quarta-feira, 19 de outubro de 2022

23/08/2021Entrevista com a Diretora do Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA) dos Institutos Nacionais de SaúdeNora D. Volkow, M.D.


O que a dependência de drogas representa para o cérebro?

A dependência de drogas é o resultado final de um processo iterativo pelo qual o cérebro se habitua a uma experiência recompensadora induzida farmacologicamente (a droga aditiva) que é muito mais potente do que qualquer recompensa natural poderia oferecer ou competir. Nem todo mundo tem o mesmo risco de se envolver nessa experiência inicial, nem todo usuário iniciante acaba repetindo a experiência para se tornar um usuário regular/crônico ou desenvolver um transtorno do uso de drogas. Mas algumas pessoas com certas vulnerabilidades genéticas, psicológicas e/ou socioambientais correm um risco maior de entrar em um ciclo vicioso de aprendizado condicionado reforçado que muda cada vez mais o comportamento do uso de drogas de orientado a objetivos para automático e cada vez mais desacoplado do controle de circuitos inibitórios.

 Como os efeitos gratificantes das drogas de abuso, o desenvolvimento da saliência de incentivo e o desenvolvimento de hábitos de busca de drogas podem impactar os dependentes de substâncias psicoativas?

No nível neurobiológico, a exposição repetida a drogas de abuso desencadeia alterações epigenéticas que modulam a força sináptica e remodelam os circuitos neurais ao longo das vias mesocorticolímbicas, interrompendo o processamento da recompensa, gerando desejo e enfraquecendo o controle inibitório das respostas dominantes.

 Quais são as respostas cerebrais devido causadas pelos os estados emocionais, disfóricos e de estresse negativos relacionados à dependência de drogas?

O sistema de resposta ao estresse cerebral parece ser ativado pela ingestão excessiva aguda de drogas, sensibilizado durante a retirada repetida e persiste em um estado ativado durante a abstinência prolongada, contribuindo para o desenvolvimento e persistência da adição.

À medida que o consumo de drogas se torna compulsivo, acredita-se que os fatores que motivam o comportamento mudem para um comportamento de procura de drogas, que é impulsionado não apenas pelo reforço positivo, mas também pelo reforço negativo.

Mas supõe-se que o estado emocional negativo que impulsiona o reforço negativo derive da desregulação dos principais circuitos neuroquímicos que dirigem não apenas os sistemas de estresse cerebral (isto é, fator de liberação de corticotropina, dinorfina) dentro da amígdala extensa e que medeiam estados de ansiedade, mas também de sistemas de incentivo/saliência/recompensa (dopamina, peptídeos opióides) no estriado ventral.

O uso excessivo de drogas também envolve a ativação da CRF no córtex pré-frontal medial, acompanhado por déficits na função executiva que podem facilitar a transição para uma resposta do tipo compulsiva. A ativação excessiva do núcleo accumbens por meio da liberação de dopamina mesocorticolímbica ou ativação de receptores opióides há muito tempo é hipótese de ativar subsequentemente o sistema opióide da dinorfina-κ, que por sua vez pode diminuir a atividade dopaminérgica no sistema dopamina mesocorticolímbico.

O que pode mediar a vulnerabilidade inicial, manutenção e recaída associada à dependência química?

A maioria das pessoas que usam drogas não desenvolve dependência. Estudos epidemiológicos e clínicos mostraram que o risco de um indivíduo se tornar dependente químico é influenciado por muitos fatores biológicos, psicológicos, de desenvolvimento e ambientais diferentes e interagindo. Por exemplo, estudos genéticos mostraram fortes contribuições genéticas complexas para o risco geral de abuso e dependência de múltiplas substâncias psicoativas. Esses efeitos podem ser mediados por diferenças alélicas que operam em diferentes níveis fenomenológicos, incluindo processos enzimáticos, sinápticos, neurofisiológicos e psicológicos ou comportamentais.

O estágio de desenvolvimento também é uma variável crítica que afeta a vulnerabilidade: dados epidemiológicos demonstram claramente que a adolescência é um período de risco particularmente alto, não apenas porque os adolescentes têm uma predisposição natural para a busca de novidades e comportamentos de risco (incluindo experimentação de drogas) e adaptam seus comportamentos às pressões sociais, mas também porque a exposição a drogas durante esta fase ativa do desenvolvimento do cérebro é significativamente mais vulnerável às propriedades adictivas das drogas de abuso.

