Por Gitamrta Devi Dasi e Kalachandji Devi Dasi
Em termos de tattva, Krishna é a origem de tudo e todos/as:
isvarah paramah krsnah
sac-cid-ananda-vigrahah
anadir adir govindah
sarva-karana-karanam
“Krishna, que é conhecido como Govinda, o Senhor Primordial. Ele tem um
corpo eterno, feliz e espiritual. Ele é a origem de todos. Ele não tem outra origem e é a principal causa de todas as causas.” (Bs 5.1)
Entretanto, existem duas categorias básicas de tattva: vishnu-tattva e shakti- tattva. Krishna é a fonte de todas as formas de Vishnu, começando com Balarama (primeira expansão de Krishna), Vasudeva, Sankarsana, Pradyumna e Aniruddha -tantas expansões no lado energético (Vishnu). Da mesma forma, existem muitas expansões no lado da energia (shakti), e a primeira é Srimati Radharani. Dela expande tantas gopis em Vrindavan, tantas rainhas em Dvaraka e tantos Lakshmis em Vaikuntha.
krsna-kanta-gana dekhi tri-vidha prakara
eka laksmi-gana, pure mahisi-gana ara
vrajangana-rupa, ara kanta-gana-sara
sri-radhika haite kanta-ganera vistara
“As consortes amadas do Senhor Krishna são de três tipos: as deusas da fortuna, as rainhas e as vaqueirinhas de Vraja, que são as principais de todas. Todas essas consortes procedem de Radhika.” (Cc Adi 4.74–75)
De todas as rainhas de Krishna em Dvaraka, Rukmini-devi é a principal.
Sobretudo, ela é uma expansão de Srimati Radharani. Todas as qualidades de Rukmini estão presentes em Radharani, embora Radharani manifeste algumas qualidades que Rukmini não possui.
Ao lermos a história de Krishna e Rukmini, seja no livro de Krishna (Krishna: a Suprema Personalidade de Deus), seja no Srimad Bhagavatam, nos deparamos com uma narrativa cativante com romance, suspense, cavalheirismo, aventura e um final verdadeiramente feliz.
Antes de casar-se com Krishna, Rukmini vivia no reino de seu pai em Vidarbha e foi lá que ouviu sobre Krishna pela primeira vez. Rukmini era filha do rei de Vidarbha, e quando sábios e pessoas santas visitavam o palácio real, eles glorificavam a beleza transcendental, a coragem e o caráter de Krishna. Os sábios sabiam que Krishna era a Suprema Personalidade de Deus e, portanto, ficaram satisfeitos em glorificá-LO. E
porque Ele estava agindo como governante, os kshatriyas também ficaram satisfeitos em alar sobre Ele. Ao ouvir sobre Krishna, a princesa Rukmini se apegou a Ele (poderíamos dizer que ela se apaixonou por ele). Ela nunca O conheceu, mas apenas ao ouvir sobre Ele, desenvolveu grande fé, atração e amor por Ele e decidiu que Ele seria o marido perfeito para ela.
Nesse sentido, Rukmini coloca em prática as atividades do serviço devocional puro (SB 7.5.23), uma vez que apenas por ouvir sobre Krishna (shravanam) e mantê-lO em sua lembrança (smaranam), falando sobre Ele (kirtanam), se torna rendida (ātma-nivedanam), decidindo que sua vida só teria sentido se vivesse para e com Ele, aos Seus pés de lótus (pada-sevanam), servindo-O de todas as formas possíveis (vandanam, dasyam, sakhyam).
No entanto, seu irmão Rukmi, tendo um posicionamento de inveja e hostilidade para com Krishna e observando que tudo conspirava para a união de Rukmini e Krishna, proíbe a união e arranja o casamento de sua irmã com Shishupala, que também era um inimigo de Krishna.
A princesa Rukmini fica absolutamente abalada com a notícia de que iria se casar com Shishupala e resolve escrever para Krishna a fim de mudar essa situação. Em sua carta, Rukmini pede que Krishna a salve, raptando-a e levando-a consigo no dia de seu casamento. Como era uma prática comum em Vidarbha que a noiva visitasse o templo de Durga antes do casamento, Rukmini sugeriu que Krishna a raptasse nesse momento. Ela escreve:
“Desde que ouvi falar de Ti, meu Senhor, fiquei completamente atraída por Ti.
