segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alterações da Personalidade

Alterações da Personalidade

Alguma ocorrência fez a pessoa, de repente, ser outra pessoa.
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Há pessoas que, depois de alguma condição médica, mudam sua maneira de ser. Algumas vezes de maneira definitiva, outras – felizmente a maioria – temporariamente. Essas alterações no modo de ser, logo, na personalidade, podem aparecer no dependente químico, seja de cocaína, álcool, craque, etc. Outras vezes, depois que a pessoa tem o diagnóstico de Lúpus Eritematoso ou Artrite Reumatóide, ou depois de um traumatismo craniano (TCE), acidente vascular cerebral (AVC), intoxicação por metais pesados e assim por diante.
As Alterações da Personalidade podem ser observadas quando a pessoa apresenta uma mudança em sua maneira de ser, depois de ter sofrido alguma condição médica, especialmente neurológica. É como se passasse a ser outra pessoa, com reações e comportamentos bem diferentes daqueles que a caracterizavam antes. Este quadro chama-se Alteração da Personalidade. Na CID.10, aparece como Transtorno Orgânico de Personalidade, no DSM.IV como Alteração da Personalidade Devido a uma Condição Médica Geral, mas o quadro é o mesmo.
Para a psiquiatria o termo "personalidade" se refere à totalidade de traços emocionais e comportamentais que caracterizam o indivíduo na vida cotidiana. Aqui, na página sobre o tema, personalidade é definida como "a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que experimentamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser, de sentir e de desempenhar o seu papel social" (Veja Teoria da Personalidade em PsiqWeb).
Transtorno de Personalidade seria uma variação destes traços além da faixa de variação encontrada na maioria das pessoas. Quando a disposição geral da personalidade resulta em traços inflexíveis e mal-ajustados, pode-se pensar em transtornos de personalidade. Para o CID.10 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde - OMS), transtornos de personalidade são “tipos de condição que abrangem padrões de comportamento permanentes e profundamente arraigados no ser, os quais se manifestam como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Elas representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros”.
Como recomenda a OMS, os Transtornos de Personalidade diferem das chamadas Alterações de Personalidade pelo modo de seu aparecimento e, eventualmente, pelo tempo de duração: Os Transtornos de Personalidade eles são condições do desenvolvimento que surgem na infância ou na adolescência e continuam pela vida adulta. Por outro lado, as Alterações da Personalidade são condições adquiridas em qualquer época da vida, usualmente na idade adulta, em conseqüência de alguma condição médica, seja clínica, degenerativa, infecciosa ou traumática.

Grafico
O mesmo quadro é denominado, pela CID.10 de Transtorno Orgânico de Personalidade, um quadro em que há uma alteração de personalidade também em decorrência de alguma condição médica geral. Este transtorno caracteriza-se pela acentuada mudança no estilo e traços de personalidade, em comparação com um nível anterior de funcionamento.
Segundo o DSM-IV, a característica essencial de uma Alteração da Personalidade Devido a uma Condição Médica Geral é uma perturbação da personalidade que o clínico julga ser devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral. Uma variedade de condições neurológicas e outras condições médicas gerais podem causar Alterações da Personalidade, incluindo tumores e neoplasias cerebrais, traumatismo craniano, doenças cerebrais vasculares, doença de Huntington, epilepsia, infecções do sistema nervoso central, como por exemplo, vírus da AIDS, alterações endócrinas, tais como da tiróide, suprarenais, doenças auto-imunes do tipo lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, etc.
A perturbação na Alteração da Personalidade representa uma mudança no padrão prévio de personalidade característico do indivíduo. Isso quer dizer que a personalidade da pessoa vinha com determinado perfil de traços e de caráter e, de um momento em diante, apresentou mudanças nesse padrão, conseqüentemente mudando as reações e comportamentos. Essa perturbação da personalidade para receber o diagnóstico de Alteração da Personalidade deve causar sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes.
As manifestações comuns de Alteração da Personalidade incluem instabilidade afetiva, dificuldade no controle dos impulsos, episódios de agressividade ou raiva em nítida desproporção com estímulos desencadeantes, acentuada apatia que aparece de repente, certa desconfiança, podendo chegar à paranóia em casos mais graves. A pessoa com Alteração da Personalidade é descrito pelos outros como "não sendo ele(a) mesmo(a) ".
O quadro da Alteração da Personalidade pode variar de acordo com a condição médica que a causou. Caso tenha sido devida a lesão dos lobos frontais, por exemplo, pode provocar sintomas como falta de juízo crítico ou da capacidade de antever conseqüências, jocosidade, desinibição e euforia.
Os acidentes vasculares cerebrais que afetam o hemisfério direito, por exemplo, podem provocar negligência espacial, incapacidade de reconhecer um déficit corporal, tal como a própria hemiparesia e outros déficits neurológicos. A Dependência Química transforma a pessoa em sociopata, com mentiras, negligências, perda da ética.
Há alguns sintomas básicos das Alterações de Personalidade que podem ser agrupados. Embora as alterações possam ter quadros mistos e variados, algumas vezes esses sintomas são característicos de lesões específicas. Não é raro que as Alterações de Personalidade sejam acompanhadas de convulsões.
O tipo de Alteração da Personalidade que pode ser chamado de Instável tem uma característica predominante de instabilidade afetiva, intercalando com certa rapidez momentos de depressão e de hipomania, de ânimo pouco acima do normal com desânimo, de interesse com desinteresse. Esse tipo de alteração é mais comum em pessoas com lesões afetam os lobos temporais.
Quando lesões afetam os lobos frontais a Alteração da Personalidade se manifesta predominantemente co tipo Desinibido. Aqui a característica predominante é um fraco controle dos impulsos, perda do decoro e da crítica moral, certas indiscrições sexuais, enfim, um comportamento nunca observado, às vezes até o contrário do que era antes.
O subtipo Agressivo tem como característica predominante um comportamento agressivo, com crises de agressividade e irritabilidade. Esse tipo é comum na Dependência Química e após traumatismo craniano. O tipo Apático é caracterizado por acentuada apatia e indiferença. O tipo Paranóide é aquele cuja característica predominante é a presença de desconfiança ou ideação paranóide.
As Alterações de Personalidade já foram estudadas nos pacientes com artrite reumatóide (AR), com Lúpus Eritematóide Sistêmico (LES), com Dependência Química (DQ), com infecção pelo vírus da AIDS, uso de medicamentos e outras condições médicas gerais. Parece que a pergunta incômoda é saber se essas condições médicas ou doenças fariam que os pacientes tivessem, depois de um tempo, algum padrão característico de personalidade.
Alteração da Personalidade no Lúpus O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, que acomete o organismo todo, de causa desconhecida e natureza auto-imune. A doença evolui com as mais variadas manifestações clínicas e com períodos de exacerbação e remissão.
Em decorrência de sua forma variada, o quadro clínico costuma ser de difícil reconhecimento, dificultando seu diagnóstico precoce. O LES acomete uma em cada 1.000 pessoas da raça branca e uma em cada 250 pessoas negras (Bonfá e Borba Neto, 2000). Há também um forte fator familiar em 10 a 20% dos casos e uma prevalência maior no sexo feminino.
As manifestações neuropsiquiátricas do LES se resumiam apenas quadros psicóticos ou convulsivos, porém, estes critérios hoje são considerados incompletos por vários autores, os quais reconhecem muitas outras manifestações neuropsiquiátricas em pacientes lúpicos (Miguel Filho, 1992). Essas várias alterações psiquiátricas incluem desde estado confusional, distúrbios cognitivos, psicose, transtornos de humor e de ansiedade até, notadamente, Alterações de Personalidade.


