sexta-feira, 7 de junho de 2013

Introducao à Paralaxe Cognitiva - Olavo de Carvalho


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Menti para os leitores Olavo de Carvalho O Globo, 10 de julho de 2004




Menti para os leitores
Olavo de CarvalhoO Globo, 10 de julho de 2004

Menti, sim, menti para os leitores. Escrevi que não podia julgar a obra científica do sr. Richard Dawkins, e no entanto é claro que podia. Podia e posso. Menti apenas para não estragar uma surpresa: estou reservando para esse indivíduo um capítulo inteiro do meu estudo sobre a "paralaxe cognitiva", fenômeno que nele alcança proporções inauditas.
A paralaxe, se vocês recordam (O Globo 14/12/2002 ouwww.olavodecarvalho.org/semana/12142002globo.htm), é o deslocamento, na obra de um pensador, entre o eixo da especulação teórica e o da experiência concreta que ele tem da realidade. É o resultado de um esforço de abstração mal dirigido, que acaba por tomar como separados efetivamente os elementos que tinham sido apenas afastados em imaginação, por facilidade de método.
Nicolau Maquiavel, por exemplo, cria uma fórmula de governo sem notar que, se aplicada, ela teria como primeira conseqüência previsível o assassinato de Nicolau Maquiavel como colaborador principal do "Príncipe" e, portanto, segundo ele mesmo, virtual suspeito número um de traição. Descartes diz que vai narrar um experimento psicológico real no instante mesmo em que coloca como sujeito desse experimento um "eu" abstrato, isolado das condições de tempo e espaço que lhe dariam alguma consistência narrativa. Meu livrinho está cheio desses homens de duas cabeças, mas nenhum deles se compara ao sr. Dawkins, cuja dualidade mental chega a ser quase física. Em todos os demais casos, o hiato que aparece é entre um foco intelectual determinado e o campo mais geral da experiência humana do indivíduo pensante. No sr. Dawkins, em vez disso, o abismo abre-se entre a teoria que ele está tentando provar e a circunstância concreta, imediata, da experiência mesma concebida para prová-la.
É o seguinte. Em favor da sua tese da inexistência de causas finais na origem dos seres vivos, ele argumenta que unidades de informação randomicamente combinadas podem gerar seqüências significativas (mais ou menos como os átomos de Epicuro, movendo-se a esmo no espaço, formavam uma vaca por pura sorte). Para demonstrar essa possibilidade, ele concebeu um experimento informático que não sei se é tocante na sua candura ou revoltante na dose de candura que espera do público. Ele toma uma frase do Hamlet, "Methinks it is like a weasel" ("Acho que é como uma doninha"), e, num programa de computador criado para esse fim, vai produzindo milhares de combinações de letras até que, de repente, aparece de novo na tela: "Methinks it is like a weasel". Nesse instante o sr. Dawkins exclama algo como: "A-ha! Quod erat demonstrandum!" e se curva com exemplar modéstia ante os aplausos da platéia.
Werner Gitt, diretor do Instituto Federal Alemão de Ciências da Informação, fez a respeito uma observação singela e acachapante: as letras e espaços da frase não são unidades de informação anárquicas. São, precisamente, os sinais necessários para escrever "Methinks it is like a weasel" - seqüência que não se formou por si mesma mas foi escolhida pelo sr. Dawkins. A informação, portanto, não foi "gerada" pelas transformações, mas colocada lá antecipadamente para gerá-las. Em segundo lugar, noto eu que as letras na combinação não significam nada "em si mesmas", mas só dentro do sistema, previamente dado, da língua inglesa -- uma chave que também não foi gerada pelas transformações e sim admitida previamente como código da sua interpretação.
Pensadores que, na hora de examinar um assunto específico, faziam abstração de outras coisas que sabiam de si mesmos, e que assim acabavam por chegar inadvertidamente a conclusões que desmentiam a sua própria existência, já eram tipos esquisitos o bastante para justificar a imagem popular dos filósofos como sujeitos que vivem no mundo da Lua. Mas um cientista que, no ato mesmo de demonstrar sua tese, inventa um experimento que a torna impossível, este é sem dúvida o Prêmio Nobel da paralaxe cognitiva, é a anti-informação encarnada, é a entropia em forma humana. Deve ser por isso que o sr. Dawkins tem tantos admiradores. Eles se multiplicam entropicamente.


http://www.olavodecarvalho.org/semana/040710globo.htm

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quinta-feira, 6 de junho de 2013

True Outspeak Olavo de Carvalho. 5 de junho de 2013

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Inclusão do jeito que vemos sou contra. Algumas observações. João Maria ...




