terça-feira, 23 de julho de 2024

Śrīmad-Bhāgavatam (Bhāgavata Purāṇa) » Canto 1: Criação » CAPÍTULO DOIS

Śrimad Bhāgavatam 1.2.8

धर्म: स्वनुष्ठित: पुंसां विष्वक्सेनकथासु य: ।
नोत्पादयेद्यदि रतिं श्रम एर ८ ॥
dharmaḥ svanuṣṭhitaḥ puṁsāṁ
viṣvaksena-kathāsu yaḥ
notpādayed yadi ratiṁ
śrama eva hi kevalam

Sinônimos

dharmaḥ — ocupação; svanuṣṭhitaḥ — executado em termos da própria posição; puṁsām — da humanidade; viṣvaksena — a Personalidade de Deus (porção plenária); kathāsu — na mensagem de; yaḥ — o que é; na —não; utpādayet — produz; yadi —se; ratim — atração; śramaḥ — trabalho inútil; eva — apenas; oi — certamente; kevalam — inteiramente.

Tradução

As atividades ocupacionais que um homem desempenha de acordo com sua própria posição serão apenas trabalhos inúteis se não provocarem atração pela mensagem da Personalidade de Deus.

Significado

Existem diferentes atividades ocupacionais em função das diferentes concepções de vida do homem. Para o materialista grosseiro que não consegue ver nada além do corpo material grosseiro, não há nada além dos sentidos. Portanto, suas atividades ocupacionais limitam-se ao egoísmo concentrado e extenso. O egoísmo concentrado gira em torno do corpo pessoal – isto é geralmente visto entre os animais inferiores. O egoísmo prolongado manifesta-se na sociedade humana e centra-se na família, na sociedade, na comunidade, na nação e no mundo, com vista ao conforto corporal grosseiro. Acima destes materialistas grosseiros estão os especuladores mentais que pairam nas esferas mentais, e os seus deveres ocupacionais envolvem fazer poesia e filosofia ou propagar algum ismo com o mesmo objectivo de egoísmo limitado ao corpo e à mente. Mas acima do corpo e da mente está a alma espiritual adormecida, cuja ausência do corpo torna toda a gama de egoísmo corporal e mental completamente nula e sem efeito. Mas as pessoas menos inteligentes não têm informações sobre as necessidades da alma espiritual.

Como as pessoas tolas não têm informações sobre a alma e como ela está além do alcance do corpo e da mente, elas não ficam satisfeitas no desempenho dos seus deveres ocupacionais. A questão da satisfação de si mesmo é levantada aqui. O eu está além do corpo grosseiro e da mente sutil. Ele é o potente princípio ativo do corpo e da mente. Sem conhecer a necessidade da alma adormecida, não se pode ser feliz simplesmente com o emolumento do corpo e da mente. O corpo e a mente são apenas revestimentos externos supérfluos da alma espiritual. As necessidades da alma espiritual devem ser satisfeitas. Simplesmente limpando a gaiola do pássaro, não se satisfaz o pássaro. É preciso realmente conhecer as necessidades do próprio pássaro.

A necessidade da alma espiritual é que ela queira sair da esfera limitada da escravidão material e satisfazer seu desejo de liberdade completa. Ele quer sair das paredes cobertas do universo maior. Ele quer ver a luz livre e o espírito. Essa liberdade completa é alcançada quando ele encontra o espírito completo, a Personalidade de Deus. Existe uma afeição adormecida por Deus dentro de todos; a existência espiritual se manifesta através do corpo e da mente grosseiros na forma de afeição pervertida pela matéria grosseira e sutil. Portanto, temos que nos envolver em compromissos ocupacionais que evoquem a nossa consciência divina. Isto só é possível ouvindo e cantando as atividades divinas do Senhor Supremo, e qualquer atividade ocupacional que não ajude alguém a alcançar o apego por ouvir e cantar a mensagem transcendental do Supremo é considerada aqui simplesmente uma perda de tempo. Isto ocorre porque outros deveres ocupacionais (seja qual for o ismo a que pertençam) não podem dar libertação à alma. Mesmo as actividades dos salvacionistas são consideradas inúteis devido ao seu fracasso em captar a fonte de todas as liberdades. O materialista grosseiro pode praticamente ver que o seu ganho material é limitado apenas ao tempo e ao espaço, seja neste mundo ou no outro. Mesmo que ele vá até Svargaloka, ele não encontrará nenhuma morada permanente para sua alma ansiosa. A alma ansiosa deve ser satisfeita pelo processo científico perfeito do serviço devocional perfeito.



