quinta-feira, 22 de maio de 2008

O que é metáfora?


Metáfora

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



Figuras de linguagem da Língua Portuguesa

Figuras semânticas

Figuras sintáticas

Metáfora é uma figura de estilo (ou tropo linguístico), que consiste numa comparação entre dois elementos por meio de seus significados imagísticos, causando o efeito de atribuição "inesperada" ou improvável de significados de um termo a outro.

Didaticamente, pode-se considerá-la como uma comparação que não usa conectivo (por exemplo, "como"), mas que apresenta de forma literal uma equivalência que é apenas figurada.

Meu coração é um balde despejado


Etimologia

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra deriva do latim metaphòra (metáfora), por sua vez trazido do grego metaphorá ("mudança, transposição"). O prefixo met(a)- tem sentido de "no meio de, entre; atrás, em seguida, depois". O sufixo -fora (em grego phorá) designa 'ação de levar, de carregar à frente'.

Metáfora é o emprego da palavra, fora do seu sentido normal.

Relação com outras figuras de linguagem

Enquanto a metáfora trabalha com os traços semânticos comuns entre duas idéias, a metonímia trabalha com a relação de contigüidade entre elas.

Pedindo auxílio à teoria dos conjuntos, como fez Othon Moacyr Garcia em seu clássico "Comunicação em Prosa Moderna", perceberemos que os traços de significados das duas idéias comparadas entram em interseção na metáfora.

Por exemplo (e subjetivamente), um gato é um quadrúpede, mamífero, felino, que mia e é considerado sensual. Um moço é bípede, mamífero, humano, fala e pode ser sensual. Ao compararmos os dois com a metáfora "Esse moço é um gato", o traço de significado que provavelmente estaremos colocando em intersecção é apenas o traço sensual.

Imagem:MetaforaGisela.gif

Já na metonímia, as duas idéias não se superpõe como na metáfora, e sim estão relacionadas por contigüidade, proximidade.

Por exemplo, as expressões: 1- "sem-teto", 2- "Tomou o copo todo", 3- "Adoro o Verissimo" são metonímias, respectivamente, porque:

1- O termo teto está em relação de contigüidade com o resto da habitação. É uma das suas partes, e na expressão substitui o todo "habitação". (Um sem-teto geralmente também não tem o restante da habitação - a porta, as janelas, as paredes, o chão.)

2- O termo copo normalmente contém alguma bebida, e é usado no lugar da bebida que contém. (Ninguém consegue beber o copo)

3- O termo Veríssimo é usado no lugar dos livros e crônicas do autor. (A pessoa gosta dos textos do autor, independentemente de conhecê-lo pessoalmente e gostar dele).

Metáfora na Computação

“O Virtual - U sugere que a metáfora dos espaços é necessária para fornecer uma idéia de lugar, a qual representará um modelo intelectual útil e facilitador da navegação por parte do usuário” [Harasim]

  • Exemplos:
  • Alguns sites apresentam por exemplo uma "sala" para conversas, um "mural" para recados, dentre outras metáforas.

Exemplos de Metáfora

  • Eu sou um poço de dor e amargura.
  • Sou um cachorro sem sentimentos.
  • Dois diamantes brilhavam no rosto da menina.
  • Seus olhos são dois oceanos.
  • Não anda bem da cabeça.
  • Meu pensamento é um rio subterrâneo. Fernando Pessoa

Referências

  • FIGUEIREDO, Olívia e FIGUEIREDO, Eunice Barbieri (2003). Dicionário Prático para o estudo do Português. Porto: Edições ASA
  • HARASIM, Linda e CALVERT, Tom e GROENEBOER, Chris. Virtual – U: A web-based system to support collaborative learning. Web Teaching – A guide to designing Interactive Teaching for the World Wide Web, David W., Brooks, Plenum Press, New York and London , 1997.
  • LAKOFF, George e Johnson, Mark (1980) Metaphors we live by. Chicago: University of Chicago Press
  • LAUSBERG, Heinrich (1967) Elementos de retórica literária. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 5.ª edição
  • PERELMAN, Chaïm (1987) "Analogia e Metáfora", pp 207-217 In ROMANO, Ruggiero Enciclopédia Einaudi vol. 11 - Oral/Escrito e Argumentação. Lisboa: IN-CM




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O que é analogia?


Analogia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Uma analogia é uma relação de equivalência entre duas outras relações.

As analogias têm uma forma de expressão própria que segue o modelo: A está para B, assim como C está para D. Por exemplo, diz-se que: "Os patins estão para o patinador, assim como os esquis estão para o esquiador". Ou seja, a relação que os patins estabelecem com o patinador é idêntica à relação que os esquis estabelecem com o esquiador.

A maior parte das pessoas achará a analogia dos esquis/patins verdadeira. No entanto, é extremamente dificil estabelecer de forma rigorosa porque é que é verdadeira. Normalmente, as analogias são fluidas e uma análise mais detalhada poderá revelar algumas imperfeições na comparação. Afinal, esquiar e patinar são actividades parecidas, mas não são exactamente iguais.

Direito

Consiste em aplicar a um caso não previsto de modo direto por uma norma jurídica, uma norma prevista para um hipótese distinta, mas semelhante ao caso concreto. Aplica-se também o Art. 5º LICC- Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Podemos classificar de duas formas a analogia: a primeira como "in bonam partem" que é aquela que não prejudica o agente, não gerando soluções absurdas. A segunda como "in malam partem", é aquela que de alguma forma prejudica o agente, por isso não é admitida no Direito penal.

Agente = réu = sujeito ativo

Os requisitos para a aplicação judicial da analogia conforme prevista na LICC são a existência de anomia, a semelhança do caso em tela com a norma, mediante o estudo científico na legislação vigente e ratio legis, ou seja, análise do bem jurídico tutelado.

A analogia não é permitida no ramo do Direito Penal, salvo para beneficiar o réu; tampoco em matéria tributária para a criação de novos tributos.

É forma primordial para o preenchimento das lacunas no ordenamento jurídico, também sendo conhecida como autointegração, pois é realizada com os próprios recursos do sistema legislativo.

Matemática

Em matemática foi desenvolvida uma versão mais formal de analogia, o isomorfismo.

Anatomia

Ver artigo principal: Analogia (biologia)

Em anatomia, duas estruturas anatômicas são consideradas análogas quando elas possuem a mesma função mas não são relacionadas evolutivamente, tais como a pernas de um vertebrado e as patas de um inseto. Estrutura análogas são o resultado de evolução convergente e são diferenciadas de estruturas homólogas.

Existe também analogia no Direito.

Ver também


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LÍNGUA PORTUGUESA. REFACÇÃO DE TEXTOS