Inclusão algumas observações. João Maria andarilho utópico.

Entrevista Prof. Fernando Capovilla à Globo News: Libras e educação bilíngue de surdos
http://www.youtube.com/watch?v=uVbzA7...

Carta de Fernando César Capovilla ao MEC sobre educação de surdos
http://www.stellabortoni.com.br/index...

Inclusão nas escolas comuns faz com que crianças surdas não acompanhem rendimento escolar de colegas
http://noticiasenegocios.com.br/2012/...


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Inclusão do jeito que vejo sou contra. Algumas observações. João Maria ...




Inclusão algumas observações. João Maria andarilho utópico.

Entrevista Prof. Fernando Capovilla à Globo News: Libras e educação bilíngue de surdos
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Carta de Fernando César Capovilla ao MEC sobre educação de surdos
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Inclusão nas escolas comuns faz com que crianças surdas não acompanhem rendimento escolar de colegas
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Resumo da Filosofia de Kant: O Problema Crítico e a Classificação dos Juízos


Resumo da Filosofia de Kant: O Problema Crítico e a Classificação dos Juízos

kant

Kant tentou limitar ao máximo o valor da metafísica, rejeitando o racionalismo de Leibniz e ao fenomenismo de Hume. Esse é o primeiro de uma série de artigos em que vou tentar apresentar a filosofia complexa de Kant. Terei como base a obra Compêndio de história da filosofia, de Thonnard.
Classificação do saber.
Kant percebeu a diferença dos progressos das diversas ciências de seu tempo. Por um lado, a matemática, a física, a geometria e a astronomia de Newton, que se impunham sem contestação; de outro, a metafísica, que se revela contraditória e vacilante desde Descartes. O mundo, a psicologia e a teodicéia entram em crise. Kant vai analisar se a metafísica é possível e se será válida; no entanto, às ciências não será necessário investigar, pois elas já estão confirmadas, restando apenas determinar como são verdadeiras.
Classificação dos juízos
Kant admitia que o principal objeto do problema crítico é o juízo, que é a fonte da verdade e do erro ( tese de São Tomás de Aquino). O juízo exclui àqueles puramente analíticos e também os sintéticos a posteriori, retendo somente os sintéticos a priori, já que Kant só considera esse último como juízo científico para determinar o funcionamento da razão nas ciências.
O juízo analítico é formado quando o predicado repete o conteúdo formal do sujeito, desenvolvendo-o. Thonnard dá o exemplo da frase ” o corpo é uma substância extensa”, que representa uma tautologia e é incapaz de fazer progredir a ciência, pois não é um juízo científico, mas analítico. A frase mencionada, para Kant não passa de um princípio de contradição, que é apenas a regra negativa dos juízos. A conclusão à que chegamos é que todo o juízo implicando contradição é errôneo, mas a ausência de contradição não basta para que um juízo seja verdadeiro ou científico, porque, segundo Thonnard, o puro conceito, mesmo analisado, não contém verdade alguma.
O juízo sintético é formado quando o predicado é estranho ao conteúdo formal do sujeito e lhe é atribuído por uma razão diferente da análise desse conteúdo. A frase ” todo ser é inteligível” é um juízo sintético, pois a inteligibilidade é um fato especial da  inteligência, que  não é necessariamente exigida pela noção de ser. O juízo sintético é àquele que vai enriquecer e avançar a ciência.
Os juízos puramente sintéticos( a posteriori): A frase ” estou com dor de cabeça” não é um juízo científico, porque é totalmente subjetiva e representa a experiência atual. Não possuem o caráter universal dos juízos de ciência.É um juízo contingente.
Os juízos sintéticos a priori: o juízo( frase) ” todo ser contingente tem uma causa”, a noção de contigência, ou seja, a indiferença para existir ou não, nas palavras de Thonnard, não contém a noção de causa, pois o ser perfeito e distinto do qual um outro depende para existir não está presente no juízo. Kant queria uma ciência que rejeitasse o empirismo de Hume, e fosse baseada na condição a priori, com base no espírito e dominando a experiência. É um juízo universal.

