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domingo, 30 de janeiro de 2022
sábado, 29 de janeiro de 2022
“É uma guerra que vem acontecendo há décadas e é travada pela indústria farmacêutica” - Dr. Pierre Kory
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
História do Sat-tila Ekadashi. Hoje é dia de jejum de Ekadasi 28/01/2022
A História do Sath-tila Ekadashi
Dalbhya Rishi disse para Pulastya Muni: “Quando a alma espiritual entra em contato com a energia material, imediatamente começa a realizar atividades pecaminosas, tais como roubar, matar, e sexo ilícito. Poderá até realizar muitos outros atos terríveis, tais como matar brahmana, ó mais pura das personalidades, por favor, conte-me como estas almas desafortunadas podem escapar da punição de ser mandado ás regiões infernais da criação. Por bondade informe como dando mesmo um pouquinho de caridade, se pode facilmente ficar livre de seus pecados”.
Pulastya Muni respondeu: Ó ser afortunado, perguntastes uma pergunta boa e confidencial, que nem mesmo Brahma, Visnu, Shiva ou Indra, jamais perguntaram. Por favor, ouça minha resposta muito cuidadosamente.
Com a chegada do mês de Magha, (jan/fev), deve-se tomar banho, controlar cuidadosamente os sentidos abandonando a luxúria, ira, orgulho, inveja, buscar erros e cobiça, e meditar na Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna. Deve-se então juntar algum excremento de vaca antes que este toque o solo e, após misturá-lo com sementes de gergelim e algodão, formar 108 bolas. Isto deve ser feito no dia quando a constelação de Purvashadha-nakshatra chegar. Então se deve seguir as regras e regulações do Ekadashi que agora te explicarei.
Após tomar banho, a pessoa que tenciona observar o Ekadashi deve adorar o Senhor Supremo. Enquanto ora ao Senhor Sri Krishna cantando Seu nome, deve prometer observar o Jejum de Ekadashi. Deve permanecer acordada durante a noite toda e realizar um homa. Então o devoto deve realizar um arati para o Senhor – que segura uma concha, disco, massa e assim por diante em suas mãos – oferecendo-Lhe pasta de sândalo, incenso, cânfora, uma luminosa lamparina de ghee e deliciosas preparações de alimento. Em seguida o devoto deve oferecer as 108 bolas de excremento de vacas, gergelim e algodão no fogo sagrado enquanto canta os nomes do Senhor Supremo, Sri Krishna. Durante todo o dia e a noite ele deve também observar jejum padronizado de Ekadashi, que neste caso é um jejum de todos os grãos e feijões. Nesta ocasião se deve oferecer ao Senhor abóbora, coco e goiaba. Se estes artigos não estiverem disponíveis podem ser substituídos por noz de betel.
O devoto deve orar ao Senhor Janardana, o benfeitor de todos os seres, destas maneiras: “Ó Sri Krishna, és a mais misericordiosa Personalidade de Deus, e o liberador de todas as almas caídas, ó Senhor nós caímos no oceano da existência material”.
“Por favor, seja bondoso para conosco, ó divindade dos olhos de lótus, por favor, aceite as nossas mais humildes e afetuosas reverências. Ó protetor do mundo, oferecemos-Lhe nossos respeitos de novo e de novo, ó Espírito Supremo, ó Ser Supremo, ó fonte de todos nossos antepassados, que Tu e Tua consorte Srimati Lakshmi-devi possam aceitar essas humildes oferendas”.
O devoto deve então tentar agradar um Brahmana qualificado com uma saudação calorosa, um pote cheio de água, uma sombrinha, um par de sapatos, e roupas pedindo-lhe ao mesmo tempo em que conceda suas bênçãos, pelas quais se pode desenvolver amor puro sem misturas por Krishna. Conforme a capacidade da pessoa, se pode doar uma vaca preta a tal brahmana, especialmente a um que seja bem versado em todas as injunções das Escrituras Védicas. Deve-se oferecer a ele também um pote cheio de sementes de gergelim.
Ó exaltado Dalbhya Muni, sementes de gergelim escuro são especialmente apropriadas para adoração formal e sacrifício do fogo, enquanto que as brancas ou marrons se destinam a serem comidas por um brahmana qualificado. Quem puder providenciar doação de ambos os tipos de sementes de gergelim neste sagrado Sat-tila Ekadashi será promovido aos planetas celestiais por tantos milhares de anos quanto o número de sementes que seria produzido se as sementes que doou fossem plantadas e crescessem como plantas maduras, dando sementes.