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REFACÇÃO TEXTUAL E GÊNEROS DISCURSIVOS:
UMA ABORDAGEM PRÁTICA
Idelma Maria Nunes PORTO
(Universidade Estadual de Londrina)
ABSTRACT: The present article integrates the studies of the research Project in applied Linguistics - of
ethnographic stamp - "Writing and grammatical teaching: a new look for an old problem" that focalizes
Portuguese teacher’s formation through diagnosis, intervention and reflection theoretical-practice, the
refinement of process teaching-learning of mother language, above what it refers to the linguistic analysis. In
that context, the discussions have been considering the discursive genre as a teaching object - articulation axis
and curricular progression - and the text, as a unit of meaning and teaching - integration element of reading
practices, linguistic analysis and textual production. The aim in this paper is to analyze a didactic sequence, of
narrating order, starting from linguistics-enunciation marks in relation to the production conditions (supports,
speakers, purpose and circulation place), the theme and the compositional construction, in the process of
possible sense effects, and pointing work suggestions, in a didactic sequence, in order to contribute in a
theoretical-practical way with the studies related to the process of teaching-learning of mother language.
KEYWORDS: linguistic analysis, narrative, didactic sequence.
1. Contextualização
A visão interativa da linguagem no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa tem
sido discutida desde os anos 80, sendo entendida como a integração, sem artificialidade, via
texto, das atividades básicas de ensino: leitura, análise lingüística e produção textual,
estabelecida entre professores e alunos no trabalho em sala de aula.
Mais recentemente, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997;
1998) apontam que o ensino seja pautado nos gêneros textuais, visando uma mudança no
ensino de língua portuguesa, fundamentado, até então, na gramática normativa.
Tal documento tem como princípio a concepção enunciativa de Bakhtin (2000, p.52),
em que a linguagem é vista como ação social: "A comunicação verbal na vida cotidiana não
deixa de dispor de gêneros criativos. Esses gêneros do discurso nos são dados quase como nos
é dada a língua materna, que dominamos com facilidade antes mesmo que lhe estudemos a
gramática".
Essa abordagem é adotada pelos PCNs (BRASIL, 1997; 1998) sob dois enfoques: o
uso da língua e a reflexão sobre a língua. Como instrumento prescritivo, o documento indica
alguns gêneros para a prática de leitura e produção de textos orais e escritos que, de certa
forma, abrem perspectivas para instrumentalizar os alunos para os usos efetivos de linguagem
no meio social.
Assim, na escola, aos alunos deveria ser propiciado o aprendizado de gêneros
discursivos existentes na sociedade, para poderem exercer plenamente a cidadania. No
entanto, há, ainda, um fosso entre a teoria e a prática docente.
Nesse sentido, com fundamentação da Lingüística Aplicada (Moita Lopes, 2000;
Celani, 2000; entre outros), sobre a formação continuada de professores, e com estudos
teóricos, sobretudo, de Bakhtin (1992), Rojo (2000), Rojo e Cordeiro (2004) e Dolz e
Schneuwly (1996; 2004), no projeto “Gramática e Ensino Gramatical”, que visa a
diagnosticar e intervir na abordagem do ensino gramatical, em séries do nível fundamental,
Perfeito (2005, p. 61) elabora uma proposta, partindo de idéias de Barbosa (2003), a ser
utilizada na análise de textos de variados gêneros, no espaço escolar:
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Contexto de produção e relação autor/leitor/texto - observação de aspectos relativos
ao/à: autor/enunciador, destinatário, provável objetivo, local e época de publicação e
de circulação; exploração das inferências, das críticas, das emoções suscitadas;
criação de situações-problema e de transformações, veiculadas a efeitos de sentido
do texto etc.
Conteúdo temático - temas que são tratados em textos pertencentes ao gênero em
questão.
Organização geral (construção composicional) - a estrutura, o arranjo textual.
Marcas lingüísticas e enunciativas - características do gênero (lingüísticas) e do
autor (enunciativas), o qual veicula seu texto, fundamentalmente, em determinado
gênero (recursos lingüístico-expressivos mobilizados).
O projeto, em andamento desde 2003, envolve alunos de graduação, especialização e
mestrado/doutorado e professores da rede pública e particular de Londrina e de outras cidades
do Paraná, com vistas ao diagnóstico e intervenção, em salas de aulas de 4ª e 8ª séries.
O presente recorte representa um processo de diagnóstico feito, pela autora, em uma
escola pública do sul da cidade de Londrina, no final de 2003, com gravação e transcrição das
aulas cuja análise teve como resultado uma monografia de conclusão de Especialização, em
2004. No ano de 2005, os membros do grupo continuavam o diagnóstico e faziam a
transcrição e a discussão dos resultados em outras escolas. Em 2006, a autora ingressou no
mestrado, dando prosseguimento à fase de intervenção.
Na escola em que desenvolvemos o trabalho, a professora com quem havia sido feito o
diagnóstico, em uma 4ª série, aposentou-se no início de 2005, mas deu abertura para que suas
aulas, gravadas e transcritas, fossem lidas e analisadas pelo grupo de professoras de ensino
fundamental (1ª a 4ª série).
Nosso foco, nas discussões, inicialmente, foi a percepção de como estão situados os
gêneros discursivos na visão interacionista da linguagem e, sobretudo, de como planejar, via
gêneros, as atividades de análise lingüística, com a abordagem prática de variados gêneros de
diferentes ordens. Após essa discussão, o grupo de professoras decidiu trabalhar no sentido de
elaborar um currículo cujo eixo seriam os gêneros discursivos.
Para atingir tal objetivo, no entanto, estamos acompanhando o planejamento e o
desenvolvimento do trabalho prático para dirimir dúvidas sobre a abordagem do gênero como
eixo de progressão e articulação curricular, integrando as atividades de leitura, de análise
lingüística e de produção/refacção textual. E, nesse sentido, propiciamos maiores discussões
sobre o ensino gramatical contextualizado.
As professoras decidiram que a primeira unidade a ser abordada seria a fábula. Dessa
forma, estamos acompanhando-as, desde a escolha, a “dosagem” e as atividades propostas nos
dois primeiros ciclos do ensino fundamental, sobretudo, em relação à análise lingüística, uma
das maiores dificuldades evidenciadas por elas no trabalho.
No artigo em pauta, então, apresentamos algumas reflexões sobre a abordagem levada
a efeito por uma professora do grupo, desde a leitura à refacção textual, antes do processo de
intervenção, e apontamos algumas possibilidades de encaminhamento.
Paralelamente, na escola, estamos discutindo com as professoras, tais atividades e
propondo abordagens (com as devidas reformulações/adequações e aprofundamentos),
relativas ao conteúdo temático e às suas condições de produção, juntamente ao arranjo textual
e às marcas lingüísticas, no processo de exploração de aspectos pertinentes à fábula.
2. Gêneros discursivos e refacção
O trabalho do professor de língua portuguesa constitui-se em multiplicar, aumentar e
acrescentar os recursos expressivos de que a criança não dispunha. O aluno deve, a
longo prazo, estar em contato com as formas que coloquialmente não usa, e saber
usá-las em situações formais. (MURRIE, 1994, p.20)
1082
A apropriação da escrita pelo aluno acontece em vários momentos, todos eles
mediados pelo professor: o da motivação para a produção do texto; o da reflexão, que deve
preceder e acompanhar todo o processo de produção; e, finalmente, o da revisão,
reestruturação e reescrita do texto, que acaba se constituindo, também, em um produtivo
momento de reflexão.
Segundo os PCNs (BRASIL, 1997), as atividades de análise lingüística são aquelas
que consideram determinadas características da linguagem como objeto de reflexão. Essas
atividades apóiam-se na capacidade humana de refletir, analisar, pensar sobre os fatos e os
fenômenos da linguagem (atividades epilingüísticas); e na propriedade que a linguagem tem
de poder referir-se a si mesma, de falar sobre a própria linguagem (atividades
metalingüísticas).
Nesse sentido, é possível organizar um trabalho didático cujo objetivo principal é
melhorar a capacidade de compreensão e expressão dos alunos, em situações de comunicação
tanto escrita como oral.
Em relação à escrita de textos, a prática de análise e reflexão sobre a língua permite
que se explicitem saberes implícitos dos alunos, abrindo espaço para sua
reelaboração. Ela implica uma atividade permanente de formulação e verificação de
hipóteses sobre o funcionamento da linguagem que se realiza por meio da
comparação de expressões, da experimentação de novos modos de escrever, da
atribuição de novos sentidos a formas lingüísticas já utilizadas, da observação de
regularidades (no que se refere tanto ao sistema de escrita quanto aos aspectos
ortográficos ou gramaticais) e da exploração de diferentes possibilidades de