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A Origem das Nossas Ideias e do Nosso Conhecimento, segundo São Tomás de Aquino

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A filosofia Tomista defende às teses que afirmam que nosso conhecimento vem do sensível; que nossos sentidos não são suficientes para explicar a origem das ideias, portanto será necessário admitir um intelecto agente, e que o processo pelo qual são formadas as espécies inteligíveis é a abstração.
O conhecimento do mundo sensível
Temos que admitir a união da alma com o corpo, e aqueles filósofos que negam a transcendência da alma só reconhecem o valor do conhecimento que vem pelos sentidos. É o caso do empirismo inglês, especialmente John Locke. Já existem outros que defendem que possuímos ideias independente do corpo, como também àqueles que sustentam a tese de que vemos às coisas na essência divina, como Berkeley. Na filosofia aristotélico-Tomista, o conhecimento do mundo sensível vem do corpo e do espírito unidos. O corpo é necessário para a aquisição das ideias, dessa forma, se as ideias estão em nós independentemente dos sentidos, diz Édouard Hugon, logo não há razão para o corpo existir.
A filosofia tomista demonstra a existência de dois intelectos:o intelecto possível e o intelecto agente. Por que isso? sabemos que a inteligência humana é passiva e depende dos objetos. Então deve haver uma parte de nossa alma que se adapta ao objeto, e outra ativa que transforma o objeto da imaginação. O intelecto possível pode se tornar todas as coisas pela recepção imaterial de todos os objetos, e o intelecto agente, que é aquele que extrai o universal das condições materiais em que está envolvido.
Quanto à questão dos universais, São Tomás de Aquino observa que o nosso conhecimento parte do universal para o particular, como, por exemplo, ao olharmos para uma fruta, olhamos para sua cor, e não para outros pormenores, e que o intelecto se volta para a essência, negligenciando condições particulares do indivíduo. Então, na filosofia tomista, existe uma refutação da filosofia de Kant, pois nós podemos, sim, ter acesso ao conhecimento do objeto pelo intelecto agente. Esse intelecto esclarece o mundo sensível, e também as coisas espirituais e a eternidade.
Bibliografia: Édouard Hugon, Os princípios da Filosofia de São Tomás de Aquino, Edipucrs, 1998.



http://resenhasdefilosofia.wordpress.com/2013/03/16/a-origem-das-nossas-ideias-e-do-nosso-conhecimento-segundo-sao-tomas-de-aquino/

