A FARSA DA INDÚSTRIA DE AUTO-AJUDA
“A mentirosa indústria de conselhos cresce e porque as mentes das pessoas não crescem junto?”Por Elenilson Nascimento
Cada dia mais as pessoas compram livros de auto-ajuda, sobre bons comportamentos, de como conseguir um marido ou esposa perfeitos, como fazer loucuras na cama, perfil profissional adequado e mundo sustentável, mas mesmo assim não se percebe uma alteração de comportamento plausível por esses leitores. E, antes que alguém apareça aqui para dizer que eu sou mal amado, no decorrer desse post, por exemplo, estarei colocando algumas “mensagens positivas de auto-ajuda” para você também ficar muito feliz, bater palminhas, pular, se sentir melhor neste mundo caótico e erguer as mãos aos céus.
“Se não puder se destacar pelo talento, vença pelo esforço”, essa pérola é de Dave Weinbaum. Mas tem também as anônimas clássicas: “Não busque boas aparências, elas podem mudar. Só precisamos de um sorriso para transformar um dia ruim”; “O melhor amigo é aquele com quem nos sentamos por longas horas, sem dizer uma palavra, e ao deixá-lo, temos a impressão de que foi a melhor conversa que já tivemos na vida”; “Quando a porta da felicidade se fecha, outra porta se abre. Porém, estamos tão presos àquela porta fechada que não somos capazes de ver o novo caminho que se abriu”. Ou então: “Viva de maneira que sua presença não seja notada, mas que sua ausência seja sentida”.
Dizer que esses livros são ruins é como bater na mesma tecla e ninguém se incomodar. Eu até tenho alguns deles em casa, como “Pés no Chão e Cabeça nas Estrelas” e outros do Lair Ribeiro (*porque eu ganhei viu!), “Desperte o Gigante Interior” de Anthony Robbins e alguns mais do bruxo midiático Paulo Coelho, mas, hoje, eles estão lá somente para preencher espaços na minha estante. Ficar repetindo frases do tipo: “Voltar atrás é melhor que perder-se no caminho” ou mentalizar que dinheiro nasce em árvores é meio que constrangedor e uma ofensa para a minha inteligência.
Alguns desses autores teimam ainda em justificar suas opiniões limitadas com frases batidas de famosos, como por exemplo: “As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar”, do Leonardo DaVinci; “A felicidade não está em viver, mas em saber viver. Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive” de Mahatma Gandhi; “A diferença entre o possível e o impossível está na vontade humana” de Louis Pasteur; “Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que palavras” de Shakespeare; ou mesmo, “As vezes é preciso parar e olhar para longe, para podermos enxergar o que está diante de nós” do ex-presidente John Kennedy. Fico imaginando que daqui a algum tempo vão usar as frases típicas do Lula também: “Não é mérito, mas, pela primeira vez na história da República, a República tem um presidente e um vice-presidente que não têm diploma universitário. Possivelmente, se nós tivéssemos, poderíamos fazer muito mais".
Esse livros de auto-ajuda são produtos semiculturais cujo conteúdo é invariavelmente pontuado por frases feitas e histórias sem profundidade que beiram o risível. Apesar dessas características, essas obras não apenas passeiam com frequência pelas mãos de educadores brasileiros, como orientam vários de seus pensamentos e atividades pedagógicas. E as pessoas consomem esses livrinhos ordinários como se consumissem bens diversos: compram por modismos os best-sellers divulgados em listinhas encomendadas de revistas semanais e dessa forma sentem-se inseridas na intelectualidade das pessoas cultas. Uma pena!
