O Yoga que Funciona
Dhanurdhara Swami
O yoga com o qual a maioria das pessoas é familiarizada não se destina a todos. Na verdade, nesta era, é praticamente impossível à grande maioria das pessoas.
A literatura védica narra que o sábio Visvamitra não foi capaz de alcançar a autorrealização após sessenta mil anos de rígida prática de yoga, o que nos revela quão difícil é, até mesmo para o transcendentalista mais competente, atingir a perfeição pelo processo de astanga-yoga. No Bhagavad-gita, o Senhor Krsna naturalmente Se preocupou quando Arjuna expressou o desejo de deixar o campo de batalha para uma vida de meditação. Quando, no sexto capítulo, Krsna apresenta uma análise de astanga-yoga, Arjuna considera tal coisa excessivamente difícil, e Krsna recomenda um processo mais viável.
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Sage vishvamitra and aspara Menaka |
A fim de compreender apropriadamente astanga-yoga, um dos muitos sistemas de yoga descritos no Bhagavad-gita, o indivíduo tem primeiramente de entender o que é yoga.
O termo yoga significa literalmente “conectar”, e se refere à conexão da própria consciência com o Supremo. Os diferentes processos ióguicos são nomeados pelo método particular adotado para reviver o próprio relacionamento com o Supremo. Por exemplo, quando o processo de conexão é predominantemente através do próprio trabalho (karma), chama-se karma-yoga, e quando é predominantemente através da análise filosófica (jnana), chama-se jnana-yoga.
Astanga significa “oito partes”, e astanga-yoga é um processo de conexão com o Senhor Supremo através da meditação em Sua forma dentro do coração. Esse processo enfatiza o controle da própria mente. A mente materialmente absorta centra-se na contemplação de objetos de prazer sensual: som, tato, visão e assim por diante. Despindo a mente de ocupações externas e desenvolvendo convicção espiritual, o yogi avançado dirige sua mente para a consciência da Superalma.
Astanga-yoga, portanto, oferece um processo praticável de autorrealização, e certamente pareceu a Arjuna uma possível solução para sua ansiedade – quer dizer, até que o Senhor Krsna explicou as qualificações de um prospectivo candidato ao yoga:
Para praticar yoga, é necessário dirigir-se a um lugar isolado e forrar o chão com grama kusha, e depois cobri-la com a pele de um veado e um pano macio. O assento não deve ser nem muito alto nem muito baixo e deve estar situado num lugar sagrado. O yogi deve então sentar-se nele mui firmemente e praticar yoga para purificar o coração, controlando a mente, os sentidos e as atividades, e fixando a mente em um único ponto. Deve-se manter o corpo, pescoço e cabeça eretos, conservando-os em linha reta, e deve-se olhar fixamente para a ponta do nariz. Assim, com a mente plácida e subjugada, sem medo, livre por completo da vida sexual, deve-se meditar em Mim dentro do coração e ver a Mim como a meta última da vida. (Bhagavad-gita 6.11-14)
Embora Arjuna fosse um grande guerreiro de uma família real e um amigo próximo do Senhor Supremo, Sri Krsna; porque tinha responsabilidades em sua vida familiar e ocupações, ele representa o homem comum. Ele, portanto, expressa sua dúvida referente à obtenção do sucesso através de um processo de yoga que exige que alguém permaneça em um lugar afastado pelo resto de sua vida.
