sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Ter filhos significa ter que renunciar, mesmo que temporariamente, a diversas coisas....



 

 Ter filhos significa ter que renunciar, mesmo que temporariamente, a diversas
coisas....

TENHO RECEBIDO mensagens de pais -de mães, principalmente- que comentam as
consequências que as férias escolares dos filhos provocam em suas vidas,
levantam questões e manifestam dúvidas sobre o que fazer com as crianças
durante o recesso.

Muitos deles perguntam se faz mal para a criança frequentar a escola nessa
época, já que muitas delas oferecem recreação e cursos extracurriculares
para a criançada ter o que fazer ou com quem ficar enquanto os pais
trabalham.

Outros questionam se a criança precisa mesmo passar tanto tempo sem ir para
a escola, sem encontrar seus colegas, sem ter atividades diferentes para
realizar com seu grupo.

Há também os que reclamam. Vou citar uma leitora que, magoada, contou que
havia planejado fazer um cruzeiro em meados do semestre próximo, mas que,
como não encontrou alternativa para o filho, teve de renunciar ao passeio e
marcar suas férias para o mês de janeiro, sem direito de viajar sozinha.

Alguns pais perguntam a partir de qual idade a criança pode ir para um
acampamento, outros querem dicas do que inventar para os filhos fazerem em
casa, perguntam se devem manter rotina, hora de sono, tempo no videogame ou
computador, escola de esportes etc.

Há dúvidas de todo tipo. Então, vamos ajudar a esclarecê-las antes de
refletir a respeito do tema.

Ir para a escola quando a maioria dos colegas não está lá não deve ser muito
agradável para crianças, não acha, leitor? Além disso, deixar sua casa
quando não é necessário -as crianças sabem o significado de férias- é
custoso para elas.

Descansar dos adultos que trabalham na escola, do ambiente físico, das
regras que lá existem, tais como hora de se alimentar, de trocar de roupa
etc., é revigorante. Você não gostaria de passar dias de suas férias em seu
local de trabalho, não é verdade?

À escola a criança vai para aprender. Mesmo no ciclo da educação infantil, o
brincar da criança é diferente e promove o aprendizado. Nem sempre sabemos
dizer o que ela está aprendendo, mas que aprende, aprende. E isso é
exaustivo. Por isso, a criança precisa de férias escolares, mesmo quando
pequena.

Ter filhos significa ter de renunciar, mesmo que temporariamente, a diversas
coisas. Reclamar não é produtivo, já que o desejo de ter filhos foi dos
próprios pais.

É recente essa ânsia dos adultos de criar programação para os filhos. Eles
mesmos podem fazer isso, mas só se tiverem tempo para o ócio. Claro que,
depois de viver apenas com os adultos dirigindo suas atividades, eles
estranharão um pouco, mas vão aprender o quanto é valioso serem donos de seu
tempo, de suas escolhas, da ordem de seus afazeres.

Por último, vale a pena pensarmos nos motivos que levaram muitos pais a
tratar as férias dos filhos como um problema. Talvez, seja difícil saber o
que fazer com as crianças sem a mediação dos horários rígidos e dos
compromissos da agenda escolar. Talvez, seja mais difícil ainda conviver com
os filhos por períodos maiores do que os pais estão acostumados.
A partir de quando ficar com os filhos em casa transformou-se em um
problema?

Desde o momento em que ter filhos passou a ser uma ideia diferente
da de acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela, dedicar-se a ela, ficar
disponível para o que possa acontecer; desde que passamos a querer viver com
filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los. A partir do momento em
que nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais sedutora.

Por que temos filhos?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)



 

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a
felicidade".
 Carlos Drummond de Andrade

 

 


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