Finalmente, há uma lista crescente de fatores ambientais (por exemplo, experiências adversas na infância, estresse crônico, privação de sono, afiliação desviante, pobreza etc) que desempenham papéis importantes e modificáveis ​​na identificação de diferenças interindividuais de risco.

O pensamento importante a entender é que esses fatores genéticos, de desenvolvimento e ambientais não operam isoladamente, mas são altamente interativos, de modo que o risco individual geral reflete o resultado complexo de sua combinação dinâmica.

A maconha pode danificar um cérebro em formação?

Os efeitos específicos da exposição pré-natal à maconha permanecem obscuros e justificam pesquisas adicionais. O maior número de domínios neuropsicológicos que exibem funções psicológicas e comportamentais diminuídas versus aumentadas sugere que a exposição à maconha pode ser prejudicial ao desenvolvimento e função do cérebro. Estudos em animais sugerem, entre outros, que a exposição intraocular ao THC, o principal ingrediente psicoativo da maconha, aumenta a capacidade de resposta geral dos sistemas mesolímbicos de dopamina.

Com relação aos efeitos do uso de cannabis durante a infância e adolescência, um período prolongado de desenvolvimento cerebral ativo, os estudos de neuroimagem fornecem algumas evidências de estrutura e função frontoparietal comprometidas, no entanto, ainda não está claro se os efeitos observados são especificamente atribuíveis ao início do uso por adolescentes ou fatores gerais relacionados ao uso de maconha, como sintomas depressivos. A contribuição relativa do início do adolescente  e da cronicidade do uso de cannabis deverá ser examinada de forma mais abrangente em estudos prospectivos e longitudinais com medidas mais rigorosas do uso de cannabis (dosagem, exposição, dependência, compostos constituintes, como os níveis relativos de canabinoides), como os Estudos ABCD e HBCD.

Deve-se enfatizar que o impacto negativo sugerido pelas evidências clínicas existentes é consistente com a pesquisa em animais seminais que vincula diretamente a exposição pré-natal e adolescente ao THC com efeitos prolongados nos sistemas neurais adultos relevantes para distúrbios psiquiátricos e de uso de substâncias.

O que funciona na prevenção do abuso de substâncias?

Assim como a dependência química é um fenômeno complexo e multifacetado, é preciso pensar em prevenção eficaz como resultado de estratégias múltiplas e baseadas em evidências que devem aderir a quatro princípios básicos que determinam o que os programas de prevenção devem:  

1. Aumentar os fatores de proteção e reverter ou reduzir os fatores de risco;

2. Abordar todas as formas de abuso de drogas, isoladamente ou em combinação, incluindo o uso de drogas licitas e ilícitas por menores de idade; e o uso inadequado de substâncias obtidas legalmente, medicamentos prescritos ou medicamentos vendidos sem receita;

3. Abordar o tipo de problema de abuso de drogas na comunidade local, direcionar fatores de risco modificáveis ​​e fortalecer os fatores de proteção identificados;

4. Ser adaptado para lidar com riscos específicos às características da população ou do público, como idade, gênero e etnia, para melhorar a eficácia do programa.

Quais são as últimas notícias no campo da ciência da toxicodependência?

A pesquisa sobre dependência abrange uma vasta gama de disciplinas e houve desenvolvimentos muito interessantes no passado recente. Mas as descobertas que ainda estão frescas em meu cérebro com um enorme potencial de translacional incluem a pesquisa publicada por Marco Venniro e colegas do NIDA em 2018, que constatou que a interação social positiva em ratos impede a autoadministração de drogas. Esses pesquisadores do NIDA descobriram que, quando podiam escolher entre interagir com outro rato ou tomar heroína ou metanfetamina, os ratos sempre escolhiam a recompensa social.

Este estudo tem implicações clínicas de longo alcance, com vários pesquisadores iniciando estudos em humanos sobre mecanismos cerebrais de escolha entre interações sociais gratificantes e drogas viciantes. Essas novas descobertas devem estimular mais pesquisas humanas sobre como as abordagens de tratamento com base social podem ajudar a restaurar a recompensa normal e a regulação emocional, resultando em menor risco de recaída.