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Direita russo-islâmica: milionário muçulmano é maior doador de Nigel Farage

Cresce a influência do islã e da Rússia na direita europeia e norte-americana

Tempo de Leitura: 2 mins de leitura

O milionário muçulmano Zia Yusuf, que no ano passado arrecadou cerca de £ 32 milhões (R$ 229 milhões) após vender aplicativo de luxo Velocit Black fundado por ele, fez uma doação de centenas de milhares de libras para o partido Reform UK, do famoso ex-eurodeputado conservador Nigel Farage. Yusuf considera Farage como a única pessoa capaz de consertar o Reino Unido. Esta foi a maior doação feita ao partido até o momento e uma das “vantagens” dessa doação, segundo analistas, é a de que irá irritar a militância woke, que tinha buscando acusar Farage de islamofobia após algumas declarações polêmicas que ele fez.

Há algum tempo atrás, recordei aqui que Farage se tornou o porta-voz da luta contra a “cultura do cancelamento”, depois de ter virado alvo da polícia belga no episódio do evento NatCon (Nationalist Conservative), que reunia conservadores do mundo inteiro, além de uma influente parcela de propagandistas russos, o que não parece ter sido problema.

Ao mesmo tempo, a direita alemã começa a ver os imigrantes muçulmanos com melhores olhos do que os norte-americanos ou “atlantistas”. Pelo menos os islâmicos são “tradicionais”. O principal partido de direita alemão, o AfD (Alternativa para a Alemanha), vem se aproximando publicamente da Rússia, enquanto também flerta com o islã, com seus membros se convertendo à religião de Maomé. Uma diferença abissal com declarações anteriores, como uma de 2016, quando o AfD declarou que o islamismo era incompatível com a Constituição alemã. O que mudou em tão pouco tempo?

A Rússia sempre utilizou a população muçulmana, que se deixou utilizar-se por interesses em comum. Atualmente, uma das maneiras pelas quais a Rússia tem demonstrado necessidade de cooperação com o Islã, é através das raízes das terras do seu antigo e atual território. A principal plataforma politico-religiosa do momento para o Kremlin é o multiculturalismo religioso perenialista, capaz de unir as diferentes religiões existentes no extinto império que Putin quer restaurar. Para isso é preciso uma certa dose de relativismo político e explica o uso de agentes muçulmanos trabalhando para o Kremlin na Europa. Em uma eventual invasão russa a nações europeias, o incrível contingente de imigrantes muçulmanos injetados na Europa pode ser decisivo.

Eleição nos EUA

Os que pensam que a eventual eleição de Trump poderia mudar isso, podem estar bem enganados. O vice de Trump, J D Vance, já se mostrou abertamente pró-Rússia, o que não significa que conheça aprofundadamente todos os planos e projetos do Kremlin, é claro. Mas, da mesma forma, Trump já anunciou que negociaria com Putin, de quem é próximo, para o fim imediato da guerra. Não é preciso pensar muito para concluir que a única maneira de dar fim a esta guerra com apenas uma conversa será uma conciliação que dará à Rússia parte do território ucraniano. Alguns podem achar que isso está bom “pela paz”. Mas apenas alimentara o monstro insaciável da Rússia, que avançará com ainda mais ódio contra o Ocidente, pois sua guerra não é um “negócio”, como Trump pensa, que pode ser resolvida numa conversa. Trump, como empresário, pensará que teve êxito, pois o êxito no mundo empresarial se resume ao acordo. Já Putin, que acredita ser o condutor de toda a história do império russo, saberá que o acordo com Trump será apenas um passo atrás para pegar impulso.

Direita brasileira

Pior que a direita europeia, que se alinha aos seus próprios inimigos achando que os vencerá com a ajuda deles mesmos, só mesmo a direita brasileira, que ainda aposta no bolsonarismo, lutando para fazer memes contra o governo ou para ajudar na imagem pública de Bolsonaro e seus filhos, caçando gafes de Lula nas redes, rindo da esquerda. Mas esta é apenas a parte irrelevante da direita. A parte relevante, que está realmente trabalhando, é alinhada a Rússia da cabeça aos pés, entrincheirada em redações de jornais conservadores e canais do youtube, falando de história, civilizações etc, ou análises politicas do dia que, quando menos se espera, traz um convidado com as mãos sujas com o sangue das vítimas de Stalin e Hitler para servir a mesa dos seus seguidores incautos. Estes se deliciam com a refeição sem nem suspeitar do que estão comendo.