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O Pensamento Abstrato



O Pensamento Abstrato

Dr. Jorge Martins de Oliveira e Dr. Júlio Rocha do Amaral
Conceituar alguma coisa é um indispensável primeiro passo para entende-la. Assim, faz-se mister que a gente se conscientize de que a complexidade do assunto “pensamento abstrato” já começa pela própria dificuldade em definir o que é “pensamento” e o que é “abstrato”.
Iniciemos tentando conceituar “pensamento”.
Na lingua portuguesa, consultando o Dicionário do Aurélio e deixando de lado diversas definições lá existentes, que não esclarecem absolutamente nada, como: “é o ato ou efeito de pensar” ou “é a faculdade de pensar logicamente”, conceituações que nos deixam rodando em círculo, conseguimos encontrar duas que nos parecem um pouco mais cabíveis: “é um processo mental que se concentra nas idéias” e “é o poder de formular conceitos”.
Buscando na lingua inglesa, através do The Oxford Desk Dictionary and Thesaurus, voltamos a girar em torno de um mesmo ponto, frente à definições como: “é o processo ou poder de pensar” ou, pior ainda, “é o que alguém está pensando”, até que encontramos um conceito mais aceitável: “é a faculdade da razão”.
Porém, definitivamente, as conceituações dos filólogos de lá e de cá, não satisfazem às exigências de filósofos, psicólogos e neurocientistas.
Mas, de que forma estes conceituam “pensamento”?
Para Jung o “pensamento é uma função psicológica racional, que estabelece relações de ordem comportamental entre conteúdos representativos, através da utilização de categorias como ‘verdadeiro’ ou ‘falso, ou como ‘certo’ ou ‘errado’.”
Para Jolivet “pensamento é a capacidade que tem o ser humano de conhecer em que consistem as coisas e as relações que elas têm entre si.”
Porque admitimos que outras espécies também pensam, temos um conceito que, conquanto, parecido com o de Jolivet é, a nosso ver, menos restritivo e mais adequado. Assim, para nós, “pensamento é a capacidade que tem o ser de, através de três operações mentais distintas: ‘a formação de ideias’, ‘o juízo sobre as relações de conveniência  entre essas ideias’ e ‘o raciocínio, que estabelece relações entre os juízos’, compreender o significado das coisas concretas e das abstrações, bem como das relações que elas guardam entre si.”
E quanto ao conceito de “abstrato”?
Voltemos aos filólogos:
Na lingua portuguesa, novamente de acordo com o Dicionário do Aurélio, “ ‘abstrato’ é o que expressa uma qualidade ou característica separada do objeto a que pertence ou a que está ligada.”
Na lingua inglesa, de novo recorrendo ao The Oxford Desk Dictionary and Thesaurus, temos conceitos mais simples, como este: “abstrato é o que existe no pensamento ou na teoria e não na matéria ou na prática.”
Consultando outras fontes, científicas e filosóficas, obtivemos conceituações bem mais lúcidas, as quais, conquanto aparentando, à primeira vista, um certo grau de complexidade, nos permitiram, a partir de palavras relacionadas, como ‘abstração’ e ‘idéia, definir e compreender, mais claramente, o significado de ‘abstrato’.
Assim, temos que a ‘abstração’ é um conceito no qual não se leva em conta um valor específico determinado e sim qualquer entre todos os valores possíveis daquilo com que estamos lidando ou ao que estamos nos referindo. Por exemplo, em álgebra, quando dizemos que x é uma variável, desconsideramos o seu valor atual, mas consideramos todos os possíveis valores de x como sendo números, os quais não são objetos físicos e sim objetos linguísticos, formados pela abstração durante o ato de contar.
Daí ser talvez a matemática o exemplo ideal do ‘abstracionismo’, uma vez que, como regra, não estuda o mundo real, e sim modelos, que são abstrações do mundo real. Exemplificando: ‘três’ é uma idéia abstrata e não uma coisa concreta do mundo real. Mas ‘três’ é uma abstração muito útil, porque nos permite ter certeza de quanto ‘três’ representa e que, adicionando-se mais ‘um’, sempre teremos ‘quatro’, independentemente de estarmos nos referindo à pessoas, casas, bananas, ou a qualquer outra coisa.
Existem outras considerações interessantes e até mesmo contraditórias sobre o tema em questão. Vejamos:
Para o filósofo George Berkeley, idéias abstratas são não entidades, ou seja, não constituem idéias que na realidade temos e sim descrições incoerentes de ideías que imaginamos ter. Assim, para ele, as idéias não possuem existência própria, necessitando, sempre, da presença de alguém que as perceba. Uma opinião oposta aos clássicos pensamentos de Platão, para quem as idéias (abstratas ou não) existem de fato, independentemente de haver ou não uma mente humana para percebê-las, uma vez  que se encontram fora de nós, no universo, concebidas por um Ser Superior.
Allan Randall, ao concordar, parcialmente, com o filósofo grego, diz que, uma vez que a idéia abstrata possui uma existência própria, devemos imaginá-la como uma idéia de alguma coisa específica. E explica: se, por exemplo, “abstraímos”, ou retiramos, uma maçã do mundo real em que ela se situa, passamos a ficar, apenas, com uma idéia muito particular- a da palavra ‘maçã’. A idéia, em si, embora obtida através de uma abstração, não é inerentemente abstrata. Trata-se, na verdade, de uma idéia particular de algo concreto. Neste caso, uma espécie de imagem mental de uma maçã com cor, forma e tamanho definidos.