 Entre os sintomas psiquiátricos, os quais aparecem em cerca de 50% dos pacientes, a depressão parece ser o mais prevalente, segundo Waterloo (1998) 28% dos casos. Sintomas depressivos e Alterações de Personalidade são considerados sinais de comprometimento do córtex cerebral. As dificuldades no relacionamento social, desconforto em situações sociais além do humor depressivo apareceram associados com alterações da pele e das articulações.
 Lupus
Sinais faciais do Lúpus Eritematoso Sistêmico
De 24 pacientes com Lúpus todos apresentavam alguma sintomatologia psiquiátrica. Os sintomas neuróticos em geral apareceram em 33,3% dos casos, seguidos pelos sintomas de alterações de humor, com 23,3% (Onda e Kato, 2000). Os sintomas neuróticos encontrados seriam uma tendência a ficar preocupado, extremamente inseguro, ansioso e afetivamente lábil. Este neuroticismo é uma alteração comportamental, ou seja, alterações de traços de personalidade, além do que, influências ambientais podem desencadear um quadro psiquiátrico mais exuberante.
Além dos transtornos psiquiátricos decorrentes da própria doença, o tratamento do LES à base de corticóides também pode ocasionar inúmeros sintomas psiquiátricos. Esses sintomas podem ser considerados Alterações de Personalidade e comportam a labilidade emocional, depressão, distração e perplexidade. Os efeitos colaterais dos corticóides para o tratamento do LES incluíram também dificuldades na relação com os familiares e até ideação suicida.
Fazendo uma síntese dos estudos sobre alterações psicopatológicas no LES, vários autores concluem que os fatores psicológicos, incluindo traços de personalidade, têm importância como determinantes, desencadeantes ou exacerbadores da doença. Alguns verificaram ainda que alterações de personalidade podem ser decorrentes do estresse psicológico imposto pela patologia, da atividade da doença no sistema nervoso central e/ou do uso de medicações como os imunossupressores e corticóides (Ayache e Costa, 2005).
Alterações da Personalidade do Dependente QuímicoAs Alterações da Personalidade da pessoa dependente químico são um problema seríssimo. Pelo aspecto sociopático essa Alteração da Personalidade pode ser confundida com o Transtorno Anti-social da Personalidade, que é muito mais grave, definitivo e que não se reverte, enquanto as Alterações da Personalidade são reversíveis depois que o dependente passa um período abstinente.
Os dependentes costumam obedecer a um padrão de personalidade ao longo do tempo de dependência. Existem traços e características de comportamento, relacionamento e percepção da realidade comum aos dependentes químicos. Isso não quer dizer que eles fiquem todos com a mesma personalidade, mas que, dentro da individualidade de cada um, eles apresentam características comuns uns com os outros.
É bastante comum as pessoas que conheceram anteriormente o dependente, antes do uso abusivo da droga, estranharem muito suas atitudes e comportamento atuais, achando que essa pessoa parece não ser a mesma conhecida anteriormente. Nos casos onde a abstinência foi conseguida, em se tratando de Alteração da Personalidade e não Transtorno da Personalidade, depois de algum tempo a pessoa volta a manifestar sua personalidade prévia.
Alguns dos sintomas descritos no quadro da Alteração da Personalidade Devido a uma Condição Médica Geral se encaixam perfeitamente nas alterações apresentadas pelos dependentes químicxos, tais como instabilidade afetiva, fraco controle dos impulsos, surtos de agressividade ou raiva em nítida desproporção com qualquer estressor psicossocial desencadeante, acentuada apatia, desconfiança ou ideação paranóide.
Segundo o DSM.IV, "as alterações da personalidade também podem ocorrer no contexto de uma Dependência de Substância, especialmente no caso de uma dependência de longa duração. O médico deve investigar atentamente a natureza e extensão do uso da substância.

Principais carcterísticas da Alteração da Personalidade na Dependência Química
Mentiras seguidamente
Desmazelo (pessoal e em seu ambiente)
Irritabilidade e agressividade
Impulsividade
Relaxamento da ética (rouba, etc)
Arrogância e prepotência
Não cumprimento de compromissos
Apatia amotivacional
Desinteresse por tudo que não diz respeito à droga
Instabilidade afetiva
Alteração do padrão do sono
Alteração do padrão alimentar
Quando o dependente químico passa por um período de abstinência relativamente longo (de 6 a 12 meses) a Alteração da Personalidade desaparece e a personalidade prévia volta a existir. Diz-se que a pessoa "voltou a ser o que era". Caso haja uma recaída no uso das drogas, a Alteração da Personalidade se manifesta em muito menos tempo que da primeira vez. Isso é tão evidente que na maioria das vezes os familiares do dependente percebem que ele voltou a usar drogas pelas alterações de conduta, comportamento e relacionamento que se manifestam.

