quarta-feira, 5 de maio de 2010

AS CONVERGÊNCIAS E SUAS APLICAÇÕES NA CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA: ESTUDO DE CASO CLÍNICO



AS CONVERGÊNCIAS E SUAS APLICAÇÕES NA CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA: ESTUDO DE CASO CLÍNICO 

Marta Carolina dos Santos

RESUMO
O objetivo do trabalho é apresentar documentação do processo de intervenção psicopedagógica, permitindo a socialização e contribuição das constatações científicas frente às sessões realizadas durante dois anos consecutivos e sua aplicabilidade para crianças portadoras de deficiência mental. Trata-se de explicitar as técnicas e clínicas e psicopedagógicas nas intervenções realizadas durante três anos consecutivos. Busca através de pesquisa abordar a experiência clínica na abordagem a partir da Epistemologia Convergente e os métodos de procedimento para a alfabetização! de criança portadora de Síndrome de Down. Os resultados mais evidentes estão relacionados com as relações interpessoais, sociais e na leitura/escrita podendo também observar avanços na decodificação de palavras para escrever e ler, além da lógica para narrar fatos de seu cotidiano. Durante as vivências nas sessões, pode-se concluir que a relação vincular estabelecida entre paciente e terapeuta fundamentada na Epistemologia Convergente e na superaprendizagem de conceitos da leitura e escrita; contribuirão para uma prática clínica e educativa na atuação de profissionais.

1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho apresentar-se-á um estudo de caso clínico a partir de convergências baseadas na Epistemologia Convergente de Jorge Visca. O trabalho clínico com queixa escolar de uma criança portadora de necessidades especiais estimulou a oferecer a abordagem convergente conforme os estudos de VISCA, documentando as técnicas e métodos desenvolvidos a partir das necessidades levantadas no decorrer das vivências nas sessões.O registro desta experiência clínica revela a objetividade e abrangência possível nas investigações e intervenções psicopedagógicas nos casos especiais.
Para ilustrar do que consiste o exposto trabalho, buscou-se a afirmação do psicanalista LEVIN (2001), sobre a clínica “quando propõe que para o diagnóstico, é necessário que o terapeuta envolva-se plenamente no labirinto com a criança, nesse excesso, para se encontrar na fase e no verso do espelho, junto a ela, mas sem se confundir com sua imagem, marcando seu contorno, mas deixando por vezes, que se transborde o incipiente labirinto que ela irá construindo à medida que se desenvolve na cena do cenário infantil”.
Segundo LEVIN (2001) o discurso científico da modernidade apresenta-nos uma nova variável que, por sua vez, se transforma em parâmetro e critério de avaliação, isto é, tempo.A criança da modernidade está atravessada pela urgência temporal; mal começa a andar improvisando os primeiros passos, já o adulto está pensando em quando ela vai poder falar e basta-a articular e formar os fonemas iniciais, que já o adulto está pensando em quando ela vai conseguir escrever, mal consegue soletrar, é colocada para ler direito, e assim por diante, sem pausa.Quanto mais conhecimento ela acumular e mais rapidamente, melhor condição terá para adequar-se às novas regras e competências do mercado.
Nesta busca desenfreada ao conhecimento, onde situa a criança que apresenta deficiência mental?Quantas expectativas, angústias e incertezas sobre sua inclusão no mercado de trabalho e na vida social ao se tornar adulto?
Aprender a lidar com o tempo desta criança é o desafio da sociedade, da família, especialistas e educadores.
Diante do desafio de adequara sociedade para a inclusãosocial, a começar na educação, torna-se necessário que profissionais especialistas possam acompanhar e orientarcom técnicas específicas o desenvolvimento de competências e habilidades, além de informar o perfil da criança atendida, sendo comunicada aos educadores da escola, pelo qual, está inclusa.
É imprescindível que os profissionais envolvidos tenham perspectivas claras e concretas sobre o que buscar nas intervenções, como intervir e para que encaminhar a outros especialistas, porque a singularidade da diferença humana estende a cada sujeito independente de seu estilo de adquirir e expressar conhecimento e sentimentos, é preciso desenvolver um olhar especial naqueles que lidam diretamente com as especialidades das síndromes, das debilidades, dos déficits, das limitações físicas e sensoriais.
Portanto, as leituras discorridas neste trabalho tem por finalidade, comprovar a eficiência e veracidade da intervenção psicopedagógica baseada na Epistemologia Convergente e no Tateamento Experimental para a construção da leitura/escrita.
A metodologia adotada para realizar a documentação das intervenções realizadas entre os anos de 2003 a 2004, é observacional em situação de intervenção e sendo os delineamentos da pesquisa pré-experimentais, comparando situações de competências e habilidades antes e durante as intervenções/avaliações e posteriormente as novas intervenções e apropriações adquiridas pelo sujeito.
Para compreender a metodologia adotada busca-se apresentar a definição desta abordagem e relato das primeiras sessões.
Segundo Fasce (apud VISCA, 1987) a Epistemologia Convergente é definida como sendo uma conceituação da aprendizagem e suas dificuldades numa relação integrada, onde as contribuições das abordagens psicanalíticas, piagetianas e da psicologia social são pertinentes às sessões.Mediante esta forma de conceituação pode-se compreender a participação dos aspectos afetivos, cognitivos e sociais, que influenciam no aprender do sujeito.A parir desta conceituação discorreremos a relação entre avaliação, diagnóstico e intervenção a partir das convergências.
A criança ao ser encaminhada para o atendimento psicopedagógico é avaliada junto a família e a escola, a forma com que relaciona com os adultos e com as demais crianças, as observações do terapeuta e relatos dos envolvidos configuram os aspectos inter e intrapessoais, o papel que exerce nos diferentes cenários da vida cotidiana e sua relação com o aprender.As relações sociais que são estabelecidas ao longo da história pessoal de cada indivíduo determinam algumas formas de compreensão, ação e reação frente à construção do real.
Conforme SANTOS (1999) é nesta busca de adequação ao grupo, visto que o “ eu” tende a ter intimamente um sentimento de pertença a um determinado grupo, o indivíduo auto-afirma valores, adquire um nível de aspiração, seu índice de realização e rendimento que dependem de fatores sociais e situacionais.
No caso da abordagem neste campo de estudo se utiliza a técnica de trabalho de grupos operativos compondo o ECRO (Esquema Referencial e Operativo) que tem fundamento no método dialético do psicólogo social Pichón Riviére.Na clínica, foi reproduzida através de cenário e personagens (fantoches) situação de operatividade, pelo qual, a criança e o terapeuta delegam papéis e organizam uma situação constituindo as três dimensões básicas do grupo operativo: a mútua representação interna, os papéis e a tarefa.Esta técnica foi muito utilizada nos momentos de resistência da criança frente aos desafios das atividades de estimulação sensorial e principalmente visomotor, além de extrair a problemática enfrentada péla escola, quando a criança resistia os tempos e espaços estabelecidos pela instituição, bem como sua relação com a professora e seus colegas.
Nestas sessões, eram simuladas as relações com os membros da família, ora com os colegas da escola, as representações lúdicas do real permitiram compreender a dinâmica das relações sociais da criança avaliando e intervindo.Nesta abordagem buscou-se para melhor compreensão do trabalho o cone invertido abrangendo os elementos da teoria do grupo operativo, através de seus vetores:
a) Filiação: o terapeuta buscou junto á criança criar um elo de identidade a partir de conversas e criação de cenário comum a vida familiar da criança, com o objetivo de motivá-la a se tornar “ parte da família fictícia”.
b) Pertença: o terapeuta permite que a criança crie os nomes e funções dos personagens na cena, identificando cada um com seus aspectos emocionais e de personalidade.
c) Cooperação: a criança estabelece regras e condutas a serem cumpridas pelos participantes a fim de que cada um contribua para a realização da tarefa.
d) Pertinência: neste momento, quando “ o grupo” está envolvido com a tarefa, emerge os conflitos da criança através da projeção nos demais personagens, narrando assim os momentos de que se sente limitado, diferente e incapaz, mas estes sentimentos são relatados com clareza, afinal, para o analisando tais sentimentos e condutas não pertence a ele, mas ao personagem a criança toma para si o papel de dominador, de líder entre os demais, o que realmente consegue realizar as tarefas propostas. Pertence ao grupo, mas para obter este sentimento necessita sobressair-se, o que não ocorre no real, porque na escola resiste às propostas coletivas na sala de aula, se sentindo incapaz para realizar as tarefas comparando suas produções com as dos colegas.
e) Comunicação: a criança e o terapeuta dão vida aos personagens e numa dinâmica dialética constroem uma situação, com o objetivo de extrair da criança um universo de idéias criativas e coerentes.Neste momento há presença da verbalização das ações e relatos de situações do real moldurando a cultura e informações que a criança vivencia em seu grupo social.
f) Aprendizagem: a criança ao idealizar-se num personagem sem dificuldades para escrever ou ler, adapta com maior facilidade as informações e habilidades que serão estimuladas durante o momento da tarefa, busca memorizar solicitando a repetição da leitura ou escrita pela terapeuta, driblando a deficiência mental para obter conhecimento.Nestes momentos a terapeuta observou o estilo de aprendizagem e o tipo de aprendizagem estabelecido pela criança.
g) Telé: Com o clima grupal organizado neste cenário, a criança reage manifestando suas ansiedades, a terapeuta avalia e interfere.

