segunda-feira, 13 de julho de 2020

Teoria das Elites. Poder e manipulação das massas.


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Tabuada e Tabela periódica.







circulação de elites

A sociologia das elites não é propriamente original em Pareto. O tema da dominação elitista encontra-se expresso na formulação da ideia de minorias governantes em Gaetano Mosca. Encontrámo-lo igualmente na teoria da oligarquização dos partidos políticos em Roberto Michels. É nesse sentido, também, que Pareto definiu a História como sendo "um cemitério de aristocracias". Mas as diferenças entre estes autores são notáveis: Mosca aborda a questão das elites no quadro de uma teoria sobre as organizações políticas; Michels, por sua vez, analisa-a à luz do seu estudo sobre a social-democracia alemã. O estudo de Pareto é certamente menos restritivo, já que apreende o fenómeno da formação, do desenvolvimento e da decadência das elites no âmbito mais vasto da organização social global, distinguindo as elites governamentais das elites não governamentais. A hegemonia que uma minoria alcança no seio do seu próprio grupo, camada ou classe social, ou ainda sobre o conjunto dos outros grupos, camadas ou classes sociais, constitui o facto social e sociológico das elites. A supremacia adquirida por uma minoria qualquer resulta de uma circulação das elites, ou seja, de um movimento que projeta para a frente os elementos mais válidos e que desqualifica ou desclassifica os outros.
A existência de elites é um facto social normal no sentido durkheimiano da expressão. Assim, Pareto prescinde do moralismo igualitarista pouco recetivo à ideia da hierarquização da sociedade entre superiores e inferiores.
A superioridade de uns sobre os outros é um dado da Natureza, mesmo quando alicerçada no poder económico e político e por ele justificada. A superioridade manifesta-se, aliás, nas mais variadas atividades e, deste ponto de vista, existem elites de santos como existem elites de bandidos, elites desportivas e elites eróticas, sabendo-se que a Sociologia não pode avaliar os seus objetos de estudo segundo as categorias do bem e do mal. 
 É um facto evidente que toda a sociedade se divide entre uma elite e as massas. É sabido também que, por natureza, as elites são mais inovadoras, mais céticas, mais lógicas e racionais, e que as massas são mais conservadoras, mais crédulas, mais emotivas e sentimentais. Pareto legitima mesmo este estado de coisas: é bom que haja mais elementos inovadores nas elites e mais elementos conservadores nas massas, já que são os sentimentos e não a razão que conduzem o mundo. "Só a fé leva os homens a agir. Assim, não é desejável, para o bem da sociedade, que o conjunto dos homens ou mesmo a maior parte deles se ocupe cientificamente dos assuntos sociais. Existe uma contradição entre as condições da ação e as condições do saber". No entanto, a circulação dos indivíduos, passando das camadas inferiores para as superiores e vice-versa, é imprescindível, não só para permitir que o raciocínio e os sentimentos se estabilizem (embora de forma desproporcional) no interior de cada classe social, mas também para alcançar um equilíbrio a nível geral na sociedade.
Assim, é mesmo desejável que os elementos degenerados das classes superiores retrocedam para as classes inferiores e, mais desejável ainda, que os elementos dinâmicos das segundas possam ter acesso às primeiras. A civilização romana salvaguardou a sua vitalidade enquanto soube renovar as suas elites, recrutando-as primeiro na plebe e depois nos próprios bárbaros. A miscigenação elogiada por Gilberto Freire e o policulturalismo posto em relevo por Michel Maffesoli constituem exemplos do vitalismo induzido pela circulação das elites. Por sua vez, a revolução que Pareto concebe, à semelhança de Tocqueville, como uma manifestação eminentemente religiosa, não é mais do que o apanágio de sociedades incapazes de se regenerarem por meio da renovação regular das elites. Nesse caso, a circulação das elites processar-se-á de forma virulenta e violenta.
De facto, a ideologia não deve ocultar-nos a função primordial das revoluções: permitir o acesso ao poder a uma nova elite, mais enérgica, mais empreendedora e mais eficiente.
É, aliás, nesse sentido que um autor paretiano pôde defini-las como "mudança de velocidade" e não como "mudança de estrutura", ou seja, como uma substituição de uma elite amolecida e decadente por uma elite mais impetuosa e oportuna. As próprias elites escondem a sua vontade de ascensão política e social sob um aparelho de justificações, isto é, de ideais nobres, a que Pareto deu o nome de derivações: reivindicações a favor da liberdade, da justiça social, dos direitos humanos, etc. Assim, os ideais não passam de meios para alcançar o poder ou para defendê-lo. Uma citação de Nietzsche ilustra bem o primeiro caso, ou seja, o maquiavelismo das elites ascendentes: "Queremos a liberdade enquanto ainda não detemos o poder". No segundo caso, é de referir que muitas vezes são os mesmos ideais que fazem periclitar as elites ainda dominantes. Nelas, estes ideais, tal como o humanitarismo, são sinais de fraqueza e são propriamente suicidários: "Nunca, ou quase nunca, as aristocracias - e eu entendo esse termo no seu sentido etimológico os melhores - foram eliminadas exclusivamente pelos golpes dos seus adversários; mas foram elas próprias as artesãs da sua própria destruição" (Pareto).
Para finalizar, convém destacar que a circulação das elites é um processo sem fim, ainda que ocorra lenta, impercetível e sub-repticiamente, pois, segundo Pareto, não pode escapar à forma ondulatória que os fenómenos sociais revestem obrigatoriamente.
Fonte: circulação de elites in Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2020. [consult. 2020-07-13 17:31:43]. Disponível na Internet: 


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