quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sua aula na telinha

Maio 2003


Índice da edição 162 - mai/2003

O desempenho do professor melhora quando ele assiste às próprias aulas gravadas e as analisa com a ajuda da coordenação e dos colegas
Ricardo Falzetta


Gustavo Lourenção


Há um ano, a professora Leila Fátima Piacesi Barbosa, da Escola Municipal de Educação Infantil Professora Norma Lúcia, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, separava os alunos em duplas durante a realização de algumas atividades. A estratégia era utilizada apenas para facilitar a organização da sala. Hoje ela sabe que as duplas podem ser formadas de modo mais produtivo. "Reúno os que têm conhecimentos complementares. Assim eles trocam informações entre si", explica.

Essa simples mudança na dinâmica da aula — de inestimável riqueza pedagógica — foi adotada por Leila depois que uma de suas aulas foi gravada em vídeo e discutida com a coordenação pedagógica e o restante da equipe. A sugestão sobre as duplas veio das próprias colegas. Leila participa desse processo de formação continuada em serviço há dois anos. "Quando me vejo na TV me distancio e reflito sobre a minha prática", analisa. "O mesmo acontece quando outros educadores assistem à minha aula e fazem perguntas."

Teoria

No livro Vídeo e Educação, o educador espanhol Joan Ferrés explica que quando gravamos nossa imagem nos vemos como somos vistos, nos descobrimos com os outros nos vêem. "Vejo-me para me compreender. O fato de ver-me e de escutar-me leva a uma tomada de consciência de mim mesmo, de minha imagem, do som da minha voz, da qualidade e da quantidade de meus gestos, de minha postura, de minha maneira de ser", explica. O processo de formação docente com base na análise de aulas em vídeo, chamado de tematização da prática, oferece idéias e conceitos que podem ser aplicados na sala de aula. Toda ação didática traz em si uma teoria sobre o conteúdo a ser ensinado, sobre o processo de aprendizagem e sobre a natureza dos procedimentos de ensino. Por isso é tão importante pensar sobre a prática, em vez de procurar por fórmulas prontas.

Dominando a tecnologia

Divulgação

Nos últimos anos o aparelho de videocassete se popularizou e chegou a boa parte das escolas do país. Segundo dados de 2001 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), 66% dos estudantes matriculados no Ensino Fundamental tinham acesso a uma sala de vídeo. E o preço das filmadoras também tem se reduzido. Se a escola não possui o equipamento, é possível consegui-lo emprestado na secretaria de educação ou com algum membro da equipe escolar.

Para que a fita possa ser analisada é preciso respeitar um mínimo de condições técnicas. As câmeras amadoras, de maneira geral, possuem microfone que capta o som ambiente. Por isso, evite ligar ventiladores ou refrigeradores de ar durante o trabalho em sala de aula.

Como o recurso de edição de imagens não é dos mais simples e acessíveis, a gravação deve ser interrompida quando for preciso ressaltar algum detalhe. Depois que o objeto foi enquadrado, a aula é retomada.

Como fazer

Antes de começar a filmar aulas é necessário uma preparação. O vídeo, num primeiro momento, intimida a maioria das pessoas. Se ainda por cima a equipe não tiver planejado exatamente o que pretende ao utilizar esse recurso, a iniciativa pode ser desastrosa.

O trabalho começa com a definição da atividade que será registrada. "No nosso caso, os temas são definidos de acordo com o que estamos estudando nas reuniões pedagógicas", afirma Laudicéa de Barros Leite Pereira, coordenadora pedagógica de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de São José dos Campos. É possível também que os professores sugiram uma atividade na qual apresentem alguma dificuldade.

Definido o tema, o melhor caminho é deixar que alguém se candidate, voluntariamente, a ter sua aula gravada. Os alunos devem ser sempre informados sobre o objetivo da filmagem. Feito o registro, o voluntário produz o chamado relatório reflexivo. Nele especifica o objetivo da aula, o conteúdo que pretendeu ensinar e os procedimentos adotados. No final, analisa se conseguiu ou não atingir as metas e que dúvidas tem sobre sua prática.

A fita deve ser vista, em primeiro lugar, pela coordenação pedagógica e por quem foi filmado. Novos questionamentos são registrados e, sempre em concordância com o protagonista, o material é apresentado aos demais educadores. A relação de confiança entre coordenação e equipe docente, portanto, é um ponto essencial.

Na prática

Hora de refletir e aprender: Leila discute sugestões das colegas e da coordenação

Você vai responder:

os objetivos de aprendizagem foram atingidos?

em que teoria sua prática foi baseada?

que soluções a própria teoria oferece para os problemas enfrentados nesse tipo de atividade?

poderia fazer diferente?

Lembre-se:

nunca encare as falas de seus colegas e da coordenação como uma avaliação pessoal. O que está sendo analisado é o trabalho;

sua aula gravada — e analisada — transforma-se num precioso material de formação para todo o grupo.

Quer saber mais?

Escola Municipal de Educação Infantil Professora Norma Lúcia, R. Flor-de-Lis, 133, 12247-560, São José dos Campos, SP, tel. (0_ _12) 3905-2099

BIBLIOGRAFIA

O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem, Telma Weisz, 133 páginas, Ed. Ática, tel. (0_ _11) 3346-3000, 19,90 reais

Vídeo e Educação, Joan Ferrés, 156 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444 (disponível só em bibliotecas)


Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0162/aberto/mt_245410.shtml

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