Sem falhar, por favor, vem antes do meu casamento com Shishupala e me leva embora. De acordo com o costume da família, no dia anterior ao meu casamento, visitarei o templo da deusa Ambika. Essa seria a melhor oportunidade para apareceres e facilmente me sequestrar. Se não me mostrares esse favor, desistirei de minha vida jejuando e observando votos severos. Então, talvez na minha próxima vida eu seja capaz de Te obter”. (SB 10.52, resumo)
Temendo ser enganada, Rukmini escolheu um brahmana de confiança com mensageiro para levar sua carta a Krishna, e assim foi feito.
Ao chegar em Dvaraka, o brahmana foi recebido com todos os respeitos por
Krishna, que ofereceu Seu próprio trono de ouro para que o brahmana se sentasse. Após tomar ciência do conteúdo da carta, conclui que Rukmini seria um esposa ideal para Ele e rainha para Seu reino: “O Senhor Krishna sabia que Rukmini possuía inteligência, marcas auspiciosas no corpo, magnanimidade, beleza, comportamento adequado e todas as outras boas qualidades. Concluindo que ela seria uma esposa ideal para Ele, Ele decidiu se casar com ela” (SB 10.52.24).
Krishna começou a preparar sua estratégia para raptar Rukmini. O casamento por rapto, chamado de casamento rakshasa, só era permitido entre a camada guerreira na cultura de Krishna. Este tipo casamento é o recomendado para os kshatriyas, pois, atesta a qualidade de guerreiro do noivo, o que certamente era praticado de longa data, já que o mesmo é mencionado no Åg-veda (I.039 e 116), em que Vimada ganha uma
consorte em disputa. Muitos são os episódios desse tipo de casamento entre os kshatriyas na literatura sânscrita e, em todos, após o rapto e a derrota da família pelo noivo, há a reconciliação e o consenso entre ambas as partes e a realização das devidas cerimônias nupciais.
No momento oportuno preparou sua quadriga e foi ao encontro de Rukmini, que nesse momento já se encontrava desesperada por algum sinal da vinda de Krishna.
Balarama percebendo a movimentação logo compreendeu que Krishna pretendia raptar Rukmini e preparou o exército Yadu para seguir ao auxílio de seu irmão, que havia se dirigido sozinho a Vidarbha.
Ao chegarem em Vidarbha, Krishna e Balarama foram convidados pelo rei
Bhishmaka a assistirem à cerimônia de casamento de sua filha e os recebeu com todas as honrarias que um bom rei deveria oferecer. Os cidadãos logo se reuniram diante de Krishna e Balarama, oferecendo-Lhes respeitos e ao olharem Krishna ficaram ávidos por unirem-nO à doce princesa Rukmini e Lhe oferecem orações.
Logo Rukmini, muito bem vestida e ornamentada, sai do palácio em direção ao templo da deusa Ambika. Ela estava acompanhada de sua mãe, uma amiga e a esposa de um brahmana. Todas elas estavam rodeadas de guardas reais e durante todo o percurso, búzios e instrumentos musicais produziam um som belo e auspicioso.
A beleza de Rukmini era tão grande, que os príncipes ali reunidos ficaram tão deslumbrados que desmaiaram, tamanha sua luxúria, desejando-a intensamente, no entanto, a princesa apenas aguardava ansiosamente o momento em que Krishna viria buscá-la.
Mesmo sem nunca ter visto pessoalmente Krishna, ela O reconheceu assim que O encontrou entre os presentes, e Ele, imediatamente e sem preocupar-se com nada, colocou-a em Sua quadriga e foi levando-a para Dvaraka.
Nesse interim, Balarama apareceu com os soldados da dinastia Yadu, que
empreenderam uma batalha contra os príncipes liderados por Jarasandha, que pretendiam reaver a princesa.
