Incas
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O Império Inca (Tawantinsuyu em quíchua) (na realidade inca era apenas o imperador); foi um estado-nação que existiu na América do Sul de cerca de 1200 até à invasão dos conquistadores espanhóis e a execução do imperador Atahualpa em 1533.
O império incluía regiões desde o extremo norte como o Equador e o sul da Colômbia, todo o PeruBolívia, até o noroeste da Argentina e o norte do Chile. A capital do império era a atual cidade de Cuzco (em quíchua, "Umbigo do Mundo"). O império abrangia diversas nações e mais de 700 idiomas diferentes, sendo o mais falado o quíchua.
Precedentes
Pesquisas ainda em curso (dezembro de 2004) já comprovam a existência de uma civilização avançada "Norte Chico" (Norte Pequeno, em espanhol), estabelecida em três vales ao norte de Lima, capital do Peru, que teriam ascendido em cerca de 3000 a.C. e perdurado por cerca de 1.200 anos até sua queda.
Esta cultura já construía pirâmides de até vinte e seis metros de altura e grandes complexos cerimoniais. Parece certo que mais de vinte centros populacionais competiam entre si para produzir a arquitetura mais impressionante.
Há provas de que a cultura do "Norte Chico" tinha religião de culto antropomórfico, praticava a agricultura irrigada e o comércio, notadamente troca de algodão plantado por peixe, com povos das planícies.
Por volta de 1800 a.C. este povo deixou a região, possivelmente propagando seus avançados conhecimentos, podendo haver alguma relação com o surgimento da cultura posterior que se estabeleceu no vale do rio Casma.
Posteriormente (cerca de 800 a.C.) surge em Chavin de Huantar o embrião do estado teocrático andino; do ano 50 até cerca do ano 700 a civilização mochica floresce, e aproximadamente no ano 1000 explode a cultura Tiahuanaco.
O período de máxima expansão do Império Inca ocorre a partir do ano 1450 quando chegou a cobrir a região andina do Equador ao centro do Chile, com mais de 3000 quilômetros de extensão.
Religião
Os incas construíram diversos tipos de casas consagradas às suas divindades. Alguns dos mais famosos são o Templo do Sol em Cusco, o templo de Vilkike, o templo do Aconcágua (a montanha mais alta da América do Sul) e o Templo do Sol no Lago Titicaca. O Templo do Sol em Cusco foi construído com pedras encaixadas de forma fascinante. Esta construção tinha uma circunferência de mais de 360 metros. Dentro do templo havia uma grande imagem do sol. Em algumas partes do templo havia incrustações douradas representando espigas de milho, lhamas e punhados de terra. Porções das terras incas eram dedicadas ao deus do sol e administradas por sacerdotes.
Os sumo-sacerdotes eram chamados Huillca-Humu, viviam uma vida reclusa e monástica e profetizavam utilizando uma planta sagrada chamada huillca ou vilca [1] (Acácia cebil) com a qual preparavam uma chicha de propriedades enteógenas que era bebida na "Festa do Sol", Inti Raymi. A palavra quíchua Huillca significa, simplesmente, algo "santo", "sagrado".
Lugares sagrados
A religião era dualista, constituída de forças do bem e do mal. O bem era representado por tudo aquilo que era importante para o homem como a chuva e a luz do Sol, e o mal, por forças negativas, como a seca e a guerra.
Os huacas, ou lugares sagrados, estavam espalhados pelo território inca. Huacas eram entidades divinas que viviam em objetos naturais como montanhas, rochas e riachos. Líderes espirituais de uma comunidade usavam rezas e oferendas para se comunicar com um huaca para pedir conselho ou ajuda.
Sacrifícios
Os incas ofereciam sacrifícios tanto humanos como de animais nas ocasiões mais importantes, maioria das vezes em rituais ao nascer do sol. Grandes ocasiões, como nas sucessões imperiais, exigiam grandes sacrifícios que poderiam incluir até duzentas crianças. Não raro as mulheres a serviço dos templos eram sacrificadas, mas a maioria das vezes os sacrifícios humanos eram impostos a grupos recentemente conquistados ou derrotados em guerra, como tributo à dominação. As vítimas sacrificiais deviam ser fisicamente íntegras, sem marcas ou lesões e preferencialmente jovens e belas.
