terça-feira, 11 de outubro de 2011

Encare seu karma de frente




Encare seu karma de frente

Por Adília Belotti

A palavra karma tornou-se tão familiar que a usamos livremente, muitas vezes sem saber o que realmente significa e tudo o que está por trás dela. No Ocidente, confunde-se karma com destino. Nascer com um bom karma é sinônimo de sorte, mas ai de quem é premiado com um mau karma. Dentro dessa visão, os seres humanos estariam irremediavelmente presos à sua sorte e nada poderiam fazer para escapar. Na verdade, o karma não é nada disso.

Karma quer dizer ação, em sânscrito. Para o budismo, é a influência que as ações dos indivíduos têm sobre tudo que acontece em suas vidas. O karma "não nasce de uma vontade divina (...) nem pode ser atribuído ao azar: é fruto de nossos atos (...) e, por atos, entendemos pensamentos, palavras e ações físicas, negativas ou positivas", afirma o monge francês Matthieu Ricard, no livro O Monge e o Filósofo.

Um exemplo clássico entre os mestres budistas é comparar o karma a uma pedra jogada em um tanque de água. Os círculos concêntricos que se formam quando a pedra cai batem na margem e voltam para o centro. Conosco acontece a mesma coisa. Só que, na maioria das vezes, não percebemos que aquilo que estamos vivendo é resultado do que nós mesmos criamos e que nossas reações produzem novos círculos na água e assim incessantemente.

Do ponto de vista psicológico, a noção de karma baseia-se na idéia de que toda a experiência fica registrada no nosso eu mais profundo sob a forma de energia, positiva ou negativa. Você pode não ter consciência disso, mas, cedo ou tarde, essas energias vão afetar seu comportamento. Se você trai a confiança de alguém, por exemplo, um dia o impacto negativo dessa ação se voltará contra você. Da mesma forma, o efeito benéfico do que fazemos também acaba respingando em nós.

Bem e mal também não devem ser considerados absolutos. Matthieu Ricard lembra que "pensamentos e atos são considerados bons ou maus em função da motivação que os originou ou de seu resultado -- o sofrimento ou a felicidade que causam, a nós ou aos outros".

O karma é a força que nos impulsiona - e, não apenas nesta vida, mas em todas as outras que já vivemos ou que ainda vamos viver. Para os budistas, estamos condenados a renascer para corrigir nossos erros e alcançar o nirvana, quer dizer, a iluminação. "O karma é a dinâmica que impele a alma à reencarnação e, (...) de encarnação em encarnação, o ser é conduzido para sua realização", explica Patrick Drout, em seu livro Nós Somos Todos Imortais. Por isso, o melhor conselho é: pare de se sentir uma vítima das circunstâncias e comece a lidar com seu karma.