É fundamental a questão da comorbidade de Dependência Química e qualquer outra patologia psíquica. A idéia é estabelecermos uma base de conhecimento preditivo, ou seja, preventivamente, para sabermos quais as chances de transtornos emocionais concorrerem para a Dependência Química.
Alterações da Personalidade e doenças neurológicas
Evidentemente, e fácil de deduzir, as patologias que acometem o cérebro são aquelas que mais alteram a personalidade da pessoa. Se a estrutura cerebral é comprometida, sem dúvida alguma, haverá repercussões sobre a função do órgão e, obviamente, sobre o psiquismo.
Mais de 50% do córtex cerebral é constituído por áreas límbicas e de associação. Os acidentes vasculares cerebrais ( AVC) nessas áreas não são necessariamente acompanhados por alterações motoras, tais como hemiplegia ,sintomas sensitivos , visuais, da fala, cognição, etc.
Nos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)Comumente os sintomas predominantes nos AVCs que acometem as regiões frontal, temporal ou parietal podem ser alterações de humor, de comportamento ou mesmo da personalidade toda. A depressão é um sintoma encontrado em até 50% dos pacientes pós-AVC, e parece ter uma forte relação com a localização da lesão no lobo frontal esquerdo. O desânimo, desinteresse e apatia que surgem abruptamente podem ser sintomas de lesões vasculares pré-frontais, principalmente no hemisfério esquerdo.
Nos AVCs que acometem o córtex auditivo ou de associação à esquerda ou bilateralmente pode se manifestar inicialmente com agitação e paranóia. Alucinações visuais podem ocorrer em lesões isquêmicas na retina, no nervo óptico, na degeneração macular ou por qualquer acometimento do sistema visual.
Nos Traumatismos Cranianos (TCE)
O TCE, mais comum em homens na segunda, terceira e sexta década de vida, pode ter como conseqüência Alterações da Personalidade, muitas vezes incapacitantes.
A fisiopatologia relaciona-se à lesão axonal por estiramento mecânico, podendo haver uma interrupção das conexões frontais. As regiões orbitofrontal e temporal anterior são mais acometidas por contusões, hematomas e hemorragias intracerebrais, segundo Elizabeth Quagliato.
As mudanças da personalidade (apatia, lentidão, indiferença e perda da iniciativa) relacionam-se com lesões da convexidade frontal lateral. Lesões orbitofrontais causam diminuição do controle do impulso, irritabilidade e hipercinesias. Sintomas psicóticos (paranóia, mania, e alucinações visuais e auditivas) ocorrem em até 20% dos pacientes.
Ainda de acordo com Elizabeth Quagliato, outros sintomas podem acontecer em pacientes com TCEs leves, tais como esquecimento (40%), depressão (40%), ansiedade (40%), raiva (35%) e impulsividade (25%), podendo esses sintomas se tornar crônicos.
Nos Tumores CerebraisOs tumores cerebrais de crescimento rápido podem apresentar quadros psicóticos, enquanto os de crescimento lento se manifestam com sintomas de Alteração da Personalidade, depressão ou apatia. De modo geral, quaisquer pacientes que apresentem alterações comportamentais acompanhadas por convulsões, cefaléia, alterações sensitivas ou outros sinais /sintomas neurológicos focais devem ser investigados com a hipótese de um tumor cerebral.
Os sintomas neuropsiquiátricos são freqüentes nos tumores cerebrais e dependem da localização, ritmo de crescimento, tamanho e idade do paciente. Entretanto, não é tão alta a incidência de tumores cerebrais em pessoas com problemas psiquiátricos, chegando a apenas 1 a 2%, embora seja significativamente maior que na população geral.
Os tumores supratentoriais, principalmente os frontais e temporais, cursam com alterações cognitivas e comportamentais. Meningeomas do soalho da fossa anterior, tumores da pineal, craniofaringeomas com expansão supraselar e gliomas hipotalâmicos levam freqüentemente a alterações comportamentais como apatia, depressão, desinteresse, desânimo e apatia.
O objetivo desse artigo é para alertar sobre a possibilidade de se confundir uma Alteração da Personalidade com um Transtorno da Personalidade. Principalmente nos casos de Dependência Química, onde a diferença entre esses dois quadros é de vital importância, principalmente porque as alterações são reversíveis, na medida em que a pessoa deixa a dependência.

para referir:
Ballone, GJ - Alterações da Personalidade, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2010.

Bonfá ESDO, Borba Neto EFB - Lúpus Eritematoso Sistêmico. In: Bonfá ESDO, Ioshinari NH: Reumatologia para o clínico. Editora Roca, São Paulo, 2000, p. 25-33.
Ayache DCG, da Costa IP - Alterações da personalidade no lúpus eritematoso sistêmico, Rev. Bras. Reumatol. v.45 n.5 São Paulo set./out. 2005.
Dermot J. Ward DJ - Rheumatoid Arthritis and Personality: A Controlled Study, Brit Med J. 1971 May 8; 2(5757): 297–299.
Miguel Filho EC: Alterações Psicopatológicas no Lúpus Eritematoso Sistêmico. São Paulo, 1992. [Tese de Doutorado- Universidade de São Paulo].
Onda K, Kato SA - Clinical study psychopathology in Systemic Lupus Erythematosus. Seishin Shinkeigaku Zasshi 102: 616-39, 2000.
Waterloo K, Omdal R, Husby G, Mellgren S - Emotional status in Systemic Lupus Erythematosus. Scand J Rheumatol 27: 410-4,1998.
Wolfe F, Hawley DJ - The relationship between clinical activity and depression in  rheumatoid arthritis, J Rheumatol 20:2032-7;1993.


 Fonte: http://psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=334

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A INFÂNCIA DOS TRÊS PORQUINHOS, um olhar psicopedagógico.


A INFÂNCIA DOS TRÊS PORQUINHOS
 
por Rubem Queiroz Cobra






Os três porquinhos! Um muito inteligente, outro nem tanto, porém trabalhador, e o terceiro, preguiçoso e imprevidente. Mas, por que têm eles três “personalidades” diversas, e até mesmo opostas? Pois não eram três irmãos, nascidos e crescidos na mesma família?

Não é de admirar. Entre os humanos também acontece isto, de uma família ter um filho mais inteligente, um outro que não é nada brilhante, mas que pode ser útil ao pai ou à mãe, e outro ainda que é o filho problemático, difícil. E não são três irmãos, da mesma família, apenas com idades diferentes? Os pais não compreendem porque aquele filho, ao qual educaram para o bem, como aos demais, saiu-lhes ao contrário dos outros, tornando-se a ovelha negra da família. Não parece filho deles e chegam a suspeitar que tenha acontecido uma troca na maternidade...

*

Para compreender como tudo começa, vamos nos fazer hóspedes invisíveis e sentar à mesa do almoço com a família Silva, cujo caçula é um filho problema. Somente quando recebe visitas a família Silva goza de uma refeição sem brigas e consegue chegar à sobremesa sem choros e recriminações. Uma vez que estamos invisíveis, não vamos perder o mais importante: as discussões que levam a Sr. Silva à fúria, a Sra. Silva às lágrimas, e deixam a ambos, o Sr. e a Sra. Silva, convencidos de que a causa de tudo foi o filho problema, que se desentende com eles e com os irmãos.
O Sr. Silva e a Sra. Silva não percebem que eles mesmos começam a crise à mesa do almoço, pois não estão alertados para os preconceitos que têm em relação aos seus filhos. Mas nós podemos observar que o Sr. Silva trata o filho mais velho com muito respeito, e a Sra. Silva, a filha do meio com mais atenção, e que ambos se voltam sempre um pouco impacientes para o caçula, o filho problema. A Sra. Silva inicialmente o trata com doçura, mas o seu cenho franzido indica que isto é apenas o começo do jogo. As observações do Sr. Silva vão fazendo crescer a tensão e a impaciência de todos, e mesmo que falte um “grande” motivo como no dia que o caçula traz seu péssimo boletim escolar, basta que diga não gostar de cebolas e a discussão começa.