De acordo com uma lenda, uma menina de dez anos de idade chamada Tanta Carhua foi escolhida pelo seu pai para ser sacrificada ao imperador inca. A criança, supostamente perfeita fisicamente, foi enviada a Cusco onde foi recebida com festas e honrarias para homenagear-lhe a coragem e depois foi enterrada viva em uma tumba nas montanhas andinas. Esta lenda prescreve que as vítimas sacrificiais deveriam ser perfeitas, e que havia grande honra em conhecerem e serem escolhidas pelo imperador, tornando-se, depois da morte, espíritos com caráter divino que passariam a oficiar junto aos sacerdotes. Antes do sacrifício, os sacerdotes adornavam ricamente as vítimas e davam a ela uma bebida chamada chicha, que é um fermentado de milho, até hoje apreciada.
Festivais
Os incas tinham um calendário de trinta dias, no qual cada mês tinha o seu próprio festival.
Os meses e celebrações do calendário são os seguintes:
Mês Gregoriano | Mês Inca | Tradução |
Janeiro | Huchuy Pacoy | Pequena colheita |
Fevereiro | Hatun Pocoy | Grande colheita |
Março | Pawqar Waraq | Ramo de flores |
Abril | Ayriwa | Dança do milho jovem |
Maio | Aymuray | Canção da colheita |
Junho | Inti Raymi | Festival do Sol |
Julho | Anta Situwa | Purificação terrena |
Agosto | Qapaq Situwa | Sacrifício de purificação geral |
Setembro | Qaya Raymi | Festival da rainha |
Outubro | Uma Raymi | Festival da água |
Novembro | Ayamarqa | Procissão dos mortos |
Dezembro | Qapaq Raymi | Festival magnífico |
Costumes funerários
Os incas acreditavam na reencarnação. Aqueles que obedeciam à regra, ama sua, ama llulla, ama chella (não roube, não minta e não seja preguiçoso), quando morressem iriam viver ao calor do sol enquanto os desobedientes passariam os dias eternamente na terra fria.
Os incas também praticavam o processo de mumificação, especialmente das pessoas falecidas mais proeminentes. Junto às múmias era enterrado uma grande quantidade de objetos do gosto ou utilidade do morto. De suas sepulturas, acreditavam, as múmias mallqui poderiam conversar com ancestrais ou outros espíritos huacas daquela região. As múmias, por vezes eram chamadas a testemunhar fatos importantes e presidir a vários rituais e celebrações. Normalmente o defunto era enterrado sentado[1].
Sociedade
Infância
A infância de um inca pode parecer severa para os padrões atuais. Ao nascer, os incas lavavam o bebê com água fria e o embrulhavam numa manta e o colocavam em cova cavada no chão. Quando a criança alcançava um ano de idade, se esperava que andasse ou ao menos engatinhasse sem qualquer ajuda. Aos dois anos de idade, as crianças eram submetidas a ritual no qual se lhes cortavam os cabelos, determinando assim o fim da infância. Desde então, os pais esperavam que os filhos ajudassem em tarefas ao redor da casa. A partir daí as crianças eram severamente castigadas quando se portavam mal. Aos catorze anos os meninos eram vestidos com uma tanga sendo então declarados adultos. Os meninos mais pobres eram submetidos a vários testes de resistência e de conhecimento, ao fim dos quais lhes eram atribuídos adornos (brincos) coloridos e armas. As cores dos brincos determinavam o lugar hierárquico que ocupariam na sociedade.
