segunda-feira, 19 de maio de 2008

Abuso de poder


Abuso de poder
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nota: Se procura o filme de 1999 com Dana Delany, consulte Sirens.

Escravo brasileiro, por Debret
Abuso de poder é o acto ou efeito de impôr a vontade de um sobre a de outro, tendo por base o exercício do poder, sem considerar as leis vigentes. A democracia directa é um sistema que se opõe a este tipo de atitude. O abuso de poder pode se dar em diversos níveis de poder, desde o doméstico entre os membros de uma mesma família, até aos níveis mais abrangentes. O poder exercido pode ser o económico, político ou qualquer outra forma a partir da qual um indivíduo ou coletividade têm influência directa sobre outros. O abuso caracteriza-se pelo uso ilegal ou coercivo deste poder para atingir um determinado fim. O expoente máximo do abuso do poder é a submissão de outrem às diversas formas de escravidão.


Poder

Trabalhadores no campo de concentração de Buchenwald, Alemanha, 1945



A noção de poder envolve aspectos mais amplos e complexos do que o mero excercício da autoridade sobre outrem. O poder pode ser exercido desde às formas mais sutis até aos níveis mais explícitos e comumente identificáveis. Assim sendo, caracterizar o abuso de poder deixa de ser uma tarefa de simples identificação da ação do forte sobre o fraco, passando a considerar que o poder, em determinadas situações e circunstâncias, muda de mãos e ganha nuances implícitas, que dificultam a identificação do abuso do mesmo.
Uma pessoa em situação desvantajosa que saiba identificar em que aspectos tem poder, pode usar de artifícios abusivos para sair da posição desvantajosa. Isso pode ser facilmente identificado em países democráticos, nos quais os direitos das minorias são salvaguardados e que indivíduos pertencentes a estas minorias aproveitam-se do argumento do politicamente correcto para neutralizar seus adversários em questões jurídicas, por exemplo. Nestes casos, o direito adquirido legitimamente e ideologicamente correcto, aceite socialmente, passa a ser uma forma de poder nas mãos de quem o detém. Poder este que pode ser exercido da forma genuína ou da forma abusiva, dependendo do caso.

Algumas formas de abuso de poder
Económico: Quando o indivíduo ou coletividade tira vantagem ilícita do dinheiro ou bens materiais em detrimento de outrem.
Político: O uso da autoridade legítima ou da influência para sobrepujar o mais fraco de modo ilegítimo.
No domínio da informação: Recurso utilizado por quem detém o conhecimento ou a informação e os nega aos demais como forma de proteger-se ou de tirar vantagem.
Ideológico: Quando se utiliza ilicitamente da ideologia socialmente aceite como forma de tirar vantagens ou de vencer opositores.
Apadrinhamento (nepotismo): Uso de notoriedade, conhecimentos ou autoridade para favorecer outrem de forma ilícita.

Abuso de autoridade
Constitui-se abuso quando uma autoridade, no uso de suas funções, pratica qualquer atentado contra a liberdade de locomoção, a inviolabilidade do domicílio, o sigilo da correspondência, a liberdade de consciência e de crença, o livre exercício do culto religioso, a liberdade de associação, os direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto, o direito de reunião,a incolumidade física do indivíduo e, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de 05/06/79). O abuso de autoridade levará seu autor à sanção administrativa civil e penal, com base na lei. A sanção pode variar desde advertência até à exoneração das funções, conforme a gravidade do acto praticado. LI + RE

Abuso de poder económico

O abuso do poder econômico é um dos geradores de injustiça social
Constitui abuso do poder econômico toda forma de atividade na eliminação da concorrência, domínio dos mercados ou aumento arbitrário dos lucros.
A Constituição Federal brasileira, ao tratar dos princípios gerais da atividade econômica, em seu parágrafo 4.º do artigo 173 assevera que "a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação do mercado, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros". Esta lei, que foi criada para atendimento da Constituição Federal, é a de nº 8.884 de 11 de julho de 1994, também chamada Lei Antitrust, que tem como finalidade prevenir e reprimir as infrações contra a ordem econômica, tomando como ponto de partida os princípios consagrados no artigo 170 da Constituição Federal, para garantir a livre concorrência, que tem como finalidade última a defesa dos interesses do consumidor. Esta lei, ao contrário do que se pensava, logo de sua instituição não surgiu com a finalidade de impedir o desemprego e não tem como finalidade proteger o emprego.
A lei trata especificamente em seu artigo 20 das infrações contra a ordem econômica; no seu artigo 54 dos atos de concentração (truste), quer horizontal, quer vertical, onde a preocupação legislativa e dos construtores do direito foi com a eficiência, com o aumento da produtividade, com a melhoria da qualidade dos bens ou serviços e com o desenvolvimento tecnológico ou econômico.
O bem protegido por esta Lei é a manutenção de um mercado competitivo para que os preços dos bens e serviços permaneçam próximos ao ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda, pois em mercados dotados de oligopólios ou monopólios, os preços afastam-se desse equilíbrio, ocasionando uma transferência indevida de riqueza do consumidor ao fornecedor.
Para que se mantivesse a garantia de um mercado competitivo, a Lei 8.884/94 concedeu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) funções repressivas e preventivas.
A expressão em comento também é muito ouvida, principalmente, logo após eleições, pois o parágrafo 10 do artigo 14 da Constituição Federal é claro ao expressar que "o mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de 15 (quinze) dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude".
A condenação definitiva de um político por abuso do poder econômico ou político gera a inelegibilidade para qualquer cargo eletivo por três anos, contados do término da legislatura, dentro da qual era exercido o mandato, de acordo com a Lei Complementar nº 64/90.

Assédio moral no trabalho
O assédio moral no ambiente de trabalho é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. Este tipo de assédio é mais comum em relações hierárquicas autoritárias e desiguais, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e anti-éticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a um ou mais subordinados, desestabilizando a vítima em relação ao ambiente de trabalho e à organização.


Coerção

A coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça. Uma forma comumente usada para motivação de pessoas ou equipes é a coerção, já que evitar a dor ou outras conseqüências negativas tem um efeito imediato sobre suas vítimas.
Quando tal coerção é permanente, é considerada escravidão. Embora a coerção seja considerada moralmente repreensível em muitas filosofias, ela é largamente praticada em prisioneiros ou na forma de convocação militar. Críticos do capitalismo moderno acusam que sem redes de proteção social, a "escravidão salarial" é inevitável. Coerções de sucesso são prioritárias sobre outros tipos de motivação.

Assédio sexual

Placa numa plataforma em Tóquio, permitindo apenas mulheres, para evitar assédio sexual no trem.

O assédio sexual é um tipo de coerção de caráter sexual praticada por uma pessoa em posição hierárquica superior em relação a um subordinado, normalmente em local de trabalho ou ambiente acadêmico. O assédio sexual caracteriza-se por alguma ameaça, insinuação de ameaça ou hostilidade contra o subordinado, com fundamento em sexismo.
Exemplos clássicos são as condições impostas para uma promoção que envolvam favores sexuais, ou a ameaça de demissão caso o empregado recuse o flerte do superior.
O assédio sexual também pode ocorrer fora do ambiente de trabalho, em situações em que a vítima pode ser constrangida publicamente com gestos ou palavras, ou ainda impedida de reagir por se encontrar impossibilitada de deixar o local, como no caso dos transportes coletivos lotados. Outra forma de assédio sexual é o ato de seduzir ou induzir a vítima a práticas sexuais não consensuais quando esta encontra-se sob efeito de alguma substância que altere seu auto-controle, como o álcool por exemplo. Quando o assédio chega às vias de fato, nestas circunstâncias, caracteriza-se o abuso sexual ou a violação.

Ver também
Autocracia
Bullying
Coação
Despotismo
Ditadura
Liderança
Violência
Tirania
Totalitarismo

Ligações externas
Leis brasileiras
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Abuso_de_poder"
Categorias: Direito administrativo Direito civil Direito constitucional Direitos humanos Direito penal Direito do trabalho Ética social Filosofia política

Obrigado por sua visita, volte sempre.

Estudo liga uso de celular na gravidez a hiperatividade em criança



Estudo liga uso de celular na gravidez a hiperatividade em criança
da BBC
Mulheres grávidas que usam telefone celular podem ter mais chances de ter filhos com problemas de comportamento como hiperatividade, segundo um estudo realizado em conjunto pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e a Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
O estudo constatou que filhos de mães que usavam o celular pelo menos duas ou três vezes ao dia durante a gravidez estavam mais propensos a ter problemas de comportamento --entre eles hiperatividade e dificuldades para lidar com emoções e relacionamentos-- ao chegar à idade escolar.
A pesquisa constatou ainda que crianças que usam o celular antes dos sete anos de idade correm mais riscos de ter problemas de comportamento.
Mas os próprios autores da pesquisa afirmam que os resultados foram inesperados e devem ser interpretados com cuidado.
Mães de 13.159 crianças haviam sido recrutadas ainda durante a gravidez. Quando seus filhos completaram sete anos, em 2005 e 2006, elas responderam um questionário sobre a saúde e o comportamento das crianças e sobre o uso do celular durante e após a gravidez e pelos filhos.
Os resultados revelaram que as mães que usavam o celular tinham 54% mais chances de ter filhos com problemas comportamentais, e os riscos pareciam aumentar se o uso era mais freqüente. Quando as próprias crianças também usavam o celular antes de completar sete anos, elas tinham, em média, 80% mais risco de ter dificuldades de comportamento.
Precaução
Os autores da pesquisa lembram que esse é o primeiro estudo do tipo e que é necessário pesquisar mais o assunto para estabelecer se a causa dos problemas comportamentais foi, de fato, o uso do celular.
Os pesquisadores afirmam, por exemplo, que os problemas comportamentais podem não ser resultado da radiação emitida pelo aparelho, mas, sim, estarem associados à pouca atenção dada à criança pela mãe que usa o celular com muita freqüência.
Se isso for comprovado, dizem os especialistas, "o assunto será uma questão de preocupação em termos de saúde pública devido ao uso generalizado da tecnologia."
O estudo será publicado em julho na revista especializada "Epidemiology".

E você acredita neste estudo. comente se quiser.

Obrigado por sua visita, volte sempre.

Michael Jackson Man In The Mirror Dangerous tour part 1/2

TheMJVideoPoster

Obrigado por sua visita, volte sempre.

domingo, 18 de maio de 2008

Brincar na concepção de Winnicott e Vygotsky.