Vamos, em seguida e facilmente, a uma segunda constatação. Nós percebemos com clareza que é na hora das refeições que a família Silva põe em prática uma coisa descoberta por um respeitado psiquiatra inglês, Ronald David Laing. A essa coisa que descobriu, o Dr. Laing chamou Política da Família. Para compreender a problemática da família Silva, e por que motivo na família Silva existe um filho problema, precisamos dessa idéia brilhante do Dr. Laing, a de “política da família”, e vamos observar como o Sr. e a Sra. Silva usam os instrumentos dessa política.

Mas, em primeiro lugar, vamos clarear bem qual é a idéia do Dr. Laing, do que é a política da família. Ele verificou em sua clínica para doentes mentais que os pais, sem o perceber, dão a um dos filhos um tratamento discriminatório capaz de levá-lo à loucura, e criam uma verdadeira política ao fazerem com que os seus irmãos o tratem do mesmo modo, isto é, como um sujeito errado e maluco. E porque é tratado assim por toda a família, o filho eleito para essa provação de fato se torna louco, seus próprios pais e irmãos o levam à loucura. Dr. Laing obteve grande sucesso e tornou-se mundialmente famoso com sua técnica simples de curar loucos, que era simplesmente a de convencer o doente de que não precisava mais acreditar que fosse realmente louco.

Dirá o leitor que vai uma diferença muito grande entre um filho problema e um filho demente, mas a minha opinião é de que não há diferença importante, pois o filho problema só não é oficialmente um louco, e por isso geralmente vai parar na prisão e não em um hospício. De qualquer modo, o que afirmo é o poder que tem a política da família para criar o filho problema. Pois se tal política é tão eficaz a ponto de fazer uma pessoa sã virar louca, terá poder para qualquer outra coisa de menor peso, como levá-la ao vício e ao crime ou deixá-la lúcida, porém incapaz.

O filho problema, quando ainda criança, é o que escapa totalmente ao controle dos pais, não faz o que lhe dizem, não se deixa dominar, passa o tempo fora de casa, não diz a que horas tenciona estar de volta, não se interessa por ler nem por escrever e, por último, não se aflige com nada. No estágio crítico, ele está envolvido com drogas e com o crime, passa por várias instituições de tratamento e reeducação, necessita freqüentemente ser salvo de embaraços financeiros que terminam por comprometer o patrimônio da família, envolve-se em escândalos, e finalmente desaparece de cena, ou porque vai preso, é vítima de um acidente, é aniquilado por uma gang, ou simplesmente vai atuar em outra praça.

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A Política da Família não é apenas o modo como os pais rebaixam ou promovem seletivamente seus filhos, mas o modo como todos os membros da família agem com respeito uns aos outros, ou como cada membro se dá bem com um e com outro, ou persegue a um e faz o outro útil para si, ou lhe é indiferente. Nela se infiltram até os empregados da casa, tomando partido e fazendo intrigas. Ter uma política de família não é privilégio das famílias ricas nem das famílias mais cultas. Essa diabólica sofisticação na seleção de alvos para o êxito e para o fracasso é praticada também nas famílias mais pobres e mal estruturadas. Onde a promiscuidade é grande, participam dela todos que estiverem sob o mesmo teto: pais, avós, tios e primos, e mesmo em um orfanato existe, sob esse aspecto, uma família.
Para tão diversificados ambientes e personagens, é forçoso, então, que os instrumentos do preconceito e da exploração acabem por variar muito, variar na sua linguagem, nos seus modos de ferir mais diretamente ou com mais sutileza, passando da simples e cruel pancadaria até formas astuciosas de convencimento. E os resultados, ao final, também variarão desde o internamento em uma clínica de luxo ao internamento numa escola correcional, dos escândalos da alta sociedade ao tiroteio na favela, do recurso a um psicólogo ou a um policial.

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Laing diz que o melhor modo de fazer alguém se tornar um certo tipo de pessoa é através de “atribuições”, ou seja, é dizer-lhe que ele já é aquele tipo que, na verdade, ainda se deseja que ele venha a ser. “É minha convicção”, diz Laing, “que a maioria das instruções que recebemos no princípio e no fim da nossa educação nos é transmitida sob a forma de atribuições. Dizem-nos que as coisas são de determinada maneira, e nós aceitamos. Por exemplo, dizem-nos que somos um bom ou um mau rapazinho. Poderíamos ser qualquer das duas coisas, mas, uma vez que somos uma delas...” Se é dito à criança que ela é um bom menino ou uma boa menina, ele ou ela assumirão o papel de bom menino ou boa menina. Será ainda melhor se uma terceira pessoa transmite para ela a opinião ouvida a seu respeito. Isto tem muito a ver com o hipnotismo.
As ordens hipnóticas não são determinações claras, porque não são dadas na forma de instruções. Por exemplo, o hipnotizador não ordena à pessoa hipnotizada que sinta frio. Ele diz que está fazendo frio, que a pessoa hipnotizada está sentindo frio, ou que ela está alegre, ou que ela está triste, e então ela sentirá frio ou ficará alegre ou triste como lhe é dito o que ela sente ou como está. Na opinião de Laing uma criança começa a sua aprendizagem num estado semelhante, pois os seus pais farão que seja uma certa coisa apenas lhe dizendo que ela já é aquilo que querem que ela seja. Não lhe dirão para ser desobediente; os pais lhe dizem que ela é desobediente. Dizer à criança para fazer alguma coisa, dizendo-lhe, ao mesmo tempo, que ela é uma criança desobediente (ou que não presta), equivale a querer ser desobedecido, porque já lhe indicam que ela não faz o que eles querem. Deste modo, a criança aprende que é desobediente e de que modo deve mostrar sua desobediência no contexto particular da sua família.
A técnica que o Dr. Laing exemplifica com as frases abaixo é eficaz para tornar a criança teimosa, tímida ou descuidada, assim como para, ao contrário, fazê-la dócil, obediente e útil.
“Estou sempre a tentar que ele faça amigos, mas ele é tão voltado para si mesmo. Não é verdade, querido?”
“Ele é tão teimoso. Nunca faz aquilo que eu lhe digo para fazer. Não é verdade, filho?”
“Estou sempre a dizer-lhe que seja mais cauteloso, mas ele é tão descuidado; não é filho?”
“Ele sabe distinguir por si próprio o bem do mal; nunca tive de lhe dizer para proceder em conformidade com esses princípios.”
“Ele faz tudo sem eu ter que lhe pedir.”
“Ele próprio sabe quando deve parar.”
Dr. Laing pergunta: “Até que ponto é conseqüência de hipnose interessada aquilo que normalmente sentimos? Até que ponto aquilo que somos é conseqüência de uma ação hipnótica visando que sejamos assim? Uma relação entre duas pessoas pode ser tão forte que uma seja levada a ser o que a outra pretende através de um simples olhar, toque, ou mesmo por um discreto tossir, sem ser preciso dizer nada.”
Algumas atribuições são projeções.
É obrigatório projetar o mal naquilo que constitui o Inimigo, seja ele quem for; e é obrigatório negar que essa ação seja uma projeção. A Sra. Silva detesta sua sogra e acha que sua filha se parece com ela. Embora possa jurar que isto em nada diminui seu amor pela filha, não é assim que parece a um observador de fora da família. Ao projetar a sogra em sua filha, para ela a criança assumirá o valor da sua sogra: isto é a projeção. Porém, será ela capaz ou não de induzir a filha a encarnar sua avó paterna? Sim, bastando repetir-lhe que ela é igual à avó ou se parece com ela.
A projeção é efetuada pela Sra. Silva conforme a sua própria experiência em relação à sogra, portanto, obviamente ela projetará na filha aquilo que, em sua sogra, é a causa de seu desafeto. As boas qualidades da sogra serão ignoradas nessa projeção.
A filha da Sra. Silva poderá começar a agir e sentir como a sogra de sua mãe, mesmo que nunca a tenha conhecido. “Na realidade, é até mesmo absolutamente possível induzir alguém, através das minhas ações, a sentir e agir como alguém que eu próprio posso nunca ter conhecido”, diz Dr. Laing.

