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Carmem Maia |
A geração que irá freqüentar o ensino superior a partir de 2010 é uma geração que nasceu junto com o auge da internet no Brasil. Não conhecem a vida sem computador, celular, iPod, Orkut e, mais recentemente, sem o jogo on-line Ragnarok e o site de vídeos YouTube. Nunca utilizaram ou folhearam uma Enciclopédia Barsa. Muito menos um Tesouro da Juventude. Mas sabem utilizar melhor que seus pais e professores os recursos tecnológicos disponíveis.
Criticam suas atuais escolas por não fazer uso de programas de computador que eles utilizam diariamente, e que acreditam serem úteis como recursos didáticos no ensino de línguas, história, geografia ou matemática. Aprendem espontaneamente geografia utilizando o site Google Earth, do qual são fãs e usuários incondicionais, ou pelo Discovery Channel, o preferido dos adolescentes inteligentes.
O chinês e o coreano já não são mais línguas distantes, pois se aproximaram do cotidiano desses jovens por meio dos mangás e dos animês, desenhos orientais que os motivam a procurar mais informações sobre essas culturas e a querer, de alguma forma, entender o significado e a história dos países asiáticos.
Uma geração que se orgulha de ter mais de mil amigos no Orkut em todo o mundo, outros tantos mil amigos no MSN que se comunicam diariamente em várias línguas e que eles nunca viram ao vivo e, provavelmente, nunca irão ver. A Geração Ragnarok gasta mais tempo na frente do computador do que na frente da televisão. Ou melhor, não larga o computador nem quando está na frente da televisão. Não larga também o iPod, cuja capacidade de armazenamento de música está sempre em ascensão, sem nunca ser suficiente.
Recentemente, o vídeo de Daniela Cicarelli na praia fez sucesso entre essa geração. Não pelas cenas em si, mas porque pais, mães e até irmãos mais velhos pediam insistentemente para que eles o carregassem no computador, já que não têm paciência para isso. Mas eles têm.
É uma geração cujos pais e mães têm de manter certo controle e respeito. Afinal, adianta proibir acesso aos jogos, ao MSN e ao Orkut durante a semana? Adianta proibir a televisão? E o final de semana e os feriados prolongados viram o quê? Tornam-se o terror dos pais: as lan houses, que já estão presentes em qualquer cidade turística (ou não) do país.
Trancoso, no litoral sul da Bahia, já possui mais de cinco lan houses no seu famoso Quadrado. Tudo para deixar as crianças tranqüilas enquanto seus pais almoçam, jantam, ou tomam sol.
São crianças, jovens e adolescentes que aproveitam o final de semana para fazer tudo o que não fazem durante a semana, ou melhor, que são proibidos de fazer durante a semana. Aproveitam para dormir durante a manhã e passar o restante do fim de semana grudados nas TVs, plugados nos iPods e conectados nas redes.
O que nós, educadores, podemos oferecer a essa geração que entrará no ensino superior em 2010? Estamos nos preparando para literalmente "enfrentar" essa geração? Uma geração digitalizada, conectada, plugada, mimada e solitária? O que vamos fazer para motivá-los o suficiente para freqüentar uma sala de aula tradicional numa universidade? O que estamos fazendo para concorrer com os Orkuts, os Ragnaroks, os YouTubes e os iPods da vida? Como poderíamos aproveitar as ferramentas tecnológicas para atrair a atenção dessa geração? O ano de 2010 não é mais futuro. Já é presente.
Carmem Maia é pesquisadora do Centro de Criatividade e Inovação da Universidade Anhembi Morumbi, doutora em Comunicação e Semiótica e autora de diversos livros sobre novas mídias e educação a distância.
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