Imagine como deve ficar a cabeça dos venezuelanos, que nos anos 90 tinham lá seus vinte e poucos anos. Pense como deve se sentir um pai ao ver seus filhos comerem lixo por causa de uma ideologia que defendeu décadas antes. Pois é exatamente isso que sentem esses jovens homens e mulheres que foram usados como a conhecida massa de manobra dos socialistas bolivarianos, que iniciaram a tomada do poder e o aparelhamento do Estado quando Hugo Chavez subiu ao poder, nos anos 90.
A juventude é muito ansiosa e afoita para entender que as promessas de uma sociedade perfeita ou igualitária é, na verdade, um grande instrumento político de controle desenvolvido para ser posto em prática por meio, justamente, daqueles que não possuem maturidade suficiente para entender que fatores como o cálculo econômico, a mais valia e a planificação social não são possíveis num mundo baseado numa dinâmica mais próxima daquilo que chamamos de comércio.
Numa observação aos anseios da atual juventude de 18 a 30 anos podemos compreender que essa mesma geração, que tem preguiça de pensar, não está sendo suficiente para lotar manifestações da esquerda, tampouco fazer número nas urnas a favor deste espectro político. O que pode ter dado errado com a receita antiga de tomar de assalto os jovens?
É preciso entender que a revolução cultural é um processo que teve ampla e profunda organização e planejamento durante décadas. O que seus criadores e adeptos não esperavam é que existissem choques de concepções e convicções entre os comunistas e as novas tribos que eles próprios criaram. Veja, por exemplo, que as figuras do comunista, das passeatas e dos sindicatos e dos novos globalistas, de terno Armani e perfumes importados, são absolutamente opostos. Não creio que figuras da chamada nova esquerda, como é o caso do MBL, e do centrão, ou aquelas patrocinadas pelas grandes corporações, sejam necessariamente os defensores da ditadura do proletariado. Como imaginar Tabata Amaral ou Kim Kataguiri cantando a Internacional Comunista e empunhando bandeiras com foice e martelo? Essa é uma juventude muito diferente de Zé Dirceu ou Miriam Leitão. São jovens mimados que foram criados a toddynho e papinha de potinho. Não são capazes de viver sem McDonald`s ou coca cola. Veja também o caso dos LGBTQI+, que mal sabem que Che Guevara assassinava gays a sangue frio, em paredões. Será que eles sabem que os mesmos que fingem defendê-los são pregadores de uma ideologia que sempre massacrou os seus semelhantes?
Qual foi o erro cometido pela esquerda ao se dividir em nova e velha esquerda? Penso que dois principais fatores, entre outros, foram responsáveis por tal divisão. O primeiro foi a perpetuação de figuras notoriamente desgastadas como líderes. Estes não foram capazes de acompanhar a revolução que criaram. Deixaram o ímpeto de manifestações de rua, de megafone, de sindicalismo e acabaram formando uma geração que não dá um único passo sem que os pais estejam dando suporte. Daí a existência de adolescentes de 40 anos que moram com os pais e dependem deles para misturar o leite ao achocolatado. Não são capazes de formar frente suficiente para convencer pelo exemplo ou mesmo pela persuasão. O segundo foi a perda do controle sobre a informação, assunto que não requer muito esforço para compreensão. Quando a mídia tradicional era uma ferramenta monopolista e controlada totalmente pela esquerda, a informação girava de acordo com os ventos determinados por seus líderes e pelos militantes das redações. Hoje as mídias alternativas fazem com que a política esteja mais próxima do que nunca do cidadão comum. O interesse cresceu exponencialmente, o que fez com que o povo se inserisse de vez no debate, participando e criticando. Jamais seria possível, por exemplo, a eleição de um presidente conservador sem a forca democrática das redes sociais e mídias alternativas.
Por isso devemos repensar se essas juventudes serão o diferencial nas eleições de 2022. Prevejo que existe um número crescente de jovens conservadores, em sua maioria aqueles que começam sua vida economicamente ativa mais cedo, fazendo cursos técnicos ou investindo na atividade empresarial, majoritariamente aqueles que escolheram não depender de programas sociais ou financiamento públicos de ensino para subir na vida.
Davidson Oliveira, para Vida Destra, 07/10/2021.
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