Outra descoberta que vale a pena destacar deriva do recente estudo molecular e funcional, usando modelagem computacional que lança nova luz sobre o mecanismo pelo qual os canabinoides inibem a liberação de glutamato em certas áreas do cérebro e que o processo é controlado pelo neurotransmissor adenosina que opera através de complexos (heterômeros) de receptores para canabinoides e adenosina. Esta pesquisa representa um avanço conceitual significativo no campo da fisiologia e farmacologia do receptor acoplado à proteína G (GPCR) e sugere a possibilidade de usar antagonistas do receptor A2A para neutralizar os efeitos adversos dos canabinoides, incluindo o transtorno do uso de cannabis, para o qual atualmente não existem farmacoterapias acessíveis.

O que a motiva trabalhar no campo da dependência química?

Como estudante de Medicina, eu me ofereci em um laboratório, cujo objetivo era descobrir um medicamento para a dor baseado em opioides que não seria viciante. Imediatamente, em razão de estar trabalhando com opioides, fiquei fascinada com o conceito de um animal trabalhando compulsivamente para injetar uma quantidade muito pequena de droga neles - como o animal (na época eu trabalhava com ratos e macacos) renunciaria a todo o resto. Observei com fascinação como um produto químico pode perturbar tão profundamente o comportamento de alguém.

Fiquei impressionada com a forma como nós, seres humanos, somos tão vulneráveis ​​aos efeitos das drogas, como eles nos mudam de maneiras tão profundas e como isso leva as pessoas a realmente se isolarem e a outras pessoas a rejeitá-las.

Na minha própria família, meu tio era alcoólico e, como estudante de medicina, eu via pacientes entrando no hospital com cirrose ou varizes, ou com câncer porque estavam bebendo ou fumando a vida toda.

Mas também foi muito frustrante ver como médica e como estudante o quão estigmatizados eram os dependentes químicos - os médicos não queriam tratá-los, eles os dispensavam. Isso realmente me incomodou porque era antiético ao que eles deveriam fazer como médicos. Quero dizer que os médicos devem ter empatia e cuidar daqueles que são vulneráveis, e ainda assim a maneira como lidamos com indivíduos dependentes químicos era exatamente o oposto.

Olhando para trás, essas foram algumas das experiências que me motivaram a trabalhar no campo da dependência química. 

Como o OBID pode contribuir para o seu trabalho?

Um dos principais objetivos do nosso Instituto é maximizar até que ponto a pesquisa é traduzida em a) intervenções mais eficazes (prevenção e tratamento) e b) políticas mais inteligentes de medicamentos baseados em evidências para proteger a saúde pública. É por isso que é tão importante para nós manter canais de comunicação abertos e robustos com instituições internacionais que, como o OBID, são responsáveis ​​por garantir o rigor metodológico nas atividades destinadas a reduzir a demanda, a oferta e os danos associados ao uso de drogas; e de defender a condução sistemática de estudos e pesquisas na área. Considero o OBID um parceiro natural nesse empreendimento desafiador e gostaria muito de estabelecer um diálogo contínuo.

Nora D. Volkow, M.D., é diretora do Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA) dos Institutos Nacionais de Saúde. O NIDA apoia a maior parte da pesquisa mundial sobre os aspectos de saúde do uso e dependência de drogas.

O trabalho da Dra. Volkow tem sido fundamental para demonstrar que a dependência de drogas é uma doença do cérebro humano. Como psiquiatra e cientista, a Dra. Volkow foi pioneira no uso de imagens cerebrais para investigar as propriedades tóxicas e aditivas de drogas de abuso. Seus estudos documentaram mudanças no sistema de dopamina que afetam, entre outras, as funções das regiões frontais do cérebro envolvidas com motivação e auto-regulação da adição.

Fonte:  https://www.gov.br/cidadania/pt-br/obid/entrevistas/nora_volkow

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Estudo De Caso (UNIFATECIE-Psicologia) Educação Na Pós Modernidade É O P...

15 dicas para professores iniciantes

 

 

canaldoensino.com.br

15 dicas para professores iniciantes

Postado por: Redação

Olá professores!