E, dessa forma, as pessoas se perdem na imensidão do mar de conhecimentos vazios e de pseudo-ensinamentos e acabam, por fim, perdendo a percepção do que é realmente interessante para si. E já que são de conselhos que se vive o homem, aqui vai mais alguns típicos: “Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”; “A vida é para quem topa qualquer parada, e não para quem pára em qualquer topada”; “Conseguir um amigo é uma graça, mantê-lo é um dom e amá-lo é uma virtude” e essa agora é do Albert Einstein: “O único lugar onde o sucesso vem antes que o trabalho é no dicionário”.Se as pessoas menosprezassem o conhecimento comum de todos, o gosto duvidoso e muito popular, se as pessoas valorizassem mais o conhecimento pessoal, a leitura de si mesmas, talvez, eu disse talvez, elas fossem mais felizes. Grandes pessoas não leem só aquilo que é de gosto popular, mas, são sim grandes pessoas por adentrar no seu universo particular e experimentar aquilo que não vem dos outros mas de si próprias. Isso é opinião! Isso são escolhas! Isso é inteligência! Mas isso também significa não ignorar aquilo que é comum a todos, mas desconfiar, e muito, daquilo que a todos agradam, mas que não deve ser tratado como algo tão relevante.
Mas se você é do tipo que não concorda com as coisas que eu escrevo, mas que não vive sem dar uma “espiadinha” no blog, então copie mais algumas dessas frases: “Prefiro os que me criticam, pois ajudam a me corrigir, mas àqueles que me bajulam perpetuando meus erros” de Santo Agostinho; “Quando fizeres algo nobre e belo e ninguém notar, não fique triste. Pois o sol toda manhã faz um lindo espetáculo e, no entanto, a maioria da plateia ainda dorme…” de John Lennon; e também a otimista até dizer chega: “Todo meu patrimônio são meus amigos” de Emily Dickinson.
Essa mesma constatação que eu fiz aqui também foi feita, em tom muito mais crítico, pelo filósofo e consultor em educação Arquilau Moreira Romão, que defendeu recentemente a tese de doutorado “Filosofia, educação e esclarecimento: os livros de auto-ajuda para educadores e o consumo de produtos semiculturais”. Em uma entrevista, o autor do trabalho acadêmico, falou das principais características dessas publicações, dos interesses que estão por trás delas e de como esses textos prestam o que considera um desserviço ao exercício da reflexão e ao desenvolvimento do espírito crítico. Agora, clique também abaixo e ouça o filósofo, psicanalista e escritor Luiz Felipe Pondé (foto ao lado) – autor de “Crítica e Profecia, A Filosofia da Religião em Dostoiévski” – falar sobre a farsa da indústria dos livros de auto-ajuda.
podcast: Portal da Metrópole
fotos: reprodução
Cada dia mais as pessoas compram livros de auto-ajuda, sobre bons comportamentos, de como conseguir um marido ou esposa perfeitos, como fazer loucuras na cama, perfil profissional adequado e mundo sustentável, mas mesmo assim não se percebe uma alteração de comportamento plausível por esses leitores. E, antes que alguém apareça aqui para dizer que eu sou mal amado, no decorrer desse post, por exemplo, estarei colocando algumas “mensagens positivas de auto-ajuda” para você também ficar muito feliz, bater palminhas, pular, se sentir melhor neste mundo caótico e erguer as mãos aos céus.
“Se não puder se destacar pelo talento, vença pelo esforço”, essa pérola é de Dave Weinbaum. Mas tem também as anônimas clássicas: “Não busque boas aparências, elas podem mudar. Só precisamos de um sorriso para transformar um dia ruim”; “O melhor amigo é aquele com quem nos sentamos por longas horas, sem dizer uma palavra, e ao deixá-lo, temos a impressão de que foi a melhor conversa que já tivemos na vida”; “Quando a porta da felicidade se fecha, outra porta se abre. Porém, estamos tão presos àquela porta fechada que não somos capazes de ver o novo caminho que se abriu”. Ou então: “Viva de maneira que sua presença não seja notada, mas que sua ausência seja sentida”.
Dizer que esses livros são ruins é como bater na mesma tecla e ninguém se incomodar. Eu até tenho alguns deles em casa, como “Pés no Chão e Cabeça nas Estrelas” e outros do Lair Ribeiro (*porque eu ganhei viu!), “Desperte o Gigante Interior” de Anthony Robbins e alguns mais do bruxo midiático Paulo Coelho, mas, hoje, eles estão lá somente para preencher espaços na minha estante. Ficar repetindo frases do tipo: “Voltar atrás é melhor que perder-se no caminho” ou mentalizar que dinheiro nasce em árvores é meio que constrangedor e uma ofensa para a minha inteligência.
