sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Recursos Educacionais Digitais: o que são e onde achá-los


Recursos Educacionais Digitais

Sumário

A tecnologia invadiu definitivamente a sala de aula e se faz cada vez mais presente no dia a dia das instituições. Não é para menos. Além de muitas escolas já disponibilizarem materiais em formato digital, há também uma abundância de conteúdos e ferramentas que podem ser facilmente encontrados na internet. Nesse contexto, surge um termo que você já deve ter ouvido por aí: Recursos Educacionais Digitais (REDs). Você sabe o que são, onde vivem e do que se alimentam? Me siga na leitura e vamos entender tudo sobre o assunto!

O que são Recursos Educacionais Digitais (REDs)?

Os Recursos Educacionais Digitais (REDs) são materiais e ferramentas em formato digital que possuem finalidades pedagógicas. Eles englobam vídeos, textos, imagens, jogos, podcasts, infográficos, slides e muitos outros.

Os REDs podem ser recursos gratuitos ou não. No caso de materiais de domínio público ou licenciados de forma aberta e com possibilidade de modificação, além de REDs, eles também se encaixam na definição de Recursos Educacionais Abertos (REA)

Você sabe a importância que isso tem? Vou te explicar. O mercado de trabalho hoje já é permeado pela tecnologia nas mais diversas áreas de atuação. No futuro, isso só se intensificará. Então, trabalhar as competências digitais com os alunos é fundamental para garantir a empregabilidade deles quando forem adultos. Bem importante, né?

Onde posso encontrar Recursos Educacionais Digitais?

Há diversos locais nos quais você pode encontrar Recursos Educacionais Digitais. Confira alguns deles:

Pela plataforma do MEC é possível encontrar inúmeros Recursos Educacionais Digitais em formatos variados. E olha que quando eu falo “inúmeros”, não estou exagerando. São mais de 318 mil REDs disponíveis. Entre eles há jogos, vídeos, animações, experimentos, áudios, textos, livros digitais, planos de aula, imagens, apresentações, entre outros. Ou seja, materiais digitais para usar por uma vida, né?

Todos os REDs disponíveis foram desenvolvidos pelo próprio MEC ou por parceiros e são totalmente gratuitos. Os conteúdos já foram pensados para o encaixe com objetivos de aulas e estão alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Então, faça bom proveito!

Geografia Visual é um achado. O site reúne muito conteúdo variado sobre o tema. Há fotografias, infográficos, jogos, simuladores, mapas, gráficos, histórias em quadrinhos, ilustrações, podcasts, quizzes, vídeos, videoaulas, slides, entre outros. Esses conteúdos podem ser usados tanto para enriquecer as aulas quanto de maneira complementar a elas, em tarefas para a casa. Então, não deixe de conferir!

Smile and Learn, ao contrário do que o nome sugere, não é um repositório de conteúdos para aulas de inglês. Nesse canal do YouTube você encontrará uma série de Recursos Educacionais Digitais de diferentes disciplinas com foco em crianças entre dois e 12 anos. 

Há diversos vídeos sobre alfabetização. Há outros também voltados para o ensino de matemática, ciências, biologia, música etc. Algumas opções de conteúdos são mais curtinhas, com cerca de dois minutos, e outras são mais longas, chegando até a 20 minutos. Resumindo, opções não te faltam!

Se você quer encontrar uma grande quantidade de Recursos Educacionais Digitais de domínio público, nada melhor do que o próprio portal Domínio Público. O acervo de materiais é enorme e inclui livros, imagens, músicas e vídeos. Há desde obras clássicas como “A Divina Comédia” até livros infantis, registros históricos, materiais acadêmicos e conteúdos em idiomas estrangeiros. Use os filtros do portal e explore as possibilidades!

  • Escola Digital

  • Mais uma opção de peso para você. O site Escola Digital reúne 38 mil Recursos Educacionais Digitais gratuitos. Os conteúdos fazem parte de roteiros de estudos, como por exemplo “substâncias químicas”, “cálculo da velocidade em plano inclinado” etc. Os materiais e roteiros têm o objetivo de apoiar as práticas pedagógicas e já estão alinhados à BNCC.

    O portal também busca auxiliar professores e gestores a se desenvolverem para o uso de recursos tecnológicos em sala de aula. Ele os orienta, por exemplo, a como seguir um plano mais estruturado para a inserção dos recursos e também a como usá-los para desenvolver nos alunos o pensamento crítico.

    Por onde posso disponibilizar Recursos Educacionais Digitais aos alunos?

    Muitos dos Recursos Educacionais Digitais podem ser utilizados dentro das próprias aulas lecionadas na instituição de ensino. Porém, outros servirão mais ao objetivo de apoiar as tarefas de casa. Haverá também aqueles que podem ser usados como um material complementar de estudos para agregar ao que foi ensinado em sala de aula. Para esses que os alunos terão contato fora da escola, será preciso pensar em um bom canal para realizar o envio.

    O ideal é que a instituição possa contar com um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) no qual cada professor possa disponibilizar os materiais que quiser aos alunos de forma organizada, dentro de categorias específicas para a sua disciplina e série. Esse AVA, é claro, precisa contar com a tecnologia de armazenamento em nuvem, para que o peso dos arquivos não seja um problema. É interessante também que ele possibilite que os professores possam conferir se os estudantes estão acessando os materiais ou não.


Fonte: https://www.clipescola.com/recursos-educacionais-digitais/

Flipped Classroom - O que é e como implementar - GetEdu


Flipped Classrom: o que é?

Nós já conversamos por aqui sobre o porquê existem fortes argumentos para modificar e revitalizar o método que usamos na sala de aula.

Nosso objetivo agora é prover as informações necessárias para poder começar a mudança de forma planejada e eficiente. Começaremos, então, pela sala de aula invertida (flipped classroom) como prometido.

O que é Flipped Classroom?

Flipped Classroom, ou sala de aula invertida, é um modelo de aula é um tipo de blended learning, ou aprendizado misto, que se carateriza por misturar tecnologia com os métodos tradicionais. É possível resumir a sala de aula invertida de forma simples: neste método, o professor troca de lugar as atividades que normalmente são feitas em casa — como o dever de casa —, com as palestras; ou seja, as palestras são assistidas em casa e as outras atividades são feitas em sala de aula.

É fácil de explicar e entender, mas nem tão simples de executar.

Para que o processo ocorra de forma eficiente muitas coisas tem que ser levadas em conta. A maneira mais simples, ao meu ver, de explicar como funciona uma sala de aula invertida é por meio de um exemplo detalhado. Vamos lá?

Flipped Classroom: Modelo de sala de aula invertida

Passo 1 – Criar o roteiro a ser seguido antes da aula

Este primeiro momento, que ocorre normalmente de forma individual, acontece na casa do estudante ou na biblioteca da escola, por exemplo. Precisamos pensar em que atividades o aluno deve fazer para que possa estar preparado para os exercícios que serão ministrados em aula.

As palestras em vídeo são marca registrada deste método. O ideal é que sejam um ou mais vídeos que tenham entre 6 e 10 minutos cada. Aqui são apresentados os conceitos iniciais e mais importantes do conteúdo e é preparado o terreno para a prática posterior. Os alunos podem pausar, voltar e assistir quantas vezes forem necessárias para entender a matéria, ou seja ele assiste a aula no seu ritmo individual. Além dos vídeos é comum o uso de alguns textos ou exercícios conceituais em ferramentas online. Recomendamos o Youtube Edu e a Khan academy para achar os conteúdos de vídeo já prontos, porém, incentivamos que os professores se coloquem na posição de produtores de conteúdo e façam os próprios vídeos para seus alunos também!

Depois, usa-se um primeiro quiz ou teste que procura avaliar quais conceitos foram bem absorvidos e quais tiveram alguma resistência por parte da turma. Isso faz com que o professor saiba que problemas ele tem que atacar no início da aula antes de passar para atividades mais complexas.

AçãoFerramenta sugeridaVídeos de 6 a 10 minutos que serão assistidos em casa antes da aulaÉ possível encontrar muito material de qualidade no Youtube Edu e na Khan Academy; Crie seus próprios vídeos!Textos e outras ferramentas online(Opcional)Variam dependendo da matéria  e na maioria da vezes os professores têm anos de material acumulado que pode ser usado aqui .Teste/quiz online para aferir nível da absorção dos conceitos da aulaUse o Formulários Google para criar quizzes rápidos  e que são corrigidos automaticamente.Roteiro para ser seguido pelo alunoCrie um documento no Google Docs; poste uma a tarefa no Google Sala de Aula.

Passo 2 – Roteiro em sala de aula

Com o resultado do primeiro formulário em mãos os primeiros 10 a 15 minutos podem ser utilizados para reforçar rapidamente os conceitos que não foram tão bem absorvidos pela turma.

Agora começa a parte divertida.