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As desconsiderações são outra manifestação da antipatia inconsciente dos pais por um determinado filho. Os maltratos físicos são todos eles formas violentas de desconsideração, mas poderão não ter o mesmo efeito que têm as desconsiderações verbais que negam a pessoa, que fazem a criança sentir-se envergonhada, estúpida ou suja. Estas acontecem quando as coisas lhe são ditas com visível repugnância pela sua pessoa: “Não dê palpites!”, “Não se intrometa”, “Esfrego o seu nariz nisso que fez”, são exemplos.
Mas Laing descreve algumas formas muito sutis de desconsideração, nem por isso menos poderosas. Dá um exemplo, que ficou muito conhecido, do modo como certa mãe recebe o bebê em seus braços. Ela tinha no colo uma criança de seis meses e nem uma só vez correspondeu aos seus sorrisos com um sorriso seu. Mas, quando era ela que provocava os sorrisos no bebê, fazendo-lhe cócegas e brincando com ele, então ela sorria também, mas respondia com um olhar inexpressivo sempre que era o bebê quem tomava a iniciativa de lhe sorrir.
Outro exemplo de Laing veremos repetir-se à mesa da família Silva, quando a Sra. Silva passar um prato feito ao caçula, que é o filho problema: o prato será passado com um gesto mecânico, sem qualquer reconhecimento, “de modo que o outro o pegue dois segundos antes de tornar-se um peso morto”.

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O termo injunção tem, na teoria do Dr. Laing, o sentido de proibição de sentimentos. A injunção consiste em uma programação imposta à criança que diz o que ela deve e não deve fazer. Proibições do comportamento livre como “Não faça barulho”, “Não fique por aí”, “Não ria”, “Não cante" correspondem à injunção “Não seja feliz”, e pertencem a essa categoria de exigências opressivas, feitas comumente pelos pais e adultos à sua volta. A injunção “Não seja feliz” pode ser dada com grande intensidade e, neste caso, a mínima expressão de felicidade pode trazer severa repressão. A injunção “Não seja feliz” corresponde à antipatia que os pais têm por todas as formas de felicidade que um determinado filho manifesta.

Uma injunção como “Não seja espontâneo” pode ser dada por instruções como “Não corra para ser o primeiro”, ou “Seja sempre um cavalheiro”, “Peça desculpas”, “Não incomode as pessoas”, “Faça o que lhe dizem e não faça perguntas”, etc.

As proibições são especialmente duras porque existe para a criança a proibição de questionar as proibições: é proibido indagar porque é proibido. A injunção “Seja prestativo para seus pais” incluiria, certamente, proibições tais como “Não pense”, “Não seja vadio”, “Não discuta”, “Não esqueça”, etc. Uma proibição poderá ainda não ser dada verbalmente, mas constituída pelo persistente reforço do comportamento desejado e reforço negativo para o comportamento oposto, através de desconsiderações.

As regras negativas podem gerar ações que elas próprias proíbem. As proibições podem ser dadas de modo inconsistente e não convincente, e até maldoso, quando é pelas próprias proibições que a criança aprende sobre algo proibido, ou seja, a proibição quebra a inocência da criança. Diz Laing: “Podemos verificar, por experiência direta, que algumas ordens negativas têm um efeito paradoxal, induzindo a pessoa a fazer aquilo que lhe disseram para não fazer.” Exemplo: “Espero que não fique grávida antes de poder cuidar do seu bebê”, dito a uma menina que não chegou à idade nem ao risco de ficar grávida.

Somos instruídos no sentido de sermos honestos. Mas também somos instruídos a efetuar operações destinadas a levar vantagens que não podem escapar à designação de desonestas. Neste caso, a verdadeira instrução para a criança é de que ela seja espertinha e use duas medidas. Se aquilo que lhe deram instruções para atingir não é atingível pelo modo como lhe ensinaram, esta é uma dificuldade que pavimenta o caminho para os estados ansiosos.

*

Ao fazerem atribuições a seus filhos, os pais tendem a seguir uma regra que eu chamo “das três atribuições básicas”. Se têm três filhos, eles usualmente buscam fazer de um deles, geralmente o mais velho, a criança prodígio (enquanto lhe é fácil obter êxito, ele é uma criança feliz; quando cresce e encontra competitividade, sente-se despreparado e ressentido com os pais). Outro filho, provavelmente o segundo, será treinado para ser responsável e prestativo, útil à família sob variadas formas (pode mostrar seu ressentimento esquecendo tarefas, guardando objetos fora do lugar, confundindo recados, mas, depois de adulto, poderá ser útil aos pais até o fim). Outro, possivelmente o terceiro, será treinado para ser o filho difícil, repulsivo e estúpido, ou mesmo o “bobo” da família, podendo, no entanto, ser charmoso e desligado, ou muito linda, se for mulher (aceita o seu fado ou o sacode, abandonando o lar). Essa ordem pode, é claro, ser modificada, pois se há preconceito contra filhos do sexo feminino, o preferido será um filho homem, ainda que seja o último a aparecer. No caso de mais filhos, diluem-se as posições, compartilhadas por dois ou mais, e até mesmo o caçula, geralmente o filho difícil, quando vem depois de muitos anos de diferença para os outros filhos, pode destronar o predileto para tornar-se ele o preferido.