Significando o brincar: contribuições para uma
reflexão junto aos portadores de necessidades
especiais
Priscila Augusta Lima
Faculdade de Educação - UFMG,
Doutoranda em Psicologia da Educação - USP
1 Introdução
Este trabalho é resultado de reflexões e práticas desenvolvidas junto à disciplina
"Desenvolvimento e deficiências: as patologias e os processos de intervenção",
cursada no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, no
primeiro semestre de 1998.
O seu objetivo é refletir sobre as possibilidades teórico-práticas de trabalho
com a pessoa portadora de deficiência relacionadas ao brincar. A atualidade do
tema ficou demonstrada pela crescente demanda por informações e qualificação
no campo da educação especial esboçada por profissionais de diferentes áreas
que desconhecem pontos básicos da vida da pessoa portadora de deficiência.
Por outro lado, manifesta-se a necessidade de uma reflexão aberta sobre os
referenciais teóricos que confluem na investigação desse campo. Autores como
Winnicott (1975) e Vygotsky (1991), que teorizam sobre o brincar, têm alguns
de seus conceitos destacados, uma vez que contribuíram inequivocamente para
a fundamentação desta investigação.
A abordagem psicanalítica de Freud é explorada por Winnicott. Seus trabalhos
incluem, além do brinquedo e do brincar, temas considerados complexos
para muitos pesquisadores, como a questão da variável cultural e seu peso nos
processos internos dos indivíduos.
Focaliza-se aqui esse aspecto, uma vez que está vinculado ao referencial
teórico proposto em pesquisa de doutorado da autora em andamento na USP.
A pesquisa trata da construção do mundo simbólico do deficiente visual e de
estratégias utilizadas por esses sujeitos nessa construção. O referencial teórico
vygotiskiano é tomado inicialmente como baliza para a compreensão da inserção
e do desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência na sociedade humana.
Considerando os estudos realizados e a pesquisa em andamento, busca-se, neste
trabalho, a construção de "pontes"e possíveis aproximações entre as teorias
acima, aproximações essas que tentaremos apontar através de fragmentos de
casos da literatura ou de entrevistas realizadas pela autora.
Seria interessante ainda olhar criticamente para a atuação da família e da
escola em relação à pessoa com deficiência. Não para culpabilizá-las. Amiralian
(1997) mostra co-mo formas de violência intersubjetiva surgem quando essas
instituições, por desconhecimento, centram-se no déficit do indivíduo. A escolarização
cada vez mais precoce e as formas de terapia através do brinquedo
1
podem ser enriquecidas pela compreensão de conceitos desse campo e da sua
importância na constituição da subjetividade dos portadores de necessidades
especiais.
2 Significados do brincar
Consultando o Novo dicionário da língua portuguesa (Ferreira, 1986, p. 286),
encontramos diversos significados para o brincar:
1. Divertir-se infantilmente, entreter-se em jogos de crianças.
2. Divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar; "Em qualquer circunstância
está sempre bem humorado, brincando".
3. Agitar-se alegremente, foliar, saltar, pular, dançar.
4. Dizer ou fazer algo por brincadeira, zombar, gracejar.
5. Divertir-se.
6. Tremer, oscilar, agitar-se.
7. Gracejar, zombar, mexer.
8. Entreter-se, distrair-se, ocupar-se.
9. Tomar parte em folguedos carnavalescos.
Os termos "divertir-se", "bem-humorado", "zombar", "gracejar", "mexer"e
especialmente "ocupar-se"interessam-nos particularmente. Por isso, retornaremos
a eles no decorrer desta apresentação. As definições não são essencialmente
positivas ou negativas, mas incluem esses dois aspectos.
Diversos outros dicionários de Psicologia e Psicanálise consultados não
tratam desse vocábulo. Temos então um sentido amplo associado ao senso
comum e dois sentidos específicos produzidos por dois outros autores, dos quais
trataremos a seguir.
3 Um olhar winnicottiano sobre o brincar
Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista britânico (1896-1971), trabalhou
durante 40 anos como pediatra, tornando-se em 1935 membro da Sociedade
Britânica de Psicanálise, a qual presidiu. Em seus trabalhos, preocupase
com o lactente e com o cuidado materno. Teoriza sobre o brincar. Para ele,
a origem do simbolismo pode estar no caminho que passa do subjetivo para o
objetivo, traduzido pelo objeto transicional, o primeiro brinquedo.
Winnicott (1975, p. 61) concede ao ato de brincar uma vastíssima dimensão
no domínio humano. Essa ampliação fica explicitada quando diz:
O que quer que se diga sobre o brincar de crianças aplica-se também aos
adultos; apenas, a descrição torna-se mais difícil quando o material do paciente
aparece principalmente em termos de comunicação verbal. Sugiro que devemos
encontrar o brincar tão em evidência nas análises de adultos quanto o é no caso
2
de nossos trabalhos com crianças. Manifesta-se, por exemplo, na escolha das
palavras, nas inflexões de voz e, na verdade, no senso de humor.
Relacionando a saúde mental, a Psicanálise e a brincadeira, o autor diz:
O natural é o brincar, e o fenômeno altamente aperfeiçoado do século XX
é a Psicanálise. Para o analista, não deixa de ser valioso que se lhe recorde
constantemente não apenas aquilo que é devido a Freud, mas também o que
devemos à coisa natural e universal que se chama brincar. (p. 63)
Para Winnicott, a utilização do objeto transicional é ao mesmo tempo a
utilização do primeiro símbolo e da primeira brincadeira. O brincar é, além de
uma busca de prazer, uma forma de lidar com a angústia. É uma necessidade
para o desenvolvimento de uma personalidade sadia.
Uma discussão posta pelo autor, no capítulo VII, intitulado "A localização
da experiência cultural", bem como a ênfase dada em seus textos sobre a
experiência sociocultural dos indivíduos, conduz a reflexões sobre a sua proximidade
teórica com Vygots-ky (1984 e 1991). Em sua citação frente à Sociedade
Britânica de Psicanálise em outubro de 1966, Winnicott (1975, p. 133) disse:
Freud, em sua topografia da mente, não encontrou lugar para a experiência
das coisas culturais, deu um novo valor à realidade psíquica interna e disso
proveio um novo valor para as coisas que são reais e verdadeiramente externas.
Freud utilizou a palavra sublimação para apontar o caminho a um lugar em que
a experiência cultural é significativa, mas talvez não tenha chegado ao ponto de
nos dizer em que lugar na mente se acha a experiência cultural.
Ainda sobre o emprego do termo "experiência cultural", observa Winnicott
(1975, p. 137) tê-lo considerado como uma ampliação da idéia de fenômenos
transicionais e da brincadeira:
(...) sem estar certo de poder definir a palavra cultura. A ênfase,
na verdade, recai na experiência. Utilizando a palavra "cultura",
estou pensando na tradição herdada. Estou pensando em algo que
pertence ao fundo comum da humanidade, para o qual indivíduos
e grupos podem contribuir, e do qual todos nós podemos fruir, se
tivermos um lugar para guardar o que encontramos.
Essa consideração a respeito da transmissão cultural irá encontrar ressonância
na abordagem de Vygotsky sobre o significado do brinquedo.
33. A ênfase dada à experiência cultural na construção do mundo simbólico e
da subjetividade humana apresenta-nos a possibilidade de ruptura com algumas
dicotomias, incluindo a da existência de sistemas independentes como o psíquico
e o social, o objetivo e o subjetivo.
4 Uma abordagem vygotskiana do brincar
Levy Seminovich Vygotsky (1896-1934), psicólogo soviético, apresentava interesses
em diversos campos do conhecimento. Foi advogado, psicólogo, semiólogo.
Desenvolveu interessantes estudos sobre o papel da cultura na constituição
do sujeito humano.
Na sua concepção, a relação entre o biológico e o cultural constitui-se como
uma interação permanente em que os aspectos que chamaríamos psíquicos ou
subjetivos exercem influência sobre o ambiente, recebendo deste seus elementos
constitutivos.
3
Vygotsky (1991) considera restrita uma definição de brinquedo como algo
que somente dá prazer à criança. O brinquedo preenche necessidades da criança,
necessidades entendidas como aquilo que é motivo para a ação. A criança
satisfaz certas necessidades através do brinquedo e essas necessidades passam
por um processo de maturação. Vygotsky exemplifica essa situação com o início
da fase pré-escolar.
No início da idade pré-escolar, a criança, tendo desejos que não podem ser
imediatamente satisfeitos, permanece, entretanto, com a característica do estágio
precedente, isto é, uma tendência para a satisfação imediata dos desejos.
Para resolver essa tensão, a criança de quatro a seis anos envolve-se num mundo
ilusório e imaginário, em que os desejos não realizáveis podem ser realizados e
esse mundo é o que Vygotsky chama de brinquedo.
Como todas as funções da consciência, a imaginação surge da ação. A imaginação
é o brinquedo em ação. Enfatizar o brinquedo apenas como uma atividade
simbólica e/ou cognitiva é arriscar-se a negligenciar a motivação e as circunstâncias
da atividade da criança. O brinquedo que envolve uma situação imaginária
é um brinquedo com regras. A criança imagina-se como mãe e imagina a boneca
como criança, mostra regras do comportamento materno e do comportamento
de criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva,
ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências
internas e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos. No brinquedo,
os objetos perdem a sua força determinadora. A criança vê um objeto, mas age
de maneira diferente em relação àquilo que ela vê.
A ação numa situação imaginária ensina a criança a dirigir seu comportamento
não só pela percepção imediata dos objetos ou pela situação que a afeta
de imediato, mas também pelo significado dessa situação. Segundo Vygotsky,
observações do dia-a-dia mostraram que é impossível para uma criança muito
pequena separar o campo do significado do campo da percepção visual, uma
vez que há uma fusão muito íntima entre o significado e o que é visto. Quando
se pede a uma criança de dois anos que repita a sentença "Tânia está de pé",
quando Tânia está sentada à sua frente, ela mudará a frase para "Tânia está
sentada". Essa mesma situação é encontrada em algumas doenças (Vygotsky,
1991, p. 111). Quando se diz a uma criança: relógio, ela passa a olhar para
algum local específico. A palavra tem originalmente o significado de uma localização
espacial particular. Na idade pré-escolar, ocorre pela primeira vez uma
divergência entre os campos do significado e da visão.
A essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do
significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento
e situações parado dos objetos e as ações surgem das idéias e não das
coisas. Um pedaço de madeira torna-se uma boneca. Dois lápis tornam-se dois
colegas que dialogam. A ação regida por regras passa a ser determinada pelas
idéias e não pelos objetos. Um cabo de vassoura é um cavalinho e passa-se a
agir com ele conforme as regras sociais foram mostrando ao sujeito.
Nesse sentido, as interações do sujeito com a cultura e o fornecimento de pistas
de seus pares (através da escolarização? da psicoterapia?) são fundamentais
para a construção dessa forma de ação.
4
5 A deficiência visual e o brincar: o caso de um
humorista
Dentre os portadores de deficiência visual participantes de atividades na universidade,
observa-se freqüentemente a manifestação de brincadeiras, verbalizações
humorísticas e irônicas, especialmente se baseadas na relação vidente/cego.
Essas atitudes são consideradas por alguns como formas de defesa do sujeito em
relação à sua deficiência.
Uma dessas pessoas tornou-se humorista com presença constante, desde
1997, em programas de televisão. Seu repertório consiste basicamente de piadas
sobre as relações estabelecidas entre os cegos e os videntes. Eis uma síntese de
algumas delas:
As pessoas videntes precisam aprender a lidar com o cego. Muitos pensam
que ele é também surdo e começam a gritar com ele. O grito entra por uma
orelha e sai pela outra até soltando fogo. Ouuuu!!!
Quando vêem um cego falando, dizem: "Olha ele fala! Ele é até bonitinho!"
Pensam que devia ser o "kit desgraça completo": ser cego, feio, pobre, ter
o pé grande e morar longe...
O cego tem verdadeira atração por buracos.
Entrei no ônibus, o primeiro lugar que eu não vi eu sentei. Um sujeito me
pediu para sair. Disse que tinha chegado primeiro. Ele disse: - Se você não
sair, o ônibus não sai. Perguntei: - Você é o dono da empresa? Ele respondeu:
- Não, sou o motorista e você assentou no meu lugar!
O exemplo acima mostra um brincar com a realidade e a imaginação de
cegos e videntes. A superação das dificuldades está associada à construção de
uma identidade profissional de humorista, de uma forma de interação e inserção
social e também de realização pessoal e de prazer. O brincar tem o significado
comum de distrair-se, ocupar-se, zombar, mexer, conforme a definição anterior.
Brincar com situações adversas vai se constituindo num campo complexo, que
não pode ser caracterizado apenas como "humor negro"ou defesa.
A ironia e o humorismo podem também ser uma forma de lidar com a angústia,
conforme Winnicott. Podem, além disso, propiciar aos sujeitos os efeitos
da sua interação com os outros e a internalização dos resultados positivos dessa
interação.
Por outro lado, se considerarmos o referencial de Vygotsky, seria uma forma
de "faz de conta"em que o indivíduo lida com sua deficiência e constrói significados.
Estes, por sua vez, são elementos dinâmicos, abertos a interações e
modificações.
As dificuldades relacionadas às deficiências são tema de vários trabalhos. De
fato, as pessoas deficientes estão enfrentando dificuldades. Porém, haver dificuldades
não quer dizer haver só dificuldades; lidar com dificuldades não quer
dizer algo essencialmente negativo. As formas de interação com a problemática
podem resultar, como no exemplo acima, em uma profissionalização, em uma
inclusão num campo de trabalho de grande visibilidade social, advindo daí inúmeras
possibilidades.
5
6 Conclusão
Refletir sobre as questões acima sugere um aprofundamento teórico. O significado
da experiência cultural é apontado por Winnicott e enfatizado por Vygotsky.
Quando Winnicott trabalha o pensar e a formação de símbolos, muitas
outras "pontes"poderiam ser avaliadas, especialmente em relação à abordagem
vygotiskiana.
Do ponto de vista do trabalho com pessoas deficientes, podemos pensar em
incluir alternativas lúdicas, não necessariamente ligadas a brinquedos concretos,
mas a situações de "faz de conta "em que o lado do humor pudesse ser
considerado, além do lado da angústia, sempre presente.
Sacks (1995), através de histórias paradoxais, mostra-nos como o humor
aparece mesclado a experiências trágicas do sujeito. Ao relatar diversas deficiências
decorrentes de problemas neurológicos, que incluem também a cegueira,
há em seus textos um tom de espanto, incredulidade e comicidade muitas vezes
traduzido pela própria situação e pelo próprio sujeito. Um relato que torna
bastante explícito esse aspecto aparece no livro O homem que confundiu sua
mulher com um chapéu, cujo título refere-se ao caso verídico de um de seus
pacientes com agnosia visual. (Sacks, 1997)
A existência de certa angústia não quer dizer angústia permanente, em tempo
integral ou só angústia. Uma angústia permanente pode constituir-se numa
forma de relação invasiva1 com o sujeito ou em "fossilização"ou enrijecimento
da realidade. Como diria Vygotsky, fixação de um significado da deficiência que
poderia estar seguindo o seu curso dinâmico.
A natureza múltipla e diversa do brincar, a integração e a desintegração
de elementos diferentes e contraditórios aproxima-se do "Paradigma da Complexidade",
do qual Vygostsky teria uma representação (Gonzalez Rey, 1997) e
Winnicott parece aproximar-se em alguns pontos.
7 Nota
A relação invasiva ou intrusiva é uma das múltiplas falhas descritas
por Winnicott e abrangidas pelo termo "deficiências ambientais".
É considerada por ele como uma falha na função materna,
manifestando-se pela imposição do gesto da mãe ao bebê, do seu
estado caótico ao filho. Não há um reconhecimento das autênticas
necessidades do outro, mas uma imposição das suas necessidades a
ele. (Amiralian, 1997, p. 42)
8 Referências bibliográficas
AMIRALIAN, M. L. T. O Psicólogo e a pessoa com deficiência. In:
BECKER, E. et al. Deficiência: alternativas de Intervenção. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 1997.
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986. 1.838p.
GONZALEZ REY. F. Epistemología cualitativa e subjetividad. Habana:
Editorial Pueblo y Educacíon, 1997. 290p.
6
SACKS, O. Um antropólogo em Marte: sete histórias paradoxais. São Paulo:
Cia. das Letras, 1995. 331p.
SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São Paulo:
Cia. das Letras, 1997. 264p.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1991. 180p
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes,
1991. 168p.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
208p.
WINNICOTT, D. W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
270p.
7


