terça-feira, 22 de julho de 2008

Educação da básica a universitária. Entre púbicas e privadas. Vejam os números.


Famílias de baixa renda procuram pelo ensino particular.

Notícia preocupante ! Mostra, de um lado o descrédito pelo qual passa o ensino público em termos de qualidade e significa, também, que as classes médias baixa e de baixa renda estão se tornando cada vez mais pobres ao empenhar seus poucos recursos e cortando outras despesas para a educação dos seus filhos, nas escolas particulares que, com raras exceções oferecem, como na maioria das escolas públicas, ensino de baixa qualidade, com a ilusão de que, assim, irão aumentar as chances de garantir o futuro de seus filhos.

fontes: Rede Anhanguera de Comunicação (6.01.2008); Revista Scielo, Revista Veja.

Uma auxiliar de cobrança que perdeu o emprego recentemente e seu marido, motorista. Juntos, ganham menos de R$ 1,1 mil por mês e batalham há algum tempo para concluir a reforma da casa. Ainda assim, matricularam seu filho, de 7 anos, numa escola particular, comprometendo nada mais do que 20% da renda do casal. São cerca de 1 milhão de famílias brasileiras de baixa renda — com salários entre R$ 500,00 e R$ 1,5 mil mensais — que investem pelo menos 9% do orçamento familiar para manter os filhos matriculados em instituições de ensino particulares. No País, quase 5% das mães e pais da classe E gastam, anualmente, R$ 1 mil para custear as mensalidades escolares, enquanto as famílias da classe D destinam R$ 2 mil.

Estes dados foram recentemente divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) São Paulo e Instituto Brasil, escalonadas por economistas da Universidade de São Paulo (USP) —, e mostra mo ilustra a preocupação dos pais em propiciar aos filhos a educação de qualidade que o ensino público, muitas vezes, deixa a desejar.

“Ainda que tenha de abrir mão de muitas coisas, quero que meu filho tenha uma educação melhor do que a que eu tive. E boas oportunidades”, diz uma das mães, que concluiu o Ensino Médio e estudou somente em escolas públicas ao longo da vida. Seu filho está está matriculado no 3º ano do Ensino Fundamental em um colégio particular do interior de São Paulo: “Ele é excelente aluno, muito interessado. As professoras se preocuparam, inclusive, com a adaptação do Walter aos novos coleguinhas. Fico mais tranqüila porque sei que ele terá uma boa formação, principalmente nessa fase, que vai ser a base dele”, aposta a mãe, que não pleiteou vaga para o filho em escola pública considerada “modelo” em bairro próximo a sua residência.

Ela conta que o marido, inicialmente, relutou em concordar que boa parte da renda da família ficasse comprometida com o colégio do filho: “Como estudamos a vida toda em escolas públicas, eler não achava necessário que gastássemos com isso”, conta. Até pouco tempo atrás, ela ajudava o marido, motorista, a equilibrar as contas da casa: mensalmente, a família gasta R$ 120,00 com a mensalidade e outros R$ 90,00 com o transporte escolar: investimento que chega a quase 20% da renda.

“Na época, imaginei que esse gasto comprometeria as despesas com a prestação da casa e outras contas, que somam R$ 400,00. Isso não aconteceu, mas tivemos que cortar muitas despesas, viver com o básico. Hoje, acho que foi uma boa decisão e espero ter condições de manter meu filho no ensino particular”, planeja o pai, que ainda não concluiu o Ensino Médio.

Desigualdade

Embora as despesas com educação figurem como o segundo item de maior desigualdade entre ricos e pobres — as classes A e B gastam 30 vezes mais com a formação dos filhos, mas comprometem apenas 2,5% da renda com mensalidades escolares — o investimento em educação foi o item que mais cresceu no orçamento das famílias brasileiras entre 1988 e 2003, passando de 3,2% a 5,5%.

Essas estatísticas integram o estudo Os Determinantes da Freqüência à Rede Particular de Ensino e dos Gastos com Educação no Brasil, realizado recentemente pelo Ibmec-São Paulo e Instituto Brasil em parceria com a Fundação Lemann e o Instituto Gerdau. O levantamento, produzido pelo professor de economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Naércio Menezes Filho e pela também economista Andréa Curi, consultora da Tendências Consultoria Integrada, analisou o mercado de escolas particulares do País com base em dados atualizados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (Pof), ambos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além do Censo Escolar, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão de pesquisa ligado ao Ministério da Educação (MEC).