A idéia abstrata, que alcançou seu grau maior de desenvolvimento em nossa espécie, tornou-se a fonte da criatividade. Sem esta, a raça humana teria sido privada de uma das mais belas expressões que vida pode prover:  a arte. Como, por definição, o 'abstracto' não tem massa, forma, tamanho e cor, quase todas as obras de arte são, definitivamente, concretas. Tomemos como exemplo uma pintura original, não uma cópia, é claro. Ela foi o resultado de uma concepção abstrata inicial da mente do artista, da qual ele construiu uma certa imagem e a pintou. Assim, o trabalho dele ficou concreto, porque tem massa, cor e dimensões.
Por outro lado, a música de uma canção, outra admirável criação artística, é, também,  privada de cor, massa e dimensões. Então, por definição, seria uma abstração. Porém, a música é capturada por uma de nossas percepções sensoriais: a audição. Então, segundo nosso ponto de vista, a música não representa uma abstração "pura”. Assim, nós a consideramos uma semi-abstração ou abstração parcial, enquanto reservando o conceito de abstração " pura " ou absoluta para aquelas que, além de serem privadas de cor, massa e dimensões, também não são percebidas pelos órgãos sensoriais.  Elas são apenas  “sentidas " pela mente.
Como exemplos de abstração absoluta nós temos sentimentos como ciúme, paixão ou ira, amor ou ódio, felicidade ou tristeza, todos eles profundamente inseridos dentro dos neurônios do nosso sistema límbico ou, como diria John Eccles, nas profundidades de nossas almas...
Mais tarde, citaremos outros exemplos de abstração absoluta.
São também importantes e significativas, para a compreensão do processo do pensamento em geral e do abstrato particular, as conceituações apresentadas por James D. Weinland em seu livro How to Think Straight. Para este autor “o pensamento é uma atividade mental, de natureza ensaio e erro, que precede a ação física. Ocorre quando o próximo passo a ser tomado é desconhecido, porque alguma dificuldade interfere com a ação. Nestes casos, ensaios imaginários indicam um caminho para uma solução, evitando assim respostas inadequadas.”
Esta definição faz-nos lembrar, imediatamente,uma outra do grande neurofisiologista Aleksandr Romanovich Luria, segundo a qual “o pensamento surge somente quando o sujeito é confrontado por uma situação para a qual não tenha uma solução previamente preparada, seja ela inata ou habitual.”
Na concepção defendida por Weinland, o pensamento é um ato complexo, no qual podemos isolar os perceptos (isto é, as impressões de um objeto obtidas pelos nossos sentidos), os conceitos e as generalizações, relacionados entre si pelos processos de indução e dedução, sujeitos à ação de processos subordinados, como a classificação e a formação de hipóteses.
Analisando as definições de Weinland em relação aos diferentes elementos constitutivos do pensamento, concluímos que apenas os perceptos têm um caráter concreto, individual, uma vez que se referem a informações captadas pelos diferentes órgãos sensoriais e à sua análise pelos centros corticais correspondentes. O autor ressalta que, embora constituam unidades fundamentais do pensamento, os perceptos “não são as experiências mentais mais elementares dos seres humanos”, uma vez que são “um composto consistindo de sensação e memória”.
Na elaboração dos conceitos (ou idéias) predomina o não concreto, o grupal , pois os mesmos são formados a partir de uma série de vários exemplares individuais de objetos e seres, dos quais eliminamos as diferenças e conservamos as qualidades comuns através da abstração.
Ainda segundo Weinland  os conceitos podem ser classificados de alto ou baixo nível. “Os conceitos de baixo nível, baseados em perceptos verdadeiros de coisas individuais, resultam diretamente do contato pessoal com essas coisas e ajudam a formar nossa experiência prática”. Os conceitos de alto nível, ao contrário, “são menos dependentes da experiência de uma única pessoa, derivando, em grande parte da educação e, portanto, da cultura do  mundo civilizado”. Ou seja, (acrescentamos nós), do universo em que ela está inserida.
Os conceitos são relacionados entre si pela generalização, atividade abstrata que identifica similaridade entre os mesmos.
A importância da abstração na formação do pensamento já era ressaltada há séculos por autores como Condillac (apud Cuvillier), o qual, já em 1798, afirmava que o processo abstrato tinha início já na percepção, pois, “com efeito, nossos sentidos decompõem cada objeto”
Laromiguiere (apud Cuvillier), nesta mesma época e seguindo uma linha similar, dizia ser “o nosso corpo, uma máquina de abstrações” A abstração pode, portanto, ser entendida como uma análise redutora e simplificadora do complexo ‘mundo senso – perceptivo’ em que vivemos, fundamentando o pensamento que nos permite tomar as decisões adequadas, visando garantir nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie.
Substratos Neurofisiológicos do Pensamento Abstrato
São conhecimentos importantes para a compreensão dos substratos neurofisiológicos do pensamento abstrato, os conceitos de unidades funcionais do cérebro, propostos pelo neuropsicólogo russo Luria, Segundo este autor, as diversas estruturas que compõe o cérebro podem ser consideradas como partes constitutivas de três unidades funcionais principais:
