sexta-feira, 4 de março de 2011

DICAS PARA A SALA DE AULA

DICAS PARA A SALA DE AULA
 
 Segundo Sandra Rief (2001), especialista em Educação Especial e Recursos de Aprendizagem, algumas condições pré-existentes podem desencadear problemas para portadores de TDAH na sala de aula, estas condições podem ser:

            Físicas: fatores internos como fadiga, fome, desconforto físico etc.
            Meio ambiente: barulho, posição da carteira, localização da sala, etc.
            Atividade ou evento específico: alguma coisa frustrante, tediosa, inesperada, superestimulante.
            Tempo específico: hora do dia, dia da semana.
            Demonstração de habilidade ou necessidade de atuação: no comportamento nas relações sociais na produção acadêmica (expectativa de fazer algo difícil, desagradável ou que provoque ansiedade).
            Outras: interação negativa com alguém ser alvo de brincadeiras ou provocações etc.
            Com o objetivo de prevenir problemas na sala de aula, o professor deve procurar alterar essas condições pré-existentes. Algumas sugestões:
  • criar um ambiente “seguro”, reduzindo o medo e o stress.
  • Aumentar a estrutura.
  • Estabelecer uma rotina previsível (são difíceis de se adaptarem a novas situações).
  • Ajustar os fatores ambientais (temperatura, iluminação, móveis, estímulos visuais etc.).
  • As regras, limites e procedimentos a serem seguidos devem ser claramente definidos, ensinados e praticados.
  • O ensino do sucesso de todos.
  • Estrutura as lições de modo a permitir participação ativa e resposta interessada.
  • Proporcionar mais escolhas e opção a fim de provocar interesse e motivação.
  • Proporcionar mais tempo e mais espaço; se necessário, mudar o tempo e o espaço.
  • Proporcionar ritmo adequado.
  • A supervisão deve ser mais freqüente.
  • Aumentar as oportunidades de movimentação física.
  • Ensinar estratégias de auto-controle (relaxamento, visualização, respiração profunda, resolução de problemas, auto-monitoramento).
  • Utilizar as estratégias de “cantinho para pensar”, “tempo para se acalmar”, “pausa para descanso”, como medida preventiva.
  • Utilizar tática de redirecionamento e preparar para as transições.
  • Trabalhar as dificuldades acadêmicas, sociais e comportamentais.
  • Proporcionar acomodações e adaptações segundo a necessidade.
  • Proporcionar maior encorajamento e retorno positivo.
  • Aumentar o número de dicas e incentivos, especialmente os “toques” visuais e sinais não verbais.
Usar voz calma, bem como uma tranqüila linguagem corporal - requisitar, redirecionar e corrigir de maneira eficiente e respeitosa.
PERFIL ACADÊMICO COMUM
  Leitura:
 