transformação dos textos (supressões, ampliações, substituições, alterações de
ordem, etc.). (BRASIL, 1997, p. 53)
E quanto às atividades de leitura, o trabalho de reflexão sobre a língua é importante
por possibilitar a discussão sobre diferentes sentidos atribuídos aos textos de acordo com os
elementos mobilizados. O trabalho didático de análise lingüística a partir dessas
considerações se organiza tendo como ponto de partida a exploração ativa e a observação de
regularidades no funcionamento da linguagem.
Desse modo, os objetivos de Língua Portuguesa para o segundo ciclo, estabelecidos
pelos PCNs são: produzir textos escritos, coesos e coerentes, dentro dos gêneros previstos
para o ciclo, ajustados a objetivos e leitores determinados; escrever textos com domínio da
separação em palavras, estabilidade de palavras de ortografia regular e de irregulares mais
freqüentes na escrita e utilização de recursos do sistema de pontuação para dividir o texto em
frases; e revisar seus próprios textos a partir de uma primeira versão e, com ajuda do
professor, redigir as versões necessárias até considerá-lo suficientemente bem escrito para o
momento.
Se o objetivo é que os alunos utilizem os conhecimentos adquiridos por meio da
prática de reflexão sobre a língua para melhorar a capacidade de compreensão e expressão,
tanto em situações de comunicação escrita quanto oral, é preciso organizar o trabalho
educativo nessa perspectiva.
Sob esse enfoque, os PCNs relativos ao 3º e 4º ciclos (1998, p.60) sugerem
encaminhamentos (possíveis) para a tarefa: discussão e encaminhamento de soluções para um
texto de uma aluno selecionado por ser representativo das dificuldades coletivas; análise e
discussão de problemas selecionados, propondo questões que orientem o trabalho; registro das
respostas apresentadas pelos alunos às questões propostas e discussão das diferentes
possibilidades em função de critérios de legitimidade e de eficácia comunicativa; reelaboração
do texto, incorporando as alterações propostas; selecionar um conjunto de trechos de vários
alunos para desenvolver com mais profundidade questões morfossintáticas; e quando os
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alunos já tiverem um domínio de práticas de refacção coletiva, ampliar o grau de
complexidade da tarefa, propondo sua realização em duplas, em pequenos grupos,
encaminhando-se para a autocorreção.
Os PCNs relacionam os gêneros previstos para a prática da produção de textos.
Atribuem, no entanto, ao professor, a tarefa de planejar e desenvolver atividades que levem os
alunos a refletir sobre seu próprio texto – tais como atividades de revisão, de reestruturação
ou refacção do texto, de análise coletiva de um texto selecionado – e sobre outros textos, de
diversos gêneros, que circulam no contexto escolar e extra-escolar.
Depreende-se, portanto, que a reescrita insere-se no processo de produção textual, com
a intervenção do professor no texto discente, apontando problemas ortográficos, de
concordância, de acentuação, coerência, de paragrafação, de pontuação, sempre referentes ao
contexto de uso e ao gênero para que, gradativamente, os alunos possam avaliar a adequação
do uso de uma forma ou de outra, de acordo com as condições de produção.
A tarefa de ensinar o aluno a identificar os problemas do texto, usando para isso o
conhecimento que possui sobre a língua, exige do professor a prática constante de leitura de
textos, o estudo das características dos gêneros, a competência como escritor.
O hábito de ler muito, e ler gêneros variados, favorece a atuação do professor como
parceiro experiente dos alunos. Quanto mais o professor souber sobre os textos que ensina,
melhor será a qualidade de sua intervenção.
3. Abordagem em sala de aula
Na fase de intervenção, como a professora cujas aulas foram analisadas havia se
aposentado, decidiu-se observar as aulas da atual professora da 4ª série, para se ter parâmetros
de comparação das atividades desenvolvidas antes com as a ser levadas a efeito após as
discussões de análise lingüística, sobretudo, na refacção.
O corpus constitui-se da observação/diagnóstico de 9 horas-aula, gravadas em áudio e
transcritas, em novembro de 2006, após ter sido iniciado o processo de estudo em grupo com
as professoras de 1ª a 4ª série (junho de 2006). Nas conversas iniciais, as docentes afirmaram
não conhecer o que seriam gêneros e nem como poderia ser organizado o currículo sem ter
como base o conteúdo gramatical. A abordagem foi feita, então, com a leitura do texto de
Perfeito (2005) sobre concepções de linguagem.
As discussões partiram de um resgate histórico do ensino de gramática à proposta
contemporânea de abordá-la de forma contextualizada, chegando-se aos conceitos de gênero e
de como ensiná-la nessa perspectiva. Primeiramente na leitura e depois na refacção.
Dessa forma, no trabalho em questão, nosso foco, embora tenhamos trabalhado com
seqüenciais didáticas, é a refacção textual.
Descrição da seqüência didática
Leitura
A Raposa e a Cegonha
Certa vez, uma Raposa que era amiga de uma cegonha resolveu pregar-lhe uma peça
e convidou-a para jantar na toca. Quando a cegonha chegou, a anfitriã serviu uma
deliciosa sopa num prato raso.
– Hum que delícia?! – disse a raposa, lambendo o prato. O que você acha, amiga
cegonha? Por mais que se esforçasse, só conseguia bicar a comida.
– Ai amiga raposa... – murmurou a cegonha. – Esse prato é muito raso. Não dá para
comer nada.
Mesmo assim a raposa contendo risadas insistia para que a cegonha comesse, mas
como não conseguia acabou desistindo.
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Quando foi embora a cegonha agradeceu muito a gentileza e disse que fazia questão
de retribuir o jantar no dia seguinte.
Assim que chegou a casa da cegonha a raposa lambendo os beiços mal podia esperar
o jantar, Para o seu desapontamento ele foi servido em jarras altas de gargalho
estreito onde a cegonha podia tomar sopa sem nenhum problema.
– Hum, como está gostosa! O que você acha amiga raposa?
– O que posso dizer? – resmungou a raposa tentando em vão enfiar a cabeça na boca
do jarro.
– Que pena! – disse a cegonha com toda a calma.
Amoladíssima e com fome a raposa foi para a casa. O feitiço virava contra o
feiticeiro.
Moral: Não faça aos outros o que não deseja que os outros lhe façam.
Fábula de Esopo, recontada pelas autoras
Com a fábula “A raposa e a cegonha”, a professora inicia o trabalho de leitura
(silenciosa, com leitura representativa pelos alunos e oral pela professora). Na seqüência, faz
a abordagem do texto, com as seguintes questões:
1) O que é uma fábula?
2) O que o autor quer discutir com a fábula “A raposa e a cegonha”?
3) Qual o problema vivido pela cegonha?
4) E que sentimento da raposa foi evidenciado na fábula?
5) Qual a lição a fábula tem intenção de ensinar ao leitor?
6) Que pontuação foi usada na fábula para indicar a fala dos personagens?
7) Quantos parágrafos têm esse texto?
8) Nessa fábula, o autor se preocupou em descrever os personagens da história?
9) Retire do texto:
a) substantivos próprios
b) procure no dicionário o significado de anfitriã
As questões são trabalhadas oralmente pela professora. A questão 1, por exemplo, só
faz sentido nesse tipo intervenção adotado pela docente (ela responde e depois os alunos
escrevem), pois é ampla e não são dados parâmetros para que eles tenham um conhecimento
em que se apoiar para respondê-la. Uma estratégia seria trabalhar, antes de iniciar a leitura,
com três fábulas diferentes, transcritas no quadro para que os alunos pudessem compará-las e
identificar semelhanças de arranjo textual e de marcas lingüísticas. Com base nessas
informações, poderiam chegar a uma conclusão/definição de como são denominados os textos
que apresentam tais “características”.
.. fábulas são histórias que foram contadas por um adulto no sentido de que... de
aconselhar... de alertar sobre algo... né que poderia acontecer na vida real das
pessoas... e uma fábula nem sempre nós sabemos quem criou [...] no caso aqui tem a
fábula do Esopo recontada pelas autoras... nós vamos o que é essa fábula do Esopo...
numa fábula... ela põe os animais para falar sobre certos comportamentos humanos...
[...]
... fábula de Esopo... quer dizer são contadas e readaptadas por seus continuadores...
são curtas e bem humoradas... são recontadas.... e essa fábula do Esopo... o mais
famoso contador de fábulas do mundo foi o Esopo... era um escravo que viveu na
Grécia há mais de 2500 anos...
Como o trabalho do professor em sala de aula é, muitas vezes, intuitivo, verificamos
uma percepção de marcas lingüísticas do gênero, mas falta um conhecimento maior delas. Na
questão 2, por exemplo, há um direcionamento para que o aluno perceba o tema, que é bem
caracterizado nas fábulas: o conteúdo da história apresenta algo que acontece entre dois, no
1085
máximo, três animais e que tem a ver com as características deles (por exemplo: gatos e ratos
– tema: os fortes vencem os fracos).
A questão (2) é ampla e, pela maneira como foi elaborada, permite uma proximidade
com a questão 5, que aborda a moral da história: frase que é colocada no final no texto,