Hoje traremos dicas para os professores iniciantes, formados há pouco ou ainda estudantes de licenciatura ou pedagogia. Para entrar no mercado de trabalho, assim como em qualquer outra profissão, é preciso atitude.

Às vésperas da primeira aula, um professor pode ter algumas reações desagradáveis, como ansiedade e medo. O novo professor também pode acreditar que é tímido, e ter dúvidas quanto ao seu desempenho em sala.

Não importa quanto conhecimento teórico e preparação você receba ou tenha, apenas a experiência pode mostrar o que realmente significa estar em sala de aula como professor. Veja a seguir 15 dicas para professores iniciantes!

1 Não seja o centro das atenções
Os melhores professores são aqueles que guiam, dividem o que sabem, e não se tornam o centro das atenções. Os estudantes é que são o objetivo final de tudo.

2 Estude os seus alunos
Você precisa conhecer o seu grupo, saber quem são as pessoas que você vai ensinar. Os talentos, os defeitos, as riquezas.

3 Alunos podem procurar desafios desde que você dê segurança a eles
A aprendizagem às vezes determina alguns riscos. Se você for capaz suficiente de dar segurança e confiança a seus alunos eles poderão seguir e correr estes riscos. Os alunos precisam saber que você confia neles e que eles podem confiar em você.

4 Excelentes professores são aqueles que ensinam com paixão
A diferença entre um bom professor e um excelente professor está exatamente na paixão com que eles atuam e não no conhecimento ou experiência. Paixão pelo material, pelo programa, pelo ensino. O desejo é contagioso.

5 Estudantes aprendem quando os professores mostram o quanto eles precisam aprender
Os alunos não têm a ideia exata do que é realmente importante e o que poderão ter de benefício com a aprendizagem. Será seu papel mostrar, dividir, ensinar e praticar com eles.

6 Mantenha o seu programa claro e simples
Uma das grandes funções de um mestre é fazer as coisas complicadas parecerem simples. A grande ação de um grande líder é exatamente fazer com que seus seguidores lhe entendam.

7 Aprenda com os alunos
Algumas vezes, a melhor resposta que você pode dar a seus alunos é “não sei”. Ao invés de perder credibilidade você mostrará humildade e reconhecimento. Mas não se esqueça de pesquisar com eles e sanar a dúvida.

8 O ensinamento começa do coração
A melhor forma de ensinar não é uma fórmula, é algo pessoal. Diferentes pessoas ensinam a mesma matéria de forma diferente porque são diferentes e vêem o mundo de forma diferente. Nós ensinamos o que somos. O ato de ensinar requer coragem para explorar o sentimento de identidade.

9 Pare de falar, comece a escutar
Dê espaço para seus alunos se manifestarem. Isso mostra o valor que você dá a eles. A linguagem do escutar é muito importante e dá a você um feedback do seu programa.

10 Deixe seus alunos ensinarem uns aos outros
Você não é a única pessoa com quem eles podem aprender. Eles também podem ajudar uns aos outros. Mantenha um ambiente propício para a troca.

11 Ensine de maneiras diferentes
Dentro da sala de aula há espaço para diversas estratégias de ensino e dinâmica.

12 Descanse
Você sempre vai encontrar novas coisas para fazer, por isso aprenda a estabelecer limites para o tempo em que permanece na escola.

13 Planeje e respeite seu tempo
Há momentos para alunos, para reuniões e para os pais. Mas também deve haver um período pessoal, onde você possa ver e responder seus e-mails, almoçar, etc.

14 Faça contatos e aprenda
Bons profissionais
estão sempre em busca de novas informações e oportunidades. Faça isso com uma rede de contatos e leituras diárias, por exemplo. Fique conectado com sites e outros recursos que ofereçam material relevante para seu desempenho.

15 Determine o que você avalia
É óbvio que os professores devem saber o que avaliam e quando avaliam, mas, algumas vezes, os educadores parecem esquecer ou perder o foco naquilo que devem realmente avaliar. Saiba determinar qual é a avaliação que você deve fazer, para quem, com qual foco e em que hora.

E você, conhece mais alguma dica? Comente!