  • Fluência média, identificação das palavras;
  • Compreensão desigual;
  • Perde-se na leitura freqüentemente;
  • Precisa ler oralmente, não consegue ler silenciosamente;
  • Esquece o que lê;
  • Tem baixo desempenho em trechos longos;
  • Desempenho médio em trechos curtos;
  • Evita ler.
  Linguagem escrita:    
  • Idéias criativas;
  • Problemas de planejamento e organização;
  • Não consegue começar;
  • Caligrafia imatura;
  • Fraco em ortografia;
  • Velocidade lenta;
  • Produção mínima.
  • Mecânica fraca (letra maiúscula/pontuação).
  Matemática:  
  • Altamente inconsistente;
  • Erros por desatenção;
  • Conceitos matemáticos médio/forte;
  • Execução lenta com lápis/papel;
  • Lembrança fraca de fatos.
  • Alinhamento numérico fraco.  
Habilidades de estudo/organizado:  
  • Perde coisas freqüentemente;
  • Fraco em anotações;
  • Esquece matérias e tarefas;
  • Fraco em priorizações e planejamentos;
  • Má administração de tempo;
  • Tarefas incompletas.
  • Precisa de esclarecimentos e lembretes freqüentes.  
TALVEZ NÓS PRECISAMOS MODIFICAR  
  • Materiais;
  • Métodos;
  • Ritmo;
  • Ambiente;
  • Tarefas;
  • Exigências de tarefas;
  • Notas;
  • Testes / Avaliação;
  • Feedback;
  • Reforço;
  • Entrada de idéias / Rendimento;
  • Nível de suporte;
  • Grau de participação;
  • Tempo distribuído;
  • Tamanho / Quantidade.  
SETE ELEMENTOS CHAVE PARA O SUCESSO  
1º Conseguindo e mantendo atenção:  
  • Uso de novidades e objetos;
  • Técnicas eficazes de questionamento;
  • Uso de organizadores gráficos;
  • Sinais auditivos;
  • Uso de retro-projetores (para uma melhor visualização);
  • Respostas escritas associadas com atividades auditivas.  
2º Administração na sala de aula:
  • Clareza na comunicação e expectativas;
  • Uso de monitores;
  • Regras e conseqüências expostas;
  • Uso de controle por proximidade;
  • Alunos repetem instruções;
  • Sinais, elogios e reforço para períodos de transição;
  • Revisão de regras e auto-monitor em situação de grupo.  
3º Aprendizado participativo e oportunidades de respostas:  
  • Aprendizado cooperativo:
- uso de parceiros;
- membros do grupo tem papéis determinados;
- responsabilidade e auto monitoria.
  • Resposta em grupo (quadro de giz).  
4º Organização e habilidades de estudo:  
  • Uso de programas e expectativas da escola;
  • Uso de cadernos e calendários de tarefa;
  • Tarefas esclarecidas e expostas;
  • Sistema de estudo entre parceiros (por tutor).  
5º Instrução multisensorial e acomodação para estilos de aprendizado:
  • Uso de melodia e ritmo;
  • Apresente instrução visualmente / auditivamente;
  • Fazer uso de computadores;
  • Ambiente físico adequado ao trabalho dos alunos;
  • Ofereça escolhas de onde trabalhar;
  • Áreas privativas e escritórios para estudo;
  • Áreas de sala formal / informal;
  • Uso de fones ante-ruídos e outros artifícios como, por exemplo, luz local e não luz difusa;
  • Intervalo para alongamento e exercícios.  
6º Modificação na produção escrita:
  • Testes orais e transcrição escrita;
  • Rubricar trabalhos / tarefas menores;
  • Habilidades de processador de textos e digitação;
  • Uso de opções de papel (ex.: computador ou folha milimetradas).  
7º Práticas de colaboração
  • Equipes de estudo (equipes de consulta);
  • Ênfase em parcerias com os pais;
  • Ensinar em equipe para facilitar a instrução e a disciplina;
  • Uso de monitores de idades diferentes;
  • Necessidade de tempo para planejamento e apoio administrativo.  
O QUE MANTER EM MENTE COM ALUNOS QUE SÃO UM DESAFIO  
  • Planeje uma resposta e evite “reagir”;
  • Elogie, encoraje gratifique o desenvolvimento da melhora;
  • Mude o que você pode controlar... Você mesmo (atitude, linguagem do corpo, voz, estratégia / técnicas, expectativas, foco);
  • Seja firme, justo e estável;
  • Permaneça calmo;
  • Evite bater de frente (medir forças).
ESTRATÉGIAS PARA ATRAIR A ATENÇÃO E PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS
  • faça uma pergunta interessante e especulativa, mostre uma figura, conte uma pequena estória ou leia um poema relacionado para gerar discussão e interesse para a próxima lição.
  • Tente um pouco de brincadeira ou tolice, drama (use objetos e estórias) para conseguir a atenção e estimular interesse.
  • Mistério. Traga um objeto relevante a lição em uma caixa, sacola ou fronha. Isto é uma maneira excelente de gerar especulação e pode levar a criança a ótimas discussões e atividades escritas.
  • Mostre animação e entusiasmo sobre a próxima lição.
  • Diminua o tempo que o professor fala. Faça o máximo de esforço para aumentar mais as respostas dos alunos (dizendo ou fazendo alguma coisa com a informação que está sendo ensinada).
  • O uso de parceiros (duplas) é talvez o método mais eficaz de maximizar o envolvimento do aluno. O formato, de parceiros assegura que todos estejam envolvidos ativamente não apenas alguns. “Vire-se para seu vizinho/parceiro e...” Os formatos de parceiros são ideais, para previsão, compartilhar idéias, esclarecer instrução, resumir informações / treinar / praticar (vocabulários, ortografia, operações matemáticas), compartilhar atividades escritas. Exemplos: “Junte-se a seu colega e dividam suas idéias sobre...”. Depois de dar um tempo para as duplas responderem, peça voluntários para compartilhar com a turma toda. “Quem gostaria partilhar o que você e seu parceiro pensam sobre...”
  • Formule as lições usando um ritmo animado e uma variedade de técnicas de questionamento que envolvam a classe toda, parceiros e respostas individuais.
  • Antes de pedir uma resposta oral, faça uma pergunta e peça que os alunos anotem primeiro o que eles acharem que seja correto. Depois peça que voluntários respondem oralmente.
  • Permita que os alunos usem quadro brancos individuais durante a lição, é motivador e ajuda a manter a atenção. Se usado corretamente, é também eficaz para checar a compreensão dos alunos e determinar quem precisa de reforço.
  • Varie a maneira que você chama o aluno. Por exemplo, “Todos que estão usando brinco, levantem-se esta pergunta é para vocês”. (Alunos deste grupo podem responder ou ter a opção de passar.