1. Uma unidade responsável pela regulação do estado da atividade cortical e do nível de vigilância, formada pela substância reticular e outras estruturas existentes no tronco cerebral e no diencéfalo e pelas regiões mediais do córtex;
2. Uma unidade para a recepção, análise e armazenamento de informações – constituídas por regiões laterais do neocortex situadas na superfície convexa dos hemisférios cerebrais, compreendendo as regiões occipital (visão), temporal (audição) e parietal (sensibilidade geral);
3. Uma unidade para programação, regulação e verificação da atividade – formada por estruturas localizadas na região anterior dos hemisférios cerebrais, à frente da circunvolução para-central.
O pensamento, assinala Luria, depende da ação conjunta destas três unidades funcionais mas, as duas últimas parecem ter maior importância para o  pensamento abstrato.
A segunda unidade funcional, conforme o já exposto, é formada pelas regiões occipital, temporal e parietal. Distinguem-se nestas regiões três áreas anatômica e funcionalmente distintas:
a) As áreas primárias ou de projeção – formadas, principalmente, por neurônios da camada aferente IV, muitos dos quais apresentando alta especificidade modal; são eles que recebem fibras aferentes provenientes dos órgãos dos sentidos e funcionam como analisadores das informações sensoriais específicas.
b) As secundárias ou gnósticas – intimamente relacionadas com as primeiras e constituídas, principalmente, pelos neurônios das camadas celulares II e III, dotados de menor especificidade modal. A presença de muitos neurônios de axônios curtos permite que a excitação ‘entrante’ seja combinada em padrões funcionais, realizando, assim, uma função sintética.
c) As terciárias (ou de superposição dos terminais corticais de vários analisadores), compostas quase inteiramente por neurônios das camadas associativas II e III. Situam-se entre as regiões corticais occipital, temporal e pós-central, formando, em sua maior parte, a região parietal inferior que, no ser humano, adquire um máximo desenvolvimento.
Essas estruturas terciárias estão situadas nas clássicas áreas de Brodmann: 5, 7, 39 e 40 (na região parietal), 21 (na região temporal) e 37 e 39 (na região têmporo-occipital).
As referidas áreas encarregam-se de integrar as excitações provenientes de diversos analisadores. Segundo Luria seu principal papel é o de promover a organização espacial dos impulsos aferentes vindos de diferentes regiões e o de converter “os estímulos sucessivos em grupos simultaneamente processados, único mecanismo possível para explicar o caráter sintético da percepção, que Sechenov originalmente discutiu há muitos anos”.
Ainda segundo Luria, estas áreas “desempenham um papel essencial na conversão da percepção concreta em pensamento abstrato”.
As abstrações, formadas na segunda unidade funcional, são utilizadas pela terceira unidade para as programação das atividades do ser. Especialmente importantes, nessa terceira unidade, são as áreas préfrontais, formadas por neurônios granulares, que mantém conexões de dupla via, não só com o diencéfalo e o tronco cerebral mas também, praticamente, com todas as demais áreas do córtex. As áreas préfrontais, que atingem no homem o seu máximo desenvolvimento, desempenham papel fundamental na formação de intenções e programas, bem como na regulação e verificação dos comportamentos humanos mais complexos.
Lesões nas áreas terciárias da segunda unidade funcional provocam diversas alterações neuropsicológicas, dentre as quais destacam-se a incapacidade de captar o sentido global de uma construção verbal, embora mantenha-se preservado o entendimento de palavras individuais. Os pacientes continuam capazes de entender comunicações de acontecimentos (por exemplo, papai e mamãe foram ao cinema), porém não mais captam comunicações de relações (por exemplo, uma senhora veio da fábrica para a escola onde Nina estuda, a fim de dar uma palestra). E se confundem quando diante de expressões como “muito maior que”  ou “muitas vezes mais”.
Por outro lado, lesões nas áreas terciárias da terceira unidade funcional, isto é, nas áreas préfrontais, levam a diversas alterações motoras e cognitivas pela impossibilidade de se realizar programas de atividades e a verificação de seus desempenhos.
Lhermitte (apud Miller), estudando dois pacientes que sofreram ablações extensas, bilaterais, dos lobos frontais, observou que eles são incapazes de captar o sentido global de uma situação social, respondendo, apenas, a detalhes da mesma, o que o levou a cunhar, para descrever esse tipo de comportamento deficitário o termo “síndrome de dependência ambiental”. Estes pacientes tornaram-se, no dizer de Laurence Miller, “escravos virtuais de ‘deixas’ contextuais isoladas”.
Embora nem todos aceitem, nós acreditamos que outras espécies são capazes de desenvolver abstrações. Alguns primatas e cetáceos, sem dúvida, têm concepções abstratas, mas elas devem ser muito tênues e, certamente, nunca evoluem, como em nós, humanos, para um estágio de alta criatividade. E, mesmo se isso ocorresse, seria uma criatividade inócua, pois eles não disporiam dos atributos físicos para, a partir dela, construir alguma coisa que se pudesse considerar relevante e concreto. Não obstante, o exercício de pensamentos conscientes e abstratos, entre golfinhos e símios superiores, tem sido ampla e nitidamente evidenciado.