geralmente destacada, sendo uma espécie de crítica ou conselho do fabulista para o leitor.
Nesse texto, especificamente, a moral vem identificada, em outros, porém, pode não vir
expressa, exigindo inferências. Poderia ser trabalhado o sentido da palavra moral, com uma
questão do tipo: “o texto termina com uma lição. A palavra lição pode ser substituída por uma
outra expressão encontrada no último parágrafo do texto. Qual é esta outra palavra?”
A questão 3, por sua vez, assinala apenas um conflito (o vivido pela cegonha) e não
contempla o segundo conflito (o vivido pela raposa). Momento em que poderiam ser
exploradas as características antagônicas dos personagens das fábulas, que organizadas na
narrativa evidenciam o tema e a moral. A não percepção desse aspecto interferirá no trabalho
de produção e refacção textual, como veremos adiante.
Quando aborda a pontuação para indicar a fala dos personagens (questão 6), não basta
apenas identificar mas também apontar para mudanças importantes que acontecem na
narrativa, com relação ao tempo verbal: do pretérito perfeito para o presente e o efeito de
sentido produzido.
Na questão 7, além de identificar a quantidade de parágrafos, poderia se verificar
como os elementos da estrutura tradicional dos gêneros da ordem do narrar são organizados
nesse arranjo. Percebemos, então, que o texto apresenta duas personagens em uma seqüência
narrativa composta de 11 parágrafos:
1º parágrafo: apresentação de uma personagem genérica e de suas atitudes.
2º parágrafo: introdução do conflito (Quando a cegonha chegou, a anfitriã serviu uma
deliciosa sopa num prato raso)
4º parágrafo: o clímax (Mesmo assim a raposa contendo risadas insistia para que a
cegonha comesse, mas como não conseguia acabou desistindo)
5º parágrafo: resolução da complicação (Quando foi embora a cegonha agradeceu
muito a gentileza e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte)
6º parágrafo: introdução de um novo conflito (Para o seu desapontamento ele foi
servido em jarras altas de gargalho estreito onde a cegonha podia tomar sopa sem nenhum
problema)
10º parágrafo: resolução desse conflito e comentário final (Amoladíssima e com fome
a raposa foi para a casa. O feitiço virava contra o feiticeiro)
11º parágrafo: a moral ou ensinamento (Não faça aos outros o que não deseja que os
outros lhe façam)
A questão 8 parece ser uma tentativa de evidenciar que nas fábulas, animais aparecem
como personagens, com atitudes que servem de comparação com o comportamento humano, e
por isso não há necessidade de descrevê-las com muitos detalhes, pois já são bastante
conhecidas. Para atingir tal objetivo, no entanto, poderia ser solicitado ao aluno explicar o
porquê da resposta.
Já na questão 9, retirar do texto os substantivos próprios não acrescenta conhecimentos
ao aluno e parece ter sido utilizada para aferir se os alunos sabem o que é substantivo e um
pretexto para que a professora explique essa classificação gramatical. Só saber o significado
de anfitriã também não contribui no processo de aprendizagem quando se pretende formar
leitores competentes. Poderia ser feita uma pergunta que explorasse os possíveis sentidos das
escolhas lexicais do autor (marca enunciativa), como: “A palavra anfitriã pode ter sentidos
diferentes: 1) o dono da casa; 2) quem dá ou dirige um banquete; ou 3) quem paga as despesas
de uma refeição. Identifique qual sentido é mais adequado ao texto. Justifique.”
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Após fazer a explanação oral, a atividade proposta é responder por escrito tais
questões1. Nesse momento, os alunos sentem dificuldades em relação às questões 1, 2 e 5, as
que abordam justamente aspectos inerentes ao gênero fábula.
Em suma: como havíamos iniciado o processo de intervenção, com uma discussão
sobre gêneros, percebemos que a professora incorpora alguns conceitos em sua aula:
P: vocês já me explicaram.. fábulas são histórias que foram contadas por um adulto
no sentido de que... de aconselhar... de alertar sobre algo... né que poderia acontecer
na vida real das pessoas... e uma fábula nem sempre nós sabemos quem criou [...] no
caso aqui tem a fábula do Esopo recontada pelas autoras ... nós vamos o que é
essa fábula do Esopo... numa fábula... ela põe os animais para falar sobre certos
comportamentos humanos... então há o que fala de... de.... de animais ali numa
fábula... quem mais sabe falar sobre fábula?... o que mais vocês poderiam falar?...
Os conceitos abordados dizem respeito, no entanto, ao contexto de produção e em
alguns momentos enfoca o arranjo textual (na proposta de produção textual). O trabalho com
as marcas lingüísticas (do gênero) e com as marcas enunciativas (do autor) ainda é pouco
perceptível.
A estrutura tradicional dos gêneros da ordem do narrar (apresentação/orientação;
conflito/complicação; resolução/desfecho, acrescidas da avaliação do narrador), juntamente à
marca lingüística de tempo verbal (pretérito perfeito, como fato acabado, findo) não se
menciona. Assim como não é explorada a utilização do presente (marca enunciativa, em toda
a complicação, com o uso do discurso direto, entremeado na voz do narrador), indicando,
possivelmente, a busca de proximidade com o leitor, no momento do conflito.
Produção de textos
Nas aulas seguintes, a professora retoma alguns pontos das aulas anteriores e pede
para os alunos produzirem uma fábula, primeiro em rascunho e depois na folha a ser entregue.
Orienta sobre a estrutura do gênero: personagens, ambiente, tempo, época, conflito,
complicação, desfecho e moral da história. Conforme foram terminando, ela corrigiu o
rascunho para, então, procederem a versão definitiva. Também fizeram um desenho de acordo
com a história produzida e algumas histórias foram lidas e comentadas.
Um aspecto positivo da produção é a opção por fazer um rascunho antes da versão
final. Esse recurso poderia ser mais valorizado/utilizado como processo de criação/produção,
quando o autor/aluno lê, modifica, apaga, rabisca, anota, faz modificações para melhorar o
texto.
A proposta: Escreva uma fábula que tenha duas personagens e seja narrada por
um narrador – observador, ou seja, que conte o acontecimento como se tivesse
visto o que aconteceu.
Nesse caso, a professora faz opção por texto de criação, conforme os PCNs (BRASIL,
1998), em que o aluno deve articular o que dizer ao como dizer. Exige-se, por conseguinte,
criatividade e originalidade, com surpresa, interesse e suspense, nos movimentos do arranjo
textual e nas marcas lingüístico-enunciativas.
Observações importantes são apontadas para orientar o trabalho dos alunos: o narrador
não participa da história, é observador, e há duas personagens. Essas orientações parecem
1 Procedimento adotado por essa professora e também pela observada anteriormente, assim como pelo grupo de
professoras de 1ª a 4ª série, por considerarem que esse recurso facilita o trabalho dos alunos para compreender e
responder as questões.
1087
insuficientes para alguns. Outros, aparentemente, já com alguma experiência com o gênero,
atingiram o objetivo.
A proposta vinculou-se à leitura e análise do gênero realizada anteriormente, mas
ainda assim, há pouca familiaridade de alguns alunos com a organização textual e as marcas
lingüísticas da fábula, como podemos verificar no texto produzido por um aluno, analisado a
seguir:
Fig. 1 – produção de um aluno
No texto, há dois personagens pouco caracterizados, não sabemos se são animais ou
pessoas, apenas que são dois irmãos. Isso contraria uma das marcas da fábula que é apresentar
um fato desenrolado por animais de características diferentes das quais pode se identificar o
tema. O título não é adequado já que não justifica porque tatu e bolinha são preguiçosos.
Podemos, no máximo, fazer uma inferência pelo fato de os dois não lavarem a louça para a
mãe.
A narrativa começa com o pretérito perfeito (foram, falou) e quando o personagem
fala, usa o discurso direto, no tempo presente (lava), embora não use a pontuação para
sinalizar. E flexiona adequadamente verbos (foram, vamos, subiram).
O aluno não utiliza ponto final ou vírgula e sim conjunção coordenada e para ligar as
frases. Ainda apresenta incorreções ortográficas por pronunciar igualmente fonemas distintos
(ceguinte – s/inicial) representados por letras diferentes e as chamadas “dificuldades” (quaiu –
c/qu, sobir – o/u). Esses aspectos, caso não sejam recorrentes na turma, devem ser trabalhados
na refacção individual, com os assinalamentos da professora, e serão discutidos com o grupo
de professoras, com maior profundidade, em um segundo momento da intervenção.
Sob o ponto de vista da adequação à proposta da professora e ao gênero, da inclusão
dos elementos da narrativa, do arranjo textual e dos problemas formais, faltou a escolha da
temática, o tipo de problema e o final, ou seja, a moral.
Em síntese, podemos constatar que o aluno:
1088
· dá saltos no tempo, criando lacunas narrativas (um dia no parque Artur Tomas, no
outro brincam perto de casa)
· introduz mal os personagens (quem são tatu e bolinha? Um tatu e um cachorro? Ou
trata-se de um tatu-bola?)
· não cria conflito, trama narrativa (o tatu desmaiou e o que aconteceu com o
bolinha? Desmaiou também?)
