são muitos, principalmente quando ocorre o divórcio, onde cada criança se adapta de maneira única, mostrando através de suas ações a não aceitação do ocorrido (NUNES-COSTA, 2009).
Juras (2011) explica que o divórcio não apenas traz fatores negativos para os filhos como também para os pais, que tem dificuldade de observar a realidade dos filhos e de se relacionar com os mesmos transmitindo a eles insegurança, estresse, desconfiança e medo da aproximação o que afeta diretamente o desenvolvimento da criança.
Observa-se que há grandes diferenças entre crianças de pais casados e crianças de pais separados quanto ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social, pois quando a família é estável as crianças crescem com maior afetividade parental, proximidade emocional e menos situações estressantes (RAPOSO, 2011)
Estudos revelam que os pais que apresentam maior frequência de conflitos, tem filhos que se tornam mais agressivos verbalmente, que não conseguem resolver os próprios problemas e com maior índice de problemas físicos e cognitivos (MOSMANN, 2011).
Apesar de a separação ser um marco na vida da criança, pois rompe com todo o conhecimento do que é a família, ela nem sempre é um marco negativo pois se a criança for ensinada a lidar com a crise há um desenvolvimento psicológico construtivo (EYMANN, 2009).
Com a alta dos divórcios, o professor encontra com frequência alunos cujos pais são separados ou enfrentam crises conjugais. O maior problema a ser enfrentado é o comportamento variado da criança que pode-se apresentar revoltosa, agressiva ou quieta, solitária e melancólica pela ausência de ambos os pais (BRITO, 2007).
A falta dos pais na vida diária dos filhos por falta de tempo ou interesse na educação dos mesmos faz com que estes busquem o cuidado de terceiros para desempenhar esse papel e a escola é a principal escolha (LEVY; JONATHAN, 2010).
Segundo Levy e Jonathan (2010) o ambiente, como um todo, em que a criança é criada, deve ser adaptado da forma que esta se sinta protegida e estabeleça o sentimento de confiança para que assim tenha o crescimento e desenvolvimento físico e psíquico necessário se tornando um ente sociável.
Compreendendo a relevância e o grande crescimento que há dos divórcios e conflitos conjugais achou-se necessária uma revisão bibliográfica sobre o assunto com o objetivo de acrescentar conhecimento para saber lidar com as crianças que trazem tais conflitos para o ambiente escolar.

TÓPICOS
Comportamento da Criança Após a Separação dos Pais
O comportamento da criança é afetado quando esta passa por mudanças. A separação dos pais é uma situação de mudança, pois resulta em estresse e conflitos na qualidade de vida da família em geral. Após lidos diversos artigos podemos pontuar algumas mudanças no comportamento das crianças que vivenciam o divórcio dos pais, sendo essas: baixa-autoestima, estresse, personalidade agressiva ou depressiva o que resulta no baixo rendimento escolar e dificuldades de relacionamento (BENETTI, 2006).
É importante atentar que cada indivíduo tem sua maneira de lidar com a situação do divórcio e que tudo depende da forma que ocorre os fatos, se a criança presencia atitudes de agressividade e vive em um ambiente estressante durante a separação é provável que esta tenha este comportamento também (EYMANN, 2009).

Como Lidar com o Divórcio na Escola
Com o aumento do índice de famílias cujo os pais são separados os professores devem se preparar para receberem alunos com problemas emocionais e de comportamento, por isso é necessário que estes profissionais tenham a consciência de que precisam ser mais pacientes, compreensivos porém firmes sempre mostrando sua autoridade (NUNES-COSTA, 2009)
É importante que esses alunos sejam acompanhados com profissionais preparados como psicólogos, psicopedagogos, para que não se coloquem como responsáveis pela separação dos pais ou mudem seu comportamento de forma que o vá prejudicar como ser humano sociável (BENETTI, 2006).

