domingo, 3 de abril de 2022

Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: Ética Medieval

Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: Ética Medieval

Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: Ética Medieval
Posted on 15 de Janeiro, 2022 by Luiz Claudio


Olá, marujos! Hoje, explicaremos o conceito de livre-arbítrio para Santo Agostinho de um jeito descomplicado. Iremos apresentar brevemente o filósofo e sua principal obra desse tema, explicar o que é livre-arbítrio, qual a sua relação com o determinismo e onisciência de Deus, qual a diferença entre livre-arbítrio e liberdade, e a sua relação com a graça divina. Vamos lá!


Sobre Santo Agostinho e O livre-arbítrio

Agostinho de Hipona foi um bispo da igreja católica do século IV d.C. Após sua morte, foi canonizado e proclamado Doutor da Igreja. Sua obra influenciou tanto a doutrina teológica cristã quanto a filosofia moderna.

Agostinho sempre se preocupou em encontrar a verdade. Um dos maiores questionamentos de Agostinho era o problema da liberdade humana e a origem do mal. Num primeiro momento, na juventude, ele recorreu ao maniqueísmo para resolver essas questões. Depois, encontrou essas verdades na fé cristã e na filosofia neoplatônica.

Como forma de esclarecer esse tema para os cristãos e também apontar os erros maniqueístas, ele escreveu o livro O livre-arbítrio. Esse livro, em forma de diálogo, é em grande parte um relato de conversas reais que Agostinho teve com seu amigo Evódio, um cristão convertido já adulto (assim como Agostinho).

O livro O livre-arbítrio é constituído de três livros, ou três grandes partes. A primeira, ele escreveu logo depois da conversão, antes de se tornar padre e na convivência de Evódio no ano de 388 d.C. Já a segunda e terceira parte, ele só conseguiu parar para escrever entre 394 e 395 d.C., já como sacerdote em Hipona e sem a participação próxima de Evódio.

Para saber mais da vida de Santo Agostinho, recomendo: Santo Agostinho Descomplicado: Biografia e Filosofia.
Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: O que é Livre-arbítrio?

Livre-arbítrio, para Santo Agostinho é a vontade livre ou, em outras palavras, a possibilidade de se fazer uma escolha, tomar uma decisão, fazer uma opção entre agir ou não agir ou agir de um jeito ou de outro.

Vale destacar que essa liberdade de escolha deve respeitar a natureza humana e as diversas condições oferecidas. Dessa forma, não é prova da inexistência do livre-arbítrio o fato de eu não poder balançar as minhas mãos e sair voando, não poder ser presidente dos EUA sendo brasileiro nato, e não escolher uma opção a qual não foi apresentada para ou cogitada por mim!

O livre-arbítrio é considerado um bem médio dado por Deus ao ser humano. Bem médio significa que podemos usar do nosso livre-arbítrio tanto para buscarmos bens superiores (cujo ápice é Deus) quanto bens inferiores (cujo ápice é o mal).

A função do livre-arbítrio é dar a possibilidade ao ser humano de agir retamente.
Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: O Problema do Determinismo

Se não existisse o livre-arbítrio, o ser humano não teria escolha real. Sendo assim, ele não poderia ser livre / alcançar a liberdade (veremos mais à frente o conceito de liberdade em Santo Agostinho).

Um dos atributos de Deus é ser justo e a justiça é um dos bens superiores que existem e devem ser almejados pelo ser humano. Segundo Agostinho, justiça pode ser definida como “a virtude pela qual damos a cada um o que é seu”. Dessa forma, a pessoa só pode receber recompensa ou punição se o ato que ela praticou foi completamente livre. E o ato dessa pessoa só pode ser completamente livre porque Deus deu a cada ser humano o livre-arbítrio.

Como forma de comparação, os animais e as plantas não possuem livre-arbítrio. Logo, suas ações são determinadas pela sua natureza e, por isso, tudo o que eles fazem não podem ser julgados como ações boas ou más e, da mesma forma, não podem ser elogiadas nem criticadas. Resumidamente, não possuem mérito (positivo ou negativo).
Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: O Problema da Onisciência de Deus

Deus, como um ser perfeito e criador de tudo, possui onipotência (pode tudo), onipresença (está presente em todos os lugares ao mesmo tempo) e onisciência (sabe de tudo). Deus, como criador do tempo, também é um ser atemporal. Somando tudo isso, temos que Deus sabe de antemão todas as escolhas que iremos fazer em nossas vidas.

Essa constatação leva ao questionamento se realmente possuímos uma escolha livre já que nos parece contraditório ter total liberdade de ação quando sabemos que alguém já sabe o que iremos decidir.