Para conseguir seus propósitos quanto às mencionadas três atribuições básicas, os pais não precisarão mais que dizer a cada filho, respectivamente, por exemplo, que ele é inteligente, ou que é prestativo e útil, ou que é um fracasso, atribuições que as crianças aceitam sem duvidar. Para reforçar essas atribuições fundamentais, os pais presentearão os filhos de acordo: ao mais velho darão livros e jogos que requeiram reflexão ou o que quer que esteja em relação com a excepcionalidade que buscam desenvolver nele. Ao segundo, darão miniaturas de oficinas ou, se é uma menina, ferrinho de engomar, vassourinhas, miniaturas de cozinhas e lavanderias, etc. Ao mais novo, no caso o perdedor (ele aprende a não esperar muito nas datas de seu aniversário, que inclusive caem sempre em dias inconvenientes para a família), não se dão ao trabalho de escolher muito para presenteá-lo, ou escolhem dar-lhe coisas que não sejam bem o que ele gostaria de ganhar.

Em um inquérito que fiz entre meus alunos, somando um total de 71 famílias e envolvendo 350 jovens, o irmão problemático nunca foi o mais velho dos irmãos de sexo masculino. Houvesse um fator hereditário, haveria também um percentual de filhos problemáticos entre os primogênitos. O inquérito revelou ainda que o filho que é problema para o pai pode ser diferente do filho que é problema para a mãe, e, quando a família é grande, parece surgir um quarto tipo de irmão, sobre o qual o entrevistado nada tinha a declarar. Esse quarto tipo correspondia a um filho, ou filhos, poupados do determinismo dos pais e em condições de gozar de um mínimo de liberdade e fugir ao caos familiar.

Excluírem-se das brigas e existirem como sombras discretas talvez lhes permitirá apresentarem-se, mais tarde, como os verdadeiros vitoriosos, embora não muito felizes, pois ficaram limitados a possibilidades escassas de escolha, para que pudessem escolher discretamente.

Não importa, no entanto, quantos e quão variados tipos, bons ou maus, possa a política da família criar em seu seio. O que importa é que mesmo um tipo “bom” não é verdadeiramente bom, porque não representa uma personalidade desabrochada em todo o seu potencial. Não é um filho que tenha contado com todas as possibilidades correspondentes aos seus dons e talento, livre e respeitado, estimulado e amado pela família. O fato é que desde o nascer, ou mesmo desde antes do nascer, aquela criança já estava predestinada a receber um determinado rótulo, a ser preparada para um determinado papel.

Por quê?

A capacidade inata de reconhecer o que é bom e o que é mau na competição pela sobrevivência tornou-se, com a civilização, em reconhecer o bem e o mal para os costumes, e o belo e o feio para a estética, juízos que, no entanto, não superam por completo as formas residuais de juízos instintivos sobre o bom e o mau, que formam as preferências e os preconceitos. Talvez, por força desse julgamento primitivo – que leva as pessoas a terem na caderneta os nomes daqueles com quem elas não simpatizam desde o primeiro instante que os vêem –, o Sr. e a Sra. Silva estejam habituados a ver um mundo dividido – no qual o mau lhes parece predominar –, e levaram essa divisão gratuita para dentro do lar. Estão, portanto, predispostos – sem o saber –, a ver também os seus filhos divididos entre bons e maus, e isto os cega para o fato de que são iguais.

Entre outras várias razões possíveis, estão aquelas de natureza estritamente psicológica, como o fato de o casal haver feito planos para ter apenas dois filhos, e, portanto, o terceiro não era desejado, ou porque se esperava que o mais velho fosse um homem, e nasceu uma menina, ou pelo temor de que a filha fique mais bonita que a mãe, etc.
Pode haver uma razão ainda mais sutil, como as que expõe o Dr. Laing. Pode ser, por exemplo, que os pais, apesar de terem passado pela cerimônia do casamento com várias dezenas de pessoas como testemunhas, não sintam seu casamento uma realidade e seus filhos como uma experiência real de ter filhos. Pode ser que o Sr. Silva nunca se tenha sentido “psicologicamente” casado com a Sra. Silva ou vice-versa, e que a situação de particular antagonismo com um dos filhos tenha raiz na falta de entusiasmo de ambos, ou de um deles, em relação à família. Ou pode ser uma espécie de programação atávica, espécie de hipnose que os pais sofreram quando eles próprios eram crianças, e que agora aplicam aos seus filhos, passando-lhes as instruções recebidas e deste modo hipnotizando-os também, de modo a que estes, futuramente, hipnotizarão, também, os próprios filhos. Neste caso, o Sr. e a Sra. Silva não percebem que estão a agir como mensageiros de instruções anteriores, e isto porque uma das instruções transmitidas é que se não pense que se está recebendo instruções. Sob hipnose, a pessoa visada vai realmente sentir; e não sabe que sofreu os efeitos de uma hipnose para sentir.

*

Evitar criar ovelhas negras significará menos viciados, menos desocupados, menos lares traumatizados.
Dirá o leitor bem intencionado que o amor cristão é o antídoto, é o remédio, contra todas as formas de preconceito. Mas este amor não pode ser amor à criança rebelde e problemática, ou ao jovem transviado, uma caridosa resignação dos pais e irmãos em aceitá-los como a uma cruz, do jeito que eles são. Isto seria lavar as mãos e manter o preconceito. Tratando-se ainda de uma criança, basta descobrir e pôr um fim à política preconceituosa; a consideração e o respeito farão o resto.
No caso do jovem, é necessário que os pais o vejam como igual aos irmãos: a diferença está no que fazem, e não no que são essencialmente, e por isso mesmo será possível que ele mude o que faz, porque não é a sua natureza que ele tem que mudar.
Mas pode ser também que as coisas se resolvam para o filho problemático devido ao grande poder que uma pessoa tem de se auto-resgatar, pela via da razão ou com a ajuda da sua religião. Melhor ainda se for suficientemente forte para despertar, além de si mesmo, também os demais membros da família, do sono hipnótico em que os irmãos desempenham seus papéis de “maus”, de “bons” e de “úteis”, e os seus pais o papel inconsciente de “pais”, que herdaram de seus pais.