Premeditação, ainda que de pequenos atos, ações conjugadas e astúcia racionalmente concebida são comportamentos que envolvem, necessariamente, o emprego de abstrações.
Ressalte-se que estamos nos referindo a um tipo de astúcia calcada na lógica, não na intuição. A astúcia intuitiva é, em maior ou menor grau, inerente a todos os animais, por se tratar de um importante instrumento do arsenal de sobrevivência dos seres e das espécies.
Os famosos estudos realizados por Wolfgang Kohler nas ilhas Canárias demonstram, claramente, o uso dessa astúcia racional e de ações conjugadas por macacos superiores. Entre as inúmeras observações conduzidas por esse cientista, existe uma que, não só por seu aspecto humorístico mas por caracterizar a existência de componente abstrato, merece ser aqui assinalada. Ela tem a ver com a atitude maliciosa e maldosa praticada por dois chimpanzés contra uma galinha: um dos macacos apresenta um alimento para a ave, encorajando-a a se aproximar. Tão logo ela o faz, recebe uma pancada, desferida pelo outro macaco, com um pedaço de arame que este mantivera escondido atrás das costas.  A galinha se retrai mas logo cai de novo na armadilha, já que não consegue estabelecer a associação entre a oferta do alimento e a pancada recebida. E a coisa prossegue até que os macacos, possivelmente cansados da brincadeira, afastam-se do estúpido galináceo. O componente abstrato se denuncia pela evidente premeditação de uma conspiração elaborada e executada, em uma ação conjunta, pelos dois chimpanzés.
O pensamento abstrato pode surgir de estímulos externos captados pelos órgãos sensoriais, de lembranças evocadas da memória ou simplesmente de mensagens provenientes de locais indeterminados nos recônditos da mente e sem qualquer traço de lembrança consciente. Era como se tivessem surgido do nada!
Contudo, independentemente da origem do estímulo desencadeante, os pensamentos abstratos representam idéias ou sentimentos, não dimensionáveis, desprovidos de forma, tamanho ou cor, como amor, paixão, ódio ou tristeza - abstrações límbicas, ou algo assim como sentido ético e moral, música ou matemática - abstrações neocorticais.
Também a habilidade que tem a mente de selecionar novas rotas ou novos meios para alcançar um determinado objetivo é algo que, certamente, tem a ver com o pensamento abstrato.
As vezes, o pensamento abstrato, tal como a concepção espacial de alguma coisa – possivelmente processada algures no hemisfério direito, adquire um caráter tridimensional. Essa tridimensionalidade permite que o processo mental evolua para uma criatividade mais definida, ou seja, para a capacidade de, a partir da associação inteligente de idéias abstratas, “formar” um pensamento tridimensional que permita a concepção, e depois, eventualmente, a construção de novas coisas concretas.
Em outras ocasiões, a abstração inicial gera novos conceitos, igualmente abstratos, mas que evoluem para a formulação de leis ou princípios físicos do mais alto sentido prático.
É o caso da concepção geométrica do matemático Hilbert sobre a intercepção de linhas paralelas, que acabou se tornando a base da teoria da gravitação elaborada por Einstein.
Ou da idéia do mesmo Hilbert de "construir" espaços abstratos multidimensionais, através da aplicação de funções matemáticas simples que, 25 anos depois, iriam constituir um dos fundamentos da mecânica quântica.
Mas o pensamento abstrato proporciona algo mais: quando envolvido num processo de criatividade, ele adquire uma tal magnitude, que acaba por se constituir em forte estimulo, capaz de promover a proliferação dendrito-axonial, criando novas sinápses. Torna-se, assim, um poderoso estimulador do aprendizado, do conhecimento e da potencialidade de memorização.
Bibliografia
Autoria Desconhecida. Modeling and Abstraction.
http://www.c3.lanl.gov/mega-math/gloss/math/model.html
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http://plato.evansville.edu
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Buarque de Holanda Ferreira A. Novo Dicionário da Lingua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira. 1998.
Cuvillier A. Manuel de Philosophie. Tome I. Librairies, Armand Colin. Paris. 1950
Debnath L. and Mikusurski P. Introduction to Hilbert Spaces with Applications. Academic Press. New York. 1998.
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Jung C. G. Tipos Psicologicos. Edição Argentina. ED. Sudamericana. Buenos Aires. 1960.
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 Luria, A.R. The Working Brain. Basic Books Inc.Publ. New York. 1973
Martins de Oliveira J. e Rocha do Amaral J. Princípios de Neurociência. TecnoPress. São Paulo. 1997.
Miller L. Inner Natures - Brain, Self & Personality. Ballantine Books. New York. 1991
Randall A.F. The Rejection of Abstract Ideas in the Metaphysics of George Berkeley. 1996
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http://pespmc1.vub.ac.bc/ABSTRACT.html
Weinland J.D. How to Think Straight. Rowman & Allanheld Publ. New Jersey. 1984
 