Em sala de aula é o melhor momento para desafiar os alunos com os exercícios mais difíceis de cada matéria. Uma das maiores vantagens deste modelo é que no instante de maior desconforto do aluno ele tem o professor disponível para ajudar a sanar as dúvidas (e não palestrando para toda classe podendo ser interrompido apenas de forma breve) que nós sabemos aparecem justamente quando os estudantes são confrontados  com problemas mais complexos.

É altamente recomendado que se use grupos em um primeiro momento ou mesmo durante todos os exercícios. Assim promovemos a colaboração entre colegas e ajudamos os alunos a fixarem os conceitos enquanto argumentam uns com os outros ou com o professor sobre como resolver os exercícios.

Lembra do professor guia? O papel do mestre neste momento é rondar a sala para distribuir explicações just-in-time (na hora certa ou exata) para os alunos ou grupos, fazer perguntas que os levem a pensar na direção certa e de maneira geral, estar lá para atacar as dúvidas mais importantes assim que elas surgirem!

É comum que este passo dure mais de uma ou duas aulas dependendo da complexidade do conteúdo! Lembre-se: é o momento mais importante da sala de aula invertida!

Passo 3 – Mais um formulário!

Ah! nem! Mais um formulário de exercícios? Não!

O objetivo desta rápida terceira parte é apenas perguntar o que os alunos acharam da aula como um todo, que conceitos foram mais complicados de entender, se algo ainda ficou mal-entendido e o que você professor pode tentar melhorar para que os alunos tenham mais facilidade das próximas vezes. Assim podemos descobrir como ir melhorando a aula de pouco em pouco e o que estamos fazendo de certo ou errado.

Importante lembrar que também é muito legal criar este canal de comunicação com os alunos por outros motivos. Ao serem ouvidos e possivelmente atendidos, vai-se construindo uma confiança professor-turma que vai melhorar demais a sua experiência em sala de aula!

Recomendamos novamente o uso do Google Formulários para completar essa ação!

Testar, melhorar, testar

Dificilmente a gente acerta de primeira, mas tudo bem! A ferramenta de avaliação ao final de cada conteúdo ajuda o professor a melhorar com o feedback dos alunos. Os conteúdos que usamos no primeiro passo se aprimoram com o tempo e a maneira de aplicar os exercícios em sala de aula também. Com algum trabalho a sua aula, e consequentemente o rendimento crescente dos alunos, vai ser de cair o queixo!

Lembre-se que a GetEdu está por aqui para ajudar! Caso precise de ajuda com as ferramentas Google for Education, converse com a gente para entender melhor como nossas formações técnicas e pedagógicas podem ajudar a sua escola.

Somos um parceiro oficial do Google no Brasil e podemos ajudar você na transformação digital da sua escola e a promover um ensino mais dinâmico e eficiente. Clique no link abaixo para obter uma apresentação:

Na próxima semana tem mais conteúdo GetEdu vindo por aí! Até mais!

Fonte: https://getedu.com.br/2019/06/18/flipped-classroom-o-que-e/

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Hoje é o dia do desaparecimento de Sri Uddharana Datta Thakura dia 21/12/2022 quarta-feira

“Uddharana Datta Thakura, o décimo primeiro entre os doze meninos vaqueiros, era um devoto exaltado do Senhor Nityananda Prabhu. Ele adorou os pés de lótus do Senhor Nityananda em todos os aspectos”.
   Em Braja lila ele era Subahu sakha. [G.g.d.]
   Depois de permanecer em Khardaha por alguns dias, Nityananda Prabhu e Seus associados chegaram a Saptagram. Saptagram era a morada dos sete rshis e é conhecido neste mundo também como Triveni-ghata. Anteriormente, os sete rshis fizeram austeridades neste ghata pelo qual eles obtiveram os pés de lótus de Govinda. Três deusas estão presentes neste sangam Triveni, ou seja, Jahnavi (Ganga), Yamuna e Sarasvati. Este lugar tão famoso pode destruir as reações pecaminosas daqueles que simplesmente o veem. Nityananda Prabhu junto com Seus associados banharam-se em grande felicidade neste mesmo lugar. O templo do mais afortunado Shri Uddharana estava localizado nas margens daquele mesmo Triveni-ghata.
   “Com seu corpo, mente e palavras, livre de falsidade, ele sempre adorou os pés de lótus do Senhor Nityananda. Ele foi extremamente afortunado ao receber o direito de servir à forma eterna de Nityananda. Nascimento após nascimento, o Senhor Nityananda é o controlador Supremo, e nascimento após nascimento, Uddharana é Seu servo. Todas as várias famílias de vaniks (mercadores por casta) foram purificadas pela influência de Uddharan Datta, não há dúvida sobre isso. Nityananda Prabhu desceu a este mundo para entregar os vaniks. Ele deu a eles o direito de realizar serviço devocional amoroso. Nitai Cand vagou pessoalmente de porta em porta por Saptagram, cantando os Nomes Sagrados como Seus passatempos. Em retribuição, todas as famílias adoraram Seus pés de lótus e se abrigaram ali. Todo o mundo fica encantado ao ver sua adoração ao Senhor Krishna. Quem pode estimar as glórias do Senhor Nityananda que libertou esses vaniks, que originalmente eram de classe baixa, mesquinhos e tolos. Em cem anos não consigo descrever os passatempos sankirtana de Nityananda Ray que Ele realizou com Seus associados em Saptagram. A bem-aventurança que anteriormente era sentida em Nadia durante os passatempos de sankirtan do Senhor foi novamente sentida, em igual medida, durante os passatempos de sankirtan de Prabhu Nityananda aqui.” [C.B. Antya 5.443-461] See More
   “O nome do pai de Uddharana Datta Thakura era Srikar Datta e o nome de sua mãe, Shri Bhadravati. Shri Uddharana Datta Thakura era o ministro das finanças do rei da vila de Naihati. As ruínas do palácio do rei ainda podem ser vistas lá hoje.
   O lugar onde Uddharana Datta Thakura viveu e de onde administrou os negócios do rei é até hoje conhecido como Uddharanpur.” [C.C. Adi 11.81]
   Uma Deidade de seis braços de Mahaprabhu (sad-bhuja murti), que era a Deidade adorável de Uddharana Datta Thakura, ainda está presente em Saptagram. À direita de Mahaprabhu está Nityananda Prabhu e à Sua esquerda Shri Gadadhara. Em outro simhasana está Shri Shri Radha Govinda, e abaixo, uma pintura e a Deidade de Shri Uddharana Datta Thakura. Shri Jahnava Mata veio à casa de Uddharana Datta [B.R. 11.775], mas ele não estava presente nesta terra então. O nome de seu filho era Srinivasa Datta Thakura.
   Saptagram é a primeira estação depois de Bandel na linha Bandel-Barddhaman. Dentro das ruínas do palácio do rei em Bonauaribat há um grande templo onde as Deidades de Shri Shri Nitai-Gauranga e do Senhor Balarama ainda estão sendo adoradas.
Bonauaribad pode ser alcançado de Katwa de ônibus.
   O desaparecimento de Uddharana Datta Thakura ocorre no décimo terceiro dia da quinzena escura do mês de Pausa.

Hoje é o dia do desaparecimento de Sri Mahesha Pandita 21/12/2022. quarta-feira.

“Aquele que antes era um menino vaqueiro muito generoso agora apareceu como Mahesha Pandita. No amor extático, ele dança como um louco como se estivesse embriagado ao som de um tambor. [C.C. Adi 11.32]
   De acordo com Gaura-ganoddesa-dipika, Mahesha Pandita foi anteriormente Maha-Bahusakha em Krishna-lila. Ele era um companheiro de Nityananda Prabhu e estava presente no Danda Mahotsava realizado em Paninati.
   Em Bhakti-Ratnakara, Taranga Nine, afirma-se que quando Narottama dasa Thakura veio visitar Khardaha, ele teve o darshana dos pés de lótus de Mahesha Pandita.
   Vrindavana dasa Thakura o descreveu como um 'param mahanta' devido ao fato de que ele era muito querido por Nityananda Prabhu. [C.B. Antya 5.744]
   O Sripat original de Mahesha Pandita em Sukh Sagor fundiu-se no leito do Ganges, mas suas deidades adoráveis ​​de Shri Shri Nitai-Gauranga, bem como seu samadhi foram movidos para Palpara. Há uma estação ferroviária lá, entre as estações Simrali e Cakdaha, na linha Sealdah-Krishnanagar.
   O dia de seu desaparecimento é no décimo terceiro dia da brilhante quinzena do mês de Pausa.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Assertividade o que é e exemplos - definição psicológica.

O que é assertividade e exemplos - definição psicológica

O que é assertividade e exemplos

Definimos a assertividade como a capacidade de comunicar os nossos sentimentos e necessidades às pessoas que nos rodeiam, evitando ferir e ofender os demais. No entanto, para saber conhecer o significado de assertividade em profundidade, necessitamos fazer uma definição correta segundo a psicologia.