Além das contribuições da psicologia social, a psicanálise infantil contribuiu para o trabalho com a afetividade da criança, nas avaliações e intervenções realizadas com a criança, utilizou-se a abordagem kleiniana por ser baseada no brincar.Através desta técnica se permitiu observar e interagir com a criança percebendo o seu conteúdo consciente e inconsciente nas fantasias surgidas nas brincadeiras, como foi apresentado anteriormente a simulação do cenário, ora da escola, ora da família, de acordo com a necessidade da criança de reconstruir o real do social, através do grupo operativo imaginário.
Mas, nos momentos que brincou livremente com outros brinquedos, a terapeuta pode analisar os elementos do brincar como expulsão, o brincar e as projeções e brincar para obter prazer.Nos momentos das brincadeiras conforme Klein (1926) as crianças possuem uma compreensão inconsciente muito maior que seus próprios problemas e é capaz de conscientizar-se de seus conflitos internos com a ajuda do terapeuta.Com a finalidade de avaliar e identificar os aspectos sócio-afetivos e cognitivos da criança utilizou-se o formulário de avaliação/intervenção denominado: “ Entrevista Operativa Centrada no Brinquedo” – EOCB, pelo qual se analisa o tempo que a criança interage com determinado brinquedo ou brincadeira, verbalização da ação, inanimismo, atenção, planejamento para o brincar, reprodução cultural, projeção de atitudes e sentimentos, relação com o objeto/objetos e aspectos transferenciais.
Para que o trabalho de avaliação/diagnóstico e intervenção psicopedagógicas tenha informações objetivas sobre a inteligência da criança e como funciona sua estrutura cognitiva, para adquirir conhecimento, aperfeiçoar suas habilidades e competências é imprescindível uma abordagem específica nestes aspectos, os estudos piagetianos contribuíram para que o eixo da intervenção psicopedagógica fosse aplicado para emergir o sujeito escondido nas metodologias de ensino, através das investidas do próprio sujeito para apropriar de um novo objeto do conhecimento, fazendo-o apoiar-se em sua própria construção para buscar novas apreensões.No caso da criança em tratamento na clínica, durante a fase da vida em que vivenciou a função semiótica seu desenvolvimento nas condutas representativas (imitação diferida, jogo simbólico, imagem mental, desenho e linguagem) foram superestimuladas, o que favoreceu suas possibilidades de avanços.Porém, quanto ao desenho ao desenho e a linguagem, estas apresentaram num ritmo lento para aprimoramento, o que implicou na disgrafia acentuada e as resistências à priori para desenhar.
De acordo com as provas piagetianas aplicas ao longo das sessões, esta criança está em fase de transição entre o pré-operatório e operatório concreto.Para melhor entendimento desta afirmação buscou-se os estudos da doutora em Educação, a pedagoga RANGEL (1992) quando descreve o período pré-operatório como sendo o aspecto figurativo do pensamento representativo tendo domínio sobre o aspecto operativo.(...) Piaget caracteriza como raciocínio transdutivo esta forma de raciocinar, presa aos aspectos figurativos do pensamento representativo característico das crianças de dois a sete anos de idade, aproximadamente. É importante destacar conforme SANTOS (1999) que no período de transição entre a fase pré-operatório a e operatório-concreto, a criança que se apropria da linguagem escrita, apresenta noções de conservação, seriação, classificação, número, utilizando variáveis em relação à construção da escrita. No caso da criança analisada, atualmente para ler, ela se apóia do soletramento seriando verbalmente cada letra, evocando os fonemas para depois pronunciar a palavra ou frase.
Nas sessões que se seguiram, as intervenções puderam ser realizadas a partir dos conceitos da teoria piagetiana, quando a terapeuta pode desenvolver técnicas a partir das condutas do pensamento representativo, buscando auxiliar a criança na apropriação de conceitos, competências e habilidades que se apresenta no Programa de desenvolvimento de Competências e habilidades discorridas a posteriori.
A técnica utilizada no desenvolvimento da leitura e escrita foi de vital importância para dar continuidade ao trabalho: Tateamento Experimental na aquisição da leitura/escrita na deficiência mental e as estratégias a partir das convergências psicopedagógicas.
 O termo “tateamento experimental” foi utilizado nas abordagens de Sampaio 1989 em sua obra: FREINET: Evolução Histórica e Atualidades, onde define o tateamento experimental como sendo a aptidão para manipular, observar, relacionar, emitir hipóteses, verificá-las, aplicar leis e códigos, compreender informações cada vez mais complexas. É uma atitude particular que deve ser desenvolvida pouco a pouco, assim os conhecimentos vão sendo adquiridos pela criança e se enraízam profundamente nela, permanecendo, entretanto, revisáveis e relativos, quando aparecem novos fatos ou quando são feitos novas experiências.
Segundo FREINET (1978) uma experiência feliz no decorrer da tentativa cria como que uma camada de força e tende a reproduzir-se mecanicamente para se transformar em regra de vida. Esta afirmação evidencia a valorização de cada tentativa realizada pela criança em manipular objetos da escrita, tentar grafar, desenhar, garatujar, experimentar diferentes movimentos e materiais de produção gráfica são vivências fundamentais para a aquisição da auto-afirmação, auto-estima, iniciativa e autonomia nos contatos com a linguagem escrita.
De acordo com as pesquisas sobre a Educação FREINET e a Psicologia Experimental a veracidade e aplicabilidade do tateamento experimental na intervenção psicopedagógica são eficazes e evidentes.Com especial relevância neste caso que se configura o quadro de deficiência mental, disgrafia acentuada e lentidão para a escrita. Observou-se nas tentativas experimentais para o desenvolvimento desta habilidade, a busca da criança pelo domínio da leitura procurando memorizar visual e auditivamente as letras, sílabas, fonemas, palavras e frases construídas a partir de experiências vividas em seu universo familiar e escolar. Observou-se também que a tentativa experimental, além de buscar recursos do universo do sujeito, possibilitou as manifestações afetivas, expressando suas emoções na escrita e na leitura com intuito de adquirir a aceitação, o reconhecimento, a afetividade, o acolhimento, o pertencimento para adaptar os novos conhecimentos nesta área do saber.
O tateamento experimental foi utilizada pela criança para compreender a dinâmica de regras sociais, reproduzindo na EOCB as relações familiares e reprodução cultural do contexto em que vive, fator importante para o desenvolvimento do pensamento lógico podendo a partir dos recursos do brinquedo projetar suas hipóteses sobre o mundo, sobre si mesmo em relação aos outros e como os outros o vêem e o percebem no cotidiano familiar. A cada momento que reproduzia uma mesma situação compreendia e aliviava seus conflitos internos. Assim, o tateamento experimental estava presente nas técnicas projetivas, de modo que convergiam dimensões do processo de aprendizagem: metacognitivo e psicanalítico.
Durante as sessões que se seguiram a escrita e a leitura estiveram sempre presentes ora manipulando jogos, tentando fazer traçados mais aprimorados ou lendo e relendo novas e antigas palavras estudadas. Ao manipular jogos e brinquedos, pode-se intervir em questões ligadas à lógica do pensamento. Através de entrevistas informais organizadas sob forma de temas: causa/conseqüência, tempo, quantidade, negação, afirmação, argumentação, seriação, classificação, puderam ser experimentadas em diferentes situações e sendo realizadas muitas tentativas que contribuíram para um melhor desempenho na comunicação, expressando com coerência e organização suas idéias verbalmente (apesar da gagueira); firmando as convergências dos aspectos epistemológicos.
Contudo, enfocando a tentativa experimental na aquisição da leitura e escrita organizou-se durante as pesquisas e aplicação da técnica uma programação de atividades nas sessões que foram fundamentais para que a experiência maciça de conceitos na estruturação da leitura e escrita pudesse apresentar resultados positivos.
Segue abaixo os passos para uma abordagem da linguagem escrita através da tentativa experimental:
1°Leitura do nome da criança e soletramento. Visualização do nome escrita em diferentes tamanhos e tipos de papel, nome escrito na palma da mão. Tentativa de escrita, soletrando e lendo letra por letra simultaneamente;
2°Tentativa da escrita do nome a partir de pontos verticais, horizontais e circulares;
3°Paródia com as letras e sílabas do nome;
4°Leitura digital do nome e de outras letras;
5°Sons da música, identificação de palavra com significado central e análise-sintaxe da palavra.
6°Escrita de palavra com maior significado a partir de pontos verticais e horizontais.
7°Construção e desconstrução da palavra de maior significado, seqüência lógica dos fonemas que organizam a pronúncia;
8°Pronúncia espontânea de palavras com mesmo som inicial da palavra estudada, construção de novas palavras.
9°Reconstrução da situação que originou a palavra estudada, cenário e personagens, ações repetidas muitas vezes;
10°Leitura de novas palavras construídas a partir da primeira estudada, reconhecimento das novas palavras e identificação da mesma paródia com a palavra nova, leitura da demais palavras com modelo, depois nova tentativa de escrita, soletrando sem modelo, escrita espontânea.
11°Tentativas com a escrita de palavras de músicas repetitivas e curtas através de pontos verticais/horizontais e circulares;
12°Nome dos personagens das cenas criadas pela terapeuta na abordagem com fantoches, a criança expressa sentimentos e emoções, cria elo de afeto e cumplicidade com os bonecos a partir dos objetos afetivos cria-se nomes e escreve seus nomes, leitura dos nomes do personagem, identificação da primeira letra do nome de cada um. Cada personagem é estudado em muitas algumas sessões, estudando e recriando situações a criança escolhe o nome que irá escrever;
13°Resistência à escrita: tentativas para a criança escrever através da EOCB. Recurso positivo escreve e projeta suas resistências para os bonecos;
14°Análise e sintaxe de palavra do cotidiano escolhida pela criança, expressão verbal da experiência com a palavra, escrita da palavra, memorização auditiva e visual da palavra através de técnicas lúdicas;
15°Tentativa de escrita de palavras com fonemas iniciais iguais, identificação de palavras com sons finais ou iniciais iguais, construção da palavra com fonemas na ordem lógica. Memorização dos fonemas que constroem as palavras/memorização das palavras estudadas conforme a escolha da criança.
16°Releitura de palavras já estudadas, EOCB e entrevista informal registrando a fala da criança, perguntas e relatos verbais feitos pela criança;
17°Digitação e gravação do que a criança relatou no computador;
18°Escrita de cartas para os membros da família, algumas sessões com a escrita da data e frase que ele memorizou;
19°Escrita espontânea e observação de desenhos, durante algumas sessões seguidas;
20°Iniciativa espontânea ao desenho, criação de histórias e rimas espontâneas.
Criou-se também uma tabela de procedimentos para as sessões a fim de buscar-se metas e ações bem definidas para as intervenções, o PDCHC – Programa de desenvolvimento de Competências e Habilidades Convergentes.