A Organização do Império
O Império Inca tinha uma organização econômica de caráter próximo ao modo de produção asiático, na qual todos os níveis da sociedade pagavam tributos ao imperador, conhecido como O Inca. O Inca era divinizado sendo carregado em liteiras com grande pompa e estilo. Usava roupas, cocares e adornos especiais que demonstravam sua superioridade e poder. Ele reivindicava seu poder dizendo-se descendente de deuses (origem divina do poder real). Abaixo d'O Inca havia quatro principais classes de cidadãos.
A primeira era a família real, nobres, líderes militares e líderes religiosos. Estas pessoas controlavam o Império Inca e muitos viviam em Cusco. A seguir, estavam os governadores das quatro províncias em que o Império Inca era dividido. Eles tinham muito poder pois organizavam as tropas, coletavam os tributos cabendo-lhes impor a lei e estabelecer a ordem. Abaixo dos governadores estavam os oficiais militares locais, responsáveis pelos julgamentos menos importantes e a resolução de pequenas disputas podendo inclusive atribuir castigos. Mais abaixo estavam os camponeses que eram a maioria da população.
Entre os camponeses, a estrutura básica da organização territorial era o ayllu. O ayllu era uma comunidade aldeã composta por diversas famílias cujos membros consideravam possuir um antepassado comum (real ou fictício). A cada ayllu correspondia um determinado território. O kuraca era o chefe do ayllu. Cabia-lhe a distribuição das terras pelos membros da comunidade aptos para o trabalho.
Havia três ordens de trabalhos agrícolas:
- realizados em benefício do Inca e da família real;
- destinados à subsistência da família, realizados no pedaço de terra que lhe cabia;
- realizados no seio da comunidade aldeã, para responder às necessidades dos mais desfavorecidos.
De fato, o sistema de ajuda entre as famílias estava muito desenvolvido. Para além das terras colectivas, havia reservas destinadas a minorar as carências em tempos de fome ou a serem usadas sempre que a aldeia era visitada por uma delegação do Inca.
Outro dos deveres de cada membro da comunidade consistia em colaborar nos trabalhos colectivos, como por exemplo a manutenção dos canais de irrigação.
As origens do Império Inca
Os incas, originários das montanhas do Peru, expandiram o seu controle a quase toda região dos Andes, na América do Sul. A civilização inca alcançou o seu apogeu no século XV sob Pachacuti. Entre as suas realizações culturais está a arquitetura, a construção de estradas, pontes e engenhosos sistemas de irrigação.
Imperadores incas
O primeiro imperador Inca foi Manco Capac, que reinou por volta do ano 1200. Os detalhes de vários dos primeiros imperadores foram perdidos durante a invasão espanhola.
- 1200 d.C. ~ Manku Qhapaq ou Manco Capac (1100-?)
- Sinchi Ruka ou Sinchiroca (Séc. XII)
- Lluqi Yupanki ou Lloque Yupanqui (Séc. XIII)
- Mayta Qhapaq ou Maita Capac (Séc. XIII)
- Qhapaq Yupanki ou Capac Yupanqui (Séc. XIII)
- Inka Ruka ou Inca Roca (Séc. XIV)
- Yawar Waqaq ou Yahuar Huacac (Séc. XIV)
- Wiraqucha Inka ou Viracocha (Séc. XV)
- ???? – 1438 ~ Inca Urcon
- 1438 – 1471 ~ Pachacuti, Pachakutiq Inka Yupanki ou Pachacutic Inca Yupanqui
- 1471 – 1493 ~ Tupaq Inka Yupanki ou Topa Inca Yupanqui
- 1493 – 1527 ~ Wayna Qhapaq ou Huayna Capac
- 1527 – 1532 ~ Waskhar ou Huáscar
- 1532 – 1533 ~ Ataw Wallpa ou Atahualpa
- 1533 – 1535 ~ Topa Huallpa (imperador-fantoche instalado pelos espanhóis)
Expansão do Império Inca
O imperador Pachacuti foi o homem mais poderoso da antiga América já que enviou várias expedições para conquista de terras. Quando os oponentes se rendiam eram bem tratados mas quando resistiam havia pouca clemência. Com as conquistas, Pachacuti acrescentava não apenas mais terras ao seu domínio como guerreiros sob seu comando. Sendo talentoso diplomata, antes das invasões, Pachacuti enviava mensageiros para expor as vantagens de os povos conquistados se unirem pacificamente ao império Inca. O acordo proposto era de que, se os dominados cedessem suas terras, manteriam um controle local exercido pelos dignatários locais que seriam tratados como nobres do Império e os seus filhos seriam educados em troca da integração ao Império e plena obediência ao Inca.