Neste Ekadashi, uma pessoa fiel deve banhar-se em água misturada com sementes de gergelim, passar pasta de gergelim em seu corpo, oferecer semente de gergelim em sacrifício, comer sementes de gergelim, dar semente de gergelim em caridade, e aceitar dádivas caridosas de sementes de gergelim. Estes são os seis (sat) meios em que sementes de gergelim (tila) são utilizadas para purificação espiritual neste Ekadashi. Portanto se chama Sat-tila Ekadashi.
Ó grande Devarishi Naradaji certa vez perguntou a Suprema Personalidade de Deus Shri Krishna: Ó Senhor de braços poderosos, ó Tu que és tão afetuoso para com Teus devotos amorosos, por favor, aceite minhas mais humildes reverências, ó Yadava, bondosamente diga-me o resultado que se obtém por observar Sat-tila Ekadashi.
O Senhor Sri Krishna retrucou: “Ó melhor dos duas vezes nascido, vou narrar para ti um relato de um incidente que testemunhei pessoalmente. Há muito tempo vivia na terra uma velha brahmani que Me adorava todo dia com os sentidos controlados. Ela mui fielmente observava bastante jejuns, especialmente em dias especiais em honra a Mim e Me servia com plena devoção, sem qualquer motivo pessoal. Seus jejuns rigorosos a tornaram bastante fraca e magra”.
“Dava caridade aos brahmanas e jovens donzelas, e até mesmo planejava dar sua casa em caridade, ó melhor dos brahmanas, embora esta mulher de mente espiritualizada, desses donativos caridosos a pessoas dignas, a estranha característica de sua austeridade era que nunca dava alimentos aos brahmanas e semideuses.”
Comecei a refletir sobre essa curiosa omissão: “Esta boa mulher se purificou por jejuar em todas as ocasiões especiais e oferecer-Me adoração devocional estrita. Portanto ela certamente se tornou qualificada para entrar em minha morada pessoal, que é inatingível por pessoas comuns”. “Portanto desci a este planeta para examiná-la disfarçando-Me como um seguidor do Senhor Shiva completo com guirlandas de crânios ao redor de Meu pescoço e um pote de mendicante em Minha mão”.
Quando Me aproximei dela disse-Me: “Ó ser respeitável, diga-me verdadeiramente porque vieste diante de mim”.
Retruquei: “Ó bela pessoa, vim para pegar alguns sagrados donativos seus.” – ao que ela zangada, jogou um denso bolo de barro em Meu pote de mendicante! Ó Narada, simplesmente virei e retornei para minha morada pessoal, espantado com a peculiar mistura de grande magnanimidade e mesquinhez desta boa brahmani.
Afinal esta austera senhora chegou ao mundo espiritual naquele mesmo corpo, tão grande foram seus esforços de jejum e caridade. E porque de fato Me oferecera um torrão de barro, transformei aquele barro numa linda casa. Contudo, ó Naradaji, esta casa em particular estava completamente destituída de qualquer grão comestível, bem como de qualquer móvel ou decoração e quando entrou nela, encontrou apenas uma estrutura vazia. Portanto ela se aproximou de Mim e disse com tanta raiva: Jejuei repetidamente em tantas ocasiões auspiciosas, tornando meu corpo fraco e magro. Adorei-te e orei a ti de tantas diferentes maneiras, pois és verdadeiramente o soberano e protetor de todos os universos. Contudo apesar de tudo isto não há alimento ou riqueza para ser vista em minha nova casa, ó Janardana. Por que isso?
Respondi: Por favor, retorna para tua casa. Daqui há algum tempo as esposas dos semideuses te farão uma visita devido a curiosidade de ver quem acaba de chegar, mas não abra a tua porta até que tenham descrito as glórias e a importância do Sat-tila Ekadashi.
Ouvindo isso ela retornou para sua casa. Eventualmente as mulheres dos semideuses ali chegaram e em um uníssono disseram: Ó ser belo, viemos para obter seu darshanas. Ó ser precioso, por favor, abra sua porta e nos deixe ver-te.