Algumas pessoas consideram que assertividade e habilidades sociais são conceitos sinônimos. Contudo, é importante ter em conta que a assertividade é apenas uma parte das habilidades sociais, sendo ela que reúne comportamentos e pensamentos que nos permitem defender os direitos de cada um sem agredir nem ser agredido.

Continue lendo este artigo de Psicologia-Online para saber o que é assertividade e exemplos concretos para entender melhor em que consiste esta habilidade social e pessoal.

Índice

O que é assertividade: exemplos e significado

Em primeiro lugar, é muito importante saber o que significa ser assertivo e porque é tão importante cultivar este elemento da nossa personalidade. A primeira característica que devemos levar em conta é o fato de poder observar a assertividade nas nossas relações sociais e pessoais. Enquanto algumas pessoas comunicam de forma agressiva e até mesmo passiva, a chave nas habilidades sociais é saber comunicar com assertividade e empatia.

Exemplos de comunicação assertiva

Em seguida, te mostramos o que é assertividade com exemplos para que você possa entender melhor a situação:

Imaginemos o seguinte contexto: você está jantando em um restaurante. Quando o garçom traz o seu pedido, você repara que o copo está sujo, com marcas de batom de outra pessoa. Perante essa situação, você pode:

  • Não dizer nada e usar o copo sujo contra a sua vontade.
  • Fazer um escândalo e usar no local e dizer ao garçom que nunca voltará ao estabelecimento.
  • Chamar o garçom e pedir que, por favor, ele troque o seu copo por outro.

O que você faria?

Nem a primeira opção nem a segunda são comportamentos apropriados ou característicos da comunicação assertiva. Nessa situação, se o que desejamos é reduzir o nosso estresse e tratar as outras pessoas com respeito, a terceira opção é a mais assertiva que podemos empregar.

Significado de assertividade

Agora que já temos um exemplo, definimos a assertividade como uma capacidade social na qual aprendemos a expressar os nossos sentimentos e emoções, descobrindo a forma de respeitar-nos a nós mesmos sem agir de um jeito agressivo.

Em seguida, te mostramos um diagrama para que você compreenda melhor o que é assertividade.

O que é assertividade e exemplos - O que é assertividade: exemplos e significado

Como ser assertivo: conselhos da psicologia

Agora que já conhecemos todos os mistérios da assertividade, chega o momento de aprender a ser assertivo. Para isso, podemos seguir os conselhos da psicologia cognitiva e social. Quando não somos pessoas assertivas, podemos ter problemas com as nossas amizades, problemas em casal ou em família... e os conflitos não costumam ser resolvidos de uma forma rápida e eficaz.

O treino assertivo não é algo simples e é possível que cometamos alguns erros durante o processo. No entanto, como qualquer outro comportamento, é algo que pode ser aprendido com a prática.

Treinamento assertivo: habilidades sociais

Existem dois motivos pelos quais uma pessoa não é assertiva:

    No primeiro caso, o treinamento assertivo não consiste em converter pessoas submissas em reclamantes e acusadoras, mas sim a assinalar que as pessoas tem direito a defender os próprios direitos em situações

    Analisemos algumas ideias falsas que as pessoas passivas costumam ter:

    • Nunca devemos interromper as pessoas. FALSO: Temos direito a interromper o interlocutor para pedir uma explicação.
    • Os problemas de uma pessoa não interessam a mais ninguém e não devemos fazê-las perder tempo escutando-os. FALSO: Temos direito a pedir ajuda ou apoio emocional.
    • Devemos nos adaptar aos outros, ou acabamos correndo o risco de perder uma amizade. FALSO: Temos direito a dizer "NÃO".
    • Quando alguém tem um problema, devemos ajudá-lo. FALSO: Temos direito a decidir quando oferecer ajuda aos outros e quando não.

    Os casos em que as pessoas pouco assertivas se tornam violentas e reativas, é importante realizar um treinamento assertivo fortalecendo a empatia e mostrando a importância dos sentimentos e direitos das pessoas que nos rodeiam.

    Também podemos realizar técnicas de relaxamento mental para adultos caso desejemos aprender a comunicar com calma e sem levantar o tom de voz.

    O que é comunicação assertiva: exemplo de diálogo

    Agora que você já sabe o que é assertividade, deve saber que existem muitas técnicas para ser assertivo.

    Uma das técnicas mais eficazes consiste em desarmar o outro com um elogio ou um reconhecimento do seu trabalho, da sua pessoa ou da sua tarefa, para depois expressar o que necessitamos.

    Vamos ver um exemplo ilustrativo do que queremos dizer:

    • Mulher: "José, você pode ir buscar as crianças ao colégio? Ainda preciso preparar a lição para amanhã e não vou ter tempo."
    • Marido: "Lamento Maria mas acabo de chegar do trabalho e estou muito cansado, vai tu."

    Nesse exemplo, os próprios direitos são defendidos (direito a pedir ajuda e a expressar a opinião) sem violar os direitos do outro, uma vez que não existe nenhum tipo de ordem, menosprezo ou agressividade em relação à outra pessoa.

    Em resumo: ser assertivo é expressar o nosso ponto de vista, respeitando o dos demais.

    Recorde que ser assertivo não significa querer sempre ter razão, mas sim expressar a própria opinião e ponto de vista, sejam eles corretos ou não. Todos temos também direito a errar e a não ser excessivamente julgados pelos nossos erros.

    Assertividade e empatia: diferenças e relação

    A empatia é a capacidade de "calçar o sapato alheio", ou seja, sentir como próprias as emoções alheias e agir considerando as pessoas que nos rodeiam.

    A empatia é uma característica da inteligência emocional muito importante e muitas vezes se relaciona diretamente com a assertividade. Isto acontece porque, para poder ser assertiva, uma pessoa necessita desenvolver a empatia.

    Diferença entre assertividade e empatia

    A principal diferença entre assertividade e empatia reside em que a assertividade se foca em expressar algo nosso aos outros, enquanto que a empatia é exatamente o oposto: a empatia é um canal de fora para dentro, até ao nosso próprio processamento emocional.

    Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

    Se pretende ler mais artigos parecidos a O que é assertividade e exemplos, recomendamos que entre na nossa categoria de Psicologia cognitiva.

    domingo, 18 de dezembro de 2022

    Hoje é dia de Jejum Sagrado de Sri Saphala Ekadasi dia 19/12/2022 segunda-feira.

       
    Yudhishthira Maharaja disse:  "ó Sri Krishna, qual o nome do Ekadashi que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Pausha (dez/jan)?  Como é observado, e qual Deidade é adorada nesse dia?  Por favor narra-me isso plenamente, ó Janardana."
     
       A Suprema Personalidade de Deus respondeu:  "ó melhor dos reis, porque desejas ouvir, descreverei plenamente para ti as glórias do Pausha-krishna Ekadashi.
     
       Não fico tão satisfeito pelo sacrifício ou caridade, como fico quando Meus devotos observam um jejum total no Ekadashi.  Conforme sua melhor possibilidade, portanto, a pessoa deve jejuar no Ekadashi, o dia do Senhor Hari.
     
       ó Yudhishthira, urge que ouças com atenção indesviável as glórias do Pausha-krishna Ekadashi, que cai no Dvadasi.  Conforme expliquei anteriormente, não se deve diferenciar entre os muitos Ekadashis.  ó rei, para beneficiar a humanidade em geral agora descrever-te-ei o processo de observar Pausha-krishna Ekadashi.
     
       Pausha-krishna Ekadashi também é conhecido como Saphala Ekadashi.  Neste dia sagrado se deve adorar o Senhor Narayana, pois Ele é sua Deidade governante.  Deve-se seguir o método anteriormente descrito de jejuar.  Assim como entre as serpentes Shesha-naga é a melhor, entre as aves Garuda é o melhor, entre os sacrifícios Ashvamedha-yajna é o melhor, entre os rios a Mãe Ganga é a melhor, entre os deuses o Senhor Vishnu é o melhor, e entre os seres  bípedes os brahmanas são os melhores, assim também entre todos dias de jejum, Ekadashi é o melhor.  ó principal dos reis nascidos na dinastia Bharata, quem quer que observe estritamente Ekadashi se torna muito querido por Mim e verdadeiramente adorável para Mim de qualquer maneira.  Agora ouça enquanto descrevo o processo para observar Saphala Ekadashi.
     