  • Utilize cartões de resposta já preparados para os alunos praticar áreas de conteúdo com uma ferramenta de uso individual. Estes cartões podem ser subdivididos em aproximadamente 3-5 categorias, com respostas escritas naquelas seções (ponto final, interrogação, exclamação). Quando o professor faz a pergunta (lê uma frase), o aluno coloca um pregador de roupa na resposta correta (neste exemplo qual a pontuação é necessária na fase lida); leques de respostas são outra opção (um leque é feito com vários cartões de resposta com um furo e segurado por uma argola).
Quando feito uma pergunta os alunos escolhem o cartão que melhor responde a pergunta.
  • Faça uso freqüente de respostas em grupo ou ao mesmo tempo quando há uma única resposta curta. Quando estiver explicando, pare com freqüência e peça aos alunos para voltar atrás e repetir uma ou duas palavras.
  • Use folhas de resumo que são resumos parciais enquanto você explica a lição ou dá uma palestra, os alunos preenchem as palavras que estão faltando baseado em o que você está dizendo ou escrevendo no quadro.
  • Uma técnica de instruções direta e outros métodos de questionamento que permitam oportunidade de grande participação (E.: respostas em unissario, resposta em dupla).
  • Use a estrutura apropriada para cooperação em grupos de aprendizagem (ex.: designação  de papéis, tempo limitado, responsabilidade). Não é apenas trabalho em grupo, alunos com TDAH (e muitos outros) não funcionam bem sem as estruturas e expectativas claramente definidas.
  • Sinalize alunos através da audição: toque de campainha ou sino, bata palmas, toque um acorde de piano / violão, use um sinal verbal.
  • Use sinais visuais: pisque as luzes, levante as mãos indicando que os alunos levantem as mãos e fechem a boca até que todos estiverem quietos e atentos.
  • Sinalize claramente: “todo mundo”... Pronto...”
  • Cor é muito efetivo para chamar atenção. Use pincéis coloridos no quadro branco e para transparência no retro-projetor.
  • Contato com os olhos. Os alunos devem estar virados para você quando você está falando, especialmente quando instruções estão sendo dadas. Se os alunos estiverem sentados em grupos, peça aqueles que não estão diretamente voltados para você que virem suas cadeiras e corpos quando sinalizados a fazer isso projete sua voz e certifique-se estar sendo ouvida claramente por todos. Esteja consciente de outros barulhos na sala de aula como ar condicionado e aquecedores barulhentos.
  • Chame o aluno para perto de você para explicação direta.
  • Posicione todos os alunos para que possam ver o quadro. Sempre permita que os alunos reposicionem suas carteiras e  suas carteiras e sinalizem para você se a visão estiver bloqueada.
  • Use recursos visuais. Escreva palavras chave ou figuras no quadro enquanto estiver explicando. Use figuras, diagramas, gestos, demonstrações e materiais de alto interesse.
  • Ilustre, ilustre, ilustre: não importa se você não desenha bem durante suas explicações. Dê a você mesmo e aos alunos permissão e encorajamento para desenhar, mesmo que não tenha talento. Desenhos não precisam ser sofisticados e exatos. Aliás, geralmente quanto mais tolo melhor.
  • Aponte para o material escrito que você quer enfocar com um apontador ou laser. Nota: retro projetores estão entre as melhores ferramentas para prender a atenção na sala de aula. No retro projetor o professor pode modelar facilmente e destacar informações importantes. Transparências podem ser preparadas com antecedência, poupando tempo. As transparências podem ser parcialmente cobertas, bloqueando qualquer estímulo visual que possa distrair.
  • Bloqueie material. Cubra ou retire do campo visual aquilo que você não quer que os alunos foquem, removendo as distrações do quadro ou tela.
  • Ande pela sala – mantendo sua visibilidade.
  • Esteja bem preparado e evite atrasos nas explicações.
  • Ensine tematicamente quando possível – permitindo integração de idéias / conceitos e conexões.
  • Use técnica de nível mais elevado para perguntas. Faça perguntas abertas, que requerem raciocínio e estimulam pensamentos abertos, que requerem raciocínio e estimulam pensamentos críticos e discussão.
  • Use programas de computador motivadores para construção de habilidades específicas e para fixação (programas que fornecem feedback e auto-correção).
ESTRATÉGIAS E SUPORTES PARA LIDAR COM PROBLEMAS SOCIAIS E EMOCIONAIS  
  • Tente variar a organização de assentos para proporcionar uma situação em que o aluno sinta-se confortável.
  • Dê ao aluno responsabilidade na sala de aula / escola.
  • Reduza o número de tarefa ou modifique para possibilitar um maior índice de sucesso nos alunos.
  • Tente identificar o que está causando estresse e frustração ao aluno.
  • Reduza tarefas com papel / lápis e permita outros meios de produção.
  • Amplie o tempo para completar a tarefa.
  • Use instruções curtas acompanhadas por demonstração ou exemplo visual.
  • Use um cronômetro para determinar o tempo a ser gasto em uma tarefa específica.
  • Forneça atividades que o aluno possa ter sucesso (academicamente e socialmente).
  • Envolva os alunos em atividades de monitoria com crianças menores.
  • Arranje mensagens para o aluno levar outras salas de aula ou para secretarias.
  • Descubra o interesse dos alunos e proporcione atividades que correspondam a esses interesses.
  • Tendem envolver os alunos em atividades extracurriculares.
  • Chame atenção para as potencialidades dos alunos e demonstre os talentos dele /dela, suas ilhas de competência.
  • Dê responsabilidades ao aluno de ser um assistente do professor, monitor, modelo, líder do grupo, etc.
  • Converse com professores, funcionários de apoio, orientadores, assistente sociais sobre esta criança.
  • Aumente a comunicação com os pais.
  • Aumente as oportunidades de encontrar com o aluno individualmente e estabelecer um relacionamento de apoio.
  • Dê a esta criança um monitor que possa lhe dar suporte e ser tolerante.
  • Ensine habilidades sociais apropriadas, estratégias de lidar com situações e resolver problemas.
  • Ensine habilidades sociais apropriadas, estratégias de lidar com situações.
  • Forme pares de alunos com monitores de séries mais avançadas ou um amigo especial, entre a equipe.
  • Aumente significativamente as interações positivas, freqüência de elogios e feedback.  
ENCORAJAMENTO E APRECIAÇÃO