A senhora respondeu: “Ó seres mais queridos, se quiserem que abra esta porta devem descrever para mim o mérito obtido por observar o sagrado jejum do Sat-tila Ekadashi”. Mas nenhuma das esposas respondeu.
Mais tarde, contudo, elas retornaram a casa e uma das esposas explicou bem a natureza desse sublime Ekadashi. E quando a senhora afinal abriu sua porta, viram que ela não era uma semideusa, nem Gandharvi, nem demônia tampouco Naga-patni. Era simplesmente uma senhora comum.
A partir de então a senhora observou Sat-tila Ekadashi, que confere gozo material e liberação ao mesmo tempo, conforme fora descrito. E ela finalmente recebeu as guarnições e grãos que esperava para seu lar. Além do mais, aquele corpo material comum de antes, se transformou em uma forma espiritual linda em uma bela compleição. Assim, pela misericórdia e graça do Sat-tila Ekadashi, tanto a senhora como seu novo lar no mundo espiritual, afinal eram esplêndidos e luminosos como ouro, prata, joias e diamantes.
Ó Naradaji, uma pessoa não deve observar ostensivamente Ekadashi por cobiça, na esperança de obter fortuna desonestamente. Desinteressadamente, deve simplesmente doas sementes de gergelim, roupas e alimento segundo sua capacidade, pois assim fazendo obterá boa saúde e consciência espiritual exaltada, nascimento após nascimento (2). Afinal, a liberação e acesso á morada suprema do Senhor serão suas. “Isto é minha opinião ó melhor dos semideuses.”
“Ó Dalbhya Muni” Pulastya Rishi, concluiu: Quem observa devidamente o maravilhoso Sat-tila Ekadashi com grande fé, se torna livre de toda pobreza – espiritual, física, social e intelectual – bem como de todos os tipos de má sorte e maus presságios. De fato, seguir este jejum de Ekadashi doando, e sacrificando ou comendo sementes de gergelim, nos livra de todos os pecados passados, sem nenhuma dúvida. Não é preciso querer saber como isto acontece. “A rara alma que realiza corretamente estes atos de caridade no humor devocional certo, seguindo as injunções védicas, se tornará totalmente livre de todas as reações pecaminosas e voltará para Deus, de volta ao mundo espiritual”.
Assim termina a narrativa das glórias Magha-Krishna Ekadashi ou Sat-tila do Bhavishya-utara Purana.
Notas
- Embora no mundo espiritual, ira e desejo material estejam totalmente ausentes, Sri Krishna providenciou para que a senhora demonstrasse estas qualidades para as glórias de Sat-tila Ekadashi fossem reveladas.
- Para um Vaishnava, caridade significa dar consciência de Krishna, especialmente o cantar do Hare Krishna Mantra. Como disse Sri Caitanya Mahaprabhu: eka bar to mulhe hari bol l bhai.ei matra bhiksha cai. “Ó irmão, por favor, cante Hare Krishna apenas uma vez. Esta é a única doação que peço”. Se um devoto chefe-de-família pode arcar com a despesa, deverá dar algumas sementes de gergelim, roupas ou alimentos como caridade a uma pessoa digna, mas isso não é obrigatório.
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
O CORONAVÍRUS E O LEVIATÃ – Entrevista com o escritor italiano Aldo Maria Valli
“Um dos comentários que mais se ouve, quando se fala da epidemia, é que no fundo não se sabe nada, que existem opiniões contraditórias e, portanto, é necessário acatar as informações oficiais. Mas não é assim. Existem fatos objetivos relacionados à epidemia que devem ser reconhecidos. Alguns, de tipo epidemiológico, estão aí, diante dos nossos olhos: são os números, as taxas, as percentagens, que nos dizem que o coronavírus não é o ébola nem a peste medieval, etc. Mas há outros, igualmente sob nossas fuças: que somos cada vez mais privados de liberdade, que há alguém que está revolucionando radicalmente nosso modo de viver e nossa sociedade. Para ajudar a entender o que realmente está acontecendo, o ensaio de Aldo Maria Valli, Virus e leviatã (editora Liberlibri), chegou recentemente às livrarias. Aquele que foi durante anos o vaticanista italiano mais influente, antes que se aposentasse às pressas, nos dá uma das análises mais lúcidas da epidemia que já foram escritas até agora. Deixemos que ele nos fale das principais ideias do livro” (Paolo Gulisano, médico e escritor).