Obrigado por sua visita, volte sempre.

Os Estágios de Desenvolvimento proposto por Erikson são oito fases distintas


Os Estágios de Desenvolvimento proposto por Erikson* são oito fases distintas:

Cada fase é responsável por um "conflito sócio-emocional" do indivíduo, exigindo uma superação dessa crise para que se chegue ao estágio seguinte. Pode-se comparar o desenvolvimento emocional e social da criança à construção de uma casa: a fundação da casa precisa ser firme para que o primeiro andar se sustente, e assim por diante até o último andar. Da mesma forma, cada fase do desenvolvimento da criança é importante para que a próxima fase possa ser superada sem problemas.

0 a 1 ano - CONFIANÇA - aprendendo a confiar ao invés de desconfiar
Durante os primeiros dois anos de vida, a criança desenvolve a confiança básica, a segurança e o otimismo. Como ela depende dos pais para tudo (alimentação, afeto, proteção), ela precisa confiar inteiramente neles. Para isso, é preciso que os pais a tratem com muito amor, atenção, apoio e paciência. Caso contrário, crescerá insegura e desconfiada.

1 a 2 anos - AUTONOMIA - a aprendendo a ser independente ao invés de sentir vergonha

O segundo conflito psicológico, segundo Erikson, ocorre durante a primeira infância, dos 18 meses aos 4 anos de idade. Nessa fase, a criança dá um grande salto no desenvolvimento: aprende a andar, a falar, a ir ao banheiro, torna-se independente e ganha auto-confiança.

A criança que tiver uma boa orientação dos pais sairá dessa fase segura de si mesma, feliz com suas novas conquistas e orgulhosa, ao invés de tímida. É importante incentivar a autonomia das crianças nessa fase, mas isso não pode ser sinônimo de indisciplina. É comum que as crianças de 2 ou 3 anos façam cenas no meio da rua, se recusem a dar a mão para atravessar a rua, e digam "não" com muita facilidade. Cabe aos pais explicar carinhosamente o que a criança pode ou não pode fazer sem impedir que se desenvolva. A super-proteção também atrapalha o desenvolvimento e torna a criança dependente dos pais.

3 a 6 anos - INICIATIVA - aprendendo a ter iniciativa ao invés de sentir culpa
A terceira crise psicossocial ocorre entre os 4 e os 7 anos de idade. Nessa fase, a criança saudável aprende: (1) a imaginar, a brincar no mundo do faz-de-conta e da fantasia; (2) a cooperar com os outros; e (3) a dar e a receber ordens. Aprendem a equilibrar diversão e responsabilidade. A criança que é reprimida pelos pais nessa fase, sente-se culpada, cresce com medo, fica deslocada dentro do grupo, não tem iniciativa (depende muito dos adultos) e não desenvolve satisfatoriamente a imaginação e a criatividade. É importante que as crianças sejam encorajadas pelos pais a desenvolver sua criatividade, aprendendo a controlar seus impulsos sem se tornarem indisciplinadas.

6 a 12 anos - PRODUTIVIDADE - aprendendo a construir ao invés de se sentir inferior
A quarta fase surge no início da vida escolar (escola primária). Nessa fase a criança adquire noções básicas para a vida em sociedade, como: (1) relacionar-se com em grupo de acordo com regrais sociais; (2) brincar em grupo de forma organizada, seguindo regras; (3) ir à escola, aprender aritmética, leitura e estudos sociais. O dever de casa é uma tarefa que incentiva a auto-disciplina, que aumenta a cada ano do desenvolvimento. A criança que aprendeu, nos anos anteriores, a confiar, a ser independente e a ter iniciativa, será uma criança competente na escola e sem complexo de inferioridade perante os colegas.