P. D.C.H.C. PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES CONVERGENTES

 
Bases Multidisciplinares do Processo de Inclusão e Educação

Observa-se nos aspectos relevantes da deficiência mental no processo de intervenção/inclusão que educadores e terapeutas que iniciam a primeira experiência com crianças deficientes mentais, se angustiam de não alcançarem respostas aos trabalhos de intervenção e reeducação em curto prazo.
Diante dos conflitos pertinentes a esta abordagem deve-se considerar que cada progresso adquirido pela criança pode acontecer lentamente, o que significa para os profissionais envolvidos e a família uma postura emocional de paciência e persistência em insistir durante muito tempo em alguns conceitos e competências através do que será discorrido mais adiante “A superaprendizagem”. Esse tempo e ritmo para os casos de deficiência mental poderão durar de meses a anos.
Com o objetivo de contribuir para um entendimento e ações qualitativas e coerentes na abordagem de casos dessa ordem, pelo qual, diferentes conhecimentos e técnicas envolvem profissionais de diferentes áreas do saber, é necessário que estes estejam discutindo entre si suas investigações sobre a criança em tratamento. É importante que se reflita nas informações coletadas na busca de adquirir uma visão do todo que constitui a criança analisada
A inclusão de P.N.E. deve ser fato a ser discutido não apenas no momento do ingresso a escola regular. Mas, a inclusão se inicia ao nascer quando a família é orientada pelo médico sobre a deficiência, informada e acompanhada por profissionais que lhes darão condições sócio-emocionais para se adaptarem à nova realidade.
Portanto é de fundamental importância o ingresso da criança a educação infantil, nestes espaços e tempos institucionalizados encontrará oportunidades de interações fora da família, o que a estimulará a socialização e autonomia (mesmo que necessite de monitoramento de apoio). “A creche ou berçário é o contexto ideal para a integração da criança na rede comum de ensino, sendo que a maior vantagem está na exposição precoce à linguagem de crianças mais avançadas”. (DUESCHEL, p172, 2003)...”Além de permitir que as crianças praticassem mais prontamente o desenvolvimento da competência social”. (Ibidem, p174, 2003).
Posteriormente, ao ingressar na escola de ensino fundamental, professores envolvidos diretamente com o aluno deverão ter acesso a todas as informações sobre o caso específico por profissionais que o atendem individualmente, conforme Pueschel 2003 afirma que a prática intensa produz um fenômeno resultante do princípio da teoria da aprendizagem denominado “superaprendizagem” ou “domínio do conceito”, porém o ensino oferecido unicamente no ambiente natural não assegura a ocorrência da superaprendizagem. Mesmo se uma criança tiver uma habilidade, essa experiência pode não ser concentrada o suficiente para a criança adquirir a habilidade tão rapidamente como seria o caso se fosse utilizada uma combinação de prática intensiva e reforço no ambiente natural.
Para que estes ambientes possam oferecer uma inclusão de qualidade, é necessário que profissionais especializados possam orientar educadores adequadamente dando-lhes suporte teórico e técnico para atuarem no trabalho pedagógico.
O educador diretamente envolvido com a criança deve conhecer, através dos profissionais da saúde e educação especializada o tipo de deficiência mental, o nível da deficiência, o estilo da aprendizagem, os aspectos emocionais e de personalidade, as relações parentais e o ritmo de aprendizagem.
Para o deficiente mental, os anos de freqüência na escola de ensino fundamental visam, além do envolvimento social (regras/interações culturais), autonomia/independência e a aquisição da linguagem escrita, conforme pesquisadora COSTA (1997) afirma que o ensino da linguagem escrita para o deficiente mental treinável não é um fim em si mesmo, mas um meio de possibilitar modificações mais amplas no seu repertório comportamental, contribuindo ao mesmo tempo para que melhore sua auto-estima e para que o mesmo também tenha acesso ao conhecimento.
De acordo com COSTA (1997) a criança ao dominar a linguagem escrita, obviamente conforme suas possibilidades, o deficiente mental, além de ter acesso ao conhecimento também pode participar mais ativamente do meio em que vive. Isto produz conseqüências surpreendentes: o mesmo passa a se ver de outra forma, com conseqüente melhora da sua auto-estima.
A escola a partir dessas informações poderá estabelecer um currículo transversal de modo que a criança poderá ter condições de atingir objetivos da educação possíveis de serem alcançados por ela, ampliando alternativas de observação no processo de aprendizagem, conforme Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional N°9.94/96 sobre a Educação Especial, Art.59 inciso I currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades.
A criança D.M. por apresentar limites na linguagem escrita e aritmética, poderá Ter melhor desempenho em competências sociais e pessoais, tais como: ir ao banheiro, vestir-se, lanchar com independência, brincar e conversar com outras crianças e adultos, respeitar horários e regras sociais para atividades recreativas e as tarefas sem classe; ler, identificar nomes, criar critérios para classificação e seriação. É importante que a sociedade possa buscar oferecer espaços e oportunidades de inclusão do deficiente mental até sua vida adulta inserindo-a no universo do trabalho, do lazer, da cultura e do bem estar social.

CONCLUSÃO
A experiência com a criança especial é um processo incessante de aperfeiçoamento que abrange desde a afetividade na relação com o ser que aprende, bem como com o que se conhece e se busca durante as intervenções. Acredito que a pesquisa realizada neste estudo de caso possa contribuir com trabalhos de demais colegas e possa servir de novas bases para investigações e aperfeiçoamento.
A partir das vivências realizadas na clínica e o conhecimento das potencialidades da criança analisada, será possível utilizar suas criações para a realização de um novo projeto de vida: a conclusão e edição de seu primeiro livro, poderíamos utilizar seus desenhos que sem contaminação dos estereótipos da educação sistemática, podem valorizar o ambiente e a arte infantil.
Muitas de suas produções poderão ser vistas com dignidade, a inclusão requer valorização daquele que muitas vezes é posto à prova no cenário da vida, levando-nos a aprender que o impossível pode ser infinitamente cheio de possibilidades, é preciso encontrar o ponto de partida para conhecê-las e repensá-las.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Maria Piedade Resende da. Alfabetização para Deficientes Mentais. 3ª edição revista e ampliada. São Paulo: EDICAN, 1997.
PUESCHEL, Siegfried. Síndrome de Down: guia para pais e educadores. 8ªedição.Papirus Editora. 2003.Campinas.
SANTOS, Marta Carolina dos Santos. Estudo de Caso: análise clínica a partir da Epistemologia Convergente. Porto Alegre.Itajaí, Jan-1999.Monografia – UNIVALI
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
DE MAMANN, Cleussi de Fátima. Avaliação e Diagnóstico Psicopedagógico (apostila, 1998).
www.secretariaestadualdaeducação.sc.gov.br: Legislação: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
NUNES SOBRINHO, Francisco de Paulo. e NAUJARKS, Maria Inês. Pesquisa em Educação Especial: o desafio da qualificação – EDUSC. Bauru. .2001.
LEVIN, Esteban. A Função do Filho: espelhos e labirintos da infância. Editora Vozes.Petrópolis. 2001.
Publicado em 11/04/2005 16:58:00

Marta Carolina dos Santos - Pedagoga e Psicopedagoga Clínica. Clínica Flor e Ser Psicologia, Educação e Treinamento Ltda.

Fonte: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=662

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Indicações de livros.

Educação Geral

O Dom da Dislexia
O que têm em comum cientistas como Einstein e Darwin; artistas e escritores como Picasso, Leonardo da Vinci e Agatha Christie, um político como Churchill e o general Patton?

História da Educação no Brasil
Objetiva um Levantamento Fatual dos Principais Aspectos da Educacao Brasileira, Principalmente Apos 1930. Analisa e Discute as Reformas do Ensino...

Dificuldades de Aprendizagem: Fundamentos
A área das dificuldades de aprendizagem, já qualificada como misteriosa e complexa, tem gerado pesquisas multidisciplinares e estimulado debates em quantidade...

Caminhos para a Inclusão
Este livro reúne experiências bem-sucedidas, realizadas na Áustria, Islândia, Espanha e em Portugal, direcionadas à...

Aprendizagem Mediada: Dentro e Fora da Sala de Aula
O livro apresenta procedimentos educacionais que visam a melhoria do desempenho do estudante médio ou do que apresenta dificuldades no aprendizado...

Construtivismo Pós-Piagetiano: Novo Paradigma...
A importância da convivência no processo de transmissão de conhecimento acrescenta, segundo os autores um novo paradigma na educação...

 Fonte: http://www.somatematica.com.br/livrosdidaticos/?niv=G

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma nova linguagem acadêmica













Uma nova linguagem acadêmica
Pressionadas pelos avanços tecnológicos, as universidades começam a aceitar a defesa de teses em diversas plataformas; a questão é como fazer um bom uso desse processo