· não há um tema (seria a preguiça mencionada no título a tentativa de apresentar
um tema?)
A leitura de outros textos do mesmo gênero, a discussão do arranjo textual, dos temas,
da composição dos personagens, seria uma fase importante para a elaboração desse trabalho,
já que alguns alunos tiveram dificuldades. Como uma primeira produção, poderiam ser
propostos vários temas com os respectivos personagens para que os alunos desenvolvessem a
narrativa e apresentassem uma moral.
A refacção
Para a refacção textual, a professora escolheu dois textos para ser analisados,
de forma coletiva, tendo como critério o fato de não atender a proposta inicial:
P:... porque que eu escolhi... eu não sei de quem que é... eu não vi o nome... a
maioria que eu... que nós vimos... faltou o que... um conflito... agora... de todos
textos que nós trabalhamos... que nós vimos... eu vou ler alguns para estar
analisando... que nós vamos fazer a refacção textual... por que?... porque dentre
todos os textos... eu escolhi os que precisam ser analisados... que nós precisamos
verificar... o que precisa mudar... então dentro desses textos que eu vou retornar pra
vocês tá... que nós vimos... que que nós vamos estar analisando?... o que nós vamos
estar olhando?... será que está dentro do conteúdo que nós trabalhamos?... o que nós
trabalhamos? Qual tipo de texto... gênero de texto que nós trabalhamos?
A: fábula
Analisaremos aqui, o texto “Os dois preguiçosos: Tatu e Bolinha”. A professora faz a
leitura oral e, após prossegue fazendo análise e discussões com os alunos, enquanto uma aluna
faz a transcrição com as alterações sugeridas pelo grupo, no quadro. Seu foco é
principalmente o arranjo textual:
P: é... então olha... o que nós analisamos ontem... hoje... nós estamos retornando o
que que deve ser revisto no texto... o que precisa melhorar... o que que eu passei
ontem lá... que um fábula precisa ter o que? personagens... que mais?...
personagens... qual que é a estrutura do texto?
A: tem que te... te um conflito
P: é... tem que ter um conflito... que mais?
A: tem que te... moral
P: uma moral... que mais?
[...]
P: olha aqui... tem parágrafo?... não tem... só tem um parágrafo... cada idéia você vai
colocar num parágrafo... o texto está falando de dois animais não é?... dois
preguiçosos... tatu e bolinha... esse bolinha tá explicitando que animal é?... não... o
que que nós vamos ter que fazer com esse texto?... esse texto tem um conflito.. tem
uma moral... tem uma complicação... tem? Nesse texto?... não... no caso como
ficaria esse texto... vamos estar retomando esse texto rapidinho... vamo retomar...
A professora faz também observações quanto a aspectos gramaticais:
P: como é que ficaria aqui... um dia ensolarado tatu e bolinha foram no parque artur
tomas mas tatu não queria entrar... isso aqui nós vamos ter que reestruturar de que
forma?... colocando uma seqüência... pontuação... verificando os erros ortográficos
1089
que temos aqui... reestruturando de uma forma que quem lê esse texto entende
corretamente... como é que nós colocaríamos... um dia emsolarado... nós usamos m
antes de p e b... aqui tem p e b?...
A: não
Após várias tentativas e sugestões, chegam à reestruturação do texto, com
mudanças significativas na versão anterior:
Os dois preguiçosos: Tatu e o cachorro
Um dia ensolarado Tatu e o Cachorro foram no
parque Artur Tomas.
Chegando lá o guarda florestal não deixou o
Tatu e o Cachorro entrar no parque.
O Tatu de repente teve uma idéia. Entrar na hora
que o guarda estava distraído.
Eles conseguiram entrar, mas se perderam um do
outro.
Os guardas florestais encontraram eles e levaram
para uma sala. Lá, ficaram presos até anoitecer.
MORAL: Não devemos desobedecer aos outros
Fig. 2 – reestruturação coletiva
Na segunda versão, com intervenção da professora, permanece no título a
caracterização dos personagens como preguiçosos, sem que se justifique no decorrer do texto.
O aluno visivelmente faz a opção por um tema em sua primeira versão (preguiça) e aqui fica
descontextualizado. Apesar de apresentar uma moral, a história não se caracteriza como uma
fábula.
Dessa forma, a professora poderia trabalhar com o tema (preguiça) sugerido pelo
aluno, e levantar uma discussão sobre os animais que apresentam tal característica e os que
apresentam características opostas (antagonistas) para, então, dentro das opções, escolherem
os possíveis personagens da fábula. E, na seqüência, desenvolver a narrativa, com o conflito e
o desfecho de acordo com o ensinamento que se quer apresentar.
As marcas lingüísticas da fábula ainda não estão suficientemente claras para a docente
e, consequentemente, para os alunos. Por isso, seria interessante no trabalho de refacção
coletiva trabalhar com o tema das fábulas, em atividades como as exemplificadas a seguir:
1) Relacione os animais às suas características:
(a) Raposa () Medroso(a)
(b) A lebre () Trabalhador(a)
(c) Cigarra () Forte
(d) Leão () Preguiçoso(a)
(e) Formiga () Esperto(a)/trapaceiro(a)
2) Associe os temas às histórias:
1090
a) a cigarra que sonhava em ser cantora, e
passou todo o verão cantando com suas
amigas. O inverno chegou e ela se deu
conta de que não trabalhou e por isso não
tinha comida. Com frio e com fome,
resolve ir à sua vizinha, a formiga para
pedir ajuda.
b) O corvo que adora saborear seu delicioso
almoço. Mas seu colega, a raposa começa
a paparicá-lo com muitos elogios. Ele
acredita e fica contente. Parece que a
raposa quer alguma coisa em troca de
tanta bajulação.
c) Uma rã bem pequenina, vê um boi
imenso, numa festa e sonha. Queria ser
daquele tamanho.
d) Um cordeiro, que almoçava
tranqüilamente com seus amigos, é
acusado pelo lobo, de coisas que não fez.
e) Um leão um dia ajuda um ratinho. Um dia
o poderoso leão recebe algo em troca de
sua ajuda. A vida prega peças, e a
coragem do rato salva a vida do leão,
recompensando seu gesto.
() a solidariedade
() nem sempre se deve acreditar nas
palavras só por serem belas
() aquele que se esforça se dá bem
() sonho de mudar de vida
() injustiça
() a importância do trabalho
Após atividades como essas, poderia, então, ser resgatado o texto “Os dois
preguiçosos: tatu e bolinha”, para com os alunos desenvolver o tema, os personagens, e
reestruturá-lo.
4. Considerações finais
O professor, como mediador entre o sujeito e o objeto de ensino, deve pensar em
atividades seqüenciadas de leitura, análise lingüística e produção, a ser abordadas sempre em
relação ao gênero. A professora em questão tem essa visão, mas ainda falta fundamentação
para desenvolver atividades de análise lingüística, tanto na leitura como na refacção textual.
O trabalho ora apresentado é resultado do processo de intervenção em uma escola e ao
se caracterizar como tal, está em constante discussão. Apresentamos algumas abordagens de
refacção textual, levadas a efeito em sala de aula, com um gênero e em nível coletivo, antes
do processo de intervenção, com análise de sua adequação e de possíveis encaminhamentos.
O próximo passo é a discussão da refacção individual em que se pretende, com o grupo de
professoras, adotar estratégias com variação do grau de complexidade das atividades, da 1ª a
4ª série, tendo o gênero como eixo de progressão curricular (outros gêneros estão previstos
para ser trabalhados).
Após essas discussões, procederemos novo diagnóstico para verificar o
encaminhamento pedagógico efetivado pela professora depois do processo de intervenção.
Referências
BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
1091
BARBOSA, J.P. Receita. São Paulo: FTD, 2003. (Coleção Trabalhando com gêneros do
discurso).
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Brasília: MEC/SEF, 1997.
____. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa: terceiro e quarto ciclos.
Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999.
CELANI, Maria Antonieta Alba. A relevância da lingüística aplicada na formulação de uma
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Aspectos de lingüística aplicada. Estudos em homenagem ao professor Hilário Inácio Bohn.
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MOITA LOPES, L.P. Oficina de Lingüística Aplicada: a natureza social e educacional dos
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MURRIE, Zuleika de Felice (org.) O ensino de português: do primeiro grau à universidade).
São Paulo: Contexto, 1994. (Coleção repensando o ensino).
PERFEITO, Alba M. Concepções de linguagem, teorias subjacentes e ensino de língua
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ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Modos de transposição dos PCNs às práticas de sala de
aula: progressão curricular e projetos. In: ____(Org.) A prática de linguagem em sala de aula:
praticando os PCNs. São Paulo: EDUC; Campinas: Mercado de Letras, 2000, p. 27-38. (As
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ROJO, R.; CORDEIRO, G.S. Apresentação: gêneros orais e escritos como objetos de ensino:
modo de pensar, modo de fazer. In: Gêneros orais e escritos na escola. Bernard S., Joaquim
D. et al.. Trad. e org. de Rojo, R. e Cordeiro, S. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 7-18.