12 a 18 anos - IDENTIDADE - descobrindo quem é para não se perder

Dos 12 aos 18 anos, o adolescente aprende a responder à pergunta "Quem sou eu?". Porém até mesmo os adolescentes mais saudáveis psicologicamente vivem um momento de difusão da identidade: a granda maioria deles envolve-se em menor ou maior grau com delinqüência, confusão e revolta. Segundo Erikson, durante a adolescência sadia o indivíduo amadurece sua perspectiva de tempo. Este é o momento psicológico mais importante da vida do indivíduo: o jovem descobre o seu caminho e, a partir de suas dúvidas, define sua identidade. Caso os conflitos anteriores não tenham sido bem resolvidos, o adolescente terá dificuldades para enfrentar este grande momento de definição. Se tiver sucesso, assumirá papéis construtivos dentro da sociedade, ao invés de seguir o caminho da delinqüência, como acontece com o adolescente mal preparado psicologicamente. O adolescente saudável é capaz de planejar seu futuro, antever suas realizações e a lutar por elas, ao invés de ficar paralizado devido a sentimentos de inferioridade. Caso contrário, não conseguirá definir sua vocação profissional, sua orientação sexual e seu papel na sociedade.

19 aos 30 anos - INTIMIDADE - descobrindo o outro para não se isolar

O adulto jovem e saudável já está preparado psicologicamente para ter intimidade afetiva e sexual com outra pessoa. Independente de seu sucesso profissional, o indivíduo só estará plenamente desenvolvido quando for capaz de ter intimidade com alguém. Aquele que não tiver alcançado a noção de intimidade terá problema para manter relacionamentos, terá medo de se envolver afetivamente e a depender de outra pessoa.

30 a 50 anos - CRIAÇÃO - aprendendo a gerar para evitar a estagnação

Na vida adulta, o indivíduo precisa produzir, criar, seja através da maternidade ou paternidade, seja trabalhando produtiva e criativamente. Segundo Erikson, as pessoas que são capazes de olharem para fora de si, para a família, terão a sensação de estarem contribuindo para as futuras gerações. Os indivíduos que não constituem família poderão sentir-se estagnados na meia idade. Caso o indivíduo supere as sete etapas anteriores do desenvolvimento psicossocial, é capaz de fazer julgamentos com maturidade e integridade. Sabe confiar, é independente e não tem medo de desafios. Trabalha pesado, enconrou seu caminho na vida e tem uma imagem de si mesmo que o satisfaz. Consegue manter uma vida íntima sem culpa, controle, arrependimento ou falta de realismo. Tem orgulho do que produz: seu trabalho, seus filhos, seus hobbies. Se uma ou mais etapas do desenvolvimento psicossocial não for bem resolvida, o indivíduo pode ter uma imagem ruim de si mesmo, viver insatisfeito, arrependido e desesperado.

a partir dos 50 - SABEDORIA - integridade do ego ao invés de desesperança

Com a velhice chega o momento de reflexão sobre a vida e seu papel no mundo. É a hora do balanço de suas conquistas e seus fracassos. Se a pessoa está satisfeita com a vida que teve e sente que existe uma união entre ela e as pessoas que a rodeiam, aceitará a morte com integridade. Citando Os Estágios de Desenvolvimento proposto por Erikson são oito fases distintas: Cada fase é responsável por um "conflito sócio-emocional" do indivíduo, exigindo uma superação dessa crise para que se chegue ao estágio seguinte. Pode-se comparar o desenvolvimento emocional e social da criança à construção de uma casa: a fundação da casa precisa ser firme para que o primeiro andar se sustente, e assim por diante até o último andar. Da mesma forma, cada fase do desenvolvimento da criança é importante para que a próxima fase possa ser superada sem problemas.


*Erik Homburger Erikson (Frankfurt, 15 de junho de 1902Harwich, 12 de maio de 1994) foi um psiquiatra responsável pelo desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicosocial na Psicologia e um dos teóricos da Psicologia do desenvolvimento.
Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt-sobre-o-Meno, Alemanha, em 15 de Junho de 1902. Começou a sua vida como artista plástico. Em 1927, depois de estudar arte e viajar pela Europa, passou a leccionar em Viena a convite de Anna Freud, filha de Sigmund Freud. Sob orientação dela, submeteu-se à psicanálise e tornou-se ele próprio psicanalista, embora tenha tecido criticas à psicanálise por esta não ter em conta as interacções entre o individuo e o meio, assim como por privilegias os aspectos patológicos e defensivos da personalidade. No início da carreira, o interesse de Erikson esteve voltado para o tratamento de crianças e as suas concepções de desenvolvimento e de identidade influenciaram as pesquisas posteriores, nomeadamente sobre a adolescência. A si se deve a expressão "crise da adolescência".
Em 1933 emigrou para os Estados Unidos e naturalizou-se americano. Leccionou nas universidades de Harvard, Berkeley e Yale. Na década de 1930, tendo mesmo habitado na reserva dos índios Sioux, as suas experiências pessoais em antropologia, muito referidas nas suas obras, deram-lhe uma perspectiva social marcante. As investigações com os índios confrontaram-no com o sentimento de desenraizamento e de ruptura que estes experienciavam entre a história do seu povo e a cultura americana. Em 1936 transferiu-se para um centro de estudos de relações humanas e começou a estudar a influência de factores culturais no desenvolvimento psicológico.
Com base nessas pesquisas formulou a teoria segundo a qual as sociedades criam mecanismos institucionais que propiciam e enquadram o desenvolvimento da personalidade, embora as soluções específicas para problemas similares variem de cultura para cultura. Na década de 1940, Erikson concebeu o modelo que expôs em ´Infância e sociedade´ (1950). Erikson publicou livros sobre Martinho Lutero, Gandhi e Hitler e escreveu ensaios em que relaciona a psicanálise com a história, política, filosofia e teologia, tais como ´A história da vida e o momento histórico´ (1975).
Entre os anos de 1946 e 1953, Erik Erikson integrou temporariamente o grupo reunido sob o nome de Macy Conferences, contribuindo para a consolidação da teoria cibernética junto com outros cientistas renomados: Arturo Rosenblueth, Gregory Bateson, Heinz von Foerster, John von Neumann, Julian Bigelow, Kurt Lewin, Lawrence Kubie, Lawrence K. Frank, Leonard J. Savage, Margaret Mead, Molly Harrower, Norbert Wiener, Paul Lazarsfeld, Ralph W. Gerard, Walter Pitts, Warren McCulloch e William Ross Ashby; além de Claude Shannon e Max Delbrück.
Criador da expressão ´crise de identidade´, Erik Erikson morreu em 12 de maio de 1994, em Harwich, estado de Massachusetts. As suas concepções revolucionaram a psicologia do desenvolvimento, continuando, nos dias de hoje, a motivar investigações e reflexões várias.


Obrigado pela visita.

Freud e o Desenvolvimento: A teoria psicanalítica é como uma formulação desenvolvimentista da personalidade


Freud e o Desenvolvimento

A teoria psicanalítica é como uma formulação desenvolvimentista da personalidade

O desenvolvimento humano e a constituição do aparelho psíquico são explicados pela evolução da psicossexualidade.
A sexualidade está integrada no nosso desenvolvimento desde o nascimento, evoluindo através de estádios, com predomínio de uma zona erógena, que, quando estimulada, dá prazer.
Um dos conceitos mais importantes da teoria psicanalítica é a existência da sexualidade infantil.
Esta psicossexualidade envolve todo o corpo, é pré-genital e não centrada no aparelho genital, e nos primeiros anos é auto-erotica.

Organização das instancias do aparelho psíquico.

Id.

· É o primeiro elemento. Nasce com a criança. O seu conteúdo é constituído por toda a herança biológica do indivíduo, enquanto fonte da motivação e do prazer.
· É a fonte de toda a energia psíquica. É inconsciente e visa a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer tendo assim a função de descarregar as tensões biológicas.
· A vida em sociedade seria impossível: é amoral.
· A busca narcísica e egocêntrica do prazer levaria a constantes frustrações e conflitos no mundo real.

Ego

· Orienta as pulsões de acordo com as exigências da realidade.
· Controla as exigências instintivas do Id, decidindo onde, quando e como são feitas. Tem o papel de árbitro na luta entre as pulsões inatas e o meio. É a parte racional da alma.
· É pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Se se submete ao Id, torna-se amoral e destrutivo; se se submete ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa

insatisfação insuportável; se não se submeter à realidade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, tem a dupla função de, recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do Superego.

Superego

· Autoridade do grupo social. Consciência moral que se liga a culpabilidade e a autocrítica.
· Representa um conjunto de valores nucleares como: honestidade, sentido de dever, obrigações, sentido de responsabilidade e outros.
· Também inconsciente faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos.
· Repreende. Manifesta-se à consciência de forma indirecta.
· Produção da imagem “Eu ideal”, isto é, da pessoa hipermoral, boa e virtuosa.

Estádios Psicossexuais

Estádio Oral (0 – 12/18 meses)

O ser humano nasce com id, ou seja, um conjunto de pulsões inatas.
O ego forma-se no primeiro ano de vida, de uma parte do id, que começa a ter características próprias.
Neste período são particularmente importantes as percepções visuais e auditivas.

A zona erógena do bebé, nos primeiros meses é constituída pelos lábios e cavidade bucal.
A alimentação é uma grande fonte de satisfação.
O chupar o seio materno é para os freudianos a primeira actividade sexual.
Nesta altura a relação entre o bebe e a mãe, vai ter reflexos na vida futura.

Estádio Anal (12/18 meses – 2/3 anos)

A maturação e o desenvolvimento psicomotor vão permitir à criança reter ou expulsar as fezes e a urina.
Neste estádio a zona erógena é o ânus.
Este período etário corresponde a uma fase em que a criança é mais autónoma, procurando afirmar-se e realizar as suas vontades.

Estádio Fálico (3 – 5/6 anos)

Neste estádio a zona erógena é a região genital. O órgão sexual é a fonte de prazer, sendo comum a sua manipulação.
A criança estão interessadas nas diferenças anatómicas entre os sexos, às interacções homem e mulher, tem brincadeiras que exploram essa interação (aos pais e as mães). Tem comportamentos exibicionistas e gostam de espreitar.




Estádio de Latência (5/6 anos – puberdade)

Após a vivência dos complexos e com um superego já formado a criança entra numa fase da latência, ou seja, vai esquecer alguns acontecimentos e sensações, através de um processo que se chama amnésia infantil.
O estádio de latência caracteriza-se por uma diminuição da actividade sexual.
A criança pode nesta fase, de uma forma mais calma e disponibilizada, desenvolver competências a nível escolar, social, cultural… Via aprender a ser mulher ou homem na sociedade.