Adriana Natali


Se antes a imagem que a academia projetava era a de um rosto sisudo e quase autoritário, com distintos senhores confabulando a respeito de seus saberes, hoje é possível dizer que essa representação passa perto de uma pessoa jovem e conectada. Com a democratização do acesso ao ensino superior e a proliferação das novas tecnologias, era quase inevitável: a linguagem acadêmica está mudando.Para conhecer a consequência desse processo, entretanto, ainda é preciso tempo, mas a representação máxima do conhecimento, ou seja, a formulação de teses acadêmicas, tem se beneficiado dessas novas possibilidades. Ao mesmo tempo que estudam o fenômeno social, as universidades se colocam na vanguarda de seus experimentos, com a permissão para que seus alunos apresentem dissertações em forma de blogs, livros, vídeos digitais ou via skype.
Tanto em pesquisas como no próprio ensino, é possível verificar, cada vez mais, a incorporação dessas novas tecnologias. Um dos exemplos concretos é o aumento na oferta de cursos a distância, mas, uma vez que os alunos chamados "nativos digitais" (nascidos depois dos anos 80) dominam as novidades tecnológicas, a academia passa a ser parte integrante desse processo, inserindo, crítica e reflexivamente, a apropriação e utilização destas novas linguagens no cotidiano do ensino, da pesquisa e da extensão.
Hoje é possível assistir a apresentações finais de TCCs, teses e dissertações por meio de vídeos digitais, fotografias, power point e até skype, por exemplo. Além disso, a grande maioria dos trabalhos é disponibilizada na internet. "Isso significa uma acessibilidade sem limites, incomparável com o formato tradicional do exemplar impresso nas mãos de poucos professores e na estante de uma biblioteca", afirma Paulo Cesar Duque Estrada, pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Apesar disso, segundo ele, acessibilidade não significa garantia imediata de maior entendimento do público em geral. "Quem recebe a informação terá de possuir capacidade para processá-las, ou seja, ainda não se inventou uma tecnologia que substitua o processo de formação acadêmica por meio do qual se adquire a necessária capacidade de pensar com rigor e, assim, se tornar um pesquisador ou pesquisadora", avalia.
Neste contexto, há duas linhas a serem pensadas, de acordo com a coordenadora do curso de letras da PUC de Minas Gerais (PUC-MG), Juliana Alves de Assis. O primeiro é que o uso de recursos tecnológicos pode, sim, tornar a apresentação mais dinâmica e interativa. O segundo é que há pesquisas que tomam a tecnologia e as práticas discursivas em que ela é empregada como objeto de estudo. Neste caso, o uso da tecnologia em questão pode ser imprescindível à compreensão do próprio objeto de pesquisa. "As tecnologias fazem parte de nosso cotidiano, das práticas sociais das quais participamos. Nessa medida, são importantes tanto como ferramentas para os eventos de interação do domínio acadêmico quanto como objetos de estudo", explica a professora.
O pesquisador é um dos que mais utilizam novas formas de tecnologia em seus trabalhos. Os sites e programas ligados à internet, os mecanismos para armazenamento e trabalho com dados coletados, tudo isso passa a ser mais rápido. "A depender da área do conhecimento, são indispensáveis recursos como imagens, vídeos, arquivos de som. Desse modo, a utilização de tecnologia poderia não apenas facilitar as apresentações, mas, principalmente, proporcionar-lhes maior qualidade de reprodução", afirma Mauro Dunder, doutorando em letras pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Bandeirante (Uniban). "Mas no que diz respeito a apresentações de trabalhos, a academia não se livrará tão cedo do apego que tem a determinadas tradições", completa.

A consultora Márcia Petrone: é preciso contextualizar cada instituição
Pedro Jacobi, professor da Faculdade de Educação e do programa de pós-graduação em ciência ambiental (Procam) da USP, concorda. Para ele, utilizar novas tecnologias não é tão simples, já que existe um ritual a se cumprir e um tempo disponível para apresentação. Mas ele se diz favorável a todo tipo de experimentação que possa complementar, de forma criativa, uma apresentação, assim como a transmissão online das defesas, o que abre espaço para um público muito mais amplo. "Tive a oportunidade de ver um orientando meu utilizar, na sua defesa, material em vídeo. O mais importante é analisar a qualidade do produto final. A academia ainda tem uma ritualística muito pouco criativa que dialoga quase nada com as novas mídias digitais", afirma.Muitos docentes acreditam que as tecnologias devem servir ao conteúdo e não o contrário. Uma excelente ideia, por exemplo, não pode se tornar coadjuvante para um espetáculo de recursos tecnológicos ou que esse espetáculo esconda um vazio teórico. É necessário saber empregar a melhor linguagem tecnológica para que o conceito seja bem compreendido e a aprendizagem, favorecida. "O investimento em uma apresentação performática do ponto de vista tecnológico deve ser usado como ferramenta a serviço da elucidação dos tópicos centrais do trabalho. Esse deve ser o aspecto central a ser levado em consideração pelo aluno", defende Paulo Gomes Cardim, reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. "Às vezes, até um power point atrapalha. Já vi muitas apresentações pirotécnicas inúteis e dispersivas. Em muitos casos, nada supera um bom debate", completa André Azevedo da Fonseca, coordenador do curso de comunicação social da Universidade de Uberaba (Uniube), em Minas Gerais.
Ele defende a ideia de que todos os trabalhos devem ser publicados na internet, o que tende a inspirar uma responsabilidade crescente nos alunos. "Por um lado, os estudantes se sentem mais motivados, pois, em vez de serem engavetadas, as suas produções intelectuais são publicadas e podem contribuir para a visibilidade profissional. Por outro lado, a publicação na web faz com que os alunos evitem o "copy/paste" [copia e cola] ou a simples má vontade, pois a visibilidade do trabalho facilita a denúncia", diz o professor.
Esse processo pode ainda ser facilitador do trabalho dos professores e alunos, na medida em que propicia a participação de um número maior de pessoas, sem restrição de tempo, espaço ou recursos e dá mais agilidade na busca de informação, com mais pessoas pesquisando conjuntamente. Além disso, podem ser replicadas indefinidamente. "A simulação ou a gravação de experiências, por exemplo, diminui a necessidade de laboratórios, materiais, professores e alunos presentes para realizar e/ou observar o que se está estudando", diz a professora do departamento de letras da PUC do Rio de Janeiro, Violeta Quental, para quem a tecnologia sempre auxilia o pesquisador, seja ela o lápis ou o computador, já que surge da pesquisa, muitas vezes dentro da própria academia. "Nesse sentido, o pesquisador é totalmente aberto ao uso da tecnologia. No entanto, ainda há muito a pensar em relação a uma nova linguagem na academia, a uma substituição completa da linguagem verbal por outras linguagens", afirma.
Consultora de educação a distância, a professora Márcia Augusta Marinho Petrone acredita que, se houverem aulas com boas questões, material contextualizado, desafios interessantes e criativos, a manutenção da mesma lógica "tecnoeducacional" nos projetos de conclusão de curso será natural. "Os recursos podem tornar mais dinâmicos os processos, mais profundas as buscas de informação, mas o que dará a efetividade no processo educativo é a qualidade de como é desenvolvido o programa, de como o professor conduz os problemas, os temas escolhidos de interesse, a participação diversificada dos alunos, a busca das soluções criativas e importantes para a comunidade", explica a professora, para quem ainda é muito tímido o uso dessas tecnologias dentro das instituições. "Nos locais nos quais se formam professores, por exemplo, dificilmente vê-se o uso de tecnologias. Logo, não é de se espantar que os alunos usem muita tecnologia, mas fora da sala de aula. Certamente temos muitas experiências de sucesso e precisamos continuar a estudar, pesquisar, participar e promover a entrada de novos conhecimentos na escola", diz.
Para ela, o contexto de cada instituição de ensino, de seu corpo discente e até do docente, apresenta diferentes realidades, e isso precisa ser considerado. "Eu diria que nos cursos de pós será efetivamente mais fácil utilizar a tecnologia para exames, teses e bancas finais. A videoconferência suportaria facilmente essa situação e certamente os alunos não teriam dificuldades", diz.
Estimular o uso desses recursos durante todo o processo educativo do curso também é importante. Na PUC do Rio Grande do Sul, diferentes unidades acadêmicas dispõem de espaços educativos equipados para permitir o acesso e a inserção dos futuros profissionais na 'realidade tecnológica'. "Por conta disso, as apresentações dos trabalhos acadêmicos, em qualquer curso, podem envolver desde as tecnologias de suporte convencionais ao trabalho de sala de aula, como projetores multimídia e computador com acesso à internet, até a utilização de sofisticados recursos computacionais de simulação, ou mesmo a inserção de contatos virtuais síncronos, também via internet (skype) e/ou outras ferramentas de EAD, com professores ou especialistas, ou, ainda, integrantes de bancas examinadoras que não se façam presentes no campus, no momento das defesas", explica a diretora da Faculdade de Educação da PUC-RS, Marília Costa Morosini.
Quando os canais de acesso à informação são chancelados pela universidade, amplia-se o alcance da produção desses conhecimentos e as condições para a sua compreensão e entendimento por um maior número de receptores, não só da área acadêmica. "O papel da academia é também produzir ciência e tecnologia, estendendo à sociedade os frutos do seu trabalho, e não apenas disseminar o conhecimento historicamente acumulado pela humanidade no espaço restrito da sala de aula", diz Morosini.
Embora experiências como essas estejam sendo realizadas, o professor de sociolinguística da USP Luiz Antonio da Silva acredita que o acesso a esses recursos pelas instituições ainda é pequeno, principalmente nas universidades públicas. "Ainda assim, creio que a academia não deva ficar alheia às inovações tecnológicas, tomando o devido cuidado para não usar sem uma finalidade definida, isto é, apenas para parecer moderno", diz o professor, que orienta o aluno Artarxerxes Tiago Tácito Modesto, doutorando em letras pela USP, "um dos alunos que possuem experiências mais inovadoras com relação ao uso de novas tecnologias em apresentações finais de trabalhos", descreve.
Em sua dissertação de doutorado, ainda em curso, Modesto pretende utilizar conversas realizadas online e, como apoio, apresentar data show para exibir gráficos e emoticons (figuras usadas em ferramentas de bate-papo), entre outros elementos discursivos, além de, "quem sabe", fazer uma demonstração em tempo real dos fenômenos analisados na pesquisa, através da interação eletrônica. "Não acredito que os trabalhos tradicionais estejam com os dias contados. Afinal, as novas tecnologias não vieram substituir a episteme, mas sim conferir novas maneiras de se chegar até ela. Acredito numa simbiose natural entre os meios de divulgação tradicionais e os inovadores. Não há melhor ou pior, apenas maneiras diferentes de divulgar os resultados da investigação", diz o aluno.
Veja também
Conhecimento sem limites


- O professor em um novo contexto pedagógico
- Linha de crédito fictícia
- Entre dois polos
- Tabu negro

+ MAIS NOTÍCIAS
- Fórum vai discutir propostas para o ensino superior na internet
- Federal de Guarulhos abre vagas para professores
- Abertas inscrições para bolsas de iniciação científica no Amazonas
- Prêmio José Reis de Divulgação Científica recebe inscrições
- Capes recebe propostas para mestrado e doutorad

Fonte: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/revista.asp

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Horas e horas em frente ao PC? Veja como evitar problemas. Vídeos.

Ginástica Laboral

http://videolog.uol.com.br/home.php
Horas e horas em frente ao PC? Veja como evitar problemas

http://mais.uol.com.br/
Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Novo Telecurso - Ensino Médio - Música - Aula 01

Vídeo aula 1a


Vídeo aula 1b


Fonte:

Novo Telecurso - Ensino Médio - Música - Aula 01 


Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Brincadeira de criança é coisa séria...4 vídeos

clubedasmaes December 15, 2006Brincadeira de criança é coisa séria...4 vídeos - TVB
Entrevista:Maria Stella Cabaz Tavares
Clube das Mães e Pais
http://www.clubedasmaesepais.com.br


 Vídeo 1


Vídeo 2
 

Vídeo 3


Vídeo 4

Obrigado por sua visita, volte sempre.


pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Alterações da Personalidade

Alterações da Personalidade

Alguma ocorrência fez a pessoa, de repente, ser outra pessoa.
| Personalidade | Temas Livres |

Há pessoas que, depois de alguma condição médica, mudam sua maneira de ser. Algumas vezes de maneira definitiva, outras – felizmente a maioria – temporariamente. Essas alterações no modo de ser, logo, na personalidade, podem aparecer no dependente químico, seja de cocaína, álcool, craque, etc. Outras vezes, depois que a pessoa tem o diagnóstico de Lúpus Eritematoso ou Artrite Reumatóide, ou depois de um traumatismo craniano (TCE), acidente vascular cerebral (AVC), intoxicação por metais pesados e assim por diante.
As Alterações da Personalidade podem ser observadas quando a pessoa apresenta uma mudança em sua maneira de ser, depois de ter sofrido alguma condição médica, especialmente neurológica. É como se passasse a ser outra pessoa, com reações e comportamentos bem diferentes daqueles que a caracterizavam antes. Este quadro chama-se Alteração da Personalidade. Na CID.10, aparece como Transtorno Orgânico de Personalidade, no DSM.IV como Alteração da Personalidade Devido a uma Condição Médica Geral, mas o quadro é o mesmo.
Para a psiquiatria o termo "personalidade" se refere à totalidade de traços emocionais e comportamentais que caracterizam o indivíduo na vida cotidiana. Aqui, na página sobre o tema, personalidade é definida como "a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que experimentamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser, de sentir e de desempenhar o seu papel social" (Veja Teoria da Personalidade em PsiqWeb).
Transtorno de Personalidade seria uma variação destes traços além da faixa de variação encontrada na maioria das pessoas. Quando a disposição geral da personalidade resulta em traços inflexíveis e mal-ajustados, pode-se pensar em transtornos de personalidade. Para o CID.10 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde - OMS), transtornos de personalidade são “tipos de condição que abrangem padrões de comportamento permanentes e profundamente arraigados no ser, os quais se manifestam como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Elas representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros”.
Como recomenda a OMS, os Transtornos de Personalidade diferem das chamadas Alterações de Personalidade pelo modo de seu aparecimento e, eventualmente, pelo tempo de duração: Os Transtornos de Personalidade eles são condições do desenvolvimento que surgem na infância ou na adolescência e continuam pela vida adulta. Por outro lado, as Alterações da Personalidade são condições adquiridas em qualquer época da vida, usualmente na idade adulta, em conseqüência de alguma condição médica, seja clínica, degenerativa, infecciosa ou traumática.

Grafico
O mesmo quadro é denominado, pela CID.10 de Transtorno Orgânico de Personalidade, um quadro em que há uma alteração de personalidade também em decorrência de alguma condição médica geral. Este transtorno caracteriza-se pela acentuada mudança no estilo e traços de personalidade, em comparação com um nível anterior de funcionamento.
Segundo o DSM-IV, a característica essencial de uma Alteração da Personalidade Devido a uma Condição Médica Geral é uma perturbação da personalidade que o clínico julga ser devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral. Uma variedade de condições neurológicas e outras condições médicas gerais podem causar Alterações da Personalidade, incluindo tumores e neoplasias cerebrais, traumatismo craniano, doenças cerebrais vasculares, doença de Huntington, epilepsia, infecções do sistema nervoso central, como por exemplo, vírus da AIDS, alterações endócrinas, tais como da tiróide, suprarenais, doenças auto-imunes do tipo lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, etc.
A perturbação na Alteração da Personalidade representa uma mudança no padrão prévio de personalidade característico do indivíduo. Isso quer dizer que a personalidade da pessoa vinha com determinado perfil de traços e de caráter e, de um momento em diante, apresentou mudanças nesse padrão, conseqüentemente mudando as reações e comportamentos. Essa perturbação da personalidade para receber o diagnóstico de Alteração da Personalidade deve causar sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes.
As manifestações comuns de Alteração da Personalidade incluem instabilidade afetiva, dificuldade no controle dos impulsos, episódios de agressividade ou raiva em nítida desproporção com estímulos desencadeantes, acentuada apatia que aparece de repente, certa desconfiança, podendo chegar à paranóia em casos mais graves. A pessoa com Alteração da Personalidade é descrito pelos outros como "não sendo ele(a) mesmo(a) ".
O quadro da Alteração da Personalidade pode variar de acordo com a condição médica que a causou. Caso tenha sido devida a lesão dos lobos frontais, por exemplo, pode provocar sintomas como falta de juízo crítico ou da capacidade de antever conseqüências, jocosidade, desinibição e euforia.
Os acidentes vasculares cerebrais que afetam o hemisfério direito, por exemplo, podem provocar negligência espacial, incapacidade de reconhecer um déficit corporal, tal como a própria hemiparesia e outros déficits neurológicos. A Dependência Química transforma a pessoa em sociopata, com mentiras, negligências, perda da ética.
Há alguns sintomas básicos das Alterações de Personalidade que podem ser agrupados. Embora as alterações possam ter quadros mistos e variados, algumas vezes esses sintomas são característicos de lesões específicas. Não é raro que as Alterações de Personalidade sejam acompanhadas de convulsões.
O tipo de Alteração da Personalidade que pode ser chamado de Instável tem uma característica predominante de instabilidade afetiva, intercalando com certa rapidez momentos de depressão e de hipomania, de ânimo pouco acima do normal com desânimo, de interesse com desinteresse. Esse tipo de alteração é mais comum em pessoas com lesões afetam os lobos temporais.
Quando lesões afetam os lobos frontais a Alteração da Personalidade se manifesta predominantemente co tipo Desinibido. Aqui a característica predominante é um fraco controle dos impulsos, perda do decoro e da crítica moral, certas indiscrições sexuais, enfim, um comportamento nunca observado, às vezes até o contrário do que era antes.
O subtipo Agressivo tem como característica predominante um comportamento agressivo, com crises de agressividade e irritabilidade. Esse tipo é comum na Dependência Química e após traumatismo craniano. O tipo Apático é caracterizado por acentuada apatia e indiferença. O tipo Paranóide é aquele cuja característica predominante é a presença de desconfiança ou ideação paranóide.
As Alterações de Personalidade já foram estudadas nos pacientes com artrite reumatóide (AR), com Lúpus Eritematóide Sistêmico (LES), com Dependência Química (DQ), com infecção pelo vírus da AIDS, uso de medicamentos e outras condições médicas gerais. Parece que a pergunta incômoda é saber se essas condições médicas ou doenças fariam que os pacientes tivessem, depois de um tempo, algum padrão característico de personalidade.
Alteração da Personalidade no Lúpus O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, que acomete o organismo todo, de causa desconhecida e natureza auto-imune. A doença evolui com as mais variadas manifestações clínicas e com períodos de exacerbação e remissão.
Em decorrência de sua forma variada, o quadro clínico costuma ser de difícil reconhecimento, dificultando seu diagnóstico precoce. O LES acomete uma em cada 1.000 pessoas da raça branca e uma em cada 250 pessoas negras (Bonfá e Borba Neto, 2000). Há também um forte fator familiar em 10 a 20% dos casos e uma prevalência maior no sexo feminino.
As manifestações neuropsiquiátricas do LES se resumiam apenas quadros psicóticos ou convulsivos, porém, estes critérios hoje são considerados incompletos por vários autores, os quais reconhecem muitas outras manifestações neuropsiquiátricas em pacientes lúpicos (Miguel Filho, 1992). Essas várias alterações psiquiátricas incluem desde estado confusional, distúrbios cognitivos, psicose, transtornos de humor e de ansiedade até, notadamente, Alterações de Personalidade.


 Entre os sintomas psiquiátricos, os quais aparecem em cerca de 50% dos pacientes, a depressão parece ser o mais prevalente, segundo Waterloo (1998) 28% dos casos. Sintomas depressivos e Alterações de Personalidade são considerados sinais de comprometimento do córtex cerebral. As dificuldades no relacionamento social, desconforto em situações sociais além do humor depressivo apareceram associados com alterações da pele e das articulações.
 Lupus
Sinais faciais do Lúpus Eritematoso Sistêmico
De 24 pacientes com Lúpus todos apresentavam alguma sintomatologia psiquiátrica. Os sintomas neuróticos em geral apareceram em 33,3% dos casos, seguidos pelos sintomas de alterações de humor, com 23,3% (Onda e Kato, 2000). Os sintomas neuróticos encontrados seriam uma tendência a ficar preocupado, extremamente inseguro, ansioso e afetivamente lábil. Este neuroticismo é uma alteração comportamental, ou seja, alterações de traços de personalidade, além do que, influências ambientais podem desencadear um quadro psiquiátrico mais exuberante.
Além dos transtornos psiquiátricos decorrentes da própria doença, o tratamento do LES à base de corticóides também pode ocasionar inúmeros sintomas psiquiátricos. Esses sintomas podem ser considerados Alterações de Personalidade e comportam a labilidade emocional, depressão, distração e perplexidade. Os efeitos colaterais dos corticóides para o tratamento do LES incluíram também dificuldades na relação com os familiares e até ideação suicida.
Fazendo uma síntese dos estudos sobre alterações psicopatológicas no LES, vários autores concluem que os fatores psicológicos, incluindo traços de personalidade, têm importância como determinantes, desencadeantes ou exacerbadores da doença. Alguns verificaram ainda que alterações de personalidade podem ser decorrentes do estresse psicológico imposto pela patologia, da atividade da doença no sistema nervoso central e/ou do uso de medicações como os imunossupressores e corticóides (Ayache e Costa, 2005).
Alterações da Personalidade do Dependente QuímicoAs Alterações da Personalidade da pessoa dependente químico são um problema seríssimo. Pelo aspecto sociopático essa Alteração da Personalidade pode ser confundida com o Transtorno Anti-social da Personalidade, que é muito mais grave, definitivo e que não se reverte, enquanto as Alterações da Personalidade são reversíveis depois que o dependente passa um período abstinente.
Os dependentes costumam obedecer a um padrão de personalidade ao longo do tempo de dependência. Existem traços e características de comportamento, relacionamento e percepção da realidade comum aos dependentes químicos. Isso não quer dizer que eles fiquem todos com a mesma personalidade, mas que, dentro da individualidade de cada um, eles apresentam características comuns uns com os outros.
É bastante comum as pessoas que conheceram anteriormente o dependente, antes do uso abusivo da droga, estranharem muito suas atitudes e comportamento atuais, achando que essa pessoa parece não ser a mesma conhecida anteriormente. Nos casos onde a abstinência foi conseguida, em se tratando de Alteração da Personalidade e não Transtorno da Personalidade, depois de algum tempo a pessoa volta a manifestar sua personalidade prévia.
Alguns dos sintomas descritos no quadro da Alteração da Personalidade Devido a uma Condição Médica Geral se encaixam perfeitamente nas alterações apresentadas pelos dependentes químicxos, tais como instabilidade afetiva, fraco controle dos impulsos, surtos de agressividade ou raiva em nítida desproporção com qualquer estressor psicossocial desencadeante, acentuada apatia, desconfiança ou ideação paranóide.
Segundo o DSM.IV, "as alterações da personalidade também podem ocorrer no contexto de uma Dependência de Substância, especialmente no caso de uma dependência de longa duração. O médico deve investigar atentamente a natureza e extensão do uso da substância.