       No Saphala Ekadashi Meu devoto deve adorar-Me oferecendo-Me frutas frescas segundo o tempo, lugar e circunstância, e por meditar em Mim como a completamente auspiciosa Personalidade Suprema.  Ele deve oferecer-Me frutas jambira, romãs, betel, côco, goiaba, nozes, cravos, mangas, e diferentes tipos de especiarias aromáticas.  Também deve oferecer-Me incenso e luminosas lamparinas de ghee, pois tal oferenda de lamparinas no Saphala Ekadashi é especialmente gloriosa.  O devoto deve tentar ficar acordado a noite toda. Agora por favor ouça com a atenção indesviável enquanto te conto quanto mérito se obtém se jejuar e permanecer acordado durante a noite inteira.  ó melhor dos reis, não existe sacrifício ou peregrinação que confira mérito equivalente ou maior que o mérito que se obtém por jejuar no Saphala Ekadashi.  Tal jejum - particularmente se a pessoa puder permanecer acordada a noite toda - confere o mesmo mérito ao fiel devoto como se realizasse austeridade durante cinco mil anos.  ó leão entre os reis, por favor ouça a gloriosa história deste Ekadashi.
     
       Uma vez havia uma cidade chamada Campavati, que era governada pelo santo Rei Mahishmata.  Tinha ele quatro filhos, o mais velho dos quais, Lumpaka, sempre estava ocupado em atividades muito pecaminosas - sexo ilícito com as esposas de outros, jogatina, e contínua associação com conhecidas prostitutas.  Seus maus atos gradualmente reduziram a fortuna de seu pai, o Rei Mahishmata.  Lumpaka também se tornou muito crítico para com os semideuses e brahmanas, e a cada dia blasfemava Vaisnavas.  Afinal o Rei Mahishmata, vendo a condição de seu filho, exilou-o na floresta.  Por medo do rei, até mesmo parentes compadecidos não acorreram em defesa de Lumpaka, tão zangado estava o rei e tão pecaminoso era Lumpaka.
     
       Desnorteado em seu exílio, Lumpaka pensava consigo mesmo:  "Meu pai me mandou embora, e até meus familiares não levantaram nenhuma objeção.  Que devo fazer agora?"  Ele tramava pecaminosamente e pensava:  "Vou voltar furtivamente para a cidade, oculto nas trevas e roubar todas riquezas.  Durante o dia ficarei de longe na floresta, e à noite retornarei para a cidade."  Pensando assim, Lumpaka entrou na escura floresta.  Matava muitos animais durante o dia, e de noite roubava artigos valiosos da cidade.  Os habitantes da cidade pegaram-no diversas vezes, porém por temor ao rei deixaram-no sozinho.  Pensavam que devia ser devido aos pecados de seus nascimentos pretéritos que perdera suas facilidades reais e que agia tão pecaminosamente.
     
       Embora um carnívoro, Lumpaka também comia frutas todo dia.  Residia sob uma velha árvore banyan que por acaso era muito querida pelo Senhor Vasudeva.  De fato, muitos adoravam-na como o deus de todas árvores da floresta.  No devido decorrer do tempo, enquanto Lumpaka estava realizando tantas atividades pecaminosas e condenáveis, chegou Saphala Ekadashi.  Na véspera de Ekadashi, Lumpaka teve que passar a noite inteira sem dormir devido ao frio severo e sua pouca roupa de cama.  O frio não só roubou-lhe toda tranquilidade mas também quase o matou.  Quando o sol se levantou, seus dentes batiam e ele estava em coma, e durante toda manhã daquele dia, Ekadashi, ele não conseguia acordar de seu estupor.
     
       Quando o meio-dia do Saphala Ekadashi chegou, o pecaminoso Lumpaka finalmente voltou a si e conseguiu levantar de seu lugar sob a árvore banyan.  Mas a cada passo tropeçava e caía no chão.  Como um coxo, andava lenta e hesitantemente, sofrendo grandemente pela fome e sede em meio à selva.  Tão fraco estava Lumpaka que nem sequer conseguiu matar um só animal naquele dia.  Em vez disso, viu-se reduzido a coletar quaisquer frutas que tivessem caído ao solo.  Na hora em que retornou para a árvore banyan, o sol se pusera.
     
       Colocando as frutas no chão perto dele, Lumpaka começou a berrar:  "Oh, que infelicidade!  Que devo fazer?  Querido pai, a que ponto cheguei?  ó Sri Hari, por favor seja misericordioso para comigo e aceite estas frutas!"  Novamente foi forçado a ficar acordado a noite toda sem dormir, mas nesse meio tempo a Suprema Personalidade de Deus, Madhusudana, ficara satisfeito com a oferenda de Lumpaka das frutas silvestres, e Ele as aceitou.  Lumpaka sem querer observara um jejum completo de Ekadashi, e assim pelo mérito que angariou naquele dia, recuperou seu reino sem maiores obstáculos.
     
       Ouça, ó Yudhishthira, o que aconteceu com o filho do Rei Mahishmata quando apenas um fragmento de mérito brotou dentro de seu coração.
     
       Enquanto o sol nascia belamente na manhã seguinte ao Ekadashi, um lindo cavalo aproximou-se de Lumpaka e postou-se perto dele.  Ao mesmo tempo, uma voz repentinamente falou do céu claro e azul:  "Este cavalo é para ti, Lumpaka!  Monta nele e rapidamente cavalga para saudar tua família!  ó filho do Rei Mahishmata, pela misericórdia do Senhor Vasudeva e a força de mérito que adquiriste por observar Saphala Ekadashi, teu reino lhe foi devolvido sem quaisquer empecilhos maiores.  Tal é o benefício que adquiriste por jejuar neste dia auspicioso. Agora vai até teu pai e desfruta de teu devido lugar nesta dinastia."
     
       Ao ouvir estas palavras celestiais, Lumpaka montou no cavalo e cavalgou de volta para a cidade de Campavati.  Pelo mérito que acumulara por jejuar no Saphala Ekadashi, ele se tornara um belo príncipe novamente e pode absorver sua mente nos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, Hari.  Em outras palavras, ele se tornara Meu devoto puro.
     
       Lumpaka ofereceu a seu pai, o Rei Mahishmata, suas humildes reverências e uma vez mais aceitou suas responsabilidades de príncipe.  Vendo seu filho decorado com ornamentos Vaisnavas e tilaka, o Rei Mahishmata deu-lhe o reino, e Lumpaka governou sem oposição por muitos e muitos anos.  Sempre que ocorria Ekadashi, ele adorava o Senhor Supremo com grande devoção.  E pela misericórdia de Sri Krishna ele obteve uma bela esposa e bom filho.  Na velhice Lumpaka entregou seu reino a seu filho - assim como seu pai, o Rei Mahishmata, havia feito com ele - e então foi para a floresta servir o Senhor Supremo com a mente e sentidos controlados.  Purificado de todo desejo material, abandonou seu corpo e retornou ao lar, de volta para Deus, obtendo um local próximo aos pés de lótus do Senhor Sri Krishna. ó Yudhishthira, quem se aproxima de Mim como Lumpaka fez será completamente liberto da lamentação e ansiedade.  Na verdade, qualquer pessoa que observe corretamente este glorioso Saphala Ekadashi - mesmo que seja sem saber, tal como Lumpaka - se tornará famosa neste mundo.  Tornar-se-á perfeitamente liberada na morte e retornará para Vaikuntha.  Quanto a isso não há dúvida.  Além do mais, quem quer que simplesmente ouça as glórias do Saphala Ekadashi, obtém o mesmo mérito derivado por quem realiza um Rajasuya-yajna, e no mínimo vai para o céu em seu próximo nascimento."
     
       Assim termina a narrativa das glórias do Pausha-krishna Ekadashi ou Saphala Ekadashi, do Bhavishya-uttara Purana.


    terça-feira, 13 de dezembro de 2022

    O abandono dos ideais. setembro 1987 – SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA. olavodecarvalho.org

    Olavo de Carvalho O Abandono dos Ideais - YouTube

    O abandono dos ideais

    Em 7 de setembro de 1987   /   Apostilas, Destaque  

    Olavo de Carvalho

    Aula do curso Introdução à Vida Intelectual

    Setembro de 1987. Reproduzida sem alterações.

    Quando as palavras saem da moda, as coisas que elas designam ficam boiando no abismo dos mistérios sem nome; e como tudo o que é misterioso e inexprimível oprime e atemoriza o coração humano com uma sensação de cerceamento e impotência, é natural que a atenção acabe por se desviar desses tópicos nebulosos e constrangedores. Pois o que desaparece do vocabulário logo acaba por desaparecer da consciência: o que não tem nome não é pensável, o que não é pensável não existe — tal é a metafísica dos avestruzes. Só que a coisa desprovida do direito à existência continua a existir numa espécie de extramundo, inominada e inominável, tanto mais ativa quanto mais secreta, tanto mais temível quanto mais envolta nas pompas tenebrosas do nada. A restrição do vocabulário povoa o mundo de temores e presságios. Desprovido da capacidade de nomear, eis o homem devolvido a todos os terrores que ele imaginava primitivos, mas que são uma pura criação da mais avançada e requintada decadência: o barbarismo artificial.