Estádio Genital (depois da puberdade)

A adolescência vai reactivar uma sexualidade que esteve como que adormecida durante o período de latência.
A puberdade traz novas pulsões sexuais genitais e o mundo relacional do adolescente é alargado a pessoas exteriores à família.
O adolescente vai reactivar o seu complexo de Édipo e poderá assim, fazer escolhas sexuais fora do mundo familiar, bem como adaptar-se a um conjunto de exigências socioculturais.

Conflitos inerentes aos diferentes estádios psicossexuais do desenvolvimento

Cada estádio é marcado pelo confronto entre as pulsões sexuais (libido) e as forças que se lhe opõem (ódio, raiva, desespero, ausência de desejo).

Estádio oral

Neste período a criança é muito passiva e dependente; e por outro em que a criança é mais activa e na época do desmame pode mesmo morder o seio da mãe.
O desmame corresponde a uma frustração que vai situar a criança em relação à realidade do mundo.

A mãe é então muito investida enquanto pessoa que pela sua presença dá prazer e pela sua ausência frustra. A partir deste acontecimento dá-se um primeiro passo no processo de separação.

Estádio anal

A estimulação do ânus neste estádio dá prazer à criança, todavia, as contracções musculares podem provocar dor.
A ambivalência está também presente na forma como a criança hesita entre ceder ou opor-se ás regras de higiene que a mãe exige.

Estádio Fálico

Complexo de Édipo

É vulgar ouvir os meninos dizer que a sua namorada é a mãe e quando forem crescidos querem casar com ela.
Segundo Freud, os desejos libidinosos do filho para com a mãe, são totalmente inconscientes, embora eles influenciem o seu comportamento, não é ciente deles.
À medida que o seu desejo se sente mais forte, a criança entra inconscientemente em competição com o pai. É a conjugação destes dois sentimentos (amor/rivalidade) que fazem com que surja no rapaz o desejo de imitar o pai, de ser como ele, para conquistar a mãe.
Isto origina outro complexo – o complexo da castração – em que o rapaz teme que o pai se vingue, mutilando-o, particularmente amputando-lhe os órgãos genitais. O que aqui nos parece negativo e de certo modo chocante é, pelo contrário, positivo e basilar para a estruturação da personalidade.

Complexo de Electra

O desenvolvimento da personalidade da rapariga segue as mesmas directrizes. A rapariga sente-se atraída pelo pai. Uma importante diferença é que a rapariga esteve desde sempre muito ligada à mãe e, nesta idade, vai investir e seduzir o pai.
É mais difícil rivalizar com a mãe porque receia perder o seu amor. As meninas sentem aquilo a que Freud chamou inveja do pénis, ou pura e simplesmente dão-se conta de que o não têm, culpam a mãe por as terem posto no mundo incompletas. Porém, a resolução deste complexo não chega a um desfecho abrupto e quando o desfecho é feliz, a rapariga identifica-se com a mãe e torna socialmente aceitáveis os seus sentimentos pelo pai.

Estádio de Latência

A vergonha, o pudor, o nojo, a repugnância são sentimentos que contribuem para reter e controlar a libido. A existência do superego vai manifestar-se em preocupações morais.
O ego tem mecanismos inconscientes, que permitem estruturar uma nova organização face as pulsões do id.

Estádio Genital

Alguns adolescente, face as dificuldades deste período, regridem, recorrendo a mecanismos como o ascetismo ou a intelectualização.

Ascetismo: o adolescente nega prazer, procura ter controlo das pulsões através de uma rigorosa disciplina e de isolamento.

Intelectualização: o jovem procura esconder os aspectos emocionais do processo adolescente, interessa-se por actividades como pensamento, colocando ai toda a sua energia.

Obrigado por sua visita, volte sempre.