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Mentiras E Mais Mentiras. Dentro Da Política. (feito com Spreaker)

Contra Ou A Favor Da Estabilidade Do Servidor Público (feito com Spreaker)

 

 

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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Críticas à Teoria de Ausubel

 

Carlos Martins

Joseph Novak (1981, Novak e Gowin, 1996) propôs a visão humanista da Teoria da Aprendizagem Significativa, segundo Novak a teoria de Ausubel está subordinada à integração construtivista, positiva, entre pensamentos, sentimentos e ações que conduz ao engrandecimento humano. De acordo com Novak, quando a aprendizagem é significativa o aprendiz cresce e se predispões a novas aprendizagens, no entanto, a consequência disso é que se a aprendizagem for mecânica o sujeito acaba por desenvolver uma atitude de recusa.

Segundo D.B.Gowin (1981, Novak e Gowin, 1996) a visão interacionista social da Teoria de Ausubel é uma visão basicamente vigotskyana, na qual o processo ensino-aprendizagem é visto como uma negociação de significados. Nessa visão o professor é quem domina os significados e o aprendiz busca captar tais significados. Cabe ao professor apresentar esses significados das mais diversas maneiras e quantas vezes for necessário para que o aluno capte os conhecimentos. 

A teoria dos modelos mentais de Johnson-Laird (1983) oferece uma explicação para interação entre novos conhecimentos e conhecimentos prévios, que estão na essência da aprendizagem significativa.

Frente a um novo conhecimento, uma nova situação, a primeira representação mental que o sujeito constrói, em sua memória de trabalho, é um modelo mental. Em certas circunstâncias essa representação pode estabilizar-se e evoluir até um esquema de assimilação piagetiano. (Moreira, 2002; Greca e Moreira, 2002). É isso que está esquematizado na figura abaixo.

Essa visão cognitivista contemporânea da aprendizagem significativa é compatível com a visão clássica também no sentido de que o conhecimento prévio é fundamental pois os modelos mentais são construídos a partir de conhecimentos que o indivíduo já tem em sua estrutura cognitiva e daquilo que ele percebe da nova situação, seja por percepção direta seja por alguma descrição ou representação dessa situação, desse novo conhecimento.

A visão da complexidade e da progressividade está muito clara na teoria dos campos conceituais de Vergnaud (1990;Moreira, 2002) é importante para que não se pense que a aprendizagem significativa ocorre rapidamente ou que a aprendizagem é significativa ou mecânica, ou seja, que há uma divisão entre as duas.

Para Vergnaud, o conhecimento está organizado em campos conceituais cujo domínio, por parte do sujeito que aprende, ocorre ao longo de um extenso período de tempo. Os conhecimentos dos alunos são moldados pelas situações que encontram e progressivamente dominam. Mas essas situações são cada vez mais complexas. As situações são os novos conhecimentos e são elas que dão sentido aos conceitos, mas para dar conta delas o sujeito precisa dos conceitos, ou seja, conhecimentos prévios. Mas esses conhecimentos prévios ficarão mais elaborados em função dessas situações nas quais são usados. Está aí a interação que caracteriza a aprendizagem significativa, porém em uma óptica de progressividade e complexidade.

Os novos conhecimentos de Ausubel seriam as novas situações. Os conhecimentos preexistentes seriam conceitos em construção. Da interação entre eles resultaria a aprendizagem significativa, de maneira progressiva.

A visão autopoiética (Maturana, 2001), os seres vivos são máquinas autopoiéticas, ou seja, máquinas que continuamente especificam e produzem sua própria organização através da produção de seus próprios componentes, sob condições de contínua perturbação e compensação dessas perturbações.

As máquinas autopoiéticas são autônomas, podem ser perturbadas por fatores externos e experimentam mudanças internas que compensam essas perturbações. Contudo, a perturbação não contém em si mesma uma especificação de seus efeitos sobre o ser vivo (no caso, o aluno) é este em sua estrutura que determina sua própria mudança frente a tal perturbação. Esta propriedade das máquinas autopoiéticas chama-se determinismo estrutural. O ser vivo é uma máquina autopoiética determinada estruturalmente. A aprendizagem significativa ocorre no domínio de interações perturbadoras que geram mudanças de estado, ou seja, mudanças estruturais sem mudar a organização, mantendo a identidade de classe.