Rubem Queiroz Cobra

NOTA: Este conto está no livro de R. Q. Cobra AS FILHAS ADOTIVAS. Edições COBRA PAGES, Brasília, 2005, 136 p., ISBN 85-905519-1-1. Veja, por favor, como adquirir na página Livros do Autor. O texto foi primeiro publicado em livreto intitulado: A Infância dos Três Porquinhos: Lição a Pais e Mestres. Autoria de A. Rubenco, pseudônimo de R. Q. Cobra. Editora Valci, Brasília, 1991. As citações de Ronald David Laing são de A Política da Família (Ed. Martins Fontes, S. Paulo, s/d) e O Eu e os Outros (Ed. Vozes, Petrópolis, 1972).


Fonte.:http://www.cobra.pages.nom.br/ctp-tresporq.html

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domingo, 2 de maio de 2010

Condicionamento operante . Aprendizagens 1

 

Condicionamento operante

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O conceito de “Condicionamento Operante” foi criado pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner. Este refere-se ao procedimento através do qual é modelada uma resposta (ação) no organismo através de reforço diferencial e aproximações sucessivas. É onde a resposta gera uma consequência e esta consequência afeta a sua probabilidade de ocorrer novamente; se a consequência for reforçadora, aumenta a probabilidade, se for punitiva, além de diminuir a probabilidade de sua ocorrência futura, gera outros efeitos colaterais. Este tipo de comportamento que tem como consequência um estímulo que afete sua frequência é chamado “Comportamento Operante”.
O conceito de Comportamento Operante difere do conceito de comportamento respondente porque o primeiro ocorre em um determinado contexto, chamado estímulo discriminativo, e gera um estímulo que afeta a probabilidade dele ocorrer novamente; o segundo é diretamente eliciado por algum estímulo e é uma reação fisiológica do organismo. Uma resposta fisiológica a um estímulo, como fechar o olho diante de algo que se aproxima dele, retirar o braço diante de uma agulhada, etc.
O comportamento operante é modelado a partir de nosso repertório inato. As respostas que gerem mais reforço em média, tendem a aumentar de frequência e se estabelecer no repertório, ou seja, em um contexto semelhante tendem a ser novamente emitidas. O tipo de consequência que aumenta a probabilidade de ocorrência da mesma função de resposta em contextos semelhantes, chama-se reforço. O reforço pode ser positivo, quando há a adição de um estímulo no ambiente que resulte no aumento da frequência da resposta que o gerou; ou negativo, quando a resposta emitida remove algum estímulo aversivo, ou seja, que a pessoa tende a evitar, do ambiente.
Os contextos onde existe probabilidade de uma determinada resposta ser reforçada são chamados estímulos discriminativos, ou SD; os contextos onde não existe a probabilidade da resposta ser reforçada, são chamados estímulos delta, ou S∆.

 Lei do Efeito de Thorndike

 

O condicionamento operante, também chamado de condicionamento instrumental ou aprendizagem instrumental foi primeiramente estudado por Edward L. Thorndike (1874-1949), que observou o comportamento de gatos tentando escapar de "caixas problemas".[1] Na primeira vez que os gatos eram colocados nas caixas, eles demoravam bastante tempo para escapar delas. Mas, com o passar do tempo, as respostas ineficientes foram diminuindo de frequência, e as respostas mais efetivas aumantavam de frequência, e os gatos agora conseguiam escapar em menos tempo e com menos tentativas. Em sua Lei do Efeito, Thorndike teorizou que as respostas que produziam consequências mais satisfatórias, foram "escolhidas" pela experiência e portanto, aumentaram de frequência. Algumas consequências reforçavam o comportamento, outras enfraqueciam ele. Thorndike produziu a primeira curva de aprendizagem com este procedimento. B. F. Skinner (1904-1990)formulou uma análise mais detalhada do condicionamento operante utilizando de conceitos como reforçamento, punição e extinção. Seguindo as idéias de Ernst Mach, Skinner rejeitou as estruturas mediadores de Thorndike requeridas pela "satisfação" e construiu um novo conceito de comportamento sem a utilização de tais referências.

 Princípios do Reforço

É importante ressaltar, que reforço, ao contrário do que pode pensar o senso comum, não é uma simples recompensa. Para B. F. Skinner, reforço, pode ser qualquer evento que aumenta a frequência de uma reação precedente.Um reforço pode ser uma recompensa tangível. Pode ser um elogio ou uma atenção. Ou pode ser uma atividade, como poder usar o carro depois que a louça estiver lavada, ou ter uma folga depois de uma hora de estudo.[2]

 Reforços Primários e Secundários

Os reforços primários - como receber alimento ou ser aliviado de um choque elétrico - são intrinsecamente satisfatórios. Os reforços secundários são aprendidos. Se um rato numa caixa de Skinner aprende que uma luz sinaliza de maneira confiável que a comida está chegando, ele vai se empenhar em acender a luz. Dinheiro, boas notas, são exemplos de reforços secundários, cada um das quais está ligado a recompensas mais básicas.[2]

 Reforços Imediatos e Retardados

Para ilustrar bem como funcionam esses dois tipos de reforços, pode-se usar como exemplo um experimento de moldagem em que se condiciona um rato a apertar uma barra. Antes de efetuar esse comportamento "desejado", o rato faminto se empenhará numa sequência de comportamentos "indesejados" - arranhar, farejar, andar de um lado para o outro. qualquer desses comportamentos que preceda imediatamente o reforço de comida tem mais probabilidade de ocorrer de novo. Se você retarda o reforço da pressão da barra por mais 30 segundos, permitindo que outros compotamentos interfiram e sejam recompensados, não ocorrerá praticamente qualquer aprendizagem de apertar a barra.[2]
Humanos, ao contrário de ratos, reagem a reforços bem mais retardados: o pagamento do salário no fim do mês, a nota no fim do semestre, o troféu no campeonato.
Porém, reforços pequenos, mas imediatos, são às vezes mais atraentes do que reforços grandes, mas retardados. Fumantes, alcoolatras e outros usuários de drogas podem saber que seu prazer imediato é mais do que contrabalançado pelos futuros efeitos perniciosos, mas nem por isso abandonam seu vício.