DISCUSSÃO
O divórcio no Brasil tem crescido de forma assustadora, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só em 2011 houve um aumento de 47,6% de separações, cerca de 351 mil casamentos foram anulados (G1, 2012). É visível a prevalência da dissolução do vínculo conjugal na atualidade, o que diversas vezes não envolve apenas o casal como também os filhos.
Eymann et al (2009), após um estudo realizado em um hospital com mães que levavam seus filhos para consultas de rotina, comprovou que a separação afeta negativamente a qualidade de vida das crianças, pois estas relataram a diminuição do tempo passado com os pais, papel social limitado devido a baixa autoestima e aspectos emocionais e comportamentais diferenciados daquelas que possuem pais casados.
Um dos grandes problemas que abalam a saúde emocional da criança é a ausência de um dos progenitores, sendo em sua maioria o pai, pois a mãe geralmente tem a guarda dos filhos, o que leva a outro resultado relatado por Eymann et al (2009), os meninos são psicossocialmente mais abalados do que as meninas.
Segundo Adário (2012), as reações comportamentais variam com a idade da criança. Uma criança com idade pré-escolar irá chorar mais, ficará mais sensível, voltará a repetir atos de quando era menor como chupar o dedo e apresentará quadros de culpa, como se ela mesma fosse a causa da separação. Já crianças em idade escolar procuram atribuir a culpa a um dos pais, não querendo muitas vezes se encontrar com o outro progenitor o que atribui mudança de comportamento afetando diretamente seu comportamento na escola. Os adolescentes conseguem entender os fatos, mas isso não os impede de apresentar problemas na escola e de comportamento rebelde em casa.
O problema não é o divórcio em si, mas sim os conflitos que o geraram e que podem continuar mesmo após o término do casamento, essas desavenças tem diferentes níveis de intensidade, frequência, conteúdo e resolução. Sabe-se que crianças expostas a situações de conflitos estressantes tendem a ser ansiosas, estressadas, agressivas ou depressivas (BENETTI, 2006).
Quanto ao desenvolvimento físico da criança e possíveis problemas ocasionados pela separação dos pais, não há comprovação de que estas não se desenvolvam adequadamente ou tenham problemas de saúde com mais frequência que outras com pais casados. Porém os conflitos familiares podem sim afetar a saúde, pois o estresse ou melancolia gerado por brigas, agressões tanto físicas como verbais diminui significativamente o sistema imunológico podendo assim gerar doenças (NUNES-COSTA, 2009).
As situações de tensão nem sempre ocorrem no contexto da separação conjugal, podendo até mesmo não ocorrer, e nesses casos as crianças não apresentam problemas emocionais tão graves como no caso de filhos que são expostos a situações de conflitos intensos (BRITO, 2007).
Adário (2012) explica que para evitar que as emoções negativas tenham grande impacto na criança é necessário que haja cautela na forma que os pais comunicam o divórcio para os filhos e na forma que eles se relacionam entre si e com os filhos após a separação.
Martins (2010) em uma pesquisa realizada com 13 alunos de pais divorciados e 14 de famílias intactas relatou que os problemas de atenção, comportamento delinquente e comportamento agressivo são bem mais frequentes em crianças cujo os pais são separados, já quanto aos problemas de pensamento, isolamento e a ansiedade e depressão não houve grandes diferenças de números nos dois grupos.
Nunes-Costa (2009) aponta que na escola o professor pode se deparar com alunos desmotivados, com rendimento escolar menor que os demais, problemas de concentração e menor responsabilidade, pois os pais se tornam menos envolvidos nas atividades escolares dos filhos.
Levy e Jonathan (2010) relatam que as consequências de um divórcio para uma criança vão depender dos fatores que levaram a essa separação, se ela foi ou não exposta a conflitos conjugais que envolveram agressões (verbais ou físicas), se há o acompanhamento de ambos os pais no desenvolvimento e crescimento desta, se há um apoio profissional (professor, psicólogo, orientador) e como ela se vê perante a situação.
Benetti (2006) afirma que o acompanhamento de um profissional capacitado junto aos pais e os filhos pode amenizar os efeitos dessa ruptura familiar, ajudando os pais a lidar com a nova estrutura da família e mostrando à criança a sua importância independente do estado conjugal dos pais.
Pesquisas comprovam que um divórcio assistido não traz complicações emocionais e físicas marcantes para os filhos, mas vai sim trazer alguma mudança de comportamento, pois uma separação nunca é fácil, o que não significa que essa mudança de comportamento seja para pior (LEVY; JONATHAN, 2010).
Durante e após o divórcio é necessário que os pais procurem ajudar a criança, conversando com ela e ouvindo o que a mesma tem a dizer, comunicando a escola da separação, evitando brigas e conflitos na frente da criança, não mudando a rotina bruscamente, mantendo o contato com ambos os pais, não recriminando o outro progenitor fazendo-a tomar partido e evitar métodos de compensação para manter o equilíbrio entre afeto e autoridade (ADÁRIO, 2012).