Os conhecimentos prévios dos alunos são explicações que são reformulações da experiência. E essas explicações se dão na linguagem. Os novos conhecimentos são perturbações que, na aprendizagem significativa, receberão significados e, ao mesmo tempo, através de uma interação perturbadora modificarão em alguma medida, a estrutura dos conhecimentos prévios sem alterar sua organização.

A visão computacional Por um lado tem muito a ver com a que chamamos de cognitiva contemporânea, ou seja, a dos modelos mentais. Por outro, tem a ver com o computador como instrumento de aprendizagem.

A idéia é a mesma proposta por Ausubel há mais de quarenta anos, porém ao invés de falar-se em subsunçores, que muitas vezes são interpretados como conhecimentos puntuais, fala-se em representações mentais que decorrem de computações mentais nãoconscientes. Não se trata de complicar a proposta de Ausubel sobre a enorme influência dos conhecimentos prévios na aprendizagem de novos conhecimentos, mas sim de ter uma visão melhor e contemporânea da estrutura desses conhecimentos prévios.

Para facilitar a aprendizagem significativa da modelagem computacional, Araujo, Veit e Moreira (2006) adaptaram o chamado Vê de Gowin (1981, 2005), ou diagrama V, e o transformaram em um diagrama AVM (Adaptação do Vê à Modelagem), tal como apresentado na figura abaixo. Na experiência desses autores os alunos constroem diagramas AVM, antes, durante ou depois, de construírem os modelos computacionais com o objetivo primordial de estimular sua reflexão crítica sobre os modelos físicos construídos e sobre a modelagem em si. Busca-se assim facilitar a aprendizagem significativa de atividades computacionais desenvolvidas pelo aluno.

 Segundo A visão crítica (subversiva, antropológica) é importante que a aprendizagem significativa seja também crítica, subversiva, antropológica. Quer dizer, na sociedade contemporânea não basta adquirir novos conhecimentos de maneira significativa, é preciso adquiri-los criticamente. Ao mesmo tempo que é preciso viver nessa sociedade, integrar-se a ela, é necessário também ser crítico dela, distanciar-se dela e de seus conhecimentos quando ela está perdendo rumo.

Para isso, Moreira, 2000 lista, no quadro abaixo, princípios facilitadores de uma aprendizagem significativa crítica.

Concluímos, que mesmo passado mais de 40 anos da proposição da Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, ainda é um tema atual e que mesmo refletindo sobre esse tema nas várias visões proposta, não tira a originalidade dessa teoria, no entanto, com o passar do tempo é necessário novas visões e perspectivas, principalmente no que diz respeito a sua complexidade e visão crítica.

Referência

Moreira, M.A. APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: da visão clássica à visão crítica. Instituto de Física da UFRGS. 2007

 

Mapa conceitual: A teoria a respeito dos Mapas Conceituais foi desenvolvida na década de 70 pelo pesquisador e navegador norte-americano Joseph Novak, com vistas a facilitar a administração, ao nível de Comando e Estado Maior, de uma companhia de navegação. Ele define mapa conceitual como uma ferramenta administrativa, para organizar e representar o conhecimento, de forma geral, sendo basicamente um aperfeiçoamento do conhecido organograma, somente que, bastante, e muito detalhado, com fins de ser utilizado em trabalho de equipe e/ou em colegiado.
Ancoragem: Nos esportes desenvolvidos em altura chama-se de ancoragem a técnica de fixar cabos para a instalação de sistemas verticais, para descer ou subir barreiras ou para transportar cargas e pessoas com segurança.
Consiste num conjunto de conhecimentos sobre a física dos materiais, execução de nós e voltas, análise do ambiente e usos pretendidos, estabelecendo níveis de segurança para o desenvolvimento de tarefas.
Cognição: é o ato ou processo da aquisição do conhecimento que se dá através da percepção, da atenção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. A palavra Cognitione tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles.
É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento na classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
De uma maneira mais simples, podemos dizer que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos.

Subsunçores: são estruturas de conhecimento específicos que podem ser mais ou menos abrangentes de acordo com a frequência com que ocorre aprendizagem significativa em conjunto com um dado subsunçor.

Bibliografia
MOREIRA, Marco Antônio (1999). Aprendizagem significativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
MOREIRA, Marco Antônio (1999). Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda.
 
