sábado, 26 de abril de 2008

Escola cidadã.



Escola cidadã: O que é mesmo isto?

Acredito que nunca se pronunciou tanto a palavra cidadania como nos últimos tempos. Até parecem aqueles chavões, que volta e meia aparecem, fazem sucesso, ou não, e somem com a mesma rapidez com que surgiram. No entanto, tem-se a impressão de que a intenção e a dimensão que acompanham esta palavra são grandes demais. E isto não é difícil de se perceber. Quando lemos jornais e revistas encontramos, sem muito esforço, alusões a este tema. A televisão e o rádio em suas programações, criam até espaços especiais para tratar deste assunto. Lógico que não citarei os sindicatos, as ONGs, associações diversas e a própria Igreja. O objetivo deste artigo é atentar para a novidade: Escola e Cidadania. A novidade não é do ponto de vista da teoria, mas do ponto de vista da prática. Por muito tempo se refletiu, dentro da escola, sobre cidadania. E agora, num ato de coragem, ousadia e compromisso social, a escola vem tentando, e com relativo sucesso, fazer acontecer a cidadania. Claro que hoje há possibilidades pedagógicas e curriculares que facilitam e motivam. Vale a pena ressaltar que os PCNs são, para a escola, a grande ferramenta que possibilita, com o uso adequado dos temas transversais, romper os limites dos muros da escola, na busca de oferecer ao educando e ao professor (inclua-se muitas vezes os pais...) a prática da teoria.

Assim a escola fica mais próxima da realidade. Em conseqüência podemos e devemos fazer comparações de realidades. Ao obtermos o resultado, não resta outra alternativa senão criarmos projetos que envolvam todos da comunidade educativa, para então, encurtarmos as possíveis distâncias.

Há, no momento histórico que estamos vivendo, um interesse grande, por parte de muitos educandos e professores, de participação em projetos sociais.

É neste momento que a escola, organizada, pode fazer acontecer o grande resgate da cidadania.

Temos hoje muitos órgãos, associações, instituições e centros comunitários atendendo a crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, não podemos dizer que com isso a cidadania destes atendidos é real. E a escola pode e deve se fazer presente contribuindo para que na promoção de cada indivíduo, o sentido pleno da cidadania se estabeleça.

Quem ganha e quem perde....

Não resta a menor dúvida: todos ganham. A escola por ser fiel ao seu papel; o educando por adquirir autonomia e criticidade, responsabilidade e organização; a comunidade por sentir-se mais integrada.

Ganham, ainda, os pais por perceberem os filhos envolvidos com projetos que os tornam mais humanos, e com possibilidades de adotarem novos valores para a sua vida. E quem sabe, pais participando de projetos juntamente com os filhos.

Ganham os professores, pois agora o conhecimento, que antes se transformava, quase todo, em pó (de giz), tem significado especial para continuidade do serviço à cidadania.

Cada um que já fez esta experiência pode acrescentar a esta lista os benefícios advindos da decisão de tornar a escola uma possibilidade ímpar na vida dos educandos.

Resta dizer quem perde. Se pegarmos ações isoladas, é quase imperceptível, mas quando somamos..... Perde a miséria, a monotonia, o comodismo, o analfabetismo, a falta de oportunidades....

Dentre muitas, algumas dicas que costumam dar certo...

“...em tudo que fazemos, mostramos se somos, e se queremos que o outro seja cidadão”.

Dentro da escola.

Grêmio estudantil: Grupo representativo dos alunos, que eleito promove ações, culturais e de solidariedade. São chapas que apresentam para todos os alunos suas propostas, e submetem-se a uma eleição. A novidade neste trabalho, é que as chapas que tem se destacado são aquelas que buscam ter um maior envolvimento com as causas sociais e atividades que desenvolvam o senso de cidadania.

Preparação pré-vestibular: Alunos de escolas públicas procuram cursos que os ajudem a competir num vestibular. Esta atividade é uma boa oportunidade para os professores da própria escola assumirem como voluntários, e contribuírem assim com aqueles que não têm condições de pagarem um cursinho. Esta experiência já tem dado bons frutos, e tem crescido muito.

Reciclagem: Muitas escolas têm acordado para a educação ambiental. É incrível como o resultado destes projetos ajuda na fixação de conteúdos de diversas disciplinas. O interessante que neste projeto inclui-se não só alunos e professores, como também os pais. Tudo é questão de organização; não sem antes vontade. Se a escola conseguir elaborar um bom projeto poderá coletar dados importantes até mesmo para uma reeducação alimentar; é um projeto que vai longe....

Formação para cidadania: Muitas vezes queremos enquanto escola, fazer para fora, e esquecemos dentro. Têm escolas que programam junto com professores, aulas ou encontros de formação para seus funcionários. Isto se dá na forma de orientação ao uso indevido de drogas, orientação sobre sexualidade, formação política, formação para espiritualidade etc. Um funcionário bem instruído é um educador e um cidadão a mais.
Fora da escola

Visitações: Desde as séries menores, é importante que se façam estudos do meio, em locais ou instituições onde se possa apresentar a necessidade que temos de exercer, ou ajudar o outro a exercer a cidadania. Visitar, por exemplo, o projeto “SOS Mata Atlântica”, ou outro projeto de preservação da sua região, deve despertar o compromisso, não apenas com um relatório, mas com a causa. A visitação numa creche pode, de forma habilidosa, gerar o compromisso de um gesto concreto com a cidadania daquelas crianças que lá estão.

Engajamento: Muitos alunos de Ensino Médio, não querem mais visitas esporádicas, dizem já ter idade, que ‘são grandes’. Este é um grande passo que não podemos desmotivar. Outro dia ouvi de uma aluna: “Eu faço trabalho voluntário porque acho que posso ajudar outras pessoas a se sentirem melhor”. Quando perguntei, como havia conhecido aquela instituição, disse-me que foi por intermédio de uma amiga mais velha. Com isto nasceu a idéia de levar alguns alunos que demonstram interesse específico, seja para o trabalho com menores; grupos de alfabetização; moradores de rua; deficientes visuais etc. Com isso, a possibilidade de engajamento é bem maior. E com a vantagem, de ver aquele que já não é mais aluno continuando o trabalho.

Cada passo precisa ser pensado....

Talvez um bom início para a escola que queira ser uma escola cidadã seja:

Contemplar em seu Projeto Educativo a vontade, a intenção de ser escola cidadã.

Com isto, estou dizendo que ações isoladas, de uma ou outra área (ou grupo), talvez não tenham força de mobilização para iniciar, realizar e dar autonomia ao projeto. A direção, orientadores, professores, grêmio e associação de pais e mestres, enfim, todos devem ter claro o papel de cada um.

- Conhecer a realidade à sua volta e apresentá-la à comunidade educativa.

Fazer um levantamento, nas imediações, dos principais locais onde é possível desenvolver um trabalho protagonizado pelos educandos, isto é muito importante.

- Propor a esta mesma comunidade desafios, que comecem na sala de aula e continuem em locais escolhidos (creches, asilos etc.)

O ciclo do ensino aprendizagem, pode começar na sala de aula, aprendendo pela experiência de outros, ir para campo e fazer a própria experiência, voltar para sala e sintetizar a experiência que foi passada com a que foi vivida e agora apreendida. Com isto, o educando redimensiona conceitos e posturas, estando mais preparado para conviver. Aqui talvez seja bom lembrar dos quatro pilares da educação para o século XXI, segundo Jacques Delors, onde é necessário: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.

- Dispor professores que orientem grupos de educandos nos projetos propostos.

É indispensável, se a escola acredita mesmo no trabalho, que ele seja orientado, e bem orientado. Para isto, se faz necessário ter educadores (a etimologia da palavra nos ajuda a entender o por quê), com experiência e vontade à frente de cada projeto.

Cada escola conhece a sua realidade, sabe perfeitamente as condições que têm para tocar um projeto que a caracterize como escola cidadã. Não se pode, no entanto, parar numa etapa onde o projeto se caracterize apenas por ser assistencialista, e com isso deixe de ser alimentado pela utopia.

...onde isto pode dar?

O trabalho desenvolvido fora da escola, traz para dentro da mesma, uma riqueza enorme de informações. Isto faz com que professores e alunos redescubram o valor da interdisciplinaridade. Muitas vezes sugere uma revisão no Projeto Educativo. Aponta para a necessidade de construção de um novo espaço de aprendizagem, com isto, novos métodos. Tudo, do ponto de vista do processo do tempo escolar do educando.

O mais importante vem agora: Como é gratificante, ver na escola um antigo aluno, que continua o trabalho de ser um agente de cidadania em outros locais, agora mais ligado à sua formação profissional. Muitas vezes, com outros amigos que ele conseguiu convencer pelo entusiasmo adquirido nas experiências que foram oportunizadas por uma escola que quis ser cidadã.

Se quisermos um mundo melhor, temos de capacitar a todos, para que sintam no que ele não está bom. Não bastam somente palavras, conselhos, indicação de leituras, estudo sobre pessoas que foram ou são exemplos.

É preciso mais.

É preciso que a cidadania do outro seja preocupação de cada um(a).

A cidadania é pessoal, intransferível, ninguém terá mais se o outro tiver menos. Ousaria dizer que temos de acreditar que todos a tenham, porém, nem todos podem exercitá-la.