    Se a coisa desprovida de nome é, por acaso, alguma realidade espiritual elevada, um valor excelso ou aspiração suprema da alma — uma dessas coisas essenciais que se pode expulsar da consciência, mas não da existência —, é natural que sua reencarnação obscura assuma, mais ainda, as feições do terrível, do informe, do monstruoso.

    É algo assim que acontece com aquela coisa designada pela palavra “ideal” — uma palavra obviamente fora de moda, cujo significado perde realidade com a rapidez com que perde sangue um decapitado.

    Denomina-se “ideal” a síntese em que se fundem, numa só forma e numa só energia, a idéia do sentido da vida e a do preço de sua realização: diz-se que um homem tem um ideal quando ele sabe em qual direção tem de ir para tornar-se aquilo que almeja, e quando está firmemente decidido a ir nessa direção.

    Complexo de impulso e de esquema, o ideal atrai como um imã e coordena como um eixo. Pela unidade de sua forma, convoca o sinergismo da vontade: a concorrência de todas as forças para a consecução da meta. Pelo seu caráter de síntese projetada para o futuro, ergue-se como um tribunal soberano e neutro para a arbitragem de todos os conflitos do presente, que ali se resolvem e superam de modo que mesmo as tendências mais antagônicas da alma possam convergir num só ímpeto ascensional.

    O ideal é, por isto, condição indispensável para a coesão da personalidade, que sem ele se dispersa em aspirações fortuitas e esforços estéreis. Miragem e emblema, sua visão nos dinamiza, nos eleva e enobrece, e é sempre a lembrança do seu apelo que nos reergue após cada erro e cada desengano. O ideal é semente de juventude e revivescência. Tem um poder coordenante voltado para o futuro, um poder curativo voltado sobre o passado.

    É ainda pela força do ideal que o homem transcende o sono entorpecido da subjetividade intra-orgânica, das falsas idéias e aspirações que não são senão a secreção passiva da fisiologia, para despertar a um mundo de realidades objetivas que a inteligência discerne e que a consciência moral obriga a reconhecer; é assim que a alma se liberta do poço escuro da individualidade estanque, para elevar-se ao mundo maior da sociedade, da cultura, da vida moral, ao sentimento do universo e ao desejo de Deus.

    Sem a síntese, que o ideal opera, entre o impulso de universalidade e os interesses do organismo psicofísico, não haveria meio de fazer um homem sacrificar-se, impor-se restrições, contrariar desejos e reprimir temores, em prol de algum valor moral, social ou religioso, para alcançar sua plena estatura humana e tornar-se, talvez, maior do que ele mesmo. Mas o desejo, que move a alma, não pode ser despertado por uma simples idéia abstrata, por verdadeira que seja; ele necessita de imagens plásticas, sensíveis, que lhe dêem como que uma presença antecipada do seu objetivo. Também não se move, exceto no homem grosseiro, ao simples apelo de uma imagem atrativa; mas aguarda que a inteligência examine e aprove o objeto como desejável e bom. Não basta que a meta seja verdadeira; é preciso que seja bela. Mas não basta que seja bela; é preciso que seja verdadeira e justa. É a síntese desta tripla exigência, intelectual, estética e moral, que se denomina “ideal”. Ele concilia, no homem, o desejo de auto-afirmação, de autodefesa, de permanência, com o impulso de crescimento, de doação e de superação de si. Ele dá uma significação universal às tendências individuais, e põe estas a serviço daquela. Spencer falava dos sentimentos “ego-altruístas”, intermediários entre o egoísmo e o altruísmo; neles, uma satisfação dada a si mesmo é, indireta porém voluntariamente, ocasião de benefício para os outros. O ideal extrai grande parte do seu dinamismo dessa pulsação ego-altruísta, em que a felicidade de um homem se identifica com o bem dos demais1. O ideal é como o fogo em que se transfunde, no forno alquímico da alma, o egoísmo em altruísmo, a paixão reflexa em ação refletida.

    Mas não é só por isto que o ideal dá força, equilíbrio e consistência à personalidade. A escola junguiana tinha razão ao ver no ideal do eu uma instância superior, capaz de absorver e neutralizar os conflitos entre o id e o superego, entre as pulsões primárias do organismo psicofísico e o esquema de proibições e deveres introjetado inconscientemente pelo hábito imposto, automatizado depois numa constelação de rotinas impeditivas. De fato, quanto mais elevado, nítido, intenso e querido é um ideal, mais o homem é capaz de, em favor dele ele, se impor sacrifícios inteligentemente, contornando as exigências do id; porém, na mesma medida, o ideal o capacita a contrariar, se preciso, as imposições de uma moralidade meramente exterior e convencional, a reformar e elevar seu padrão de valores, a superar a obediência servil a exigências repressivas irracionais. Destituído do ideal, no entanto, o homem abandona-se à luta cega entre a paixão egoísta e o temor da represália do superego2.

    Embora nascida na nossa consciência subjetiva, a imagem de perfeição expressa no ideal aponta para uma qualidade objetiva: pelo ideal, as qualidades latentes do homem tendem a orientar-se para fora e transformar-se em atos e obras no mundo. O ideal é o caminho pelo qual as aspirações individuais de felicidade distribuem-se nos sulcos já abertos da realidade exterior, saem da redoma do sonho e ganham um corpo no cenário maior dos fatos e das coisas. Sem um ideal definido, todas as melhores aspirações não passam de sonhos, porque não há um dever moral imanente a exigir que se amoldem à realidade, que se limitem em extensão para realizar-se em intensidade. Só o homem idealista é realista; os demais são sonhadores ou cínicos. Não tendo uma medida do que as coisas deveriam ser, vêem-nas melhores ou piores do que são.

    Ademais, para que as qualidades latentes possam se manifestar, é necessário um esforço constante numa direção definida; sem ideal, o esforço gasta-se em gestos reativos, momentâneos e sem proveito. O ideal é a bússola que assinala para a alma uma direção firme e constante por entre as incertezas. Por isto, o sentimento de insatisfação, de vazio e de tédio que experimentamos quando traímos ou esquecemos o ideal é o sinal de alarma que nos permite corrigir o rumo e reencontrar o sentido da vida. Se o sentido é aquilo a que se orienta a nossa vida e a que ela tende com todas as suas forças, então, deve estar colocado num outro tempo ou num outro espaço que não os do presente e do imediato num futuro ou num plano mais abrangente de realidade. O ideal é a presença deste futuro no presente, deste outro espaço no aqui e no agora. Uma presença incompleta e, por isto, dinâmica e tensional. Por ela, medimos nossa aproximação ou afastamento do sentido da vida. O ideal é a medida efetiva do tempo existencial, o padrão de intensidade e profundidade da significação dos momentos. Sem ideal, os instantes e os lugares se homogeneizam na massa do indiferente, após a breve excitação casual que os torna interessantes. O ideal é a coluna mestra e a força da personalidade. Traí-lo ou esquecê-lo é entregar-se, de ossos quebrados, nas mãos da contingência e do absurdo.

    Quando, porém, a traição é demasiado grave, extensa, profunda, o sinal de alarma já não soa mais: o clamor da consciência moral imanente tornou-se tão penoso que a alma o reprime, lacrando-o sob a tampa do subconsciente, ao mesmo tempo em que procura inventar toda sorte de razões, de pretextos factícios e ocasionais, para justificar o mal-estar e o tédio, ou encontra um bode expiatório sobre o qual despejar seu rancor de si mesma. A repressão da consciência moral, como demonstrou Igor Caruso3, está na base de muitos distúrbios neuróticos. A neurose apóia-se num complexo jogo de racionalizações e compensações que falseia completamente a posição existencial do indivíduo, como uma bússola viciada. E, já que a consciência, por definição, é coesão — com + scientia = reunião da ciência4 —, e uma lei constitutiva impede que suas partes funcionem separadas, logo o escotoma defensivo se alastra para outros campos e acaba por obliterar toda a visão, mesmo em áreas que nada têm a ver diretamente com o conflito que lhe deu origem. O empenho de conservar então um mínimo indispensável de realismo, necessário à vida social e prática, é obstaculizado pelo esforço de não enxergar uma determinada área, circunscrita como tabu; o curto-circuito daí resultante produz considerável perda de energias, enfraquecendo a capacidade intelectual e decisória. A vítima torna-se cada vez mais inepta para o ato de humildade que lhe devolveria o ideal perdido e o sentido da vida ( ser humilde não é outra coisa senão aceitar a realidade; como diz Schuon, “ser objetivo é morrer um pouco” ).