 Punição

O reforço negativo é algo diferente da punição. A punição, ao contrário do reforçamento negativo, leva à extinção do comportamento, ou seja, com o passar do tempo, a probabilidade de ele ocorrer novamente diminui. O reforçamento negativo, passa a idéia de uma obrigação: uma criança pode estudar (comportamento) com o intuito de evitar apanhar (reforço negativo). O reforçamente negativo, não é um evento punitivo: é a remoção de um evento punitivo. Ambos utilizam de estímulos aversivos.[3]
As punições podem ser de dois tipos: por adição (punição positiva), quando experiências aversivas são adicionadas, ou por subtracção (punição negativa), quando facilitadores do comportamento são subtraídos. Ambas as técnicas levam a aquilo que chamamos de extinção.
A punição pode acarretar uma série de problemas: esse tipo de estimulação aversiva, acarreta respostas do sistema nervoso, entendidas como ansiedade, depressão, baixa auto-estima.[4] Além do mais, o comportamento punido não é esquecido, ele é suprimido. Pode er que após a estimulação aversiva ter sido eliminada, o comportamento volte a ocorrer: a criança pode simplesmente aprender a não dizer palavrões em casa, mas continuar a usá-los em outros lugares.
Ela também suprime o comportamento indesejado, mas não guia a pessoa para um comportamento mais desejável. A punição diz o que não fazer, o reforço diz o que fazer. Uma punição combinada com um reforçamento positivo de comportamentos desejáveis é mais eficiente.
Em suma, a punição rápida e segura pode ser eficaz, e pode de vez em quando causar menos dor do que o comportamento autodestrutivo que suprime. Mas ele pode reaparecer, se for possível evitar a punição. Essa estimulação aversiva também pode provocar efeitos colaterais indesejáveis, como ansiedade e ensinar agressividade. Os psicólogos preferem dar mais ênfase ao reforço positivo do que à punição.

 Programações de Reforço

Usando-se esquemas de reforço contínuo, a aprendizagem ocorre rapidamente, mas sem o reforço, a extinção ocorre rapidamente também. Na vida real, esquemas de reforço contínuo são raros.[2]
Nevin, em 1988, estudou que as reações às vezes são reforçadas, às vezes não. É o que se chama de reforço parcial. A aprendizagem demora mais, no começo, mas ela é mais "resistente" à extinção. Imagine um pombo que aprendeu a bicar uma tecla para obter comida. quando o pesquisador vai suspendendo gradativamente a entrega de alimento, até que ela ocorra só de maneira rara e imprevisível, os pombos podem bicar 150.000 vezes sem recompensa. Com o reforço parcial, a esperança flui eterna (esse é o princípio do "pombo superticioso" de Skinner). è o que ocorre por exemplo, em jogadores compulsivos, que continuam a jogar, mesmo sem nunca ganharem.

 Programações de Ritmo Fixo

Reforçam o comportamento depois de um determinado número de respostas. Empregados que trabalham em fábricas que recebem por produção, são reforçados de tal maneira.

 Programações de Ritmo Variável

Reforçam a primeira resposta depois de uma quantidade imprevisível de respostas. É o que ocorre com os jogadores e pescadores. A dificuldade de se extinguir tais comportamentos é de que o reforço aumenta à medida que aumentam as respostas.

 Programações de Intervalos Fixos

Reforça a primeira resposta depois de um período determinado. Como pessoas que verificam a caixa de correspondência quando a hora do carteiro passar se aproxima, os pombos bicam uma tecla com mais frequência à medida que fica mais próxima a hora esperada de recompensa, produzindo um padrão inconstante de "pára-começa".

 Programações de Intervalo Variável

Reforça a primeira resposta depois de intervalos de tempo variáveis. Como o questionário imprevisível que reforça o estudo, as programações de intervalo variável tendem a eliciar respostas lentas e firmes. Caso os questionários tornem-se previsíveis, os estudantes começarão a seguir o padrão de pára-começa que caracteriza as programações de intervalo fixo (em outras palavras, estudarão apenas na véspera).

 O Uso dos modelos Animais

Um behaviorista utiliza o comportamento dos animais não como forma de poder estudar as particularidades que os animais possuem quanto ao seus comportamentos, mas sim, para procurar leis universais que regem o comportamento dos organismos. Para Skinner (1956), os esquemas de reforço do condicionamento operante são universais. Importa pouco, disse ele, que reação, que reforço ou que espécie você usa. O efeito de determinada programação de reforço é quase o mesmo: "Pombo, rato, macaco, o que é o quê? Não importa… O comportamento apresenta características espantosamente similares."

Referências

  1. Thorndike, E. L. (1901). Animal intelligence: An experimental study of the associative processes in animals. Psychological Review Monograph Supplement, 2, 1-109.
  2. a b c d Myers, D (1999) em "Introdução a Psicologia Geral", Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
  3. Skinner, B. F. (1974) em "Sobre O Behaviorismo" São Paulo: Editora Cultrix
  4. Skinner, B. F. (1971) em "Para Além da Liberdade e da Dignidade" Lisboa: Edições 70
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VÍDEOS

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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sugestão de leitura de livro do editor do blog. Psicopedagogia e arteterapia Teoria e prática na aplicação em clínicas e escolas


Psicopedagogia e arteterapia

Este livro surge para acrescentar informações nas áreas de Arteterapia e Musicoterapia e orientar pacientes, professores e profissionais de saúde para que sejam aplicadas técnicas bem fundamentadas e que realmente funcionam.
A obra, também, faz a relação entre as técnicas de Arteterapia e a aplicação dos psicopedagogos. As técnicas aqui descritas e experiências aqui relatadas pretendem servir aos leitores como fundamentação e orientação tanto educacional quanto clínica, terminando em definitivo com essa grande confusão envolvendo Arteterapia, Arte como Terapia e Arte-Educação.


Sumário:

INTRODUÇÃO

PEQUENA DESCRIÇÃO DAS ÁREAS CITADAS

PRINCIPAIS PRECURSORES DAS ÁREAS DE ARTETERAPIA  E MUSICOTERAPIA

CONCLUSÃO DE PESQUISA  HISTÓRICA

PENSAMENTOS DOS CITADOS NESTA  PESQUISA

INSULINOTERAPIA, LOBOTOMIA E ELETROCHOQUE

ARTETERAPIA


Diferença entre arte como terapia,  Arteterapia e Arte-educação
Arte como terapia 
E a Arte-Educação, o que vem a ser?
A dramaturgia impulsionando a Terapia 
Consulta e sessões em Arteterapia
Avaliação em Arteterapia 
Atendimento clínico em Arteterapia 
(exercícios práticos )
Jogos dramáticos em grupos
Atividades em pintura e desenho
Atividades práticas em pintura e desenho
Atividades que podem ser aplicadas em Arte como Terapia e em Arte-Educação
Teatro de marionetes e teatro de fantoches 
Pintura 
Dança e expressão corporal,


MUSICOTERAPIA


Como a Música age no cérebro 
Solidão dos instrumentos (musicais) que curam
Modalidades da Musicoterapia
Música usada como Terapia 
O ensino da Música 
Consulta e sessões em Musicoterapia 
Atendimento clínico com Musicoterapia 
(exercícios práticos)
Arteterapia e Musicoterapia - quando e qual técnica procurar?


PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

PSICOPEDAGOGIA EDUCACIONAL

O PROFESSOR, A PSICOPEDAGOGIA, A PRÁTICA E A DIDÁTICA

SUGESTÕES BASEADAS EM PSICOPEDAGOGIA PARA ELABORAR UM PLANO DE AULA



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Conversas sobre Didática,