A Cartilha Maternal é uma obra de natureza pedagógica, escrita pelo poeta e pedagogo João de Deus e publicada em 1876, que se destinava a servir de base a um método de ensino da leitura às crianças. A Cartilha Maternal é uma das obras mais vezes reimpressas em Portugal, tendo sido extensivamente usada nas escolas portuguesas por quase meio século, ainda mantendo alguns seguidores.
A Cartilha Maternal e o Método de João de Deus[editar]
A publicação da Cartilha Maternal, que tem o subtítulo de Arte de Leitura, foi saudada de forma encomiástica por um país onde o analfabetismo era uma tragédia nacional, o ensino mútuo era ainda a norma no limitado número de escolas existentes e em que os responsáveis políticos, apesar de reiterarem que a escola era o meio de regeneração da sociedade portuguesa, ainda não se tinha conseguido reconciliar com a anterior tentativa de alteração metodológica representada pelo Método Português de Castilho.
Apesar da veemência e obstinação com que António Feliciano de Castilho se tinha oposto ao ensino mútuo e aos métodos de repetição e soletração ritmada que nele imperavam, o professorado mostrou enormes resistências à adopção do seu novo método. Apesar de ter conseguido que em 1853 fosse criada, na Escola Normal de Lisboa, uma aula de ensaio do seu método, a qual persistiu até 1858, o método não ganhou momento suficiente. A sua morte em 1875 ditou um ainda maior apagamento da sua proposta educativa. Contudo, apesar deste aparente insucesso, estava aberto o caminho para as cartilhas.
Quando, no ano imediato ao da morte de Castilho, João de Deus apresentou a sua Cartilha Maternal, a intelectualidade e o professorado já estavam preparados para aceitar a alteração metodológica. A partir de 1877, começa a difundir-se o chamado método João de Deus e em 1882, por decisão parlamentar, é decretado o uso generalizado da cartilha maternal nas escolas portuguesas. Esta obrigatoriedade seria mantida até 1903, quando o método se tornou facultativo.
Estranhamente, face à resistência oposta ao Método Português de Castilho pelo professorado e pela intelectualidade, o Método de João de Deus tornou-se rapidamente no método de iniciação à leitura preferido pelos professores portugueses.
A expansão do método, para além da extraordinária reputação de João de Deus, beneficiou da fundação em 1882 da Associação de Escolas Móveis pelo Método de João de Deus (hoje a Associação de Jardins-Escolas João de Deus). Estas escolas funcionaram até 1921, tendo sido frequentadas por perto de 30 000 alunos.
A Cartilha Maternal foi precursora de uma enorme variedade de cartilhas, as quais até ao final dos anos de 1930 foram dos livros com maior tiragem em Portugal e no Brasil, ainda sendo reeditadas na actualidade.
Ver também
Ligações externas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartilha_Maternal
Cartilha maternal”, de João de Deus [no Carrossel com Sara Amado]
Vamos ao segundo, o filho do meio. Era o mais novo, mas depressa encarnou o seu novo papel, grande ator que é. Vai para o 1º ano e até há bem pouco tempo não consegui imaginar isso a acontecer. Depois começou a fazer contas (treinado pelo B até à exaustão), a pedir trabalhos de casa e a ler pequenas palavras.
Tirei a “Cartilha” da prateleira. Chegou o momento. Fizemos umas lições há uns tempos e o T sentiu-se promovidíssimo. Como fiz com o B (como farei com o R, quando for a altura certa – se for a altura certa), passo agora com o T pelas lições da “Cartilha maternal” de João de Deus. O livro que usamos é o mesmo que a minha mãe usou comigo e que funcionou comigo.
Quando são bebés, os miúdos precisam de nós para tudo, e tudo é descoberta e espanto, para eles e para nós. Depois vão crescendo e a vida corre neles, fora de nós. É natural, é bom. Numa altura em que já são tão autónomos, é fascinante e surpreendente observar este começo, um novo olhar sobre a palavra, sobre o mundo. Ao mesmo tempo faz pena que comecem também a deixar de demorar-se tanto nas ilustrações, que comecem a perder os pormenores que nós, na preguiça da palavra, já há muito não vemos.
Sendo um livro da “velha guarda”, é um livro divertido, porque ao juntar na mesma página palavras começadas ou acabadas pela mesma letra ou sílaba, constrói uma espécie de poemas concretos nonsense tão ao jeito do T, que se ri perdido quando descobre as palavras que leu: vida idiota, boi boa, bota batata, bela fala fivela.
Na escola onde andam misturam o método fonético com o global. Da minha dupla experiência, é de facto assim que os miúdos começam a ler: reconhecem a imagem da palavra e depois associam o som às letras que vão conhecendo. A “Cartilha” segue o método fonético mas de um modo natural, um pouco ilógico até, pois não segue o abecedário de A a Z; antes, vai entrando na língua devagar, pelo lado conhecido, pelo lado fácil, para chegar aos vários valores que a letra pode ter, às exceções, ao caos, enfim, da bela língua portuguesa.
João de Deus dedica este livro às mães em 1875, e apresenta a “Cartilha” como uma escapatória ao “flagelo da cartilha tradicional”. Eu, que acho que a escola é um bem maior e não um mal menor (se for uma boa escola, bem entendido), gosto particularmente que seja ao lado da mãe que comecem a ler. Faz mesmo sentido que este novo abrir de olhos para o verbo venha de quem os trouxe no princípio até à carne.
Sara Amado [convidado do Carrossel Cria Cria*]
Quer saber mais,
http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/documentos/ot_metodo_leitura_joao_deus_b.pdf
Obrigado pela visita, volte sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário