terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Resenha. Por que a “imperfeição” do outro nos incomoda tanto?



Por que a “imperfeição” do outro nos incomoda tanto?
Eunice Eichelberger de Oliveira
junho/2007
INTRODUÇÃO

O momento histórico e cultural é a principal influência para se poder fazer uma análise sobre a diferença, sempre levando em conta a estrutura sócio-cultural do momento em que estamos inseridos.
Resgate histórico sobre como o excepcional foi tratado no decorrer da história.
- Os povos antigos que sobreviviam da caça e da coleta de alimentos simplesmente descartavam os que para eles eram um empecilho para a sua sobrevivência. Sem sentimento de culpa por uma questão cultural.
- Outro povo que descartava os excepcionais era o povo espartano que vivia da guerra e cultuavam a força e a beleza física, eliminando a cça que ia contra este modelo.
- O Feudalismo o corpo era considerado a sede do pecado, tendo assim que ser purificado. O deficiente era pecador com os quais os homens normais praticavam caridade sem mais ser eliminado. Criando o “sentimento de pena” e diminuindo o “sentimento de culpa” que sentia ao deparar com um deficiente.
- Com o capitalismo o deficiente deixa de ser pecador, se tornando um membro a sociedade que não produz.
“O corpo é visto como máquina, sendo o deficiente o portador de uma máquina estragada”.
- Com o passar do tempo e com a evolução da medicina e da tecnologia acontece uma melhor qualidade de vida para os deficientes. Mas mesmo assim ainda é visto como motivo de vergonha e fica escondido da sociedade produtiva, produzindo um sentimento de pena e rechaço.

O mito de Narciso
O Narciso não se reconhecia diante do espelho. O sujeito que ele via no espelho não reconhecia como sendo seu e sim do outro belo e formoso pelo qual ele se apaixonou.
A criança quando nasce é o ser mais dependente do outro, necessita do cuidado do outro por um tempo bem maior do que a maioria dos animais.
No estágio do Espelho, como sabemos, é necessário que a criança se reconheça como o Outro para ser reconhecida como sujeito.
O sujeito do desejo nunca é alcançado ou satisfeito, mas move o homem para a vida que está em constante transformação.

O mito do Minotauro
Que era um Monstro, pois era metade touro e metade homem. Foi afastado do convívio e confinado num labirinto, cheio de crenças e fantasias.
Lembra nossos recalques e sofrimentos quando não nos vimos com a imagem do que imaginamos ser. O Espelho de Narciso nos faz sofrer e para podermos sair deste sofrimento ou ajudar os outros a sair do seu sofrimento devemos saber lidar com o nosso labirinto e enfrentarmos o nosso Minotauro.

O mito da Deficiência
A articulação entre o biológico e o cultural vai fazer emergir uma epiderme, uma forma de ver, pensar e explicar o mundo. Existem diferenças biológicas, sabemos que não tem biologias iguais, (mulheres, homens, negros idosos, crianças, mentais, étnicas, ...), os recalques se formam nestas diferenças.
A associação da loucura à doença será feita somente no século XIX quando foi construído o conceito de doença mental. Os asilos psiquiátricos surgem após a Revolução Francesa.
Na nova era social, no capitalismo, os oriundos das ruínas feudais se tornaram seres famintos e não interessavam, pois não produziam. Então os conselhos de Cidadãos (os banqueiros, os grandes comerciantes,…) propõem o internamento (labirintos) dos denominados miseráveis até que se tornassem “úteis” e “bons” ou então ali morressem. Entre eles se encontravam os loucos.
As “disfunções físicas e mentais” e os “desvios de comportamento” analisados mais cuidadosamente, levam os psicanalistas, psicólogos e psiquiatras a dizer que estão essencialmente ligados a processos de produção das realidades sócio-culturais. Que são complexas e não são exclusivamente de ordem médica ou biológica, mas também sociais, filosóficos, políticos, econômicos, …
Por isso que o nascimento de um bebê deficiente muitas vezes é cultural, pois depende da forma como a mãe se cuida, das condições sociais e culturais em que ela vive.
A evolução da inclusão do deficiente é proporcional ao tempo em que vivemos (social e político). É necessário que se tenha o mínimo necessário para uma sobrevivência dentro a nossa cultura social.
Como diz o poeta Caetano Veloso, em Sampa; “é que Narciso acha feio o que não é espelho”. A sociedade cria os seus minotauros, aqueles que não respondem aos espelhos artificiais dos estereótipos, das representações sociais, mas que, por suas semelhanças com os “normais”, provocam temores e rechaços. Esta repulsa é por algo interno, pelo nosso próprio Minotauro projetado no deficiente.
Este texto nos leva a refletir sobre o que para nós é ser diferente. O diferente é social, é cultural. A Educação nos leva a aceitar todos os Narcisos Sociais, ou seja, todos temos a nossa beleza individual e precisamos saber aceitar esta beleza com sabedoria sem nos preocuparmos com o desejo do outro ou o que o outro vê em nós.
Nós só poderemos aceitar nossos irmãos minotauros (diferentes) quando nos aceitarmos como somos, quando nos olharmos no espelho e vermos não o desejo do outro mas o nosso desejo. Só então poderemos destruir labirintos e libertar minotauros.
“Na escuridão eu quero um cego que me guie!”

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

FIALHO, Francisco A. Pereira. FIALHO, Gustavo Loureiro. Brincando com o minotauro. Por que a “imperfeição” do outro nos incomoda tanto?. Psicologiabrasil. Ano 1. n.2 . p. 22-29. outubro/03.
* aluna da Graduação de Psicopedagogia Clínica e Institucional do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE, de Canoas/RS. Professora: Ms. Gilca M. Lucena Kortmann da disciplina de Educação Especial e Educação Inclusiva I.


Fonte: http://www.abpp.com.br/resenha/04.htm

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