Cristian DerosaAutor

Jornalista e escritor, autor do livro O Sol Negro da Rússia: as raízes ocultistas do eurasianismo, além de outros 5 títulos sobre jornalismo e opinião pública. Editor e fundador do site do Instituto Estudos Nacionais

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segunda-feira, 22 de julho de 2024

Psicopedagogia Regulamentação no Brasil como anda . 22/07/2024 segunda-feira.






Comissão rejeita redução de carga horária de especialização em psicopedagogia

Da Agência Senado | 09/08/2021, 17h07

Fonte: Agência Senado

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado rejeitou, nesta segunda-feira (9), emenda ao projeto que regulamenta o exercício da atividade de psicopedagogia. A Emenda 5 ao PLC 31/2010 previa a redução (de 600 para 450 horas) da duração mínima dos cursos de especialização em psicopedagogia requeridos para que os portadores de diploma de psicologia, pedagogia ou fonoaudiologia possam exercer a atividade.

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) deu parecer contrário à emenda. Segundo ele, a Associação Brasileira de Psicopedagogia recomenda cursos de especialização presenciais ou semipresenciais, com carga horária mínima de 600 horas, tal como originalmente previsto no projeto. Essa carga horária deve contemplar, segundo a associação, 75% de aulas teóricas (450 horas) e 25% de atuação supervisionada (150 horas). "Nesse sentido, a redução de carga horária sugerida pela emenda pode significar certo aligeiramento do ideal de formação profissional", afirma Izalci.

A emenda segue agora para exame da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. O PLC 31/2010 já havia sido aprovado pelas duas comissões em caráter terminativo, mas recebeu recurso e terá que ser votado em Plenário.

Regras

O PLC 31/2010, originário da Câmara dos Deputados, estabelece que a profissão poderá ser exercida não apenas por graduados em psicopedagogia, mas também por portadores de diploma superior em psicologia, pedagogia ou fonoaudiologia que tenham concluído curso de especialização em psicopedagogia.

O projeto também autoriza o exercício aos portadores de diploma de curso superior que já venham exercendo, ou tenham exercido, comprovadamente, atividades profissionais de psicopedagogia em entidade pública ou privada até a data de publicação da lei. De acordo com a Associação Brasileira de Psicopedagogia, existem cerca de 100 mil psicopedagogos formados no Brasil, que atuam em escolas e diferentes instituições. 

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/08/09/comissao-rejeita-reducao-de-carga-horaria-de-especializacao-em-psicopedagogia


CBO - CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES

O QUE É A CBO 2002?
A Classificação Brasileira de Ocupações – CBO é o documento normalizador do reconhecimento (1), da nomeação e da codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. É ao mesmo tempo uma classificação enumerativa e uma classificação descritiva.

Classificação enumerativa: codifica empregos e outras situações de trabalho para fins estatísticos de registros administrativos, censos populacionais e outras pesquisas domiciliares. Inclui códigos e títulos ocupacionais e a descrição sumária. Ela também é conhecida pelos nomes de nomenclatura ocupacional e estrutura ocupacional.

A CBO de Psicopedagogo foi instituída pela Portaria Ministerial 391/2002 com a finalidade de identificar nossa ocupação no mercado de trabalho.

Código
Família / Ocupação
2394-25 Psicopedagogo

Perante a CBO pertencemos ao quadro de técnicos da educação;

Descrição sumária
Implementam a execução, avaliam e coordenam a (re)construção do projeto pedagógico de escolas de educação infantil, de ensino médio ou ensino profissionalizante com a equipe escolar. No desenvolvimento das atividades, viabilizam o trabalho pedagógico coletivo e facilitam o processo comunicativo da comunidade escolar e de associações à ela vinculadas.