É justamente neste ponto, que a escola cidadã faz a diferença, pois oportuniza experiências que marcarão vidas e passarão para a história, como contribuição na construção da nova sociedade, que quer ser mais justa e mais fraterna.

Amarildo Vieira de Souza- Professor de Educação Religiosa Escolar; coordenador do Curso de Pós Graduação em Ensino Religioso pela UNISAL; membro do conselho editorial da Revista Diálogo-Paulinas




Pedagogia da Autonomia - Resenha


Pedagogia da Autonomia - Resenha

Por: Walter

Freire introduz Pedagogia da autonomia explicando suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando. Enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p.. 15). Define essa postura como ética e defende a idéia de que o educador deve buscar essa ética, a qual chama de "ética universal do ser humano"(p. 16), essencial para o trabalho docente.
Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos (...) É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar (p. 17 e 19).
Em sua análise, menciona alguns itens que considera fundamentais para a prática docente, enquanto instiga o leitor a criticá-lo e acrescentar a seu trabalho outros pontos importantes. Inicia afirmando que "não há docência sem discência" (p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (p.25). Dessa forma, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno. "Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender" (p. 25).
Justifica assim o pensamento de que o professor não é superior, melhor ou mais inteligente, porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.
Segue sua análise colocando como absolutamente necessário o rigor metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino" (p. 32). Esse pesquisar, buscar e compreender criticamente só ocorrerá se o professor souber pensar. Para Freire, saber pensar é duvidar de suas próprias certezas, questionar suas verdades. Se o docente faz isso, terá facilidade de desenvolver em seus alunos o mesmo espírito.
O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo (...) Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos: o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente (p.31).
Ensinar, para Freire, requer aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes... É ter certeza de que faz parte de um processo inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser condicionado, portanto há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la. Acima de tudo, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros (...) O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (p. 66).
É importante que professores e alunos sejam curiosos, instigadores. "É preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano" (p. 96). Faz-se necessário, portanto, que se proporcionem momentos para experiências, para buscas. O professor precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas momentos de liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus alunos. Para tanto, é preciso querer bem, gostar do trabalho e do educando. Não com um gostar ou um querer bem ingênuo, que permite atitudes erradas e não impõe limites, ou que sente pena da situação de menos experiente do aluno, ou ainda que deixa tudo como está que o tempo resolve, mas um querer bem pelo ser humano em desenvolvimento que está ao seu lado, a ponto de dedicar-se, de doar-se e de trocar experiências, e um gostar de aprender e de incentivar a aprendizagem, um sentir prazer em ver o aluno descobrindo o conhecimento.
É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem e gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que explica a quase devoção com que a grande maioria do magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos salários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode, seu dever (p. 161).
Nessa obra, portanto, expondo os saberes que considera necessários à prática docente, Paulo Freire orienta ao mesmo tempo que incentiva os educadores e educadoras a refletirem sobre seus fazeres pedagógicos, modificando aquilo que acharem preciso, mas especialmente aperfeiçoando o trabalho, além de fazerem a cada dia a opção pelo melhor, não de forma ingênua, mas com certeza de que, se há tentativas, há esperanças e possibilidades de mudanças daquilo que em sua visão necessita mudar.

