quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Ideologia de Gênero: falsa, errada e danosa

 1 de janeiro de 2019 08:41Rodrigo Serra Palmeira

O intelecto humano é uma ferramenta poderosa, um grupo de animais mal adaptados consegue modificar o meio em causa própria e de forma fantástica garantir sua hegemonia, porém como todo instrumento, os efeitos dependem do seu uso e posso afirmar que a “ideologia de gênero” é um exemplo de raciocínio inadequado e danoso.

O motor inicial provém do entendimento que a situação social determina as características dos humanos, ou seja, o indivíduo feminino apenas atua como mulher por pressão da sociedade, acontecendo o mesmo com o masculino, o fato de existirem mulheres e homens anteriormente a uma sociedade capaz de promover essa influência não foi levado em consideração. As pessoas foram aceitando que a totalidade do comportamento é adquirido, culminando na ideia que independe das características físicas inatas ao sexo ao qual pertencemos.

Anos de observações dos recordes olímpicos demonstrando um abismo intransponível entre os polos. Ilustro da seguinte forma: um homem de 56 kg eleva na modalidade arremesso 171 kg, ao passo que uma atleta treinada de 75 kg eleva 164 kg, deve-se levar em consideração que as faixas de peso são diferentes, sendo o exemplo dado de um homem na classe inicial contra uma mulher na penúltima classe, nas faixas mais pesadas 105 Kg para homens e mais de 75 kg para mulheres a diferença é de 263 kg a 193 kg,  nas modalidades de salto e corrida a diferença permanece impressionante.

Nas salas de estudo de anatomia humana, uma das primeiras informações passadas aos estudantes de medicina diz respeito às diferenças de consistência entre os corpos, os homens tem maior densidade óssea e maior quantidade de músculos, ao passo que as mulheres apresentam ossos mais frágeis e maior proporção de gordura, mais importante ainda: no momento em que a quantidade  de tecido adiposo reduz nas mulheres, o próprio sistema endócrino passa a funcionar de forma deficiente, elas deixam de menstruar e tendem a sofrer de osteoporose precocemente, com maior risco de fraturas.

A diferenciação inicial ocorre no momento da fecundação, ali existem dois pares de cromossomos que nas mulheres são “XX” e nos homens “XY”, esse é o sexo genético. Ali no cromossomo “Y” existe uma seqüência chamada de SRY, esta determina o desenvolvimento sadio dos tecidos sexuais, nos machos, as células testiculares de Sertoli produzem o hormônio antimulleriano, após haverá a diferenciação das células de Leyding, produtoras de testosterona.  Superficialmente podemos afirmar que o modelo humano é do sexo feminino, se não houver o estímulo, a tendência é que o ducto embrionário de Muller se desenvolva em útero, trompas, cervix e terço superior da vagina, nos homens aquele ducto é degenerado por ação do hormônio antimulleriano em detrimento do Ducto de Wolff  que se desenvolve em  epidídimo, vesículas seminais  e ducto ejaculatório. O pênis e o terço inferior da vagina são formados a partir de outra estrutura embriológica, o seio urogenital, que tem seu desenvolvimento regrado pela testosterona.

Após todas essas fases aquele corpo assumirá as características femininas e masculinas secundárias ao estímulo do hormônio correspondente (sexo endócrino) e isso tudo já estará definido no quadragésimo dia pós coito, os receptores de testosterona estão locados em diferentes lugares e tem afinidades distintas e efeitos diferentes em cada sexo.  As características sexuais não dependem apenas da quantidade de testosterona produzida, os tecidos respondem de forma peculiar ao estímulo endócrino, respeitando seu sexo cromossômico. Resumindo: após o sexo cromossômico ser definido, há a definição do sexo gonadal e acontece uma sincronia dos dois, disto resultará o sexo endócrino, seguindo o desenvolvimento normal teremos a formação de um bebê que pertencerá após o nascimento a um sexo social.

E como posso afirmar que é necessária a conformidade cromossomial com a endócrina para que o indivíduo seja saudável?  Como em muitos casos na medicina, compreendemos um processo fisiológico a partir de patologias. Existem falhas raras que o indivíduo a despeito de sua combinação cromossômica apresentará um aparato físico diferente, cito três tipos: “Síndrome da Insensibilidade de Androgênios” onde há produção de androgênios, porém eles não são capazes de produzir seus efeitos levando a uma impossibilidade de resposta dos tecidos que desenvolverão as características secundárias, estas pessoas XY  aparentam ser mulheres, o fenótipo se evidencia em diferentes níveis sendo que algumas vezes tem micropênis e em outras vaginas completas; existe também a “Síndrome do Homem XX” onde o SRY foi translocado para um cromossomo X, produzem testosterona e apresentam muitas de suas características secundárias masculinas, no entanto acontecem alterações de desenvolvimento (ginecomastia, baixa estatura entre outras); há ainda a “Síndrome da Mulher XY”, neste caso o SRY está ausente ou defeituoso,  estas pessoas tem genitais completamente femininos, com formação de útero, vagina e trompas, porém não apresentam ovários, consequentemente não produzem estrogênio e progesterona e suas características secundárias só se desenvolverão com indução hormonal artificial.