 
 

Os Autores
 
Jorge Martins de Oliveira, MD, PhD 
Professor Titular e Mestre da UFRJ. Livre-Docente da UFF. Coordenador Científico e Diretor do Departamento de Neurociências do Instituto da Pessoa Humana (RJ). Fellow em Pesquisa pelo Saint Vincent Charity Hospital, Cleveland, USA. Membro Titular da Academia Brasileira de Medicina Militar. Membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores, Diplomado pela Escola Superior de Guerra (ESG). Membro do Corpo Editorial da revista Cérebro & Mente. Autor de "Princípios de Neurociências", entre diversos outros.jmartins@rio.nutecnet.com.br
 
Júlio Rocha do Amaral, MD - Professor de farmacologia clínica, anatomia e fisiologia . Gerente Médico Científico da Merck S/A Indústrias Químicas. Redator de manuais didáticos sobre anatomia, fisiologia e farmacologia para uso da Merck. Supervisor de editoração das publicações científicas: Senecta, Galenus e Sinapse. Redator de protocolos e relatórios de pesquisas clínicas de produtos, a partir de 1978. Coordenador adjunto dos cursos de formação de especialistas em Oxidologia, promovidos pelo Instituto da Pessoa Humana (IPH) e Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). Chefe do Serviço de Psiquiatria do Departamento de Neurociências do Instituto da Pessoa Humana (IPH). Co-autor do livro 'Princípios de Neurociências, entre outros. Email:julioamaral@pobox.com




 
http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/pensamento.html 
 



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Max Weber e sua sociologia compreensiva: por joão maria andarilho utópico.



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