Aprenda a fazer melhores escolhas
  • Pratique a generosidade. Se nós colhemos o que semeamos, o bem que fizermos voltará para nós... e o mal também. Agir com generosidade, compaixão e bondade é um excelente investimento de longo prazo.
  • Preste atenção nas suas decisões. Segundo as leis do karma, tudo o que acontece no presente é resultado direto de nossas escolhas passadas. A maior parte do tempo, no entanto, tomamos decisões de forma tão automática que nem paramos para refletir sobre seu valor. E essas escolhas contam para efeitos de melhorar nosso karma, e muito! Por isso, é bom estar sempre consciente na hora de agir ... ou de se omitir! Antes de dar o passo, pergunte quais seriam as conseqüências e como poderiam afetar, para o bem ou para o mal, os seres que estão à sua volta.
  • O poder do coração. Em dúvida, ouça seu coração. Fomos acostumados a pensar que as decisões tomadas com o coração são frágeis e sentimentais. Na verdade, são holísticas, intuitivas e fortes! Esse lado da psique que chamamos coração é um recurso valioso e desenvolvê-lo vai ajudá-la a tomar decisões mais afinadas com os seus próprios sentimentos e os das outras pessoas.
  • Exercite a sensação. Para saber se você fez aquilo que era correto ou não, aprenda a sentir. Se o seu corpo transmite uma sensação de paz e de serenidade ou um profundo bem-estar isso é um sinal de que a decisão foi acertada.
  • Não se culpe. Tire partido de seus erros e corrija sua conduta, em vez de se sentir culpada. "A culpa bloqueia totalmente a energia do aprendizado", adverte o psicólogo Arnaldo Bassoli.
O karma não é apenas individual. Também está relacionado com o grupo ao qual você pertence: família, nação, raça.
Você e os seus: karma coletivo
Famílias, nações ou grupos que compartilham a mesma maneira de viver, de lidar com novas experiências ou estão unidos por convicções religiosas comuns compartilham um mesmo karma. Mas a ênfase aqui é na união verdadeira entre as pessoas do grupo e em uma profunda identidade de ideais, crenças e metas "...de forma que as energias de cada um se fundem para converter-se em energia grupal, que, aliás, nem sempre é positiva", assinala Arnaldo Bassoli. A forma como um grupo aplica essa energia, ou seja, as ações que pratica ou endossa, também obedecem à lei do karma.
Não tenha medo do seu karma
Você pode aceitar seu karma, transformá-lo ou reciclá-lo.
  • Não fuja dos seus conflitos. Quer dizer, aceite aquilo que acontece como parte do seu destino humano. Mas não traduza aceitação por passividade. "Se o sofrimento faz parte da condição humana, a melhor forma de enfrentá-lo é aprender a lidar com ele e não fugir ou se esconder", ensina Arnaldo Bassoli. Nenhuma dívida do universo fica sem ser paga e o nosso sofrimento pode, sim, estar relacionado a erros cometidos em outras vidas, porém o que realmente importa é a maneira como reagimos à dor. Perseguir sentimentos de paz, amor e perdão tem influências benéficas no nosso destino.
  • Descubra o que está por trás dos acontecimentos. Quando, diante de uma situação de sofrimento, por exemplo, você faz um esforço para refletir sobre a mensagem que o universo lhe envia através dela, está transformando positivamente seu karma. Muitas vezes essa pergunta parece tola, mas devemos ter em mente que tudo que acontece conosco, seja bom ou mal, nos ensina algo sobre nós mesmos.
  • Experimente não se apegar tanto às coisas. Uma grande fonte de sofrimento é o apego excessivo que temos aos prazeres, às posses e a nossa reputação, por exemplo. Por isso, para os mestres budistas, a prática do desapego leva à sabedoria. "Ficar apegado é uma maneira de estar sujeito ao karma e nosso maior objetivo é sempre o dharma, quer dizer, a liberação ou a descoberta do nosso verdadeiro propósito. Dasapegar-se das coisas materiais não quer dizer se isolar do mundo. O monge Matthieu Ricard explica: "Subtrair-se à realidade não resolve nada. O nirvana é exatamente o oposto da indiferença para com o mundo; é ter compaixão e amor infinito pela totalidade dos seres. (...) Aquele que está livre de todo o apego pode usufruir da beleza do mundo e dos seres (...) sem ser o joguete das emoções negativas e, então, desenvolver uma compaixão ilimitada". Dessa forma o karma se recicla.
Caminhe em busca do seu dharma
Dharma é uma palavra sânscrita com muitos significados e um deles é propósito. A lei do dharma diz que nos manifestamos fisicamente na Terra para cumprir um propósito e que cada um de nós tem um talento que devemos explorar. Essa é a única razão para estarmos no mundo. Existe alguma coisa que sabemos fazer melhor do que qualquer outra pessoa e é nosso dever descobri-la para poder ajudar o mundo com nossa sabedoria. "Seguindo a mesma interpretação psicológica, se o dharma é a realização do potencial inato de cada indivíduo, o karma é exatamente o jogo de ação e reação que, quando não inspirado por essas ações dhármicas, acaba por nos tornar prisioneiros de pessoas, bens ou hábitos, dos quais precisamos nos desapegar se quisermos conseguir nossa liberação", explica Arnaldo Bassoli. Quanto mais sintonizados estivermos com nosso propósito, mais chances teremos de modificar o karma a nosso favor.
Para saber mais
O Monge e o Filósofo, Jean-François Revel e Matthieu Ricard,
Editora Mandarim
Adilia Belotti é editora do site Árvore do Bem


fonte http://www.sintoniasaintgermain.com.br/carma_de_frente.html

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