A ABORDAGEM HOLÍSTICA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA




A ABORDAGEM HOLÍSTICA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA
DOENÇA DE HUNTINGTON
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Centro Universitário São
Camilo como requisito para obtenção do
título de Bacharel em Enfermagem
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina de Sá
São Paulo
Novembro - 2006
2
Thatiana Otaviano
A ABORDAGEM HOLÍSTICA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA
DOENÇA DE HUNTINGTON
São Paulo, 11 de novembro de 2006.
Prof. Orientador: Ana Cristina de Sá
Prof. Examinador
3
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a toda minha família, pela confiança depositada em mim,
pelo amor, apoio e paciência.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, fonte de luz e sabedoria, pela força e
coragem concedidas a mim, estando comigo em toda a trajetória, por todos os
momentos de alegrias e boas surpresas, pelo crescimento pessoal que estes quatro
anos me proporcionaram.
Às minhas tias Maria Helena, Jussara e Benedita, sem as quais a realização
desse trabalho não seria possível.
A todos os amigos que caminharam junto a mim neste período tão importante.
À minha orientadora pela paciência, eficiência e tranqüilidade que ela
transmitiu durante todo o processo de confecção desse trabalho.
E, finalmente, a todos os meus professores, fundamentais para minha
formação.
5
“A arte de cuidar, promove os valores da vida que transcendem a toda e qualquer
limitação humana (Adalberto P. Barreto)”.
6
RESUMO
O trabalho visa estabelecer um plano de assistência para o indivíduo portador
de Doença de Huntington e orientações a seus cuidadores, em especial a família.
Traz ainda ao conhecimento dos profissionais da saúde essa doença degenerativa
pouco comum, a partir de amplo levantamento bibliográfico em bases diversas
incluindo LILACS, MEDLINE e SCIELO em fontes diversas como artigos, tratados e
livros num espaço de tempo ampliado até 15 anos de publicação, visto que
publicações sobre a patologia são raras. Conclui-se, a partir do referencial teórico
levantado, que o grande desafio da enfermagem é prestar cuidados que ofereçam
uma melhor qualidade de vida para este doente, fazendo as intervenções
necessárias mediante os problemas levantados e, principalmente, aplicando a essas
intervenções a visão holística e a humanização, trabalhando lado a lado com a
família, o que se faz essencial.
Palavras-chave: enfermagem, doença de huntington, doenças degenerativas.
7
ABSTRACT
The work aims to set up an assistance schedule for a Huntington Desease
porter and guidelines to their caretakers, especially to their family. It still brings to the
knowledge of Health professionals that uncommon degenerative desease, from a
broad bibliographic survey on several bases including LILACS, MEDLINE and
SCIELO from several sources as articles, treaties and books on an amplified time
space up to 15 years of publication, once publications about that pathology are rare. It
is concluded, from the surveyed theoretical reference, that the big nursing challenge
is giving assistance which offer a better quality of life to this patient, doing the
necessary interventions throughout the surveyed problems and, mainly, applying to
those interventions a holistic vision and humanization, working together with the
family, what is essencial.
Key Words: nursing, huntington desease, degenarative deseases.
8
SUMÁRIO
1. Introdução.............................................................................................09
1.1Histórico e epidemiologia da Doença de Huntington...................10
2. Objetivo.................................................................................................11
3. Material e método.................................................................................12
3.1 Tipo de pesquisa.........................................................................12
3.2 Método........................................................................................12
4. Revisão bibliográfica...........................................................................14
4.1 Anatomia.....................................................................................14
4.1.1 Sistema Motor...............................................................15
4.1.2 Núcleos da Base...........................................................15
4.2 Fisiopatologia.............................................................................17
4.3 Sinais e sintomas.......................................................................19
4.4 Diagnóstico.................................................................................21
4.5 Tratamento.................................................................................22
4.6 Assistência de Enfermagem......................................................23
4.6.1 Abordagem Holística na Assistência............................23
4.6.2 Assistência ao Paciente...............................................24
4.6.3 Assistência à Família...................................................26
5. Doença de Huntington – uma experiência pessoal.........................29
6. Conclusão...........................................................................................32
7. Referências bibliográficas / Documentos on-line ..........................33
9
1. Introdução
O adoecer é um processo que requer atenção especial não só para o
indivíduo doente, mas também para as pessoas envolvidas no seu cuidado. Há
percepções, avaliações e respostas diferentes às doenças.
São comuns alguns comportamentos quando o indivíduo se reconhece como
doente: ele pode agir, usando um autotratamento ou procurando ajuda especializada;
pode não agir com o objetivo de esperar para ver o que acontece e pode negar a
existência da doença o que pode ser extremamente perigoso, pois é ignorada a
gravidade ou existência dos sintomas (HUDAK e GALLO, 1997).
Além desses comportamentos há um outro ponto importante a ser observado:
quando se está doente se aceita ou impõe-se um papel dependente onde existe a
obrigatoriedade em seguir um plano de tratamento prescrito.
Nessas condições, se faz necessária a assistência de outras pessoas para
que as necessidades humanas básicas sejam atendidas, para que haja apoio
emocional e para que se tomem decisões e se façam as tarefas, no lar ou no
trabalho, para o doente.
Diante de certas patologias, principalmente as degenerativas, torna-se
indispensável um acompanhamento terapêutico sério para trabalhar a adaptação às
mudanças que acontecerão na rotina do doente e de sua família. Dentro dessas
patologias, a Coréia de Huntington, que é uma afecção crônica e incapacitante,
requer cuidados especiais.
A raridade da patologia em questão e a pouca quantidade de referencial
teórico chamaram à atenção, principalmente com relação a assistência de
enfermagem.
10
A Doença de Huntington é altamente incapacitante e as mudanças na vida do
paciente e sua família não são poucas e tampouco suaves, o que pede
acompanhamento específico.
Nós enfermeiros devemos estar preparados para atender essa demanda
específica entendendo o que acontece em nível genético e neurológico e o porquê.
1.1 Histórico da DH e aspectos epidemiológicos
George Huntington, em 1872 descreveu as características da doença, mas
apenas em 1983 descobriu-se que sua causa é um gene defeituoso numa região do
cromossomo 4. Dez anos depois, foi descoberto que essa região é o braço curto
deste cromossomo.
A Doença de Huntington também é chamada de Coréia de Huntington por
causar movimentos involuntários que lembram uma dança típica deste país.
É uma afecção hereditária e as chances de um filho herdar o gene defeituoso
do pai ou mãe afetado são de 50%. Ainda não existem dados estatísticos da doença
no Brasil, mas em cada 100.000 pessoas cerca de 5 a 10 são acometidas, não
existindo fatores predisponentes para sua ocorrência.
Seus sintomas aparecem geralmente entre 30 e 50 anos de idade. Na forma
juvenil isso acontece antes dos 20 anos.
11
2. Objetivo
O presente trabalho objetiva, a partir de pesquisa descritiva de caráter
etnográfico e amplo levantamento bibliográfico retrospectivo, não apenas traçar um
plano de cuidados para o paciente e seus cuidadores, mas trazer esse conhecimento
aos profissionais da saúde para o estudo aprofundado de doenças degenerativas
pouco comuns.
12
3. Material e Método
A concretização deste trabalho deu-se através da observação e descrição,
visando conhecer melhor os costumes específicos da família com doente de
Huntington, com relação a assistência de enfermagem. Para a realização do seguinte
trabalho também foi feito um levantamento bibliográfico de artigos, tratados e livros
com 10 a 15 anos de publicação, devido a escassez de material cujo tema seja
“Doença de Huntington”.
3.1 Tipo de Pesquisa
A pesquisa é descritiva e de caráter etnográfico, procurando explicar o
assunto através da observação e descrição de um grupo específico, a família
(MARCONI e LAKATOS, 2004). Foi realizado também um levantamento bibliográfico
esclarecendo o tema a partir de referências teóricas publicadas em documentos.
Busca conhecer e analisar as contribuições científicas passadas existentes sobre o
determinado tema (CERVO e BERVIAN, 2002)
3.2 Método
O amplo levantamento bibliográfico foi realizado em base de dados LILACS,
SCIELO E MEDLINE, por lógica boleana, com os seguintes resultados:
- 2 Artigos nacionais;
- 4 Artigos internacionais;
- 10 Livros, nos últimos 15 anos.
A margem de anos é alta justificada por ser uma patologia rara e com pobre
literatura desenvolvida a respeito.
13
Para levantamento de fontes diversas, foram pesquisados os acervos das
seguintes bibliotecas: Biblioteca Padre Inocente Radrizzani, Biblioteca da Escola de
Enfermagem da USP.
Complementando os dados, foram realizadas pesquisa on-line em sites
oficiais da Associação Brasileira de Huntington (ABH) e União dos Parentes e
Amigos dos Doentes de Huntington (UPADH).
14
4. Revisão Bibliográfica
Para proceder ao cuidado com doentes de Huntington, é necessário o
conhecimento sobre as principais estruturas que ela afeta. É uma doença que atinge
os núcleos da base, região cerebral responsável pelo controle dos movimentos.
4.1 Anatomia
Em nível celular, o Sistema Nervoso se divide em 2 componentes: a glia e os
neurônios. A glia não participa diretamente da sinapse, mas providencia suporte
estrutural e metabólico para os neurônios durante as fases de desenvolvimento e
maturação cerebral (MARTIM, 1998).
O neurônio é uma célula capaz de armazenar e processar informações. Ele
participa ativamente da sinapse, apresenta diferentes formas e tamanhos e é
composto por dendritos, corpo celular, axônio e terminações axônicas.
De acordo com Martim (1998), outra divisão que acontece no Sistema
Nervoso é quanto a sua região e funcionamento, podendo ser central ou periférico.
- Sistema Nervoso Periférico: possui 2 porções uma autônoma, que controla
as glândulas e a musculatura lisa das víceras e vasos sanguíneos, e outra somática
que é responsável pela inervação sensitiva dos tecidos corpóreos e inervação
motora da musculatura esquelética.
- Sistema Nervoso Central: comanda todos os outros sistemas do corpo e é
dividido em 7 partes: medula espinhal; bulbo; ponte; cerebelo; mesencéfalo;
diencéfalo, que contém o tálamo e o hipotálamo, e os hemisférios cerebrais que
contém os núcleos da base (estrutura chave da Doença de Huntington), a amígdala,
a formação hipocampal e o córtex cerebral.
15
4.1.1 Sistema Motor
O Sistema Motor dirige os movimentos dos membros e tronco regulando o
músculo esquelético. Fazem parte deste sistema, 4 componentes.
O primeiro componente, as vias de projeção descendente, tem origem nas
regiões do córtex e tronco cerebral caminhando em direção à periferia. Os neurônios
de projeção fazem sinapse diretamente tanto com neurônios motores, como em
interneurônios, que por sua vez fazem sinapse com neurônios motores.
Martim (1998), afirma ainda que tais neurônios motores e interneurônios são o
segundo componente do sistema motor e são encontrados, em sua maioria, na zona
intermediária da medula espinhal.
O terceiro e quarto componente do sistema motor, os núcleos da base e
cerebelo, não contém neurônios interligados com os neurônios motores, mas
possuem grande influência reguladora sobre o comportamento motor através de
seus efeitos nas vias descendentes.
4.1.2 Núcleos da Base
Bear (2002), afirma que os núcleos ou gânglios da base - CAUDATO,
PUTAMEN, GLOBO PÁLIDO e NÚCLEO SUBTALÂMICO - estão contidos no