Resumo do livro Pedagogia da Autonomia
A Pedagogia da Autonomia é um livro pequeno em tamanho, mas gigante em esperança e otimismo, que condena as mentalidades fatalistas que se conformam com a ideologia imobilizante de que "a realidade é assim mesmo, que podemos fazer?" Para estes basta o treino técnico indispensável à sobrevivência. Em Paulo Freire, educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um tempo de possibilidades. É um "ensinar a pensar certo" como quem "fala com a força do testemunho". É um "ato comunicante, co-participado", de modo algum produto de uma mente "burocratizada". No entanto, toda a curiosidade de saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio discurso teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática.
Ensinar é algo de profundo e dinâmico onde a questão de identidade cultural que atinge a dimensão individual e a classe dos educandos, é essencial à "prática educativa progressista". Portanto, torna-se imprescindível "solidariedade social e política para se evitar um ensino elitista e autoritário como quem tem o exclusivo do "saber articulado". E de novo, Freire salienta, constantemente, que educar não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim conscientização e testemunho de vida, senão não terá eficácia.
Igualmente, para ele, educar é como viver, exige a consciência do inacabado porque a "História em que me faço com os outros (...) é um tempo de possibilidades e não de determinismo"(p.58). No entanto, tempo de possibilidades condicionadas pela herança do genético, social, cultural e histórico que faz dos homens e das mulheres seres responsáveis, sobretudo quando "a decência pode ser negada e a liberdade ofendida e recusada"(p.62).
Segundo Freire, "o educador que 'castra' a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica"(p.63). A autonomia, a dignidade e a identidade do educando tem de ser respeitada, caso contrário, o ensino tornar-se-á "inautêntico, palavreado vazio e inoperante"(p.69). E isto só é possível tendo em conta os conhecimentos adquiridos de experiência feitos" pelas crianças e adultos antes de chegarem à escola.
Para Freire, o homem e a mulher são os únicos seres capazes de aprender com alegria e esperança, na convicção de que a mudança é possível. Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e a aventura do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina. Neste sentido, afirma que qualquer iniciativa de alfabetização só toma dimensão humana quando se realiza a "expulsão do opressor de dentro do oprimido", como libertação da culpa (imposta) pelo "seu fracasso no mundo". Por outro lado, Freire insiste na "especificidade humana" do ensino, enquanto competência profissional e generosidade pessoal, sem autoritarismos e arrogância. Só assim, diz ele, nascerá um clima de respeito mútuo e disciplina saudável entre "a autoridade docente e as liberdades dos alunos, (...) reinventando o ser humano na aprendizagem de sua autonomia"(p.105). Conseqüentemente, não se poderá separar "prática de teoria, autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de respeito aos alunos, ensinar de aprender” (p.106-107).
A idéia de coerência profissional, indica que o ensino exige do docente comprometimento existencial, do qual nasce autêntica solidariedade entre educador e educandos, pois ninguém se pode contentar com uma maneira neutra de estar no mundo. Ensinar, por essência, é uma forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão, por vezes, até uma ruptura com o passado e o presente. Pois, quando fala de "educação como intervenção", Paulo Freire refere-se a mudanças reais na sociedade: no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde(...)"(p.123), em referência clara a situação no Brasil e noutros países da América Latina.
Para Freire, a educação é ideológica mas dialogante e atentiva, para que se possa estabelecer a autêntica comunicação da aprendizagem, entre gente, com alma, sentimentos e emoções, desejos e sonhos. A sua pedagogia é "fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando"(p.11). E é "vigilante contra todas as práticas de desumanização"(p.12). É necessário que "o saber-fazer da auto reflexão crítica e o saber-ser da sabedoria exercitada ajudem a evitar a "degradação humana" e o discurso fatalista da globalização"(p.12).
Para Paulo Freire o ensino é muito mais que uma profissão, é uma missão que exige comprovados saberes no seu processo dinâmico de promoção da autonomia do ser de todos os educandos. Os princípios enunciados por Paulo Freire, o homem, o filósofo, o Professor que por excelência verdadeiramente promoveu a inclusão de todos os alunos e alunas numa escolaridade que dignifica e respeita os educandos porque respeita a sua leitura do mundo como ponte de libertação e autonomia de ser pensante e influente no seu próprio desenvolvimento. A Pedagogia da Autonomia é sem dúvida uma das grandes obras da humanidade em prol duma educação que respeita todo o educando (incluindo os mais desfavorecidos) e liberta o seu pensamento de tradições desumanizantes - porque opressoras. A esperança e o otimismo na possibilidade da mudança são um passo gigante na construção e formação científica do professor ou da professora que "deve coincidir com sua retidão ética" (p.18). Paulo Freire, um Professor que através da sua vida não só procurou perceber os problemas educativos da sociedade brasileira e mundial, mas propôs uma prática educativa para os resolver. Esta ensina os professores e as professoras a navegar rotas nos mares da educação orientados por uma bússola que aponta entre outros os seguintes pontos cardeais:
a rigorosidade metódica e a pesquisa, a ética e estética, a competência profissional, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da identidade cultural, a rejeição de toda e qualquer forma de discriminação, a reflexão crítica da prática pedagógica, a corporeificação, o saber dialogar e escutar, o querer bem aos educandos, o ter alegria e esperança, o ter liberdade e autoridade, o ter curiosidade, o ter a consciência do inacabado... Como princípios basilares a uma prática educativa que transforma educadores e educandos e lhes garante o direito a autonomia pessoal na construção duma sociedade democrática que a todos respeita e dignifica.
Paulo Freire demonstra a todos os falantes da língua portuguesa, acostumados à maneira masculina de ver o mundo, a qual tem mantido invisível metade da humanidade os seres femininos, que a língua Portuguesa também nos proporciona as possibilidades do uso de linguagem que respeita a comparticipação visível e dignificante da mulher no mundo atual. Para Paulo Freire não existe unicamente o homem, o professor, o aluno, o pai mas também a mulher, a professora, a aluna, a mãe! A impressão geral do livro é que Paulo Freire escreve e discursa, acima de tudo, com amor pelo que faz. O autor vai lentamente introduzindo conceitos que se misturam e se complementam, às vezes de maneira sutil, e em outras ocasiões de maneira objetiva e absolutamente sincera. Uma das principais mensagens que o autor deixa nesta obra, ao meu ver, é o significado do ensinar. É com a mais brilhante vocação que o autor mostra em simples palavras que ensinar é todo um processo de troca entre aluno e professor, onde ambos aprendem, ambos adquirem e sanam dúvidas, ambos crescem como seres humanos. É a mensagem de que para ensinar precisamos, antes de mais nada, ter a consciência da importância e da beleza desta tarefa, da importância de se poder fazer a diferença num sistema socio-econômico-político com certezas às vezes tão opressoras e cruéis àqueles que não dispõe de meios financeiros para obter cultura e informação. Enfim, o professor Paulo Freire nos dá uma aula de ensinar, e nos fornece com um pensamento livre e despojado uma grande inspiração: de que ensinar vale a pena.
Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire A temática central deste livro é a formação de professores, inserida numa reflexão sobre a prática educativo- progressista em favor da AUTONOMIA dos alunos (pois FORMAR é muito mais do que simplesmente EDUCAR).Na verdade, o enfoque não foge muito do que poderia ser chamado de "ética do ensino", procurando alertar o leitor sobre a diferença entre treinar, ensinar e educar, temas freqüentes na obra deste autor.
Grande parte do livro é dedicada a discussões sobre o quanto as atitudes que o professor toma dentro de sala e fora dela influenciam o que ele passa para seus alunos, englobando desde recomendações sobre a tomada de consciência de que os alunos têm uma cultura e uma curiosidade que precedem a imposição da escola, a discussão sobre a mudança de "curiosidade ingênua" para "curiosidade epistemológica" (que não diferem em sua essência, mas em sua complexidade, pois enquanto aquela se baseia apenas na experiência cotidiana, esta é dotada do rigor metódico, do criticismo), até a consideração dos educandos como seres humanos, portanto, seres histórico-sociais dotados de uma noção mínima de ética. O autor não fecha os olhos para as injustiças que acontecem com os "esfarrapados do mundo". Está ao lado deles, embora não aceite que, para que as injustiças acabem, ações terroristas sejam tomadas.
Os professores têm grande responsabilidade ao ensinar e devem ser dotados de ÉTICA (universal do ser humano, sem cinismos), sendo esta intimamente relacionada ao seu preparo científico, combatendo a malvadez da ética de mercado mundial (baseada em lucros). Paulo Freire beira o moralismo quando se põe a discutir sobre os preconceitos embutidos consciente ou insconscientemente no processo educativo. Discute desde frases do tipo "Maria é negra, mas é bondosa e competente" e até justifica sua raiva frente a posturas deste tipo. Beira o moralismo também quando se refere a crianças de escola pública que depredam o próprio patrimônio (ou seja, a escola), porque "como cobrar das crianças um mínimo de respeito (...) se o Poder Público revela absoluta desconsideração à coisa pública?". Ele mesmo percebe isso, e freqüentemente se dirige ao leitor para que ele lembre que não está sendo descrita uma "educação de anjos", mas uma "educação de homens e mulheres". Talvez isso seja uma reflexão de ideologia esquerdista, sobre a qual também existe menção, tendo como foco os professores que se dizem "progressistas" mas se renderam à rotina neocapitalista. Freire parece, então, não utópico, mas excessivamente confiante na vontade das pessoas de se tornarem melhores (i.e. apoiarem atitudes "progressistas"). Existe ainda uma preocupação com a caracterização do meio escolar como um meio de convívio social onde existem exemplos humanos além dos que se encontram nos livros didáticos, e como o professor é um desses exemplos, ele deve ter plena consciência disso, e portanto julgar as próprias ações. Freire não insiste, neste livro, no aspecto teórico da epistemologia, mas sempre recomenda a postura crítica frente a qualquer atitude, seja ela um conteúdo escolar ou não, porque essa postura crítica é o que caracteriza a "curiosidade epistemológica" e permite que, uma vez identificados os erros, sejam feitas mudanças. E essas mudanças são aquelas que levariam à melhoria das condições de vida de cada um, ou ao progresso.
Freire tem, no entanto, várias distorções de visão, pois além de várias vezes ser utópico, sugere que se leve discussões políticas para a sala de aula (o que é negativo para a formação de Ciências Sociais, porque a ideologia do professor contamina o que ele se dispuser a discutir) e ainda tem uma visão excessivamente centrada no ser humano, colocando animais (inclusive mamíferos) como seres inferiores (o que é negativo principalmente na formação de Ciências Naturais).
Com base nestes apontamentos iniciais, podem ser citadas algumas das considerações sobre a prática docente: 1) Deve existir uma reflexão crítica entre a relação Teoria/ Prática, para que nenhuma perca seu sentido ou importância.2) O professor não pode somente transferir conhecimento, devendo haver uma troca de ensinamentos e aprendizagens entre educador e educando (este, cada vez mais curioso, poderá criar sempre mais). O professor deve estar aberto aos questionamentos e dificuldades dos alunos. Entretanto, se o aluno foi submetido a um falso ensinar, isto não significa que ele está condenado, pois se ele tiver curiosidade e capacidade de se arriscar, pode superar esta falha. 3) É preciso reforçar a capacidade crítica do educando e sua insubmissão, dentro de uma rigorosidade metódica, para que ele não se torne um simples "memorizador". 4) Os conhecimentos dos alunos têm que ser respeitados, principalmente daqueles vindos de classes mais baixas, e aplicá-los aos conteúdos ensinados (REALIDADE DENTRO DO APRENDIZADO). 5) A crítica deve estar inserida no ensino, a partir da curiosidade dos alunos. Esta, inicialmente ingênua, ao ser superada, pode tornar- se epistemológica, com a aplicação da prática pedagógico- progressista. 6) Necessidade de decência e pureza (que não pode ser entendida como puritanismo). Se o ensino for transformado em pura técnica, o educador distancia- se da ética.
- Não deve haver discriminação, pois esta prática fere a dignidade do ser humano e não se aplica à democracia. 7) É necessário ensinar o educando a PENSAR CERTO. 8) Deve- se assumir a identidade cultural de cada um, assunção esta incompatível com os pensamentos elitistas. 9) O professor tem que estar ciente de que suas atitudes podem influenciar profundamente a vida de um aluno, positiva ou negativamente. 10) O conhecimento do professor precisa ser vivido por ele, encarnado, para que se transforme em prática aplicável.11) O ensino e sua prática não podem ser tratados como algo definitivo, são passíveis de mudança. O ser humano também é inacabado e justamente por isso, o ato de ensinar/aprender deve ser permanente. 12) É necessária a consciência de que as pessoas podem ser CONDICIONADAS de acordo com o meio. Porém, isto não significa que elas sejam DETERMINADAS por ele (os obstáculos não são eternos). 13) O respeito pela autonomia do aluno é exigido pela ética. Cada um possui particularidades e pensamentos que não podem ser minimizados ou ridicularizados. Se isto acontecer, a ética é transgredida.
- Bom senso. Autoridade não pode ser entendida como autoritarismo. O professor tem que entender, em certas ocasiões, pontos falhos do aluno. Ao invés de reprimi-lo, tem que ajudá-lo, com humildade e tolerância. 14) Sobre a avaliação: seria boa uma forma na qual fosse feita junto com os alunos, pois a avaliação é para eles, e não para o educador. 15) Para a realização da docência decente, devem existir condições favoráveis, higiênicas, espaciais e estéticas. O corpo docente deve lutar pelos seus direitos (como um salário digno), isto faz parte da prática de lecionar. 16) Se a educação é ofendida (principalmente nas escolas públicas), o professor deve tomar uma postura política que o permita lutar contra esta ofensa, além de repensar sobre a eficácia das greves. 17) Deve haver alegria e esperança. A esperança faz parte do ser humano, e negá-la contradiz a prática progressista da educação e a ética (sempre contra a frase: "O QUE FAZER? A REALIDADE É ASSIM MESMO"). 18) O futuro deve ser tratado como problema, que pode ser solucionado, e não como inexorável. Com base nisso, o professor tem que estar convencido de que mudanças são possíveis, por exemplo, com relação aos favelados e aos sem- terra. 19) O professor, assim como o aluno, também é movido pela curiosidade. Ela é a mola propulsora do aprendizado e do ensino do educador, da construção e produção de conhecimentos. Proporciona um diálogo entre o professor e o aluno. Porém, este diálogo não deve ser tratado como apenas um vai- vem de perguntas e respostas: momentos explicativos do educador são necessários. 20) É preciso tomar muito cuidado com a relação autoridade- liberdade, sempre ameaçadas pela prática do autoritarismo e da licenciosidade, prática esta que pode acabar levando a disciplina à indisciplina. 21) O educador tem que ser seguro, competente e generoso, atitudes estas que exigem esforço e moralidade. 22) Não se deve falar de cima para baixo, achar que é o dono da verdade. Um educador não deve falar PARA o educando, mas sim COM ele, e isso só é possível quando o educador sabe escutar. Porém, a escuta não deve ser passiva, ela é uma boa forma de se fazer questionamentos sobre o que está sendo exposto, de defender uma opinião própria. Isto pode ser refletido numa maneira crítica e justa de avaliação.
Existem, então, após todos estes apontamentos, algumas relações que nunca podem ser desenlaçadas, para que a pedagogia da autonomia seja aplicável: ensino dos conteúdos com formação ética dos educandos, prática com teoria, ignorância com saber (seja de educador ou educando), autoridade com liberdade, respeito ao professor com respeito ao aluno, ensinar com aprender. Todas elas devem ser respeitadas e tratadas com responsabilidade. Aspectos políticos também sempre devem ser levados em conta. Classes dominantes enxergam a educação como IMOBILIZADORA E OCULTADORA de verdades. Entretanto, a educação é uma forma de se intervir no mundo. Contudo, deve ficar muito claro para o educador que a autonomia não vem de um dia para o outro, leva tempo para ser construída. Um grande cuidado também é extremamente necessário ao educador: de que a educação é ideológica e que, dependendo da ideologia, ele pode acabar aceitando idéias perigosas (o mundo é assim, não está assim, por exemplo).
E, por fim, deve ficar muito claro que uma docência decente, de qualidade, não se separa da afetividade que o professor tem por seus alunos (embora ela não deva interferir, por exemplo na avaliação, e nem signifique que o educador deva amar todos seus alunos de maneira igual).
Freire introduz a Pedagogia da Autonomia explicando suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando. Enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p.. 15). Define essa postura como ética e defende a idéia de que o educador deve buscar essa ética, a qual chama de "ética universal do ser humano" (p. 16), essencial para o trabalho docente. Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos (...) É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar (p. 17 e 19). Em sua análise, menciona alguns itens que considera fundamentais para a prática docente, enquanto instiga o leitor a criticá-lo e acrescentar a seu trabalho outros pontos importantes. Inicia afirmando que "não há docência sem discência" (p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (p.25). Dessa forma, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno. "Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender" (p. 25). Justifica assim o pensamento de que o professor não é superior, melhor ou mais inteligente, porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.
Segue sua análise colocando como absolutamente necessário o rigor metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino" (p. 32). Esse pesquisar, buscar e compreender criticamente só ocorrerá se o professor souber pensar. Para Freire, saber pensar é duvidar de suas próprias certezas, questionar suas verdades. Se o docente faz isso, terá facilidade de desenvolver em seus alunos o mesmo espírito.
O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo (...) Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos: o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente (p.31). Ensinar, para Freire, requer aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes... É ter certeza de que faz parte de um processo inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser condicionado, portanto há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la. Acima de tudo, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros (...) O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (p. 66). É importante que professores e alunos sejam curiosos, instigadores. "É preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano" (p. 96). Faz-se necessário, portanto, que se proporcionem momentos para experiências, para buscas. O professor precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas momentos de liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus alunos. Para tanto, é preciso querer bem, gostar do trabalho e do educando. Não com um gostar ou um querer bem ingênuo, que permite atitudes erradas e não impõe limites, ou que sente pena da situação de menos experiente do aluno, ou ainda que deixa tudo como está que o tempo resolve, mas um querer bem pelo ser humano em desenvolvimento que está ao seu lado, a ponto de dedicar-se, de doar-se e de trocar experiências, e um gostar de aprender e de incentivar a aprendizagem, um sentir prazer em ver o aluno descobrindo o conhecimento. É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem e gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que explica a quase devoção com que a grande maioria do magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos salários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode, seu dever (p. 161). Nessa obra, portanto, expondo os saberes que considera necessários à prática docente, Paulo Freire orienta ao mesmo tempo que incentiva os educadores e educadoras a refletirem sobre seus fazeres pedagógicos, modificando aquilo que acharem preciso, mas especialmente aperfeiçoando o trabalho, além de fazerem a cada dia a opção pelo melhor, não de forma ingênua, mas com certeza de que, se há tentativas, há esperanças e possibilidades de mudanças daquilo que em sua visão necessita mudar.
Uma das tarefas primordiais dos educadores é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se aproximar dos objetos cognicíveis. Resgatar nos saberes cotidianos, ainda que vindos de curiosidade ingênua, o estímulo à capacidade criadora do educando. A superação da ingenuidade levando à criticidade segundo pensar correto de Freire demanda profundidade e superficialidade na compreensão e interpretação dos fatos. Quem pensa certo é quem busca seriamente a segurança na argumentação, e é o que discordando do seu oponente, não tem o porquê contrair uma raiva desmedida. Quem observa, o faz segundo um ponto de vista, mas não por isso situa o observador em erro, uma vez que o erro não está em ter um ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto do seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele. O inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital, onde há vida, há inacabamento. A diferença entre um ser inacabado e o ser determinado é que o primeiro muito embora seja condicionado, tem consciência do inacabamento. O ser inacabado sabe que a passagem pelo mundo não é pré-determinada, pré-estabelecida, e o seu “destino” não é um dado mas algo que precisa ser feito e de sua própria responsabilidade.
Para ter segurança o professor deve estudar e preparar suas aulas, deve se esforçar para estar à altura de sua profissão. O esforço para atingir estas metas fornece a moral necessária para que o professor transpareça a segurança de seus conhecimentos e sua autoridade nos assuntos que vai ensinar. É ouvindo o aluno com paciência e criticamente que aprendemos a falar com ele. Aprendendo a escutar o educando, ouvindo suas dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória, faz com que o docente aprenda a falar com ele. O bom professor deve ser curioso e deve provocar curiosidade. Esta curiosidade deve ser incentivada para que mantenha viva a chama do querer saber, do querer entender. Se esta troca não ocorrer, com o tempo o professor se verá diante de uma situação quase estática, paternalista da maneira de ensinar, que impedem o exercício livre da curiosidade. A curiosidade deve ser democrática. A curiosidade que silencia a outra se nega a si própria. A educação deve também servir de meio e forma para transformações sociais, mas deve-se ter consciência da sua indevida utilização como meio de reprodução de ideologias dominantes. Na opinião de Paulo Freire, não é possível ao bom professor ser um ser completamente apolítico, dado que estará expondo suas opiniões e ensinando muitos conceitos baseados em sua visão de mundo. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político–pedagógica.
Esta abertura ao querer bem não significa que, como professor, obrigue a querer bem todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não deve assustar o docente, que não deve ter medo de expressá-la. O professor deve descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade.
Nossa impressão geral do livro é que Paulo Freire escreve e discursa, acima de tudo, com amor pelo que faz. O autor vai lentamente introduzindo conceitos que se misturam e se complementam, às vezes de maneira sutil, e em outras ocasiões de maneira objetiva e absolutamente sincera. Uma das principais mensagens que o autor deixa nesta obra, ao nosso ver, é o significado do ensinar. É com a mais brilhante vocação que o autor nos mostra em simples palavras que ensinar é todo um processo de troca entre aluno e professor, onde ambos aprendem, ambos adquirem e sanam dúvidas, ambos crescem como seres humanos. É a mensagem de que para ensinar precisamos, antes de mais nada, ter a consciência da importância e da beleza desta tarefa, da importância de se poder fazer a diferença num sistema socio-econômico-político com certezas às vezes tão opressoras e cruéis àqueles que não dispõe de meios financeiros para obter cultura e informação. Enfim, o professor Paulo Freire nos dá uma aula de ensinar, e nos fornece com um pensamento livre e despojado uma grande inspiração: de que ensinar vale a pena.