Os incas tinham um exército muito bem treinado e organizado. Quando os incas conquistavam um lugar, o povo era submetido a tributação pela qual prestavam serviços designados pelos conquistadores. Os incas encorajavam as pessoas a se juntarem ao Império e quando isto ocorria eram sempre bem tratadas. Serviços postais eram então estabelecidos por mensageiros (chasquis) que entregavam mensagens oficiais entre as maiores cidades. Notícias também eram veiculadas pelo sistema Chasqui na velocidade de 125 milhas por dia. Os incas também promoviam a mudança de populações conquistadas como parte da criação a "Rodovia Inca", que foi idealizada para ser usada nas guerras, para o transporte de bens e outros propósitos. Esta troca de populações (manay) acabou promovendo a troca de informações e propagação da cultura Inca. Todo o Império Inca foi unido por excelentes estradas e pontes. Sua extensão máxima era de 4.500 km de comprimento por 400 km de largura, o que dava 1,800,000 km² de extensão.
Organização do Império
Os nobres foram chamados pelos espanhóis de “orelhões”, devido à impressão que tiveram de suas enormes orelhas, aumentadas pelos grandes pendentes que usavam.
Os “orelhões” eram educados em escolas especiais durante quatro anos. Eles cursavam a língua quechua, religião, quipus, história, geometria, geografia e astronomia. Ao terminar os estudos eles se graduavam em uma cerimônia solene, onde demonstravam sua preparação passando em algumas provas.
Eles se vestiam de branco e se reuniam na Praça de Cuzco. Todos os candidatos tinham o cabelo cortado e levavam na cabeça um llauto negro com plumas. Depois de rezarem ao sol, lua e ao trovão, eles subiam a colina de Huanacaui, onde ficavam em jejum, participavam de competições e dançavam.
Mais tarde, o Inca lhes entregava umas calças justas, um diadema de plumas e um peitoral de metal. Finalmente ele perfurava a orelha de cada um pessoalmente com uma agulha de ouro, para que pudessem usar seus pendentes característicos, próprios de sua categoria.
Os “orelhões” tinham vários privilégios, entre eles a posse de terras e a poligamia. Eles recebiam presentes do monarca, tais como mulheres, lhamas, objetos preciosos, permissão para usar liteiras ou trono.
Eles constituíam os funcionários do Império. Em primeiro lugar estavam os quatro apu, ou administradores das quatro partes do Império que assessoravam diretamente o Imperador. Abaixo deles estavam os tucricues, ou governadores das províncias que residiam em suas capitais, e eram periodicamente inspecionadas.
Os incas incumbiam os dominados do trabalho que cada um deveria executar, o quanto e qual terra poderiam cultivar e quão longe poderiam viajar. Depois de se adaptar a tais regras, eram bem vistos pelos dominadores.
Se um inca era acusado de furto mas isto não era provado, o próprio oficial local incumbido de manter a ordem era punido por não fazer seu trabalho corretamente.
Inválidos e incapazes eram auxiliados a prover sua subsistência com trabalho. Às mulheres casadas eram distribuídas meadas de lã para confecção de roupas.
Todos os incas eram obrigados a trabalhar para o Império e para os seus deuses domésticos (mita).
Os incas não tinham liberdade de viajar e os filhos sempre tinham de seguir o ofício dos pais. O Império Inca foi dividido em quatro partes. Todas as atividades dos habitantes eram supervisionadas pelos funcionários do Império.
Os quipus
Se bem que o império fosse muito centralizado e extremamente estruturado – e até, pode dizer-se, burocrático –, não havia um sistema de escrita. Para gerir o império eram utilizados os quipus, cordões de lã ou outro material onde são codificadas mensagens.