córtex cerebral e envolvidos em conjunto, no controle do movimento. Parece que
os gânglios da base participam também de um grande número de circuitos
paralelos, sendo apenas alguns poucos de função motora. Outros circuitos estão
envolvidos em certos aspectos da memória e da função cognitiva.
Ainda segundo Bear (2002), algumas das funções mais específicas dos
gânglios basais relacionadas aos movimentos são:
16
- Núcleo caudato: controla movimentos intencionais grosseiros do corpo
(isso ocorre a nível sub-consciente e consciente) e auxilia no controle global dos
movimentos do corpo.
- Putâmen: funciona em conjunto com o núcleo caudato no controle de
movimentos intencionais grosseiros. Ambos os núcleos funcionam em
associação com o córtex motor, para controlar diversos padrões de movimento.
- Globo pálido: provavelmente controla a posição das principais partes do
corpo, quando uma pessoa inicia um movimento complexo, isto é, se uma
pessoa deseja executar uma função precisa com uma de suas mãos, deve
primeiro colocar seu corpo numa posição apropriada e, então, contrair a
musculatura do braço. Acredita-se que essas funções sejam iniciadas,
principalmente, pelo globo pálido.
- Núcleo subtalâmico e áreas associadas: controlam possivelmente os
movimentos da marcha e talvez outros tipos de motilidade grosseira do corpo.
Evidências indicam que a via motora direta funciona para facilitar a
iniciação de movimentos voluntários por meio dos gânglios da base. Essa via
origina-se com uma conexão excitatória do córtex para as células do putâmen.
Estas células estabelecem sinapses inibitórias em neurônios do globo pálido,
que, por sua vez, faz conexões inibitórias com células do tálamo. A conexão do
tálamo com a área motora do córtex é excitatória. Ela facilita o disparo de células
relacionadas a movimentos na área motora do córtex. Portanto, a conseqüência
funcional da ativação cortical do putâmen é a excitação da área motora do córtex
pelo núcleo ventrolateral do tálamo (BEAR, 2002).
17
4.2 Fisiopatologia
Leite (2001), descreve a Doença de Huntington (DH) como um distúrbio
provocado por mutação caracterizada por aumento do número de repetições de
trinucleotídeo CAG, que codifica o aminoácido glutamina. Repetições de
trinucleotídeos freqüentemente são encontradas em genes que codificam fatores de
transcrição (proteínas que regulam a expressão de outros genes) e em genes que
regulam o desenvolvimento.
Na DH o gene afetado, localizado no cromossomo 4, codifica a proteína
huntingtina, de função ainda desconhecida, mas possivelmente envolvida no
desenvolvimento embrionário normal, na hematopoiese e na neurogênese . A
huntingtina normalmente apresenta até 35 resíduos de glutamina na extremidade Nterminal,
enquanto a mutante apresenta 38 ou mais resíduos e forma agregados cuja
translocação para o núcleo parece ser um evento crítico que induz a morte neuronal
por apoptose (morte celular programada) (LEITE, 2001).
As mutações por expansão de segmentos de trinucleotídeos são denominadas
dinâmicas ou instáveis, pois tendem a aumentar de uma geração para outra. Como
existe uma relação inversa entre o tamanho da expansão do segmento de
poliglutamina e a idade de início das manifestações, em tais doenças pode ocorrer o
fenômeno de “antecipação”, onde os descendentes desenvolvem manifestações em
idade mais precoce que seu genitor afetado.
Leite (2001), afirma que na DH a correlação clínica entre estes parâmetros é
significativa apenas para mutações com mais de 60 ou 70 repetições CAG, mas
como a maior parte dos pacientes apresenta entre 40 e 49 repetições, raramente o
fenômeno de antecipação é observado. Ao contrário de outras doenças provocadas
por expansão de CAG, na DH a instabilidade da mutação ocorre quando o pai é o
genitor afetado.
18
A doença de Huntington se manifesta através de uma degeneração
generalizada dos neurônios do núcleo caudado e putâmen, responsáveis pela
regulação dos movimentos intencionais grosseiros do corpo (GUYTON e HALL,
2002).
A neurodegeneração da DH é seletiva, provocando atrofia inicialmente mais
marcante no corpo estriado (núcleo caudado e putâmen), o que determina dilatação
dos ventrículos laterais. A atrofia cerebral é proporcional à duração e gravidade dos
sintomas e envolve ativação da apoptose. As hipóteses que tentam explicar a morte
neuronal na DH envolvem diminuição do metabolismo energético, alterações da
função mitocondrial, estresse oxidativo e neurotoxicidade mediada por aminoácidos
excitatórios, como o glutamato, ou por metabólitos endógenos do triptofano. É
possível que diversos mecanismos se complementem na promoção da lesão celular
(LEITE, 2001).
De acordo com Guyton e Hall (2002), essa degeneração envolve
principalmente os neurônios secretores do ácido gama – butílico, responsável pela
inibição dos neurorreceptores da substância negra permitindo, em contra partida, a
hiperatividade dos neurônios secretores de dopamina acarretando a inibição intensa
do núcleo caudado e putâmen e conseqüente descontrole dos movimentos corporais,
decadência mental progressiva e alterações comportamentais.
19
4.3 Sinais e Sintomas
A degeneração neuronal causa a coréia que é a ocorrência de movimentos
involuntários, manifestados por contrações musculares espontâneas, irregulares e
transitórias. Associados à coréia, outros sintomas principais são o envelhecimento
precoce e emagrecimento intenso.
Brunner e Suddarth (2005) afirmam que a fala é afetada ficando arrastada no
começo da manifestação da DH, depois hesitante, às vezes explosiva e finalmente
ininteligível. A mastigação e deglutição se apresentam cada vez mais danificadas,
tornando constante o risco de aspiração e asfixia. Um dos sintomas característicos
dessa patologia é o bruxismo. Por conta disso, em muitos casos, faz se necessário a
indicação cirúrgica para a extração total dos dentes, para que não haja danos
maiores para orofaringe.
O equilíbrio é afetado deixando o paciente mais suscetível a quedas e
conseqüentes lesões de pele e / ou fraturas interferindo também no ato de sentar. A
marcha, vacilante no início, fica prejudicada a ponto de impossibilitar a deambulação,
deixando o paciente confinado ao leito.
As mudanças no campo cognitivo também são de grande relevância, pois o
doente tem suas habilidades de memória, de organização e intelectuais reduzidas,
levando à demência em estágios mais avançados. Depressão, apatia, ansiedade e
irritabilidade são freqüentes. (BRUNNER e SUDDARTH, 2005)
As alterações nos campos mental e emocional são, na maioria das vezes,
mais avassaladoras para o paciente e sua família que a presença de movimentos
anormais.
20
No aspecto comportamental variações entre explosões agressivas, isolamento
social, impulsividade e mudanças de humor são comuns no estágio inicial da doença.
Os distúrbios de personalidade também estão presentes, acompanhados de
alucinações e pensamentos paranóides. O risco de suicídio deve ser considerado,
pois é de 4 a 6 vezes maior nas famílias afetadas pela doença.
21
4.4 Diagnóstico
Só se pode chegar a um diagnóstico clínico de DH através de um exame
completo, que geralmente vincula um exame neurológico e psicológico e uma história
familiar detalhada. A RM (ressonância magnética) ou TC (tomografia
computadorizada) podem ser incluídas, mas os achados destes procedimentos não
são suficientes para formar um diagnóstico, e sim para excluir outros problemas que
causam sintomas semelhantes (WEATHERALL, 1993).
De forma similar, o teste genético pode ser usado para auxiliar a confirmar ou
excluir o diagnóstico de DH. Entretanto, o resultado positivo do teste (indicando a
presença do gene da DH) não é suficiente apenas por si próprio (por exemplo, sem
um exame neurológico) para confirmar o diagnóstico clínico da DH manifesta.
É melhor fazer uma consulta com um médico (geralmente um neurologista)
que esteja familiarizado com DH, uma vez que os sintomas podem imitar aqueles de
outras desordens, como outras formas de coréias, ataxias, doença de Parkinson ou
alcoolismo (WEATHERALL, 1993).
O diagnóstico de DH pode explicar porque a memória não é mais tão boa
como costumava ser, ou porque a pessoa está se sentindo irritada ou deprimida.
Contudo, para muitos a notícia é muito perturbadora. É comum as pessoas
manifestarem o "estado de negação" após receberem o diagnóstico de DH e
procurarem outras opiniões.
22
4.5 Tratamento
Sabe-se atualmente que não existem meios de reverter o processo básico da
Doença de Huntington, posto que vários métodos têm mostrado ação paliativa
satisfatória.
São usados as fenotiazinas, as butirofenonas e os tioxantenos para bloquear
os receptores da dopamina, melhorando os movimentos coreiformes em muitos
pacientes.
O tratamento é puramente sintomático e seu objetivo é melhorar a qualidade
de vida do doente uma vez que tal distúrbio não tem cura.
Antidepressivos são úteis nos estados depressivos, e benzodiazepínicos, em
alterações comportamentais. Fisioterapia, fonoaudiologia e musicoterapia também
auxiliam na manutenção da qualidade de vida dos doentes.
São comuns alguns efeitos colaterais dos benzodiazepínicos, como
constipação, xerostomia, hipotensão, bradicardia, tontura, convulsões e edema
periférico.
23
4.6 Assistência de Enfermagem
4.6.1 Abordagem holística na assistência
O paciente crônico neurológico precisa de cuidados específicos não apenas
para os achados de enfermagem fisiopatológicos, mas também para questões
psicossociais, ambientais e familiares que se tornam intimamente ligadas à doença
física (HUDAK e GALLO, 1997).
A adaptação do paciente gera alguns comportamentos:
- Afastamento: o paciente foge da situação,
- Oposição: as defesas do organismo tentam destruir o fator de estresse às
custas de outros sistemas,
- Adaptação: busca-se estabelecer uma resposta compatível ao estresse e
ainda preservar um estado de equilíbrio.
O objetivo da enfermagem é a adaptação e, de alguma forma, todos esses
mecanismos que contribuem para isso. Os enfermeiros estimulam essa adaptação
através das respostas do funcionamento fisiológico e emocional, reduzindo o
estresse e poupando energia (HUDAK e GALLO, 1997).
Uma conduta holística para cuidados de enfermagem em pacientes crônicos
neurológicos deve incluir a família.
Hudak e Gallo (1997), consideram membro da família qualquer pessoa que
tenha papel significativo no estilo de vida do doente. Quando o paciente se encontra
numa situação de doença crônica e morte iminente, suas funções e
responsabilidades são acrescentadas agora às responsabilidades de outras pessoas,
24
alterando seus horários e atividades, causando desconforto e contrariedade diante
do seu não – cumprimento.
Além dessas responsabilidades, seu papel social dentro da família está
deficiente e na maioria das vezes acontece uma mudança nesses papéis,
favorecendo uma situação de crise.
Cabe a nós, enfermeiros, ajudar essa família a alcançar o maior nível de
adaptação por aprendizado com a experiência da crise, recuperando um estado de
equilíbrio, conhecendo os sentimentos envolvidos na crise para evitar depressões
tardias, permitindo crescimento emocional (HUDAK e GALLO, 1997).
4.6.2 Assistência ao paciente
O grande desafio da Enfermagem é prestar cuidados que ofereçam uma
melhor qualidade de vida para o doente de Huntington. Para que o objetivo seja
alcançado é necessário que liste os achados de enfermagem, fazendo assim as
intervenções necessárias.
Devido à movimentação constante e perda contínua do equilíbrio, o
doente tem uma tendência maior a quedas e conseqüentemente de escoriações
cutâneas. Para diminuir o risco para quedas é necessário deixar o ambiente livre de
quaisquer obstáculos – tapetes, mesas, cadeiras - evitando que o doente tropece.
Para aqueles em estágio avançado, onde a deambulação já foi bastante
afetada e o doente precisa ser mantida uma alternância entre leito e cadeira de
acordo com a disposição do paciente dificultando a predisposição para pneumonia e
outras afecções respiratórias, é importante também atentar para o risco de se
formarem úlceras de pressão (BRUNNER E SUDARTH, 2005).
25
Deve-se fazer uso de lençóis e roupas de cama macios, acolchoar laterais e
cabeceira do leito, manter a pele limpa e livre de umidade, se possível fazer banho
de aspersão, usar sempre emolientes, hidratantes e loções de limpeza. É indicada
também a restrição tóraco - peitoral, quando o doente faz uso de cadeira. É
interessante lembrar que não existem cadeiras específicas para doentes de
Huntington, devemos então usar da criatividade para proporcionar o máximo de
conforto a eles.
Quando pensamos em alimentação, devemos atentar para a movimentação
