segunda-feira, 5 de abril de 2010

Para especialistas, o sistema melhorou, mas Brasil precisa adotar teste que detecta precocemente o vírus



Para especialistas, o sistema melhorou, mas Brasil precisa adotar teste que detecta precocemente o vírus

Lígia Formenti, BRASÍLIA

O risco de infecção por HIV, vírus causador da AIDS, durante transfusão de sangue no Brasil é 10 vezes maior do que em países desenvolvidos, de acordo com estudo da Fundação Pró-Sangue de São Paulo. Isso significa que, por ano, entre e 100 pessoas podem ser contaminadas ao receber sangue doado.
O coordenador nacional da Política de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, admite que a estimativa está certa. E atribui o problema à associação de dois fatores - falta de um exame mais potente para diagnosticar precocemente a presença do vírus e o fato de o brasileiro ainda recorrer à doação para saber se é ou não portador do HIV.
"Enquanto esses problemas não forem resolvidos, os índices dificilmente vão baixar", emenda a pesquisadora Ester Sabino, médica da Fundação Pró-Sangue e investigadora do Reds, um estudo que está em curso no País sobre a prevalência de doenças relacionadas à doação, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês).
Os pesquisadores consideram que 1 em cada 60 mil bolsas de sangue coletadas esteja contaminada por HIV e não seja identificada no teste de controle realizado nos bancos de sangue. No País, são usados 3 milhões de bolsas de sangue, em média, por ano - cada uma pode ser utilizada até por duas pessoas. "Embora pareçam ruins quando comparados a países desenvolvidos, os índices brasileiros são bons. A qualidade do sangue brasileiro é muito boa, principalmente quando lembramos o que era no passado, antes de haver maior controle. Mas podemos melhorar", afirma Ester.
A tecnologia atual dos testes para avaliar a qualidade do sangue permite detectar a presença do HIV somente 12 dias após a infecção. "Se o doador tiver sido contaminado poucos dias antes, o teste dará negativo, a bolsa será usada e o receptor corre o risco de ser contaminado", explica Genovez.
O problema, chamado janela imunológica, ocorre também com a hepatite - e, nesse caso, o risco é ainda maior. A janela imunológica é de 70 dias. Isso explica em parte as estatísticas atuais de HEPATITE C no País. A transfusão de sangue foi responsável por 12,3% dos novos casos da doença em 2008.
Em países desenvolvidos, a janela imunológica é reduzida pelo uso de um exame batizado de Nat, que em vez de identificar a presença dos anticorpos no sangue, como os exames tradicionais, procura encontrar traços do vírus. O Brasil deverá passar a adotar essa tecnologia a partir do próximo ano, quando deve ficar pronto o teste desenvolvido por Biomanguinhos. Com isso, a janela imunológica dos testes para AIDS deverá cair de 12 para 8 dias. No caso da hepatite, ela deve baixar de 70 para 14 dias. "Será um salto significativo", garante o coordenador do programa de sangue.
Neste mês, um estudo multicêntrico deve ser iniciado para avaliar o sistema de análise com a nova tecnologia. Nesta etapa, amostras de sangue deverão ser enviadas para plataformas distribuídas em várias partes do País. Se não houver atraso, o pedido de registro deve ser feito ainda neste ano.
Ester não tem dúvida de que o teste pode ajudar a reduzir o risco. Mas assegura haver outra medida mais importante: a melhora da qualidade do sangue do doador. Um trabalho feito pela pesquisadora mostra as razões da preocupação. A prevalência do HIV no sangue de doadores voluntários é maior do que da população em geral, 0,6% ante 0,2%. "Apesar das entrevistas e dos métodos usados, há pessoas que buscam o banco de sangue apenas para fazer a testagem do HIV", conta.
A coordenadora do Programa Nacional de DST-AIDS, Mariângela Simão, diz que o número dos que buscam a DOAÇÃO DE SANGUE como alternativa ao teste do HIV vem caindo e deve reduzir ainda mais com o aumento da oferta do teste rápido. "Os serviços estão mais amigáveis, há uma redução das barreiras para a realização do exame." Ela conta haver uma preocupação para que as equipes sejam bem treinadas para fazer o acolhimento de possíveis doadores.

Fonte: Soropositivo.

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