    Na psicologia e psicoterapia de Paul Diel5, a divindade é a imagem ideal que orienta todos os esforços para a auto-realização das qualidades superiores do homem. Pouco importa que, teologicamente, ela seja muito mais do que isto, pois, para o indivíduo, a divindade real e objetiva só é acessível através da sua imagem pessoal de Deus, e é justamente esta é a base da qual tem de partir todo ensino religioso que não seja mera lavagem cerebral. Psicologicamente, porém, o interesse maior não reside na veracidade teológica da imagem, porém na sua ação catalizadora sobre a massa das forças psíquicas. Encarado psicologicamente ou teologicamente, o ideal de perfeição humana sugerida pela imagem do divino é a meta obrigatória e universal da existência humana sobre a terra, e a perda deste ideal é, segundo Diel, a causa das neuroses. O ideal da perfeição pode ser corrompido ou desviado, basicamente, de duas maneiras. Diel chama-as exaltação imaginativa e banalização. São processos opostos, sucessivos e complementares.

    A exaltação imaginativa é um estado em que a mente, embevecida com o seu ideal, se identifica mais ou menos inconscientemente com ele e atribui a si as perfeições que a ele pertencem, como se já as tivesse realizado. Para Diel, o símbolo por excelência da exaltação imaginativa é o vôo de Ícaro. As asas de cera representam a força da imaginação, que só pode elevar aos ares um corpo imaginário. O exaltado toma o potencial por atual, imaginando possuir as perfeições a que aspira. Por isto mesmo, sua alma experimenta, como num choque de retorno, um sentimento de estranheza e de impotência perante o mundo, que não cede, como ele esperava, aos seus encantos ou poderes. Acuado pelas exigências da realidade, ele exacerba ainda mais sua adoração de si mesmo diante de um mundo que ele julga vil, mesquinho e incompreensivo, quando na verdade é ele mesmo quem não compreende o mundo e, por não compreendê-lo, está impotente para agir nele. É a síndrome do “jovem incompreendido”, que, pela simples razão de ter aspirações elevadas — ou que lhe pareçam elevadas — já se sente ipso facto superior ao seu ambiente e, portanto, limitado ou coagido pela mesquinhez real ou aparente dos pais, da escola, da sociedade, do emprego, etc6. Nem sempre ele declara seu sentimento em voz alta; uma vaga intuição do caráter doentio do seu estado pode envolver este sentimento numa complexa rede de disfarces, atenuações e racionalizações muito difícil de deslindar. Também é certo que seu diagnóstico depreciativo sobre o mundo em torno pode ser, em si mesmo, objetivamente verdadeiro, sendo falso apenas o lugar e a função que ocupa na sua alma, já que a degradação do mundo lhe aparece, por vezes ao menos, como uma espécie de contraprova de suas próprias qualidades excelsas7.

    Não raro o doente alia-se a outros jovens imbuídos do mesmo sentimento, em busca de apoio e confirmação de suas queixas contra o mundo. A comunidade de sentimentos e a repetição das queixas, criando uma atmosfera de comprovação intersubjetiva, parece dar consistência real ao diagnóstico distorcido e subjetivista que cada um dos membros do grupo faz quanto ao estado do mundo, legitimando seu discurso contra a mediocridade e grosseria das pessoas “de fora”. “Estar dentro” do grupo é então sinal de uma espécie de eleição, a prova de uma qualidade excelsa e incomunicável. O sentimento de ter acesso a algo misterioso, profundo, especial, pode exacerbar a exaltação imaginativa ao ponto de provocar uma verdadeira ruptura com a realidade ambiente, incapacitando o indivíduo para o cumprimento dos deveres sociais mais elementares8. Quando a exaltação imaginativa chega a efeitos tão profundos, é que o doente já se encontrava à beira de um colapso intelectual e social, contra o qual provavelmente terá sido advertido pelos pais, por amigos, ou por uma infinidade de sinais diretos e indiretos. Estes sinais, por sua vez, aguçam a sensação de estar afundando no completo isolamento e na impotência; e o pressentimento de abandono, às vezes mesmo de loucura e morte, contrasta tão dolorosamente com os primeiros vôos de exaltação imaginativa, que o doente é então tentado a buscar às pressas, como tábua de salvação, algum tipo de reintegração forçada no mundo que desprezava9. Como, porém, isto implicaria a humilhação de voltar atrás nas críticas e a renúncia à independência afetada, a mente só consegue a reintegração forçada mediante o artifício de operar uma inversão de valores: ao invés de abandonar somente a atitude de auto-exaltação, passando a uma postura de humildade perante o ideal, ela vai, ao contrário, desidentificar-se do ideal para poder abandoná-lo sem perder o sentimento de sua própria superioridade. Conserva, assim, sua auto-exaltação, mas sob uma forma destituída de conteúdo pretensamente idealístico, e revestida, agora, de uma pose de “realismo” terra-a-terra, e não raro de maquiavelismo, carreirismo profissional, cinismo, materialismo, etc. É a esta atitude que Diel denomina banalização.

    A inversão banalizante só pode ocorrer mediante uma mutação súbita, longamente preparada no subconsciente. O processo é bem conhecido e foi descrito por Pavlov, muito antes de Diel, no que toca às suas bases neurofisiológicas. O acúmulo de contradições necessário para sustentar uma posição existencial artificiosa e falsa leva à proliferação de tensões contraditórias e produz situações novas, incompreensíveis, que ultrapassam a capacidade de resposta racional e as habilidades de adaptação do organismo. Quebram-se, assim, inúmeras cadeias de reflexos condicionados que constituíam a base subconsciente do comportamento, e o homem se vê num estado de indeslindável confusão. A inversão súbita de valores pode então sobrevir, porque, segundo demonstrou Pavlov, a “inibição prolongada dos reflexos adquiridos suscita angústia intolerável, da qual o sujeito se livra mediante reações opostas às suas condutas habituais. Um cão, por exemplo, se apegará ao funcionário do laboratório, que detestava, e tentará atacar o dono, de quem gostava”10. As tensões provenientes de vários lados, impondo ao cérebro “provas intoleráveis”, produz então uma inibição protetora que “desorganiza os reflexos adquiridos, destrói as suas camadas mais recentes e determina, no sujeito, o abandono de suas crenças”11. O conhecimento técnico deste mecanismo permitiu a sua utilização sistemática nos processos de lavagem cerebral e “reforma da opinião”, nos campos de prisioneiros da China e da União Soviética12. Porém, o mesmo fenômeno, atenuado ou disfarçado, observa-se disseminado na vida social contemporânea, graças ao abuso das pressões psíquicas da propaganda, da persuasão subliminar, dos exercícios psíquicos, das experiências psudomísticas. Sabe-se hoje que esta mutação pode afetar não somente este ou aquele grupo de crenças e atitudes, mas a personalidade total; o crescimento assombroso da incidência destes fenômenos, nos Estados Unidos, levou alguns psicoterapeutas a falar de uma “epidemia de mutações súbitas de personalidade”, que constitui talvez o mais grave capítulo de psicopatologia social conhecido na história do Ocidente13.

    A facilidade com que este processo se desencadeia, mesmo fora do cenário das seitas pseudomísticas e de toda experimentação de “poderes” psíquicos, pode ser explicada pelo fato de que, “quando o cérebro é submetido a tensões ainda mais fortes, a fase de inibição cerebral pode ser sucedida por uma fase paradoxal. Nesta, estímulos fracos e antes ineficientes podem causar respostas mais acentuadas do que estímulos mais fortes”14. ISto significa que basta uma fase de acúmulo tensional para que o processo de inversão possa seguir atuando no subconsciente, movido doravante por estímulos insignificantes e ocasionais. Então, “no terceiro estágio da inibição protetora, a fase ultraparadoxal, as respostas e o comportamento positivos começam, de repente, a se transformar em negativos, e os negativos em positivos”15. As mudanças de opinião nesta fase, e as justificativas aparentemente lógicas que o doente oferece a si mesmo e aos outros, não são senão o disfarce exterior de um processo que tem suas raízes numa sobrecarga de estimulação neuronal; são um “vestido de idéias” em torno de motivos reflexos, que permanecem subconscientes.

    Na banalização, o indivíduo amortece então sua sensibilidade para todas as deficiências, injustiças e feiúras que, no seu tempo de idealismo exaltado, lhe pareciam revoltantes e intoleráveis. É que antes ele via as feiúras somente no mundo exterior e, como não as enxergava em si mesmo, as condenava “desde cima”. Agora, ele as admite dentro de si; porém, como são suas e se identifica com elas, ele as defende como sinais de superioridade; não raro afeta uma atitude de soberano desprezo por aqueles nos quais se mantém viva a antiga sensibilidade moral; e, acusando-os de rancorosos, frustrados ou coisa assim, ele se compraz no seu novo estado de “homem ajustado” e — no seu entender — adulto. A banalização consiste neste nivelamento-por-baixo do sentimento moral e estético. Ela permite que o indivíduo adote, como normais e indiferentes, atitudes e opiniões que antes lhe pareciam imorais e desprezíveis. Não raro a mutação apaga blocos inteiros da memória, de modo que o indivíduo, para sustentar com alguma coerência o seu novo padrão de comportamento, chega a negar os fatos mais óbvios e patentes que presenciou. George Orwell, no seu romance 1984, descreve um caso em que, passando por este gênero de mutação, as testemunhas mesmas da inocência de um acusado depõem pela sua condenação. A mutação pode resultar então em total atomização do comportamento e acarretar, com a perda da integridade psíquica, a dissolução dos padrões morais mais elementares, produzindo o cinismo, a amoralidade, o descaramento, aliados, às vezes, a boas doses de autopiedade.