Principais carcterísticas da Alteração da Personalidade na Dependência Química
Mentiras seguidamente
Desmazelo (pessoal e em seu ambiente)
Irritabilidade e agressividade
Impulsividade
Relaxamento da ética (rouba, etc)
Arrogância e prepotência
Não cumprimento de compromissos
Apatia amotivacional
Desinteresse por tudo que não diz respeito à droga
Instabilidade afetiva
Alteração do padrão do sono
Alteração do padrão alimentar
Quando o dependente químico passa por um período de abstinência relativamente longo (de 6 a 12 meses) a Alteração da Personalidade desaparece e a personalidade prévia volta a existir. Diz-se que a pessoa "voltou a ser o que era". Caso haja uma recaída no uso das drogas, a Alteração da Personalidade se manifesta em muito menos tempo que da primeira vez. Isso é tão evidente que na maioria das vezes os familiares do dependente percebem que ele voltou a usar drogas pelas alterações de conduta, comportamento e relacionamento que se manifestam.

É fundamental a questão da comorbidade de Dependência Química e qualquer outra patologia psíquica. A idéia é estabelecermos uma base de conhecimento preditivo, ou seja, preventivamente, para sabermos quais as chances de transtornos emocionais concorrerem para a Dependência Química.
Alterações da Personalidade e doenças neurológicas
Evidentemente, e fácil de deduzir, as patologias que acometem o cérebro são aquelas que mais alteram a personalidade da pessoa. Se a estrutura cerebral é comprometida, sem dúvida alguma, haverá repercussões sobre a função do órgão e, obviamente, sobre o psiquismo.
Mais de 50% do córtex cerebral é constituído por áreas límbicas e de associação. Os acidentes vasculares cerebrais ( AVC) nessas áreas não são necessariamente acompanhados por alterações motoras, tais como hemiplegia ,sintomas sensitivos , visuais, da fala, cognição, etc.
Nos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)Comumente os sintomas predominantes nos AVCs que acometem as regiões frontal, temporal ou parietal podem ser alterações de humor, de comportamento ou mesmo da personalidade toda. A depressão é um sintoma encontrado em até 50% dos pacientes pós-AVC, e parece ter uma forte relação com a localização da lesão no lobo frontal esquerdo. O desânimo, desinteresse e apatia que surgem abruptamente podem ser sintomas de lesões vasculares pré-frontais, principalmente no hemisfério esquerdo.
Nos AVCs que acometem o córtex auditivo ou de associação à esquerda ou bilateralmente pode se manifestar inicialmente com agitação e paranóia. Alucinações visuais podem ocorrer em lesões isquêmicas na retina, no nervo óptico, na degeneração macular ou por qualquer acometimento do sistema visual.
Nos Traumatismos Cranianos (TCE)
O TCE, mais comum em homens na segunda, terceira e sexta década de vida, pode ter como conseqüência Alterações da Personalidade, muitas vezes incapacitantes.
A fisiopatologia relaciona-se à lesão axonal por estiramento mecânico, podendo haver uma interrupção das conexões frontais. As regiões orbitofrontal e temporal anterior são mais acometidas por contusões, hematomas e hemorragias intracerebrais, segundo Elizabeth Quagliato.
As mudanças da personalidade (apatia, lentidão, indiferença e perda da iniciativa) relacionam-se com lesões da convexidade frontal lateral. Lesões orbitofrontais causam diminuição do controle do impulso, irritabilidade e hipercinesias. Sintomas psicóticos (paranóia, mania, e alucinações visuais e auditivas) ocorrem em até 20% dos pacientes.
Ainda de acordo com Elizabeth Quagliato, outros sintomas podem acontecer em pacientes com TCEs leves, tais como esquecimento (40%), depressão (40%), ansiedade (40%), raiva (35%) e impulsividade (25%), podendo esses sintomas se tornar crônicos.
Nos Tumores CerebraisOs tumores cerebrais de crescimento rápido podem apresentar quadros psicóticos, enquanto os de crescimento lento se manifestam com sintomas de Alteração da Personalidade, depressão ou apatia. De modo geral, quaisquer pacientes que apresentem alterações comportamentais acompanhadas por convulsões, cefaléia, alterações sensitivas ou outros sinais /sintomas neurológicos focais devem ser investigados com a hipótese de um tumor cerebral.
Os sintomas neuropsiquiátricos são freqüentes nos tumores cerebrais e dependem da localização, ritmo de crescimento, tamanho e idade do paciente. Entretanto, não é tão alta a incidência de tumores cerebrais em pessoas com problemas psiquiátricos, chegando a apenas 1 a 2%, embora seja significativamente maior que na população geral.
Os tumores supratentoriais, principalmente os frontais e temporais, cursam com alterações cognitivas e comportamentais. Meningeomas do soalho da fossa anterior, tumores da pineal, craniofaringeomas com expansão supraselar e gliomas hipotalâmicos levam freqüentemente a alterações comportamentais como apatia, depressão, desinteresse, desânimo e apatia.
O objetivo desse artigo é para alertar sobre a possibilidade de se confundir uma Alteração da Personalidade com um Transtorno da Personalidade. Principalmente nos casos de Dependência Química, onde a diferença entre esses dois quadros é de vital importância, principalmente porque as alterações são reversíveis, na medida em que a pessoa deixa a dependência.

para referir:
Ballone, GJ - Alterações da Personalidade, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2010.

Bonfá ESDO, Borba Neto EFB - Lúpus Eritematoso Sistêmico. In: Bonfá ESDO, Ioshinari NH: Reumatologia para o clínico. Editora Roca, São Paulo, 2000, p. 25-33.
Ayache DCG, da Costa IP - Alterações da personalidade no lúpus eritematoso sistêmico, Rev. Bras. Reumatol. v.45 n.5 São Paulo set./out. 2005.
Dermot J. Ward DJ - Rheumatoid Arthritis and Personality: A Controlled Study, Brit Med J. 1971 May 8; 2(5757): 297–299.
Miguel Filho EC: Alterações Psicopatológicas no Lúpus Eritematoso Sistêmico. São Paulo, 1992. [Tese de Doutorado- Universidade de São Paulo].
Onda K, Kato SA - Clinical study psychopathology in Systemic Lupus Erythematosus. Seishin Shinkeigaku Zasshi 102: 616-39, 2000.
Waterloo K, Omdal R, Husby G, Mellgren S - Emotional status in Systemic Lupus Erythematosus. Scand J Rheumatol 27: 410-4,1998.
Wolfe F, Hawley DJ - The relationship between clinical activity and depression in  rheumatoid arthritis, J Rheumatol 20:2032-7;1993.


 Fonte: http://psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=334

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

A INFÂNCIA DOS TRÊS PORQUINHOS, um olhar psicopedagógico.


A INFÂNCIA DOS TRÊS PORQUINHOS
 
por Rubem Queiroz Cobra






Os três porquinhos! Um muito inteligente, outro nem tanto, porém trabalhador, e o terceiro, preguiçoso e imprevidente. Mas, por que têm eles três “personalidades” diversas, e até mesmo opostas? Pois não eram três irmãos, nascidos e crescidos na mesma família?

Não é de admirar. Entre os humanos também acontece isto, de uma família ter um filho mais inteligente, um outro que não é nada brilhante, mas que pode ser útil ao pai ou à mãe, e outro ainda que é o filho problemático, difícil. E não são três irmãos, da mesma família, apenas com idades diferentes? Os pais não compreendem porque aquele filho, ao qual educaram para o bem, como aos demais, saiu-lhes ao contrário dos outros, tornando-se a ovelha negra da família. Não parece filho deles e chegam a suspeitar que tenha acontecido uma troca na maternidade...

*

Para compreender como tudo começa, vamos nos fazer hóspedes invisíveis e sentar à mesa do almoço com a família Silva, cujo caçula é um filho problema. Somente quando recebe visitas a família Silva goza de uma refeição sem brigas e consegue chegar à sobremesa sem choros e recriminações. Uma vez que estamos invisíveis, não vamos perder o mais importante: as discussões que levam a Sr. Silva à fúria, a Sra. Silva às lágrimas, e deixam a ambos, o Sr. e a Sra. Silva, convencidos de que a causa de tudo foi o filho problema, que se desentende com eles e com os irmãos.
O Sr. Silva e a Sra. Silva não percebem que eles mesmos começam a crise à mesa do almoço, pois não estão alertados para os preconceitos que têm em relação aos seus filhos. Mas nós podemos observar que o Sr. Silva trata o filho mais velho com muito respeito, e a Sra. Silva, a filha do meio com mais atenção, e que ambos se voltam sempre um pouco impacientes para o caçula, o filho problema. A Sra. Silva inicialmente o trata com doçura, mas o seu cenho franzido indica que isto é apenas o começo do jogo. As observações do Sr. Silva vão fazendo crescer a tensão e a impaciência de todos, e mesmo que falte um “grande” motivo como no dia que o caçula traz seu péssimo boletim escolar, basta que diga não gostar de cebolas e a discussão começa.