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REFACÇÃO DE TEXTOS



LÍNGUA PORTUGUESA
REFACÇÃO DE TEXTOS

“Por onde passa um homem verdadeiro, ficam-lhe as pegadas vivas, assinalando o percurso, no areal da vida, onde sopram os ventos do esquecimento...
Quanto mais personalidade, quanto mais enriquecimento espiritual, mais profundo o rastro que deixa em sua passagem. Mede-se o valor do homem não pelo que ele faz agora, mas pelo que ele deixa atrás de si, pelas marcas de sua passagem.
Na educação, também, mede-se o valor de um mestre, a quantidade de aprendizagem, a profundidade atingida pelo processo educativo, pelas marcas que vão ficando no educando. Não são as provas parciais, não são os testes e as argüições que medem, realmente, o valor da atividade didática. São pequenas coisas imponderáveis que marcam, definitivamente, a vida dos alunos, podendo até ser uma ou outra aula de salivação, num dia de inspiração, em que o mestre consegue, através de alto grau de comunhão espiritual, atingir a própria alma dos jovens...”
Lauro de Oliveira Lima

Ortografia: ensinar e aprender


Vivemos um momento de revisão da educação escolar, de seu papel e seu alcance. Juntamente com isso, vem o desafio da construção de um perfil profissional para o professor com base no seu trabalho em sala de aula, mas que se amplia para o desenvolvimento do projeto educativo da escola, para a produção, sistematização e socialização de conhecimentos pedagógicos e para a participação em discussões da comunidade educacional.
Diante desta complexidade, fica evidente que não há regras para organizar e descrever a atuação deste profissional que precisa, ao mesmo tempo ter clareza de objetivos e de sua intervenção pedagógica, mas também flexibilidade e sensibilidade. Por isso, a formação docente é hoje compreendida como um processo permanente de desenvolvimento profissional: estudos, atualizações, discussões e trocas de experiências.
Vários mestres vivem atualmente um estado de “confusão” quando o tema é ortografia. Têm dúvidas como: “É importante ensinar ortografia?”, “Devo corrigir os textos espontâneos de meus alunos?”, “Como ensinar sem recorrer aos exercícios tradicionais?”
Vivemos um momento histórico de renovação: pouco a pouco, vamos conseguindo que a língua ensinada na escola tenha propósitos e características semelhantes aos que adotamos quando lemos e escrevemos fora do ambiente escolar. Assim, sem abrir mão da leitura e produção de textos como eixos orientadores do trabalho com a língua, é preciso ensinar ortografia de uma maneira sistemática. A ortografia é uma convenção social cuja finalidade é ajudar a comunicação escrita.
É possível que o aluno:
a) não tenha consciência de que errou;
b) já tenha uma dúvida, já se coloque uma dúvida ortográfica;
c) já tenha avançado em seus conhecimentos
Incorporar a norma ortográfica é conseqüentemente um longo processo para quem
se apropriou da escrita alfabética.
A ortografia é uma norma, uma convenção social.
Uma primeira constatação é, portanto, que a avaliação da competência ortográfica continua sendo uma importante fonte de fracasso escolar.
Deixar de ensinar ortografia também parece uma opção ingênua, com sérias implicações sociais e políticas. Ao negligenciar sua tarefa de ensinar ortografia, a escola contribui para a manutenção das diferenças sociais.
A curiosidade em apropriar-se da ortografia precisa ao mesmo tempo, ter um sentido para o aprendiz: uma preocupação em sermos eficientes na comunicação das mensagens que produzimos para serem lidas, uma atitude de respeito para com o leitor de nossos textos.
O aluno necessita conviver com modelos nos quais apareça a norma ortográfica; precisa ter um grande convívio com materiais impressos.
O professor precisa promover situações de ensino-aprendizagem que levem à explicitação dos conhecimentos individuais sobre a ortografia.
O professor precisa definir metas ou expectativas para o rendimento ortográfico de seus alunos ao longo da escolaridade.
Artur Gomes de Morais
Princípios relativos ao encaminhamento das situações de ensino-apredizagem

I – A reflexão sobre a ortografia deve estar presente em todos os momentos da escrita.

II – É preciso não controlar a escrita espontânea dos alunos.

III– É preciso não fazer da nomenclatura gramatical um requisito para a aprendizagem de regras (contextuais e morfológico-gramaticais).
IV –É preciso promover sempre a discussão coletiva dos conhecimentos que as crianças expressam.
V – É preciso fazer o registro escrito das descobertas das crianças – regras , listas de palavras, etc.
VI – As atividades podem ser desenvolvidas coletivamente em pequenos grupos ou duplas.
VII - Ao definir metas, não podemos deixar de levar em conta a heterogeneidade de rendimento dos alunos.
Efetuar:
- Atividades de reflexão sobre palavras a partir de textos;
- Atividades de reflexão sobre palavras fora dos textos;
- Atividades de revisão das produções .


Observação
Não falamos por sílabas ou frases isoladas. Há toda uma organização textual na nossa fala. TEXTO É QUALQUER PASSAGEM FALADA OU ESCRITA QUE FORMA UM TODO SIGNIFICATIVO, INDEPENDENTE DE SUA EXTENSÃO. Um texto se organiza por relações lógicas e relações de redundância (antecipações). São fatores de textualidade: contextualização, coesão, coerência, aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade. A coerência se mantém pela relação entre os enunciados; ela detecta as marcas que levam à intencionalidade do texto. São fatores de coerência (conexão conceitual cognitiva): a conexão causal, a conexão de motivos e a tematização de objetos novos. A coesão se mantém pela gramática e pelo léxico.
(PCN – LP 5ª a 8ª):





GÊNEROS SUGERIDOS PARA A PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS

LINGUAGEM ORAL
LINGUAGEM ESCRITA

LITERÁRIOS



DE IMPRENSA






DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA







· Canções
· Textos dramáticos


· Notícia
· Entrevista
· Debate
· Depoimento



· Exposição
· Seminário
· Debate




LITERÁRIOS




DE IMPRENSA






DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA






· Crônica
· Conto
· Poema

· Notícia
· Artigo
· Carta do leitor
· Entrevista



· Relatório de experiências
· Esquema e resumo de artigos ou verbetes de enciclopédia




PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS
· Redação de textos, considerando suas condições de produção:
· Finalidade.
· Especificidade do gênero.
· Lugares preferenciais de circulação.
· Interlocutor eleito.
· Utilização de procedimentos diferenciados para a elaboração de texto:
· Estabelecimento de tema.
· Levantamento de idéias e dados.
· Planejamento.
· Rascunho.
· Revisão (com intervenção do professor).
· Versão final.
· Utilização de mecanismos discursivos e lingüísticos de coerência e coesão textuais, conforme o gênero e ps propósitos do texto, desenvolvendo diferentes critérios:
· De manutenção da continuidade do tema e da ordenação de suas partes.
· De seleção apropriada do léxico em função do eixo temático.
· De manutenção do paralelismo sintático e/ou semântico.
· De suficiência (economia) e relevância dos tópicos e informações em relação ao tema e ao ponto de vista assumido.
· De avaliação da orientação e força dos argumentos.
· De propriedade dos recursos lingüísticos (repetição, retomadas, anáforas e conectivos) na expressão da relação entre constituintes do texto.
· Utilização de marcas de segmentação em função do projeto textual:
· Título e subtítulo.
· Paragrafação.
· Periodização.
· Pontuação (ponto, vírgula, ponto– e-vírgula, dois-pontos, ponto-de- exclamação, ponto- de- interrogação, reticências).
· Outros sinais gráficos ( aspas, travessão, parênteses).
· Utilização de recursos gráficos orientadores da interpretação do interlocutor, possíveis aos instrumentos empregados no registro do texto (lápis, caneta, máquina de escrever, computador):
· Fonte (tipo de letra, estilo – negrito, itálico - , tamanho da letra, sublinhado, caixa alta, cor).
· Divisão em colunas.
· Caixa de texto.
· Marcadores de enumeração.
· Utilização dos padrões de escrita em função do projeto textual e das condições de produção.



PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS

Ao produzir um texto, o autor precisa coordenar uma série de aspectos : o que dizer, a quem dizer, como dizer. Ao escrever profissionalmente, o autor não realiza essas tarefas sozinho. Ainda em versão preliminar, seu texto é submetido a uma série de leitores críticos, como preparadores de originais, revisores e coordenadores editoriais, que revisarão seu texto.
Bem diferente é a tarefa do aluno que, sozinho, tem que coordenar vários aspectos do seu texto. Pensar em atividades para ensinar a escrever é inicialmente, identificar os múltiplos aspectos envolvidos na produção de textos, para propor atividades seqüenciadas que reduzam a complexidade da tarefa tanto na produção como na refacção de textos.
Atividades de transcrição exigem atenção do aluno para garantir a fidelidade ao registro e o domínio das convençòes gráficas de escrita. O que dizer e o como dizer já estão determinados no texto original.
Atividades que envolvem reproduções, paráfrases, resumo permitem que o aluno fique, em parte, liberado da tarefa de pensar sobre o que escrever, pois o plano do conteúdo já está definido pelo texto modelo. A atividade oferece possibilidades de tratar de aspectos coesivos da língua, de aspectos do plano da expressão - como dizer.
As práticas de decalque funcionam quase como modelos lacunados: as questões formais já estão em parte definidas pelo caráter altamente convencionalizado dos gêneros, como nos requerimentos ou cartas comerciais. Em suas aplicações mais criativas – paródias – preservam boa parte da estrutura formal do texto modelo, permitindo que o aluno se concentre no que tem a dizer.
Nas atividades de produção que envolvem autoria ou criação , a tarefa é mais complexa, porque precisa articular ambos os planos: o do conteúdo - o que dizer - e o da expressão - como dizer. Começa- se sempre pela tarefa mais complexa, o texto de autoria do aluno, para poder mapear o que sabe sobre o gênero que está sendo estudado e o que precisa aprender, projetando as ações didáticas necessárias ou avaliando os efeitos do trabalho realizado.

Categorias didáticas de produção de texto
Plano do conteúdo ( o que dizer)
Plano da forma/ expressão (como dizer)
Transcrição


Reprodução


Decalque


Autoria



PCN de Língua Portuguesa - 5ª a 8ª séries

Poemas

Pomar
Henriqueta Lisboa

Menino – madruga
o pomar não foge!
(Pitangas maduras
dão água na boca)

Menino descalço
não olha onde pisa.
Trepa pelas árvores
agarrando pêssegos
( Pêssegos macios
como paina e flor.
Dentadas de gosto!)

Menino, cuidado,
Jabuticabeiras
novinhas em folha
não agüentam peso.

Rebrilham cem olhos
agrupados, negros.
E as frutas estalam
- espuma de vidro -
nos lábios da rosa.

Menino guloso
ontem vi um figo
mesmo que um veludo,
redondo, polpudo,
e disse: este é meu!
Meu figo onde está?

- Passarinho comeu,
passarinho comeu...

Palavra de poeta (Ática)


A viagem


As férias
Os preparativos
O roteiro

As malas
O ônibus
A rodoviária

A estrada
A estrada
A estrada

O hotel
Os passeios
A alegria
Os amigos
As brincadeiras
O susto

Os dias
As noites
O tempo
O final
As despedidas
A tristeza

As malas
O ônibus
A rodoviária
A estrada
A estrada
A estrada

A viagem
A lembrança
A saudade


MENEZES, Cândida Zuiani , MATOS PAULO, Marlene Karabolad de & EL LAHAM, Elza Bahdur . Vamos escrever ? Atividades de redação. São Paulo, FTD.


RECEITAS CULINÁRIAS
QUINDIM
10 gemas
2 claras
250 gramas de açúcar cristal
1 colher de sopa de margarina
½ coco fresco ralado (ou 1 pacote de coco ralado)
Misture todos os ingredientes, deixe descansar alguns minutos e coloque numa fôrma pequena de pudim, já untada de margarina e polvilhada com açúcar cristal. Em seguida, cozinhe em banho-maria por uns 40 minutos, até o doce desgrudar das laterais da fôrma. Pode ser feito tanto no forno quanto no fogão.

MARIA – MOLE
2 pacotes de gelatina sem sabor
2 copos de água morna
2 copos de açúcar
coco ralado
gotas de baunilha
Desmanche a gelatina na água morna sem levar ao fogo. Junte o açúcar e a baunilha, bata por 20 minutos na batedeira. Despeje num pirex, cubra com o coco ralado e ponha para gelar. Depois é só cortar em quadradinhos e está pronto.

PÉ – DE – MOLEQUE
1 lata de leite condensado
1 xícara (de chá) de açúcar
1 xícara (de chá) de leite
1 xícara ( de chá) de amendoim torrado e sem pele
Leve ao fogo o leite condensado, o açúcar, o leite e mexa sempre, até dar o ponto de doce de leite macio (mais ou menos 20 minutos em fogo médio). Experimente o ponto colocando um pouco num pires: remexendo com um garfo, a massa do doce ficará opaca. Misture o amendoim, retire do fogo e bata o pé-de-moleque até ficar opaco. Despeje em pia de mármore ou inox bem untada, iguale com a faca ou rolo e corte em losangos.

AZEVEDO, Ricardo. Armazém do Folclore.

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FALTRIQUEIRA - O meu amor mariñeiro (live)

faltriqueiroastur


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Mercedes Sosa - Gracias a La Vida (Violeta Parra)

Mercedes Sosa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mercedes Sosa (sentada) e a atual presidente da Argentina, Cristina Fernández (2005).
Mercedes Sosa (sentada) e a atual presidente da Argentina, Cristina Fernández (2005).

Mercedes Sosa (Tucumán, 9 de julho de 1935) é uma cantora argentina de grande apelo popular na América Latina. Alcunhada La Negra pelos longos e lisos cabelos negros.

Descoberta aos quinze anos de idade, cantando numa competição de uma rádio local da cidade natal, quando foi-lhe oferecido um contrato de dois meses. Admirada pelo timbre de contralto, gravou o primeiro disco Canciones con Fundamento, com um perfil de folk argentino. Consagrou-se internacionalmente nos EUA e Europa em 1967, e em 1970, com Ariel Ramirez e Felix Luna, gravando Cantata Sudamericana e Mujeres Argentinas. Gravou um tributo também à chilena Violeta Parra.

Sosa interpreta um vasto repertório, gravando canções de vários estilos. Atua freqüentemente com muitos músicos argentinos como León Gieco, Charly García, Antonio Tarragó Ros, Rodolfo Mederos e Fito Páez, e outros latino-americanos como Milton Nascimento, Fagner e Silvio Rodríguez.

É também uma conhecida ativista política de esquerda, foi peronista na juventude. Em tempos mais recentes manifestou-se como forte opositora da figura de Carlos Menem e apoiou a eleiçãoNéstor Kirchner. A preocupação sócio-política refletiu-se no repertório interpretado, tornando-se uma das grandes expoentes da Nueva Cancion, um movimento musical latino-americano da década de 60, com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas. No Brasil, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, entre outros artistas, são expressões da Nueva Canción, marcada por uma ideologia de rechaço ao alegado imperialismo norte-americano, ao consumismo e à desigualdade social. do ex-presidente


Ligações externas

Para escutar



Soror

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Orientação educacional: ressignificando seu papel no cotidiano escolar

Rita de Cássia Prazeres Frangella

Doutora em Educação pela Uerj; professora do CAp-Uerj

Tratar da atividade de orientação remete a questões que entrecruzam funções não tão claras quanto aparentam ser. Afinal, o que é ser orientador? Cabe a ele a tarefa de orientar. Recuperando o sentido lato destas palavras no Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, encontra-se:

Orientação - ato ou arte de se orientar; direção, rumo, guia, impulso.
Orientar - determinar os pontos cardeais em; marcar por meio de orientação; ajustar ou adaptar à direção dos pontos cardeais; guiar; dirigir; encaminhar; indicar o rumo a; reconhecer a situação em que se acha para se guiar no caminho; reconhecer, examinar com cuidado diferentes aspectos
(grifos meus)
.

A significação da palavra traz consigo a visão que se tem, na escola, do que vem a ser orientação: não permitir que haja desvios do caminho traçado, que os pontos cardeais estabelecidos sejam de fato a orientação segura que permita esse caminhar. Assim, tratar de orientação – como também de outras funções pedagógicas não diretamente ligadas à docência – envolve discutir relações de poder e controle na escola.

A Orientação Educacional tem sua história de desenvolvimento atrelada à da Psicologia, que data do século XVI e procurava através de psicotécnicas traçar aptidões correlacionadas a atividades específicas (Grinspun, 1992). Seu desenvolvimento como função específica dentro do contexto escolar se dá no rastro dos avanços da Psicologia; no entanto, é preciso considerar que a noção sempre se fez presente na Educação, tendo em vista que a educação em si se propõe à orientação do ser. Até a década de 1920, a Orientação Educacional no Brasil constituía-se de atividades esparsas e isoladas, em que se fazia presente o cunho de aconselhamento, ligado a uma moral religiosa. A partir da década de 1920, com o desenvolvimento urbano-industrial, houve a necessidade de formação para essa nova realidade de trabalho. O ensino profissional foi sendo implementado e, com ele, a Orientação Educacional, serviço que poderia adotar uma linha de aconselhamento vocacional.