Paolo Gulisano: Em vários países, e em particular na Itália, por ocasião da epidemia do coronavírus, uma verdadeira reviravolta autoritária ocorreu em pouco tempo, e quase sem oposição. Como explica isso?
Aldo Maria Valli: Acredito que, em nível nacional, esta foi a maneira mais rápida e fácil de o governo agir, apesar de sua fraqueza e falta de preparação. Incapaz de uma resposta articulada e temeroso de confronto, o executivo passou por cima do Parlamento e assumiu a função legislativa. Mas tudo se encaixa em um quadro mais amplo, em um experimento de engenharia social planetária inspirado por “santuários” globalistas que estão bem acima dos governos particulares, e, em relação aos quais, um governo como o nosso parece estar agindo como idiota útil.
Você afirma que o dogmatismo, há muito excluído da esfera religiosa, em particular numa Igreja Católica que se gaba de ser líquida e não dogmática, reapareceu na forma de intransigência médico-científica.
Sim, se pensarmos bem, temos uma verdadeira e própria forma de fideísmo. Temos a Trindade (Ciência, Saúde, Segurança), o pecado (de não colaborar com as autoridades inspiradas pela comissão técnico-científica), a punição (é literalmente excomungado e expulso da comunidade o que não colabora), as sagradas escrituras (os meios de comunicação alinhados com a narrativa dominante), o proselitismo da tecnociência, a identificação da crença (no Comitê técnico-científico) com a salvação (do corpo). Temos até os fanáticos (que julgam a todos e, se necessário, excomungam). Falo de fideísmo, porque religião é outra coisa, é fé e razão, fides et ratio. Em vez disso, estamos quase de volta à superstição.
Em seu livro Virus e Leviatã, você descreve magistralmente o estabelecimento de um despotismo particular, que você definiu como “compartilhado”.
Defino-o assim, porque de fato a opinião pública e a sociedade civil não se opuseram, mas aderiram prontamente a esta forma de despotismo, sob a influência decisiva do terror propagado pela grande imprensa. É como se todos, o mundo político e a opinião pública, tivessem reconhecido que o sistema parlamentar é um luxo que podemos permitir em uma situação de normalidade, mas não quando nos deparamos com uma situação verdadeiramente estressante como a atual. Mas este é um precedente perigoso. Se alguém conseguisse transformar uma situação de emergência em normalidade, o que aconteceria? Quem nos garante que o experimento de engenharia social não pode ser repetido de forma ainda mais danosa?
Outra definição eficaz, em seu livro, é a de Homo Timorosus… É o tipo humano com que nós, homens livres, estamos destinados a viver no futuro? E a que preço e com que esforço?
O Homo Timorosus tem a pretensão de estar protegido de tudo, a salvaguardo de qualquer risco. Aceita sacrificar a sua própria liberdade para ter a vida preservada. Comete suicídio por medo de morrer. A imunidade é seu grande mito. É o oposto do homem viril e adulto, consciente e corajoso. É uma eterna criança submetida à ingerência de um Estado-mamãe que o intima: não faça isso, não faça aquilo, não corra, não mexa. Mas tudo isto é, obviamente, uma ilusão.
Um especialista do Vaticano, como você, não poderia deixar de lado, no livro, ao que está acontecendo na Igreja.
Triste espetáculo. Passamos da santificação à higienização. Nós nos tornamos adoradores do Álcool Gel. Tratamos Nosso Senhor como um contaminador. A liturgia foi profanada. A Igreja se tornou a Igreja do Estado, totalmente ajoelhada diante dos ditames do governo. Jamais se viu uma demanda por liberdade e autonomia, mas uma aquiescência total. Uma Igreja vítima do terror, que não conseguiu nos dizer nada sobre a morte, o sofrimento, o pecado, e que estava muito mais disposta a aproveitar a oportunidade para proibir a genuflexão e a recepção da Comunhão na boca.