Destinavam-se os quipus a manterem estatísticas permanentemente actualizadas. Regularmente procedia-se a recenseamentos da população extremamente completos (por exemplo, número de habitantes por idade e sexo). Registava-se ainda o número de cabeças de gado, os tributos pagos ou devidos aos diversos povos, o conjunto de entradas e saídas dos armazéns estatais, etc. Mediante os registos procurava-se equilibrar a oferta e a procura, numa tentativa de planificação da economia.
Mais concretamente, o quipu é constituído por um cordão a que se liga a cordões menores de diferentes cores, tanto paralelamente como partindo de um ponto comum. Os números eram dados pelos nós e as significações pelas cores.
Os nós das extremidades inferiores representam as unidades. Acima ficam as dezenas, mais acima as centenas e, por último, os milhares e as dezenas de milhar. Saliente-se que, para além de utilizarem o sistema decimal, os índios conceberam o equivalente do zero: um intervalo maior entre os nós, ou seja, um sítio vazio. Ignora-se o significado dos nós complexos, porventura reservados aos múltiplos.
Quanto às cores, indicavam os significados ou qualidades. Mas como o número de cores e seus matizes é limitado, muito inferior ao número de objectos a recensear, o significado das cores variava de acordo com a significação geral do quipu. Era pois necessário conhecer a significação geral do quipu para se poder interpretá-lo. Por exemplo: o amarelo referia-se ao ouro nas estatísticas referentes aos despojos de guerra e ao milho nas referentes à produção.
A fim de facilitar a leitura, as pessoas e coisas eram dispostas de acordo com uma hierarquia imutável. Assim, nos quipus demográficos, os homens ocupavam o primeiro lugar, seguidos das mulheres e, por fim, das crianças. Nos recenseamentos de armas a ordem era a seguinte: lanças, flechas, arcos, zagaias, clavas, achas e fundas.
A ausência de cordão secundário ao longo do principal, assim como a falta de uma cor, possuía determinado significado, exactamente como acontecia com a ausência de nó no cordão (zero).
Os intérpretes dos quipus, os quipucamayucs (ou seja, "guardiães dos quipus"), possuíam uma excelente memória, cuja fidelidade era assegurada por um processo radical: qualquer erro ou omissão era punido com a pena de morte. Cada quipucamayuc especializava-se na leitura de determinada categoria de cordões: religiosos, militares, económicos, demográficos, etc. Cabia-lhes igualmente instruir os seus filhos, para que estes mais tarde lhes sucedessem.
Para melhor fixar as narrativas, o quipucamayuc cantava-as, como uma melopeia.
Os quipus serviam ainda para o registo de factos históricos e ritos mágicos. No entanto, ao contrário dos estatísticos, estes quipus ainda não foram decifrados.
Música
Os incas tocavam música em tambores e instrumentos de sopro que incluem as flautas, flauta de pan, quena e trombetas feitas de conchas marinhas ou de cerâmica.
Arte e artesanato
Os incas produziam artefatos destinados ao uso diário ornados com imagens e detalhes de deuses. Era comum na cultura inca o uso de formas geométricas abstractas e representação de animais altamente estilizados no feitio de cerâmicas, esculturas de madeira, tecidos e objetos de metal. Eles produziam belos objetos de ouro e as mulheres produziam tecidos finos com desenhos surpreendentes.
Agricultura, caça, culinária, moeda, vestuário e medicina
Agricultura
No apogeu de civilização inca, cerca de 1400, a agricultura organizada espalhou-se por todo o império, desde a Colômbia até o Chile, com o cultivo de grãos comestíveis da planície litorânea do pacífico, passando pelos altiplanos andinos e adentrando na planície amazônica oriental.
Calcula-se que os incas cultivavam cerca de setecentas espécies vegetais. A chave do sucesso da agricultura inca era a existência de estradas e trilhas que possibilitavam uma boa distribuição das colheitas numa vasta região.