constante, déficit de mastigação e deglutição que podem resultar em aspiração e
asfixia. No estágio inicial da DH há um comprometimento pequeno da coordenação
motora, devendo-se, então, assistir parcialmente à dieta e estimular o paciente a se
alimentar sem pressa. Com o declínio do sistema motor será necessário assistir a
dieta de forma integral, observando a possibilidade de se instalar uma sonda para
alimentação diante de um quadro terminal. É importante lembrar que a dieta deve ser
cada vez mais nutritiva, calórica e pastosa para suprir o contínuo emagrecimento,
que é um sinal significativo do avanço da doença e não deixar que o paciente entre
num quadro de desnutrição. É importante também que a dieta tenha componentes
laxativos para combater aos efeitos colaterais dos benzodiazepínicos.
A dieta deve ser fracionada deve haver a manutenção constante do aporte
nutricional, pois alguns medicamentos têm como efeito colateral a eliminação gradual
de sódio e outros sais causando hipotensão. Não devemos esquecer jamais dos
cuidados com a higiene oral desse paciente.
De acordo com Brunner e Suddarth (2005), o declínio das funções
cognitivas e comportamentais deve ser trabalhado através de apoio psicológico.
Tal apoio consiste não apenas em contar com ajuda profissional especializada,
mesmo porquê é difícil encontrar esse profissional, mas em respeitar o paciente
como um indivíduo com direitos iguais aos de todos, mas com necessidades
especiais.
26
O diagnóstico não é de fácil, pois há uma linha muito tênue entre o declínio
cognitivo, a atrofia cerebral e a falta de comunicação.
Há alternativas como o contato visual, o toque, a leitura, conversar com o
paciente mesmo que ele não seja capaz de responder. É importante o auxílio de
terapias alternativas, que resgatem a identidade do doente, como a musicoterapia,
por exemplo. O paciente, apesar do declínio cognitivo e de não ser capaz de fazer
contato às vezes, está consciente e com as capacidades visual e auditiva
preservadas, sendo importante mostrar para ele que, mesmo doente, inapto a tomar
decisões e isento de responsabilidades, ele é parte de uma família que o apóia, o
respeita e que o ama.
4.6.3 Assistência à família
“Cuidar é mais que um ato; é uma atitude que abrange mais que um momento
de atenção, zelo e desvelo. Representa uma atitude de ocupação, responsabilidade
e envolvimento afetivo com o outro (BOFF, 2001)”.
A família é uma das peças chave para o cuidado de doentes com Huntington,
mas, para que se encaixe neste complexo quebra-cabeças, essa peça precisa ser
trabalhada, ou mais que isso: cuidada.
O diagnóstico definitivo de uma doença degenerativa leva a uma situação de
crise trazendo mudanças para todas as pessoas diretamente ligadas ao doente e
isso provoca sofrimento (BRASIL, 2004).
Mas mesmo em face dessa crise, a vida segue seu curso e a família tem que
se reorganizar diante dessa nova perspectiva de vida. Tal situação possivelmente
27
acarretará brigas, discussões e desentendimentos devido a alterações no papel de
cada um dentro do núcleo familiar.
Quando se cuida de alguém, inúmeros sentimentos difíceis de lidar são
cultivados – raiva, medo, culpa, tristeza, irritação e outros – e isso é absolutamente
normal (BRASIL, 2004).
Em contra partida, existem também sentimentos como esperança, fé, amor,
carinho e solidariedade servindo de estímulo para que o cuidado seja levado a
diante.
Um detalhe importante é que esses sentimentos se misturam com uma
facilidade incrível, sendo que a mesma pessoa que amamos pode despertar raiva
fazendo birra para comer, por exemplo.
Apesar de ser normal a dualidade de sentimentos, muitas vezes ela pode
atrapalhar o cuidar e é necessário buscar ajuda tão logo esse fato seja percebido.
Além disso, devemos nessas horas, e, na verdade sempre, fazer uso da paciência,
instrumento indispensável para que não desistamos dos nossos objetivos maiores
que são o bem estar do doente e, principalmente, a boa convivência com ele
(BRASIL, 2004).
Outro ponto importante é o tempo livre do cuidador. Esse tempo é necessário
para que não haja sobrecarga de funções sobre uma única pessoa e conseqüente
estresse.
Uma alternativa interessante são os grupos de cuidadores para promover a
troca de experiências sobre o cuidar, funcionando como uma rede de apoio, uma vez
que todos os participantes discutem os problemas – e algumas soluções – comuns a
todos, relacionados a pessoas com doenças crônicas degenerativas de cuidados
permanentes. Tal troca de experiências produz grande alívio, pois os participantes
28
percebem que não estão sozinhos, que muita gente passa pelas mesmas situações
(BRASIL, 2004).
Um outro contexto que devemos levar em consideração é a situação de morte
iminente desse doente. Esse acontecimento pode representar um alívio para quem
cuida, no entanto a culpa também aparece e, apesar de normal, é difícil aceitar e
lidar com tais sentimentos.
A raiva pode aparecer quando nos damos conta de que não podemos mudar o
curso das coisas ou prolongar a vida. Deve-se lembrar que foi feito tudo o que se
poderia fazer e da melhor maneira possível para que essa última fase da vida do
doente fosse o mais confortável possível e para que ele se sentisse amado e querido
pela família.
Devemos também reconhecer nossos limites diante da situação e compartilhar
o que sentimos com outras pessoas, não esconder ou guardar, pois isso é natural e
necessário diante da perda. As formas de extravasar angústias, procurar alívio, são
muito particulares e precisam ser respeitadas. Esses momentos podem proporcionar
uma profunda reflexão sobre sua vida e ajudar a reorganizá-la (BRASIL, 2004).
29
5. Doença de Huntington – uma experiência pessoal
Há cerca de 15 anos minha tia fez uso de um medicamento para redução de
peso cujo nome e origem ainda são desconhecidas.
Depois do uso do fármaco, começou a apresentar um quadro de agitação
intensa, ansiedade, redução da capacidade cognitiva e distúrbios de comportamento.
Tinha desequilíbrios freqüentes, sofrendo quedas da própria altura e
conseqüentes cortes e escoriações na pele. Seu andar lembrava o de um etilista e,
muitas vezes, perguntavam se ela havia bebido.
Meses depois já não era possível que ela saísse desacompanhada de casa e
houve mudanças nos movimentos corporais: as mãos adotaram um posicionamento
cerrado, como se estivesse segurando alguma coisa; havia também movimentos
desordenados e involuntários de membros superiores e inferiores.
Paralelo a isso, distúrbios de comportamento foram se agravando, as brigas
eram freqüentes e houve tentativa de suicídio.
Apesar de várias idas e vindas a psicólogos e psiquiatras, o quadro se
agravava cada vez mais e a possibilidade de uma internação permanente foi
cogitada.
Após muito tempo nessa situação conflitante e, quase esgotadas as
possibilidades de diagnóstico, entramos em contato com um neurologista que
diagnosticou a Coréia de Huntington.
Quando soubemos do diagnóstico não sabíamos o quanto isso mudaria as
vidas de todos na nossa família. Mas o choque mesmo veio quando soubemos que o
30
medicamento desconhecido para redução de peso acelerou o processo da doença,
processo este que normalmente se desenvolveria pelo menos nos próximos 10 anos.
A aceitação dessa nova perspectiva de vida e a adaptação a ela não foram
fáceis. Durante anos a rotina da família sofreu drásticas alterações.
Minha tia tinha alucinações e acordava aos gritos assim permanecendo
durante a madrugada toda inteira. Tal episódio que era esporádico passou a ser
freqüente e depois de um certo tempo, diário.
Às vezes quando os gritos não aconteciam, as crises de bruxismo também
tiravam o sono de todos até que um dia, por indicação médica, foi feita a retirada
cirúrgica dos dentes que restavam, pois a maioria deles pereceu em conseqüência
das freqüentes quedas em função do desequilíbrio.
A dieta, que antes geral, passou a ser cada vez mais hipercalórica para
prevenir um quadro de desnutrição severa, e pastosa, pois a mastigação e a
deglutição já estavam prejudicadas.
A autonomia, aos poucos, foi perdida.
Os banhos, antes assistidos minimamente, passaram a ser assistidos
integralmente, assim como a dieta, as trocas de roupa e as idas ao banheiro, que
foram substituídas por fraldas.
Hoje, aos 48 anos, ela é totalmente dependente de nós familiares para tudo; o
déficit no autocuidado é total. Ela está extremamente magra em relação ao que era,
não fala, não anda, não tem mais os dentes, mas está consciente, lúcida.
31
A partir do momento em que entendemos os caminhos que essa doença ia
trilhar, quantas marcas ela ia deixar e principalmente nossa responsabilidade sobre
tudo isso, uma mudança na nossa postura precisou ser adotada.
As brigas foram substituídas pela compreensão, resgate da auto-estima, amor;
nós procuramos trabalhar a reinclusão de minha tia na família.
As alterações na vida familiar me fizeram ver o quanto a união e o amor são
importantes e complementares ao ato de cuidar, além das intervenções específicas
da doença.
32
6. Conclusão
A partir do referencial teórico levantado e observação da dinâmica familiar
conclui-se que o grande desafio da enfermagem é prestar cuidados que ofereçam
uma melhor qualidade de vida para este doente, fazendo as intervenções
necessárias mediante os problemas levantados e, principalmente, aplicando a essas
intervenções a visão holística e a humanização, trabalhando lado a lado com a
família, o que se faz essencial.
O referencial teórico sobre o assunto é limitado, principalmente no que se
refere à assistência de enfermagem, interferindo parcialmente no resultado final
dessa pesquisa.
Conviver com o doente de Huntington é uma experiência muito curiosa e
enriquecedora, que colabora de forma muito positiva para o desenvolvimento do
raciocínio clínico. A observação do desenvolvimento da patologia facilita a listagem
dos problemas e conseqüente elaboração do plano de cuidados.
Recomenda-se maior exploração do tema, a partir de elaboração de mais
pesquisas e trabalhos, para que o enfermeiro, caso venha a cuidar do portador da
Doença de Huntington, possa elaborar uma assistência mais específica e que traga
dignidade a este ser humano e família que sofrem com a insidiosa e incapacitante
evolução da doença.
33
Referências Bibliográficas
AIRD,T., Journal of Neuroscience Nursing. Funcional Anatomy of the Basal
Ganglia. Oct. 2000 32 (5):250-261
BEAR, M.F., et al., Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2.ed.
Artmed: Porto Alegre, 2002.
BOFF,L. Saber Cuidar. 1.ed. Vozes: São Paulo, 2001
BOUNDY, J., et al., Enfermagem Médico – Cirúrgica, vol. 2, 3.ed., Reichmann e
Affonso: Rio de Janeiro, 2004.
BRUNNER, S.C.S., SUDDARTH, B.G.B., Tratado de Enfermagem Médico-
Cirúrgica. Vol.4. 10.ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2005.
CERVO, A. L., BERVIAN, P. A., Metodologia Científica, 5.ed. Pearson Prentice
Hall: São Paulo, 2002
GUYTON, A.C., HALL, J.E., Tratado de Fisiologia Médica, 10.ed. Guanabara
Koogan: Rio de Janeiro, 2002.
HUDAK, C., GALLO, B., Cuidados em terapia intensiva: uma abordagem
holística. 6.ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 1997.
JACOPINI, G., Journal of Neuroscience Nursing. The experience of disease:
Psychosocial aspects of movement disorders. Oct. 2000 32 (5):263-265
34
KANDEL, E., et al., Princípios da Neurociência, 1.ed. Manole: Baurueri – São
Paulo, 2003.
LEITE, J.F., Revista de Neurologia. Doença de Huntington: uma visão biomolecular.
Abr. 2001;32 (8): 762-767. Barcelona, Espanha.
LIMA E SILVA, T.C., et al, Diagnóstico Molecular da Doença de Huntigton em
Pacientes Brasileiros. Arquivos Neuropsiquiátricos. Mar, 2000, vol. 58, nº 1, p. 11-
17.
MARCONI, M. A., LAKATOS, E.M., Metodologia Científica. 4.ed. São Paulo: Atlas
2004.
MARTIN, J., Neuroanatomia: Atlas e Texto, 2.ed. Artes Médicas: Porto Alegre,
2003.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Cuidando do cuidador, BRASIL, 2004.
SILVA, M.T.G.F., et al. Pediatria São Paulo. Aspectos clínicos e neuroradiológicos
da Doença de Huntington. Abr-jun, 1998. ilus. 20 (2):137-141.
SULLIVAN, F.R. et al. Journal of Neuroscience Nursing. Remotivation therapy and
Huntington disease. Jun. 2001 33 (3):136-142.
35
Documentos Online
UPADH - União dos Parentes e Amigos dos Doentes de Huntington
www.upadh.org.br
ABH –Associação Brasil Huntington
www.abh.org.br
http://www.abh.org.br/TCC.pdf

Obrigado por sua visita, volte sempre.

Como tirar parafuso quebrado - Dica Jogo Rápido

Obrigado pela visita, volte sempre. Se você observar que a postagem, vídeo ou Slideshare está com erro entre em contato.