  • Eu aprecio o esforço que você usou nesta tarefa.
  • Continue pensando nessas boas idéias.
  • Esse B+ reflete seu esforço. Você deve estar orgulhoso de si mesmo.
  • Marcos, eu percebi que você estava bem preparado para a aula de hoje. Realmente ajudou você ter arrumado sua carteira e em ordem o seu caderno.
  • Eu gosto da maneira que você lidou com aquele problema.
  • Você deve sentir-se bem em ver o progresso que você está fazendo. Seu esforço está sendo compensado.
  • É isso mesmo... continue praticando e logo você saberá tudo.
  • Aposto que você se dedicou muito nesta questão.
  • Eu percebi que os alunos da mesa 2 realmente se ajudaram e trabalharam como equipe. Meus parabéns.
  • Leane, você seguiu as instruções rapidamente. Eu aprecio sua cooperação.
  • Eu percebi que você realmente se dedicou a melhorar sua caligrafia. Posso ver uma melhora na sua letra.
  • Eu agradeço a maneira que você ajudou a Mariana com o que ela perdeu ontem por ter faltado a aula. Você realmente é um companheiro responsável.
  • Olha que melhora ! realmente mostra que você se dedicou com tempo e esforço.
  • Eu estou confiante que você fará uma boa escolha.
  • Você consegue fazer isto !
  • Você está  ficando melhor em...
  • Essa é difícil. Mas eu tenho certeza que você pode entender.
  • João, você está mostrando um grande auto-controle esta manhã. Você se lembrou de levantar a mão quando quer falar e está respeitando o espaço dos outros alunos.
Vanda Rambaldi
Psicóloga
Autora Consultada: Sandra Rief