CBO é classificação de ocupação, não é identificação profissional para atuação.

https://www.abpp.com.br/cbo-classificacao-brasileira-de-ocupacoes/

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Metafísica Vol III Sumário E Comentários Giovanni Reale




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Metafísica De Aristóteles Vol. II

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Metafísica I - Ensaio Introdutório Texto Grego



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O Senhor da Morte Yamaraja é morto pelo Senhor Siva. meios de escatar do inferno Naraka em kali Yuga. Podcast.



 


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domingo, 21 de julho de 2024

Karna junto ao Senhor Yama, o Deus Morte


Karna é derrotado quando tentava consertar a roda de sua carruagem.



Uma estória interessante nos fala da importância da quinzena dedicada aos ancestrais, o Pitr Paksha. Se diz que Karna, considerado o maior de todos os guerreiros, e que foi apreciado até mesmo pelo Senhor Krishna, só pode ser derrotado por Arjuna após a intervenção de vários Deuses, inclusive do Senhor Indra. Sua derrota só foi possível pela autorização de sua própria Mãe, a rainha Kunti, que o gerou pela Divina intervenção de Surya, O Deus Sol.
 
Pindas - oferendas dedicadas aos ancestrais.

Karna era admirado por sua grande coragem e generosidade. Mesmo tendo se envolvido em algumas atividades contrárias ao Dharma, seus méritos espirituais (Punya) eram muito grandes. Quando de seu desencarne, Karna recebeu nos paraísos celestiais 100 vezes mais oferendas do que aquelas que tinha oferecido em vida. Porém, quando em vida, sua mentalidade era a de um guerreiro e suas oferendas eram em ouro e prata, e somente isto é o que ele poderia desfrutar nos paraísos celestiais. Não havia comida ! Nenhuma comida foi dada em caridade durante suas grandes austeridades.
 
Karna roga ao Senhor Yama pela oportunidade de aperfeiçoar suas austeridades.
Ele então rogou ao Senhor Yama, o Deus Morte, e devido aos seus méritos espirituais, pode ser atendido. Ele pode retornar á Terra por uma quinzena lunar para que todas as deficiências em seus serviços rituais pudessem ser suprimidas naquele período. Então, por uma quinzena ele se dedicou exclusivamente à oferecer alimentos aos sacerdotes, os Brahmanes, e aos pobres e à oferecer oblações de água (Tarpana) à todos os seres. Impressionado pela austeridade de Karna, o Senhor Yama declarou que todas aquelas oferendas seriam partilhadas pelas almas que tivessem sido engolidas pela Morte. E assim foi feito ! Ao fim de seu período de expiação o guerreiro Karna retornou aos paraísos celestiais e os encontros repletos dos mais perfeitos banquetes.

Preparando oferendas aos ancestrais.
 
Há um ditado nos Tantras que diz que falar sobre comida não satisfaz ao faminto, da mesma forma falar de disciplinas espirituais sem praticá-las é de pouco beneficio. O Tantra é um caminho espiritual onde as três grandes Shaktis do conhecimento (Jñana Shakti), da vontade (Iccha Shakti) e da ação (Kriya Shakti) caminham juntas. Por isto se diz que Shiva, a consciência Universal que contempla todos os fenômenos, é apenas um cadáver se não estiver acompanhado de Shakti, a Força Dinâmica que move, cria e dissolve Universos.


Aos pés de Mãe Kali.



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sábado, 20 de julho de 2024

Ensinamentos da Rainha Kuntī indicação de leitura 65

A figura trágica e heroica da rainha Kuntī aparece numa era explosiva na história da antiga Índia. Como está descrito no Mahābhārata, o grande poema épico indiano de 110.000 versos, Kuntī era a esposa do rei Pāṇḍu e a mãe de cinco filhos ilustres conhecidos como Pāṇḍavas. Como tal, ela foi uma das figuras principais num complexo drama político que culminou, cinquenta séculos atrás, na grande Batalha de Kurukṣetra, uma guerra devastadora de ascendência, que mudou o rumo dos eventos mundiais. O Mahābhārata descreve o prelúdio do holocausto como segue:

Pāṇḍu se tornou rei porque seu irmão mais velho, Dhṛtarāṣṭra, era cego de nascença, condição que o excluía da sucessão direta. Algum tempo depois de Pāṇḍu subir ao trono, Dhṛtarāṣṭra casou-se com Gāndhārī e teve cem filhos. Esta era a família reinante da dinastia Kaurava, cujo filho mais velho era o cruel e ambicioso rei Duryodhana.