Nunca copie integralmente trabalhos da internet. Use-os como fonte de referência para suas pesquisas!

Paulo Freire (1996). Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 165 p.
Review by Claudilene Sena de Oliveira Kerber (CELES). (First appeared in: La Salle: Revista de Educação;, Ciência e Cultura/Centro Educacional La Salle de Ensino Superior (CELES) v. 3, n. 7, (Outono de 1998). Reproduced with permission.)
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Geografia. Efeito Estufa (meio ambiente).



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Filosofia e Ética



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Prof. Marins: A força da sua MOTIVAÇÃO · É preciso voltar a QUERER.



É preciso Querer, ter aquela vontade que só um campeão tem, o querer tem que vir do âmago da alma, querer como um faminto. Só a inteligência não nos leva a lugar nenhum, pois tenho que ter a vontade. Tenhamos então força de vontade. Poderíamos pesquisar sobre este tema, a inteligência da vontade. Segundo Daniel Golleman,15% de nosso sucesso depende do cognitivo e 85% da emoção.
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Currículo e Avaliação na Educação Infantil



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Jota Quest - Já foi.



E você está cuidando de você. Cuide de sua saúde, de suas emoções, você está prestes a comandar uma sala de aula, ou uma escola. Fica com Deus. Obrigado.

Martinho da vila -- Ao vivo na suíça. ( vamos dar uma pausa da cognição).



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Psicopedagogia: Clínica e Institucional. grade currícular.


Você que visita meu blog e está louco/a para terminar a graduação. Para poder fazer uma pós-graduação.

Veja abaixo, uma grade curricular de, especialização em psicopedagogia clínica/institucional.

Já tô com vontade. Mas vamos fazer nossa graduação bem feita. E se pudermos, já no t.c.c. focar um tema que queiramos, para dar continuidade em nossa pós-graduação.

Se você quer fazer psicopedagoggia e está ainda na graduação. Poderia fazer um t.c.c. sobre dislexia, discalculia, Tdha. Pois sabemos que estes temas são profundos e podemos nos utilizar de nosso t.c.c. que já está pronto e darmos a ele mais profundidade, só que agora na pós-graduação.