Um dos dados que mais surpreendeu os economistas da USP foi justamente a constatação de que mesmo as famílias de baixa renda têm optado por matricular as crianças em colégios particulares. O estudo revela que, independentemente da renda, são os níveis de escolaridade da mãe que determinam quão precoce será o ingresso do filho em escolas particulares: quanto mais educada, maior a tendência de que a criança escape da rede de ensino pública.

A educadora Ângela Soligo, coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), analisa os dados da pesquisa amparando-se na premissa de que as famílias brasileiras, sobretudo as de baixa renda, temem que os filhos tenham menores chances de conseguir bons empregos no futuro se estudarem em escolas públicas: “Para essas famílias, investir numa boa escola privada, desde o ensino básico, significa melhorar as condições de vida dos filhos. Cientes dos baixos níveis de qualidade que o ensino público oferece hoje, em comparação ao que era ofertado nas escolas do País tempos atrás, as famílias não vêem outra alternativa que não pagar pelo estudo dos filhos, por mais que tenham de se sacrificar”, pondera Ângela.

Insatisfação com qualidade determina escolha dos pais

“Quando decidi colocar meu filho no colégio particular, lembrei de quantas crianças saem da 4ª série da escola pública sem saber ler. Não queria isso para ele”, diz a citada mãe, desempregada. Esse temor traduz parte da insatisfação dos brasileiros em relação à qualidade do ensino público. “O fato é que saídas individuais, como matricular os filhos em escolas pagas, não resolvem o problema do ensino público no País, muito bem pago pelos cidadãos por meio dos impostos”, defende a educadora Ângela Soligo, da Unicamp. “Uma boa saída seria a mobilização, o controle social sobre a maneira como os recursos para a educação têm sido investidos”, avalia a educadora. “E, no caso das universidades, o que precisa ocorrer é ampliar-se o número de vagas sem prejudicar-se a qualidade do ensino”, pondera. (EA/AAN)

Apenas metade conclui o curso em faculdade paga

Apesar do esforço na hora de pagar a conta, mercado de trabalho também é obstáculo

“Esse é o problema neste País: pagamos caro para formar os filhos e, mesmo assim, muitos têm dificuldade para conseguir uma colocação”, desabafa um engenheiro civil. Ele acabara de matricular a filha, de 17 anos, no curso de administração com ênfase em comércio exterior, em uma universidade particular. “Vamos ter de cortar as regalias”, diz . “E eu vou procurar emprego”, complementa a filha.

Na mesma fila de matrícula, outra mãe, afirmou: “Vamos dar um jeito de pagar a mensalidade da minha filha”, disse enquanto fazia as contas de quanto o orçamento familiar ficará comprometido com a mensalidade da filha de 17 anos, que ingressa na Faculdade de Psicologia, curso em período integral. Ela e o marido ganham menos de R$ 2,5 mil e terão de desembolsar mais de 50% da renda mensal para manter afilha na universidade: “Vale a pena.” A filha faz planos: “Estudei a vida toda em escola pública e estou feliz de ter ingressado numa universidade. Espero conseguir completar o curso”, afirma.

O levantamento do Ibmec-São Paulo, entretanto, não traz equações muito otimistas em relação ao número de universitários de faculdades particulares que concluem a graduação: apenas 50%, enquanto 76% saem com diploma das faculdades públicas. (EA/AAN)

Ensino básico do País está entre os piores do mundo

Na América do Sul, Brasil só supera Bolívia na alfabetização, aponta dados do IBGE

O pífio desempenho dos estudantes brasileiros nas avaliações educacionais de 2007 reforça que, embora o Ensino Superior tenha avançado — de acordo com o IBGE, houve crescimento de 13,5% de alunos matriculados em universidades entre 2005 e 2006 —, o ensino básico ainda engatinha. Em avaliação de 57 países feita pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os alunos brasileiros ficaram com as últimas posições. Na avaliação de leitura, por exemplo, que envolveu 56 países, os brasileiros ficaram em 48º lugar. Segundo dados do IBGE divulgados em setembro, na América do Sul, o percentual de brasileiros que não sabem ler e escrever é inferior apenas ao da Bolívia, onde a taxa de analfabetismo foi de 11,7% em 2005.