As principais culturas vegetais eram as batatas (semilha), batatas doce (batatas), milho, pimentas, algodão, tomates, amendoim, mandioca, e um grão conhecido como quinua.
O plantio era feito em terraços e já usavam a adiantada técnica das curvas de nível sendo os primeiros a usar o sistema de irrigação.
Os incas usavam varas afiadas e arados para revolver o solo, e usavam também a lhama para transporte das colheitas, embora tais animais fornecessem também lã para fazer tecidos, mantas e cordas, couro e carne.
Ervas aromáticas e medicinais também eram plantadas e as folhas de coca, eram reservadas para a elite. Toda a produção agrícola era fiscalizada pelos funcionários do império.
Caça
Os incas usavam o arco de flechas e zarabatanas para caçar animais como cervos, aves e peixes que lhes forneciam carne, couro e plumas que usavam em seus tecidos. A caça era coletiva e o método mais usual era de formar um grande círculo que ia se fechando sobre um centro para onde iam os animais.
Culinária
A comida inca consistia principalmente de vegetais, pães, bolos e mingaus de cereais (notadamente de milho ou aveia), e carne (assados ou guisados), comumente de caititus (porcos selvagens) e de lhama.Apesar da dieta dos incas ser muito variada, havia muitas diferenças entre os alimentos consumidos pelos diversos setores da sociedade.
A gente do povo só comia duas refeições por dia. O prato comum dos Andes era o chuño, ou farinha de batata desidratada. Adicionava-se água, pimentão ou pimenta, e sal para então servir. Eles também preparavam o locro com carne seca ou cozida, com muito pimentão, pimenta, batatas e feijão. Eles comiam ainda grandes quantidades de frutas, como a pêra picada ou o tarwi. O milho era bastante consumido e era preparado fervido ou torrado.
Os nobres e a família real se alimentavam muito melhor do que o povo. Na mesa do Inca não podia faltar carne,mas era escassa para o povo. Ele comia carne de lhama, de vicunha, patos selvagens, perdizes da puna, rãs, caracóis e peixe.
A refeição começava com frutas. Depois vinham as iguarias, apresentadas sobre uma esteira de juncos trançados eram estendidos no solo. O Inca se acomodava em seu assento de madeira, coberto com uma tela fina de lã e indicava o que lhe agradava. Daí, uma das mulheres de seu séqüito o servia em um prato de barro ou de metal precioso, que segurava entre suas mãos enquanto o Inca comia. As sobras e tudo que o Inca havia tocado, devia ser guardado em um cofre e queimado logo depois, dispersando as cinzas.
Moeda
Os incas não usavam dinheiro propriamente dito. Eles faziam trocas ou escambos nos quais mercadorias eram trocadas por outras e mesmo o trabalho era remunerado com mercadorias e comida.
Serviam como moedas sementes de cacau e também conchas coloridas, que eram consideradas de grande valor.
Vestuário
O homem inca usava uma túnica sem mangas que descia à altura do joelho e às vezes uma pequena capa. A mulher inca tinha diversas roupas que a cobriam integralmente e frequentemente usavam sandálias de couro. Nas estações mais frias todos usavam longos mantos de lã sobre os ombros presos por alfinetes na frente.
Os incas gostavam de se adornar. Quanto mais ricos e elaborados os tecidos mais dispendiosos e caros, e acabavam por demonstrar o nível social do usuário.
Os incas usavam seus gorros de lã com cores tribais que designavam-lhes as origens.
Os homens incas usavam muito mais jóias que as mulheres. Os mais ricos usavam pulseiras de ouro e brincos enormes, quanto maior o brinco mais importante era a pessoa que o usava. Os guerreiros usavam colares feitos com os dentes de suas vítimas.
Medicina
Os incas fizeram muitas descobertas farmacológicas. Usavam o quinino no tratamento da maláriacoca eram usadas de modo geral como analgésicos, e para minorar a fome, embora os mensageiros Chasqui as usassem para obter energia extra. Outra terapia comum e eficiente era o banho de ferimentos com uma cocção de casca de pimenteiras ainda morna. com grande sucesso.