Vamos, em seguida e facilmente, a uma segunda constatação. Nós percebemos com clareza que é na hora das refeições que a família Silva põe em prática uma coisa descoberta por um respeitado psiquiatra inglês, Ronald David Laing. A essa coisa que descobriu, o Dr. Laing chamou Política da Família. Para compreender a problemática da família Silva, e por que motivo na família Silva existe um filho problema, precisamos dessa idéia brilhante do Dr. Laing, a de “política da família”, e vamos observar como o Sr. e a Sra. Silva usam os instrumentos dessa política.

Mas, em primeiro lugar, vamos clarear bem qual é a idéia do Dr. Laing, do que é a política da família. Ele verificou em sua clínica para doentes mentais que os pais, sem o perceber, dão a um dos filhos um tratamento discriminatório capaz de levá-lo à loucura, e criam uma verdadeira política ao fazerem com que os seus irmãos o tratem do mesmo modo, isto é, como um sujeito errado e maluco. E porque é tratado assim por toda a família, o filho eleito para essa provação de fato se torna louco, seus próprios pais e irmãos o levam à loucura. Dr. Laing obteve grande sucesso e tornou-se mundialmente famoso com sua técnica simples de curar loucos, que era simplesmente a de convencer o doente de que não precisava mais acreditar que fosse realmente louco.

Dirá o leitor que vai uma diferença muito grande entre um filho problema e um filho demente, mas a minha opinião é de que não há diferença importante, pois o filho problema só não é oficialmente um louco, e por isso geralmente vai parar na prisão e não em um hospício. De qualquer modo, o que afirmo é o poder que tem a política da família para criar o filho problema. Pois se tal política é tão eficaz a ponto de fazer uma pessoa sã virar louca, terá poder para qualquer outra coisa de menor peso, como levá-la ao vício e ao crime ou deixá-la lúcida, porém incapaz.

O filho problema, quando ainda criança, é o que escapa totalmente ao controle dos pais, não faz o que lhe dizem, não se deixa dominar, passa o tempo fora de casa, não diz a que horas tenciona estar de volta, não se interessa por ler nem por escrever e, por último, não se aflige com nada. No estágio crítico, ele está envolvido com drogas e com o crime, passa por várias instituições de tratamento e reeducação, necessita freqüentemente ser salvo de embaraços financeiros que terminam por comprometer o patrimônio da família, envolve-se em escândalos, e finalmente desaparece de cena, ou porque vai preso, é vítima de um acidente, é aniquilado por uma gang, ou simplesmente vai atuar em outra praça.

*

A Política da Família não é apenas o modo como os pais rebaixam ou promovem seletivamente seus filhos, mas o modo como todos os membros da família agem com respeito uns aos outros, ou como cada membro se dá bem com um e com outro, ou persegue a um e faz o outro útil para si, ou lhe é indiferente. Nela se infiltram até os empregados da casa, tomando partido e fazendo intrigas. Ter uma política de família não é privilégio das famílias ricas nem das famílias mais cultas. Essa diabólica sofisticação na seleção de alvos para o êxito e para o fracasso é praticada também nas famílias mais pobres e mal estruturadas. Onde a promiscuidade é grande, participam dela todos que estiverem sob o mesmo teto: pais, avós, tios e primos, e mesmo em um orfanato existe, sob esse aspecto, uma família.
Para tão diversificados ambientes e personagens, é forçoso, então, que os instrumentos do preconceito e da exploração acabem por variar muito, variar na sua linguagem, nos seus modos de ferir mais diretamente ou com mais sutileza, passando da simples e cruel pancadaria até formas astuciosas de convencimento. E os resultados, ao final, também variarão desde o internamento em uma clínica de luxo ao internamento numa escola correcional, dos escândalos da alta sociedade ao tiroteio na favela, do recurso a um psicólogo ou a um policial.

*

Laing diz que o melhor modo de fazer alguém se tornar um certo tipo de pessoa é através de “atribuições”, ou seja, é dizer-lhe que ele já é aquele tipo que, na verdade, ainda se deseja que ele venha a ser. “É minha convicção”, diz Laing, “que a maioria das instruções que recebemos no princípio e no fim da nossa educação nos é transmitida sob a forma de atribuições. Dizem-nos que as coisas são de determinada maneira, e nós aceitamos. Por exemplo, dizem-nos que somos um bom ou um mau rapazinho. Poderíamos ser qualquer das duas coisas, mas, uma vez que somos uma delas...” Se é dito à criança que ela é um bom menino ou uma boa menina, ele ou ela assumirão o papel de bom menino ou boa menina. Será ainda melhor se uma terceira pessoa transmite para ela a opinião ouvida a seu respeito. Isto tem muito a ver com o hipnotismo.
As ordens hipnóticas não são determinações claras, porque não são dadas na forma de instruções. Por exemplo, o hipnotizador não ordena à pessoa hipnotizada que sinta frio. Ele diz que está fazendo frio, que a pessoa hipnotizada está sentindo frio, ou que ela está alegre, ou que ela está triste, e então ela sentirá frio ou ficará alegre ou triste como lhe é dito o que ela sente ou como está. Na opinião de Laing uma criança começa a sua aprendizagem num estado semelhante, pois os seus pais farão que seja uma certa coisa apenas lhe dizendo que ela já é aquilo que querem que ela seja. Não lhe dirão para ser desobediente; os pais lhe dizem que ela é desobediente. Dizer à criança para fazer alguma coisa, dizendo-lhe, ao mesmo tempo, que ela é uma criança desobediente (ou que não presta), equivale a querer ser desobedecido, porque já lhe indicam que ela não faz o que eles querem. Deste modo, a criança aprende que é desobediente e de que modo deve mostrar sua desobediência no contexto particular da sua família.
A técnica que o Dr. Laing exemplifica com as frases abaixo é eficaz para tornar a criança teimosa, tímida ou descuidada, assim como para, ao contrário, fazê-la dócil, obediente e útil.
“Estou sempre a tentar que ele faça amigos, mas ele é tão voltado para si mesmo. Não é verdade, querido?”
“Ele é tão teimoso. Nunca faz aquilo que eu lhe digo para fazer. Não é verdade, filho?”
“Estou sempre a dizer-lhe que seja mais cauteloso, mas ele é tão descuidado; não é filho?”
“Ele sabe distinguir por si próprio o bem do mal; nunca tive de lhe dizer para proceder em conformidade com esses princípios.”
“Ele faz tudo sem eu ter que lhe pedir.”
“Ele próprio sabe quando deve parar.”
Dr. Laing pergunta: “Até que ponto é conseqüência de hipnose interessada aquilo que normalmente sentimos? Até que ponto aquilo que somos é conseqüência de uma ação hipnótica visando que sejamos assim? Uma relação entre duas pessoas pode ser tão forte que uma seja levada a ser o que a outra pretende através de um simples olhar, toque, ou mesmo por um discreto tossir, sem ser preciso dizer nada.”
Algumas atribuições são projeções.
É obrigatório projetar o mal naquilo que constitui o Inimigo, seja ele quem for; e é obrigatório negar que essa ação seja uma projeção. A Sra. Silva detesta sua sogra e acha que sua filha se parece com ela. Embora possa jurar que isto em nada diminui seu amor pela filha, não é assim que parece a um observador de fora da família. Ao projetar a sogra em sua filha, para ela a criança assumirá o valor da sua sogra: isto é a projeção. Porém, será ela capaz ou não de induzir a filha a encarnar sua avó paterna? Sim, bastando repetir-lhe que ela é igual à avó ou se parece com ela.
A projeção é efetuada pela Sra. Silva conforme a sua própria experiência em relação à sogra, portanto, obviamente ela projetará na filha aquilo que, em sua sogra, é a causa de seu desafeto. As boas qualidades da sogra serão ignoradas nessa projeção.
A filha da Sra. Silva poderá começar a agir e sentir como a sogra de sua mãe, mesmo que nunca a tenha conhecido. “Na realidade, é até mesmo absolutamente possível induzir alguém, através das minhas ações, a sentir e agir como alguém que eu próprio posso nunca ter conhecido”, diz Dr. Laing.

*

As desconsiderações são outra manifestação da antipatia inconsciente dos pais por um determinado filho. Os maltratos físicos são todos eles formas violentas de desconsideração, mas poderão não ter o mesmo efeito que têm as desconsiderações verbais que negam a pessoa, que fazem a criança sentir-se envergonhada, estúpida ou suja. Estas acontecem quando as coisas lhe são ditas com visível repugnância pela sua pessoa: “Não dê palpites!”, “Não se intrometa”, “Esfrego o seu nariz nisso que fez”, são exemplos.
Mas Laing descreve algumas formas muito sutis de desconsideração, nem por isso menos poderosas. Dá um exemplo, que ficou muito conhecido, do modo como certa mãe recebe o bebê em seus braços. Ela tinha no colo uma criança de seis meses e nem uma só vez correspondeu aos seus sorrisos com um sorriso seu. Mas, quando era ela que provocava os sorrisos no bebê, fazendo-lhe cócegas e brincando com ele, então ela sorria também, mas respondia com um olhar inexpressivo sempre que era o bebê quem tomava a iniciativa de lhe sorrir.
Outro exemplo de Laing veremos repetir-se à mesa da família Silva, quando a Sra. Silva passar um prato feito ao caçula, que é o filho problema: o prato será passado com um gesto mecânico, sem qualquer reconhecimento, “de modo que o outro o pegue dois segundos antes de tornar-se um peso morto”.

*

O termo injunção tem, na teoria do Dr. Laing, o sentido de proibição de sentimentos. A injunção consiste em uma programação imposta à criança que diz o que ela deve e não deve fazer. Proibições do comportamento livre como “Não faça barulho”, “Não fique por aí”, “Não ria”, “Não cante" correspondem à injunção “Não seja feliz”, e pertencem a essa categoria de exigências opressivas, feitas comumente pelos pais e adultos à sua volta. A injunção “Não seja feliz” pode ser dada com grande intensidade e, neste caso, a mínima expressão de felicidade pode trazer severa repressão. A injunção “Não seja feliz” corresponde à antipatia que os pais têm por todas as formas de felicidade que um determinado filho manifesta.

