segunda-feira, 13 de maio de 2013

A Ilha do Doutor Moreau por H. G. Wells uma crítica de Alexandre Beluco



A Ilha do Doutor Moreau

por H. G. Wells

uma crítica de Alexandre Beluco

publicada em 10.05.2002
republicada em 24.10.2003
A Ilha do Doutor Moreau foi escrita em 1896 por H.G. Wells, que é apontado como um dos pais da moderna ficção científica. A história é de uma atualidade atroz, na medida em que hoje em dia temas como clonagem ou manipulação genética circulam diariamente em jornais de todo o mundo. Entretanto, talvez o cerne da estória não esteja em questões tecnológicas, mas no próprio ser humano.
A estória é contada por Edward Prendick que, depois de se ver náufrago, é resgatado por um passageiro renegado em um barco estranho. Esse passageiro, Montgomery, tem um amigo que não parece humano e traz uma carga bastante numerosa de animais. E Prendick se vê forçado a desembarcar quando Montgomery chega em seu objetivo, uma ilha perdida no oceano Pacífico.
Na ilha, Prendick conhece o doutor Moreau, para quem Montgomery trabalha. Eles se isolaram do mundo para desenvolver um trabalho científico bastante duvidoso... recriar a forma humana a partir da remodelagem física de animais, um processo de vivissecção, e a partir da dor provocada trazer à tona a humanidade que fosse possível extrair dessas criaturas.
Desse modo, desfilam pela ilha criaturas as mais diversas, como homens-porcos, homens-hienas, homens-cães e assim por diante. Alguns mostraram-se mais dóceis e, naturalmente, acompanham o mestre. Outros, foram deixados à sua própria sorte e vivem pela ilha em pequenos grupos, segundo uma lei ditada pelo próprio Moreau e na qual ele deve ser idolatrado como uma deidade.
É claro que Prendick sentiu-se ameaçado, como também é claro que sua chegada provocou o início de uma rebelião entre os habitantes da ilha. Mas a catástrofe maior talvez tenha surgido pelo desejo de Moreau de se superar... Quando conseguiu fugir da ilha, Prendick não associou as experiências que viveu aos resultados dos experimentos de Moreau, mas aos potenciais negativos da humanidade. Tornou-se recluso e amante da ciência. Parece não ter deixado descendência.
A estória mostra aspectos interessantes da natureza humana. De um lado, Moreau, que se isolou do mundo para dar vazão ao seu potencial criador e investigativo. E o fez com um ímpeto invejável. De outro lado, as suas criaturas, que mantêm suas características inatas pela doutrina rígida que devem seguir e que foi imposta por Moreau. Entre ambos, Montgomery e Prendick, um que largou tudo porque certamente se apaixonou pelas idéias que o intelecto de Moreau poderia tornar possíveis e o outro uma testemunha indesejável, esforçando-se por sobreviver.
Em um primeiro momento a estória parece querer alertar para os possíveis problemas surgidos com a má condução de experimentos científicos. Mas a ênfase está centrada demais nas criaturas e em seu comportamento, parecendo querer mostrar como o homem pode ser mau e como é necessário uma mão firme para controlá-lo. Essa pode ser a causa da pequena repercussão dessa estória em comparação com outras da obra de Wells (comoO Homem Invisível ou A Máquina do Tempo).
No Brasil, são raras as versões integrais desta estória. Entretanto é comum versões recontadas fazerem parte de coleções para o público adolescente, como é o caso desta versão publicada pela Ediouro. Mas nenhuma edição parece dar respeito à estória sobre as loucuras de Moreau. Há alguns anos, quase como que em lembrança pelos seus cem anos, uma versão cinematográfica contou com a presença de Marlon Brando no papel de Doutor Moreau e incluía um romance entre Prendick e uma das criaturas da ilha.
Mas tanto as versões recontadas quanto a versão cinematográfica parecem sofrer um esquecimento crônico. Como se essa história não merecesse ser lembrada. Talvez por lidar com imagens fortes, de homens-animais... ou talvez por trazer à tona questões realmente importantes, que exigem coragem e clareza de pensamento para serem abordadas.
Enfim, a literatura mundial parece aguardar um desfecho para a estória das criaturas deixadas por Moreau em uma ilha do oceano Pacífico... será que elas, deixadas para viverem por si, retornaram mesmo à sua forma original? será que elas não evoluíram para outra forma? não haveria estrutura social que elas poderiam assumir e que fosse uma estrutura híbrida, intermediária entre as sociedades humanas e animais?
Ou talvez aguarde uma nova versão, agora com um final feliz.




A ilha do dr. Moreau




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