Sempre que formos fazer uma pós-graduação temos que escolher aqueles cursos que em sua grade tenham metodologia e didática do ensino superior. Pois com isso poderemos dar aulas nas faculdades. Nunca se sabe.

Psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a partir de dois saberes e práticas, quais sejam a pedagogia e a psicologia. O campo dessa mediação recebe também influências da psicanálise, da lingüística, da semiótica, da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia humanista-existencial e da medicina. Wikipédia.

Estrutura Curricular

Carga Horária

Módulo I: Aprendizagem e Desenvolvimento
Contribuição da Neuropsicologia à Aprendizagem
30 h
Contribuição da Psicologia do Desenvolvimento
30 h
Introdução à Psicopedagogia
15 h
Metodologia do Trabalho Científico
30 h
Módulo II: As várias Contribuições para o Ensino-aprendizagem
Bases Neurológicas do Desenvolvimento
30 h
Contribuição das Teorias Psicodinâmicas
30 h
Didática do Ensino Superior
30 h
Psicopedagogia Clínica
30 h
Psicopedagogia Institucional
30 h
Módulo III: A Atuação Psicopedagógica
Inteligências Múltiplas e a Psicopedagogia
30 h
Métodos e Técnicas de Pesquisa I e II
30 h
Processo Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica
30 h
Psicogênise da Leitura e da Escrita
30 h
Psicomotricidade: Contribuições para a Aprendizagem
30 h
Módulo IV: Pesquisa na Educação
Estágio Supervisionado em Psicopedagogia Clínica e Institucional
300 h
O Grupo Familiar na Psicopedagogia
15 h
Supervisão de Estágio Clínico e Institucional
80 h
Carga Horária (total)
800 h
Hoje em dia não tem jeito os cursos são moldados de uma forma , que nos leva a fazer uma pós-graduação. A chamada educação continuada. Obrigado pela visita. Se Deus quiser nos vemos na formatura. Vou postar outras especializações, com sua grade curricular. Valeu. João Maria.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Educação e atualidade brasileira.