    Analisando os conceitos de Diel com os critérios de Caruso16, vemos que a neurose do idealista exaltado tem sua origem na soberba, pois o ego, ao identificar-se com a imagem do ideal, atribui a si mesmo, atual e efetivamente, qualidades que só lhe pertencem de modo virtual e por espelhismo. É uma forma de autolatria. Quando os teólogos dizem que a soberba é a raiz de todos os pecados, é isto o que eles têm em vista: o idealista exaltado corrompe o bem na sua própria raiz, corrompe-o na medida em que tem por ele um amor egoísta. Sto. Agostinho diz que “todos os vícios se apegam ao mal, para que se realize; só a soberba se apega ao bem, para que pereça”. A passagem da exaltação à banalização perfaz então a mudança, acarretando uma inversão total de valores, instalando o mal no lugar do bem. Na exaltação, os valores reais ainda são afirmados, apenas como uma localização falseada; na banalização, a negação dos valores é afirmada ela mesma como valor. A banalização é o momento mais grave do processo corruptivo. É claro que a alma doente só consegue operar esta transformação na medida em que não conscientiza todos os passos do processo e todas as implicações de seus atos e decisões, mas se enreda numa trama de racionalizações e sofismas, destinada a erguer ante seus próprios olhos um simulacro verossímil de inocência, no instante mesmo em que, traindo a vocação humana, trai o sentido da vida17.

    É interessante observar que, quando o doente vai da exaltação à banalização, ele passa a representar perante si mesmo o papel de homem realista e “maduro”, revestida de pose de segurança afetada, destinada a reforçá-lo no novo papel. Daí que ele seja o último a perceber que a sua aparente superação da revolta juvenil vem acompanhada, não de um acréscimo de equilíbrio e força, porém de um decréscimo das capacidades intelectuais e de uma degenerescência nervosa similar à que se vê na involução senil. De fato, uma das conquistas que assinalam uma evolução objetiva do homem na entrada da adolescência é a passagem dos sentimentos puramente egoístas e orgânicos às tendências ideais ou suprapessoais: nesta fase, “o indivíduo experimenta um sentimento de imperfeição, de insuficiência, trata de sair de si, de dar-se”18. A evolução da vida afetiva “segue a ordem que vai do simples ao complexo: necessidades, inclinações egoístas, inclinações ego-altruístas, inclinações altruístas, inclinações ideais”19. Porém, em certas enfermidades da evolução lenta, como a paralisia geral dos sifilíticos e também da degenerescência senil, observa-se um movimento inverso. Escreve Ribot : “A lei de dissolução consiste numa regressão contínua que desce do superior ao inferior, do complexo ao simples”20.

    “Em alguns enfermos — assinala Challaye — pode-se comprovar a desaparição momentânea das tendências ideais, altruístas, e mesmo ego-altruístas. Isto é comprovado sobretudo na maioria dos anciãos ( fora do caso, é claro, dos seres superiores, nos quais esta degenerescência sentimental pode não se produzir ). Sua vida afetiva se restringe cada vez mais. Os sentimentos impessoais são os primeiros que desaparecem. Logo em seguida, as diversas formas da simpatia; e as necessidades ( econômicas, orgânicas, etc. ) são as que subsistem por mais tempo. O ancião começa a preocupar-se menos com a ciência e a arte… torna-se menos generoso… as emoções que persistem maior tempo estão ligadas à conservação pessoal, à cólera e ao medo. Enfim, o ancião pode já não ter nada mais que necessidades ; ele recai no estado do menino pequeno”21.

    No homem banalizado, a nova sensibilidade que ele desenvolve pelo seu interesse material imediato, aliada ao temor da perda e ao crescente desinteresse pelos ideais, atestam, fora de toda dúvida, que aquilo que lhe parece ou que ele tenta fazer parecer uma superação é na verdade uma queda, uma degenerescência que se estende, até mesmo, ao domínio corporal.

    Do ponto de vista causal, entram em jogo, no processo de banalização, fatores endógenos e exógenos. Os endógenos — aqueles que já estão dados na alma do indivíduo no instante em que o processo se instala — são os fatores clássicos levados em conta pela análise psicológica corrente: tendências hereditárias, defeitos constitucionais, traumas de infância, falhas da educação, etc. De um lado, estes fatores não exercem senão um papel predisponente, que em nada pesa se não é valorizado pela interferência dos fatores exógenos; de outro lado, eles são bem conhecidos na literatura psicológica.

    Os fatores exógenos consistem, essencialmente, nos estímulos com que a sociedade em torno favorece ou desfavorece a manutenção dos ideais e a realização humana. Uma sociedade voltada para a busca de um ideal religioso, moral ou cultural universal, e dotada dos instrumentos educacionais capazes de viabilizar a realização humana de seus membros, produz, certamente, uma esplêndida floração de individualidades vigorosas e ricas que, por sua vez, contribuem para o progresso e o brilho da sociedade. A história atesta períodos assim brilhantes, como por exemplo, a Grécia de Péricles, a renascença escolástica dos séculos XII e XIII, a Idade de Ouro espanhola, a era elisabetana na Inglaterra, o Califado do Ocidente sob Harum-al-Raschid, e muitos outros. Em escala menor, pode haver curtos períodos de vigor moral e cultural mesmo em países pobres e isolados. O que quer que pensemos do conteúdo das idéias dominantes nestes períodos, o que importa é que neles o desenvolvimento da personalidade é realmente favorecido. Nem sempre esses períodos coincidem com épocas de riqueza e progresso material; o que os caracteriza não é a riqueza, mas o fato de que neles as tarefas econômicas são inseridas e transfiguradas no quadro maior dos fins e valores éticos ou religiosos que orientam a vida social como um todo.

    Quando, ao contrário, a sociedade perde de vista os valores e princípios universais e se emaranha na busca obsessiva de soluções para problemas econômicos imediatos, estes parecem não somente multiplicar-se no campo dos fatos, mas invadir as almas dos indivíduos, ocupando todo o espaço que poderia ser dedicado aos valores ideais. Automaticamente, os indivíduos refluem as suas energias para a busca de interesses que são conflitantes com os de outros indivíduos e grupos — com os quais somente os valores ideais poderiam estabelecer uma base de colaboração — e a sociedade se dispersa numa atomização que pode beirar a anarquia, a guerra de todos contra todos, a deslealdade generalizada. É evidente que, neste caso, os instrumentos para a realização da vocação humana simplesmente desaparecem do cenário social, com o que justamente as pessoas de maior sensibilidade ética, não encontrando vias de realização, passam a constituir uma horda de fracassados e desajustados. É nessa horda que os falsos ideais, criados de improviso para atender a interesses de grupos ou organizações, encontram seus mais fervorosos recrutas, oferecendo-lhes uma miragem de valores e uma falsa promessa de ajustamento social e de participação.

    A situação torna-se ainda mais grave em Estados totalitários ou pré-totalitários, quando a mobilização de massas inteiras da população para colaborar na “solução” de problemas econômicos recorre ao expediente de tentar sintetizar, em proveito dos fins do Estado ou das forças políticas que o disputam, as duas correntes de força tendentes à exaltação imaginativa e à banalização. As tendências idealísticas são canalizadas em movimentos de massa — seja de caráter abertamente político, seja pseudomístico ou pseudocultural —, ao mesmo tempo que as promessas de sucesso na vida social e profissional postas em circulação pelos planejadores da operação garantem um eficaz retorno das tendências de banalização em proveito dos mesmos objetivos.