A conquista da Espanha
Contexto incaico na época da conquista
Quando Huayna Capac se tornou o imperador inca, houve uma guerra de sucessão que algumas fontes sustentam que durou cerca de doze anos. A causa alegada da guerra é que Huayna fora muito cruel com o povo.
Rumores se espalharam pelo Império Inca como fogo sobre um estranho 'homem barbado' que 'vivia numa casa no mar' e tinha 'raios e trovões em suas mãos'. Este homem estranho começava a matar muitos dos soldados incas com doenças que trouxera.
Quando Huayna Capac morreu, o império estava desgastado e ocorreu uma disputa entre seus dois filhos. Cuzco, que era a capital, havia sido dada para o suposto novo imperador Huascar, que foi considerado como pessoa horrível, violento e quase louco atribuindo-se a ele o assassinato da própria mãe e da sua irmã que forçara a desposá-lo.
Atahualpa reivindicava ser o filho favorito de Huayna Capac, posto que a ele fora dado o território ao norte de Quito (cidade moderna do Equador) razão porque Huascar teria ficado muito bravo.
A guerra civil de sucessão se travou entre os dois irmãos, chamada Guerra dos Dois Irmãos, na qual pereceram cerca de cem mil pessoas.
Depois de muita luta, Atahualpa derrotou Huascar e então, conta-se, era Atahualpa que estava enlouquecido e violento, tratando os perdedores de forma horrível. Muitos foram apedrejados (nas costas) de forma a ficarem incapacitados, nascituros eram arrancados dos ventres das mães, aproximadamente 1500 membros da família real, incluindo os filhos de Huascar foram decapitados e tiveram seus corpos pendurados em estacas para exibição. Os plebeus foram torturados.
Atahualpa pagou um terrível preço para tornar-se imperador. Seu império estava agora abalado e debilitado. Foi neste momento crítico que o 'homem barbado' e seus estranhos chegaram, cena final do Império Inca.
Este estranho homem barbudo veio a ser Francisco Pizarro e seus espanhóis da "Castilla de Oro" que capturaram Atahualpa e seus nobres em 16 de novembro, do ano de 1532.
A verdadeira conquista
Atahualpa estava em viagem quando Francisco Pizarro e seus homens encontraram o seu acampamento. Pizarro enviou um mensageiro a Atahualpa perguntando se podiam se reunir. Atahualpa concordou e se dirigiu ao local onde supostamente iriam conversar e quando lá chegou, o local parecia deserto. Um homem de Pizarro, Vicente de Valverde interpelou Atahualpa para que ele e todos os incas se convertessem ao cristianismo, e se ele recusasse, seria considerado um inimigo da Igreja e de Espanha.
Como era esperado, Atahualpa discordou, o que foi considerado razão suficiente para que Francisco Pizarro atacasse os incas. O exército espanhol abriu fogo e matou os soldados da comitiva de Atahualpa e, embora pretendesse matar o Inca, aprisionou-o, pois tinha planos próprios.
Uma vez feito prisioneiro, Atahualpa não foi maltratado pelos espanhóis, que permitiram que ele ficasse em contacto com seu séquito. O imperador inca, que queria libertar-se, fez um acordo com Pizarro. Concordou em encher um quarto com peças de ouro e outro um com peças de prata em troca da sua liberdade. Pizzaro não pretendia libertar Atahualpa mesmo depois de pago o resgate porque necessitava de sua influência naquele momento para manter a ordem e não provocar uma reação maior dos incas que acabavam de tomar conhecimento dos espanhóis.
Além disto, Huáscar ainda estava vivo e Atahualpa, percebendo que ele poderia representar um governo fantoche mais conveniente para a dominação por Pizarro, ordenou a execução de Huáscar. Com isto, Pizarro sentiu a frustração de seus planos e acusou Atahualpa de doze crimes, sendo os principais o assassínio de Huáscar, prática de idolatria e conspiração contra o Reino de Espanha, sendo julgado culpado por todos os crimes condenado a morrer queimado.