A atual operação de “reset” da sociedade está trazendo de volta certas ideias comunistas que pareciam desaparecidas para sempre…
Muitos sinais disto já se veem por aí. Temos um valor supremo, a Saúde, em relação à qual tudo é sacrificável, a começar pela liberdade. Temos os guardiães da revolução, induzidos a sê-lo por informações que adquiriram conotações propagandísticas. Temos os delatores, que em nome do valor supremo estão prontos para denunciar os réprobos. Temos o ataque à liberdade religiosa e de culto. Temos os slogans (“Fica em casa”, “Tudo acabará bem”, “Juntos venceremos”, que lembram “Trabalhadores unidos jamais serão vencidos”, “Hasta la victoria siempre. Patria o muerte”). Temos a imprensa subjugada. Temos o grande terror. Por enquanto só faltam os gulag…
Um escritor distópico inglês, Aldous Huxley, escreveu que “a revolução verdadeiramente revolucionária deve ser realizada não no mundo exterior, mas na alma e na carne dos seres humanos”. É isso que está acontecendo hoje, na sua opinião?
Perfeitamente. Ela é internalizada. Colabora para esse fim a narrativa imposta pela imprensa alinhada, narrativa reforçada diariamente pelos telejornais nos horários nobres. É necessário que o cidadão, transformado em servo (e potencialmente doente) implore ao governo-médico que lhe dê o tratamento necessário. A revolução perfeita é aquela em que a vítima se acorrenta por si mesma. Étienne de La Boétie falou do assunto, em seu Discurso sobre a servidão voluntária: “São, portanto, os povos mesmos que se deixam acorrentar… É o povo que se faz servo, que se degola a si próprio; que, podendo escolher entre servidão e liberdade, recusa a sua independência e se submete ao jugo… “. Assim estamos nós.
https://lanuovabq.it/it/valli-il-virus-e-il-leviatano-la-dittatura-parte-dal-basso
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
A Origem do Sectarismo Por Sua Divina Graça Srila Bhaktivinoda Thakura.
Sectarismo
.
Por Sua Divina Graça Srila Bhaktivinoda Thakur
श्रेयो वदन्त्यनेकान्तं यथाकर्म यथारुचि ॥ ९ ॥
puruṣāḥ puruṣarṣabha
śreyo vadanty anekāntaṁ
yathā-karma yathā-ruci
मया सन्तुष्टमनस: सर्वा: सुखमया दिश: ॥ १३ ॥
śāntasya sama-cetasaḥ
mayā santuṣṭa-manasaḥ
sarvāḥ sukha-mayā diśaḥ
वेद्यं वास्तवमत्र वस्तु शिवदं तापत्रयोन्मूलनम् ।
श्रीमद्भागवते महामुनिकृते किं वा परैरीश्वर:
सद्यो हृद्यवरुध्यतेऽत्र कृतिभि: शुश्रूषुभिस्तत्क्षणात् ॥ २ ॥
vedyaṁ vāstavam atra vastu śivadaṁ tāpa-trayonmūlanam
śrīmad-bhāgavate mahā-muni-kṛte kiṁ vā parair īśvaraḥ
sadyo hṛdy avarudhyate ’tra kṛtibhiḥ śuśrūṣubhis tat-kṣaṇāt
fonte:
http://www.scsmathbrasil.com.br/aorigemdosectarismo.html
domingo, 23 de janeiro de 2022
O “pecado oculto” de Santa Catarina de Sena Se Santa Catarina de Sena conseguiu, com a graça de Deus, parar de cometer este pecado, também nós somos capazes de combatê-lo.
Jesus manda-nos imitar o coração misericordioso de Deus: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). As Escrituras descrevem nosso Deus como sendo “bom e misericordioso, lento para a ira e cheio de clemência” (Sl 103, 8). Mas será que nós refletimos essa paciência e misericórdia?
Sem de forma alguma aprovar condutas pecaminosas, Jesus desafia-nos a examinar se há compaixão em nossos corações por aqueles cujas vidas não são ainda perfeitas. Será que temos em nós um desejo contínuo de demonstrar misericórdia? Ou somos, ao contrário, rápidos em criticar e em condenar?
Santa Catarina de Sena foi certa vez confrontada por Deus a respeito de um “pecado oculto” que ela tinha: o pecado de julgar as pessoas. Ela costumava pensar que tinha um dom para ler a natureza humana e notar as falhas alheias, especialmente as dos sacerdotes. Mas, um dia, Deus lhe mostrou que as intuições que ela estava a receber sobre as fraquezas dos outros não vinham de Deus, mas do diabo. Ela passou a ver aquela conduta, então, como “a armadilha do demônio”.