Enquanto isso, Pāṇḍu tinha aceitado duas esposas, Mādrī e Kuntī. Conhecida originalmente pelo nome de Pṛthā, Kuntī era a filha de Śurasena, o chefe da gloriosa dinastia Yadu. O Mahābhārata relata que Kuntī “era dotada de beleza e caráter; ela se regozijava na lei (dharma) e era perfeita em seus votos”. Ela também possuía uma bênção incomum. Quando era ainda criança, seu pai Śurasena deu-a para seu primo e amigo Kuntībhoja, que não tinha filhos (daí o nome “Kuntī”). Na casa de seu pai adotivo, a tarefa de Kuntī era prover o bem-estar dos convidados. Um dia, o poderoso sábio místico Durvāsā foi até lá e ficou muito satisfeito com o serviço imotivado de Kuntī. Prevendo que ela teria dificuldades para conceber filhos, Durvāsā deu-lhe a bênção de poder invocar qualquer semideus e, através dele, obter progênie.

Após o casamento de Kuntī e Pāṇḍu, este foi amaldiçoado para que não pudesse ter filhos. Diante disso, ele renunciou ao trono e se retirou com suas esposas para a floresta. Lá, a bênção especial de Kuntī capacitou-a a conceber, a pedido de seu esposo, três filhos gloriosos. Primeiro ela invocou Dharma, o semideus da religião. Depois de adorá-lo e repetir a invocação que Durvāsā tinha-lhe ensinado, ela se uniu com Dharma e, posteriormente, deu à luz um menino. Logo que a criança nasceu, uma voz sem origem visível disse: “Essa criança será chamada Yudhiṣṭhira e será muito virtuosa. Ela será gloriosa, determinada, renunciada e famosa nos três mundos”.

Tendo sido abençoado com esse filho tão virtuoso, Pāṇḍu pediu a Kuntī um filho de enorme força física. Assim, Kuntī invocou Vayu, o semideus do vento, que gerou o poderoso Bhīma. Após o nascimento de Bhīma, uma voz sobrenatural se fez ouvir: “Essa criança será o mais forte dentre os homens”.

Mais tarde, Pāṇḍu aconselhou-se com grandes sábios na floresta e então pediu a Kuntī para que aceitasse voto de austeridade por um ano inteiro. No fim deste período, Pāṇḍu lhe disse: “Ó mais bela entre todas! Indra, o rei do céu, está satisfeito com você, sendo assim, invoque-o e conceba um filho”. Em seguida, Kuntī invocou Indra, que veio até ela e gerou Arjuna. No instante em que o príncipe nasceu, a mesma voz celestial vibrou do céu: “Ó Kuntī, essa criança será tão forte quanto Kartavīrya e Śibi (dois reis poderosos dos tempos védicos) e será invencível na batalha, como o próprio Indra. Ela espalhará sua fama por todas as partes e obterá armas divinas”. Subsequentemente, a esposa mais nova de Pāṇḍu, Mādrī, gerou dois filhos chamados Nakula e Sahadeva. Esses cinco filhos de Pāṇḍu (Yudhiṣṭhira, Bhīma, Arjuna, Nakula e Sahadeva) ficaram sendo conhecidos como os Pāṇḍavas.

Desde a época em que Pāṇḍu se tinha retirado do trono e ido para a floresta, Dhṛtarāṣṭra assumira temporariamente o reinado, até que o filho mais velho de Pāṇḍu, Yudhiṣṭhira, completasse a idade apropriada para assumir o seu lugar. Entretanto, muito tempo antes que esse momento chegasse, Pāṇḍu morreu, como resultado de uma maldição, e Mādrī deixou sua vida, entrando na pira funerária. Com isso, os cinco Pāṇḍavas ficaram aos cuidados da rainha Kuntī.

Após a morte de Pāṇḍu, os sábios que viviam na floresta levaram os cinco jovens príncipes para a corte dos Kauravas, em Hastināpura (perto da atual Nova Déli). Em Hastināpura, a capital do reino, os cinco meninos foram criados à maneira real, sob a guia de Dhṛtarāṣṭra e do nobre Vidura, o meio-irmão de Pāṇḍu.