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Arjuna by Lord Krishna in the form of a Socratic dialogue |
Ademais, mesmo se semelhante afastamento fosse possível, quem além dos mais elevados renunciantes poderia tolerar a rígida maneira de sentar necessária para a final perfeição? Portanto, em uma honesta estimação de suas capacidades, Arjuna rejeita o processo de astanga-yoga como um método adequado para sua iluminação:
Ó Madhusudana, o sistema de yoga que resumistes parece-me inviável e impraticável, pois a mente é inquieta e instável. A mente é inquieta, turbulenta, obstinada e muito forte, ó Krsna, e parece-me que subjugá-la é mais difícil do que controlar o vento. (Bhagavad-gita 6.33-34)
Embora o Senhor Krsna houvesse dedicado considerável tempo na explicação deste sistema de yoga a Arjuna, Ele basicamente concorda com a análise de Arjuna: “Ó poderosíssimo filho de Kunti, é sem dúvida muito difícil refrear a mente inquieta...”. Diferente de Arjuna, entretanto, Krsna vê sim um caminho para o derradeiro sucesso em astanga-yoga, pois Ele adiciona: “...mas é possível através da prática constante e do desapego”.
Neste momento, a seguinte questão é suscitada: Qual é a prática para controle da mente, uma vez que é certo que quase ninguém nesta era pode seguir as estritas regras e regulações do astanga-yoga, que exige a restrição dos sentidos e da mente, o voto de celibato, a permanência isolada e assim por diante? A resposta acerca de como o astanga-yoga pode ser praticado com sucesso se encontra no entendimento da cosmologia védica.
Segundo a literatura védica, o tempo em nosso universo procede em ciclos de 4.300.000, os quais, para os nossos propósitos, podem ser chamados de “um milênio”. Cada milênio é dividido em quadro eras, chamadas yugas, as quais giram como as estações e têm suas próprias características. Segundo as capacidades da população em cada era, uma prática particular de yoga é recomendada. Em Satya-yuga, por exemplo, as pessoas vivem 100.000 anos e possuem excepcionais qualidades de bondade. Os Vedas, portanto, prescrevem, krte yad dhyayato visnum: “Em Satya-yuga, recomenda-se a meditação em Visnu [astanga-yoga]”.
O Bhagavad-gita foi falado a Arjuna antes do começo de Kali-yuga, a última e mais degradada parte do milênio. Para a maioria das pessoas da atualidade, mesmo simples esforços espirituais parecem-lhes impraticáveis. Os Vedas, portanto, recomendam, kalau tad dhari-kirtanat: “Na era de Kali, recomenda-se o cantar dos santos nomes de Hari”.
Muito embora bhakti-yoga seja um processo simples comparado à rigorosa astanga-yoga, o bhakti-yoga baseado no cantar dos santos nomes do Senhor é considerado a perfeição do yoga. A perfeição de qualquer sistema de yoga é auferida quando a mente se torna incapaz de se desviar do Supremo. Esse estágio final de absorção se chama samadhi e é descrito pelo Senhor Krsna na conclusão de Sua descrição do sistema de astanga-yoga: “Um verdadeiro yogi Me observa em todos os seres e também vê todos os seres em Mim. Com efeito, o indivíduo autorrealizado vê a Mim, o mesmo Senhor Supremo, em todo lugar”.
Um bhakti-yogi é naturalmente fixo nesta visão, porque, em virtude da devoção, ele ocupa a todo momento seus sentidos no serviço ao Senhor Supremo. Ademais, por causa do prazer obtido de tal devoção amorosa, sua mente permanece fixa mesmo em meio às maiores tentações.
Em contraste com o fracasso de Visvamitra Muni em obter o sucesso através de astanga-yoga, encontramos o exemplo do grande devoto Haridasa Thakura, que resistiu à tentação da energia ilusória personificada, uma mulher de incomparável beleza. A perfeição de Haridasa ilustra a superioridade do processo de bhakti-yoga do cantar dos santos nomes do Senhor. A vida dos devotos do Senhor, destarte, confirma Sua última instrução sobre yoga no sexto capítulo do Gita: “E de todos os yogis, aquele que tem muita fé e sempre se refugia em Mim, pensa em Mim dentro de si mesmo e Me presta serviço transcendental amoroso é o mais intimamente unido a Mim em yoga e é o mais elevado de todos. Esta é a Minha opinião”.
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