Freire, Paulo. (2001). Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Instituto Paulo Freire/Cortez.
125 p.ISBN 85-24908-27-0
Resenhado por Pilar O’CadizUniversidade da Califórnia, Irvine
8 de setembro de 2003
Quase meio século se passou desde que Paulo Freire penetrou seu olhar de extraordinária concisão crítica e enorme compaixão humana na sombria paisagem educacional de seu amado Brasil. Ao escrever Educação e atualidade brasileira, no Brasil de 1950, um analfabetismo monstruoso era a norma, com não menos do que 50% (Note 1) da população adulta sem saber ler e escrever e, conseqüentemente, impossibilitados de votar em uma república que, desde de seu extenso regime colonial e escravocrata a menos de um século antes (Note 2), afastou a maioria da participação política ao negar a eles as oportunidades mais básicas de estudo (Note 3), enquanto fazia do analfabetismo um pré-requisito para a votação. Além disso, este sonho de democracia que Freire ousou em visionar para seus desprivilegiados conterrâneos foi rapidamente interrompido pela instalação do regime militar, que permaneceu vigente de 1964, quando Freire foi forçado a deixar o país, exilado, até ele voltar ao Brasil 16 anos depois, em 1979, onde ele morreu em 1997.
E ainda, a perspectiva visionária retratada em Educação e atualidade brasileira –– uma realidade de mais de 40 anos atrás –– foi o precursor da formulação de sua poderosa visão utópica e pedagógica de filósofo. Depois de escrever este texto, ele foi capaz de colocar em prática algumas de suas idéias durante o breve período antes de seu exílio do Brasil, e posteriormente os desenvolveu em prática e teoria em diversos contextos no exterior. Ele escreveu este texto num momento de grande promessa revolucionária e momento reformista na América Latina, e como tal isso representa os raios de esperança iniciais que Freire projetou ao longo do horizonte empobrecido de sua terra natal pernambucana dos anos 50. Ultimamente, o elucidante utopianismo pedagógico de Freire cruzou a imensa geografia do Brasil, alcançando as favelas de São Paulo e Rio de Janeiro do início dos anos 60, além de toda a América Latina e do mundo. E agora no início do século 21, ele é reconhecido como um dos pensadores pedagógicos mais influentes de sua época.
Ao se deparar com a inconstância desse novo milênio, Educação e atualidade brasileira dirige gentilmente o leitor a um lugar de otimismo, fortificado pela voz autêntica de seu autor, o até então jovem bolsista educacional que, em seu aparentemente modesto manuscrito –– sua tese de doutorado na Universidade de Pernambuco –– proclama os elementos centrais do que estava para se tornar a filosofia pedagógica e projeto democrático que significaria uma mudança no paradigma da teoria e prática educacional na região da América Latina nas décadas que seguiram a sua composição. É basicamente uma tese sobre a condição atual da sociedade brasileira e a exigência urgente por um tipo de educação diferente daquela ditada pela tradição acadêmica e relações sociais repressivas, a fim de aproveitar as forças democráticas em desenvolvimento na época. Realmente, em uma publicação posterior de Pedagogia dos oprimidos em 1970, em que as premissas de Educação e atualidade foram adiantadas mais tarde, resultariam em uma multidão de iniciativas pedagógicas do mundo inteiro da inspiração Freiriana. Falando de um lugar de crença genuína em uma sociedade futuramente mais humana e democrática, a confiança de Freire na capacidade humana de amar, aprender juntos e – na solidariedade – transformar as realidades opressivas oferece uma suspensão necessária do senso fatalista que nos invade nos tempos de circunstâncias esmagadoras do mundo. (Note 4)
Esta publicação póstuma da dissertação de Freire de 1959 pela Editora Cortez e o Instituto Paulo Freire (2001), inclui três textos preliminares como uma forma de apresentação do texto principal escrito por Freire. O primeiro –– “Contextualização: Paulo Freire e o Pacto Populista” oferece uma visão perspicaz única do contexto histórico e político no qual Freire escreveu em seu tratado acadêmico. Freire escreveu em um ambiente intelectual dominado pelas tensões entre as ideologias populistas e de esquerda, que ainda submergiam na familiaridade de sua cidade natal, Recife, no nordeste de Pernambuco. De maneira apropriada, para esta tarefa de contextualização, os editores alistaram os esforços de um nordestino contemporâneo, José Eustáquo Romão. Romão foi rápido em afirmar a importância de Educação e atualidade brasileira em entender a origem de alguns dos principais conceitos que Freire estava por desenvolver em escritos futuros, em particular seu trabalho de seminário Pedagogia dos Oprimidos (p. XV). Ele descreve, efetivamente, o clima intelectual e as tendências políticas da época, tanto nacional quanto internacionalmente, que convergiu em criar o contexto social do Brasil do meio do século vinte, que permitiu a Freire escrever sua dissertação aos 38 anos. Apropriado ao momento histórico em que foi escrito, o texto de Freire é caracterizado por uma visão utópica e crítica dualista, evitando uma postura elitista e fatalística, e abrangendo uma fé implícita nas possibilidades de uma transformação educacional, diálogo crítico e humanístico e a criação de uma vida mais democrática para seus companheiros brasileiros.
Ressaltando o valor da contribuição de Romão ao seu livro, Moacir Gadotti, um colega de trabalho de toda a vida e amigo pessoal de Freire, escreveu em algum lugar, “O pensamento de Paulo Freire – sua teoria do conhecimento – deve ser entendido no contexto em que surgiu o Nordeste brasileiro – onde, no início da década de 1960, metade de seus 30 milhões de habitantes vivia na “cultura do silêncio”, como ele dizia, isto é, eram analfabetos. Era preciso “dar-lhes a palavra” para que transitassem para a participação na construção de um Brasil que fosse dono de seu próprio destino e que superasse o colonialismo.”
Romão documenta para o leitor, com competência, os principais fatores sócio-históricos que influenciariam necessariamente as perspectivas de Freire durante este período de sua vida. Um período em que ele compartilhou como colega de Freire, trabalhando no Serviço Social da Indústria (Sesi), onde Freire inicialmente vivenciou o poder de uma mudança educacional culturalmente baseada “com” e não “para” os trabalhadores em Recife. Além de fornecer um contexto histórico geral, Romão dá uma breve visão geral das raízes intelectuais de Freire, enquanto se refere ao trabalho de um outro contemporâneo de Freire, Celso de Rui Biesegel, como uma fonte fundamental para mais investigações a esse respeito: Política e educação popular: A teoria e a prática de Paulo Freire no Brasil (1982). Romão reconhece a influência do existencialismo europeu na formação filosófica de Freire, afirmando que “O existencialismo foi muito importante para a geração dos anos 50 e 60 no Brasil e, desta forma, acabou por insinuar-se no pensamento Freiriano dos primeiros escritos” (XIX). O próprio Freire reivindicou em escritos futuros, que sua perspectiva era decididamente “dialética e fenomenológica” (1985). Além disso, Freire estava escrevendo sua tese de doutorado em um momento em que o clima intelectual na América Latina estava vivendo um renascimento do Marxismo, com o crescimento da influência de autores como Althuser e Gramsci, e o aparecimento de um Marxismo Cristão que, mais tarde, evoluiria para uma teologia de libertação. A perspectiva de Freire não escapou do impacto dessas tendências políticas-ideológicas na região. Em uma observação menos radical, o trabalho de Joan Dewey também executou uma função fundamental na evolução da pedagogia progressiva no Brasil. A insistência de Dewey foi de particular importância na ligação entre o aprendizado e a contextualização na realidade. Para Freire, esta realidade era a vida cultural da comunidade local, que deveria ser uma consideração fundamental de qualquer ação educacional; caracterizando assim, sua abordagem pedagógica e explicitamente política.
Ao mesmo tempo, como Romão aponta, este foi um período imbuído com o otimismo desenvolvimentalista da recuperação econômica da Segunda Guerra Mundial e substituição da importação na industrialização no Brasil, epitomada pela construção da moderna cidade de Brasília durante o governo de Kubistcheck (1956-1961), subseqüente ao regime populista de Getúlio Vargas nos anos 40 e início dos anos 50. Este paradigma desenvolvimentalista teórico dominante foi desenvolvido mais tarde no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), estabelecido em 1955. De acordo com Romão, o ISEB – um tipo de reservatório de pensamento que, na década de sua existência, funcionou para gerar uma ideologia nacionalista, que iria grifar os esforços liberais, para avançar a modernização da vida política, econômica e cultural do Brasil – tornou-se cada vez mais orientado por intelectuais de esquerda. A influência desses pensadores “esquerdistas” do ISEB no desenvolvimento intelectual de Freire aparece em diversas referências aos argumentos populistas de suas principais ideologias. Romão introduz, necessariamente ao leitor, a chave para os intelectuais brasileiros que fizeram parte do ISEB, que podem não ser tão conhecidos internacionalmente, como são em círculos estudantis no Brasil ou na América Latina. É o caso de Anísio Teixeira (1900-1971), que Freire cita repetidamente em sua crítica do centralismo, autoritarismo e elitismo geral da educação brasileira. Um outro mentor intelectual ao qual Freire faz referência em sua tese é Álvaro Vieira Pinto. Freire cita Pinto como aquele que clama pela criação de uma sociedade brasileira modernizada e mais democrática por uma elite política e intelectual querendo trabalhar de mãos dadas com as massas, nunca impondo suas visões e planos, mas destilando-os da “consciência coletiva” da população (p. 22).
Romão ainda afirma, que Freire se distingue de seus predecessores e colegas do ISEB, em seu reconhecimento de que aquela “intransitividade” e passividade humana não são, necessariamente, uma condição absoluta. De fato, como Romão aponta, Freire iria desenvolver em sua tese a postulação de que os humanos sempre têm a possibilidade de se mover dentro da auto-afirmação e a busca de seu autêntico objetivo ontológico e, portanto, os humanos mantêm, essencialmente o poder de fazer valer seus direitos, como sujeitos de sua própria história (xxxi). Ressaltando suas tendências Mannheimianas, Rosas conclui que Freire adota a noção de uma agência humana democratizante que se dirige em direção à justiça política e econômica e para longe do totalitarismo da direita e da esquerda (xlii). Apesar dos elementos “ingênuos” inevitáveis que caracteriza isto, um dos primeiros textos de Freire, Romão lembra ao leitor da “lamentável contemporaneidade” das realidades analisadas por Freire, que metade de um século depois persiste em um país que continua para todos os objetivos intensivos “assistencialista, autoritário e paternalista… nas relações sociais e da educação “inautêntica” e “inorgânica” que predomina o sistema nacional (xxxv).”
Além dos esforços de Romão em contextualizar historicamente as teses de Freire, esta edição oferece ao leitor duas “testemunhas” como prólogos ao antigo texto de 40 anos: um de um colega de Freire na época e outro de sua filha, Cristina. O primeiro, de Paulo Rosas, oferece um acompanhamento único que vai além do papel do comentário intelectual em reconstruir os eventos que aconteceram ao redor da elaboração de Freire de sua tese, especificamente em respeito às particularidades da cultura da academia da qual ele, evidentemente, participou como um candidato doutoral. Rosas era psicólogo, mudou-se de Natal (também no nordeste brasileiro) para Recife em 1951 e foi, portanto, um contemporâneo de Freire na época em que ele escreveu sua dissertação.
Rosas é testemunha e participante da institucionalização das forças democratizantes nos rígidos corredores da Universidade brasileira dos anos 50. Ele fala do começo de uma nova abordagem participatória para pesquisar e expandir dentro da comunidade. Assim era a comunidade intelectual na qual Freire formulou pela primeira vez seu pensamento sobre as possibilidades de uma transformação educacional. Ainda, ele é rápido em observar que as conceitualizações de Freire em uma prática educacional democratizante eram distintivamente mais radicais do que às de seus contemporâneos na universidade, que estavam longe de validar as experiências, a cultura dos setores populares da maneira que Freire propõe. Rosas ressalta as tarefas de Freire enquanto trabalhava no serviço industrial social da escola de Pernambuco (Sesi) durante os anos 50. Este papel de liderança educacional, Rosas confirma, ofereceu a ele a experiência de aprendizado de engajar em uma mudança dialógica dentro dos Círculos de Pais e Professores, começando como diretor da Divisão de Educação e Cultura, tornando-se mais tarde, Superintendente. Rosas também recalcula a trajetória do Movimento da Cultura Popular (MCP) e os movimentos paralelos da Ação Católica e Juventude Universitária Católica (JUC) e o Movimento de Educação de Base (MEB), todos os quais executaram papéis fundamentais na construção do ímpeto do movimento popular do período que, inevitavelmente, informou a conceitualização de Freire da ação pedagógica para a transformação social (LIX–LXIV).
Incentivado por forças progressivas mais radicais, que desafiou a legitimidade de uma oligarquia anacrônica e uma burguesia brasileira contraditória se esforçando para estabelecer seu controle político, movimentos originados do povo, como o Movimento da Cultura Popular (MCP) que emergiu. Conseqüentemente, com a inauguração da presidência de João Goulart em 1963, Freire foi chamado para auxiliar o governo de Goulart em lançar a campanha da alfabetização nacional. A campanha foi feita para adotar seu eficiente método de ensino de ler e escrever, enquanto edificava a consciência dos alunos adultos que Freire começou a implementar no nordeste brasileiro nos anos entrementes da escrita de sua dissertação. A implementação do tão chamado “Método Freire” como uma política de educação nacional do governo deposto de Goulart resultaria em sua perseguição e exílio logo após o golpe militar de 1964.
Cristina Heiniger Freire, filha de Paulo Freire, oferece algumas palavras emocionadas de lembranças carinhosas no segundo testemunho chamado “Convivência com meus pais (1947-64)”. Cristina evoca a essência da humildade de Freire, contando a história – verídica das memórias e vozes de sua infância – do engajamento inicial de seus pais no movimento educacional popular no Brasil do fim dos anos 40 ao fim dos anos 50, e a passagem de sua família pelo trauma do exílio em 1964. Escrevendo em abril de 1999 (dois anos após a morte de seu pai, em abril de 1997) ela evita qualquer pretensão intelectual e faz referência às últimas impressões de ser criada sob o cuidado afetuoso e experiente do grande pedagogo. Ao concluir seu breve testemunho, a filha de Freire se lembra de como seu pai sempre costumava dizer, “Basta ser pais para errar,” (p. xxxi) revelando a boa vontade do pai de preservar uma abordagem auto-reflexiva, mesmo no poderoso papel de pai. Através da vida e obra de Freire, ele nos chamava para reconhecer nossa própria humanidade e a verdade que aprendemos através dos erros, crescimento, progresso e humanização. Antes de engrenar no texto teoricamente denso que está por vir, o comentário de Cristina serve para esboçar na cabeça do leitor a face sempre muito humana que Paulo Freire sempre vestiu seu intelectualismo e sua boa vontade de continuar a tributar suas asserções teóricas na luz da crítica contemporânea e interesses humanísticos universais.