Relatório da OCDE apontou uma possível explicação para esse contraponto. O Brasil gasta, em média, US$ 9.019,00 anuais por aluno de Ensino Superior — valor próximo dos US$ 11,1 mil gastos, em média, pelos países analisados. Já para os estudantes de Ensino Fundamental, o investimento é de US$ 1.159,00, enquanto os outros países participantes do levantamento — além dos membros da OCDE, em sua maioria desenvolvidos, participaram Brasil, Chile, Estônia, Israel, Rússia e Eslovênia) — gastaram, também em média, US$ 5.832,00.

O Ministério da Educação lançou, no último dia 12 de dezembro, as novas ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que ainda priorizam os ensinos Médio e Superior. Segundo o MEC, dos cerca de R$ 1,5 bilhão adicionais do PDE destinados à educação em 2008, R$ 600 milhões serão para transporte e merenda escolar, R$ 140 milhões para assistência estudantil e R$ 200 milhões para que estados e municípios apresentem projetos de estruturação do Ensino Médio integrado à educação profissional, R$ 70 milhões para bolsas de iniciação à docência, R$ 80 milhões destinados a programas de pós-doutorados, R$ 400 milhões para equipar escolas públicas com computadores e internet e R$ 70 milhões para implementar cursos a distância na educação técnica de nível médio. (EA/AAN)

Um em cada cinco estudantes está em escolas privadas

Mais de 70% deles são universitários, dado que expõe os paradoxos do sistema educacional

A rede privada recebe um em cada cinco estudantes do País, a maioria (72%) universitários. Os estados mais ricos, que têm redes públicas de ensino mais estruturadas — e onde os alunos têm melhor desempenho, de acordo com as avaliações do MEC —, fazem com que a procura pelo ensino privado tenda a diminuir, como acontece em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Rio de Janeiro e Distrito Federal lideram o ranking de alunos matriculados em instituições de ensino particulares: 30% do total de seus estudantes pagam para estudar.

As escolas mais caras de ensino básico estão em São Paulo e no Distrito Federal, regiões em que o custo de vida é mais alto. Levantamento feito por economistas da USP aponta que há 1,5 milhão de alunos matriculados nas pré-escolas brasileiras — número que vem crescendo nos últimos quatro anos. Já nos ensinos Fundamental e Médio, desde 2004, observa-se declínio das matrículas na rede particular, que continua concentrando estudantes oriundos de famílias ricas. “Os dados reforçam a idéia de que quem estuda nas universidades públicas são pessoas que estudaram na rede privada durante o ensino básico”, afirma o economista Naércio Menezes Filho, um dos autores do estudo.

De fato, as universidades particulares — muito em função do limitado número de vagas ofertadas pelas instituições públicas e crescimento das instituições privadas — têm recebido cada vez mais alunos: cerca de 3,2 milhões ingressaram na rede privada e 1,5 milhão na rede pública. Em 2005, por exemplo, 54% dos concluintes do Ensino Médio ingressaram em faculdades pagas e 14% em faculdades públicas.

Ainda de acordo com o estudo Os Determinantes da Freqüência à Rede Particular de Ensino e dos Gastos com Educação no Brasil, do Ibmec-São Paulo, é principalmente no Ensino Superior que as famílias de baixa renda tentam compensar as deficiências educacionais adquiridas durante o ensino básico: “Mesmo intuitivamente, esses pais sabem que filhos graduados terão salários até três vezes maiores do que se não tiverem diploma. Então, preferem investir”, avalia Menezes Filho.

Outra pesquisa, realizada pela Fundação Getúlio Vargas a pedido da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), reforça essa teoria e aponta: as famílias brasileiras gastam mais que o dobro para pagar uma universidade privada do que para custear a educação fundamental dos filhos. Dos 10,7 milhões de domicílios brasileiros que têm ao menos um morador matriculado na rede privada, 4 milhões estudam em universidades pagas. (EA/AAN).

O quadro apresentado é estarrecedor! Mas será que colocar o seu filho em uma escola particular é garantia que o mesmo terá sucesso futuro – em termos de sua colocação no mercado de trabalho, status etc. ?