Mas a transferência do poder não seria fácil. Embora no começo Dhṛtarāṣṭra tivesse aceitado a legitimidade de Yudhiṣṭira, mais tarde ele se deixou influenciar por seu filho mais velho, o ambicioso Duryodhana, que ansiava por subir ao trono no lugar de Yudhiṣṭhira. Levado por ciúme incontrolável, Duryodhana conspirou contra os Pāṇḍavas e, com a aprovação hesitante do fraco Dhṛtarāṣṭra, infligiu-lhes muitos sofrimentos. Em Hastināpura, ele realizou vários atentados contra a vida dos príncipes e, mais tarde, levou-os para um palácio em outra cidade e tentou assassiná-los, provocando um incêndio. Durante todo esse tempo os cinco jovens Pāṇḍavas estiveram acompanhados por sua corajosa mãe Kuntī, que sofreu as atrocidades feitas por Duryodhana, ao lado de seus filhos queridos.

Miraculosamente, entretanto, Kuntī e os Pāṇḍavas escaparam repetidamente da morte, pois eles estavam sob a proteção do Senhor Kṛṣṇa, que havia encarnado na mesma família para realizar Seus passatempos na Terra. Finalmente, Duryodhana, um político experiente, enganou os Pāṇḍavas num jogo, tirando-lhes o reino (e sua liberdade). Como resultado desse jogo, a esposa dos Pāṇḍavas, Draupadī, foi humilhada pelos Kauravas, e os Pāṇḍavas foram forçados a passar treze anos exilados na floresta – para imensa tristeza de Kuntī.

Quando os treze anos de exílio se passaram, os Pāṇḍavas retornaram a Hastināpura, para reivindicar seu reino. Mas Duryodhana recusou asperamente. Assim, depois de algumas tentativas frustradas para que as hostilidades cessassem, Yudhiṣṭhira mandou o próprio Kṛṣṇa para assegurar a restituição do reino aos Pāṇḍavas através de meios pacíficos. Mas mesmo esse esforço falhou – por causa da obstinação de Duryodhana – e ambos os grupos se prepararam para a batalha. Para colocar Yudhiṣṭhira no trono – ou para lutar contra ele – grandes lutadores e guerreiros de todos os cantos do mundo se reuniram, preparando o cenário para o que viria a ser uma guerra mundial devastadora.

A luta se estendeu por dezoito dias, no lugar histórico chamado Kurukṣetra (perto de Hastināpura), e, no final, somente um punhado dentre muitos milhões de guerreiros sobreviveu. Só o Senhor Kṛṣṇa, os Pāṇḍavas e alguns outros sobreviveram ao massacre. Os Kauravas (Duryodhana e seus irmãos) foram exterminados. Num gesto desesperado de vingança, Aśvatthāmā, um dos Kauravas sobreviventes, impiedosamente assassinou os cinco filhos de Draupadī, enquanto estes dormiam. A rainha Kuntī sofreu, assim, um último golpe – a perda de seus netos.

Aprisionado e arrastado para o campo dos Pāṇḍavas como um animal amarrado, Aśvatthāmā foi posto em liberdade somente através da espantosa compaixão demonstrada por Draupadī, a mãe das crianças mortas e nora de Kuntī, que pediu por sua vida. Mas este descarado Aśvatthāmā fez mais uma tentativa de matar o último descendente (e neto) dos Pāṇḍavas, que ainda se encontrava no ventre de Uttāra, lançando uma arma suprema denominada brahmāstra. Quando viu o míssil vindo em sua direção, Uttāra correu imediatamente para o abrigo dos pés de lótus de Kṛṣṇa, que naquele exato momento partia para Dvārakā, a majestosa capital de Seu reino. Kṛṣṇa protegeu os Pāṇḍavas e sua mãe, Kuntī, da morte iminente, destruindo com Seu próprio disco sudarśana a radiação e calor insuportáveis daquela arma.

Tendo libertado os Pāṇḍavas dessa última calamidade, e vendo que todos os Seus planos tinham-se realizado, o Senhor Kṛṣṇa estava novamente preparando-Se para partir. Por anos a fio Duryodhana tinha atormentado a família da rainha Kuntī, mas Kṛṣṇa os protegera sempre, em todos os momentos de aflição e agora Ele estava partindo. Kuntī estava deprimida, e orou a Kṛṣṇa, do âmago de seu coração.