 



David Ausubel Psicólogo

Nascimento: 25 de outubro de 1918, Brooklyn, Nova Iorque, EUA
Falecimento: 9 de julho de 2008
David Paul Ausubel nasceu nos Estados Unidos, na Cidade de Nova York, no ano de 1918, filho de famíliajudia e pobre, imigrantes da Europa Central, cresceu insatisfeito com a educação que recebera. Revoltado contra os castigos e humilhações pelos quais passara na escola, afirma que a educação é violenta e reacionária, relatando um dos episódios que o marcou profundamente nesse período:
"Escandalizou-se com umpalavrãoque eu, patife de seis anos, empreguei certo dia. Comsabãodelixívialavou-me a boca. Submeti-me. Fiquei de pé num canto o dia inteiro, para servir de escarmento a uma classe de cinquenta meninos assustados (…)".1 Para ele, "A escola é umcárcerepara meninos. O crime de todos é a pouca idade e por isso os carcereiros lhes dão castigos."1
Após sua formação acadêmica, em território canadense resolve dedicar-se à educação no intuito de buscar as melhorias necessárias ao verdadeiro aprendizado. Totalmente contra a aprendizagem puramente mecânica, torna-se um representante do cognitivismo, e propõe uma aprendizagem que tenha uma "estrutura cognitivista", de modo a intensificar a aprendizagem como um processo de armazenamento de informações que, ao agrupar-se no âmbito mental do indivíduo, seja manipulada e utilizada adequadamente no futuro, através da organização e integração dos conteúdos aprendidos significativamente.

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É PRECISO APRENDER COMO SE APRENDE PARA PODER APRENDER COMO SE ENSINA A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL

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A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL

 

A aprendizagem significativa é uma teoria que todo educador precisa conhecer. Ausubel foi o inventor dos mapas conceituais e de tantas outras metodologias que utilizamos hoje na sala de aula. além disso, em tempos de tecnologias nas escolas ele aponta bons caminhos para pensar e propor ações.

Neste novo contexto educacional, de grande expansão tecnológica e de informação, as palavras de ordem são aprendizagem significativa, mudança conceitual e a construção do conhecimento. Ao contrário de uma aprendizagem mecânica ou repetitiva, com pouca ou nenhuma atribuição de significação sendo armazenadas isoladamente na estrutura mental levando ao esquecimento e a dificuldade de associar com novos conhecimentos.

A aprendizagem é um processo de mudança no comportamento obtido através da experiência com o meio, sendo esta construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais, ou seja, aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. Segundo Palangana (2001, p. 71) sobre o modelo proposto por Piaget: “Ele acredita que o conhecimento não é imanente nem ao sujeito nem ao objeto, sendo, isto sim, construído na interação entre estes dois polos”.

Pode considerar que a aprendizagem humana é definida como sendo a mudança relativamente estável do comportamento do aluno resultante da sequência do estabelecimento de associações, ou seja, é o resultado das experiências anteriormente adquiridas fundamentais para o ajustamento de novos conceitos e modelos mentais para incluir e organizar as novas experiências.

 

O Homem, dotado de estruturas biológicas, herda uma forma de funcionamento intelectual, ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva à construção de um conjunto de significados. A interação deste sujeito com o ambiente permitirá a organização desses significados em estruturas cognitivista (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001, p.127).

 

Assim, para Ausubel, aprendizagem significa organização e integração do material na estrutura cognitiva, e se torna significativa quando uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo, tornando a aprendizagem significativa. A Aprendizagem Significativa é uma teoria de aprendizagem em que o novo conteúdo deve se relacionar com o conhecimento prévio do aluno, também chamado de subsunçor. O subsunçor é uma estrutura específica ao qual uma nova informação pode se integrar ao cérebro humano, que é altamente organizado e detentor de uma hierarquia conceitual que armazena experiências prévias do aprendiz (MOREIRA, 1983, p. 62).

Esse processo ocorre por meio do qual uma nova informação interage de forma não literal, que significa a relação entre o material a ser aprendido e a estrutura cognitiva não deve ser ao pé da letra, ou seja, a relação não se altera se símbolos diferentes, mas equivalentes, forem usados e também não-arbitrária, em relação ao novo item com a estrutura cognitiva, não deve ser ao acaso, mas feita de modo intencional para permitir a ancoragem com os subsunçores específicos.