Estes casos são exemplos de formação defeituosa pois apresentam defeitos de desenvolvimento e são inférteis.  Isto demonstra que o estímulo hormonal só se torna eficaz quando aplicado em células cromossomicamente compatíveis e nestes casos, tendo em vista que o seguimento normal das definições sexuais foi alterada é admissível que o médico induza as características para locá-los num sexo social mais condizente com seu instrumental anatômico, em boa parte dos casos as gônadas devem ser extirpadas por elevado risco de câncer e em alguns poucos indivíduos (aquelas em que a genitália é ambígua) pode ser necessária a cirurgia de redesignação.

A importância de decidir qual sexo social o indivíduo em condição ambígua pertencerá se tornou muito clara com uma tragédia, o menino Deivid Reimer era saudável e num evento cirúrgico teve seu pênis carbonizado aos 8 meses de idade, consultado pelo sexólogo John Money o mesmo aplicou neste paciente a teoria de “neutralidade do sexo” e foi optado por tratar a criança como menina, os testículos foram retirados aos 22 meses e a puberdade foi induzida com estrogênios, como resultado, depressão severa e suicídio aos 38 anos. Os pesquisadores Reiner &  Gearhart acompanharam 16 crianças que apresentavam sexo cromossômico masculino com uma alteração chamada de extrofia da cloaca com micropênis, na época os médicos decidiram que seriam inadequado manter a identidade masculina e destes, 14 foram redesignados ao sexo oposto, todos eles relataram dificuldades extremas em socializar, depressão e inadequação.

Estas condutas facilmente questionáveis só foram levadas em consideração, pois alguns estudiosos entenderam que a despeito de todos os fatos os cérebros eram neutros, todas as diferenças entre as condutas dos sexos seriam causadas pelo meio no qual a pessoa cresce, para eles o cérebro seria um órgão imune ao seu cariótipo e aos estímulos endócrinos e de diferenciação sexual que passam todos os tecidos no período de formação e desenvolvimento.

Para ilustrar pesquisas acadêmicas que confrontam a ideia de neutralidade, citarei o Dr. Baron-Cohen, estudou o comportamento de recém nascidos da seguinte maneira: escolheu bebês com um dia de vida e mostrou imagens de rostos e objetos mecânicos, cronometrou o tempo que cada criança observava cada foto, os resultados foram claros, os do sexo masculino observavam por mais tempos objetos mecânicos e as meninas os rostos, fez mais ainda, mediu a testosterona produzida no ambiente intra-uterino e acompanhou os recém-nascidos, assim conseguiu  demonstrar que quando mais testosterona aquelas crianças produziram, mais lentas foram no quesito comunicação e tinham menos tempo de contato visual, ou seja, maiores níveis de testosterona foram proporcionais a menor desenvolvimento de linguagem e desenvolvimento social. Outro estudioso, Dr. Diseth, deixa brinquedos masculinos, femininos e neutros a disposição dos infantes e estuda as preferências, relata que entre meninos e meninas saudáveis a identificação é muito precoce e estuda a possibilidade deste teste ajudar aqueles pacientes em condição de intersexualidade.

Todas as publicações médicas de genitália ambígua abordam a cautela em escolher um sexo para criança. A abordagem é mais sensível devido aos grandes fracassos nesta área, logo, se existe este problema e é fato que o problema é complexo, torna-se mandatório concluir que a teoria de que os cérebros são sexualmente neutros é absurda.

Existe ainda os casos raros em que o indivíduo com desenvolvimento aparentemente normal apresenta dificuldade em aceitar sua condição sexual, é uma patologia geralmente resolvida por psicoterapia, mas que em alguns casos exige intervenções farmacológicas e até cirúrgicas de redefinição sexual (usadas em apenas um décimo dos pacientes). Estas realidades levaram a Associação Americana de Pediatria a considerar a “ideologia de gênero” abuso infantil, na prática seria impor uma condição anormal como desenvolvimento adequado.

É importante que fique claro que em momento algum me refiro ao objeto de desejo sexual, isto não tem relevância alguma nesta argumentação, as ações (entre elas a de desejar) são forçosamente precedidas pela definição do agente, logo, tentar definir uma escala de sexualidade humana e ao mesmo tempo anular a existência de seus extremos é impossível.

Provada a diferença entre os sexos na fecundação (são materialmente diferentes), na formação embriológica, no desenvolvimento e no resultado final (anatômico, psicológico e social), provado também o fato que o indivíduo exposto quimicamente a condições diversas do exigido por seu cariótipo desenvolverá dificuldades de desenvolvimento, a literatura médica demonstra também que essa incoerência iniciada quando todo o desenvolvimento já fora completado é ainda mais danosa. Ao submeter um organismo a intervenções terapêuticas com estímulos pertencentes ao sexo oposto, o médico necessariamente induz o aumento da suscetibilidade a neoplasias, distúrbios de coagulação, distúrbios psiquiátricos, deficiências imunológicas, hipertensão, dislipidemia e outros agravos.

Termino afirmando que todas as evidências demonstram claramente que a “ideologia de gênero” não é apenas errada do ponto de vista médico, não é apenas absurda ao ser analisada empiricamente, como não se sustenta como teoria possível, pois exige tipificar sexualmente o indivíduo e ao mesmo tempo, afirma que esta mesma tipificação é inexistente e sabemos que duas afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.

Fonte: https://tercalivre.com.br/ideologia-de-genero-falsa-errada-e-danosa/

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