quinta-feira, 13 de maio de 2010

Menos violência, notas melhores




Gestão Escolar

DiretorArticulação com a comunidade
Edição 004 | Outubro/Novembro 2009

Menos violência, notas melhores

O entorno influi no desempenho dos alunos, mas uma boa gestão pode anular os efeitos negativos

Raphael Hakime e Silvia Avanzi (gestao@atleitor.com.br)

A violência na periferia das grandes cidades sempre foi tida como um dos fatores responsáveis pelo baixo desempenho dos alunos. Um recente estudo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cruzou indicadores de 15 cidades brasileiras com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e concluiu que, quanto pior a situação social e urbana, menor o Ideb do município. 

O que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi o cruzamento do desempenho escolar com a taxa de homicídios e o grau de atendimento à pré-escola. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo - em que são registrados 118 assassinatos para cada 100 mil habitantes e apenas 20% das crianças frequentam creches e pré-escolas -, a média do Ideb de 2007 para anos iniciais do Ensino Fundamental é de 3,8. Já na região metropolitana de Campinas, a 80 quilômetros de São Paulo, onde a violência urbana é menor (27 assassinatos a cada 100 mil habitantes) e 100% das crianças de 4 e 5 anos estão na pré-escola, a nota do Ideb é 5 (veja o quadro abaixo)Arte: Mario Kanno


Arte: Mario Kanno















* Taxa de  (dados do DATASUS de 2002), atendimento à pré-escola (estimativa de crianças de 4 e 5 anos, com base no DATASUS e censo escolar - dados de 2000 a 2005) e IDEB 2007

Uma das conclusões a que chegaram os pesquisadores é que os alunos de áreas com altos índices de violência têm pior desempenho por ter menos aulas (ou porque faltam mais ou por causa do alto absenteísmo do corpo docente). As escolas em áreas sociais instáveis sofrem ainda com a alta rotatividade de professores e com a evasão escolar, já que o estudante trabalha para se manter ou ajudar a família - sem contar os que se envolvem com atividades ilícitas. 

Os dados levantam uma velha questão: afinal, a violência é culpada pela escola ruim ou a escola ruim também contribui para aumentar a violência? Caren Ruotti, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), diz que as áreas mais violentas apresentam uma sobreposição de carências que se reflete na escola. Esse contexto influencia inclusive a forma preconceituosa pela qual a instituição enxerga os alunos. "É comum os jovens não receberem o devido incentivo dos docentes, pois já chegam estigmatizados como pessoas sem perspectiva de vida", explica Caren. "Por isso, não se pode dar todo o crédito negativo ao entorno e se eximir de realizar um bom trabalho pedagógico." 

Renato Alves, também do NEV-USP, afirma que boa parte da origem da violência está na história recente do país. "A disparada do crescimento populacional das regiões metropolitanas ocorreu entre os anos 1980 e 1990, com maior demanda por serviços públicos, nem sempre atendida pelos governos. E isso é um aspecto gerador de violência", explica. 

Outro fator a ser considerado, dizem os especialistas, é o despreparo da escola para atender à população que começou a frequentá-la, com a universalização do Ensino Fundamental. Segundo Mariane Koslinski, pesquisadora do Ippur, as redes públicas ainda não sabem como receber esse público mais carente. "A escola desestimula esses alunos e deixou de ser um valor social importante." De acordo com ela, são comuns os depoimentos de crianças que conhecem pessoas da própria comunidade que não estudaram e, mesmo assim, acumularam capital e prestígio. 

Escolas driblam o problema 

A prova de que a violência não é um estigma intransponível está em inúmeras escolas que conseguem superar as dificuldades e ensinar com qualidade. A EM Santo Tomás de Aquino, que fica ao pé do morro das favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro, obteve 4,5 no Ideb dos anos iniciais e 4,1 nos finais do Ensino Fundamental (as médias da cidade são de 3,8 e 3,05, respectivamente). "Ações violentas ocorrem na região, mas não entram aqui, na escola", orgulha-se o diretor, Jorge Ferrari. Ele investe na formação dos professores e faz parcerias com organizações não-governamentais que oferecem atividades culturais e esportivas aos alunos e familiares. 

Outro exemplo é a EM IV Centenário, na favela da Maré, também na capital fluminense. Sua média no Ideb passou de 4,6, em 2005, para 5,2, em 2007. A diretora, Rita de Cássia Magnino, aponta a união da equipe e a atenção às metas como um dos pontos fortes e diz que o segredo do bom resultado está na gestão democrática. 

A estratégia dos dois diretores - investir no clima escolar, na mobilização comunitária e no fortalecimento da equipe, visando o aprendizado - tem o aval de especialistas. "O papel da gestão é um fator diferencial no desempenho da escola de qualquer região, inclusive das situadas em áreas carentes e de entorno violento", ressalta Caren Ruotti. Segundo ela, o essencial (para reverter a tendência negativa) é olhar de perto cada situação para transformar a realidade de forma eficiente e produtiva.



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