    Isto se observou não somente nos Estados descaradamente totalitários, como a URSS e a Alemanha nazista, mas também em todo o mundo Ocidental. As ligações, hoje em dia patentes, entre certas seitas pseudomísticas e organizações multinacionais mostra que a sociedade moderna tem um de seus principais esteios numa complexa máquina de “reciclagem” do idealismo juvenil, que esta máquina primeiro perverte pelo incentivo à exaltação ( mediante lisonjas às aspirações artísticas, políticas e espirituais mais descabidas ) e depois reverte no sentido de um enquadramento social banalizado. O caso mais eloquente é o do jovem filho de banqueiro que abandona a mediocridade do materialismo familiar para ingressar no “ensinamento espiritual” de Rajneesh, e depois é reenquadrado “por baixo” ao ser mobilizado para trabalhar na gigantesca empresa de limpeza de sedes de bancos, de propriedade do mesmo Rajneesh. O número destes mecanismos circulares em operação na nossa sociedade é muito elevado. Eles operam de maneira ubíqua e sorrateira, primeiro excitando, lisonjeando, pervertendo, depois desviando, reciclando e reaproveitando para seus próprios fins todos os ideais juvenis, mesmo os que lhes são mais hostis em aparência. É evidente que, nestas circunstâncias, um simulacro de auto-realização tende a oferecer uma falsa alternativa de solução para o conflito entre as tendências de exaltação e banalização. A alma, colocada sob a pressão esmagadora e multilateral das forças que, pela lisonja ou pela acusação, pelas promessas ou ameaças, a comprimem e a dilatam, ora para a exaltação imaginativa, ora para o ajustamento banalizado, pode agarrar-se a este simulacro, com toda a fúria e o desespero de um náufrago. Numa sociedade empobrecida, fortemente empenhada em reduzir à proletarização a totalidade dos seus membros e na qual, ademais, todos os instrumentos de defesa espiritual e religiosa foram substituídos pelas multinacionais da pseudomística e todos os instrumentos de defesa cultural pelo vozerio onipresente e obsedante das comunicações de massa, nesta sociedade, o drama acima descrito atinge um máximo de intensidade que deixa entrever nada menos que um desenlace trágico, com a desumanização brutal da população e a redução da vida social a um jogo cego de interesses mesquinhos em disputa, ocultamente orquestrado e dirigido, desde o topo, por um sinistro grupo de planejadores sociais.

    Por todos os meios, esta sociedade espremerá como entre os dois dentes de um alicate todos os talentos e ideais nascentes, até esmagá-los e subjugá-los à bestialidade dominante.

    No entanto, apesar das pressões maciças e de todos os atrativos corruptores, a inteligência humana, por sua natureza mesma, continua essencialmente livre e capaz de objetividade e universalidade. E se é fato que “chegará o momento em que cada um, sozinho, privado de todo contato material que possa ajudá-lo em sua resistência interior, terá de encontrar em si mesmo, e só nele mesmo, o meio de aderir firmemente, pelo centro de sua existência, ao Senhor de toda Verdade”22, não é menos verdade que está somente nas mãos de cada qual dizer a este mundo sedutor e ameaçador: Latrare potest, mordere non potest, nisi volentem: “Podes latir, mas não podes morder, a não ser que eu o deseje”. Mesmo as pressões mais formidáveis que o universo concentracionário impõe à alma humana, na mais temível das tiranias já conhecidas, não eximem o homem de sua responsabilidade individual.

    Todos aqueles em quem ainda reste um grão de consciência das metas reais e superiores da existência humana têm o dever imediato e indeclinável de estudar, conhecer e desmascarar os mecanismos do processo corruptor aqui descrito, para escapar aos falsos conflitos em que ele nos joga e às falsas alternativas que ele nos oferece.

    NOTAS

    1. Challaye, La Evolución, la Espiritualización y la Socialización de las Tendencias, em G. Dumas, Nuevo Tratado de Psicología, trad. Alfredo D. Calcagno, Buenos Aires, Kapelusz, 1956, tomo VI. Cap. III, p. 76.
    2. Sobre aimportância psicopedagógica do ideal, v. L. Riboulet, Rumo à Cultura, trad. Maurice Teisseire e Antonio Fraga, Porto Alegre, Globo, 2a. ed., 1960, Cap. I.
    3. Igor A.Caruso, Análisis Psíquico y Sintesis Existencial, trad. Pedro Meseguer, S.J., Barcelona, Herder, 1954, Cap. II.
    4. MauricePradines, Traité de Psychologie Générale, 3e. éd., Paris, P.U.F., 1948, t.I, I-1.
    5. Paul Diel,La Divinité. Étude Psychanalytique, Paris, P.U.F., 1950, e sobretudo Le Symbolisme dans la Mythologie Grecque, Paris, Payot, 1966.
    6. Não épreciso dizer que esse sentimento é fartamente explorado pelos aproveitadores de toda sorte: o desejo de aprovação torna o jovem particularmente vulnerável à lisonja, e a adulação hipócrita da revolta juvenil é hoje um dos pilares da política e do comércio.
    7. É interessantecomparar isto com o tema da “revolta degradada contra um mundo degradado”, assinalado por Lukács e Goldmann no romance do século XIX, onde aparece toda uma galeria de jovens exaltados, como Raskolnikoff ( Crime e Castigo ), Julien Sorel ( O Vermelho e o Negro ), Lucien de Rubembré ( Ilusões Perdidas ). , a respeito, Lucien Goldmann, Pour une Sociologie du Roman, Paris, Gallimard, 1964.
    8. Muito doatrativo da escola Gurdjieff, neste sentido, reside no ambiente de “secretude quase beatífica” em que se envolvem os ensinamentos do mestre, como bem assinalou Whitall N. Perry ( Gurdjieff in the Light of Tradition, Bedfont, Perennial Books, 1978 ). As escolas gurdjieffianas e afins têm toda uma requintada tecnologia para esta finalidade.
    9. Do mesmomodo, várias seitas pseudomísticas, como veremos adiante, têm meios de canalizar em proveito próprio estes impulsos de rejeição do idealismo.
    10. OlivierReboul, A Doutrinação, trad. rev. Heitor Ferreira da Costa, São Paulo, Nacional, 1980, p.88.
    11. William Sargant,apud Reboul, loc. cit..
    12. ibid.
    13. FloConway and Jim Siegelman, Snapping — America’s Epidemic of Sudden Personality Changes, New York, Delta Book, 1979, principalmente caps. 1, 9, 10, 11 e 12.
    14. William Sargant,A Possessão da Mente. Uma Fisiologia da Possessão, do Misticismo e da Cura pela Fé, trad. Klaus Scheel, Rio, Imago, 1975, p. 25.
    15. ibid.
    16. Caruso, loc.
    17. Uso aexpressão “sentido da vida” não num sentido vago e poético, mas na acepção rigorosa que lhe dá Viktor Frankl em The Will to Meaning, New York, New American Library, 1970.
    18. Challaye, op., p. 77.
    19. Théodule Ribot,Psychologie des Sentiments, cit. em Challaye, op. cit., p. 78.
    20. Ribot, loc.
    21. Challaye, loc.
    22. c., “Quelquesremarques sur l’oeuvre de René Guénon”, em Études Traditionnelles, 52e. Année, 1951, ns. 293-294-295, p. 307.

     

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    As ideias dos náufragos

    PHVOX - Análises geopolíticas e Formação
    As ideias dos náufragos
    Para Ortega y Gasset importam apenas as ideias dos náufragos exatamente porque a realidade deles é a mais crítica e a mais limitada. A razão para imitá-las é o fato de serem ideias de alguém em uma situação extrema, portanto, vital.

    Em oposição ao abstracionismo da ciência, que recorta a realidade e purifica-a das incongruências práticas, sendo assim sempre muito coerente e lógica, Ortega opõe o mundo real, que, apesar de confuso, incerto e variável, constitui a verdadeira vida.

    Aquilo que a ciência trata é um artifício, uma ficção, uma analogia. A realidade mesma está onde as teses são contestáveis, as teorias sofrem oposição e há elementos ocultos direcionando as coisas — no mundo real.

    A vida real não é tão harmonizada como as pessoas gostariam e, por isso, elas criam quadros imaginativos onde tudo se encaixa. Nossos sistemas de governo, arcabouços jurídicos e modelos sociais não são mais que artificialidades frágeis que acreditamos ser reais e estabilizadas.

    Para superar o estado hipnótico em que se encontra, o homem precisa entender e assumir que seu mundo criado pela técnica é uma ilusão e aceitar o caos, que é o estado natural e essencial das coisas.

    Encarar a vida de frente, com coragem, e não se refugiar no universo fantasmagórico das ideias abstratas é o que esclarece a mente. A consciência do caráter problemático da vida e a aceitação de que se está perdido é o início da iluminação.

    O náufrago, diante do caos que se encontra e da limitação que lhe é imposta, começa a ordenar sua vida a partir daquilo que lhe está disposto. Com isso, é forçado a ser sincero, a encarar tudo com absoluta honestidade. Não há nele espaço para a farsa, para a afetação e para a pose. Não lhe cabe perder-se em sutilezas vãs e especulações estéreis.

    As ideias dos náufragos são as que importam porque estão libertadas do fingimento e da enganação. Nelas, só sobrevive aquilo que realmente precisa ser considerado, aquilo que é vital.


    Explicação de um portugês sobre o "c" em actor

    Aprenda com esse português como é que se diz "principais tetas", se é que há tetas secundárias ou inferiores. 🤔 pic.twitter.com/E...