Alguns desses autores teimam ainda em justificar suas opiniões limitadas com frases batidas de famosos, como por exemplo: “As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar”, do Leonardo DaVinci; “A felicidade não está em viver, mas em saber viver. Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive” de Mahatma Gandhi; “A diferença entre o possível e o impossível está na vontade humana” de Louis Pasteur; “Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que palavras” de Shakespeare; ou mesmo, “As vezes é preciso parar e olhar para longe, para podermos enxergar o que está diante de nós” do ex-presidente John Kennedy. Fico imaginando que daqui a algum tempo vão usar as frases típicas do Lula também: “Não é mérito, mas, pela primeira vez na história da República, a República tem um presidente e um vice-presidente que não têm diploma universitário. Possivelmente, se nós tivéssemos, poderíamos fazer muito mais".
Esse livros de auto-ajuda são produtos semiculturais cujo conteúdo é invariavelmente pontuado por frases feitas e histórias sem profundidade que beiram o risível. Apesar dessas características, essas obras não apenas passeiam com frequência pelas mãos de educadores brasileiros, como orientam vários de seus pensamentos e atividades pedagógicas. E as pessoas consomem esses livrinhos ordinários como se consumissem bens diversos: compram por modismos os best-sellers divulgados em listinhas encomendadas de revistas semanais e dessa forma sentem-se inseridas na intelectualidade das pessoas cultas. Uma pena!
E, dessa forma, as pessoas se perdem na imensidão do mar de conhecimentos vazios e de pseudo-ensinamentos e acabam, por fim, perdendo a percepção do que é realmente interessante para si. E já que são de conselhos que se vive o homem, aqui vai mais alguns típicos: “Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”; “A vida é para quem topa qualquer parada, e não para quem pára em qualquer topada”; “Conseguir um amigo é uma graça, mantê-lo é um dom e amá-lo é uma virtude” e essa agora é do Albert Einstein: “O único lugar onde o sucesso vem antes que o trabalho é no dicionário”.Se as pessoas menosprezassem o conhecimento comum de todos, o gosto duvidoso e muito popular, se as pessoas valorizassem mais o conhecimento pessoal, a leitura de si mesmas, talvez, eu disse talvez, elas fossem mais felizes. Grandes pessoas não leem só aquilo que é de gosto popular, mas, são sim grandes pessoas por adentrar no seu universo particular e experimentar aquilo que não vem dos outros mas de si próprias. Isso é opinião! Isso são escolhas! Isso é inteligência! Mas isso também significa não ignorar aquilo que é comum a todos, mas desconfiar, e muito, daquilo que a todos agradam, mas que não deve ser tratado como algo tão relevante.
Mas se você é do tipo que não concorda com as coisas que eu escrevo, mas que não vive sem dar uma “espiadinha” no blog, então copie mais algumas dessas frases: “Prefiro os que me criticam, pois ajudam a me corrigir, mas àqueles que me bajulam perpetuando meus erros” de Santo Agostinho; “Quando fizeres algo nobre e belo e ninguém notar, não fique triste. Pois o sol toda manhã faz um lindo espetáculo e, no entanto, a maioria da plateia ainda dorme…” de John Lennon; e também a otimista até dizer chega: “Todo meu patrimônio são meus amigos” de Emily Dickinson.
Essa mesma constatação que eu fiz aqui também foi feita, em tom muito mais crítico, pelo filósofo e consultor em educação Arquilau Moreira Romão, que defendeu recentemente a tese de doutorado “Filosofia, educação e esclarecimento: os livros de auto-ajuda para educadores e o consumo de produtos semiculturais”. Em uma entrevista, o autor do trabalho acadêmico, falou das principais características dessas publicações, dos interesses que estão por trás delas e de como esses textos prestam o que considera um desserviço ao exercício da reflexão e ao desenvolvimento do espírito crítico. Agora, clique também abaixo e ouça o filósofo, psicanalista e escritor Luiz Felipe Pondé (foto ao lado) – autor de “Crítica e Profecia, A Filosofia da Religião em Dostoiévski” – falar sobre a farsa da indústria dos livros de auto-ajuda.
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fotos: reprodução
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