A tese de Freire para uma cadeira na História da Filosofia da Educação na Universidade de Pernambuco – embora, evidentemente, um de seus primeiros escritos – permanece dentro do estilo tradicional de narrativa do eminente pedagogo e caminho argumentativo circular característico. Ele reitera repetidamente pelo texto – com a tranqüila firmeza do contador de histórias convencido da necessidade de instilar a moral de sua narrativa – o estado opressivo das relações sócio-políticas brasileiras; as tendências culturais paternalistas e fatalísticas que resulta de tal contexto material-histórico, e os elementos básicos de sua proposta para uma prática educacional que procura transformar o status quo, para libertar as pessoas das correntes de uma consciência colonizada subjugada em um estado de conformidade, encaminhando-os as um engajamento ativo e coletivo, – através de diálogo, reflexão crítica e ação política – em um caminho necessário rumo a democratização da sociedade.
Para desenvolver sua narrativa, ele adota, necessariamente, uma postura dialética, expondo no início, com o brilho para declarar sem pudores o que é mais óbvio, embora mais imperativo: “O problema educacional brasileiro, de importância incontestavelmente grande, é desses que precisam ser vistos organicamente. Precisam ser vistos do ponto de vista de nossa atualidade. No jogo de suas forças, algumas ou muitas dentre elas, e antinomia umas com as outras.” (p. 9-10). Para Freire, uma contradição saliente dentro da realidade brasileira da época era a co-existência das áreas “altamente industrializadas” com aqueles que eram “intensivamente subdesenvolvidos”. Portanto, dessas condições contraditórias, desenvolve-se a necessidade de criar “uma educação em prol do desenvolvimento e da democracia” (p. 51).
Citando Corbisier (1956), Freire afirma nos primeiros parágrafos de sua dissertação uma premissa fundamental que tem marcado o trabalho de sua vida: uma convicção inabalável nos dialetos da existência humana: de ser e agir no mundo. Esta transitividade da condição humana como Freire a define, se refere à capacidade dos humanos de transformar e ser transformado ao mesmo tempo. Freire escreve, “A posição do homem, realmente, diante destes dois aspectos de sua “moldura”, não é simplesmente passiva. No jogo de suas relações com esses mundos ele se deixa marcar, enquanto marca igualmente.” (p. 10). Para esta conclusão, Freire propõe uma abordagem que compromete os alunos em um processo dialógico que os movimentos de um estado de imersão dentro do mundo e de uma posição fatalística em uma posição de imersão (para estar presente com o mundo). Isto leva a uma compreensão autêntica e dialética da realidade permitindo expectativa crítica e ação transformadora. Em seu característico estilo argumentativo circular, Freire volta para essa premissa em suas observações conclusivas: reafirmando uma aderência a um conceito de agência, ele insiste que certos processos educacionais que contextualizam o aprendizado tornam possível um vínculo orgânico com a realidade, criando, portanto, a possibilidade do material histórico e compreensão crítica dessa realidade, e então o poder de transformá-la.
Da mesma maneira, Freire escreve de forma direta a respeito dos imperativos do diálogo, participação e relevância cultural para que um processo educacional autêntico aconteça. Estes são os três elementos fundamentais da pedagogia libertadora apontada para a “democratização” e superando as condições nas quais os alunos/professores estão submergidos e, portanto, suscetíveis à trincheira nos estados da “consciência falsa” e um senso de impotência em determinar seus destinos. Tomando a sociedade brasileira de meio do século XX como ponto inicial de suas postulações teóricas em educação e democracia, Freire aponta para o “centralismo, verbalismo, antidiálogo, autoritarismo e assistencialismo” como manifestações da “inexperiência democrática” dos brasileiros da época. Esta tese é essencialmente um chamado para que os brasileiros ganhem experiência democrática através de uma abordagem diferente em educação. Por esse motivo, Freire insiste em uma relação horizontal de respeito mútuo e até mesmo, reciprocidade de troca de conhecimento entre os educadores e os educandos; uma troca estabelecida em uma reflexão crítica da realidade. Freire explica, “Por isso mesmo é que falamos tanto, em termos teóricos, na necessidade de uma vinculação da nossa escola com a sua realidade local, regional e nacional, de que haveria de resultar a sua organicidade e continuamos, na prática, a nos distanciar dessas realidades todas e a nos perder em tudo o que signifique antidiálogo, antiparticipação, anti-responsabilidade.” (p. 13).
De acordo com esta perspectiva, um dos principais temas de Educação e Atualidade brasileira é uma crítica sólida de assistencialismo ao populismo que se difundiu e as políticas sociais desenvolvimentalistas que pôs em evidência a assistência aos pobres e incultos, em vez de empobrecê-los. Esta crítica do assistencialismo é uma rejeição da teoria capital humana que denunciou as reformas educacionais na região da América Latina na época. Seu desprezo pelas abordagens parternalistas à reforma social e educacional é demonstrada em sua consistente afirmação por toda sua tese, sobre o aforismo: “um trabalho com o povo e nunca sobre o povo ou simplesmente para ele”, “Educação democrática que fosse, portanto, um trabalho do homem com o homem, e nunca um trabalho verticalmente do homem sobre o homem ou de maneira assistencial do homem para o homem, sem ele.” (p. 14). Para reforçar suas críticas adicionais sobre as tendências paternalistas do paradigma do desenvolvimentalismo dominante, Freire cita Vieira Pinto (um diretor do ISEB): “ideologia do desenvolvimento, diz ele, só é legítima quando exprime a consciência coletiva, e revela os seus anseios em um projeto que não é imposto, mesmo de bom grado às massas, mas provém delas.” (p.22).
Freire observa que o Brasil foi, durante metade do século XX, uma “sociedade em trânsito” de formas antidemocráticas tradicionais, de relações sociais e organização econômica de exportação baseada em seu desenvolvimento anterior sob o colonialismo voltado para a economia de mercado capitalista com mobilidade social crescente, enfrentando a promessa de uma infinidade de possibilidades democráticas. Na opinião de Freire, Educação era a chave para mover a sociedade brasileira em direção a relações de poder mais democráticas dentro de uma economia capitalista em processo de modernização. Para Freire, isto pediria que os brasileiros mudassem de uma consciência que ele caracteriza como transitivo-ingênua para uma “consciência crítica transitiva”: consciência articulada com prática. Ele apresenta a noção da “dialogação” como o método pedagógico voltado para essa “consciência crítica transitiva” que em outros textos ele desenvolve cuidadosamente em uma noção de consciência crítica histórica ou conscientização.
Evidentemente, para Paulo Freire, o vínculo essencial entre teoria e prática já se tornou uma premissa fundamental de suas idéias e feitos em prol da transformação educacional no Brasil (e mais tarde em todos os lugares). Com 38 anos, ele cita os 10 anos de “intimidade” que ele já viveu voltado para as mudanças educacionais com trabalhadores urbanos do SESI em Recife como a base nas observações e declarações feitas em sua tese. Sobre as discussões democráticas com origens da classe trabalhadora na qual ele participou como diretor do SESI, ele enfatiza: “Nunca ditamos uma solução aos pais de alunos de escolas sesianas.” (p.24). Esta é a experiência concreta da qual Freire deduz a inspiração e afirmação de sua tese para uma abordagem participatória na educação e ação política, enquanto faz referência aos influentes líderes intelectuais da época. Novamente ele cita Vieira Pinto para sublinhar seu argumento: “A questão se faz clara. Não está, realmente, em que as classes dirigentes, superpostas ao povo, lhe apresentem e lhe imponham a solução de seus problemas. Solução pensada por elas, distanciadas do povo. É preciso que ele cresça em interferência dessa solução.” (p. 23).
No segundo capítulo – baseado em uma análise da formação histórico-cultural da consciência brasileira (p. 59) – Freire disseca as condições da inexperiência democrática do Brasil, devido a sua herança colonial. Freire reivindica que este “espírito democrático subdesenvolvido” deve-se, em parte, por causa da colonização Portuguesa: 1) a expansão geográfica foi muito inexplorada pelos Portugueses devido ao interesse principal da Coroa em fomentar o comércio com o oriente; 2) o tamanho relativamente pequeno de Portugal limitou sua capacidade de povoar e, conseqüentemente, colonizar totalmente o Brasil. Resumindo, ele diz: “Faltou-lhes organicidade com a colônia.” E queriam somente explorar o país. Esta postura particularmente colonizadora, Freire explica, leva à emergência da Fazenda como a forma dominante de comercialização da terra, e o estabelecimento de relações hierárquicas de poder marcadas entre uma classe oligárquica e camponeses e escravos que trabalhavam na terra (p.65). Ele considera esta realidade social estratificada verticalmente como uma dominação que ultrapassa o diálogo e o autogoverno (p. 65). Entretanto, em sua análise da formação social brasileira, é notável que Freire não se aprofunda com êxito nas repercussões da escravidão além de uma consideração do tão chamado “mandonismo” ou “paternalismo” condescendente que resultou da longa situação do regime escravocrata do Brasil. Dado o tempo em que ele estava escrevendo este texto, o esperado era que ele não se engajasse em nenhuma discussão sobre caráter complexo das relações raciais no Brasil, e os efeitos nas iniqüidades contemporâneas econômicas e sociais. Esta é uma crítica a seu trabalho que Freire enfrentaria no futuro.
No terceiro capítulo, Freire esboça as condições básicas necessárias para que os brasileiros deixassem as condições limitadores que ele identifica no capítulo anterior, focando especificamente em uma crítica sobre o sistema educacional contemporâneo, enquanto propõe uma prática educacional democratizante. A meta, de acordo com Freire – considerando a fase história em que o Brasil se encontrava na época em que ele escrevia – era criar uma nova disposição mental crítica em uma parte dos brasileiros, que permitiria que eles sobrepujassem suas inexperiências com o comprometimento político e social (p. 79). Novamente ele cita Mannheim ao insistir que somente através da aquisição do “conhecimento concreto” os brasileiros poderiam se comprometer com uma tributação crítica de seu passado e, portanto, uma transformação radical de seu presente e a formação de um futuro mais democrático. (p. 82.)
A fim de concluir tal mudança ideológica, Freire assegura que uma educação verdadeiramente democratizante deve ser definida fora dos confins de uma aprendizagem institucionalizada: “E é precisamente uma educação assim que, ultrapassando as paredes das escolas, precisa ser incrementada entre nós.” Por outro lado, esta democratização da educação brasileira não deveria ser realizada somente nas escolas, como ele articula nesta visão de esperança por uma nova escola: “Somente uma escola centrada democraticamente no seu educando e na sua comunidade local, vivendo as suas circunstâncias, integrada com seus problemas, levará os seus estudantes a uma nova postura diante dos problemas de contexto.” (p. 85). Trinta anos mais tarde, durante sua liderança no Secretariado Municipal da Educação de São Paulo (MSE-SP) no início dos anos 90, Freire e seus colegas explorariam em prática este modelo da maneira como ele foi incorporado no empenho do Partido dos Trabalhadores em avançar a democratização das escolas públicas no Brasil. Fundamental para este empenho era a reorientação sistemática dos cursos oferecidos pela escola baseado na realidade da comunidade a qual ela serve. (Note 5)
As conceitualizações chave do pensamento de Freire são apresentadas e exploradas do princípio ao fim deste livro, e resumidas no capítulo conclusivo. O livro serve como uma plataforma da qual Freire emite sua crítica preliminar do sistema educacional brasileiro e aponta as práticas predominantes que não estavam suprindo com êxito a crescente demanda do país por uma força de trabalho qualificada, que abasteceria os motores de uma economia industrializada emergente. Para Freire, a precariedade do sistema educacional não correspondia ao seu papel histórico para inserir o “homem” brasileiro (e a mulher) em um “ritmo democrático” cultural e político da maneira que ele coloca. Freire fala sinceramente das tendências sociais brasileiras em “auto-selecionar” (discriminar) e hiperbolizar as divisões de classe como contraditórias ao desenvolvimento das forças democráticas no país. O livro sublinha a permanente convicção do autor no papel emancipatório do ato de saber. Enquanto designava explicitamente as condições limitadas da existência humana em um contexto social e momento histórico propensos, Freire conclui a declaração de sua posição pedagógica-filosófica fundamental: aquele que propõe uma abordagem alternativa para a educação que objetiva a “libertação do homem dessas limitações por meio da consciência das limitações” (p. 114).
Notas
1. MEC (Ministério da Educação e Cultura), Educação para o desenvolvimento, 1958, como citado por Freire em Educação e atualidade brasileira, p. 87.
2. A escravidão foi abolida em 1887. A República e a primeira Constituição Brasileira foi proclamada em 1891.
3. David N. Plank, The Means of Our Salvation: Public Education in Brazil, 1930-1995 (Boulder, CO: Westview Press, 1996).
4. Esta resenha foi escrita durante a deflagração da viciosa guerra do governo dos Estados Unidos no Iraque.
5. Carlos Alberto Torres, Maria del Pilar O’Cadiz e Pia Lindquist Wong, Educacão e democracia: a praxis de Paulo Freire em São Paulo, São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002.
Acerca da autora da resenha
Maria del Pilar O'Cadiz, Ph.D. é diretora executiva da Collaborative After School Project (CASP)–– um projeto de pesquisa e assitencia técnica para os programas educacionais fora do horário escolar –– na Universidade de California, Irvine. O projecto CASP colabora com a Los Angeles County Office of Education e o Departamento de Educacão do estado da California no organizacao da formacao professional e a producao de materias para orientar o trabalo do educadores no sector de “After School.” Dr. O’Cadiz e autora com Pia Lindquist Wong e Carlos Alberto Torres, do livro, Education and Democracy Paulo Freire, Social Movements and Educational Reform in São Paulo, (Westview, 1998), (traduzido ao Portuguese)