O diabo nos permite ver as faltas uns dos outros a fim de que, ao invés de ajudar, nós comecemos a julgar as almas alheias e condená-las. Catarina admitiu isso ao Senhor, dizendo-lhe:
Vós me destes remédio contra uma doença escondida que eu não havia reconhecido, ensinando-me que não posso jamais sair em julgamento de qualquer pessoa. Pois eu, cega e debilitada como me encontrava por essa doença, frequentemente julgava os outros sob o pretexto de estar trabalhando para vossa glória e a salvação alheia.
Se nós enfrentamos a verdade sobre nós mesmos e prestamos atenção a nossas próprias lutas diárias contra o pecado, ficamos menos propensos a sair julgando as outras pessoas. Se verdadeiramente reconhecemos o quanto necessitamos da misericórdia de Deus — se experimentamos seu perdão e seu poder de cura em nossas vidas —, então nossos corações se tornam muito mais compassivos ao se depararem com as faltas dos outros.
Se já experimentamos como Deus é paciente e brando com as nossas fraquezas, então nós seremos mais misericordiosos para com os outros.
É por isso que Santa Catarina aprendeu que, quando notamos as faltas de uma pessoa, devemos dizer a nós mesmos: “Hoje é a vez dela, amanhã será a minha, a menos que me sustente a graça divina.”
Mas, se tendemos a responder às faltas alheias com condenação, ao invés de compaixão, deve ser porque nós mesmos padecemos de um sério problema moral. Pode ser que isso aconteça porque ainda não aceitamos nossas próprias fraquezas e pecados, e ainda não experimentamos a misericórdia de Deus.
Enquanto muitos cristãos podem dizer facilmente que precisam da misericórdia divina, o verdadeiro discípulo de Jesus tem essa verdade gravada no mais profundo do seu ser: ele tem consciência do quão absolutamente dependente é da graça de Deus.
Um homem assim não está em condição alguma de ficar impaciente com as faltas alheias, pois ele conhece bem a si mesmo e sabe o quão paciente Deus tem sido com suas próprias fraquezas.
O hábito de julgar os outros, no entanto, pode ser um sinal de que não conhecemos realmente a nós mesmos ou ao Deus que nos ama. Como ensinou São Bernardo de Claraval,
Se tens olhos para as deficiências de teu próximo e não para as tuas próprias, nenhum sentimento de misericórdia surgirá dentro de ti, mas antes indignação. Estarás mais pronto a julgar do que a ajudar, mais pronto a esmagar com espírito de raiva do que a instruir com espírito de ternura.
O mesmo doutor da Igreja explica ainda como só um homem realmente humilde pode ter compaixão pelas fraquezas de seus irmãos:
A pessoa sadia não sente as dores de quem está doente, tampouco o bem alimentado a angústia de quem está faminto. São os companheiros no sofrimento que prontamente sentem compaixão pelos doentes e pelos famintos. Tu nunca terás misericórdia de verdade pelos defeitos do outro, até que descubras e percebas que tens os mesmos defeitos em tua alma.
Assim, “quanto mais conscientes estivermos de nossa miséria e de nossos pecados”, disse certa vez o Papa Francisco, “mais experimentaremos o amor e a misericórdia infinita de Deus por nós, e mais seremos capazes de olhar para os muitos ‘feridos’ que encontramos ao longo do caminho com aceitação e misericórdia”.
A cartomante: Conto de Machado de Assis.
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa…” Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade.
— Errou! interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria…
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois.
— Qual saber!, tive muita cautela ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas cousas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— O senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor. Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femmina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com as das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a…
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: “Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora”. Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando da pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. “Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora”. Ditas assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do Largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
“Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim…”
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da Rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar à primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa… Depois fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos… Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: “Vem, já, já…” E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar… Camilo achou-se diante de um longo véu opaco… pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: “Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia…” Que perdia ele, se…?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto…
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não…
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me…
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita… Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato…
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela… E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá, tranquilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu…
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer causa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade… De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e continuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Muitas vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação:
— Vá, vá, ragazzo inflamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Este conto do Bruxo do Cosme Velho fora publicado originalmente em 1884, no periódico Gazeta de Notícias, na corte do Rio de Janeiro.
fonte: https://revistaesmeril.com.br/a-cartomante/
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