A aprendizagem significativa pode ocorrer tem três tipos:

 

 - Aprendizagem de representações: é a aprendizagem por meio de símbolos e o que eles representam, seus conceitos. Esse é o muito utilizado principalmente com crianças pequenas, pois o aluno associa o conceito com um símbolo para representar qualquer objeto. Percebe, intuitivamente, que todo objeto pode ser representado por um símbolo verbal e que o significado a ser relacionado ao símbolo é a imagem evocada pelo objeto. Quando estiver firmemente estabelecido na estrutura cognitiva do aluno ele conquistou condições para realizar quaisquer aprendizagens de representações.

 - Aprendizagem de proposições: é o inverso da Representacional, necessita do conhecimento prévio dos conceitos e símbolos, mas seu objetivo é promover uma compreensão sobre uma proposição. O objetivo apreender o significado de ideias expressas em forma de proposição e não isoladamente, ou seja, aprender o significado que está além dos significados das palavras ou conceitos que compõem a proposição.

 - Aprendizagem de conceitos: A aprendizagem de conceitos comporta dois tipos de aquisição: a formação de conceitos e a assimilação de conceitos. A formação de conceitos é uma aprendizagem inicial em que ocorre uma aquisição espontânea e indutiva de ideias gerais sobre um assunto. A assimilação de conceitos é um processo que se quando o aluno já possui os atributos criteriais do conceito por meio de uma definição. Assim, o aluno relaciona os atributos do conceito com as ideias pertinentes em sua estrutura cognitiva. O processo de “subsunção” é descrito pelo princípio da assimilação. Pela assimilação um conceito ou proposição A, potencialmente significativo é assimilado sob uma ideia ou conceito mais inclusivo já existente na estrutura cognitiva. Essa assimilação ou ancoragem indica ter um efeito maior na retenção.

            Para haver aprendizagem significativa é preciso que o aluno tenha um interesse para aprender e que o material a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo e lógico. Assim, pode-se concluir que para que a aprendizagem significativa ocorra, três condições são necessárias: 1) o material deve ser claro, com exemplos e linguagem relacionada com o conhecimento prévio do aprendiz; 2) o aprendiz deve possuir o conhecimento prévio relacionado ao novo conteúdo; e 3) o aprendiz precisa ter vontade de aprender de modo significativo. Ausubel, na sua teoria foi o primeiro a se preocupar com a aprendizagem dentro de sala de aula, acreditava no valor da descoberta e experiência. Neste sentido, sua maior contribuição foi repensar acerca da aula do tipo “tradicional”, e refletir sobre o que é uma aprendizagem mecânica e uma aprendizagem significativa (MOREIRA & MASINI, 2006). Segundo Ausubel (2003), os principais conceitos relativos à aprendizagem se articulam esquematicamente da seguinte forma (figura 1):


 

A teoria de Ausubel oferece, portanto, diretrizes, princípios e uma estratégia de facilitadores da aprendizagem e como colocá-las em prática, desenvolvida principalmente por Novak. Novak desenvolveu os mapas conceituais que são uma técnica que, como sugere o próprio nome, enfatiza conceitos e relações entre conceitos à luz dos princípios da diferenciação progressiva e reconciliação integrativa. Os mapas conceituais podem ser usados como recurso didático, de avaliação e de análise de currículo, como também como instrumento de metacognição, para aprender a aprender.

Resumindo, Ausubel destaca que só vale a pena a aprendizagem para o ser humano se ele conseguir “Ampliar e reconfigurar as formas de descobrir para aprender”. Diante disso, o autor considera relevante considerar que o ser humano já possui algum conhecimento quando chega na escola, ou seja, é preciso considerar a realidade que o mesmo já traz de suas relações familiares e socias antes da escola e com a junção dos ensinos que o professor vai sistematizar no meio escolar, juntamente com os conhecimentos advindos dos livros e da relação social, vai construir novos conhecimentos que para Ausubel é a aprendizagem significativa que nada mais é que a ampliação e reconfiguração da aprendizagem.

 Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24179_12230.pdf

 

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