Já era noite alta quando Francisco Pizarro decidiu executar Atahualpa. Depois de ser conduzido ao lugar da execução, Atahualpa implorou pela sua vida. Valverde, o padre que havia presidido o processo propôs que, se Atahualpa se convertesse ao cristianismo, reduziria a sentença condenatória. Atahualpa concordou em ser batizado e, em vez de ser queimado na fogueira, foi morto por estrangulamento no dia 29 de agosto de 1533. Com a sua morte também acabava a "existência independente de uma raça nobre".
A morte de Atahualpa foi o começo do fim do Império Inca.
A instabilidade ocorreu rapidamente. Francisco Pizarro nomeou Toparca, um irmão de Atahualpa, como regente fantoche até a sua inesperada morte. A organização inca então se esfacelou. Remotas partes do império se rebelaram e nalguns casos formavam alianças com os espanhóis para combater os incas resistentes. As terras e culturas foram negligenciadas e os incas experimentaram uma escassez de alimentos que jamais tinham conhecido. Agora os incas já haviam aprendido com os espanhóis, o valor do ouro e da prata e a utilidade que antes desconheciam e passaram a pilhar, saquear e ocultar tais símbolos de riqueza e poder. A proliferação de doenças comuns da Europa para as quais os incas não tinham defesa se disseminaram e fizeram o seu papel no morticínio de centenas de milhares de pessoas.
O ouro e a prata tão ambicionados por Pizarro e os seus homens estava em todo o lugar e nas mãos de muitas pessoas, subvertendo a economia com a enorme inflação. Um bom cavalo passou a custar $7000 até que, por fim, os grãos e gêneros alimentícios acabaram mais valiosos que o precioso ouro dos espanhóis. A grande civilização inca, tal como conhecida, já não existia.
Após a conquista espanhola
O Império Inca foi derrubado por menos de duzentos homens e vinte e sete cavalos mas também por milhares de ameríndios que se juntaram às tropas espanholas por descontentamento em relação ao tratamento dado pelo Império Inca. Pizarro e os espanhóis que o seguiram oprimiram os incas tanto material como culturalmente, não apenas explorando-os pelo sistema de trabalho de "mitas" para extração da prata potosí, como reprimindo as suas antigas tradições e conhecimentos. No que se refere à agricultura, por exemplo, o abandono da avançada técnica agrícola inca acabou instalando uma persistente era de escassez de alimentos na região.
Uma parte da herança cultural foi mantida, tratando-se das línguas quíchua e aimará, isto porque a Igreja Católica escolheu estas línguas nativas como veículo da evangelização dos incas, daí passarem a escrevê-las com caracteres latinos e ensiná-las como jamais ocorrera no Império Inca, fixando-as como as línguas mais faladas entre as dos ameríndios.
Mais tarde, a exploração opressiva foi objeto de uma rebelião cujo líder Tupac Amaruperuano do século XX, o MRTA, e o movimento uruguaio dos Tupamaros. A história de planeamento econômico dos incas e boas doses de maoísmo são também a inspiração revolucionária do atual movimento Sendero Luminoso no Peru. considerado o último inca, acabou inspirando o nome do movimento revolucionário peruano do século XX, o MRTA, e o movimento uruguaio dos Tupamaros. A história de planeamento econômico dos incas e boas doses de maoísmo são também a inspiração revolucionária do atual movimento Sendero Luminoso no Peru.
Ver também
- Império Inca
- História do Peru
- Vale Sagrado dos Incas
- Machu Picchu
- Civilização de Nazca
- Civilização Tiahuanaco
Referências
- ↑ Andean Worlds (Mundos Andinos), Kenneth Andrien. 2001.
Ligações externas
- Tupac Amaru, a vida, a época e a execução do último Inca.
- Machu Picchu, galeria de fotografias
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Civilizaciones Perdidas: Los Incas (5 partes)
elsolitari0
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