Os pais devem ter a percepção de que o controle emocional da criança determina a experiência que ela vai obter do conflito vivenciado, ou seja, se ela será capaz de controlar seu emocional frente a esse conflito não se prejudicando posteriormente (BENETTI, 2006).
Brito (2007) notou que muitos dos pais divorciados não abordam o assunto da separação com os filhos mesmo após anos do ocorrido e os filhos se encontram em uma situação de incompreensão dos fatos e sentindo-se desprotegidos e por isso acabam não aceitando facilmente a separação dos pais.
Outro problema encontrado por Brito (2007) em sua pesquisa qualitativa foi que muitos dos filhos acabam se tornando cuidadores dos pais, ocorrendo a inversão de papéis, onde o progenitor que tem a sua guarda está tão emocionalmente abalado após o divórcio que a criança/adolescente é que se torna responsável pelo pai, e esta não tem em quem se apoiar.
O divórcio é uma situação difícil para toda a família, os pais tem que enfrentar os seus problemas adicionando ainda os dos filhos, o que acarreta uma sobrecarga de emoções principalmente para o progenitor que fica com a guarda da criança e é nesse momento que há a transferência do papel de cuidador para o educador (NUNES-COSTA, 2009).
O professor é uma figura de grande valor no desenvolvimento da criança e por isso é necessário que ele saiba lidar com a história do aluno e o auxilie quanto a questão da autoestima, aceitação e vida em sociedade, estimulando a autoaceitação do aluno indiferente a situação dos pais e o encaminhando se necessário a um especialista, como o psicopedagogo.
É papel do psicopedagogo ser um mediador entre os ensinos da pedagogia e psicologia, dando apoio a criança, a família e a escola. A Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes e por isso se faz tão necessária quando se fala de problemas como o divórcio (NASCIMENTO, 2013).
Quando a criança apresenta dificuldades de aprendizagem relacionadas às questões emocionais, o psicopedagogo pode atuar junto á família para remover os obstáculos que estão entre a criança e seu conhecimento e também orientar aos pais a necessidade de procurar, se necessário, outros profissionais das áreas psicológicas (NASCIMENTO, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão de literatura feita neste trabalho comprovou que o divórcio é uma questão difícil para toda a família e afeta diretamente os filhos, podendo ou não gerar problemas emocionais e físicos nestes por serem expostos a conflitos conjugais, pela ausência de um dos progenitores ou por não terem um acompanhamento profissional que lhes auxilie na percepção dessa ruptura.
Destaca-se que a separação em si não é o problema e sim como a criança visualiza essa ruptura familiar, podendo se sentir um dos fatores que levaram ao divórcio.
Conclui-se que é necessário acompanhamento profissional com a família que passa por tal situação onde os pais percebam a importância da presença na vida dos filhos e como a relação entre eles os afetam e para que as crianças possam se adaptar a uma nova vida sem problemas que prejudiquem seu desenvolvimento emocional e cognitivo.
Bibliografia
ADÁRIO, Daniela D. Amenizando os Efeitos do Divórcio para os Filhos. Disponível em: http://www.serpsicologia.com.br/artigos/Amenizando_efeitos_do_divorcio_para_filhos.pdf. Data de acesso: 11 de Agosto de 2013.
BENETTI, Silvia PC. Conflito conjugal: Impacto no desenvolvimento psicológico da criança e do adolescente. Psicologia: Reflexão e Crítica. São Leopoldo, RJ, 19(2): 261-268, 2006.
BRITO, Leila MT. de. Família pós-divórcio: A visão dos filhos. Psicologia Ciência e profissão. Rio de Janeiro, 27(1): 32-45, 2007.
EYMANN, Alfredo; et al. Impact of divorce on the quality of life in school-age children. J Pediatr. Rio de Janeiro, 85(6): 547-552, 2009.
JURAS, Mariana M.; et al. O divórcio destrutivo na perspectiva de filhos com menos de 12 anos. Estilos da Clínica. Brasília, 16(1): 222-245, 2011.
LEVY, Lidia; JONATHAN, Eva G. Minha família é legal? A família no imaginário infantil. Estudos de Psicologia. Campinas, SP, 27(1): 49-56, jan./mar, 2010.
MARTINS, Ana IR. Impacto do Divórcio Parental no Comportamento dos Filhos: Factores que Contribuem para uma Melhor Adaptação. Implicações Médico-Legais. 2010. 140f. Dissertação de Mestrado. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Portugal 2010.
MOSMANN, Clarisse; et al. Conflitos conjugais: motivos e frequência. Revista da SPAGESP. São Paulo, 12(2): 5-16, 2011.
NASCIMENTO, Fernanda D. O papel do psicopedagogo na instituição escolar. http://psicologado.com/atuacao/psicologia-escolar/o-papel-do-psicopedagogo-na-instituicao-escolar. Data de acesso:28/01/2014.
NUNES-COSTA, Rui A.; et al. Psychosocial adjustment and physical heath in chindren of divorce. J Pediatr. Rio de Janeiro, 85(5): 385-396, 2009.
RAPOSO, Hélder S; et al. Ajustamento da criança à separação ou divórcio dos pais. Rev Psiq Clín. Portugal, 38(1):29-33, 2011.
Publicado em 11/08/2014 12:52:00
Currículo(s) do(s) autor(es)

Ana Cristina de Sousa Freires - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Pedagoga e Psicopedagoga, Centro Universitário Adventista de São Paulo- UNASP.

http://www.psicopedagogia.com.br/new1_artigo.asp?entrID=1728#.U_d2OPldXkU

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