Cursos de pedagogia têm três meses para se adequarem às exigências do MEC


Cursos de pedagogia têm três meses para se adequarem às exigências do MEC

By João Santucci in EducaçãoPublished: Saturday, 08 March 08 - 09:07 AM (GMT -04:00)
Da redação Em São Paulo
Os 27 cursos de pedagogia e os cinco de formação de professores que tiveram baixo desempenho no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) terão três meses, a partir desta sexta-feira (7), para se adequar às exigências do MEC (Ministério da Educação). As instituições relacionadas devem assinar um termo de compromisso de melhoria do curso.
A SESu (Secretaria da Educação Superior) divulgou a lista nesta sexta. Em janeiro, 60 cursos da área foram notificados e ficaram sob vigilância do MEC. As instituições tiveram que apresentar ao ministério propostas de melhoria. Do total, 28 tiveram respostas aceitas.
Além disso, 15 cursos de pedagogia receberão visitas de uma comissão do MEC. Serão avaliados, entre outros itens, o corpo docente da instituição, acervo bibliográfico e infra-estrutura. Segundo a assessoria de imprensa da SESu, as visitas terão início na próxima semana.
O secretário de Educação Superior, Ronaldo Mota, disse que "ao término desse prazo, a comissão irá se reunir para analisar o atendimento da determinação".
Outros 12 cursos estão em extinção, sendo cinco de normal superior e sete de pedagogia. Um curso de normal superior precisa de abertura de processo administrativo, por não ter respondido à notificação.
"Queremos assegurar que as turmas existentes concluam para, depois, suspender a oferta do curso. No caso do processo administrativo, apuraremos a real condição de funcionamento da instituição e, se for o caso, promoveremos o seu descredenciamento", disse Mota.
Os 49 cursos de pedagogia e os 11 de normal superior com os conceitos Enade e IDD 1 e 2 foram notificados a enviar suas manifestações para que a comissão de supervisão da SESu avaliasse e definisse as medidas a serem adotadas.
Fonte: UOL Educação

Abandono da escola é mais preocupante no ensino médio e na educação de jovens e adultos



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007, às 12h27

Apesar de a evasão escolar ainda ser um problema no ensino fundamental, o número de alunos que abandonam o ensino médio chama mais a atenção. Segundo o censo escolar 2005 do Instituto Nacional dos Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), 16% dos estudantes de escolas públicas que terminam o ensino obrigatório não chegam a se matricular no ensino médio. E dos que se matricularam, 18% não concluíram os estudos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2004 (Pnad).

A professora Lucíola Santos, da Faculdade de Educação da UFMG, cita alguns fatores que explicam a estabilização dos índices de abandono escolar no ensino fundamental ao contrário do ensino médio. Para ela, a obrigatoriedade do ensino fundamental pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) facilita o entendimento das disparidades. “Eu acho que já está na hora de se pensar no ensino médio também como um nível de ensino obrigatório”, defende.

A estabilidade da evasão escolar no ensino obrigatório também está associada a questões como a progressão continuada e as políticas públicas de assistência. “O que acontecia no passado e que entrava nos dados de evasão era o que se reconhecia por repetência antecipada. O aluno, nos meses de setembro, outubro, abandonava a escola porque sabia que não ia passar de ano. Hoje, com a progressão continuada, sem ter esse problema de ser reprovado, esse fenômeno desapareceu”, comenta a professora.

Renda
Outra questão são as políticas de governo que contribuíram para a mudança de comportamento da sociedade. “As crianças e adolescentes das camadas mais populares que tinham que trabalhar para ajudar na renda familiar, hoje, com o estímulo do Bolsa Família que obriga a freqüência escolar, acabam freqüentando mais as escolas.”

Mas após o término do ensino fundamental ou quando o aluno atinge a idade de 15 anos, a família já não pode mais contar com o auxílio do Bolsa Família. Este adolescente é considerado apto a trabalhar sem que isso seja considerado exploração do trabalho infantil. Essa idade coincide justamente com a época em que o aluno termina o ensino obrigatório. E a partir daí, surgem dificuldades em conciliar o trabalho e os estudos.

Uma pesquisa realizada pela Unesco constata que a maior parte das políticas públicas voltadas para juventude contemplam crianças e adolescentes de até 17 anos. Segundo as coordenadoras da pesquisa, Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro, existe um grupo acima de 17 anos que está fora de cobertura de políticas públicas destinadas a garantir a permanência de estudantes nas escolas.

A pesquisa ouviu 50 mil jovens e 7 mil professores em 13 capitais brasileiras e pode ser encontrada no livro Ensino Médio: Múltiplas Vozes, lançado pelo Ministério da Educação.

Outros responsáveis pela queda de matrículas no ensino médio regular são a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e o ensino profissionalizante. A procura pelo ensino técnico profissionalizante cresceu 10,6% em 2005. Já a EJA, apesar de ter apresentado um decréscimo de 1,8% nas matrículas no ano passado, também absorve parte dos alunos que procuram por um ensino médio com duração mais curta, de 2 anos ou menos, cuja oferta maior é no período noturno. É importante lembrar que esse decréscimo é relativo devido ao grande aumento de matrículas na EJA nos anos anteriores.

Mas as turmas de EJA também apresentam alto índice de evasão. “Os alunos trabalhadores, às vezes, começam os estudos e depois se cansam, acham que começam a gastar muito com transporte, às vezes mudam de emprego, passam a trabalhar à noite”, comenta Lucíola Santos. A pesquisa da Unesco ainda reforça que a diferença social interfere nos sonhos dos alunos do ensino médio. “Enquanto os estudantes da escola privada estão preocupados com o vestibular, os da pública se ocupam em arrumar emprego ao terminar o ensino médio”, ressalta.

Para Jacqueline Lara, coordenadora pedagógica do Centro Marista de Educação e Cidadania (Cemec), uma unidade social do Instituto Irmãos Marista, dedicada à educação de jovens, além dos fatores sociais, o ambiente escolar também é responsável pelas evasões. Professores desmotivados devido aos baixos salários e à falta de oportunidade para aperfeiçoamento não favorecem a permanência dos estudantes em sala de aula.

“A estrutura tradicional da escola brasileira – onde os saberes são transmitidos e não construídos pelos educandos – não atendem às suas necessidades educacionais e sociais vivenciadas numa sociedade onde a desigualdade impera”, diz Jacqueline. (Assessoria de Comunicação do Ceale/FaE)

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