Até que ponto o ensino oferecido pelas escolas particulares são realmente melhores que as tão difamadas escolas públicas ? Este é um ponto importante – não se pode esperar que todas que todas escolas particulares apresentem um mesmo padrão de qualidade. Este é o perigo ! Famílias de baixa renda vão colocar seus filhos vão matricular seus filhos nas chamadas “escolas privadas populares” que são iguais ou piores que as escolas públicas. Diversos estudos e artigos já foram publicados pela mídia mostrando este fato. Em 2004, o articulista Antônio Góis,da Folha de São Paulo publicou artigo com o título “Só 1/3 do ensino particular é adequado (Folha de São Paulo - Cotidiano - 28/6/2004).Em resumo, Góis afirma que “ diagnóstico do quadro precário da educação brasileira costuma ser feito olhando-se só para as escolas públicas. No entanto dados tabulados a pedido da Folha pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), do MEC, mostram que a situação dos alunos de escolas privadas no ensino básico também não é satisfatória” . Em outra matéria, com o título “ Ranking confirma desempenho ruim (Folha de São Paulo - Cotidiano - 28/6/2004) mostra que “dados de um ranking de escolas elaborado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com base no desempenho dos colégios em seu vestibular confirmam a tese de que estudar numa escola privada não significa, necessariamente, que o aluno terá uma educação melhor do que a que receberia na rede pública. O professor Pedro Demo, da Universidade de Brasília, em seu altamente recomendado trabalho “Escola pública e escola particular: semelhanças de dois imbróglios educacionais ” afirma que “A distância entre escola pública e particular no Brasil é considerável, em favor da escola particular. Entretanto, notam-se sinais de crise também na escola particular, cujo desempenho tem caído nos últimos anos, em especial em 2005. O que mais chama a atenção é que esta queda é maior em regiões mais desenvolvidas e em matemática.

O blog Educafórum publicou um interessante artigo, onde é citada matéria do articulista Gustavo Ioschpe, publicada na revista Veja, em 7.12.2007, com referência à qualidade da escola particular brasileira. Nas palavras do autor: “não há ilhas de excelência no mar de lodo. Estudos apontam que o desempenho escolar dos 25% mais ricos do Brasil é menor do que a média dos 25% mais pobres dos países desenvolvidos. Trocando em miúdos, os alunos da nossa elite têm desempenho educacional pior do que os mais pobres dentre os países desenvolvidos”.

Outros estudos mostram que 80% da diferença no desempenho dos alunos das escolas privadas brasileiras, em comparação com aqueles da rede pública, são devidos à condição sócio-econômica, que proporciona maior bagagem cultural, acesso a livros, boa alimentação etc., ou seja, os pais estariam pagando por um diferencial que vem deles mesmos! Mais 10% desse diferencial viriam do contato com os colegas de estudo e, finalmente, apenas 10% da diferença no desempenho dos alunos poderia ser creditada à qualidade da escola...

O texto traz mais dados interessantes, como, por exemplo, a informação de que 70 a 80% dos professores brasileiros estudaram em escolas públicas, deduzindo-se disso que mesmo a escola mais bem organizada não consegue fazer um mau professor dar uma boa aula. Por esse motivo, os pais que preferem matricular seus filhos na rede particular deveriam se preocupar também com a qualidade da escola pública, pois, afinal, é de lá que saem os professores que vão educá-los...


Atualmente, apenas 13% dos alunos do ensino básico estudam na rede privada, enquanto os restantes 87% estão matriculados na pública. MATRICULADOS, mas a metade evade ou não consegue se formar no ensino médio. E quando ex-alunos da rede pública entram na escola do crime e cutucam as janelas dos carros com seus revólveres, já não adianta gritar. Muito inteligente a colocação do autor do artigo: Em todos os países do mundo, educação é um projeto público e nacional. Ou todos vão bem, ou o país vai mal. Infelizmente, os pais de alunos da rede particular só costumam enxergar a gravidade da situação quando são obrigados a colocar seus próprios filhos atrás de grades domésticas, nesse apartheid que o Brasil está vivendo.

fonte:
http://e-educador.com/index.php/artigos-mainmenu-100/505-famas-de-baixa-renda-procuram-pelo-ensino-particular

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