As leis orgânicas de 1942 a 1946 são marcos no desenvolvimento da Orientação Educacional: a preocupação com a qualificação profissional se atrelava à redefinição político-econômica em curso, comprometendo os diferentes setores da economia com a formação do seu trabalhador, o que desembocou na criação do Senai e do Senac. Nesse contexto, a Orientação Educacional ganhou visibilidade e foi legalmente instituída, tornando-se obrigatória no ensino secundário, primando aí pela orientação vocacional.

No período pós-1964, durante a ditadura militar, o curso de Pedagogia sofreu reformulações para adequar-se aos princípios vigentes na época. Alterou-se a formação do técnico generalista e foram criadas as habilitações. Após um núcleo comum de matérias relacionadas aos fundamentos da Educação, haveria a opção por uma das habilitações possíveis ao pedagogo, aprofundando os conhecimentos numa determinada área: Supervisão, Orientação, Administração, disciplinas das matérias pedagógicas foram as habilitações criadas nessa reformulação.

Essa divisão, fruto de uma divisão técnica do trabalho escolar, contribuiu para que a Orientação Educacional entrasse num movimento de profissionalização; a criação das associações de supervisores e orientadores data da década de 1970. Inseridos numa concepção tecnicista da Educação, caberia a eles o controle sobre o processo que se desenvolve na escola, de forma a assegurar sua eficiência; enredavam-se cada vez mais em atividades de cunho burocrático.

Na década de 1980/90, vivia-se uma efervescência em torno da atuação/formação docente. O ponto central do embate estava na defesa da docência como base da formação. Como esta era a fundamentação da base comum nacional proposta para o curso de Pedagogia, a polêmica girava em torno da identidade do curso, dos sujeitos formados neles e dos saberes dessa formação. Ao defender a docência como base da formação, o movimento de educadores opôs-se frontalmente às habilitações. A Anfope (Associação Nacional de Profissionais da Educação) se organizou, com base na defesa da ampliação do papel do docente, assumindo este a direção do processo educativo como um todo. Isso se deu também com a adesão do movimento de supervisores e orientadores educacionais, antes organizados em entidades próprias. Não sem embates, mas por vontade da grande maioria das forças regionais, as associações de supervisores e orientadores educacionais se extinguiram; seus membros passaram a fazer parte da Anfope como profissionais da Educação, reiterando a defesa dos postulados desta.

A partir de então, as funções de supervisor e orientador ficaram descaracterizadas. A problematização em torno da questão é grande. Libâneo (1996, 1998, 1999, 2000, 2006) discutiu as idéias defendidas pela Anfope, que centralizavam na docência a identidade do curso de Pedagogia e do pedagogo. Refutava essa posição, diferenciando o docente do pedagogo strictu sensu, como ele chamava o profissional a ser formado, distinguindo-o a partir da explicitação das diferenças entre o trabalho pedagógico e o trabalho docente. Sustentava seus argumentos na demonstração que fez da necessidade da atuação de profissionais da educação em funções não diretamente docentes. Defendia então que, por questões conceituais, a Pedagogia poderia abranger a docência, mas não se reduzir a tal aspecto.

Libâneo e Pimenta (1999); Libâneo (2000); e Pimenta (1996) refutam a idéia da docência como fundamento de identidade do curso de formação dos profissionais da Educação. Argumentam que essa defesa incita uma descaracterização do curso e dos saberes pedagógicos, reduzindo-os à docência, numa compreensão do pedagógico em geral como metodológico.

Contudo, as atuais Diretrizes Nacionais para Pedagogia (2006) a definem como curso de licenciatura plena, superando a fragmentação da visão de especialista x docente e a problemática das habilitações, reforçada também pela definição de que as atividades docentes incluem a participação em ações de planejamento e gestão em espaços escolares e não-escolares. Assim, vê-se – em consonância com as propostas defendidas pela Anfope – que a formação deve abranger a complexidade do fazer pedagógico, ampliando a concepção de docência, sendo necessário que esta se sustente sobre uma sólida formação.

Diante desse horizonte histórico de desenvolvimento das funções do orientador, encontramo-nos hoje num momento de busca por uma reconceitualização do que vem a ser orientador. A busca por uma ressignificação desses papéis no contexto escolar e na formação docente revela a importância dessas funções no cotidiano escolar. Isso é percebido no Projeto de Lei 838/07, do deputado Marcos Montes (DEM-MG), em tramitação na Câmara, que obriga as instituições de pré-escola, ensino fundamental e ensino médio com 300 ou mais alunos a manter um profissional da educação de nível superior habilitado em Orientação Educacional. Escolas menores poderão dividir o tempo do mesmo profissional.

Contudo, é preciso ter em vista que esse movimento é recente; ainda hoje, a visão do que vem a ser orientação está atrelada aos significados construídos historicamente: o de um profissional que atua sobre um outro. Essa visão, ainda tão presente no cotidiano escolar, indica caminhos de uma hierarquização do trabalho no cotidiano escolar a partir da condição de ser possuidor ou não de alguns conhecimentos. Nesse modelo, o orientador, ao se debruçar sobre esse cotidiano em desenvolvimento, analisa-o e o altera, como se só ele fosse capaz de enxergar as dificuldades encontradas e de propor alternativas a elas.

Se é importante a defesa de profissionais da educação que desenvolvam trabalho pedagógico não docente nas escolas, é preciso ter claro também que o que se espera deles é um trabalho de ação compartilhada, para além do aconselhamento ou orientação profissional. Sem pretender esvaziar o trabalho da Orientação Educacional, o que se faz premente é repensá-lo sob novas bases, no desafio da constante construção dialógica, considerando que esse outro – professor-aluno (sujeito, com história, construtor de conhecimentos) – é um ser com experiência e saberes que constrói a partir da sua história. Pensar outro modo de olhar esse outro é ele estabelecer um verdadeiro diálogo na emergência de pensar novas formas de atuação, em que a educação não seja democrática apenas naquilo que ambiciona desenvolver com os alunos, mas seja gerada num fazer-se também democrático.

O trabalho do orientador encontra-se numa condição de atuação diferente do professor em sala de aula, mas essa diferença não implica desigualdade de condições de pensar o trabalho em que ambos estão envolvidos e para o qual convergem suas ações. Assim, é preciso assumir que a tarefa de orientador se insere num projeto coletivo, em que os trabalhos,

sem perda da especificidade das funções e serviços, articulem-se em vista da mesma finalidade e dos mesmos objetivos educacionais. É nesse sentido que “setorizar” a escola é atender às especificações do trabalho, sem desagregá-lo ou dividi-lo em seus propósitos; é nesse sentido que setorizar não é sectarizar, mas compreender que o conjunto se faz pelos elos comuns da pluralidade
(Rangel, 1999, p. 94).

Encarar o cotidiano como processo em que os conhecimentos, avanços e retrocessos são tecidos no interior dos múltiplos saberes e experiências que o permeiam é condição sine-qua-non para que a Orientação Educacional se constitua a partir de uma posição solidária de co-ordenação em que

ninguém é proprietário de um conhecimento, mas sim responsável por um dos fios necessários à tessitura de unir o tapete de saberes e fazeres que só existirá com a troca/trançado de todos os fios necessários
(Alves & Garcia, 1999, p. 141).

Referências bibliográficas

ALVES, N. & GARCIA, R. Atravessando fronteiras e descobrindo (mais uma vez) a complexidade do mundo. In: ALVES, Nilda (Org.). O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A/Sepe-RJ, 1999.

___. Rediscutindo o papel dos diferentes profissionais da escola na contemporaneidade. In: FERREIRA, Naura Syria (Org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade.São Paulo: Cortez, 1999.

BRASIL/CNE. Resolução CNE/CP n. 1. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Brasília, 2006.

GRINSPUN, Mírian Paura. O espaço filosófico da orientação educacional na realidade brasileira. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992.

LIBÂNEO, José Carlos. Diretrizes curriculares da Pedagogia – um adeus à pedagogia e aos pedagogos? In: MONTEIRO, Aída et al. (Orgs.). Novas subjetividades, currículo, docência e questões pedagógicas na perspectiva da inclusão social.Recife: Anais do Endipe, 2006, p.213-242.

___. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2000.

___. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.

___. Que destino os educadores darão à Pedagogia? In: PIMENTA, Selma (Coord.). Pedagogia, ciência da Educação? São Paulo: Cortez, 1996.

LIBÂNEO, José Carlos & PIMENTA, Selma. Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. In: Educação e Sociedade.Campinas: CEDES, no. 68, dez. 1999.

RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação – uma prática em transformação. In: FERREIRA, Naura Syria (Org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade.São Paulo: Cortez, 1999.

Publicado em 19 de fevereiro de 2008.

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0165.html


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