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quarta-feira, 2 de março de 2011

Pensamentos negativos podem mesmo atrapalhar nossa vida


PsicoterapiaBrasil | 10/07/2009
Reportagem veiculada no programa MGTV, da Rede Globo, em julho de 2009, com o psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade falando sobre a influência do pensamento negativo em nossas vidas.

(Visite o site: www.psicoterapiabrasil.blogspot.com)


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Estudantes que vivenciam a separação dos pais tendem - se não forem bem assistidos - a piorar no desempenho escolar.



 REVISTA EDUCAÇÃO - 02/2011 - EDIÇÃO 166

Vida partida

Estudantes que vivenciam a separação dos pais tendem - se não forem bem assistidos - a piorar no desempenho escolar. Os educadores podem ter papel importante na detecção de problemas
 
Carmen Guerreiro

"Vocês não sabem como é duro ter pais separados!", desabafou uma aluna durante a reunião de classe de sua turma no Colégio Oswald de Andrade, escola de classe média em São Paulo. Durante o encontro, educadores questionavam os estudantes sobre o motivo pelo qual eles não estavam fazendo lição de casa como deveriam. "Essa menina estava sobrecarregada porque, com os pais brigando, tinha de assumir a própria vida sozinha aos 12 anos, sem apoio do pai ou da mãe", conta Luciana Andrade, coordenadora do Fundamental 2 da escola.

E esse tipo de sobrecarga, ao que tudo indica, pode afetar bastante o desempenho escolar e o estado emocional dos jovens. Pesquisa realizada pelo Instituto Glia avalia que filhos de pais separados têm 46% mais chances de ter baixo desempenho na escola e duas vezes mais probabilidade de desenvolver uma doença mental do que crianças com pai e mãe casados. Não morar com um ou ambos os pais, segundo o estudo, confere ao filho 1,8 e 3,2 vezes mais chance de obter notas baixas e riscos para a saúde mental, respectivamente.