Kuntī era tia do Senhor Kṛṣṇa (Ele apareceu como o filho de seu irmão, Vasudeva). Ainda assim, a despeito deste laço familiar com o Senhor, ela compreendia completamente a identidade divina e elevada do Senhor. Ela sabia perfeitamente bem que Ele tinha vindo de Sua morada no mundo espiritual, para exterminar na Terra os poderes militares demoníacos e restabelecer a justiça. Um pouco antes da guerra monstruosa, Kṛṣṇa havia revelado tudo isto a Arjuna, filho de Kuntī, em palavras que foram imortalizadas na Bhagavad-gītā (4.7-8):

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, e uma ascensão predominante de irreligião – neste momento Eu próprio apareço. Para salvar os piedosos e aniquilar os canalhas, e para restabelecer os princípios da religião, eu venho milênio após milênio”.

Kṛṣṇa cumpriu Sua missão de “aniquilar os canalhas” ao comandar a destruição dos pecaminosos Kauravas. Assim, Ele instalou Yudhiṣṭhira no trono, para devolver o reino aos Pāṇḍavas, e consolou os parentes dos lutadores mortos, O momento da partida iminente do Senhor é o cenário para as orações sublimes da rainha Kuntī.

Quando Kuntī se aproximou da quadriga do Senhor e começou a falar com Ele, seu propósito imediato era persuadi-lO a ficar em Hastināpura e proteger o governo dos Pāṇḍavas de qualquer represália.

“Ó meu Senhor, Você está nos deixando hoje, embora sejamos completamente dependentes de Sua misericórdia e não tenhamos ninguém mais para nos proteger, e logo agora que todos os reis estão em inimizade conosco”. (Śrīmad-Bhāgavatam 1.8.37).

Nós não devemos falsamente concluir, por esta súplica, que as preces de Kuntī sejam egoístas. Embora seu sofrimento seja muito maior que aquele que uma pessoa comum possa suportar, ainda assim ela não pede alívio. Ao contrário, ela pede para sofrer ainda mais, pois diz que seu sofrimento aumentará sua devoção pelo Senhor e a conduzirá à liberação última.

“Meu querido Kṛṣṇa, Vossa Onipotência nos protegeu do bolo envenenado, de um incêndio enorme, dos canibais, da assembleia corrupta, dos sofrimentos durante o exílio na floresta e da batalha onde lutaram grandes generais. Eu desejo que todas essas calamidades aconteçam repetidamente, para que possamos vê-lO sempre, pois vê-lO significa que não veremos mais a repetição de nascimento e morte” (Śrīmad-Bhāgavatam 1.8.24-25).

As palavras de Kuntī – esta demonstração simples e iluminante da alma de uma grande mulher, santa e devota – revelam tanto as mais íntimas emoções transcendentais do coração como também as mais profundas reflexões filosóficas e teológicas do intelecto.

Suas palavras são de glorificação, impelidas por amor divino impregnado de sabedoria.

“Ó Senhor de Madhu, assim como o Ganges corre sempre para o mar, sem obstáculos, permita que minha atenção esteja sempre voltada para Você, sem se desviar para ninguém mais” (Śrīmad-Bhāgavatam 1.8.42).

A glorificação espontânea do Senhor Kṛṣṇa por Kuntī, e sua descrição da senda espiritual, estão imortalizadas no Mahābhārata e no Śrīmad-Bhāgavatam (Bhāgavata Purāṇa)e têm sido recitadas, cantadas e repetidas por sábios e filósofos há milhares de anos.

Como aparecem no Primeiro Canto do Bhāgavatamas célebres preces da rainha Kuntī consistem em apenas vinte e seis versos (do verso 18 ao verso 43 do oitavo capítulo), e ainda assim são consideradas uma obra-prima filosófica, teológica e literária. O presente livro (Os Ensinamentos da Rainha Kuntī) inclui esses versos inspirados e os comentários esclarecedores de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda, o ācārya-fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna e o mais renomado erudito védico e mestre espiritual do nosso tempo. Somando-se a esse comentário (escrito originalmente, em 1962), Os ensinamentos da rainha Kuntī contém outras explicações, que Śrīla Prabhupāda forneceu mais recentemente, em uma série cativante de palestras. Nessas palestras memoráveis realizadas na primavera de 1973 em Los Angeles, ele analisou os versos com maior detalhamento e derramou ainda mais luz sobre eles.

Os Editores.






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