Uma injunção como “Não seja espontâneo” pode ser dada por instruções como “Não corra para ser o primeiro”, ou “Seja sempre um cavalheiro”, “Peça desculpas”, “Não incomode as pessoas”, “Faça o que lhe dizem e não faça perguntas”, etc.

As proibições são especialmente duras porque existe para a criança a proibição de questionar as proibições: é proibido indagar porque é proibido. A injunção “Seja prestativo para seus pais” incluiria, certamente, proibições tais como “Não pense”, “Não seja vadio”, “Não discuta”, “Não esqueça”, etc. Uma proibição poderá ainda não ser dada verbalmente, mas constituída pelo persistente reforço do comportamento desejado e reforço negativo para o comportamento oposto, através de desconsiderações.

As regras negativas podem gerar ações que elas próprias proíbem. As proibições podem ser dadas de modo inconsistente e não convincente, e até maldoso, quando é pelas próprias proibições que a criança aprende sobre algo proibido, ou seja, a proibição quebra a inocência da criança. Diz Laing: “Podemos verificar, por experiência direta, que algumas ordens negativas têm um efeito paradoxal, induzindo a pessoa a fazer aquilo que lhe disseram para não fazer.” Exemplo: “Espero que não fique grávida antes de poder cuidar do seu bebê”, dito a uma menina que não chegou à idade nem ao risco de ficar grávida.

Somos instruídos no sentido de sermos honestos. Mas também somos instruídos a efetuar operações destinadas a levar vantagens que não podem escapar à designação de desonestas. Neste caso, a verdadeira instrução para a criança é de que ela seja espertinha e use duas medidas. Se aquilo que lhe deram instruções para atingir não é atingível pelo modo como lhe ensinaram, esta é uma dificuldade que pavimenta o caminho para os estados ansiosos.

*

Ao fazerem atribuições a seus filhos, os pais tendem a seguir uma regra que eu chamo “das três atribuições básicas”. Se têm três filhos, eles usualmente buscam fazer de um deles, geralmente o mais velho, a criança prodígio (enquanto lhe é fácil obter êxito, ele é uma criança feliz; quando cresce e encontra competitividade, sente-se despreparado e ressentido com os pais). Outro filho, provavelmente o segundo, será treinado para ser responsável e prestativo, útil à família sob variadas formas (pode mostrar seu ressentimento esquecendo tarefas, guardando objetos fora do lugar, confundindo recados, mas, depois de adulto, poderá ser útil aos pais até o fim). Outro, possivelmente o terceiro, será treinado para ser o filho difícil, repulsivo e estúpido, ou mesmo o “bobo” da família, podendo, no entanto, ser charmoso e desligado, ou muito linda, se for mulher (aceita o seu fado ou o sacode, abandonando o lar). Essa ordem pode, é claro, ser modificada, pois se há preconceito contra filhos do sexo feminino, o preferido será um filho homem, ainda que seja o último a aparecer. No caso de mais filhos, diluem-se as posições, compartilhadas por dois ou mais, e até mesmo o caçula, geralmente o filho difícil, quando vem depois de muitos anos de diferença para os outros filhos, pode destronar o predileto para tornar-se ele o preferido.

Para conseguir seus propósitos quanto às mencionadas três atribuições básicas, os pais não precisarão mais que dizer a cada filho, respectivamente, por exemplo, que ele é inteligente, ou que é prestativo e útil, ou que é um fracasso, atribuições que as crianças aceitam sem duvidar. Para reforçar essas atribuições fundamentais, os pais presentearão os filhos de acordo: ao mais velho darão livros e jogos que requeiram reflexão ou o que quer que esteja em relação com a excepcionalidade que buscam desenvolver nele. Ao segundo, darão miniaturas de oficinas ou, se é uma menina, ferrinho de engomar, vassourinhas, miniaturas de cozinhas e lavanderias, etc. Ao mais novo, no caso o perdedor (ele aprende a não esperar muito nas datas de seu aniversário, que inclusive caem sempre em dias inconvenientes para a família), não se dão ao trabalho de escolher muito para presenteá-lo, ou escolhem dar-lhe coisas que não sejam bem o que ele gostaria de ganhar.

Em um inquérito que fiz entre meus alunos, somando um total de 71 famílias e envolvendo 350 jovens, o irmão problemático nunca foi o mais velho dos irmãos de sexo masculino. Houvesse um fator hereditário, haveria também um percentual de filhos problemáticos entre os primogênitos. O inquérito revelou ainda que o filho que é problema para o pai pode ser diferente do filho que é problema para a mãe, e, quando a família é grande, parece surgir um quarto tipo de irmão, sobre o qual o entrevistado nada tinha a declarar. Esse quarto tipo correspondia a um filho, ou filhos, poupados do determinismo dos pais e em condições de gozar de um mínimo de liberdade e fugir ao caos familiar.

Excluírem-se das brigas e existirem como sombras discretas talvez lhes permitirá apresentarem-se, mais tarde, como os verdadeiros vitoriosos, embora não muito felizes, pois ficaram limitados a possibilidades escassas de escolha, para que pudessem escolher discretamente.

Não importa, no entanto, quantos e quão variados tipos, bons ou maus, possa a política da família criar em seu seio. O que importa é que mesmo um tipo “bom” não é verdadeiramente bom, porque não representa uma personalidade desabrochada em todo o seu potencial. Não é um filho que tenha contado com todas as possibilidades correspondentes aos seus dons e talento, livre e respeitado, estimulado e amado pela família. O fato é que desde o nascer, ou mesmo desde antes do nascer, aquela criança já estava predestinada a receber um determinado rótulo, a ser preparada para um determinado papel.

Por quê?

A capacidade inata de reconhecer o que é bom e o que é mau na competição pela sobrevivência tornou-se, com a civilização, em reconhecer o bem e o mal para os costumes, e o belo e o feio para a estética, juízos que, no entanto, não superam por completo as formas residuais de juízos instintivos sobre o bom e o mau, que formam as preferências e os preconceitos. Talvez, por força desse julgamento primitivo – que leva as pessoas a terem na caderneta os nomes daqueles com quem elas não simpatizam desde o primeiro instante que os vêem –, o Sr. e a Sra. Silva estejam habituados a ver um mundo dividido – no qual o mau lhes parece predominar –, e levaram essa divisão gratuita para dentro do lar. Estão, portanto, predispostos – sem o saber –, a ver também os seus filhos divididos entre bons e maus, e isto os cega para o fato de que são iguais.

Entre outras várias razões possíveis, estão aquelas de natureza estritamente psicológica, como o fato de o casal haver feito planos para ter apenas dois filhos, e, portanto, o terceiro não era desejado, ou porque se esperava que o mais velho fosse um homem, e nasceu uma menina, ou pelo temor de que a filha fique mais bonita que a mãe, etc.
Pode haver uma razão ainda mais sutil, como as que expõe o Dr. Laing. Pode ser, por exemplo, que os pais, apesar de terem passado pela cerimônia do casamento com várias dezenas de pessoas como testemunhas, não sintam seu casamento uma realidade e seus filhos como uma experiência real de ter filhos. Pode ser que o Sr. Silva nunca se tenha sentido “psicologicamente” casado com a Sra. Silva ou vice-versa, e que a situação de particular antagonismo com um dos filhos tenha raiz na falta de entusiasmo de ambos, ou de um deles, em relação à família. Ou pode ser uma espécie de programação atávica, espécie de hipnose que os pais sofreram quando eles próprios eram crianças, e que agora aplicam aos seus filhos, passando-lhes as instruções recebidas e deste modo hipnotizando-os também, de modo a que estes, futuramente, hipnotizarão, também, os próprios filhos. Neste caso, o Sr. e a Sra. Silva não percebem que estão a agir como mensageiros de instruções anteriores, e isto porque uma das instruções transmitidas é que se não pense que se está recebendo instruções. Sob hipnose, a pessoa visada vai realmente sentir; e não sabe que sofreu os efeitos de uma hipnose para sentir.

*

Evitar criar ovelhas negras significará menos viciados, menos desocupados, menos lares traumatizados.
Dirá o leitor bem intencionado que o amor cristão é o antídoto, é o remédio, contra todas as formas de preconceito. Mas este amor não pode ser amor à criança rebelde e problemática, ou ao jovem transviado, uma caridosa resignação dos pais e irmãos em aceitá-los como a uma cruz, do jeito que eles são. Isto seria lavar as mãos e manter o preconceito. Tratando-se ainda de uma criança, basta descobrir e pôr um fim à política preconceituosa; a consideração e o respeito farão o resto.
No caso do jovem, é necessário que os pais o vejam como igual aos irmãos: a diferença está no que fazem, e não no que são essencialmente, e por isso mesmo será possível que ele mude o que faz, porque não é a sua natureza que ele tem que mudar.
Mas pode ser também que as coisas se resolvam para o filho problemático devido ao grande poder que uma pessoa tem de se auto-resgatar, pela via da razão ou com a ajuda da sua religião. Melhor ainda se for suficientemente forte para despertar, além de si mesmo, também os demais membros da família, do sono hipnótico em que os irmãos desempenham seus papéis de “maus”, de “bons” e de “úteis”, e os seus pais o papel inconsciente de “pais”, que herdaram de seus pais.

Rubem Queiroz Cobra

NOTA: Este conto está no livro de R. Q. Cobra AS FILHAS ADOTIVAS. Edições COBRA PAGES, Brasília, 2005, 136 p., ISBN 85-905519-1-1. Veja, por favor, como adquirir na página Livros do Autor. O texto foi primeiro publicado em livreto intitulado: A Infância dos Três Porquinhos: Lição a Pais e Mestres. Autoria de A. Rubenco, pseudônimo de R. Q. Cobra. Editora Valci, Brasília, 1991. As citações de Ronald David Laing são de A Política da Família (Ed. Martins Fontes, S. Paulo, s/d) e O Eu e os Outros (Ed. Vozes, Petrópolis, 1972).


Fonte.:http://www.cobra.pages.nom.br/ctp-tresporq.html

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

GARBHADHANA-SAMSKARA. A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

‏ Postado por  padmavati mataji  em 9 de fevereiro de 2012 às 12h28 A palavra abhijātasya em referência a alguém nascido de qualidades trans...