Para a instituição organizadora da pesquisa, a boa saúde mental se caracteriza por "um estado de bem-estar no qual a criança, o adolescente ou o adulto encontra-se apto a exercer suas habilidades, superar as adversidades da vida, poder estudar e trabalhar de forma produtiva". Foram entrevistados pais e professores de mais de 9 mil crianças e adolescentes de 81 cidades de 16 estados das cinco regiões brasileiras.

Esses resultados são indicações de fatores de risco a que crianças e jovens estão expostos, como explica Marco Antônio Arruda, neurologista organizador do Projeto Atenção Brasil: Saúde mental e desempenho escolar em crianças e adolescentes brasileiros. "É a mesma situação de falar que o fumo, o colesterol e a pressão alta são fatores de risco para doenças cardiovasculares. Estabelecer a relação de causa e efeito, no entanto, só se acompanharmos o indivíduo por certo tempo", explica. Com o objetivo de minimizar esses fatores de risco, o médico providenciou a publicação da pesquisa em formato de cartilha, destinada a educadores.

Questões por responder
A partir dos resultados do levantamento, no entanto, restam algumas dúvidas: o simples fato de ter pais separados leva as crianças a ir mal na escola? As crianças com pais casados não têm o mesmo tipo de dificuldade? A psicóloga e psicopedagoga Maria Cecília Nascimento esclarece que a questão não é tão simples.

"Há uma estreita relação entre lar e escola, por isso uma grande parte dos problemas educacionais infantis continua a ser originado no lar. O relacionamento entre pais e filhos e a harmonia do casal são elementos fundamentais para a obtenção de um bom desempenho escolar. No entanto, minha experiência profissional em consultório demonstra que filhos de famílias estruturadas também apresentam dificuldades escolares", observa.

Segundo ela, não há duvidas de que o que acontece no âmbito familiar da criança, como a separação dos pais, interfere no seu emocional, podendo apresentar comportamentos prejudiciais no desempenho escolar, mas essa é apenas uma possibilidade que é minimizada quando os pais, mesmo que separados, dão atenção e participam da educação dos filhos. "Estes aprendem mais e melhor com o apoio dos pais, sentindo-se mais seguros, motivados, estimulados e com vontade de aprender."

O fator que define se uma criança é ou não afetada por esse tipo de evento familiar pode estar ligado ao que Arruda se refere como "resiliência" - a capacidade da criança de se adaptar e lidar com uma situação difícil separadamente da sua vida escolar. "Na física, resiliência é a capacidade de um material sofrer transformação e voltar ao seu estado original, como a borracha e o elástico. Esse conceito foi transferido para a saúde mental infantil e crianças com alto desempenho escolar e bons índices de saúde mental são consideradas altamente resilientes. São capazes de sofrer o impacto e, com a perda, não se deformarem, e voltarem a seu estado original", explica.

Para Luciana, do Colégio Oswald de Andrade, a forma como a criança lida com uma perda familiar - a exemplo de um divórcio - e como isso influencia seu desempenho escolar depende de sua estabilidade emocional, da estrutura e rotina que os pais estabelecem para ela ou não e de questões práticas como a lição de casa, que depende de livros que são esquecidos na casa do pai ou da mãe.

"O problema é que às vezes os filhos ficam abandonados, sozinhos, e não têm orientação e cobrança adequadas, pois os pais estão preocupados demais com a separação", afirma. O problema não seria a separação em si, mas como os pais deixam o fato influenciar a vida do filho - expondo-o a brigas constantes, fazendo dele um meio de comunicação entre os adultos, muitas vezes de forma manipulativa, ou privando-o de uma rotina organizada e assistida.

"Muitas vezes o aluno é inteligente, capaz, esperto, mas não entrega os trabalhos. Outros têm nota baixa por dificuldade de aprender e compreender, apesar de se esforçar. Mas, em princípio, não existe nenhuma correlação entre nota baixa e pais separados. Muitas vezes pais separados funcionam melhor para o filho do que pais juntos que não conseguem se entender em relação à criação e rotina escolar do jovem", diz.