Após a vitória na batalha, Krishna levou a princesa Rukmini até Dvaraka e lá se casou com ela seguindo todos os rituais védicos, tornando-se em seguida rei da dinastia Yadu em Dvaraka. Os habitantes de Dvaraka estavam muito felizes com o casamento de Krishna e com sua nova rainha. Toda a cidade ficou em festa, cheia de ornamentos e perfume.
Embora tenha havido um pequeno desentendimento entre as famílias em
decorrência do rapto, o rei Bhishmaka também esteve presente no casamento de sua filha Rukmini e ficou muito satisfeito que sua bela e honrosa filha tivesse se casado com Krishna, pois era o que de fato queria desde o princípio, a despeito das maquinações de seu filho, dando, então todas as suas bênçãos para um casamento feliz.
Rukmini era a principal rainha de Dvaraka e sempre muito humilde e fixa no propósito de satisfazer a Krishna. É dito que certa vez Narada Muni resolveu provocar Satyabhama Devi, outra esposa de Krishna, pois esta estava muito orgulhosa de sua posição, julgando ser a preferida de Krishna e capaz de controlar Seu coração, enquanto Rukmini permanecia humilde no serviço ao Senhor. Narada Muni, então, provocou Satyabhama dizendo que na verdade o amor real de Krishna seria por Rukmini.
Transtornada, Satyabhama aceita a sugestão de Narada Muni de fazer um ritual para que o amor de Krishna por ela aumentasse.
No ritual, ela deveria doar Krishna a Narada e depois obtê-lo de volta trocando-o pelo mesmo peso dEle em joias. Na hora do ritual, por mais que Satyabhama colocasse joias, a balança não se movia. Ela pediu as joias das outras rainhas e a balança continuava imóvel. Narada Muni e Krishna a provocam dizendo que Krishna seria vendido como escravo. Satyabhama desesperada engole seu orgulho e vai pedir ajuda a Rukmini, que oferece orações ao marido e coloca uma única folha de Tulasi sobre a balança. A folha de Tulasi se torna tão pesada que a balança imediatamente pende para o outro lado. Pode-se perceber por esse passatempo que a devoção de Rukmini é mais poderosa que qualquer riqueza.
Muitas são as qualidades de Rukmini devi, as quais sempre devemos meditar oferecendo-lhe reverências. São elas:
- hriya, vrida – tímida
- sati – exaltada, de caráter santo
- buddhi – possuidora inteligência
- laksana – possuidora de marcas corporais auspiciosas
- audarya – magnânima
- Sila – de conduta adequada
- sadrsim bharyam – uma esposa ideal
- devim – a deusa divina
- asitapangi – de olhos escuros
- mohinim – encantadora
- mahati – aristocrática
- dhira – sóbria
- kulavati – de boa família
- laksanabhijna – uma conhecedora especialista de sintomas corporais
- aradhito – que presta serviço devocional
- mat-param, atmarpitas – dedicada exclusivamente a Krishna
- anavadyangim, sobham – de uma beleza impecável
- sucismita – que sorri docemente
- vararoha – quadris adoráveis
- bimba-phala-adhara – lábios vermelhos brilhantes de bimba
- syama – seios firmes
- calantim kalahamsa – um cisne real de movimentos com caminhada
- su madhyamam – cintura bem torneada
- govinda-hrtamanasa – cuja mente é roubada por Krishna
- gunasrayam – um repositório de todas as outras boas qualidades.
Rukmini é a expansão de Srimati Candravali, a sakhi, ou vaqueirinha, líder do grupo rival em Sri Vrindavan dham. No dia da sua aparição, oferecemos nossos respeitos a ela e esperamos receber sua misericórdia para um dia nos envolver no serviço de Sri Krishna em Sri Vrindavan dham como servas de Srimati Radhika.
Rukmini Dvadashi, ki jay! Rukmini Devi, ki jay! Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Bibliografia:
https://voltaaosupremo.com/artigos/historias/o-casamento-de-krishna-e-rukmini/
http://www.girirajswami.com/?p=12724
https://iskconvrindavan.com/2019/05/16/rukmini-dwadashi/
http://nimaipandit.ning.com/profiles/blogs/rukmini-dvadasi-and-mohini ekadasi
PRABHUPADA, A. C. Bhaktivedanta Swami, Srimad Bhagavatam