sábado, 22 de março de 2008

Resumo: Com todas as Letras.



Com Todas As Letras


Autor : Emilia Ferreiro
Resumo de : Nadeshiko Yue
Visitas: 1484
Publicado em: abril 23, 2007
A autora inicia o tema da alfabetização de crianças na última década do século XX discorrendo sobre o Projeto Principal de Educação para América Latina e Caribe, originado em 1979 numa conferência na Cidade do México. Os três grandes objetivos desse Projeto eram: 1. Conseguir, antes de 1999, a escolarização de todas as crianças em idade escolar, oferecendo-lhes uma educação geral mínima com duração de 8 a 10 anos. 2. Eliminar, antes de 1999, o analfabetismo adulto. 3. Melhorar a qualidade e eficácia dos sistemas educativos mediante reformas adequadas. A crise econômica da década de 1980 impossibilitou que esses objetivos fossem cumpridos dentro do prazo. Mas o primeiro objetivo pode ser considerado cumprido, no sentido de que mais crianças matricularam-se; porém, a população também cresceu consideravelmente. A promoção automática cria uma bola de neve: se a criança não aprendeu o básico, não aprenderá o mais difícil. Na verdade, as crianças são facilmente alfabetizáveis, pois gostam de aprender coisas novas. Mas sua curiosidade não é estimulada quando são obrigadas a copiar! O ideal é que aprendam a escrever como aprendem a falar: imitando, sendo incentivadas desde cedo, cometendo erros. Não deve ser negado aos pequenos o contato com livros, jornais, revistas, panfletos, listas de compras, cartas, pois é só assim que eles compreendem a função, o motivo pelo qual se escreve. A instituição escolar apoderou-se da escrita de tal maneira que não é explicitado para quê ela serve. E as crianças que não têm acesso a jornais, livros e outros instrumentos citados não sabem por quê devem aprender a escrever. Ocultando essa informação, a escola discrimina e prejudica. Práticas mecanicistas são capazes mesmo de criar traumas nos jovens aprendizes. E por isso as campanhas de alfabetização de adultos nem sempre são bem sucedidas: a exaustiva aprendizagem de uma técnica não coerente com o cotidiano não atrai. E enquanto as crianças mais pobres continuarem a ser discriminadas pelo método – portanto, expulsas da escola –, mais teremos adultos analfabetos e indispostos a uma nova submissão ao sistema escolar. Já que as crianças estão em constante processo de aprendizagem e ainda não possuem estruturas de pensamento fixas, podem ser facilmente levadas a perceber que cada enunciado de exercício, cada informação nos livros, é também leitura. Devido à dissociação que se apresenta entre o aprendizado da Língua Portuguesa e as outras disciplinas, os estudantes, mais tarde, não conseguem reconhecer as idéias principais de um texto, ou mesmo distinguir se estão de acordo ou não. A fim de conseguir uma alfabetização de melhor qualidade, inclusive para as crianças marginalizadas, alguns dos principais objetivos são levar à leitura compreensiva de diversos tipos de textos, e à curiosidade diante das representações escritas da língua. Dessa forma, dentro de dois anos, a maioria das dúvidas manifestadas pelas crianças será sobre sinais e ortografia. Mas essas dúvidas devem estar dentro de um contexto; do contrário, a alfabetização estará ainda sendo deficiente. As variações culturais quanto à pronúncia devem ser respeitadas tanto quanto as construções da escrita a partir da pronúncia. O contrário é mais um fator de discriminação. A autora prossegue classificando em três tipos os materiais que facilitam as ações de alfabetização: ü os dirigidos aos professores, que não devem ser levados a sério se seguirem o modelo “receita de bolo”, que está na moda; ü os materiais para ler, essenciais principalmente em regiões carentes e/ou rurais, que demonstrem as diversas funções da escrita, transmitam conhecimentos reais (ao contrário das frases prontas e vazias das cartilhas), estimulem a exploração e a classificação, além de possibilitar reflexão crítica e debates sobre as informações; ü os materiais para aprender a ler – em sua grande maioria inúteis. As orações não estimulam o pensamento e a escrita torna-se algo rígido e inquestionavelmente seqüenciado. Analisando a escrita de crianças pobres, freqüentadoras do ensino público, percebemos que a maioria já sabe que escrevemos da esquerda para a direita, e distinguem letras de números. Porém, poucas ou nenhuma escrevem utilizando as letras de acordo com seus sons, e no fim do primeiro ano letivo menos da metado adquiriu esse conhecimento. Mas a verdade é que, se somente metade das crianças observadas recebera instrução pré-escolar, elas definitivamente aprendem com facilidade; o mais difícil é compreenderem O QUÊ e COMO a escrita representa. A capacitação dos professores é um ponto crucial. Se a escola não gera oportunidades de aprendizagem para todos, é sinal de que algo deve ser mudado. A professora que alfabetiza merece valorização: não podemos contentar-nos com o mínimo. É preciso restabelecer a indignação diante disto! Tudo gira em torno da urbanização; assim, quem não lê ou escreve é marginalizado; e as escolas públicas oferecem ensino “essencial”. As particulares crescem. Ferreiro descreve então um dos principais problemas relacionados à alfabetização: o dos pré-requisitos. Eles são considerados como habilidades que a crianças tem ou não tem, possíveis de se detectar a partir de testes de prontidão! O que a criança precisa apresentar são as condições de um “processo de desequilibração”, a partir do qual se constroem novas concepções. Na prática escolar, a noção de maturidade tem servido para manter crianças longe da escrita, para encobrir os fracassos do método tradicional e do professor mecanizado, além de abrir um amplo mercado para psicólogos e psicopedagogos que diagnosticam distúrbios às vezes inexistentes. O que determina o ponto de partida da aprendizagem escolar são os conhecimentos que a criança tem antes de entrar na escola.

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