quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Consciência fonológica e relação com a aprendizagem da leitura e da escrita

Consciência fonológica: relação com a aprendizagem 

Consciência fonológica e relação com a aprendizagem da leitura e da escritada leitura e da escrita



Conheça a evolução das capacidades e reações auditivas do seu bebé desde que nasce até aos 4 anos de idade.
Fotografia: MyFrame

Consciência fonológica

  • O que é?
  • Como se desenvolve?
  • Qual a sua importância?​​
  • Qual a relação com a leitura e a escrita?

Desde o nascimento, o bebé está exposto a uma grande variedade de estímulos sonoros, necessitando de um sistema auditivo e neurológico íntegro para ser capaz de receber, percecionar, discriminar e processar os sons (Sim-Sim, 1998).
 
  • Inicialmente, o recém-nascido começa por assustar-se perante um som muito forte
  • Aos 3 meses, responde à voz ou som suave
  • Dos 3 aos 6 meses, orienta a cabeça para a voz da mãe e em direção a uma fonte sonora

Progressivamente, a criança desenvolve discriminação auditiva, definida como a capacidade para detetar a presença do som e distingui-lo de outro diferente (Sim-Sim, 1998). O bebé começa a reagir preferencialmente a sons da voz humana, a reconhecer e distinguir vozes, particularmente a da mãe, e mais tarde, é capaz de distinguir sons (ex: “ba” ≠ “pa”).
 
  • Dos 9 meses aos 13 meses, a criança compreende o significado de sequências de sons em contexto, começando a responder a questões do tipo “Onde está o cão?” ou “Dá a bola”
  • Por volta dos 36 meses de idade, a criança é capaz de discriminar todos os fonemas da sua língua, iniciando o desenvolvimento da consciência fonológica
  • Por volta dos 3-4 anos a criança discrimina os sons da respectiva língua materna e apresenta sensibilidade às regras fonológicas da mesma


O que é e qual a importância da consciência fonológica?

A consciência fonológica refere-se a uma capacidade metalinguística para identificar e manipular os fonemas ou sons que constituem a língua materna.
Representa uma capacidade complexa em que a criança começa a identificar e a refletir que o discurso é constituído por um conjunto de frases, e que estas podem ser segmentadas em palavras, as palavras em sílabas e as sílabas em unidades mínimas, ou seja, os fonemas (Freitas, Alves e Costa, 2007).

Segundo Suehiro (2008 cit in Ferraz, 2011), a consciência fonológica pode ser dividida em três capacidades que operam ao nível da:
  • Rima e da aliteração (repetição da mesma sílaba ou fonema no início da palavra)
  • Sílaba (consciência silábica)
  • Fonema (consciência fonémica)


Em termos de fases de desenvolvimento:

  • Dos 3 aos 4 anos, a criança identifica rimas e aliterações
  • Aos 4 anos, realiza a divisão silábica de palavras com 2/3 sílabas
  • Por volta dos 5 anos de idade, começa a operar ao nível do fonema, identificando sons em palavras
  • Aos 6 anos, a criança é capaz de realizar a maioria das atividades, embora persistam algumas lacunas relativas à consciência fonémica que só serão colmatadas aquando da aprendizagem daleitura e da escrita (Ferraz, 2011)

O desenvolvimento da consciência fonológica encontra-se intimamente relacionado com aaprendizagem da leitura e da escrita, pelo que se salienta a importância de promover estas competências até à entrada no 1ºciclo, como forma de prevenir dificuldades futuras no processo de aprendizagem da associação grafema-fonema (leitura) e fonema-grafema (escrita) (Sim-Sim, 1998).
No entanto, nem todas as crianças têm a oportunidade de adquirir e desenvolver estas competências, ocorrendo lacunas significativas que poderão passar despercebidas ao nível do pré-escolar, sendo identificadas tardiamente aquando do ingresso no 1ºciclo de escolaridade. É nesta altura que podem emergir as perturbações ao nível da leitura e da escrita que assumem repercussões a variados níveis, nomeadamente no sucesso académico, na motivação pela realização das tarefas escolares e das aprendizagens académicas, na socialização e na aceitação dos pares.

Assim sendo, recomenda-se que pais, cuidadores, educadoras de infância e demais profissionais que acompanham a criança estejam sensíveis para um conjunto de sinais de alerta, a fim de que o encaminhamento e a atuação por parte do terapeuta da fala surjam o mais precocemente possível e, principalmente, antes do ingresso no 1º ano de escolaridade.


Sinais de alerta:

Pré- Escolar:
  • Fala tardia
  • Linguagem “à bebé” persistente
  • Palavras mal pronunciadas para além do esperado para a idade
  • Dificuldade em acompanhar e decorar canções, rimas e lengalengas
  • História familiar de fala tardia ou alterações ao nível da linguagem e/ou da fala

1º Ano de escolaridade:
  • Dificuldade em discriminar os sons da língua (ex: quando a criança ouve “faca” e “vaca”, não identifica diferenças)
  • Dificuldade na divisão silábica e fonémica
  • Dificuldade em associar as letras aos seus sons e vice-versa (ex: a letra F lêse “éfe”)
  • Dificuldade na leitura de sílabas e palavras, sobretudo palavras novas ou mais complexas
  • Dificuldade na escrita (erros de escrita)


Referências bibliográficas

  • Ferraz, I. P. R. (2011). Consciência Fonológica - Uma competência linguística fundamental na transição do Pré-Escolar para o 1º Ciclo do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado, Universidade da Madeira, Portugal.
  • Freitas, M. J., Alves, D. & Costa, T. (2007). O conhecimento da língua: desenvolver a consciência linguística. Lisboa: Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
  • Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da linguagem. Lisboa: Universidade Aberta.
     
Lúcia Magalhães - Terapeuta da Fala

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