O papel do educador
Apesar de a separação dos pais não levar, obrigatoriamente, ao mau desempenho escolar, muitos alunos enfrentam essa dificuldade em maior ou menor grau. Nesse cenário, os professores muitas vezes são os primeiros a presenciar mudanças no comportamento desse aluno e cabe a eles identificar a fonte do problema e prestar ajuda, seja no âmbito escolar, seja ao fazer um alerta aos pais.

 "Hoje, o tempo que os pais têm para ficar com os filhos é inferior ao do professor. Por isso, elaboramos a cartilha, para que o educador esteja informado e, diante de um aluno com dificuldades, saiba identificar fatores de risco", diz Arruda.

A psicopedagoga Maria Cecília aponta que o professor deve estar atento a mudanças de comportamento do aluno, já que suas dificuldades podem vir à tona de diversas maneiras. "Alguns se mostram mais dispersos, apáticos, não demonstram interesse e envolvimento com as atividades. Outros são hiperativos e agitados", diagnostica. Independentemente de como a criança ou adolescente demonstra os problemas que está enfrentando em função da separação dos pais, Luciana, do Oswald de Andrade, defende que deve haver um canal aberto para conversa entre alunos e professores. "Cada escola lida com a questão de uma maneira. Na nossa, é muito fácil de perceber quando o aluno está passando por esse tipo de dificuldade, pois eles conversam com os professores, existe uma relação de diálogo. Quando aquele aluno que sempre fez as atividades começa a deixar de fazer ou fica calado, o educador deve procurar conversar, e depois falar com a coordenação." Se não houver melhora, a escola deve chamar os pais.

Luciana defende que, nesse tipo de situação, sejam abordados aspectos exclusivamente escolares, sem imiscuir-se na vida pessoal do aluno e de sua família. "O que ela pode fazer em benefício do aluno é em âmbito escolar e isso é muito importante. Pode ajudá-lo e à família a se organizar melhor, mostrar para os pais quanto o filho está sofrendo, procurar alternativas e soluções", argumenta. Cecília concorda e acrescenta que a coordenação deve explicar aos pais que a participação na vida escolar de seus filhos, desde que não invasiva e estimulando sua autonomia, pode influenciar de modo efetivo o desenvolvimento escolar. Coisa que, de resto, é necessária para filhos de pais casados, separados, órfãos de pai ou de mãe.

Para fazer o download da pesquisa Atenção Brasil e da cartilha para o professor, 
CLIQUE AQUI.
Trabalho coletivo
Liliane Guimarães faz parte de uma equipe de cinco psicólogos que trabalham temas comportamentais com as turmas de alunos entre 4 e 8 anos da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais. A questão da separação dos pais tornou-se tão forte e recorrente na sala de aula que os professores pediram aos psicólogos a elaboração de uma aula especial para discutir o tema com as crianças. O conteúdo da aula, que Liliane publicou no site do Ministério da Educação (veja link ao lado), tem como objetivo fazer com que os alunos expressem seus sentimentos em relação à separação dos pais, discutam, tirem dúvidas e reflitam sobre a questão em detalhes - como viver em duas casas diferentes, como lidar com outros parceiros do pai ou da mãe etc.

"Nossa proposta é fazer esse trabalho no coletivo da sala de aula, porque individualmente pode configurar em atendimento clínico e nosso objetivo é atender um grupo de crianças em uma perspectiva educacional, porque essas dificuldades são questões que estão atrapalhando o desenvolvimento, as relações com os colegas e a aprendizagem. Entendemos que não é uma questão específica de uma criança, a turma toda se beneficia com o diálogo", afirma Liliane.

"A expressão do luto é importante para que a criança possa vivenciá-lo de forma menos angustiante. Se ela guardar essa emoção de forma prejudicial, isso vai enfraquecê-la e reaparecer no futuro de forma muito mais intensa." A psicóloga reuniu também livros infantis e adultos que podem ajudar professores a trabalhar e entender a separação dos pais em sala de aula.

Conheça a aula proposta para trabalhar o tema "pais separados"CLIQUE AQUI


Fonte

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