Agostinho diz que não existe problema nessa questão porque o fato de Deus saber o que iremos escolher não influencia a escolha que estamos tendo. Ou seja, nossa escolha é só nossa, fruto de uma deliberação pessoal. A única questão é que existe alguém (que é Deus) que já sabe qual vai ser essa escolha, mas Ele em nenhum momento interfere na nossa decisão, mesmo sabendo de antemão que ela pode ser boa ou má.

Como exemplo prático, pense em um pai que está vendo o filho aprendendo a andar. O bebê se ergue sobre os pés apoiado no braço de um sofá. Ele irá tentar cruzar de um sofá a outro. Dependendo da distância entre os sofás e da habilidade da criança, o pai já sabe se seu filho irá conseguir atravessar ou se irá cair no caminho. Independentemente da consequência, o pai deixa o filho tentar porque faz parte do amadurecimento da criança se o filho cair, e será uma conquista dela se conseguiu atravessar.
Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: Distinção entre Livre-arbítrio e Liberdade

Em Santo Agostinho, livre-arbítrio é uma coisa e liberdade é outra coisa.

Enquanto livre-arbítrio é a possibilidade de escolha real do ser humano, liberdade seria a escolha pelo Bem superior (ou seja, Deus).

Para Agostinho, como criaturas de Deus, não nos é possível ser perfeitos. Um dos problemas inerentes a isso é um defeito natural no nosso livre-arbítrio. Esse defeito é a tendência que temos em tomar más decisões, fazer escolhas más. Em uma terminologia cristã, pecar!

De posse do livre-arbítrio, o ser humano pode escolher agir bem ou agir mal. Ele possui essa liberdade de escolha e ela não pode ser tirada do ser humano (se não, seríamos determinados e não haveria justiça).

Ao escolher agir mau (pecar), o ser humano se afasta de Deus. Pecar, para Agostinho é usar da nossa vontade para escolher um bem particular, seja exterior ou inferior (isso significar agir de forma egoísta, querer possuir o que é dos outros e/ou amar os prazeres do corpo). Ao fazer essa escolha, estaríamos nos tornando escravos de nós mesmos e dos bens materiais.


Por outro lado, o livre-arbítrio nos permite fazer escolhas boas. Escolher bem significa escolher a Deus, buscando-o e seguindo seus ensinamentos. Ao fazermos isso, encontramos a liberdade. Liberdade é optar por fazer o bem, e estar em Deus é estar verdadeiramente livre.
Livre-arbítrio para Santo Agostinho Descomplicado: A Graça Divina

Como dito anteriormente, a natureza humana traz em si a imperfeição. Dessa forma, não basta somente a vontade do ser humano para se alcançar a liberdade, é também necessária a graça de Deus para que a vontade humana compreenda o que é o bem e tenha forças para buscá-lo.

Exemplificando, só sabemos se algo é verdadeiramente bom para nós quando alguém com conhecimento naquela área nos diz que aquilo é bom para nós. Todos os remédios são bons em si, mas se tomarmos o remédio errado ou a dose errada, não iremos melhorar da nossa enfermidade e/ou iremos piorar e/ou iremos desenvolver outras doenças.


Assim como o médico é o ser competente para nos orientar sobre qual remédio devemos tomar e em qual dose, é Deus mesmo, através da sua graça, que nos mostra o que de fato é um bem e o que não é.

Com a graça divina iluminando nossa vontade, somos capazes de fazer escolhas próprias que de fato nos levam ao Bem supremo (sem risco de errar querendo acertar).

Por fim, buscar a Deus é buscar a felicidade e encontrar Deus é encontrar a felicidade (objetivo final de todo ser humano).
Conclusão

Para Santo Agostinho, o livre-arbítrio é um bem necessário dado por Deus ao ser humano para que possamos alcançá-lo e atingir a felicidade. Por possuirmos o livre-arbítrio, não somos determinados nem controlados por Deus, que mesmo sabendo de tudo, deixa as escolhas em nossas mãos. Também é através do livre-arbítrio que alcançamos a liberdade, a qual é escolher o bem através da graça divina.

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Até a próxima tenham uma boa viagem!

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Referências

AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. São Paulo: Paulus, 2014

COSTA, Ivandro. Fundamentos do livre-arbítrio para a compreensão de liberdade de Agostinho. Campina Grande, 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Filosofia) – Centro de Educação, Universidade Estadual da Paraíba.


SLICK, Matt. Anjos possuem livre arbítrio? Defendendo a fé. Acessado em 11 jan. 2022.

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